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APRESENTAÇÃO
CAPITÃO RISSOL
Certa manhã muito chuvosa e fria
Espalhou químicos o cientista poluidor,
Quis o destino com sua ironia
Que fosse no mesmo sítio do cozinheiro amador.
Deu-se então a fantástica transformação
De um abandonado rissol banal
E do contacto com a maléca poção,
Nasceu assim o combatente do mal.
A sua fama rapidamente correu
Pela veemência da extrema dedicação,
Muitos inimigos ele sozinho combateu,
Por toda a parte se ouvia a canção:
“ Faça chuva ou faça sol
Não é rijo nem é mole
Ele combate o mal
Ele é fenomenal,
É o capitão rissol! “
Mas curto foi o seu reinado
Pois também trágico é o destino
E aparecera outro herói mutado
E todos clamavam pelo capitão pepino.
“ Cante o galo ou toque o sino
Não é grosso nem é no
Ele combate o mal
Ele é fenomenal,
É o capitão pepino! “
O JOVEM ADOLESCENTE
QUE SE APAIXONOU POR
UM AZULEJO DE CASA-
DE-BANHO
Foi de facto um pouco estranho
Ver o jovem Ulisses apaixonado
Por um azulejo de casa de banho
Que já era velho e riscado.
Mas convicta foi a sua decisão
Apesar de por todos ser gozado,
Dos pais haver bastante repreensão
E dos dias em que era apedrejado.
Pelo menos não estava a ngir
E cada vez era maior o sentimento,
Era vê-los passear e sorrir
Com longos beijos de contentamento.
Veio a tragédia do carrossel distinto
Numa manobra veloz e ousada,
O azulejo esquecera-se de apertar o cinto
Deixando a alma de Ulisses quebrada.
A VINGANÇA DA FOLHA
DE ACETATO
Era uma normal folha de acetato
Bastante limpa e até discreta,
Tinha apenas duas frases como fato
Numa caligraa pouco concreta.
Veio o senhor da caneta com exuberância
Com a qual a tentou riscar,
Foi o traço da sua arrogância
Que a transformou e fez revoltar.
Saltou com suas pernas nas
Fazendo o rico senhor espantar,
Colou-se-lhe rme às duas narinas
Numa tentativa de o asxiar.
Mas o senhor era conhecedor
Que pela boca conseguia respirar
E num gesto cauteloso e reprovador
Lá a conseguiu arrancar.
BEATRIZ “A GILLETTE“
Em tempos fora jovem e saudável
E nada a conseguia parar,
Recorda como era então admirável
Sempre, sempre, sempre, a cortar.
Essa época nunca mais irá voltar,
Inveja agora as colegas descartáveis
E só pensa em se reformar,
As suas lâminas estão lastimáveis.
Sua sina é triste e penosa
Junto a um branco tubo dentífrico,
Vai tirando pêlos saudosa
E sonha com uma ilha no pacíco.
O ATAQUE DOS PICA-
MAMAS
Ela era jovem e até muito bonita
Mas o ego não estava ainda satisfeito,
Fez implantes numa clínica algo esquisita
Que lhe aumentou exageradamente o peito.
Tal foi a mudança destas duas ampliações
Que pareciam ter enchido dois balões
E naquela noite estrelada de luar
Veio uma ventania e ela foi-se pelo ar.
No dia seguinte à sua subida
Pairou assustada numa oresta desconhecida,
Viu apenas umas aves voarem insanas,
Eram estranhas criaturas – Os pica-mamas.
Uma espécie que poucos conheciam
Que habita debaixo das pontes,
Recentemente observados enquanto comiam
Por um cientista de Trás-os-Montes.
A VASSOURA
Sempre em busca de acção andava
Mesmo quando estava só,
Da vida não queria mais nada
A não ser o seu essencial pó.
Mas certo dia limpou demais
Por pouco não lhe foi fatal,
Correu dezenas de hospitais
Todos diagnosticavam o mesmo mal.
Vários meses passou a pensar
Se no pó deveria voltar a tocar,
Finalmente sentiu-se libertada
E hoje até está casada.
O BELO ROMANCE
Tudo começou por ser brincadeira
E ainda pouco havia por dizer,
Mas viveram uma vida inteira
Até um deles acabar por morrer.
