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Apartheid : 20 anos após seu fim na África do Sul, ele "sobrevive" em
outros países 10
Desde 2010, a ONU (Organização das Nações Unidas) comemora em
18 de julho o Dia internacional em homenagem ao herói da luta anti-
apartheid, o Mandela Day
No Brasil e em boa parte do mundo, o preconceito de raça, cor e etnia é
considerado crime. Mas o amparo da legislação não impede episódios de
racismo como o da cliente que recentemente recusou ser atendida por uma
profissional negra, em Brasília, ou de pessoas que não permitem negros em
seus estabelecimentos e negam qualquer tipo de direito ao outro devido à sua
cor.
Superar essa diferença racial foi um obstáculo importante para alguns países.
Um deles em especial, a África do Sul, que durante quatro décadas adotou
um regime de segregação racial que privilegiava a elite branca. O fim deste
regime conhecido como apartheid completa 20 anos em 2014 e teve como um
de seus principais nomes o do ex-presidente Nelson Mandela (1918-2013).
Conheça o regime do apartheid e a luta de Mandela pela igualdade
racial21 fotos
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Após passar mais de 26 anos na prisão, Nelson Mandela ganhou a liberdade
em 1990. Mandela foi um dos líderes da luta pela igualdade racial na África do
Sul. Três anos depois Mandela foi eleito presidente nas primeiras eleições
livres realizadas no país. Na imagem, Mandela e sua esposa na época, Winie
Madikizela, comemoram a liberdade. A foto foi tirada no dia 11 de fevereiro de
1990 AFP
O apartheid -- palavra africana que significa separação -- foi um regime de
segregação racial estabelecido após as eleições gerais de 1948, quando o
Partido Nacional Reunido e o Partido Africâner venceram com a promessa de
acentuar a separação entre brancos e negros --herança do período colonial de
ocupação holandesa e britânica. Unidas, as legendas formaram o Partido
Nacional, que governaria o país até 1994, quando Mandela chegou à
presidência nas primeiras eleições livres.
A segregação imposta pelo governo afetou todos os espaços e relações
sociais. Negros não podiam se casar com brancos, não podiam ocupar o
mesmo transporte coletivo usado pelos brancos, não podiam morar no mesmo
bairro e nem realizar o mesmo trabalho, nem comprar e alugar terras, entre
outras restrições. A discriminação se estendia também aos coloured
(mestiços), indianos e brancos sul-africanos.
Novas formas de apartheid
Ao longo de toda a história, diversos povos tradicionais e grupos étnicos
sofreram perseguição. Durante a colonização das Américas, os indígenas e
negros foram as grandes vítimas da escravidão. Na Europa, os judeus e
ciganos foram discriminados e expulsos de muitos países, em diferentes
períodos, da Inquisição na Idade Média ao século 20, com o nazismo alemão.
O apartheid sul-africano foi uma das leis mais recente de separação de grupos.
Duas décadas após o fim dessa política, o apartheid vai sendo recriado em
outras formas. Atualmente, entre os povos que mais sofrem discriminação
estão os ciganos que vivem na Europa, oriundos em sua maioria do Leste
Europeu, de países como Romênia e Bulgária. A União Europeia estima que
haja seis milhões de ciganos nos países do bloco. A maioria vive em guetos e
em situação de pobreza extrema.
Na França, onde moram cerca de 20 mil ciganos, a política anti-imigração
iniciada com o governo de Nicolas Sarkozy e seguida por François Hollande já
desmantelou acampamentos e expulsou centenas de ciganos para seu país de
origem. Em 2008, o premiê italiano Silvio Berlusconi já havia iniciado uma
expulsão em massa dos ciganos do país.
Na Grécia e Irlanda, o governo já retirou crianças de casais ciganos que não se
pareciam com os pais. Em Portugal, dezenas de famílias de ciganos foram
removidas para assentamentos “só para ciganos”. Na Itália, causou polêmica a
criação do bairro “La Barbuta”, construído nos arredores de Roma. O local é
rodeado de cercas e câmeras e tende a isolar as famílias ciganas.
Na República Checa, onde vivem 200 mil ciganos, criaram-se escolas
especiais para as crianças ciganas, que em alguns casos dividem a sala de
aula com crianças incapacitadas. Há bairros que reúnem apenas essa
população, separados do resto e sem acesso aos mesmos direitos, e muitos
restaurantes proíbem a entrada de "romenis", na Polônia, Romênia,
Eslováquia, Eslovênia e Bulgária.
Os mulçumanos também constituem outra parcela da população de imigrantes,
estigmatizada e alvo de xenofobia na Europa. As famílias de estrangeiros
vivem concentradas nas periferias das grandes cidades.
A crise econômica dos países europeus e o aumento do desemprego têm
levado os governos a desmantelar aos poucos, o antigo modelo do Estado de
bem-estar social, que garante assistência social aos desempregados. Como
consequência, os políticos têm adotado medidas mais duras contra a
imigração. E com o crescimento da extrema direita na Europa, a situação tende
a piorar.
O apartheid sul-africano
O apartheid na África do Sul é o único caso histórico de um sistema político
onde a segregação racial chegou ao âmbito institucional. Mesmo com maioria
de não-brancos, o país tinha no histórico decisões que beneficiavam a minoria
branca. Três anos após sua independência, em 1913, a África do Sul aprovou a
Lei de Terras, forçando os negros africanos a viverem em reservas e proibindo-
os de trabalharem como meeiros. As vendas ou aluguel de terra para negros
também ficaram proibidas, limitando a ocupação dos negros em 80% da África
do Sul.
Os opositores da lei formaram o Congresso Nativo Nacional Sul-Africano, que
se tornaria o partido Congresso Nacional Africano (CNA), banido mais tarde
pela política do Partido Nacional. Os efeitos da Grande Depressão de 1929 e
da Segunda Guerra Mundial acarretaram problemas econômicos para a África
do Sul, convencendo o governo a aumentar essa separação de cores.
Entre os anos 1970 e 1980, o apartheid provocou muita violência, tanto por
parte dos que se manifestavam contra o regime quanto por parte dos soldados,
que repreendiam os protestos, além da prisão de líderes antiapartheid, como
aconteceu com Mandela. Um episódio marcante ocorreu em 1976 quando
crianças negras de Soweto, reduto pobre nos arredores de Johanesburgo,
foram alvejadas com balas de borracha e gás lacrimogêneo enquanto
protestavam contra o ensino da língua africâner.
Como resultado, a África do Sul sofreu uma série de embargos de outros
países e ficou proibida de sediar eventos esportivos mundiais, encerrando de
vez a ilusão de que o apartheid trouxe paz e prosperidade para a nação.
Em 1989, Frederic. W. de Klerk assumiu a presidência, naquele que seria o
último mandato do Partido Nacionalista. Em 1990, o novo presidente pôs fim ao
apartheid. Neste mesmo ano, Mandela, que desde 1964 cumpria pena de
prisão perpétua, foi posto em liberdade. Nas primeiras eleições livres, em 1993,
Mandela foi eleito presidente da África do Sul pelo CNA, e governou de 1994 a
1999.
Passadas duas décadas do fim dessa política, o país ainda tenta igualar os
padrões de vida entre brancos e não-brancos. Hoje, com uma população acima
de 50 milhões de habitantes (Censo 2012), o desemprego afeta 4,5 milhões de
pessoas, um quarto da força de trabalho, e o país lidera a lista das nações com
grande desigualdade de renda, com 50% da população vivendo na linha de
pobreza, a maioria negra.
Somam-se a isso problemas como o difícil acesso ao mercado de trabalho e
também à educação pelas camadas mais pobres e a epidemia da Aids. O país
é o mais afetado do mundo pelo vírus, o que afeta diretamente a economia do
país, ainda governado pelo partido que levou Mandela ao poder e que, ao
longo dos anos, acumulou denuncias de corrupção.
Turbulência: Modelo matemático previu onda de protestos devido a alta de preços
dos alimentos
9.fev.2014 - Na Ucrânia, manifestações populares levaram à deposição do
presidente Viktor Yanukovytch
Nos últimos meses, protestos na rua se tornaram cenas cada vez mais comuns ao redor
do mundo. O fenômeno aconteceu na Ucrânia, Síria, Venezuela e Tailândia. Muitos são
os motivos dessa instabilidade política, mas, para analistas, a alta do preço dos
alimentos pode explicar a eclosão de manifestações em todos esses países.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Em 2011, estudiosos do New England Complex Systems Institute levantaram uma
hipótese: o encarecimento da comida poderia ser um fator predominante no início dos
protestos em diversos países. O instituto usa a ciência e a matemática a favor da
resolução de questões da sociedade, como crises econômicas, violência e políticas
públicas.
Para o estudo, intitulado "A crise alimentícia e a instabilidade política no Norte da
África e no Oriente Médio", os pesquisadores cruzaram dados da Organização para
Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO, sigla em inglês) sobre a variação
do preço dos alimentos no mundo com notícias de protestos recentes.
O autor da pesquisa, Yaneer Bar-Yam, descobriu que se o índice de preços da FAO
aumentasse acima de 210 pontos, a tendência é que protestos emergissem ao redor
do mundo. Para ele, o número seria uma espécie de “ponto de ebulição”.
Reprodução
Falta de liderança do governo
Segundo o estudo, a alta no preço dos alimentos demonstraria uma falta de
liderança por parte do governo que, em situações como essa, perde o apoio popular.
"Condições de ameaça generalizada para a segurança [de um país] são particularmente
apresentadas quando o alimento fica inacessível para a população em geral", conclui a
pesquisa.
A alta dos preços diminui o poder de compra e aumenta a pobreza da população, fatores
que contribuem para a instabilidade política. Isso aconteceu em 2008, ano de crise
econômica e de elevação nos preços dos alimentos. No Egito, por exemplo, o pão
aumentou 50% naquele ano. Em 2008, houve a queda do presidente no Haiti e protestos
no Egito, Argentina, Camarões e Moçambique.
A partir desse cruzamento de dados, em 2010, Yaneer Bar-Yam construiu um modelo
matemático que previu a Primavera Árabe semanas antes dela acontecer.
No final de 2010, na Tunísia, um vendedor de frutas chamado Mohamed Bouazizi ateou
fogo em si mesmo como protesto, num ato de desespero. Ele não conseguia mais
sustentar sua família por causa da alta de preços. O feirante não resistiu aos ferimentos e
sua morte provocou uma onda de protestos em 2011. A ação foi considerada a fagulha
do movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe, uma série de levantes
populares em países do Norte da África e Oriente Médio.
Previsão em 2013
O modelo matemático previu que os preços dos alimentos bateriam recorde de aumento
em 2013 e o índice de preços da FAO superaria o patamar de 210 pontos, gatilho para
protestos.
Um relatório do instituto listou que os seguintes países teriam maior instabilidade
política: África do Sul, Haiti, Argentina, Egito, Tunísia, Brasil, Turquia, Colômbia,
Líbia, Suécia, Índia, China, Bulgária, Chile, Síria, Tailândia, Bangladesh, Bahrain,
Ucrânia, Venezuela e Bósnia-Herzegovina. A previsão de protestos populares foi
comprovada em todos esses países entre o final de 2013 e os primeiros meses de 2014.
Na Suécia, por exemplo, o protesto foi contra o racismo e xenofobia devido a uma alta
nos atos de violência cometidos por neonazistas. Em fevereiro de 2014, protestos contra
o governo também eclodiram na Bósnia-Herzegóvina, que viu levantes populares como
não se viam desde o fim da guerra de 1992-1995, e Venezuela, boa parte dessas
manifestações é contrária ao governo do atual presidente Nicolas Maduro.
Ampliar
Confira dez temas importantes de filosofia e sociologia para o vestibular10 fotos
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Movimentos sociais (movimentos estudantis de 1968, "Diretas Já" em 1984, Caras
Pintadas em 1992, e em 2013): Segundo Leonardo Vasconcelos, do Magnum, é
importante nesse tema os estudantes saberem diferenciar agrupamentos de movimentos.
