SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 4
Descargar para leer sin conexión
Em pílulas
Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                             89
               (Corresponde ao quarto tópico do Capítulo 11,
              intitulado Bem-vindos aos novos mundos-fluzz)




                               Cloning

Deixando a imitação exercer seu papel

A terceira grande descoberta: a imitação também é uma das formas da
interação e, desse ponto de vista, a imitação é uma clonagem. Poucos
perceberam isso. Como pessoas – gholas sociais – todos somos clones, na
medida em que somos culturalmente formados como réplicas variantes
(embora únicas) de configurações das redes sociais onde estamos
emaranhados.

O termo clone deriva da palavra grega klónos, usada para designar "tronco”
ou “ramo", referindo-se ao processo pelo qual uma nova planta pode ser
criada a partir de um galho. Mas é isso mesmo. A nova planta imita a velha.
A vida imita a vida. A convivência imita a convivência. A pessoa imita o
social.

Sem imitação não poderia haver ordem emergente nas sociedades humanas
ou em qualquer coletivo de seres capazes de interagir. Sem imitação os
cupins não conseguiriam construir seus cupinzeiros. Sem imitação, os
pássaros não voariam em bando, configurando formas geométricas tão
surpreeendentes e fazendo aquelas evoluções fantásticas.

A imitação não é algo ruim, como começamos a pensar depois que surgiram
os sistemas de trancamento do conhecimento (como, por exemplo, as leis
de patentes e o direito autoral). A preocupação deslocou-se então da
criação para a fraude, passando a ser um caso de polícia.

Mas não há aprendizagem sem imitação. Learn from your neighbours é a
diretiva geral de auto-organização dos sistemas complexos e, portanto, de
qualquer sistema capaz de aprender.

Quando imitamos, introduzimos variações. Nunca reproduzimos nada
fielmente (isso seria impossível em qualquer mundo em que as condições
são mutáveis e os imitadores são diferentes dos imitados). A propagação
dessas variações se distribui de uma maneira estranha.

Você não imita um-a-um ou um de cada vez. O que você imitou (e variou)
vai ser imitado por outro (e ser também variado). Além disso, você imita
vários ao mesmo tempo, combina e recombina modelos a ser imitados e
essas recombinações também se propagam gerando novos padrões de
adaptação emergentes. Isso é o que chamamos aqui de cloning. Foi assim
que nasceu a vida (o simbionte natural). É assim que está nascendo a
convivência social “orgânica” (ou o simbionte social) nos Highly Connected
Worlds.

Ao contrário do que se acreditou por tanto tempo, não há inovação sem
imitação. E quanto mais imitação, mais inovação. Imitação não é
propriamente repetição, reprodução assistida. Imitação é uma função dos
emaranhados em que as coisas – inclusive os humanos – sempre estão.

Na verdade, nossos esforços educativos, ao querermos preparar as pessoas
e orientá-las para que cumpram adequadamente uma função (em geral
uma função que queremos que elas cumpram), são, em grande parte,
tentativas de condicioná-las (ao que queremos que elas façam) e
administrá-las (para que elas façam o que queremos do jeito que



                                    2
queremos). Se não estamos preocupados com comando-e-controle, tal
esforço é quase sempre inútil. Bastaria deixar que elas aprendessem.
Deixar-aprender é a solução-fluzz para a educação (que, como tal – como
‘a’ educação – é então abolida). E é também, sob certo ponto de vista, uma
definição de democracia (no sentido “forte” do conceito).

Como naquelas experiências promovidas por Sugatra Mitra com crianças de
localidades pobres da Índia, que nunca haviam visto um computador e que
aprenderam, elas mesmas, em grupo, não somente a usar a máquina e a
rede, mas aprenderam a aprender em rede por meio da máquina, é preciso
deixar as pessoas aprenderem na interação. Mitra não ensinava nada,
simplesmente entregava computadores conectados às crianças e dizia: “ –
Vejam aí o que vocês podem fazer, voltarei daqui a um mês”. Ao voltar
verificava que elas haviam feito prodígios. Nessas experiências a
aprendizagem fundamental era sempre a da interação (no grupo dos
aprendentes) (9). Mas isso vale para qualquer aprendizagem. A imitação
não deve ser apenas tolerada senão estimulada (e se os chamados
educadores soubessem disso incentivariam a cola nas suas provas ao invés
de montar sistemas para vigiar e punir os transgressores: argh!).