A FORMIGA DE BABEL
Era pequena que todos a conheciam
Mas grandes eram as suas ambições
E dela até por vezes se riam
Quando começava com divagações.
Maior foi o espanto local
No dia em que a viram trabalhar,
Pois a sua azafama era tal
Que nem parava para falar.
Com paus de fósforo queria construir
Uma torre que chegasse aos céus,
Pois o seu sonho nunca iria conseguir
Que era visitar os Pirinéus.
Dia e noite sem nunca parar
E a obra já começava a nascer,
Mas o vento começou a soprar
Fazendo a torre desaparecer.
A formiguinha está hoje internada
Nenhum pau de fósforo é mais preciso,
Dizem que já não se lembra de nada
E até já está a apanhar juízo.
A ELOQUENTE BARRIGA
Naquela grande barriga abastada,
Quando a fome se fazia notar,
Ouvia-se do estômago a voz irada
E eis que começava a discursar.
Não existia para o fenómeno explicação
Mas a sua eloquência era já mítica,
Aquela barriga tinha uma vocação,
Um jeito especial para a política.
Houve mesmo quem lançasse louvores
Para que ela se pudesse candidatar,
Mas logo correram rumores
Do seu hábito em se embebedar.
E certa vez perante uma assembleia
Que de tão espantada a queria ouvir,
Embriagara-se tanto a noite inteira
Que os vómitos começaram a surgir.
O COPO DE CRISTAL QUE
TOCAVA MÚSICAS DE
NATAL
Fora construído do mais no cristal,
Não era preciso ser sábio para o perceber,
Mas este era um copo muito especial
Pelo qual todos queriam beber.
Sua particularidade era deveras excepcional,
Quando com um dedo húmido lhe passavam
Entoava conhecidas músicas de Natal,
E todos o aplaudiam e admiravam.
Tal era a fama que lhe dedicavam
Que percebeu a dimensão do seu poder,
As inúmeras vezes que agora o agarravam
Eram a fonte do seu altivo envaidecer.
E foram tais as geradas discussões
Que nem o seu dono lhe resistiu,
Mas o destino teve das suas lições,
O copo caiu ao chão e partiu.
O REFORMADO
DOURADO
Durante o dia ele lia o jornal,
Por nada mais ter que fazer,
Sem nunca dar nenhum sinal
Do plano que estava a conceber.
Quando o dia começou a escurecer
Ele desapareceu para um canto isolado,
Era, então, chegada a hora de aparecer
O justiceiro reformado dourado.
Uma ofuscante capa e um fato a luzir
E tudo parecia estar controlado,
Mas os bandidos desataram a rir
E o pobre homem foi ignorado.
A realidade era dura e crua,
Foi tal o asco da situação
Que agora pouco sai à rua
Ficando em casa a ver televisão.
O PÉRFIDO MEALHEIRO
Ele tinha um porquinho como mealheiro
A quem as suas poupanças conava,
Durante anos lá depositou algum dinheiro,
E a quantia tornava-se já elevada.
Mas certo dia, por mera distracção,
Não fechou bem a porta quando saiu,
O porquinho comprou um bilhete de avião
E, desde então, nunca mais alguém o viu.
O LOBO MAU
Um lobo mau sentia-se inútil e desfeito
O psicólogo diagnosticara-lhe uma depressão,
O xanax e o prosac já não faziam efeito
E foi por isso em busca da verdadeira vocação.
Encontrou um rebanho bem alinhado,
Mas só uma ovelha ele não queria comer,
Pois, se fosse o pastor a ser eliminado
Ele tornar-se-ia dono e senhor do poder.
O rebanho, ao ver o seu pastor destronado,
Ficou intrigado e sem alguma coisa perceber,
Mas a necessidade em ser comandado
Fê-lo facilmente ao astuto lobo obedecer.
Uma fábrica de lãs e manteigas abriu
E o rebanho venera todos os seus conselhos,
Dizem que depois que a sua vida subiu
Até já engatou duas capuchinhos vermelhos.
A INFLUÊNCIA DO TIO
BALTAZAR NO
DESENVOLVIMENTO DAS
CRIANÇAS
«Adivinhem quem acabou de chegar!»
- Disse a mãe ao Luís e à Inês -
«É o vosso querido tio Baltazar
E trouxe presentes para vocês!»