"O primeiro não tem uma organização. A essência de um movimento, por sua vez, é um
protesto por alguma causa, não contra uma pessoa", analisa Leia mais Yasuyoshi
Chiba/AFP
Alta de alimentos
Segundo a FAO, o preço geral de alimentos aumentou cerca de 75% desde a virada do
século. Isso se deve a diversos fatores: aumento da demanda, aumento dos custos de
insumos para a produção, mudanças climáticas, aumento da produção de
biocombustíveis, entre outros.
Em 2008, um relatório da ONU projetou que os preços dos alimentos devem se
estabilizar somente em 2017.
No Brasil, a tendência atual é de aumento da inflação, ainda que longe dos índices da
década de 1980 ou de provocar uma crise econômica grave. Em março deste ano, os
gêneros alimentícios foram a categoria que mais puxou a inflação para cima. É difícil
avaliar a relação desses índices com os recentes protestos brasileiros. Ainda assim, o
aumento dos preços deve ser um tema importante no debate político.
Golpe ou revolução: Historiadores explicam o que aconteceu em 1964
Oficiais militares em frente ao Congresso 1968
A história sobre o movimento que depôs o presidente João Goulart em 1964 tem
diversas versões. 50 anos após o acontecido, historiadores ouvidos pelo UOL Educação
explicam a diferença entre chamar de golpe ou de revolução.
Golpe ou revolução
Hoje é corrente o uso do termo golpe de Estado para denominar o movimento que
derrubou o presidente João Goulart em 1964, mas a denominação mudou ao longo do
tempo.
Em 1964, houve um golpe de Estado

"Você tem uma memória que se constrói ao longo desse período todo que vai se
alterando. O uso de alguns conceitos implica em uma posição. Quando ocorreu o
evento usava-se revolução, revolução gloriosa, redentora", explica Luiz Antonio Dias,
professor de história da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
"A expressão golpe militar passou a ser usada depois, já no final da ditadura. O golpe
traz consigo a ideia de ilegitimidade, de violência."
Militares fizeram uma revolução

O historiador da USP (Universidade de São Paulo) Marcos Antonio da Silva destaca
que o golpe não se limita ao Estado e tampouco ao fato ocorrido entre março e abril de
1964. "Temos que lembrar sempre que é um processo em que a sociedade também foi
afetada."
Apesar do consenso entre estudiosos do tema, o termo revolução é usado por
simpatizantes do regime militar até hoje no Brasil. "Na Argentina e no Chile, ninguém
ousa não chamar de golpe", comenta Dias.
Golpe militar ou civil-militar
Por muitos anos o golpe de 64 foi caracterizado como uma ação militar, mas na última
década o termo golpe civil-militar passou a ser mais frequente entre pesquisadores do
assunto.
O termo golpe militar evidencia os militares como os principais agentes da derrubada do
presidente Jango. No entanto, estudos apontam a importância do apoio das elites,
empresários e da imprensa para a realização do golpe.
"Uma série de documentos foram revelados e mostram uma grande articulação de
empresários, da elite e da imprensa para a realização do golpe. Antes, a sociedade civil
sempre aparecia quase como vítima dos militares e os estudos mais recentes mostram
uma importante articulação golpista entre os civis. Por isso temos que pensar em
golpe civil-militar", considera Luiz Antonio Dias.
Justiça com as próprias mãos: Linchamentos desafiam ordem e Estado
Um jovem acusado de assalto é amarrado a um poste no Rio de Janeiro. O mesmo
acontece com um ladrão de 26 anos em Itajaí (SC). Em Goiânia (GO), um adolescente é
espancado pela população após um furto, enquanto em Teresina (PI), um suspeito de
assalto é amarrado e tem seu rosto posto em um formigueiro.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Esses são apenas alguns dos casos de linchamento ou do que se chama "fazer justiça
com as próprias mãos" que ocorreram no país neste início de ano. Para especialistas e
sociólogos, tais ações refletem o descontentamento e a descrença da população na
Justiça e no Estado e funcionam como reação à onda de violência. Ocorrem não como
medida preventiva, mas punitiva para com o suspeito de cometer algum delito.
No entanto, pelo menos no Rio, a ação não foi bem vista pela população. Pesquisa do
Datafolha apontou que 79% da população reprovou a ação de justiceiros que
espancaram e amarraram a um poste um suspeito de roubo de carros.
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Movimentos sociais (movimentos estudantis de 1968, "Diretas Já" em 1984, Caras
Pintadas em 1992, e em 2013): Segundo Leonardo Vasconcelos, do Magnum, é
importante nesse tema os estudantes saberem diferenciar agrupamentos de movimentos.
"O primeiro não tem uma organização. A essência de um movimento, por sua vez, é um
protesto por alguma causa, não contra uma pessoa", analisa Leia mais Yasuyoshi
Chiba/AFP
Origem dos linchamentos
A origem da expressão “linchamento” é controversa. Alguns dizem que a palavra foi
criada inspirada nas práticas de Charles Lynch, que durante a guerra de independência
dos Estados Unidos matava dessa forma os pró-britânicos. A hipótese mais aceita, no
entanto, é que a palavra tenha sua origem ligada ao capitão norte-americano William
Lynch (1742-1820), que durante a Revolução de 1780, também nos Estados Unidos, era
conhecido por linchar os negros até a morte.
No passado, os “justiceiros” teriam a premissa para devolver o troco na mesma moeda
por causa do Código de Hamurabi, criado em 1780 a.C., um dos primeiros códigos de
leis escrito na História, também conhecido como Lei de talião, que pregava o princípio
de proporcionalidade da punição, no "olho por olho, dente por dente".
Fenômeno frequente
Os últimos levantamentos sobre o tema mostram que linchamentos acontecem em
grande número no país. Segundo o Núcleo de Estudos da Violência da USP, entre os
anos de 1980 e 2006 o Brasil registrou 1.179 casos de linchamentos, sendo os Estados
de São Paulo (568), Rio de Janeiro (204) e Bahia (180) os que apresentaram os maiores
números. Ampliando a pesquisa até 2010, o Estado de São Paulo somou 662 casos de
linchamentos, tendo 839 vítimas, enquanto no Rio de Janeiro foram 215 casos e 273
vítimas.
Mas essa prática “fora da lei” não é apenas uma característica do Brasil. Entre o final de
março e início de abril deste ano a Argentina também registrou uma onda de
linchamentos. Em dez dias foram pelos menos dez casos, sendo que um resultou na
morte de David Moreira, de 18 anos, que teria supostamente tentado roubar a carteira de
uma mulher que carregava o filho no colo e morreu após apanhar de uma multidão em
Rosário, terceira maior cidade de Argentina, na província de Santa Fé.
Em 2013, o Egito, em plena crise política pela queda de mais um governo, viu uma série
de linchamentos públicos, fruto de um momento que combinava o enfraquecimento do
Estado e a desmoralização da polícia.
Este quadro de Renoir retrata o ato de ler, uma prática indispensável a quem deseja
estudar filosofia. O texto filosófico tem características próprias, que o fazem diferente
das obras de ciência e literatura. Para dar o primeiro passo no estudo da filosofia é
preciso entender como encarar as obras dos grandes filósofos. Veja algumas dicas Leia
mais Reprodução
Volta ao Estado Natural
O comportamento livre e “justificado” dos linchadores reflete um pouco os conceitos de
Estado Natural de Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632 - 1704).
Para Hobbes os homens são maus por natureza. Tal pensamento explica uma de suas
mais conhecidas frases: "o homem é o lobo do próprio homem". Ao falar do Estado
Natural, ele refere-se a um Estado em que o homem pode tudo, há ausência de regras e
de uma instituição estabelecendo a ordem e a liberdade pode ser usada de qualquer
forma, não necessariamente para fins pacíficos. É uma etapa pré-civilizatória, anterior à
sociedade civil organizada, que, para Hobbes, surge não pela “boa vontade de uns para
com os outros, mas o medo recíproco”. O Estado aparece, então, com autoridade
absoluta para estabelecer a ordem.
Já o Estado Natural de Locke significava a ampla liberdade dos homens, mas ela não
deveria ser usada para prejudicar o outro, ou seja, deve existir dentro da lei. Ao
contrário de Hobbes, que acredita que a confiança no Estado deva ser absoluta, Locke
diz que se houver quebra de confiança no Estado ou se este não cumprir com as suas
obrigações, o povo pode se rebelar. Nessa linha, os linchamentos seriam formas de se
rebelar contra um Estado em que não se confia mais.
Desordem?
José de Souza Martins, sociólogo que estuda há mais de 20 anos linchamentos no país,
disse recentemente que hoje existe em média um linchamento por dia no Brasil. Em
suas pesquisas, o caso mais antigo registrado no Brasil data de 1585, em Salvador (BA).
A vítima foi Antônio Tamandaré, índio que liderava um movimento messiânico, tendo
brancos entre seus adeptos. Foram os próprios índios que o seguiam que o prenderam,
queimaram e estrangularam, além de destruir seu templo.
O sociólogo aponta que "os linchamentos que aqui ocorrem, pela forma que assumem e
pelo caráter ritual que parecem ter, são claramente punitivos" e oferece outra reflexão: a
de que o linchamento não seria necessariamente uma manifestação de desordem, mas
pode ser interpretado como um questionamento da desordem.
Crise na Ucrânia: Um país dividido entre a Rússia e a União Europeia
7.mar.2014 - Mulher coberta com a bandeira nacional ucraniana deposita e
observa, nesta sexta-feira (7), flores e mensagens deixadas aos mortos nos
confrontos recentes na praça da Independência, em Kiev
Nem sempre os políticos calculam bem as consequências de suas decisões. No caso do
presidente afastado da Ucrânia, sua última escolha lhe custou o cargo e a tranquilidade
de toda a população ucraniana que hoje está no centro de um conflito com a Rússia. A
crise na Ucrânia começou em novembro.
Crise na Ucrânia100 fotos
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22.abr.2014 - Pessoas carregam caixões com os corpos de homens mortos em um
tiroteio ocorrido no dia 20 durante funeral em Slaviansk, na Ucrânia, nesta terça-feira
(22). Autoridades pró-Rússia do leste da Ucrânia apresentaram documentos de
identidade, mapas e cartões de visita para apoiar a sua visão de que os nacionalistas
ucranianos de extrema direita havia realizado um ataque mortal nas primeiras horas do
domingo. Nacionalistas e autoridades ucranianas afirmaram que o discurso é uma
encenação para esconder o uso do serviço secreto russo no tiroteio Gleb
Garanich/Reuters
Tudo começou em novembro de 2013, quando o então presidente ucraniano, Viktor
Yanukovich, decidiu abandonar um acordo de livre comércio com a União Europeia
para se alinhar à Rússia, país que dominou a Ucrânia por gerações quando esta fazia
parte da União Soviética. O acordo estratégico com os russos incluía uma ajuda
financeira, descontos no preço do gás produzido pela Rússia e comprado pela Ucrânia e
a promessa de uma zona de comércio livre.
Desejando a integração com a União Europeia e temendo a influência russa, parte dos
ucranianos foi às ruas para se manifestar contra a decisão. A quebra do acordo foi o
estopim para um governo que já sofria desgastes com problemas como a economia sem
crescimento, corrupção endêmica e a falta de reformas políticas.
O gás natural produzido pela Rússia tem papel relevante na crise. Hoje, a Europa
importa 30% do gás russo, número que já foi de 45%. A Ucrânia está entre os dez países
que mais consomem gás natural no mundo e também redistribui o produto. Em seu
território, passam 80% do gás russo vendido aos europeus por meio de seus gasodutos.
No controle dos preços do gás natural, os russos com frequência ameaçam suspender
seu fornecimento aos ucranianos. Em 2006 e em 2009 os dois países entraram em crise
devido a um desentendimento no valor do gás e a suspeitas de que a Ucrânia havia
desviado o gás destinado a países vizinhos. Neste cenário, o desconto de US$ 2 bilhões
anuais no preço do gás natural oferecido pelo presidente russo Vladimir Putin para o
governo ucraniano abandonar o acordo com a União Europeia funcionou como atrativo.
