SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 4
Descargar para leer sin conexión
Em pílulas
Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                             88
              (Corresponde ao terceiro tópico do Capítulo 11,
              intitulado Bem-vindos aos novos mundos-fluzz)




                              Swarming

Deixando o enxameamento agir

A segunda grande descoberta: tudo que interage pode enxamear. Swaming
(ou swarm behavior) e suas variantes como herding e shoaling, não
acontecem somente com insetos, formigas, abelhas, pássaros, quadrúpedes
e peixes. Em termos genéricos esses movimentos coletivos (também
chamados de flocking) ocorrem quando um grande número de entidades
self-propelled interagem. Algum tipo de inteligência coletiva (swarm
intelligence) está sempre envolvida nestes movimentos. Já se sabe que isso
também ocorre com humanos, quando multidões se aglomeram (clustering)
e “evoluem” sincronizadamente sem qualquer condução exercida por algum
líder; ou quando muitas pessoas enxameiam e provocam grandes
mobilizações sem convocação ou coordenação centralizada, a partir de
estímulos que se propagam P2P, por contágio viral.

E não ocorre apenas como uma forma de conflito, como ficamos
acostumados a pensar depois que Arquilla e Ronsfeld (2000) produziram
para a Rand Corporation seu famoso paper “Swarming and the future of
conflict” (6). Um exemplo conhecido dos efeitos surpreendentes do
swaming – no caso, civil – foi a reação da sociedade espanhola aos
atentados terroristas cometidos pela Al-Qaida em 11 de Março de 2004 (7).
Escrevendo sobre isso, ainda preso as visões do swarming como netwar,
David de Ugarte (2007), em O poder das redes, acerta porém quando diz:

      “Como organizar, pois, ações em um mundo de redes distribuídas?
      Como se chega a um swarming civil? Em primeiro lugar, renunciando
      a organizar. Os movimentos surgem por auto-agregação espontânea,
      de tal forma que planificar o que se vai fazer, quem e quando o fará,
      não tem nenhum sentido, porque não saberemos o quê, até que o
      quem tenha atuado” (8).

O swarming (enxameamento) é uma forma de interação. Deixar o
enxameamento agir significa ‘renunciar a organizar’, quer dizer, a disciplinar
a interação.

O fenômeno acontece com mais rapidez em função direta dos graus de
conectividade e de distribuição da rede. Em mundos altamente conectados
tais movimentos tendem a irromper com mais frequência. E é por isso que
eles surgem por emergência, não supervêm a partir de qualquer instância
centralizada. Assim, do que se trata é de deixar mesmo. As tentativas de
provocar artificialmente swarmings, instrumentalizando o processo para
derrotar um adversário, destruir um inimigo, disputar uma posição, vencer
uma eleição ou vender mais produtos batendo a concorrência, em geral não
têm dado certo. Todas elas acabam, contraditoriamente, fazendo aquilo que
negam: tentando organizar a auto-organização.

E ainda bem que tais tentativas fracassam: do contrário viveríamos em
mundos altamente centralizados por aqueles que possuíssem o segredo de
como desencadear swarmings. De posse desse conhecimento (que logo
seria trancado), um partido poderia eleger seus candidatos (e mantê-los no
poder indefinidamente) ou uma empresa poderia reinar sozinha no seu
ramo de negócio.




                                      2
Nada a ver com conteúdo. Na sua intimidade, o processo de swarming
pressupõe clustering e se propaga por meio de cloning.




                                3
Notas

(6) ARQUILLA, John e RONSFELD, David (2000). Swarming and the Future of
Conflict. USA: Rand Corporation, Office of the Secretary of Defense, 2000.

(7) O paper de John Arquilla e David Ronsfeld sobre swarming entre humanos,
infelizmente, estava mais voltado para a análise das suas implicações na guerra.
Quatro anos depois, em 11M: Redes para ganar uma guerra, analisando a reação
da sociedade espanhola aos atentados terroristas cometidos pela Al-Qaida em 11
de Março de 2004, David de Ugarte (2004) aventou a possibilidade de um
swarming civil, mas ainda nos marcos de um conflito (a netwar). Cf. UGARTE,
David (2004). 11M. Redes para ganar uma guerra. Barcelona: Icaria, 2006. Três
anos depois, em O Poder das Redes (2007), ele iria definir o sarming como “um
novo tipo de conflito multi-agente e multicanal, onde as relações entre os atores
parecem descrever a topologia de uma rede distribuída. O swarming é a forma
específica do conflito na sociedade-rede: distintos grupos e tendências, não
coordenados explicitamente entre si e apenas centralizados um pouco além de uma
mínima doutrina comum dentro das fileiras de cada um deles, vão aumentando o
alcance e a virulência de suas ações, até isolar e encurralar as posições contrárias
sem deixar-lhes possibilidade real de resposta”.

