As mutações sociais ocorrem mais rapidamente do que a capacidade de adaptação dos sistemas educativos. As reformas educativas precisam do envolvimento de professores, autoridades e comunidade para terem sucesso. Os sistemas educativos precisam acompanhar as evoluções tecnológicas e sociais para combater a iliteracia.
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Sistemas Educativos e Mutações Sociais
1. Mutações Sociais e Sistemas Educativos.
“Evitai (disse o lavrador) vender a herança,
Que de nossos pais nos veio
Esconde um tesouro em seu seio.”
“Mas ao morrer o sábio pai
Fez-lhes esta confissão:
— O tesouro está na educação.”
Jacques Delors
Educação Um tesouro a descobrir
2. As últimas três décadas têm sido muito controversas no que respeita à
educação, à capacidade de resposta das políticas educativas, relativamente
aos desafios do desenvolvimento tecnológico sentidos, resultado da nova
sociedade da informação e do conhecimento, em que as mutações sociais
ocorrem a um ritmo mais acelerado relativamente à capacidade de adaptação
do ser humano. De acordo com Ramos (2007) “os sistemas educativos terão
de ser flexíveis, ter capacidade de adaptação à mudança constante, sendo
proactivos e capazes de utilizar, na sua máxima extensão, todas as
possibilidades conferidas pelas modernas tecnologias da informação e
comunicação, ao mesmo tempo que funcionam como elemento agregador dos
indivíduos, quer na perspetiva de enriquecimento de saberes, quer no exercício
ativo de cidadania”.
Este desenvolvimento súbito alterou modos de vida e de pensamento,
transformou a economia, a educação. A última metade do século passado foi
recheada de sucessivas reformas do sistema educativo. A título de exemplo a
Lei de Bases do Sistema Educativo que foi publicada em Diário da República a
14 de outubro de 1986, estabelecendo o quadro geral do sistema educativo. De
acordo com o artigo 1º no ponto dois “O sistema educativo é o conjunto de
meios pelo qual se concretiza o direito à educação, que se exprime pela
garantia de uma permanente ação formativa orientada para favorecer o
desenvolvimento global da personalidade, o progresso social e a
democratização da sociedade”.
No artigo 2º é tornado público que “todos os portugueses têm direito à
educação e à cultura”. Com esta publicação abrem-se portas para uma
educação para todos, assente na igualdade de direitos, dando lugar a projetos
orientados para os mais desfavorecidos e em risco de exclusão.
Para que as reformas educativas sejam alvo de sucesso não basta atirá-las cá
para fora. Há que haver empenho dos pares ou a reforma fica condenada ao
insucesso, como aconteceu com reformas no passado. De acordo com o
relatório da UNESCO "São três os atores principais que contribuem para o
sucesso das reformas educativas: em primeiro lugar, a comunidade local, em
particular, os pais, os órgãos diretivos das escolas e os professores; em
segundo lugar, as autoridades oficiais; em terceiro lugar, a comunidade
internacional." Quer isto dizer que a educação já não se limita à escola, sendo
necessária e urgente uma dinâmica entre os vários parceiros. Mas esta
dinâmica não se vislumbra fácil devido ao ambiente de crise que a Europa
atravessa, levando a que os Sistemas Educativos se deparem com uma
complexidade de problemas que têm origem no processo de evolução das
políticas e na mudança das sociedades, relativamente a aspetos financeiros,
económicos e políticos.
Como refere Ramos “Neste momento parece existir uma fratura entre a
sociedade e o sistema educativo, devida, em grande parte, aos fracassos
evidentes dos sucessivos ensaios de novas soluções, e ao cansaço e
descrédito público daí resultante” (Ramos, 2007.) O Relatório da UNESCO
3. reforça exatamente que, para haver sucesso da reforma no sistema educativo,
é importante não cair no erro “das reformas em cascata”, que “acabam por
matar a reforma”, não dando tempo necessário, ao sistema, de se regenerar
ou, sequer, de produzir resultados. O facto de cada governo que chega alterar
o que está feito leva à falta de estabilidade e, consequentemente, ao
descontentamento de pais, professores e alunos, revelando a vulnerabilidade
das consequências de reformas sucessivas.
No caso português o sistema educativo aparece bem classificado nas "tabelas
internacionais" no que ao investimento per capita diz respeito, no entanto o
mesmo não se verifica quando o critério de classificação diz respeito aos
resultados. Então, se o problema não passa pela falta de recursos
financeiros, talvez fosse importante considerar a hipótese de avaliar aquilo que
temos, melhorar e colocar a funcionar plenamente. Claro que, para que não
passe de uma utopia, é urgente e necessária a participação ativa da sociedade
portuguesa, levando a uma mutação de mentalidades, atitudes e de posturas
face à mudança. Adotar uma postura passiva apenas vai retardar ainda mais a
mudança.
Que tendências se desenham para o futuro? A incerteza aumentou mas a
evolução dos sistemas educativos, de acordo com as mutações sociais das
sociedades contemporâneas, terá necessariamente de acompanhar o ritmo de
adaptação para seguir as evoluções tecnológicas. O desafio que se coloca aos
sistemas educativos prende-se com a necessidade crescente de formação das
pessoas, preparando-as para a inovação inerente ao progresso tecnológico,
com capacidade de evolução e de adaptação a um ambiente de constante
mudança. Dito de outra forma: combater a iliteracia da sociedade portuguesa.
Ana MG Taveira
BIBLIOGRAFIA
CLÍMACO, M. (2005). Avaliação de Sistemas em Educação (Temas Universitários).
Lisboa: Universidade Aberta.
DELORS, J. (Coord.) (2005). Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a
UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI (9.ª Edição).
Porto: Edições Asa
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