A violenta repressão policial às manifestações fez crescer o movimento e as críticas ao
governo, e alterou a pauta de reivindicações: os protestos não pediam apenas o
alinhamento à União Europeia, mas também a saída do presidente. Houve invasão de
prédios públicos e os confrontos entre manifestantes e policiais deixaram um saldo de
dezenas de mortes.
Após três meses de protestos, o Parlamento votou pela destituição do presidente Viktor
Yanukovich e anunciou eleições presidenciais antecipadas para 25 de maio. Aleksandr
Turchinov, presidente do Parlamento, assumiu como presidente interino. Países da
União Europeia prometeram uma ajuda financeira para a Ucrânia empreender reformas
econômicas e planejar as eleições presidenciais. Refugiado na Rússia, Yanukovich
defende que continua sendo presidente do país.
Seria o fim da crise? Não exatamente. Enquanto o Ocidente apoiava o novo governo, a
Rússia criticou o país vizinho e o governo provisório, prometendo sanções econômicas
como retaliação.
Na Crimeia, república autônoma da Ucrânia, confrontos entre militantes prós e
antirrussos acirraram o conflito. A Rússia, que mantém uma base naval no litoral da
Crimeia, no sul, enviou tropas militares para executarem manobras na fronteira. O
número de soldados russos no local chegou a 30 mil.
Localizada estrategicamente ao lado do mar Negro, a Crimeia é um Estado autônomo e
60% da população é de origem russa. A influência do país soviético é forte não apenas
na península, mas também nas regiões leste e sul da Ucrânia, que mantém a língua e a
cultura.
No final de fevereiro, o Parlamento em Simferopol (capital da Crimeia) foi invadido por
separatistas com bandeiras da Rússia. Os parlamentares da Crimeia criaram um
referendo para a população decidir se deseja pertencer à Ucrânia ou Rússia.
Historicamente, a região nunca pertenceu de fato à Ucrânia e foi anexada durante a
Guerra Fria porque a União Soviética controlava as duas regiões. Se aprovado pela
Rússia, o referendo deve ser votado no dia 16 de março.
Para o presidente interino da Ucrânia, a ação é ilegal, pois pela constituição ucraniana, a
decisão de rever fronteiras só poderia ser examinada com um referendo nacional.
Turchinov ainda alertou para a atuação similar da Rússia durante a intervenção na
Geórgia no conflito separatista da Abkházia e da Ossétia do Sul, que têm uma grande
população de etnia russa, em 2008. A guerra com a Geórgia durou cinco dias, e a Rússia
permanece no controle da Abkházia e da Ossétia do Sul até hoje, mesmo que a ONU e a
maioria dos países considere-os como parte da Geórgia.
Um país com um passado de lutas
A Ucrânia é uma nação em processo de mudança. Com 46 milhões de habitantes, o
segundo maior país da Europa tem um território maior do que a França e foi palco de
intensos conflitos ao longo da história.
No século 19, a Ucrânia foi anexada ao Império Russo. No século 20, após a Segunda
Guerra Mundial, o país pertenceu à União Soviética e era um dos seus principais
produtores agrícolas. A região leste sempre foi mais próxima da Rússia e a oeste, aos
poucos foi se alinhando ao Ocidente.
Em 1991, após o colapso da União Soviética, a Ucrânia manteve relações próximas com
a Rússia e permitiu que sua frota naval operasse em águas ucranianas. A Ucrânia
também é rota para os gasodutos russos que exportam gás natural para a Europa.
Em 2004, os ucranianos fizeram seu primeiro grande levante popular devido às
suspeitas de fraude nas eleições que colocaram o presidente afastado, Viktor
Yanukovitch, no cargo. As fraudes foram comprovadas pela justiça, e um segundo
pleito deu a vitória a Victor Yushchenko na primeira eleição presidencial democrática
do país. Durante as eleições, o candidato chegou a ser envenenado e sobreviveu.
Quando o antigo regime tentou anular a eleição, milhares de pessoas foram às ruas da
capital e acamparam na Praça Maidan, em Kiev. O risco de uma guerra civil entre a
parte ocidental do país e a oriental (reduto da Rússia) era real. O levante pacífico foi
chamado de Revolução Laranja. O ponto de encontro também foi a Praça da
Independência de Kiev. A mesma que hoje vê uma nova geração de jovens clamarem
por novos tempos.
Índios: Dois projetos ameaçam terras indígenas e acirram conflitos rurais
Atualmente, a população indígena no Brasil soma 896,9 mil (menos de 1% da
população), de 305 etnias, com línguas e costumes diferentes, o que faz do Brasil o país
com a maior diversidade cultural do mundo. Os dados são do Censo 2010. No entanto,
os índios ainda têm frágeis direitos aos seus territórios.
Em 2014, duas propostas que visam alterar o direito do uso da terra pelos índios voltam
ao debate no Congresso.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Uma delas é a PEC 215. De autoria do ex-deputado Almir Sá, a proposta quer
transferir para o Congresso Nacional a função de demarcação das terras,
competência que hoje é da União, revisar as terras já demarcadas e ainda propõe
uma mudança nos critérios e procedimentos para a demarcação, que passariam a
ser regulamentadas por lei, e não por decreto como funciona atualmente.
Os órgãos responsáveis pelas demarcações são a Funai (Fundação Nacional do Índio),
que faz os estudos e delimita as áreas; o Ministério da Justiça, que faz a declaração da
terra; e a Presidência da República, que a homologa. Atualmente, segundo a Funai,
existem 645 áreas indígenas em diferentes fases da demarcação.
Todo esse processo deveria ter sido concluído até 1993, uma vez que o artigo 67 da
Constituição de 1988 dava cinco anos para a União finalizar a demarcação das terras
indígenas.
Munduruku lutam contra garimpo15 fotos
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Índios guerreiros da tribo Munduruku chegam na vila de Katin, no final de um dia de
procura de minas de ouro ilegais e mineiros perto do rio Kadiriri, um afluente do
Tapajós e rios da Amazônia Lunae Parracho/Reuters
O PLP 227, de autoria do deputado Homero Pereira (PSD-MT), quer regulamentar o
artigo da Constituição que define áreas de interesse público à União. De acordo com a
proposta, terras que se configurarem como assentamentos de reforma agrária,
exploração de jazidas e minerais, construção de rodovias e ferrovias, campos de
treinamento militar, ocupações de terras privadas até 5 de outubro de 1988, entre
outros, não serão liberadas para demarcação indígena.
Em ambas as propostas, as opiniões se dividem. Alguns parlamentares defendem que o
Congresso participe da demarcação por se tratar de terras públicas. Deputados ligados
ao agronegócio (a chamada “bancada ruralista”) avaliam que a forma como o processo
ocorre hoje ameaça a produção agropecuária e prejudica o pequeno produtor.
Para os indígenas, as duas propostas atendem a interesses econômicos (ameaçando suas
riquezas ambientais e minerais) e, se aprovadas, vão dificultar a demarcação da terra,
essencial para que eles preservem seus costumes, tradições e sustentabilidade.
Índios retratados pela arte10 fotos
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"A morte de Lindoia", de José Maria de Medeiros(1849-1925), retrata o episódio do
poema épico "O Uraguai", de Basílio da Gama, em que o irmão da índia mata - tarde
demais - com uma flechada a serpente que ela usou para se suicidar. Medeiros procura
captar o espírito do autor que diz ser bela a morte em Lindoia Reprodução
A disputa constante pela terra
A maioria dos índios brasileiros (57,7%) vive em 505 terras indígenas reconhecidas
pelo governo (Censo 2010). Essas áreas equivalem a 12,5% do território nacional, sendo
que maior parte fica na região Norte -- a mais populosa em indígenas (342 mil). Já no
Sudeste, 84% dos 99,1 mil índios estão fora das terras originárias, seguido do Nordeste
(54%).
Mesmo com a posse inalienável de suas terras garantida por lei, são constantes os
conflitos envolvendo fazendeiros e empresários em terras com recursos naturais e
minérios, principalmente nas áreas rurais -- onde vive a maioria da população indígena
(63,8%)— da região Norte e dos Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Um dos casos mais conhecidos é o da Raposa Serra do Sol, em Roraima, terra onde
vivem 19 mil índios e é alvo de disputa com fazendeiros e garimpeiros. Nessa região
está localizada a terra indígena mais populosa no país: a Yanomami, com 25,7 mil
habitantes (5% do total) distribuídos entre o Amazonas e Roraima. Já a etnia Ticuna
(AM) é a mais numerosa, com 46 mil índios, sendo 39,3 mil na terra indígena.
Conflitos com fazendeiros
Em meio a esse impasse, os conflitos seguem ocorrendo, em alguns casos, de forma
violenta. Em maio de 2013, a invasão de fazendas em Sidrolândia (MS) por indígenas
culminou na morte de um índio terena. A Força Nacional chegou a ser convocada para
garantir a segurança local. Os terena reivindicam uma área cujo processo demarcatório
se arrasta há 13 anos. Já os fazendeiros não querem perder suas terras. O governo
negocia como os produtores a compra dos terrenos.
Em dezembro do ano passado, produtores rurais do Mato Grosso do Sul organizaram o
“Leilão da Resistência”, para arrecadar recursos para impedir a invasão de terras por
indígenas. O leilão foi impedido pela Justiça, que temia a formação de milícias. Em
2014, causou polêmica um vídeo em que o deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS),
presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, defende que os agricultores
deveriam se armar para evitar invasões indígenas.
Com as duas propostas em andamento no Congresso, o tema do uso da terra promete
dividir novamente representantes do agronegócio, ambientalistas e indígenas, colocando
em lados opostos a exploração econômica, a preservação do meio ambiente e a
preservação da cultura dos povos tradicionais.
Índios protestam contra barragem da hidrelétrica de São Luís do Tapajós12 fotos
6 / 12
Indígenas do povo Munduruku saíram em passeata da aldeia Sai Cinza, onde estavam
reunidos, até as ruas da cidade de Jacareacanga (PA), para protestar nesta sexta-feira
(26) contra a construção da barragem no rio Tapajós, que faz parte da obra da usina
hidrelétrica de São Luís do Tapajós. Segundo os índios, a barragem afetaria diretamente
seu território e modo de vida Eliza Capai/Greenpeace
Rolezinhos: Jovens da "nova classe média" colocam em xeque modelo de inclusão
social
É um costume dos adolescentes se reunirem em shoppings para passear. Mas quando
centenas de jovens de periferia começaram a promover encontros em shopping centers
de São Paulo, em dezembro do ano passado, os chamados “rolezinhos” viraram caso de
polícia e ganharam repercussão nacional. Além da discussão sobre a adequação ou não
do local para essas reuniões, os rolezinhos também levantaram outra questão: a relação
entre e inclusão social desses jovens e o consumo.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
A palavra “rolê” é uma gíria associada a dar uma volta e se divertir. Os primeiros
rolezinhos aconteceram em dezembro de 2013, organizados por cantores de funk, em
resposta à aprovação de um projeto de lei que proibia bailes nas ruas de São Paulo
(proposta que depois foi vetada pelo prefeito Fernando Haddad).
Depois, MC’s passaram a promover encontros ao vivo com suas fãs, seguidos pelos
“famosinhos”, pessoas com milhares de seguidores nas redes sociais, que também
entraram na onda e levaram seus fãs do Facebook aos shoppings. O objetivo era
conhecer gente nova, ser visto, paquerar, se divertir e escutar funk ostentação, gênero
musical que mistura batidas de funk a letras sobre consumo e marcas de luxo.
A situação que fugia da rotina habitual desses centros comerciais causou pânico. Um
dos primeiros rolezinhos aconteceu em 7 de dezembro, no shopping Metrô Itaquera,
zona leste da capital paulista. Convocado pelo Facebook, o evento reuniu 6.000 jovens
no estacionamento. Por denúncias de furto e temendo um arrastão, lojistas acionaram a
polícia e o shopping fechou as portas mais cedo.
No dia 11 de janeiro, novamente no shopping Itaquera, um grupo de mil pessoas que se
reunia para um rolezinho foi reprimido pela PM, que chegou a usar bombas de gás
lacrimogêneo, bala de borracha e spray de pimenta. Houve correria, pânico e denúncias
de furto.