E o menino que esperava entusiasmado
Recebeu apenas uma embalagem de pilhas,
A menina que olhava atenta a seu lado
Foi ofertada com um par de palmilhas.
As crianças estavam traumatizadas
E não mais teriam uma infância normal,
O destino deixava-os bem marcados
Por uma situação aparentemente normal.
Mas os presentes viriam ainda a signicar,
Apesar de tudo na vida lhes correr mal,
Quando com eles vieram a ganhar
O grande prémio de arte conceptual.
MARIAZINHA E O PACOTE DE
BATATAS FRITAS
Uma elegante andorinha de nome Mariazinha
Era bastante cobiçada quando passava a voar,
Mas, numa quente tarde em que voava sozinha,
Deixou-se por um pacote de batatas fritas apaixonar.
Cantou bem alto para o tentar conquistar,
Mas o canto do pacote de batatas era nada,
Apesar de claramente a estar a ignorar
A pobre andorinha estava ainda mais fascinada.
Passou meses nesta inocente e cega ilusão
E por algumas vezes o conseguiu debicar,
Chegou então a inevitável temida situação
Em que para o sul foi obrigada a voar.
Regressou, tempos depois, muito entusiasmada
Piando já casamento e outras coisas esquisitas,
Mas o que viu foi como uma punhalada,
Alguém comia o seu pacote de batatas fritas.
O SONHO DE SAMUEL
Samuel sonhava ser um grande marinheiro
E, para tal, construiu uma robusta jangada,
Despediu-se de todos e rumou ligeiro
Em direcção à sua fabulosa empreitada.
Lançou a sua jangada ao revoltado mar
E conrmou o dinheiro que tinha na carteira,
Mas, por mais que tentasse remar,
Não conseguia ultrapassar a zona costeira.
Percebia assim como a vida é desilusão
Para aqueles que não possuem um motor,
Não chega ter vontade e dedicação,
Também é preciso ter o vento a favor.
Como não alcançou a sua grande ambição
Conformou-se com uma menor ideia,
Passa as noites inteiras a fazer pão
E os dias a construir castelos de areia.
O FEITIÇO
Começou por ser uma auspiciosa coincidência,
Quando no caminho um vulto lhe apareceu,
Ninguém previa que aquela simples ocorrência
Fosse culminar no que depois sucedeu.
Deparou-se com uma ambígua bruxa malvada
De poderes reconhecidos em todo o lado,
Substimou-a, incrédulo, por a julgar uma fada
E ela transformou-o em interruptor de luz
desligado.
E hoje, lá está exilado em constante apatia,
Um botão apagado sem qualquer sentimento,
Espera, enm, que alguém o prima um dia
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GINA
Gina era amiga dos seus amigos
Por mais que lhe pudesse custar,
Nunca lhes recusava quaisquer pedidos
E todos com ela queriam estar.
Tinha o dom de construir amizades
Com grande entusiasmo e facilidade,
Conhecia pessoas em todas as cidades
E vivia em constante ansiedade.
Mas mesmo assim sentia-se solitária
Até conhecer um ilustre rebuçado de S. Bráz,
Infelizmente ele chamou-lhe ordinária
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SANITA DAS VERDADES
Chamavam-lhe sanita das verdades,
A qual ninguém ousava utilizar,
E sempre que estavam em diculdades
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Todos a tinham em grande consideração;
De onde lhe vinha tanto saber
Ainda hoje não há explicação.
Mas por descuido ou cinismo
Houve um homem que a utilizou,
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Para sempre a sanita se calou.
O SABONETE
O Sabonete Silvino tem a vida tramada
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A senhora que com ele tanto se esfregava
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PEDRA NO SAPATO
A pedra no sapato começava a incomodar,
Era essencial pensar em a remover,
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O sapato estava já desesperado,
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E sem mais como poder ngir
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O CANDIDATO VINHO
Quando o vinho anunciou a candidatura
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HISTÓRIAS SIMPLES PARA PESSOAS COMPLICADAS - Vol. I - Emanuel R. Marques

  • 1.