(8) UGARTE, David (2007). O poder das redes. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2008.




                                         4

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

La actualidad más candente (7)

Série FLUZZ Volume 3 PARA ENTRAR NO TERCEIRO MILÊNIO
Série FLUZZ Volume 3 PARA ENTRAR NO TERCEIRO MILÊNIOSérie FLUZZ Volume 3 PARA ENTRAR NO TERCEIRO MILÊNIO
Série FLUZZ Volume 3 PARA ENTRAR NO TERCEIRO MILÊNIO
 
Plataformas de rede
Plataformas de redePlataformas de rede
Plataformas de rede
 
Fluzz pilulas 73
Fluzz pilulas 73Fluzz pilulas 73
Fluzz pilulas 73
 
Fluzz pilulas 18
Fluzz pilulas 18Fluzz pilulas 18
Fluzz pilulas 18
 
Slides sociologia
Slides sociologiaSlides sociologia
Slides sociologia
 
Redes Sociais novos comportamentos
Redes Sociais novos comportamentosRedes Sociais novos comportamentos
Redes Sociais novos comportamentos
 
Fluzz pilulas 14
Fluzz pilulas 14Fluzz pilulas 14
Fluzz pilulas 14
 

Destacado

Het digitale loket voor alle facturen
Het digitale loket voor alle facturenHet digitale loket voor alle facturen
Het digitale loket voor alle facturenFriso de Jong
 
URBANISMO E MOBILIDADE - MONUMENTOS PORTUGUESES Estilo Neoclássico
URBANISMO E MOBILIDADE - MONUMENTOS PORTUGUESES Estilo Neoclássico URBANISMO E MOBILIDADE - MONUMENTOS PORTUGUESES Estilo Neoclássico
URBANISMO E MOBILIDADE - MONUMENTOS PORTUGUESES Estilo Neoclássico Fernando de Sá
 
RICHARD RORTY; LA REALIDAD COMO NARRATIVA EXITOSA Y LA FILOSOFÍA COMO GÉNERO...
RICHARD RORTY;  LA REALIDAD COMO NARRATIVA EXITOSA Y LA FILOSOFÍA COMO GÉNERO...RICHARD RORTY;  LA REALIDAD COMO NARRATIVA EXITOSA Y LA FILOSOFÍA COMO GÉNERO...
RICHARD RORTY; LA REALIDAD COMO NARRATIVA EXITOSA Y LA FILOSOFÍA COMO GÉNERO...Adolfo Vasquez Rocca
 
Elementos básicos de la imagen
Elementos básicos de la imagenElementos básicos de la imagen
Elementos básicos de la imagenMaría Álvarez
 
Questões etec
Questões etecQuestões etec
Questões etecLUIS ABREU
 
CERTIFICATE BUILDING MATERIALS FOR CONSTRUCTION
CERTIFICATE BUILDING MATERIALS FOR CONSTRUCTIONCERTIFICATE BUILDING MATERIALS FOR CONSTRUCTION
CERTIFICATE BUILDING MATERIALS FOR CONSTRUCTIONANIL KUMAR GANGULY
 
Berlín (trabajo mejorado)
Berlín (trabajo mejorado)Berlín (trabajo mejorado)
Berlín (trabajo mejorado)DavidLaredo
 
SBUX Partner Appreciation Day 2008 - Gordon Uhlich 303
SBUX  Partner Appreciation Day 2008 - Gordon Uhlich        303SBUX  Partner Appreciation Day 2008 - Gordon Uhlich        303
SBUX Partner Appreciation Day 2008 - Gordon Uhlich 303Gord Uhlich
 
LA COMUNA EXHALADA, HACIA UNA FILOSOFÍA DE LA LEVEDAD_ DR. ADOLFO VASQUEZ ROCCA
LA COMUNA EXHALADA, HACIA UNA FILOSOFÍA DE LA LEVEDAD_ DR. ADOLFO VASQUEZ ROCCA LA COMUNA EXHALADA, HACIA UNA FILOSOFÍA DE LA LEVEDAD_ DR. ADOLFO VASQUEZ ROCCA
LA COMUNA EXHALADA, HACIA UNA FILOSOFÍA DE LA LEVEDAD_ DR. ADOLFO VASQUEZ ROCCA Adolfo Vasquez Rocca
 
Ut 4 extincion despido
Ut 4  extincion despidoUt 4  extincion despido
Ut 4 extincion despidoLuisa Grau
 