Diante da divulgação de que ocorreria um rolezinho no local, o shopping JK Iguatemi,
um dos mais sofisticados da capital paulista, conseguiu liminar na Justiça proibindo o
acesso de menores desacompanhados e multa para quem promovesse a mobilização. O
encontro não chegou a acontecer, mas a checagem de documentos pelos seguranças para
evitar o acesso causou polêmica.
Pela lei, nenhum tipo de estabelecimento comercial pode adotar medidas de
discriminação para evitar o acesso de pessoas. É proibida qualquer seleção de
consumidores a partir de critérios como raça, origem social, idade ou orientação sexual.
Caso o local tome esta atitude, pode receber processos judiciais. O shopping pode
adotar medidas de segurança, como limitar o número de pessoas e coibir condutas
ilegais como o uso de drogas e violência.
Durante os rolezinhos de dezembro e início de janeiro, a Associação Brasileira de
Lojistas de Shopping contabilizou uma queda de 25% no movimento dos
estabelecimentos envolvidos. Com medo, muita gente evitou esses lugares. Já o
fechamento das lojas e a seleção nos shoppings despertou um debate nacional sobre
violência e segregação racial e social. Houve até “rolezinhos de universitários”,
protestos de manifestantes com viés político que questionam as atitudes dos shoppings.
Democratização do consumo?
Os encontros e as reações e eles ganharam diferentes interpretações: seriam um pretexto
para fazer baderna e confusão, gerando prejuízos financeiros e de imagem para os
centros comerciais; reflexo da falta de espaços públicos e de convivência segura para os
jovens, que veem no shopping sua única saída; e, ainda, como uma demonstração de
desigualdade e elitismo da sociedade brasileira.
Esse incômodo estaria relacionado à democratização do consumo, reflexo da ascensão
da classe C no país. Os espaços tradicionais de consumo, que antes eram exclusivos de
uma classe mais abastada, agora são cada vez mais ocupados por classes emergentes. É
a inserção social pelo consumo.
Segundo o Instituto Data Popular, que traçou um retrato dos jovens que participam dos
rolezinhos, eles pertencem fundamentalmente à classe C e têm potencial de consumo
(R$ 129 bilhões por mês) maior do que as classes A, B e D juntas (R$ 99 bilhões por
mês).
Quanto ao perfil dos consumidores que frequentam shoppings brasileiros ele pode ser
dividido em 22% de classe A, 41% da B e 37% da C. Segundo o último censo da
Abrasce (Associação Brasileira de Shoppings Centers), os jovens da classe C são
maioria dos consumidores nesses estabelecimentos.
Ir ao shopping é se integrar
“Tudo começou como distração e diversão: se arrumar, sair, se vestir bem. Existe toda
uma relação com as marcas e com o consumo, num processo de afirmação social e
apropriação de espaços urbanos. Ir ao shopping é se integrar, pertencer à sociedade de
consumo”, avalia a antropóloga e professora da Universidade de Oxford, na Inglaterra,
Rosana Pinheiro-Machado, ao comentar sobre a relação de inclusão social que os jovens
veem nesse novo poder de compra.
Os números acima também refletem a ascensão de consumo que a classe C teve nos
últimos dez anos -- chamada de “nova classe C”. A nomenclatura teve seu marco com a
pesquisa intitulada "Nova classe média", realizada pela FGV (Fundação Getúlio
Vargas) e divulgada em agosto de 2008. Essa "nova classe média", ou "nova classe C",
tem uma renda entre R$1.064,00 e R$ 4.561,00 e abriga 52,67% da população, o
equivalente a quase 98 milhões de pessoas.
Houve também aumento do salário mínimo, a diminuição do desemprego, o aumento da
linha de crédito (parcelamento pelo cartão) e a diminuição de impostos de algumas
mercadorias pelo Governo. Outras facetas desse grupo são a facilidade do acesso à
internet e aumento da possibilidade de frequentar uma universidade.
Como resultado, os filhos da chamada “nova classe média brasileira” agora têm acesso a
produtos que antes não podiam comprar e valorizam produtos mais sofisticados.
E o que eles querem consumir?
A maioria dos jovens, segundo o instituto, deseja comprar produtos eletrônicos e a
roupas da moda que geram status e prestígio. A pesquisa revelou que 15% pretendem
comprar um notebook, 11% querem adquirir um smartphone e 11% um tablet. Bonés,
roupas e tênis de grife também estão entre os itens desejados. Os adolescentes da nova
classe C chegam a gastar R$ 1.000 em um tênis, e mesmo assim, algumas marcas não
querem sua imagem associada a esse público.
Para os shoppings, a questão dos rolezinhos será resolvida de duas formas. Uns vão
fechar as portas em caso de aglomeração, outros, como o Shopping Itaquera,
sinalizaram atitude diferente. Foi acertado que o shopping será informado sobre os
encontros, não para impedir, mas organizar melhor o evento. Já o Governo Federal
promete planejar novas políticas públicas para a juventude, em conjunto com os
Estados. Além disso, está monitorando a internet e prepara forças policiais caso os
rolezinhos fujam do controle.
Políticas públicas
No entanto, observadores apontam que o fenômeno dos rolezinhos coloca em xeque
outras áreas e demandas sociais, como educação, saúde e esporte, que não apareceram
na pauta das soluções para evitar a multidão nos shoppings (em 2014, o Brasil deve
ganhar mais 40 shoppings).
“A inclusão dos últimos anos foi em boa medida um aumento do poder de compra a
crédito. Os pobres compram mais – o que é ótimo, porque eles tinham e ainda têm
acesso limitado a vários bens que asseguram o conforto. Mas esse foi o eixo mais
marcante da inclusão. Embora a educação esteja melhorando, a dupla do bem – que
seria o mix de educação e cultura, e o de saúde e atividade física – não desperta igual
atenção nem gera resultados rápidos”, escreve o filósofo Renato Janine Ribeiro no
artigo “A inclusão social pelo consumo”.
Não estuda nem trabalha: crise econômica e social lançam alerta sobre "geração
nem nem"
Jovens que não estão trabalhando nem procurando uma colocação no mercado e que
estão fora da escola. Esse é o perfil da chamada “geração nem nem”, que inclui pessoas
de 15 a 24 anos que não trabalham nem estudam.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Um estudo divulgado no dia 13 de fevereiro pela OIT (Organização Internacional do
Trabalho) apontou que 21,8 milhões dos jovens latino-americanos se enquadram nesse
perfil. Uma pesquisa anterior da OIT, divulgada logo no início do ano, apontava que, de
2007 a 2012, o fenômeno cresceu em 30 países, de uma lista de 40 analisados.
Mas se engana quem pensa que estamos falando de um fenômeno novo. Esse perfil de
jovens já é tema de estudos da OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico) desde o final dos anos 1990. Entre 1997 e 2010, jovens
com idade entre 20 e 24 anos, que não trabalhavam nem estudavam já eram 13% da
população, chegando a 17,6% em 2010. O que se nota hoje é um aumento desse
fenômeno.
Em Portugal esses jovens são quase meio milhão. Na Irlanda e na Espanha a taxa dos
"nem nem" cresceu 9,4 e 8,7 pontos porcentuais desde 2007; 20% dos jovens irlandeses
e espanhóis estão nessa condição, taxa considerada “preocupante” pela OIT. O Brasil
está a um passo da categoria preocupante, com 19% de jovens com esse perfil.
O fenômeno chamou tanta atenção que, em 2012, com o alto número de jovens até 30
anos fora do mercado de trabalho e das escolas, a italiana Benetton criou uma campanha
publicitária com fotos de jovens e a frase "Desempregado do Ano". A ideia era chamar
atenção para a necessidade de oportunidades de trabalho para esse grupo de pessoas,
reflexo de fatores econômicos e sociais, mas também para um desânimo por parte dos
jovens em encontrar oportunidades de trabalho com baixa remuneração, assim preferem
ficar desempregados até que novas possibilidades apareçam.
"A falta do acesso a oportunidades de trabalho decente gera frustração e desânimo entre
os jovens. Há 108 milhões de razões pelas quais temos que agir agora”, disse o diretor-
geral da OIT, Guy Ryder.
Fenômeno mundial
Conhecidos também pela sigla em inglês Neet (neither in employment, nor in education
or training), esse perfil de jovens cresce por motivos diferentes em cada país. Na
maioria dos países estudados essa é uma situação transitória e os motivos do
crescimento desse perfil de jovens variam: pode ser reflexo de questões culturais – no
México, 77% das garotas não trabalham nem estudam e preferem se dedicar à vida
familiar--, econômicas e políticas, como por exemplo, as recentes crises mundiais que
comprometeram a oferta de trabalho e o cenário de instabilidade política em alguns
países -- como na Turquia e na Grécia, que após a crise e os constantes protestos viram
a taxa de desemprego entre jovens aumentar--, e sociais, como a falta de oportunidades
ou a chegada de filhos.
No artigo “Juventude, trabalho e desenvolvimento: elementos para uma agenda de
investigação", o sociólogo Adalberto Cardoso, da Uerj (Universidade do Estado do Rio
de Janeiro), completa que, a análise do fenômeno em cada país deve levar em conta
aspectos como a oferta de emprego nas cidades, o acesso à educação e o perfil familiar
por não se tratar de um problema com respostas e soluções iguais para todos os casos.
No Brasil, o fator renda é um dos que mais influencia o crescimento de jovens com o
perfil “nem nem”. “Em 2000, famílias entre as 10% mais pobres tinham 233% mais
chances de ter um ‘nem nem’ entre os seus do que famílias entre os 10% mais ricos. Em
2010, esse valor havia aumentado para quase 800%. Isto é, a disponibilidade de
recursos familiares, tal como expressa pela renda enquanto capacidade de aquisição de
bens como saúde e educação para seus membros, por exemplo, confere um caráter de
classe às mudanças ocorridas no período, com aumento da vulnerabilidade dos mais
pobres. Isto é, é maior a proporção de ‘nem nem’ em 2010 entre as famílias que, em
termos relativos, tinham menores condições materiais de dar respaldo a eles”, diz o
artigo.
O UOL Educação preparou um guia de estudos focado no Enem (Exame Nacional do
Ensino Médio) e nos grandes vestibulares, como Fuvest, Unicamp e Unesp. Confira os
temas que professores apontaram como os mais importantes da disciplina. Recursos
hídricos: potencial e aproveitamento (hidroeletricidade, irrigação e transporte). "Tem
sido cobrada de modo geral a relação entre os recursos hídricos e o aproveitamento
desses recursos em dois pontos fundamentais: produção de energia e irrigação,
abordando sempre o impacto ambiental", afirma Fortini, do colégio Magnum Leia mais
Caio Coronel/Divulgação
Os números na América Latina
Os números do relatório da OIT mostram que a situação de crescimento econômico com
emprego registrada nos últimos anos na América Latina não foi suficiente para melhorar
o emprego dos jovens, que continuam enfrentando um cenário pouco otimista no qual
persistem o desemprego e a informalidade. Na conclusão do documento, a organização
cita que, com esse cenário, “não é casual que os jovens sejam defensores dos protestos
de rua quando suas vidas estão marcadas pelo desalento e a frustração por causa da falta
de oportunidades”.
Em todos os países pesquisados, as mulheres são maioria entre os jovens da “geração
nem nem”. Na América Latina elas representam 92% desse grupo. Ainda nos países
latino-americanos, aproximadamente 25% desses jovens (5,25 milhões) buscam
trabalho, mas não conseguem outros 16,5 milhões não trabalham, nem buscam
emprego, e cerca de 12 milhões dedicam-se a afazeres domésticos. Os que não
trabalham nem estudam e nem se dedicam a outras atividades são classificados de
“núcleo duro” e demandam uma atenção especial dos governantes.
Na região, Honduras é o país que apresenta o maior percentual de jovens “nem nem”,
com 27,5%, seguido da Guatemala (25,1%) e El Salvador (24,2%). Os países com
menor percentual são Paraguai (16,9%) e Bolívia (12,7%).
