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SE EU FUNDASSE UMA RELIGIÃO

                       Augusto de Franco

                             12/03/2013




Se eu fundasse uma religião ela não exigiria a inclusão das pessoas em
clusters fechados dos que professam a mesma fé. E nem invalidaria todas
as conversações místicas diferentes das suas. Não se declararia como único
caminho verdadeiro, apavorando os outros com a sentença de que fora dela
não há salvação.


Se eu fundasse uma religião ela não teria doutrina oficial, dogma ou
símbolo. Não erigiria igrejas e, assim, não separaria uma igreja docente
(um corpo sacerdotal) de uma igreja discente (composta pelo rebanho de
fiéis, os leigos). Porque ela não teria sacerdotes, nem qualquer burocracia
de intermediários.


Se eu fundasse uma religião, ela não pavimentaria com a crença um
caminho para o futuro alheio. Nem se constituiria como um artifício para
proteger as pessoas da experiência de deus.


Sim, se eu fundasse uma religião haveria deuses, claro, qual o problema?
Mas seriam mais ou menos assim, mal comparando, como aqueles deuses
da democracia grega, deuses da conversação, quer dizer, deuses-fluzz,
deuses da interação, como talvez tenha sido prefigurado pelo Zeus Agoraios
(divindade tutelar que protegia as conversações na praça do mercado de
Atenas) e a deusa Peitho (a persuasão deificada).


Que fique bem claro! Minha religião inventada não teria deuses pré-
patriarcais (naturais) e muitos menos deuses patriarcais (sobrenaturais)
mas, quem sabe, poderia ter deuses pós-patriarcais (sociais), desde que
incapazes de exigir culto dos humanos e, sobretudo de escravizá-los ou
submetê-los à servidão. Seriam deuses humanizados, mais-humanos
porque sociais e não mais-que-humanos, super-humanos, extra-humanos,
antissociais. Não seriam tais deuses potestades unitárias criadoras de
qualquer ordem pré-existente e sim entidades compostas pela interação,
simbiontes constelados fractalmente por nós.


Se eu fundasse uma religião um cara como Paulo de Tarso estaria fora.
Nada de codificadores de doutrina. E um cara como Inácio de Antioquia
estaria fora: nada de supervisores (ou episcopos). E nada de padres: todos
seriam diáconos. Seria uma religião de garçons: uns servindo aos outros
animados pelo espírito santo (que seria santo a não ser enquanto estivesse
expressando essa emoção amorosa).


Se eu fundasse uma religião ela não teria templos, nem ritos, rituais,
liturgias... e também nada de muros, escadas, portas, colunas, altares,
lugares mais sagrados e outros símbolos templários. Não teria cerimônias
de iniciação, ordenação, sagração, consagração ou qualquer outro script
maligno que pudesse programar as pessoas lesionando suas almas.


Mas uma coisa exigiria minha religião: que as pessoas que a ela se
conectassem    apostassem     na   democracia     como    movimento     de
desconstituição de autocracia. Sim, seria uma religião para quem não aceita
a autocracia, para quem está disposto a desobedecer e, portanto, para
quem não acata nem reproduz hierarquia de nenhum tipo, sobretudo
espiritual. Uma religião para quem não segue líderes, não se deixa
arrebanhar em massas de filiados, nem compõe quadros de sequazes ou
militantes de uma causa. Sim, é isto mesmo: uma religião para quem não
quer ser cavalgado.


É claro que você já percebeu que minha religião inventada seria uma não-
religião. Seria uma simples rede aberta de pessoas dispostas a polinizar
mutuamente os modos pelos quais experimentam sua mística ou sua
espiritualidade, compartilhando as formas semelhantes como vivem um
domínio mais amplo de relações de existência e celebrando suas afinidades
e amorosidades mutuas.


Se eu fundasse uma religião... 'Se' é una hipótese especulativa, não um
projeto. Como não vou mesmo fundar uma religião e nem uma não-religião,
não serei fundador de nada.