2-AGRICULTURA
2-AGRICULTURA2-AGRICULTURA
2-AGRICULTURAispilua
 

Destacado (20)

Editaldeabertura
EditaldeaberturaEditaldeabertura
Editaldeabertura
 
Het digitale loket voor alle facturen
Het digitale loket voor alle facturenHet digitale loket voor alle facturen
Het digitale loket voor alle facturen
 
Mon
MonMon
Mon
 
URBANISMO E MOBILIDADE - MONUMENTOS PORTUGUESES Estilo Neoclássico
URBANISMO E MOBILIDADE - MONUMENTOS PORTUGUESES Estilo Neoclássico URBANISMO E MOBILIDADE - MONUMENTOS PORTUGUESES Estilo Neoclássico
URBANISMO E MOBILIDADE - MONUMENTOS PORTUGUESES Estilo Neoclássico
 
RICHARD RORTY; LA REALIDAD COMO NARRATIVA EXITOSA Y LA FILOSOFÍA COMO GÉNERO...
RICHARD RORTY;  LA REALIDAD COMO NARRATIVA EXITOSA Y LA FILOSOFÍA COMO GÉNERO...RICHARD RORTY;  LA REALIDAD COMO NARRATIVA EXITOSA Y LA FILOSOFÍA COMO GÉNERO...
RICHARD RORTY; LA REALIDAD COMO NARRATIVA EXITOSA Y LA FILOSOFÍA COMO GÉNERO...
 
A Sociedade De Ordens
A Sociedade De OrdensA Sociedade De Ordens
A Sociedade De Ordens
 
Elementos básicos de la imagen
Elementos básicos de la imagenElementos básicos de la imagen
Elementos básicos de la imagen
 
Questões etec
Questões etecQuestões etec
Questões etec
 
Palestra hpc python
Palestra hpc pythonPalestra hpc python
Palestra hpc python
 
CERTIFICATE BUILDING MATERIALS FOR CONSTRUCTION
CERTIFICATE BUILDING MATERIALS FOR CONSTRUCTIONCERTIFICATE BUILDING MATERIALS FOR CONSTRUCTION
CERTIFICATE BUILDING MATERIALS FOR CONSTRUCTION
 
Editalretificado
EditalretificadoEditalretificado
Editalretificado
 
Berlín (trabajo mejorado)
Berlín (trabajo mejorado)Berlín (trabajo mejorado)
Berlín (trabajo mejorado)
 
SBUX Partner Appreciation Day 2008 - Gordon Uhlich 303
SBUX  Partner Appreciation Day 2008 - Gordon Uhlich        303SBUX  Partner Appreciation Day 2008 - Gordon Uhlich        303
SBUX Partner Appreciation Day 2008 - Gordon Uhlich 303
 
Gmaringaense6
Gmaringaense6Gmaringaense6
Gmaringaense6
 
LA COMUNA EXHALADA, HACIA UNA FILOSOFÍA DE LA LEVEDAD_ DR. ADOLFO VASQUEZ ROCCA
LA COMUNA EXHALADA, HACIA UNA FILOSOFÍA DE LA LEVEDAD_ DR. ADOLFO VASQUEZ ROCCA LA COMUNA EXHALADA, HACIA UNA FILOSOFÍA DE LA LEVEDAD_ DR. ADOLFO VASQUEZ ROCCA
LA COMUNA EXHALADA, HACIA UNA FILOSOFÍA DE LA LEVEDAD_ DR. ADOLFO VASQUEZ ROCCA
 
LU
LULU
LU
 
Ut 4 extincion despido
Ut 4  extincion despidoUt 4  extincion despido
Ut 4 extincion despido
 
Doc12
Doc12Doc12
Doc12
 
KELSITURNER
KELSITURNERKELSITURNER
KELSITURNER
 
2-AGRICULTURA
2-AGRICULTURA2-AGRICULTURA
2-AGRICULTURA
 

Similar a Swarming: Deixando o enxameamento agir

Similar a Swarming: Deixando o enxameamento agir (20)

É o social, estúpido!
É o social, estúpido!É o social, estúpido!
É o social, estúpido!
 
FRANCO, Augusto - É o Social, Estúpido!
FRANCO, Augusto - É o Social, Estúpido!FRANCO, Augusto - É o Social, Estúpido!
FRANCO, Augusto - É o Social, Estúpido!
 
É o social, estúpido!
É o social, estúpido!É o social, estúpido!
É o social, estúpido!
 