No Brasil, mulheres negras são maioria
Entre os jovens brasileiros, 19% com idade entre 15 e 24 anos não trabalham nem
estudam. No Brasil, o número de mulheres negras nesse perfil é duas vezes maior que o
de homens, segundo o relatório da OIT. Entre os fatores estão que colaboram para esse
número estão baixo nível social e casos de gravidez na adolescência, o que faz com que
a mulher interrompa os estudos e, também, a atividade profissional.
De maneira geral, não são apenas os jovens entre 15 e 24 anos que preocupam a OIT.
Hoje, 13,1% dos jovens do mundo continuam sem emprego, ou seja, um total de 74,5
milhões de pessoas. Só em 2013, 1 milhão de jovens perderam seus trabalhos e, com os
países ainda em recuperação após a crise econômica de 2008, a perspectiva de futuro
para a “geração nem nem” ainda não parece otimist

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Apartheid

  • 1. Apartheid : 20 anos após seu fim na África do Sul, ele "sobrevive" em outros países 10 Desde 2010, a ONU (Organização das Nações Unidas) comemora em 18 de julho o Dia internacional em homenagem ao herói da luta anti- apartheid, o Mandela Day No Brasil e em boa parte do mundo, o preconceito de raça, cor e etnia é considerado crime. Mas o amparo da legislação não impede episódios de racismo como o da cliente que recentemente recusou ser atendida por uma profissional negra, em Brasília, ou de pessoas que não permitem negros em seus estabelecimentos e negam qualquer tipo de direito ao outro devido à sua cor. Superar essa diferença racial foi um obstáculo importante para alguns países. Um deles em especial, a África do Sul, que durante quatro décadas adotou um regime de segregação racial que privilegiava a elite branca. O fim deste regime conhecido como apartheid completa 20 anos em 2014 e teve como um de seus principais nomes o do ex-presidente Nelson Mandela (1918-2013). Conheça o regime do apartheid e a luta de Mandela pela igualdade racial21 fotos 19 / 21 Após passar mais de 26 anos na prisão, Nelson Mandela ganhou a liberdade em 1990. Mandela foi um dos líderes da luta pela igualdade racial na África do Sul. Três anos depois Mandela foi eleito presidente nas primeiras eleições livres realizadas no país. Na imagem, Mandela e sua esposa na época, Winie Madikizela, comemoram a liberdade. A foto foi tirada no dia 11 de fevereiro de 1990 AFP O apartheid -- palavra africana que significa separação -- foi um regime de segregação racial estabelecido após as eleições gerais de 1948, quando o Partido Nacional Reunido e o Partido Africâner venceram com a promessa de acentuar a separação entre brancos e negros --herança do período colonial de ocupação holandesa e britânica. Unidas, as legendas formaram o Partido Nacional, que governaria o país até 1994, quando Mandela chegou à presidência nas primeiras eleições livres. A segregação imposta pelo governo afetou todos os espaços e relações sociais. Negros não podiam se casar com brancos, não podiam ocupar o mesmo transporte coletivo usado pelos brancos, não podiam morar no mesmo bairro e nem realizar o mesmo trabalho, nem comprar e alugar terras, entre outras restrições. A discriminação se estendia também aos coloured (mestiços), indianos e brancos sul-africanos. Novas formas de apartheid Ao longo de toda a história, diversos povos tradicionais e grupos étnicos sofreram perseguição. Durante a colonização das Américas, os indígenas e
  • 2. negros foram as grandes vítimas da escravidão. Na Europa, os judeus e ciganos foram discriminados e expulsos de muitos países, em diferentes períodos, da Inquisição na Idade Média ao século 20, com o nazismo alemão. O apartheid sul-africano foi uma das leis mais recente de separação de grupos. Duas décadas após o fim dessa política, o apartheid vai sendo recriado em outras formas. Atualmente, entre os povos que mais sofrem discriminação estão os ciganos que vivem na Europa, oriundos em sua maioria do Leste Europeu, de países como Romênia e Bulgária. A União Europeia estima que haja seis milhões de ciganos nos países do bloco. A maioria vive em guetos e em situação de pobreza extrema. Na França, onde moram cerca de 20 mil ciganos, a política anti-imigração iniciada com o governo de Nicolas Sarkozy e seguida por François Hollande já desmantelou acampamentos e expulsou centenas de ciganos para seu país de origem. Em 2008, o premiê italiano Silvio Berlusconi já havia iniciado uma expulsão em massa dos ciganos do país. Na Grécia e Irlanda, o governo já retirou crianças de casais ciganos que não se pareciam com os pais. Em Portugal, dezenas de famílias de ciganos foram removidas para assentamentos “só para ciganos”. Na Itália, causou polêmica a criação do bairro “La Barbuta”, construído nos arredores de Roma. O local é rodeado de cercas e câmeras e tende a isolar as famílias ciganas. Na República Checa, onde vivem 200 mil ciganos, criaram-se escolas especiais para as crianças ciganas, que em alguns casos dividem a sala de aula com crianças incapacitadas. Há bairros que reúnem apenas essa população, separados do resto e sem acesso aos mesmos direitos, e muitos restaurantes proíbem a entrada de "romenis", na Polônia, Romênia, Eslováquia, Eslovênia e Bulgária. Os mulçumanos também constituem outra parcela da população de imigrantes, estigmatizada e alvo de xenofobia na Europa. As famílias de estrangeiros vivem concentradas nas periferias das grandes cidades. A crise econômica dos países europeus e o aumento do desemprego têm levado os governos a desmantelar aos poucos, o antigo modelo do Estado de bem-estar social, que garante assistência social aos desempregados. Como consequência, os políticos têm adotado medidas mais duras contra a imigração. E com o crescimento da extrema direita na Europa, a situação tende a piorar. O apartheid sul-africano O apartheid na África do Sul é o único caso histórico de um sistema político onde a segregação racial chegou ao âmbito institucional. Mesmo com maioria de não-brancos, o país tinha no histórico decisões que beneficiavam a minoria branca. Três anos após sua independência, em 1913, a África do Sul aprovou a Lei de Terras, forçando os negros africanos a viverem em reservas e proibindo- os de trabalharem como meeiros. As vendas ou aluguel de terra para negros
  • 3. também ficaram proibidas, limitando a ocupação dos negros em 80% da África do Sul. Os opositores da lei formaram o Congresso Nativo Nacional Sul-Africano, que se tornaria o partido Congresso Nacional Africano (CNA), banido mais tarde pela política do Partido Nacional. Os efeitos da Grande Depressão de 1929 e da Segunda Guerra Mundial acarretaram problemas econômicos para a África do Sul, convencendo o governo a aumentar essa separação de cores. Entre os anos 1970 e 1980, o apartheid provocou muita violência, tanto por parte dos que se manifestavam contra o regime quanto por parte dos soldados, que repreendiam os protestos, além da prisão de líderes antiapartheid, como aconteceu com Mandela. Um episódio marcante ocorreu em 1976 quando crianças negras de Soweto, reduto pobre nos arredores de Johanesburgo, foram alvejadas com balas de borracha e gás lacrimogêneo enquanto protestavam contra o ensino da língua africâner. Como resultado, a África do Sul sofreu uma série de embargos de outros países e ficou proibida de sediar eventos esportivos mundiais, encerrando de vez a ilusão de que o apartheid trouxe paz e prosperidade para a nação. Em 1989, Frederic. W. de Klerk assumiu a presidência, naquele que seria o último mandato do Partido Nacionalista. Em 1990, o novo presidente pôs fim ao apartheid. Neste mesmo ano, Mandela, que desde 1964 cumpria pena de prisão perpétua, foi posto em liberdade. Nas primeiras eleições livres, em 1993, Mandela foi eleito presidente da África do Sul pelo CNA, e governou de 1994 a 1999. Passadas duas décadas do fim dessa política, o país ainda tenta igualar os padrões de vida entre brancos e não-brancos. Hoje, com uma população acima de 50 milhões de habitantes (Censo 2012), o desemprego afeta 4,5 milhões de pessoas, um quarto da força de trabalho, e o país lidera a lista das nações com grande desigualdade de renda, com 50% da população vivendo na linha de pobreza, a maioria negra. Somam-se a isso problemas como o difícil acesso ao mercado de trabalho e também à educação pelas camadas mais pobres e a epidemia da Aids. O país é o mais afetado do mundo pelo vírus, o que afeta diretamente a economia do país, ainda governado pelo partido que levou Mandela ao poder e que, ao longo dos anos, acumulou denuncias de corrupção. Turbulência: Modelo matemático previu onda de protestos devido a alta de preços dos alimentos 9.fev.2014 - Na Ucrânia, manifestações populares levaram à deposição do presidente Viktor Yanukovytch Nos últimos meses, protestos na rua se tornaram cenas cada vez mais comuns ao redor do mundo. O fenômeno aconteceu na Ucrânia, Síria, Venezuela e Tailândia. Muitos são
  • 4. os motivos dessa instabilidade política, mas, para analistas, a alta do preço dos alimentos pode explicar a eclosão de manifestações em todos esses países. Direto ao ponto: Ficha-resumo Em 2011, estudiosos do New England Complex Systems Institute levantaram uma hipótese: o encarecimento da comida poderia ser um fator predominante no início dos protestos em diversos países. O instituto usa a ciência e a matemática a favor da resolução de questões da sociedade, como crises econômicas, violência e políticas públicas. Para o estudo, intitulado "A crise alimentícia e a instabilidade política no Norte da África e no Oriente Médio", os pesquisadores cruzaram dados da Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO, sigla em inglês) sobre a variação do preço dos alimentos no mundo com notícias de protestos recentes. O autor da pesquisa, Yaneer Bar-Yam, descobriu que se o índice de preços da FAO aumentasse acima de 210 pontos, a tendência é que protestos emergissem ao redor do mundo. Para ele, o número seria uma espécie de “ponto de ebulição”. Reprodução Falta de liderança do governo Segundo o estudo, a alta no preço dos alimentos demonstraria uma falta de liderança por parte do governo que, em situações como essa, perde o apoio popular. "Condições de ameaça generalizada para a segurança [de um país] são particularmente apresentadas quando o alimento fica inacessível para a população em geral", conclui a pesquisa. A alta dos preços diminui o poder de compra e aumenta a pobreza da população, fatores que contribuem para a instabilidade política. Isso aconteceu em 2008, ano de crise econômica e de elevação nos preços dos alimentos. No Egito, por exemplo, o pão
  • 5. aumentou 50% naquele ano. Em 2008, houve a queda do presidente no Haiti e protestos no Egito, Argentina, Camarões e Moçambique. A partir desse cruzamento de dados, em 2010, Yaneer Bar-Yam construiu um modelo matemático que previu a Primavera Árabe semanas antes dela acontecer. No final de 2010, na Tunísia, um vendedor de frutas chamado Mohamed Bouazizi ateou fogo em si mesmo como protesto, num ato de desespero. Ele não conseguia mais sustentar sua família por causa da alta de preços. O feirante não resistiu aos ferimentos e sua morte provocou uma onda de protestos em 2011. A ação foi considerada a fagulha do movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe, uma série de levantes populares em países do Norte da África e Oriente Médio. Previsão em 2013 O modelo matemático previu que os preços dos alimentos bateriam recorde de aumento em 2013 e o índice de preços da FAO superaria o patamar de 210 pontos, gatilho para protestos. Um relatório do instituto listou que os seguintes países teriam maior instabilidade política: África do Sul, Haiti, Argentina, Egito, Tunísia, Brasil, Turquia, Colômbia, Líbia, Suécia, Índia, China, Bulgária, Chile, Síria, Tailândia, Bangladesh, Bahrain, Ucrânia, Venezuela e Bósnia-Herzegovina. A previsão de protestos populares foi comprovada em todos esses países entre o final de 2013 e os primeiros meses de 2014. Na Suécia, por exemplo, o protesto foi contra o racismo e xenofobia devido a uma alta nos atos de violência cometidos por neonazistas. Em fevereiro de 2014, protestos contra o governo também eclodiram na Bósnia-Herzegóvina, que viu levantes populares como não se viam desde o fim da guerra de 1992-1995, e Venezuela, boa parte dessas manifestações é contrária ao governo do atual presidente Nicolas Maduro. Ampliar Confira dez temas importantes de filosofia e sociologia para o vestibular10 fotos 1 / 10 Movimentos sociais (movimentos estudantis de 1968, "Diretas Já" em 1984, Caras Pintadas em 1992, e em 2013): Segundo Leonardo Vasconcelos, do Magnum, é importante nesse tema os estudantes saberem diferenciar agrupamentos de movimentos. "O primeiro não tem uma organização. A essência de um movimento, por sua vez, é um protesto por alguma causa, não contra uma pessoa", analisa Leia mais Yasuyoshi Chiba/AFP Alta de alimentos Segundo a FAO, o preço geral de alimentos aumentou cerca de 75% desde a virada do século. Isso se deve a diversos fatores: aumento da demanda, aumento dos custos de insumos para a produção, mudanças climáticas, aumento da produção de biocombustíveis, entre outros.