Mas ninguém me impeça de provocar.

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  • 1. SE EU FUNDASSE UMA RELIGIÃO Augusto de Franco 12/03/2013 Se eu fundasse uma religião ela não exigiria a inclusão das pessoas em clusters fechados dos que professam a mesma fé. E nem invalidaria todas as conversações místicas diferentes das suas. Não se declararia como único caminho verdadeiro, apavorando os outros com a sentença de que fora dela não há salvação. Se eu fundasse uma religião ela não teria doutrina oficial, dogma ou símbolo. Não erigiria igrejas e, assim, não separaria uma igreja docente
  • 2. (um corpo sacerdotal) de uma igreja discente (composta pelo rebanho de fiéis, os leigos). Porque ela não teria sacerdotes, nem qualquer burocracia de intermediários. Se eu fundasse uma religião, ela não pavimentaria com a crença um caminho para o futuro alheio. Nem se constituiria como um artifício para proteger as pessoas da experiência de deus. Sim, se eu fundasse uma religião haveria deuses, claro, qual o problema? Mas seriam mais ou menos assim, mal comparando, como aqueles deuses da democracia grega, deuses da conversação, quer dizer, deuses-fluzz, deuses da interação, como talvez tenha sido prefigurado pelo Zeus Agoraios (divindade tutelar que protegia as conversações na praça do mercado de Atenas) e a deusa Peitho (a persuasão deificada). Que fique bem claro! Minha religião inventada não teria deuses pré- patriarcais (naturais) e muitos menos deuses patriarcais (sobrenaturais) mas, quem sabe, poderia ter deuses pós-patriarcais (sociais), desde que incapazes de exigir culto dos humanos e, sobretudo de escravizá-los ou submetê-los à servidão. Seriam deuses humanizados, mais-humanos porque sociais e não mais-que-humanos, super-humanos, extra-humanos, antissociais. Não seriam tais deuses potestades unitárias criadoras de qualquer ordem pré-existente e sim entidades compostas pela interação, simbiontes constelados fractalmente por nós. Se eu fundasse uma religião um cara como Paulo de Tarso estaria fora. Nada de codificadores de doutrina. E um cara como Inácio de Antioquia estaria fora: nada de supervisores (ou episcopos). E nada de padres: todos seriam diáconos. Seria uma religião de garçons: uns servindo aos outros animados pelo espírito santo (que seria santo a não ser enquanto estivesse expressando essa emoção amorosa). Se eu fundasse uma religião ela não teria templos, nem ritos, rituais, liturgias... e também nada de muros, escadas, portas, colunas, altares, lugares mais sagrados e outros símbolos templários. Não teria cerimônias
  • 3. de iniciação, ordenação, sagração, consagração ou qualquer outro script maligno que pudesse programar as pessoas lesionando suas almas. Mas uma coisa exigiria minha religião: que as pessoas que a ela se conectassem apostassem na democracia como movimento de desconstituição de autocracia. Sim, seria uma religião para quem não aceita a autocracia, para quem está disposto a desobedecer e, portanto, para quem não acata nem reproduz hierarquia de nenhum tipo, sobretudo espiritual. Uma religião para quem não segue líderes, não se deixa arrebanhar em massas de filiados, nem compõe quadros de sequazes ou militantes de uma causa. Sim, é isto mesmo: uma religião para quem não quer ser cavalgado. É claro que você já percebeu que minha religião inventada seria uma não- religião. Seria uma simples rede aberta de pessoas dispostas a polinizar mutuamente os modos pelos quais experimentam sua mística ou sua espiritualidade, compartilhando as formas semelhantes como vivem um domínio mais amplo de relações de existência e celebrando suas afinidades e amorosidades mutuas. Se eu fundasse uma religião... 'Se' é una hipótese especulativa, não um projeto. Como não vou mesmo fundar uma religião e nem uma não-religião, não serei fundador de nada. Mas ninguém me impeça de provocar.