Quando tentamos orientar as pessoas sobre o quê – e como, e quando, e
onde – elas devem aprender, nós é que estamos, na verdade, tentando
replicar, reproduzir borgs: queremos seres que repetem. Quando deixamos
as pessoas imitarem umas as outras, não replicamos; pelo contrário,
ensejamos a formação de gholas sociais. Como seres humanos – frutos de
cloning – somos seres imitadores.

Nada a ver com conteúdo. Nos mundos altamente conectados o cloning
tende a auto-organizar boa parte das coisas que nos esforçamos por
organizar inventando complicados processos e métodos de gestão. Mesmo
porque tudo isso vira lixo na medida em que os mundos começam a se
contrair sob efeito de crunching.




                                    3
Nota

(9) Cf. Sugatra Mitra: “The child-driven education” no TED Global 2010 no link
abaixo:

<http://www.ted.com/talks/lang/eng/sugata_mitra_the_child_driven_education.ht
ml>




                                      4

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Desvendando a Complexidade: origens, definições e desdobramentos de teorias
Desvendando a Complexidade: origens, definições e desdobramentos de teorias Desvendando a Complexidade: origens, definições e desdobramentos de teorias
Desvendando a Complexidade: origens, definições e desdobramentos de teorias Claudio Franco
 
Becker Construtivismo
Becker ConstrutivismoBecker Construtivismo
Becker Construtivismosilsiane
 
Para entrar no terceiro milênio
Para entrar no terceiro milênioPara entrar no terceiro milênio
Para entrar no terceiro milênioaugustodefranco .
 
Série FLUZZ Volume 9 BEM-VINDOS AOS NOVOS MUNDOS-FLUZZ
Série FLUZZ Volume 9 BEM-VINDOS AOS NOVOS MUNDOS-FLUZZSérie FLUZZ Volume 9 BEM-VINDOS AOS NOVOS MUNDOS-FLUZZ
Série FLUZZ Volume 9 BEM-VINDOS AOS NOVOS MUNDOS-FLUZZaugustodefranco .
 
SOBRE A "PERVERSÃO NEODARWINISTA"
SOBRE A "PERVERSÃO NEODARWINISTA"SOBRE A "PERVERSÃO NEODARWINISTA"
SOBRE A "PERVERSÃO NEODARWINISTA"augustodefranco .
 

La actualidad más candente (12)

Desvendando a Complexidade: origens, definições e desdobramentos de teorias
Desvendando a Complexidade: origens, definições e desdobramentos de teorias Desvendando a Complexidade: origens, definições e desdobramentos de teorias
Desvendando a Complexidade: origens, definições e desdobramentos de teorias
 
Fluzz pilulas 90
Fluzz pilulas 90Fluzz pilulas 90
Fluzz pilulas 90
 
Becker Construtivismo
Becker ConstrutivismoBecker Construtivismo
Becker Construtivismo
 
Para entrar no terceiro milênio
Para entrar no terceiro milênioPara entrar no terceiro milênio
Para entrar no terceiro milênio
 
Fluzz pilulas 20
Fluzz pilulas 20Fluzz pilulas 20
Fluzz pilulas 20
 
Fluzz capítulo 6
Fluzz capítulo 6Fluzz capítulo 6
Fluzz capítulo 6
 
Série FLUZZ Volume 9 BEM-VINDOS AOS NOVOS MUNDOS-FLUZZ
Série FLUZZ Volume 9 BEM-VINDOS AOS NOVOS MUNDOS-FLUZZSérie FLUZZ Volume 9 BEM-VINDOS AOS NOVOS MUNDOS-FLUZZ
Série FLUZZ Volume 9 BEM-VINDOS AOS NOVOS MUNDOS-FLUZZ
 