  • 3. CAPITÃO RISSOL Certa manhã muito chuvosa e fria Espalhou químicos o cientista poluidor, Quis o destino com sua ironia Que fosse no mesmo sítio do cozinheiro amador. Deu-se então a fantástica transformação De um abandonado rissol banal E do contacto com a maléca poção, Nasceu assim o combatente do mal. A sua fama rapidamente correu Pela veemência da extrema dedicação, Muitos inimigos ele sozinho combateu, Por toda a parte se ouvia a canção: “ Faça chuva ou faça sol Não é rijo nem é mole Ele combate o mal Ele é fenomenal, É o capitão rissol! “ Mas curto foi o seu reinado Pois também trágico é o destino E aparecera outro herói mutado E todos clamavam pelo capitão pepino. “ Cante o galo ou toque o sino Não é grosso nem é no Ele combate o mal Ele é fenomenal, É o capitão pepino! “
  • 4.
  • 5. O JOVEM ADOLESCENTE QUE SE APAIXONOU POR UM AZULEJO DE CASA- DE-BANHO Foi de facto um pouco estranho Ver o jovem Ulisses apaixonado Por um azulejo de casa de banho Que já era velho e riscado. Mas convicta foi a sua decisão Apesar de por todos ser gozado, Dos pais haver bastante repreensão E dos dias em que era apedrejado. Pelo menos não estava a ngir E cada vez era maior o sentimento, Era vê-los passear e sorrir Com longos beijos de contentamento. Veio a tragédia do carrossel distinto Numa manobra veloz e ousada, O azulejo esquecera-se de apertar o cinto Deixando a alma de Ulisses quebrada.
  • 6.
  • 7. A VINGANÇA DA FOLHA DE ACETATO Era uma normal folha de acetato Bastante limpa e até discreta, Tinha apenas duas frases como fato Numa caligraa pouco concreta. Veio o senhor da caneta com exuberância Com a qual a tentou riscar, Foi o traço da sua arrogância Que a transformou e fez revoltar. Saltou com suas pernas nas Fazendo o rico senhor espantar, Colou-se-lhe rme às duas narinas Numa tentativa de o asxiar. Mas o senhor era conhecedor Que pela boca conseguia respirar E num gesto cauteloso e reprovador Lá a conseguiu arrancar.
  • 8. BEATRIZ “A GILLETTE“ Em tempos fora jovem e saudável E nada a conseguia parar, Recorda como era então admirável Sempre, sempre, sempre, a cortar. Essa época nunca mais irá voltar, Inveja agora as colegas descartáveis E só pensa em se reformar, As suas lâminas estão lastimáveis. Sua sina é triste e penosa Junto a um branco tubo dentífrico, Vai tirando pêlos saudosa E sonha com uma ilha no pacíco.
  • 9. O ATAQUE DOS PICA- MAMAS Ela era jovem e até muito bonita Mas o ego não estava ainda satisfeito, Fez implantes numa clínica algo esquisita Que lhe aumentou exageradamente o peito. Tal foi a mudança destas duas ampliações Que pareciam ter enchido dois balões E naquela noite estrelada de luar Veio uma ventania e ela foi-se pelo ar. No dia seguinte à sua subida Pairou assustada numa oresta desconhecida, Viu apenas umas aves voarem insanas, Eram estranhas criaturas – Os pica-mamas. Uma espécie que poucos conheciam Que habita debaixo das pontes, Recentemente observados enquanto comiam Por um cientista de Trás-os-Montes.
  • 10.
  • 11. A VASSOURA Sempre em busca de acção andava Mesmo quando estava só, Da vida não queria mais nada A não ser o seu essencial pó. Mas certo dia limpou demais Por pouco não lhe foi fatal, Correu dezenas de hospitais Todos diagnosticavam o mesmo mal. Vários meses passou a pensar Se no pó deveria voltar a tocar, Finalmente sentiu-se libertada E hoje até está casada.
  • 12. O BELO ROMANCE Tudo começou por ser brincadeira E ainda pouco havia por dizer, Mas viveram uma vida inteira Até um deles acabar por morrer.
  • 13.