  • 6. Em 2008, um relatório da ONU projetou que os preços dos alimentos devem se estabilizar somente em 2017. No Brasil, a tendência atual é de aumento da inflação, ainda que longe dos índices da década de 1980 ou de provocar uma crise econômica grave. Em março deste ano, os gêneros alimentícios foram a categoria que mais puxou a inflação para cima. É difícil avaliar a relação desses índices com os recentes protestos brasileiros. Ainda assim, o aumento dos preços deve ser um tema importante no debate político. Golpe ou revolução: Historiadores explicam o que aconteceu em 1964 Oficiais militares em frente ao Congresso 1968 A história sobre o movimento que depôs o presidente João Goulart em 1964 tem diversas versões. 50 anos após o acontecido, historiadores ouvidos pelo UOL Educação explicam a diferença entre chamar de golpe ou de revolução. Golpe ou revolução Hoje é corrente o uso do termo golpe de Estado para denominar o movimento que derrubou o presidente João Goulart em 1964, mas a denominação mudou ao longo do tempo. Em 1964, houve um golpe de Estado  "Você tem uma memória que se constrói ao longo desse período todo que vai se alterando. O uso de alguns conceitos implica em uma posição. Quando ocorreu o evento usava-se revolução, revolução gloriosa, redentora", explica Luiz Antonio Dias, professor de história da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). "A expressão golpe militar passou a ser usada depois, já no final da ditadura. O golpe traz consigo a ideia de ilegitimidade, de violência." Militares fizeram uma revolução  O historiador da USP (Universidade de São Paulo) Marcos Antonio da Silva destaca que o golpe não se limita ao Estado e tampouco ao fato ocorrido entre março e abril de 1964. "Temos que lembrar sempre que é um processo em que a sociedade também foi afetada." Apesar do consenso entre estudiosos do tema, o termo revolução é usado por simpatizantes do regime militar até hoje no Brasil. "Na Argentina e no Chile, ninguém ousa não chamar de golpe", comenta Dias. Golpe militar ou civil-militar
  • 7. Por muitos anos o golpe de 64 foi caracterizado como uma ação militar, mas na última década o termo golpe civil-militar passou a ser mais frequente entre pesquisadores do assunto. O termo golpe militar evidencia os militares como os principais agentes da derrubada do presidente Jango. No entanto, estudos apontam a importância do apoio das elites, empresários e da imprensa para a realização do golpe. "Uma série de documentos foram revelados e mostram uma grande articulação de empresários, da elite e da imprensa para a realização do golpe. Antes, a sociedade civil sempre aparecia quase como vítima dos militares e os estudos mais recentes mostram uma importante articulação golpista entre os civis. Por isso temos que pensar em golpe civil-militar", considera Luiz Antonio Dias. Justiça com as próprias mãos: Linchamentos desafiam ordem e Estado Um jovem acusado de assalto é amarrado a um poste no Rio de Janeiro. O mesmo acontece com um ladrão de 26 anos em Itajaí (SC). Em Goiânia (GO), um adolescente é espancado pela população após um furto, enquanto em Teresina (PI), um suspeito de assalto é amarrado e tem seu rosto posto em um formigueiro. Direto ao ponto: Ficha-resumo Esses são apenas alguns dos casos de linchamento ou do que se chama "fazer justiça com as próprias mãos" que ocorreram no país neste início de ano. Para especialistas e sociólogos, tais ações refletem o descontentamento e a descrença da população na Justiça e no Estado e funcionam como reação à onda de violência. Ocorrem não como medida preventiva, mas punitiva para com o suspeito de cometer algum delito. No entanto, pelo menos no Rio, a ação não foi bem vista pela população. Pesquisa do Datafolha apontou que 79% da população reprovou a ação de justiceiros que espancaram e amarraram a um poste um suspeito de roubo de carros. 1 / 10 Movimentos sociais (movimentos estudantis de 1968, "Diretas Já" em 1984, Caras Pintadas em 1992, e em 2013): Segundo Leonardo Vasconcelos, do Magnum, é importante nesse tema os estudantes saberem diferenciar agrupamentos de movimentos. "O primeiro não tem uma organização. A essência de um movimento, por sua vez, é um protesto por alguma causa, não contra uma pessoa", analisa Leia mais Yasuyoshi Chiba/AFP Origem dos linchamentos A origem da expressão “linchamento” é controversa. Alguns dizem que a palavra foi criada inspirada nas práticas de Charles Lynch, que durante a guerra de independência dos Estados Unidos matava dessa forma os pró-britânicos. A hipótese mais aceita, no entanto, é que a palavra tenha sua origem ligada ao capitão norte-americano William Lynch (1742-1820), que durante a Revolução de 1780, também nos Estados Unidos, era conhecido por linchar os negros até a morte.
  • 8. No passado, os “justiceiros” teriam a premissa para devolver o troco na mesma moeda por causa do Código de Hamurabi, criado em 1780 a.C., um dos primeiros códigos de leis escrito na História, também conhecido como Lei de talião, que pregava o princípio de proporcionalidade da punição, no "olho por olho, dente por dente". Fenômeno frequente Os últimos levantamentos sobre o tema mostram que linchamentos acontecem em grande número no país. Segundo o Núcleo de Estudos da Violência da USP, entre os anos de 1980 e 2006 o Brasil registrou 1.179 casos de linchamentos, sendo os Estados de São Paulo (568), Rio de Janeiro (204) e Bahia (180) os que apresentaram os maiores números. Ampliando a pesquisa até 2010, o Estado de São Paulo somou 662 casos de linchamentos, tendo 839 vítimas, enquanto no Rio de Janeiro foram 215 casos e 273 vítimas. Mas essa prática “fora da lei” não é apenas uma característica do Brasil. Entre o final de março e início de abril deste ano a Argentina também registrou uma onda de linchamentos. Em dez dias foram pelos menos dez casos, sendo que um resultou na morte de David Moreira, de 18 anos, que teria supostamente tentado roubar a carteira de uma mulher que carregava o filho no colo e morreu após apanhar de uma multidão em Rosário, terceira maior cidade de Argentina, na província de Santa Fé. Em 2013, o Egito, em plena crise política pela queda de mais um governo, viu uma série de linchamentos públicos, fruto de um momento que combinava o enfraquecimento do Estado e a desmoralização da polícia. Este quadro de Renoir retrata o ato de ler, uma prática indispensável a quem deseja estudar filosofia. O texto filosófico tem características próprias, que o fazem diferente das obras de ciência e literatura. Para dar o primeiro passo no estudo da filosofia é preciso entender como encarar as obras dos grandes filósofos. Veja algumas dicas Leia mais Reprodução Volta ao Estado Natural O comportamento livre e “justificado” dos linchadores reflete um pouco os conceitos de Estado Natural de Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632 - 1704). Para Hobbes os homens são maus por natureza. Tal pensamento explica uma de suas mais conhecidas frases: "o homem é o lobo do próprio homem". Ao falar do Estado Natural, ele refere-se a um Estado em que o homem pode tudo, há ausência de regras e de uma instituição estabelecendo a ordem e a liberdade pode ser usada de qualquer forma, não necessariamente para fins pacíficos. É uma etapa pré-civilizatória, anterior à sociedade civil organizada, que, para Hobbes, surge não pela “boa vontade de uns para com os outros, mas o medo recíproco”. O Estado aparece, então, com autoridade absoluta para estabelecer a ordem. Já o Estado Natural de Locke significava a ampla liberdade dos homens, mas ela não deveria ser usada para prejudicar o outro, ou seja, deve existir dentro da lei. Ao contrário de Hobbes, que acredita que a confiança no Estado deva ser absoluta, Locke diz que se houver quebra de confiança no Estado ou se este não cumprir com as suas
  • 9. obrigações, o povo pode se rebelar. Nessa linha, os linchamentos seriam formas de se rebelar contra um Estado em que não se confia mais. Desordem? José de Souza Martins, sociólogo que estuda há mais de 20 anos linchamentos no país, disse recentemente que hoje existe em média um linchamento por dia no Brasil. Em suas pesquisas, o caso mais antigo registrado no Brasil data de 1585, em Salvador (BA). A vítima foi Antônio Tamandaré, índio que liderava um movimento messiânico, tendo brancos entre seus adeptos. Foram os próprios índios que o seguiam que o prenderam, queimaram e estrangularam, além de destruir seu templo. O sociólogo aponta que "os linchamentos que aqui ocorrem, pela forma que assumem e pelo caráter ritual que parecem ter, são claramente punitivos" e oferece outra reflexão: a de que o linchamento não seria necessariamente uma manifestação de desordem, mas pode ser interpretado como um questionamento da desordem. Crise na Ucrânia: Um país dividido entre a Rússia e a União Europeia 7.mar.2014 - Mulher coberta com a bandeira nacional ucraniana deposita e observa, nesta sexta-feira (7), flores e mensagens deixadas aos mortos nos confrontos recentes na praça da Independência, em Kiev Nem sempre os políticos calculam bem as consequências de suas decisões. No caso do presidente afastado da Ucrânia, sua última escolha lhe custou o cargo e a tranquilidade de toda a população ucraniana que hoje está no centro de um conflito com a Rússia. A crise na Ucrânia começou em novembro. Crise na Ucrânia100 fotos 1 / 100 22.abr.2014 - Pessoas carregam caixões com os corpos de homens mortos em um tiroteio ocorrido no dia 20 durante funeral em Slaviansk, na Ucrânia, nesta terça-feira (22). Autoridades pró-Rússia do leste da Ucrânia apresentaram documentos de identidade, mapas e cartões de visita para apoiar a sua visão de que os nacionalistas ucranianos de extrema direita havia realizado um ataque mortal nas primeiras horas do domingo. Nacionalistas e autoridades ucranianas afirmaram que o discurso é uma encenação para esconder o uso do serviço secreto russo no tiroteio Gleb Garanich/Reuters Tudo começou em novembro de 2013, quando o então presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, decidiu abandonar um acordo de livre comércio com a União Europeia para se alinhar à Rússia, país que dominou a Ucrânia por gerações quando esta fazia parte da União Soviética. O acordo estratégico com os russos incluía uma ajuda financeira, descontos no preço do gás produzido pela Rússia e comprado pela Ucrânia e a promessa de uma zona de comércio livre.