Fluzz pilulas 33
Fluzz pilulas 33Fluzz pilulas 33
Fluzz pilulas 33
 
SOBRE A "PERVERSÃO NEODARWINISTA"
SOBRE A "PERVERSÃO NEODARWINISTA"SOBRE A "PERVERSÃO NEODARWINISTA"
SOBRE A "PERVERSÃO NEODARWINISTA"
 
Highly Connected Worlds
Highly Connected WorldsHighly Connected Worlds
Highly Connected Worlds
 
Fluzz capítulo 4
Fluzz capítulo 4Fluzz capítulo 4
Fluzz capítulo 4
 
Construtivismo
ConstrutivismoConstrutivismo
Construtivismo
 

Destacado

Alemania - Berlín
Alemania - BerlínAlemania - Berlín
Alemania - BerlínDavidLaredo
 
Povos indígenas e a preservação da amazonia
Povos indígenas e a preservação da amazoniaPovos indígenas e a preservação da amazonia
Povos indígenas e a preservação da amazoniaLUIS ABREU
 
Reconocimiento de cuencas uno
Reconocimiento de cuencas unoReconocimiento de cuencas uno
Reconocimiento de cuencas unoRICARDOCORDON
 
Informe sobre rentabilidad bankimia
Informe sobre rentabilidad bankimiaInforme sobre rentabilidad bankimia
Informe sobre rentabilidad bankimiaCrediMarket
 
Mi programa de formacion
Mi programa de formacionMi programa de formacion
Mi programa de formacionYider Brs
 
Métodos de búsqueda y operadores boléanos
Métodos de búsqueda y operadores boléanosMétodos de búsqueda y operadores boléanos
Métodos de búsqueda y operadores boléanosnikolajevic
 

Destacado (9)

Alemania - Berlín
Alemania - BerlínAlemania - Berlín
Alemania - Berlín
 
Povos indígenas e a preservação da amazonia
Povos indígenas e a preservação da amazoniaPovos indígenas e a preservação da amazonia
Povos indígenas e a preservação da amazonia
 
Signos de puntuación
Signos de puntuaciónSignos de puntuación
Signos de puntuación
 
Reconocimiento de cuencas uno
Reconocimiento de cuencas unoReconocimiento de cuencas uno
Reconocimiento de cuencas uno
 
Fluzz capítulo 7
Fluzz capítulo 7Fluzz capítulo 7
Fluzz capítulo 7
 
Informe sobre rentabilidad bankimia
Informe sobre rentabilidad bankimiaInforme sobre rentabilidad bankimia
Informe sobre rentabilidad bankimia
 
SANNYAS: ENTRANDO NO FLUXO
SANNYAS: ENTRANDO NO FLUXOSANNYAS: ENTRANDO NO FLUXO
SANNYAS: ENTRANDO NO FLUXO
 
Mi programa de formacion
Mi programa de formacionMi programa de formacion
Mi programa de formacion
 
Métodos de búsqueda y operadores boléanos
Métodos de búsqueda y operadores boléanosMétodos de búsqueda y operadores boléanos
Métodos de búsqueda y operadores boléanos
 

Similar a Deixando a imitação exercer seu papel

Redes Sociais novos comportamentos
Redes Sociais novos comportamentosRedes Sociais novos comportamentos
Redes Sociais novos comportamentosFabrício Santorini
 
A sociedade em rede e a economia criativa
A sociedade em rede e a economia criativaA sociedade em rede e a economia criativa
A sociedade em rede e a economia criativaaugustodefranco .
 