  • 14. A FORMIGA DE BABEL Era pequena que todos a conheciam Mas grandes eram as suas ambições E dela até por vezes se riam Quando começava com divagações. Maior foi o espanto local No dia em que a viram trabalhar, Pois a sua azafama era tal Que nem parava para falar. Com paus de fósforo queria construir Uma torre que chegasse aos céus, Pois o seu sonho nunca iria conseguir Que era visitar os Pirinéus. Dia e noite sem nunca parar E a obra já começava a nascer, Mas o vento começou a soprar Fazendo a torre desaparecer. A formiguinha está hoje internada Nenhum pau de fósforo é mais preciso, Dizem que já não se lembra de nada E até já está a apanhar juízo.
  • 15.
  • 16. A ELOQUENTE BARRIGA Naquela grande barriga abastada, Quando a fome se fazia notar, Ouvia-se do estômago a voz irada E eis que começava a discursar. Não existia para o fenómeno explicação Mas a sua eloquência era já mítica, Aquela barriga tinha uma vocação, Um jeito especial para a política. Houve mesmo quem lançasse louvores Para que ela se pudesse candidatar, Mas logo correram rumores Do seu hábito em se embebedar. E certa vez perante uma assembleia Que de tão espantada a queria ouvir, Embriagara-se tanto a noite inteira Que os vómitos começaram a surgir.
  • 17. O COPO DE CRISTAL QUE TOCAVA MÚSICAS DE NATAL Fora construído do mais no cristal, Não era preciso ser sábio para o perceber, Mas este era um copo muito especial Pelo qual todos queriam beber. Sua particularidade era deveras excepcional, Quando com um dedo húmido lhe passavam Entoava conhecidas músicas de Natal, E todos o aplaudiam e admiravam. Tal era a fama que lhe dedicavam Que percebeu a dimensão do seu poder, As inúmeras vezes que agora o agarravam Eram a fonte do seu altivo envaidecer. E foram tais as geradas discussões Que nem o seu dono lhe resistiu, Mas o destino teve das suas lições, O copo caiu ao chão e partiu.
  • 18. O REFORMADO DOURADO Durante o dia ele lia o jornal, Por nada mais ter que fazer, Sem nunca dar nenhum sinal Do plano que estava a conceber. Quando o dia começou a escurecer Ele desapareceu para um canto isolado, Era, então, chegada a hora de aparecer O justiceiro reformado dourado. Uma ofuscante capa e um fato a luzir E tudo parecia estar controlado, Mas os bandidos desataram a rir E o pobre homem foi ignorado. A realidade era dura e crua, Foi tal o asco da situação Que agora pouco sai à rua Ficando em casa a ver televisão.
  • 19.
  • 20. O PÉRFIDO MEALHEIRO Ele tinha um porquinho como mealheiro A quem as suas poupanças conava, Durante anos lá depositou algum dinheiro, E a quantia tornava-se já elevada. Mas certo dia, por mera distracção, Não fechou bem a porta quando saiu, O porquinho comprou um bilhete de avião E, desde então, nunca mais alguém o viu.
  • 21. O LOBO MAU Um lobo mau sentia-se inútil e desfeito O psicólogo diagnosticara-lhe uma depressão, O xanax e o prosac já não faziam efeito E foi por isso em busca da verdadeira vocação. Encontrou um rebanho bem alinhado, Mas só uma ovelha ele não queria comer, Pois, se fosse o pastor a ser eliminado Ele tornar-se-ia dono e senhor do poder. O rebanho, ao ver o seu pastor destronado, Ficou intrigado e sem alguma coisa perceber, Mas a necessidade em ser comandado Fê-lo facilmente ao astuto lobo obedecer. Uma fábrica de lãs e manteigas abriu E o rebanho venera todos os seus conselhos, Dizem que depois que a sua vida subiu Até já engatou duas capuchinhos vermelhos.
  • 22.
  • 23. A INFLUÊNCIA DO TIO BALTAZAR NO DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS «Adivinhem quem acabou de chegar!» - Disse a mãe ao Luís e à Inês - «É o vosso querido tio Baltazar E trouxe presentes para vocês!» E o menino que esperava entusiasmado Recebeu apenas uma embalagem de pilhas, A menina que olhava atenta a seu lado Foi ofertada com um par de palmilhas. As crianças estavam traumatizadas E não mais teriam uma infância normal, O destino deixava-os bem marcados Por uma situação aparentemente normal. Mas os presentes viriam ainda a signicar, Apesar de tudo na vida lhes correr mal, Quando com eles vieram a ganhar O grande prémio de arte conceptual.