  • 10. Desejando a integração com a União Europeia e temendo a influência russa, parte dos ucranianos foi às ruas para se manifestar contra a decisão. A quebra do acordo foi o estopim para um governo que já sofria desgastes com problemas como a economia sem crescimento, corrupção endêmica e a falta de reformas políticas. O gás natural produzido pela Rússia tem papel relevante na crise. Hoje, a Europa importa 30% do gás russo, número que já foi de 45%. A Ucrânia está entre os dez países que mais consomem gás natural no mundo e também redistribui o produto. Em seu território, passam 80% do gás russo vendido aos europeus por meio de seus gasodutos. No controle dos preços do gás natural, os russos com frequência ameaçam suspender seu fornecimento aos ucranianos. Em 2006 e em 2009 os dois países entraram em crise devido a um desentendimento no valor do gás e a suspeitas de que a Ucrânia havia desviado o gás destinado a países vizinhos. Neste cenário, o desconto de US$ 2 bilhões anuais no preço do gás natural oferecido pelo presidente russo Vladimir Putin para o governo ucraniano abandonar o acordo com a União Europeia funcionou como atrativo. A violenta repressão policial às manifestações fez crescer o movimento e as críticas ao governo, e alterou a pauta de reivindicações: os protestos não pediam apenas o alinhamento à União Europeia, mas também a saída do presidente. Houve invasão de prédios públicos e os confrontos entre manifestantes e policiais deixaram um saldo de dezenas de mortes. Após três meses de protestos, o Parlamento votou pela destituição do presidente Viktor Yanukovich e anunciou eleições presidenciais antecipadas para 25 de maio. Aleksandr Turchinov, presidente do Parlamento, assumiu como presidente interino. Países da União Europeia prometeram uma ajuda financeira para a Ucrânia empreender reformas econômicas e planejar as eleições presidenciais. Refugiado na Rússia, Yanukovich defende que continua sendo presidente do país. Seria o fim da crise? Não exatamente. Enquanto o Ocidente apoiava o novo governo, a Rússia criticou o país vizinho e o governo provisório, prometendo sanções econômicas como retaliação. Na Crimeia, república autônoma da Ucrânia, confrontos entre militantes prós e antirrussos acirraram o conflito. A Rússia, que mantém uma base naval no litoral da Crimeia, no sul, enviou tropas militares para executarem manobras na fronteira. O número de soldados russos no local chegou a 30 mil. Localizada estrategicamente ao lado do mar Negro, a Crimeia é um Estado autônomo e 60% da população é de origem russa. A influência do país soviético é forte não apenas na península, mas também nas regiões leste e sul da Ucrânia, que mantém a língua e a cultura. No final de fevereiro, o Parlamento em Simferopol (capital da Crimeia) foi invadido por separatistas com bandeiras da Rússia. Os parlamentares da Crimeia criaram um referendo para a população decidir se deseja pertencer à Ucrânia ou Rússia. Historicamente, a região nunca pertenceu de fato à Ucrânia e foi anexada durante a Guerra Fria porque a União Soviética controlava as duas regiões. Se aprovado pela Rússia, o referendo deve ser votado no dia 16 de março.
  • 11. Para o presidente interino da Ucrânia, a ação é ilegal, pois pela constituição ucraniana, a decisão de rever fronteiras só poderia ser examinada com um referendo nacional. Turchinov ainda alertou para a atuação similar da Rússia durante a intervenção na Geórgia no conflito separatista da Abkházia e da Ossétia do Sul, que têm uma grande população de etnia russa, em 2008. A guerra com a Geórgia durou cinco dias, e a Rússia permanece no controle da Abkházia e da Ossétia do Sul até hoje, mesmo que a ONU e a maioria dos países considere-os como parte da Geórgia. Um país com um passado de lutas A Ucrânia é uma nação em processo de mudança. Com 46 milhões de habitantes, o segundo maior país da Europa tem um território maior do que a França e foi palco de intensos conflitos ao longo da história. No século 19, a Ucrânia foi anexada ao Império Russo. No século 20, após a Segunda Guerra Mundial, o país pertenceu à União Soviética e era um dos seus principais produtores agrícolas. A região leste sempre foi mais próxima da Rússia e a oeste, aos poucos foi se alinhando ao Ocidente. Em 1991, após o colapso da União Soviética, a Ucrânia manteve relações próximas com a Rússia e permitiu que sua frota naval operasse em águas ucranianas. A Ucrânia também é rota para os gasodutos russos que exportam gás natural para a Europa. Em 2004, os ucranianos fizeram seu primeiro grande levante popular devido às suspeitas de fraude nas eleições que colocaram o presidente afastado, Viktor Yanukovitch, no cargo. As fraudes foram comprovadas pela justiça, e um segundo pleito deu a vitória a Victor Yushchenko na primeira eleição presidencial democrática do país. Durante as eleições, o candidato chegou a ser envenenado e sobreviveu. Quando o antigo regime tentou anular a eleição, milhares de pessoas foram às ruas da capital e acamparam na Praça Maidan, em Kiev. O risco de uma guerra civil entre a parte ocidental do país e a oriental (reduto da Rússia) era real. O levante pacífico foi chamado de Revolução Laranja. O ponto de encontro também foi a Praça da Independência de Kiev. A mesma que hoje vê uma nova geração de jovens clamarem por novos tempos. Índios: Dois projetos ameaçam terras indígenas e acirram conflitos rurais Atualmente, a população indígena no Brasil soma 896,9 mil (menos de 1% da população), de 305 etnias, com línguas e costumes diferentes, o que faz do Brasil o país com a maior diversidade cultural do mundo. Os dados são do Censo 2010. No entanto, os índios ainda têm frágeis direitos aos seus territórios. Em 2014, duas propostas que visam alterar o direito do uso da terra pelos índios voltam ao debate no Congresso. Direto ao ponto: Ficha-resumo Uma delas é a PEC 215. De autoria do ex-deputado Almir Sá, a proposta quer transferir para o Congresso Nacional a função de demarcação das terras,
  • 12. competência que hoje é da União, revisar as terras já demarcadas e ainda propõe uma mudança nos critérios e procedimentos para a demarcação, que passariam a ser regulamentadas por lei, e não por decreto como funciona atualmente. Os órgãos responsáveis pelas demarcações são a Funai (Fundação Nacional do Índio), que faz os estudos e delimita as áreas; o Ministério da Justiça, que faz a declaração da terra; e a Presidência da República, que a homologa. Atualmente, segundo a Funai, existem 645 áreas indígenas em diferentes fases da demarcação. Todo esse processo deveria ter sido concluído até 1993, uma vez que o artigo 67 da Constituição de 1988 dava cinco anos para a União finalizar a demarcação das terras indígenas. Munduruku lutam contra garimpo15 fotos 8 / 15 Índios guerreiros da tribo Munduruku chegam na vila de Katin, no final de um dia de procura de minas de ouro ilegais e mineiros perto do rio Kadiriri, um afluente do Tapajós e rios da Amazônia Lunae Parracho/Reuters O PLP 227, de autoria do deputado Homero Pereira (PSD-MT), quer regulamentar o artigo da Constituição que define áreas de interesse público à União. De acordo com a proposta, terras que se configurarem como assentamentos de reforma agrária, exploração de jazidas e minerais, construção de rodovias e ferrovias, campos de treinamento militar, ocupações de terras privadas até 5 de outubro de 1988, entre outros, não serão liberadas para demarcação indígena. Em ambas as propostas, as opiniões se dividem. Alguns parlamentares defendem que o Congresso participe da demarcação por se tratar de terras públicas. Deputados ligados ao agronegócio (a chamada “bancada ruralista”) avaliam que a forma como o processo ocorre hoje ameaça a produção agropecuária e prejudica o pequeno produtor. Para os indígenas, as duas propostas atendem a interesses econômicos (ameaçando suas riquezas ambientais e minerais) e, se aprovadas, vão dificultar a demarcação da terra, essencial para que eles preservem seus costumes, tradições e sustentabilidade. Índios retratados pela arte10 fotos 5 / 10 "A morte de Lindoia", de José Maria de Medeiros(1849-1925), retrata o episódio do poema épico "O Uraguai", de Basílio da Gama, em que o irmão da índia mata - tarde demais - com uma flechada a serpente que ela usou para se suicidar. Medeiros procura captar o espírito do autor que diz ser bela a morte em Lindoia Reprodução A disputa constante pela terra A maioria dos índios brasileiros (57,7%) vive em 505 terras indígenas reconhecidas pelo governo (Censo 2010). Essas áreas equivalem a 12,5% do território nacional, sendo que maior parte fica na região Norte -- a mais populosa em indígenas (342 mil). Já no
  • 13. Sudeste, 84% dos 99,1 mil índios estão fora das terras originárias, seguido do Nordeste (54%). Mesmo com a posse inalienável de suas terras garantida por lei, são constantes os conflitos envolvendo fazendeiros e empresários em terras com recursos naturais e minérios, principalmente nas áreas rurais -- onde vive a maioria da população indígena (63,8%)— da região Norte e dos Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Um dos casos mais conhecidos é o da Raposa Serra do Sol, em Roraima, terra onde vivem 19 mil índios e é alvo de disputa com fazendeiros e garimpeiros. Nessa região está localizada a terra indígena mais populosa no país: a Yanomami, com 25,7 mil habitantes (5% do total) distribuídos entre o Amazonas e Roraima. Já a etnia Ticuna (AM) é a mais numerosa, com 46 mil índios, sendo 39,3 mil na terra indígena. Conflitos com fazendeiros Em meio a esse impasse, os conflitos seguem ocorrendo, em alguns casos, de forma violenta. Em maio de 2013, a invasão de fazendas em Sidrolândia (MS) por indígenas culminou na morte de um índio terena. A Força Nacional chegou a ser convocada para garantir a segurança local. Os terena reivindicam uma área cujo processo demarcatório se arrasta há 13 anos. Já os fazendeiros não querem perder suas terras. O governo negocia como os produtores a compra dos terrenos. Em dezembro do ano passado, produtores rurais do Mato Grosso do Sul organizaram o “Leilão da Resistência”, para arrecadar recursos para impedir a invasão de terras por indígenas. O leilão foi impedido pela Justiça, que temia a formação de milícias. Em 2014, causou polêmica um vídeo em que o deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, defende que os agricultores deveriam se armar para evitar invasões indígenas. Com as duas propostas em andamento no Congresso, o tema do uso da terra promete dividir novamente representantes do agronegócio, ambientalistas e indígenas, colocando em lados opostos a exploração econômica, a preservação do meio ambiente e a preservação da cultura dos povos tradicionais. Índios protestam contra barragem da hidrelétrica de São Luís do Tapajós12 fotos 6 / 12 Indígenas do povo Munduruku saíram em passeata da aldeia Sai Cinza, onde estavam reunidos, até as ruas da cidade de Jacareacanga (PA), para protestar nesta sexta-feira (26) contra a construção da barragem no rio Tapajós, que faz parte da obra da usina hidrelétrica de São Luís do Tapajós. Segundo os índios, a barragem afetaria diretamente seu território e modo de vida Eliza Capai/Greenpeace Rolezinhos: Jovens da "nova classe média" colocam em xeque modelo de inclusão social É um costume dos adolescentes se reunirem em shoppings para passear. Mas quando centenas de jovens de periferia começaram a promover encontros em shopping centers de São Paulo, em dezembro do ano passado, os chamados “rolezinhos” viraram caso de
  • 14. polícia e ganharam repercussão nacional. Além da discussão sobre a adequação ou não do local para essas reuniões, os rolezinhos também levantaram outra questão: a relação entre e inclusão social desses jovens e o consumo. Direto ao ponto: Ficha-resumo A palavra “rolê” é uma gíria associada a dar uma volta e se divertir. Os primeiros rolezinhos aconteceram em dezembro de 2013, organizados por cantores de funk, em resposta à aprovação de um projeto de lei que proibia bailes nas ruas de São Paulo (proposta que depois foi vetada pelo prefeito Fernando Haddad). Depois, MC’s passaram a promover encontros ao vivo com suas fãs, seguidos pelos “famosinhos”, pessoas com milhares de seguidores nas redes sociais, que também entraram na onda e levaram seus fãs do Facebook aos shoppings. O objetivo era conhecer gente nova, ser visto, paquerar, se divertir e escutar funk ostentação, gênero musical que mistura batidas de funk a letras sobre consumo e marcas de luxo. A situação que fugia da rotina habitual desses centros comerciais causou pânico. Um dos primeiros rolezinhos aconteceu em 7 de dezembro, no shopping Metrô Itaquera, zona leste da capital paulista. Convocado pelo Facebook, o evento reuniu 6.000 jovens no estacionamento. Por denúncias de furto e temendo um arrastão, lojistas acionaram a polícia e o shopping fechou as portas mais cedo. No dia 11 de janeiro, novamente no shopping Itaquera, um grupo de mil pessoas que se reunia para um rolezinho foi reprimido pela PM, que chegou a usar bombas de gás lacrimogêneo, bala de borracha e spray de pimenta. Houve correria, pânico e denúncias de furto. Diante da divulgação de que ocorreria um rolezinho no local, o shopping JK Iguatemi, um dos mais sofisticados da capital paulista, conseguiu liminar na Justiça proibindo o acesso de menores desacompanhados e multa para quem promovesse a mobilização. O encontro não chegou a acontecer, mas a checagem de documentos pelos seguranças para evitar o acesso causou polêmica. Pela lei, nenhum tipo de estabelecimento comercial pode adotar medidas de discriminação para evitar o acesso de pessoas. É proibida qualquer seleção de consumidores a partir de critérios como raça, origem social, idade ou orientação sexual. Caso o local tome esta atitude, pode receber processos judiciais. O shopping pode adotar medidas de segurança, como limitar o número de pessoas e coibir condutas ilegais como o uso de drogas e violência. Durante os rolezinhos de dezembro e início de janeiro, a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping contabilizou uma queda de 25% no movimento dos estabelecimentos envolvidos. Com medo, muita gente evitou esses lugares. Já o fechamento das lojas e a seleção nos shoppings despertou um debate nacional sobre violência e segregação racial e social. Houve até “rolezinhos de universitários”, protestos de manifestantes com viés político que questionam as atitudes dos shoppings. Democratização do consumo?
