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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                             87
             (Corresponde ao segundo tópico do Capítulo 11,
             intitulado Bem-vindos aos novos mundos-fluzz)




                             Clustering

Deixando as forças do aglomeramento atuarem

A    primeira   grande    descoberta:  tudo   que   interage   clusteriza,
independentemente do conteúdo, em função dos graus de distribuição e
conectividade (ou interatividade) da rede social. Há muito já se pode
mostrar teoricamente que quanto maior o grau de distribuição de uma rede
social, mais provável será que duas pessoas que você conheça também se
conheçam (essa é a raiz do fenômeno chamado clustering).

Em geral não se conhece todas as variáveis que estão presentes em cada
processo particular, mas é observável que se formam clusters
(aglomerados) em quaisquer redes, não apenas nas redes sociais. Insetos
se aglomeram, doenças se aglomeram (e não apenas as contagiosas),
empreendedores de um mesmo ramo de negócios tendem a se aglomerar
(não é por acaso que encontramos lojas de tecidos, roupas, luminárias ou
oficinas mecânicas concentradas em uma mesma rua ou quadra). E isso não
depende, como ocorre em certas cidades planejadas (como Brasília) da
localização forçada ou top down de setores (setor hospitalar, setor
hoteleiro, setor automotivo etc.). É assim que, como mostrou Steven
Johnson (2001), os vendedores de seda se clusterizam, há séculos, em
determinada localidade de Florença. E voltam sempre para o mesmo lugar
após as tão seguidas quanto inúteis tentativas de deslocá-los para outras
regiões da cidade (5).

Os planejadores normativos – como construtores de pirâmides que são –
não têm paciência para esperar a clusterização. Na verdade, como seu
objetivo é construir organizações hierárquicas, eles não podem esperar a
clusterização. A hierarquia exige desatalhamento, quer dizer, a supressão
de atalhos entre clusters: só alguns caminhos podem ser válidos (e, por
isso, só alguns são validados). Isso dificilmente ocorreria se a clusterização
brotasse da dinâmica da rede. Essa é a razão pela qual os planejadores
urbanos nunca construiriam uma Florença, tendo que se contentar em erigir
suas capitais para algum deus hierárquico (como fez Amenófis IV para o
deus Aton) ou arquitetar suas cidades-sede para o Estado, não para a
sociedade (como aquela Brasília que foi inaugurada antes da convivência
social dos brasilenses; depois estes últimos começaram a conformar a
verdadeira Brasília modificando os estranhos caminhos traçados pelos
planejadores). A diferença entre o zigurate de Uruk e o assentamento
temporário do festival Burning Man revela quase tudo: poucos caminhos x
múltiplos caminhos.

Ao articular uma organização em rede distribuída não é necessário pré-
determinar quais serão os departamentos, aquelas caixinhas desenhadas
nos organogramas. Estando claro, para os interagentes, qual é o propósito
da iniciativa, basta deixar as forças do aglomeramento atuarem. Em pouco
tempo (a depender da interatividade da rede), surgirão clusters agregando
pessoas que se dedicarão às funções necessárias à realização daquele
propósito: alguns se juntarão para cuidar da criação, outros para cuidar dos
relacionamentos com os stakeholders, outros, ainda, da produção ou do
delivery etc.

Até certos eventos planejados autonomamente por pessoas diferentes (que
não se conhecem entre si) se aglomeram e isso é revelador de um




                                      2
metabolismo da rede, de uma dinâmica invisível que ocorre no espaço-
tempo dos fluxos.

Nada a ver com conteúdo. A partir do clustering outros fenômenos
supreendentes ocorrem em uma rede, como o swarming.




                                 3
Nota

(5) JOHNSON, Steven (2001). Emergência: a vida integrada de formigas, cérebros,
cidades e softwares. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.




                                      4

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Clustering: deixando as forças do aglomeramento atuarem

  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 87 (Corresponde ao segundo tópico do Capítulo 11, intitulado Bem-vindos aos novos mundos-fluzz) Clustering Deixando as forças do aglomeramento atuarem A primeira grande descoberta: tudo que interage clusteriza, independentemente do conteúdo, em função dos graus de distribuição e conectividade (ou interatividade) da rede social. Há muito já se pode mostrar teoricamente que quanto maior o grau de distribuição de uma rede social, mais provável será que duas pessoas que você conheça também se conheçam (essa é a raiz do fenômeno chamado clustering). Em geral não se conhece todas as variáveis que estão presentes em cada processo particular, mas é observável que se formam clusters
  • 2. (aglomerados) em quaisquer redes, não apenas nas redes sociais. Insetos se aglomeram, doenças se aglomeram (e não apenas as contagiosas), empreendedores de um mesmo ramo de negócios tendem a se aglomerar (não é por acaso que encontramos lojas de tecidos, roupas, luminárias ou oficinas mecânicas concentradas em uma mesma rua ou quadra). E isso não depende, como ocorre em certas cidades planejadas (como Brasília) da localização forçada ou top down de setores (setor hospitalar, setor hoteleiro, setor automotivo etc.). É assim que, como mostrou Steven Johnson (2001), os vendedores de seda se clusterizam, há séculos, em determinada localidade de Florença. E voltam sempre para o mesmo lugar após as tão seguidas quanto inúteis tentativas de deslocá-los para outras regiões da cidade (5). Os planejadores normativos – como construtores de pirâmides que são – não têm paciência para esperar a clusterização. Na verdade, como seu objetivo é construir organizações hierárquicas, eles não podem esperar a clusterização. A hierarquia exige desatalhamento, quer dizer, a supressão de atalhos entre clusters: só alguns caminhos podem ser válidos (e, por isso, só alguns são validados). Isso dificilmente ocorreria se a clusterização brotasse da dinâmica da rede. Essa é a razão pela qual os planejadores urbanos nunca construiriam uma Florença, tendo que se contentar em erigir suas capitais para algum deus hierárquico (como fez Amenófis IV para o deus Aton) ou arquitetar suas cidades-sede para o Estado, não para a sociedade (como aquela Brasília que foi inaugurada antes da convivência social dos brasilenses; depois estes últimos começaram a conformar a verdadeira Brasília modificando os estranhos caminhos traçados pelos planejadores). A diferença entre o zigurate de Uruk e o assentamento temporário do festival Burning Man revela quase tudo: poucos caminhos x múltiplos caminhos. Ao articular uma organização em rede distribuída não é necessário pré- determinar quais serão os departamentos, aquelas caixinhas desenhadas nos organogramas. Estando claro, para os interagentes, qual é o propósito da iniciativa, basta deixar as forças do aglomeramento atuarem. Em pouco tempo (a depender da interatividade da rede), surgirão clusters agregando pessoas que se dedicarão às funções necessárias à realização daquele propósito: alguns se juntarão para cuidar da criação, outros para cuidar dos relacionamentos com os stakeholders, outros, ainda, da produção ou do delivery etc. Até certos eventos planejados autonomamente por pessoas diferentes (que não se conhecem entre si) se aglomeram e isso é revelador de um 2
  • 3. metabolismo da rede, de uma dinâmica invisível que ocorre no espaço- tempo dos fluxos. Nada a ver com conteúdo. A partir do clustering outros fenômenos supreendentes ocorrem em uma rede, como o swarming. 3
  • 4. Nota (5) JOHNSON, Steven (2001). Emergência: a vida integrada de formigas, cérebros, cidades e softwares. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. 4