  • 24. MARIAZINHA E O PACOTE DE BATATAS FRITAS Uma elegante andorinha de nome Mariazinha Era bastante cobiçada quando passava a voar, Mas, numa quente tarde em que voava sozinha, Deixou-se por um pacote de batatas fritas apaixonar. Cantou bem alto para o tentar conquistar, Mas o canto do pacote de batatas era nada, Apesar de claramente a estar a ignorar A pobre andorinha estava ainda mais fascinada. Passou meses nesta inocente e cega ilusão E por algumas vezes o conseguiu debicar, Chegou então a inevitável temida situação Em que para o sul foi obrigada a voar. Regressou, tempos depois, muito entusiasmada Piando já casamento e outras coisas esquisitas, Mas o que viu foi como uma punhalada, Alguém comia o seu pacote de batatas fritas.
  • 25.
  • 26. O SONHO DE SAMUEL Samuel sonhava ser um grande marinheiro E, para tal, construiu uma robusta jangada, Despediu-se de todos e rumou ligeiro Em direcção à sua fabulosa empreitada. Lançou a sua jangada ao revoltado mar E conrmou o dinheiro que tinha na carteira, Mas, por mais que tentasse remar, Não conseguia ultrapassar a zona costeira. Percebia assim como a vida é desilusão Para aqueles que não possuem um motor, Não chega ter vontade e dedicação, Também é preciso ter o vento a favor. Como não alcançou a sua grande ambição Conformou-se com uma menor ideia, Passa as noites inteiras a fazer pão E os dias a construir castelos de areia.
  • 27. O FEITIÇO Começou por ser uma auspiciosa coincidência, Quando no caminho um vulto lhe apareceu, Ninguém previa que aquela simples ocorrência Fosse culminar no que depois sucedeu. Deparou-se com uma ambígua bruxa malvada De poderes reconhecidos em todo o lado, Substimou-a, incrédulo, por a julgar uma fada E ela transformou-o em interruptor de luz desligado. E hoje, lá está exilado em constante apatia, Um botão apagado sem qualquer sentimento, Espera, enm, que alguém o prima um dia E o liberte do terrível encantamento.
  • 28.
  • 29. GINA Gina era amiga dos seus amigos Por mais que lhe pudesse custar, Nunca lhes recusava quaisquer pedidos E todos com ela queriam estar. Tinha o dom de construir amizades Com grande entusiasmo e facilidade, Conhecia pessoas em todas as cidades E vivia em constante ansiedade. Mas mesmo assim sentia-se solitária Até conhecer um ilustre rebuçado de S. Bráz, Infelizmente ele chamou-lhe ordinária E ela não tinha como voltar atrás.
  • 30. SANITA DAS VERDADES Chamavam-lhe sanita das verdades, A qual ninguém ousava utilizar, E sempre que estavam em diculdades Somente com ela se iam aconselhar. Inúmeras situações ajudou a resolver, Todos a tinham em grande consideração; De onde lhe vinha tanto saber Ainda hoje não há explicação. Mas por descuido ou cinismo Houve um homem que a utilizou, E após ter puxado o autoclismo Para sempre a sanita se calou.
  • 31.
  • 32. O SABONETE O Sabonete Silvino tem a vida tramada E amanhã irá ser ouvido em tribunal, A senhora que com ele tanto se esfregava Decidiu processá-lo por assédio sexual.
  • 33.
  • 34. PEDRA NO SAPATO A pedra no sapato começava a incomodar, Era essencial pensar em a remover, Mas àquele sítio já ela se estava a habituar E seria quase inevitável fazê-la sofrer. Um hábil plano devia ser encontrado, De forma a tentar atenuar a situação, O sapato estava já desesperado, Mas também tinha um bom coração. E sem mais como poder ngir Conseguiu reunir toda a sua coragem, Disse-lhe que seria melhor sair, Pois chegara ao m aquela viagem.
  • 35. O CANDIDATO VINHO Quando o vinho anunciou a candidatura Muitos julgaram as suas ideias primitivas, Mas a sua atitude não foi loucura E os votos excederam as expectativas. Ergueram várias garrafas para comemorar A sua grandiosa chegada ao poder, Mas quando o vinho começou a discursar Estavam demasiado ébrios para o compreender.