  • 15. Os encontros e as reações e eles ganharam diferentes interpretações: seriam um pretexto para fazer baderna e confusão, gerando prejuízos financeiros e de imagem para os centros comerciais; reflexo da falta de espaços públicos e de convivência segura para os jovens, que veem no shopping sua única saída; e, ainda, como uma demonstração de desigualdade e elitismo da sociedade brasileira. Esse incômodo estaria relacionado à democratização do consumo, reflexo da ascensão da classe C no país. Os espaços tradicionais de consumo, que antes eram exclusivos de uma classe mais abastada, agora são cada vez mais ocupados por classes emergentes. É a inserção social pelo consumo. Segundo o Instituto Data Popular, que traçou um retrato dos jovens que participam dos rolezinhos, eles pertencem fundamentalmente à classe C e têm potencial de consumo (R$ 129 bilhões por mês) maior do que as classes A, B e D juntas (R$ 99 bilhões por mês). Quanto ao perfil dos consumidores que frequentam shoppings brasileiros ele pode ser dividido em 22% de classe A, 41% da B e 37% da C. Segundo o último censo da Abrasce (Associação Brasileira de Shoppings Centers), os jovens da classe C são maioria dos consumidores nesses estabelecimentos. Ir ao shopping é se integrar “Tudo começou como distração e diversão: se arrumar, sair, se vestir bem. Existe toda uma relação com as marcas e com o consumo, num processo de afirmação social e apropriação de espaços urbanos. Ir ao shopping é se integrar, pertencer à sociedade de consumo”, avalia a antropóloga e professora da Universidade de Oxford, na Inglaterra, Rosana Pinheiro-Machado, ao comentar sobre a relação de inclusão social que os jovens veem nesse novo poder de compra. Os números acima também refletem a ascensão de consumo que a classe C teve nos últimos dez anos -- chamada de “nova classe C”. A nomenclatura teve seu marco com a pesquisa intitulada "Nova classe média", realizada pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e divulgada em agosto de 2008. Essa "nova classe média", ou "nova classe C", tem uma renda entre R$1.064,00 e R$ 4.561,00 e abriga 52,67% da população, o equivalente a quase 98 milhões de pessoas. Houve também aumento do salário mínimo, a diminuição do desemprego, o aumento da linha de crédito (parcelamento pelo cartão) e a diminuição de impostos de algumas mercadorias pelo Governo. Outras facetas desse grupo são a facilidade do acesso à internet e aumento da possibilidade de frequentar uma universidade. Como resultado, os filhos da chamada “nova classe média brasileira” agora têm acesso a produtos que antes não podiam comprar e valorizam produtos mais sofisticados. E o que eles querem consumir? A maioria dos jovens, segundo o instituto, deseja comprar produtos eletrônicos e a roupas da moda que geram status e prestígio. A pesquisa revelou que 15% pretendem comprar um notebook, 11% querem adquirir um smartphone e 11% um tablet. Bonés,
  • 16. roupas e tênis de grife também estão entre os itens desejados. Os adolescentes da nova classe C chegam a gastar R$ 1.000 em um tênis, e mesmo assim, algumas marcas não querem sua imagem associada a esse público. Para os shoppings, a questão dos rolezinhos será resolvida de duas formas. Uns vão fechar as portas em caso de aglomeração, outros, como o Shopping Itaquera, sinalizaram atitude diferente. Foi acertado que o shopping será informado sobre os encontros, não para impedir, mas organizar melhor o evento. Já o Governo Federal promete planejar novas políticas públicas para a juventude, em conjunto com os Estados. Além disso, está monitorando a internet e prepara forças policiais caso os rolezinhos fujam do controle. Políticas públicas No entanto, observadores apontam que o fenômeno dos rolezinhos coloca em xeque outras áreas e demandas sociais, como educação, saúde e esporte, que não apareceram na pauta das soluções para evitar a multidão nos shoppings (em 2014, o Brasil deve ganhar mais 40 shoppings). “A inclusão dos últimos anos foi em boa medida um aumento do poder de compra a crédito. Os pobres compram mais – o que é ótimo, porque eles tinham e ainda têm acesso limitado a vários bens que asseguram o conforto. Mas esse foi o eixo mais marcante da inclusão. Embora a educação esteja melhorando, a dupla do bem – que seria o mix de educação e cultura, e o de saúde e atividade física – não desperta igual atenção nem gera resultados rápidos”, escreve o filósofo Renato Janine Ribeiro no artigo “A inclusão social pelo consumo”. Não estuda nem trabalha: crise econômica e social lançam alerta sobre "geração nem nem" Jovens que não estão trabalhando nem procurando uma colocação no mercado e que estão fora da escola. Esse é o perfil da chamada “geração nem nem”, que inclui pessoas de 15 a 24 anos que não trabalham nem estudam. Direto ao ponto: Ficha-resumo Um estudo divulgado no dia 13 de fevereiro pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) apontou que 21,8 milhões dos jovens latino-americanos se enquadram nesse perfil. Uma pesquisa anterior da OIT, divulgada logo no início do ano, apontava que, de 2007 a 2012, o fenômeno cresceu em 30 países, de uma lista de 40 analisados. Mas se engana quem pensa que estamos falando de um fenômeno novo. Esse perfil de jovens já é tema de estudos da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) desde o final dos anos 1990. Entre 1997 e 2010, jovens com idade entre 20 e 24 anos, que não trabalhavam nem estudavam já eram 13% da população, chegando a 17,6% em 2010. O que se nota hoje é um aumento desse fenômeno. Em Portugal esses jovens são quase meio milhão. Na Irlanda e na Espanha a taxa dos "nem nem" cresceu 9,4 e 8,7 pontos porcentuais desde 2007; 20% dos jovens irlandeses
  • 17. e espanhóis estão nessa condição, taxa considerada “preocupante” pela OIT. O Brasil está a um passo da categoria preocupante, com 19% de jovens com esse perfil. O fenômeno chamou tanta atenção que, em 2012, com o alto número de jovens até 30 anos fora do mercado de trabalho e das escolas, a italiana Benetton criou uma campanha publicitária com fotos de jovens e a frase "Desempregado do Ano". A ideia era chamar atenção para a necessidade de oportunidades de trabalho para esse grupo de pessoas, reflexo de fatores econômicos e sociais, mas também para um desânimo por parte dos jovens em encontrar oportunidades de trabalho com baixa remuneração, assim preferem ficar desempregados até que novas possibilidades apareçam. "A falta do acesso a oportunidades de trabalho decente gera frustração e desânimo entre os jovens. Há 108 milhões de razões pelas quais temos que agir agora”, disse o diretor- geral da OIT, Guy Ryder. Fenômeno mundial Conhecidos também pela sigla em inglês Neet (neither in employment, nor in education or training), esse perfil de jovens cresce por motivos diferentes em cada país. Na maioria dos países estudados essa é uma situação transitória e os motivos do crescimento desse perfil de jovens variam: pode ser reflexo de questões culturais – no México, 77% das garotas não trabalham nem estudam e preferem se dedicar à vida familiar--, econômicas e políticas, como por exemplo, as recentes crises mundiais que comprometeram a oferta de trabalho e o cenário de instabilidade política em alguns países -- como na Turquia e na Grécia, que após a crise e os constantes protestos viram a taxa de desemprego entre jovens aumentar--, e sociais, como a falta de oportunidades ou a chegada de filhos. No artigo “Juventude, trabalho e desenvolvimento: elementos para uma agenda de investigação", o sociólogo Adalberto Cardoso, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), completa que, a análise do fenômeno em cada país deve levar em conta aspectos como a oferta de emprego nas cidades, o acesso à educação e o perfil familiar por não se tratar de um problema com respostas e soluções iguais para todos os casos. No Brasil, o fator renda é um dos que mais influencia o crescimento de jovens com o perfil “nem nem”. “Em 2000, famílias entre as 10% mais pobres tinham 233% mais chances de ter um ‘nem nem’ entre os seus do que famílias entre os 10% mais ricos. Em 2010, esse valor havia aumentado para quase 800%. Isto é, a disponibilidade de recursos familiares, tal como expressa pela renda enquanto capacidade de aquisição de bens como saúde e educação para seus membros, por exemplo, confere um caráter de classe às mudanças ocorridas no período, com aumento da vulnerabilidade dos mais pobres. Isto é, é maior a proporção de ‘nem nem’ em 2010 entre as famílias que, em termos relativos, tinham menores condições materiais de dar respaldo a eles”, diz o artigo. O UOL Educação preparou um guia de estudos focado no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e nos grandes vestibulares, como Fuvest, Unicamp e Unesp. Confira os temas que professores apontaram como os mais importantes da disciplina. Recursos hídricos: potencial e aproveitamento (hidroeletricidade, irrigação e transporte). "Tem sido cobrada de modo geral a relação entre os recursos hídricos e o aproveitamento
  • 18. desses recursos em dois pontos fundamentais: produção de energia e irrigação, abordando sempre o impacto ambiental", afirma Fortini, do colégio Magnum Leia mais Caio Coronel/Divulgação Os números na América Latina Os números do relatório da OIT mostram que a situação de crescimento econômico com emprego registrada nos últimos anos na América Latina não foi suficiente para melhorar o emprego dos jovens, que continuam enfrentando um cenário pouco otimista no qual persistem o desemprego e a informalidade. Na conclusão do documento, a organização cita que, com esse cenário, “não é casual que os jovens sejam defensores dos protestos de rua quando suas vidas estão marcadas pelo desalento e a frustração por causa da falta de oportunidades”. Em todos os países pesquisados, as mulheres são maioria entre os jovens da “geração nem nem”. Na América Latina elas representam 92% desse grupo. Ainda nos países latino-americanos, aproximadamente 25% desses jovens (5,25 milhões) buscam trabalho, mas não conseguem outros 16,5 milhões não trabalham, nem buscam emprego, e cerca de 12 milhões dedicam-se a afazeres domésticos. Os que não trabalham nem estudam e nem se dedicam a outras atividades são classificados de “núcleo duro” e demandam uma atenção especial dos governantes. Na região, Honduras é o país que apresenta o maior percentual de jovens “nem nem”, com 27,5%, seguido da Guatemala (25,1%) e El Salvador (24,2%). Os países com menor percentual são Paraguai (16,9%) e Bolívia (12,7%). No Brasil, mulheres negras são maioria Entre os jovens brasileiros, 19% com idade entre 15 e 24 anos não trabalham nem estudam. No Brasil, o número de mulheres negras nesse perfil é duas vezes maior que o de homens, segundo o relatório da OIT. Entre os fatores estão que colaboram para esse número estão baixo nível social e casos de gravidez na adolescência, o que faz com que a mulher interrompa os estudos e, também, a atividade profissional. De maneira geral, não são apenas os jovens entre 15 e 24 anos que preocupam a OIT. Hoje, 13,1% dos jovens do mundo continuam sem emprego, ou seja, um total de 74,5 milhões de pessoas. Só em 2013, 1 milhão de jovens perderam seus trabalhos e, com os países ainda em recuperação após a crise econômica de 2008, a perspectiva de futuro para a “geração nem nem” ainda não parece otimist