FRANCO, Augusto - É o Social, Estúpido!
FRANCO, Augusto - É o Social, Estúpido!FRANCO, Augusto - É o Social, Estúpido!
FRANCO, Augusto - É o Social, Estúpido!Fabio Pedrazzi
 
Redes Sociais e Aprendizagem
Redes Sociais e AprendizagemRedes Sociais e Aprendizagem
Redes Sociais e Aprendizagemaugustodefranco .
 
Curso de capacitacao_de_professores_formadores_floripa_24-25-26_de_novembro_d...
Curso de capacitacao_de_professores_formadores_floripa_24-25-26_de_novembro_d...Curso de capacitacao_de_professores_formadores_floripa_24-25-26_de_novembro_d...
Curso de capacitacao_de_professores_formadores_floripa_24-25-26_de_novembro_d...sandragomes350
 
Autopoiese culturasociedade
Autopoiese culturasociedadeAutopoiese culturasociedade
Autopoiese culturasociedadePaulo Junior
 
Mídias Globais - Luiz Leo - PUC-Rio
Mídias Globais - Luiz Leo - PUC-RioMídias Globais - Luiz Leo - PUC-Rio
Mídias Globais - Luiz Leo - PUC-Rioagccf
 
Série FLUZZ Volume 4 NÃO-ESCOLAS
Série FLUZZ Volume 4 NÃO-ESCOLAS Série FLUZZ Volume 4 NÃO-ESCOLAS
Série FLUZZ Volume 4 NÃO-ESCOLAS augustodefranco .
 

Similar a Deixando a imitação exercer seu papel (20)

Plataformas de rede
Plataformas de redePlataformas de rede
Plataformas de rede
 
Redes Sociais novos comportamentos
Redes Sociais novos comportamentosRedes Sociais novos comportamentos
Redes Sociais novos comportamentos
 
A sociedade em rede e a economia criativa
A sociedade em rede e a economia criativaA sociedade em rede e a economia criativa
A sociedade em rede e a economia criativa
 
REDES SOCIAIS
REDES SOCIAISREDES SOCIAIS
REDES SOCIAIS
 
Fluzz & Escola
Fluzz & EscolaFluzz & Escola
Fluzz & Escola
 
É o social, estúpido!
É o social, estúpido!É o social, estúpido!
É o social, estúpido!
 
FRANCO, Augusto - É o Social, Estúpido!
FRANCO, Augusto - É o Social, Estúpido!FRANCO, Augusto - É o Social, Estúpido!
FRANCO, Augusto - É o Social, Estúpido!
 
É o social, estúpido!
É o social, estúpido!É o social, estúpido!
É o social, estúpido!
 
Fluzz pilulas 38
Fluzz pilulas 38Fluzz pilulas 38
Fluzz pilulas 38
 
Redes Sociais e Aprendizagem
Redes Sociais e AprendizagemRedes Sociais e Aprendizagem
Redes Sociais e Aprendizagem
 
Não-Escolas
Não-EscolasNão-Escolas
Não-Escolas
 
Desafios da complexidade à comunidade aprendente
Desafios da complexidade à comunidade aprendenteDesafios da complexidade à comunidade aprendente
Desafios da complexidade à comunidade aprendente
 
Fluzz Book + e-Book
Fluzz Book + e-BookFluzz Book + e-Book
Fluzz Book + e-Book
 
Curso de capacitacao_de_professores_formadores_floripa_24-25-26_de_novembro_d...
Curso de capacitacao_de_professores_formadores_floripa_24-25-26_de_novembro_d...Curso de capacitacao_de_professores_formadores_floripa_24-25-26_de_novembro_d...
Curso de capacitacao_de_professores_formadores_floripa_24-25-26_de_novembro_d...
 