Redes sociais: você pode fazer
Redes sociais: você pode fazerRedes sociais: você pode fazer
Redes sociais: você pode fazer
 
VOCÊ É O INIMIGO
VOCÊ É O INIMIGOVOCÊ É O INIMIGO
VOCÊ É O INIMIGO
 
Fluzz pilulas 22
Fluzz pilulas 22Fluzz pilulas 22
Fluzz pilulas 22
 
Fluzz capítulo 11
Fluzz capítulo 11Fluzz capítulo 11
Fluzz capítulo 11
 
Fluzz pilulas 85
Fluzz pilulas 85Fluzz pilulas 85
Fluzz pilulas 85
 
FRANCO, Augusto - Você é o Inimigo
FRANCO, Augusto - Você é o InimigoFRANCO, Augusto - Você é o Inimigo
FRANCO, Augusto - Você é o Inimigo
 
REDES SOCIAIS
REDES SOCIAISREDES SOCIAIS
REDES SOCIAIS
 
Bem-vindos aos novos mundos-fluzz
Bem-vindos aos novos mundos-fluzzBem-vindos aos novos mundos-fluzz
Bem-vindos aos novos mundos-fluzz
 
Fluzz pilulas 78
Fluzz pilulas 78Fluzz pilulas 78
Fluzz pilulas 78
 
Mídias Globais - Luiz Leo - PUC-Rio
Mídias Globais - Luiz Leo - PUC-RioMídias Globais - Luiz Leo - PUC-Rio
Mídias Globais - Luiz Leo - PUC-Rio
 
Redes Sociais e Aprendizagem
Redes Sociais e AprendizagemRedes Sociais e Aprendizagem
Redes Sociais e Aprendizagem
 
Fluzz pilulas 62
Fluzz pilulas 62Fluzz pilulas 62
Fluzz pilulas 62
 
Fluzz início capítulo 0
Fluzz início capítulo 0Fluzz início capítulo 0
Fluzz início capítulo 0
 
Fluzz | Versão Preliminar Integral
Fluzz | Versão Preliminar IntegralFluzz | Versão Preliminar Integral
Fluzz | Versão Preliminar Integral
 
Fluzz pilulas 90
Fluzz pilulas 90Fluzz pilulas 90
Fluzz pilulas 90
 
Fluzz capítulo 2
Fluzz capítulo 2Fluzz capítulo 2
Fluzz capítulo 2
 
Highly Connected Worlds
Highly Connected WorldsHighly Connected Worlds
Highly Connected Worlds
 

Más de augustodefranco .

Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democraciaFranco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democraciaaugustodefranco .
 
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasilFranco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasilaugustodefranco .
 
A democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventadaA democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventadaaugustodefranco .
 
Algumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em redeAlgumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em redeaugustodefranco .
 
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA augustodefranco .
 
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...augustodefranco .
 
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...augustodefranco .
 
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMAaugustodefranco .
 
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede socialNunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede socialaugustodefranco .
 
Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?augustodefranco .
 
Quando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democraciaQuando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democraciaaugustodefranco .
 
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John DeweyDemocracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Deweyaugustodefranco .
 
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELARELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELAaugustodefranco .
 
Diálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantesDiálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantesaugustodefranco .
 

Más de augustodefranco . (20)

Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democraciaFranco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
 
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasilFranco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
 
Hiérarchie
Hiérarchie Hiérarchie
Hiérarchie
 
A democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventadaA democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventada
 
JERARQUIA
JERARQUIAJERARQUIA
JERARQUIA
 
Algumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em redeAlgumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em rede
 
AS EMPRESAS DIANTE DA CRISE
AS EMPRESAS DIANTE DA CRISEAS EMPRESAS DIANTE DA CRISE
AS EMPRESAS DIANTE DA CRISE
 
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
 
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
 
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
 
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
 
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede socialNunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede social
 
Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?
 
Quando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democraciaQuando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democracia
 
100 DIAS DE VERÃO
100 DIAS DE VERÃO100 DIAS DE VERÃO
100 DIAS DE VERÃO
 
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John DeweyDemocracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
 
MULTIVERSIDADE NA ESCOLA
MULTIVERSIDADE NA ESCOLAMULTIVERSIDADE NA ESCOLA
MULTIVERSIDADE NA ESCOLA
 
DEMOCRACIA E REDES SOCIAIS
DEMOCRACIA E REDES SOCIAISDEMOCRACIA E REDES SOCIAIS
DEMOCRACIA E REDES SOCIAIS
 
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELARELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
 
Diálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantesDiálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantes
 