Fluzz pilulas 22
Fluzz pilulas 22Fluzz pilulas 22
Fluzz pilulas 22
 
Fluzz pilulas 31
Fluzz pilulas 31Fluzz pilulas 31
Fluzz pilulas 31
 
Autopoiese culturasociedade
Autopoiese culturasociedadeAutopoiese culturasociedade
Autopoiese culturasociedade
 
Mídias Globais - Luiz Leo - PUC-Rio
Mídias Globais - Luiz Leo - PUC-RioMídias Globais - Luiz Leo - PUC-Rio
Mídias Globais - Luiz Leo - PUC-Rio
 
Série FLUZZ Volume 4 NÃO-ESCOLAS
Série FLUZZ Volume 4 NÃO-ESCOLAS Série FLUZZ Volume 4 NÃO-ESCOLAS
Série FLUZZ Volume 4 NÃO-ESCOLAS
 
Fluzz pilulas 39
Fluzz pilulas 39Fluzz pilulas 39
Fluzz pilulas 39
 

Más de augustodefranco .

Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democraciaFranco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democraciaaugustodefranco .
 
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasilFranco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasilaugustodefranco .
 
A democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventadaA democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventadaaugustodefranco .
 
Algumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em redeAlgumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em redeaugustodefranco .
 
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA augustodefranco .
 
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...augustodefranco .
 
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...augustodefranco .
 
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMAaugustodefranco .
 
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede socialNunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede socialaugustodefranco .
 
Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?augustodefranco .
 
Quando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democraciaQuando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democraciaaugustodefranco .
 
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John DeweyDemocracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Deweyaugustodefranco .
 
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELARELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELAaugustodefranco .
 
Diálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantesDiálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantesaugustodefranco .
 

Más de augustodefranco . (20)

Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democraciaFranco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
 
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasilFranco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
 
Hiérarchie
Hiérarchie Hiérarchie
Hiérarchie
 
A democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventadaA democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventada
 
JERARQUIA
JERARQUIAJERARQUIA
JERARQUIA
 
Algumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em redeAlgumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em rede
 
AS EMPRESAS DIANTE DA CRISE
AS EMPRESAS DIANTE DA CRISEAS EMPRESAS DIANTE DA CRISE
AS EMPRESAS DIANTE DA CRISE
 
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
 
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
 
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
 
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
 
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede socialNunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede social
 
Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?
 
Quando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democraciaQuando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democracia
 
100 DIAS DE VERÃO
100 DIAS DE VERÃO100 DIAS DE VERÃO
100 DIAS DE VERÃO
 
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John DeweyDemocracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
 
MULTIVERSIDADE NA ESCOLA
MULTIVERSIDADE NA ESCOLAMULTIVERSIDADE NA ESCOLA
MULTIVERSIDADE NA ESCOLA
 
DEMOCRACIA E REDES SOCIAIS
DEMOCRACIA E REDES SOCIAISDEMOCRACIA E REDES SOCIAIS
DEMOCRACIA E REDES SOCIAIS
 
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELARELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
 
Diálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantesDiálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantes
 

Deixando a imitação exercer seu papel

  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 89 (Corresponde ao quarto tópico do Capítulo 11, intitulado Bem-vindos aos novos mundos-fluzz) Cloning Deixando a imitação exercer seu papel A terceira grande descoberta: a imitação também é uma das formas da interação e, desse ponto de vista, a imitação é uma clonagem. Poucos perceberam isso. Como pessoas – gholas sociais – todos somos clones, na medida em que somos culturalmente formados como réplicas variantes (embora únicas) de configurações das redes sociais onde estamos emaranhados. O termo clone deriva da palavra grega klónos, usada para designar "tronco” ou “ramo", referindo-se ao processo pelo qual uma nova planta pode ser
  • 2. criada a partir de um galho. Mas é isso mesmo. A nova planta imita a velha. A vida imita a vida. A convivência imita a convivência. A pessoa imita o social. Sem imitação não poderia haver ordem emergente nas sociedades humanas ou em qualquer coletivo de seres capazes de interagir. Sem imitação os cupins não conseguiriam construir seus cupinzeiros. Sem imitação, os pássaros não voariam em bando, configurando formas geométricas tão surpreeendentes e fazendo aquelas evoluções fantásticas. A imitação não é algo ruim, como começamos a pensar depois que surgiram os sistemas de trancamento do conhecimento (como, por exemplo, as leis de patentes e o direito autoral). A preocupação deslocou-se então da criação para a fraude, passando a ser um caso de polícia. Mas não há aprendizagem sem imitação. Learn from your neighbours é a diretiva geral de auto-organização dos sistemas complexos e, portanto, de qualquer sistema capaz de aprender. Quando imitamos, introduzimos variações. Nunca reproduzimos nada fielmente (isso seria impossível em qualquer mundo em que as condições são mutáveis e os imitadores são diferentes dos imitados). A propagação dessas variações se distribui de uma maneira estranha. Você não imita um-a-um ou um de cada vez. O que você imitou (e variou) vai ser imitado por outro (e ser também variado). Além disso, você imita vários ao mesmo tempo, combina e recombina modelos a ser imitados e essas recombinações também se propagam gerando novos padrões de adaptação emergentes. Isso é o que chamamos aqui de cloning. Foi assim que nasceu a vida (o simbionte natural). É assim que está nascendo a convivência social “orgânica” (ou o simbionte social) nos Highly Connected Worlds. Ao contrário do que se acreditou por tanto tempo, não há inovação sem imitação. E quanto mais imitação, mais inovação. Imitação não é propriamente repetição, reprodução assistida. Imitação é uma função dos emaranhados em que as coisas – inclusive os humanos – sempre estão. Na verdade, nossos esforços educativos, ao querermos preparar as pessoas e orientá-las para que cumpram adequadamente uma função (em geral uma função que queremos que elas cumpram), são, em grande parte, tentativas de condicioná-las (ao que queremos que elas façam) e administrá-las (para que elas façam o que queremos do jeito que 2
  • 3. queremos). Se não estamos preocupados com comando-e-controle, tal esforço é quase sempre inútil. Bastaria deixar que elas aprendessem. Deixar-aprender é a solução-fluzz para a educação (que, como tal – como ‘a’ educação – é então abolida). E é também, sob certo ponto de vista, uma definição de democracia (no sentido “forte” do conceito). Como naquelas experiências promovidas por Sugatra Mitra com crianças de localidades pobres da Índia, que nunca haviam visto um computador e que aprenderam, elas mesmas, em grupo, não somente a usar a máquina e a rede, mas aprenderam a aprender em rede por meio da máquina, é preciso deixar as pessoas aprenderem na interação. Mitra não ensinava nada, simplesmente entregava computadores conectados às crianças e dizia: “ – Vejam aí o que vocês podem fazer, voltarei daqui a um mês”. Ao voltar verificava que elas haviam feito prodígios. Nessas experiências a aprendizagem fundamental era sempre a da interação (no grupo dos aprendentes) (9). Mas isso vale para qualquer aprendizagem. A imitação não deve ser apenas tolerada senão estimulada (e se os chamados educadores soubessem disso incentivariam a cola nas suas provas ao invés de montar sistemas para vigiar e punir os transgressores: argh!). Quando tentamos orientar as pessoas sobre o quê – e como, e quando, e onde – elas devem aprender, nós é que estamos, na verdade, tentando replicar, reproduzir borgs: queremos seres que repetem. Quando deixamos as pessoas imitarem umas as outras, não replicamos; pelo contrário, ensejamos a formação de gholas sociais. Como seres humanos – frutos de cloning – somos seres imitadores. Nada a ver com conteúdo. Nos mundos altamente conectados o cloning tende a auto-organizar boa parte das coisas que nos esforçamos por organizar inventando complicados processos e métodos de gestão. Mesmo porque tudo isso vira lixo na medida em que os mundos começam a se contrair sob efeito de crunching. 3
  • 4. Nota (9) Cf. Sugatra Mitra: “The child-driven education” no TED Global 2010 no link abaixo: <http://www.ted.com/talks/lang/eng/sugata_mitra_the_child_driven_education.ht ml> 4