Swarming: Deixando o enxameamento agir

  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 88 (Corresponde ao terceiro tópico do Capítulo 11, intitulado Bem-vindos aos novos mundos-fluzz) Swarming Deixando o enxameamento agir A segunda grande descoberta: tudo que interage pode enxamear. Swaming (ou swarm behavior) e suas variantes como herding e shoaling, não acontecem somente com insetos, formigas, abelhas, pássaros, quadrúpedes e peixes. Em termos genéricos esses movimentos coletivos (também chamados de flocking) ocorrem quando um grande número de entidades self-propelled interagem. Algum tipo de inteligência coletiva (swarm intelligence) está sempre envolvida nestes movimentos. Já se sabe que isso também ocorre com humanos, quando multidões se aglomeram (clustering) e “evoluem” sincronizadamente sem qualquer condução exercida por algum
  • 2. líder; ou quando muitas pessoas enxameiam e provocam grandes mobilizações sem convocação ou coordenação centralizada, a partir de estímulos que se propagam P2P, por contágio viral. E não ocorre apenas como uma forma de conflito, como ficamos acostumados a pensar depois que Arquilla e Ronsfeld (2000) produziram para a Rand Corporation seu famoso paper “Swarming and the future of conflict” (6). Um exemplo conhecido dos efeitos surpreendentes do swaming – no caso, civil – foi a reação da sociedade espanhola aos atentados terroristas cometidos pela Al-Qaida em 11 de Março de 2004 (7). Escrevendo sobre isso, ainda preso as visões do swarming como netwar, David de Ugarte (2007), em O poder das redes, acerta porém quando diz: “Como organizar, pois, ações em um mundo de redes distribuídas? Como se chega a um swarming civil? Em primeiro lugar, renunciando a organizar. Os movimentos surgem por auto-agregação espontânea, de tal forma que planificar o que se vai fazer, quem e quando o fará, não tem nenhum sentido, porque não saberemos o quê, até que o quem tenha atuado” (8). O swarming (enxameamento) é uma forma de interação. Deixar o enxameamento agir significa ‘renunciar a organizar’, quer dizer, a disciplinar a interação. O fenômeno acontece com mais rapidez em função direta dos graus de conectividade e de distribuição da rede. Em mundos altamente conectados tais movimentos tendem a irromper com mais frequência. E é por isso que eles surgem por emergência, não supervêm a partir de qualquer instância centralizada. Assim, do que se trata é de deixar mesmo. As tentativas de provocar artificialmente swarmings, instrumentalizando o processo para derrotar um adversário, destruir um inimigo, disputar uma posição, vencer uma eleição ou vender mais produtos batendo a concorrência, em geral não têm dado certo. Todas elas acabam, contraditoriamente, fazendo aquilo que negam: tentando organizar a auto-organização. E ainda bem que tais tentativas fracassam: do contrário viveríamos em mundos altamente centralizados por aqueles que possuíssem o segredo de como desencadear swarmings. De posse desse conhecimento (que logo seria trancado), um partido poderia eleger seus candidatos (e mantê-los no poder indefinidamente) ou uma empresa poderia reinar sozinha no seu ramo de negócio. 2
  • 3. Nada a ver com conteúdo. Na sua intimidade, o processo de swarming pressupõe clustering e se propaga por meio de cloning. 3
  • 4. Notas (6) ARQUILLA, John e RONSFELD, David (2000). Swarming and the Future of Conflict. USA: Rand Corporation, Office of the Secretary of Defense, 2000. (7) O paper de John Arquilla e David Ronsfeld sobre swarming entre humanos, infelizmente, estava mais voltado para a análise das suas implicações na guerra. Quatro anos depois, em 11M: Redes para ganar uma guerra, analisando a reação da sociedade espanhola aos atentados terroristas cometidos pela Al-Qaida em 11 de Março de 2004, David de Ugarte (2004) aventou a possibilidade de um swarming civil, mas ainda nos marcos de um conflito (a netwar). Cf. UGARTE, David (2004). 11M. Redes para ganar uma guerra. Barcelona: Icaria, 2006. Três anos depois, em O Poder das Redes (2007), ele iria definir o sarming como “um novo tipo de conflito multi-agente e multicanal, onde as relações entre os atores parecem descrever a topologia de uma rede distribuída. O swarming é a forma específica do conflito na sociedade-rede: distintos grupos e tendências, não coordenados explicitamente entre si e apenas centralizados um pouco além de uma mínima doutrina comum dentro das fileiras de cada um deles, vão aumentando o alcance e a virulência de suas ações, até isolar e encurralar as posições contrárias sem deixar-lhes possibilidade real de resposta”. (8) UGARTE, David (2007). O poder das redes. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2008. 4