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FACULDADE DE MINAS – FAMINAS
                    Felipe Aredes Galvão




  DOENÇAS OCUPACIONAIS DO SISTEMA OSTEOMUSCULAR E SUAS
CORRELAÇÕES COM A ATIVIDADE DE MOTORISTA DE ÔNIBUS COLETIVO
                         URBANO




                            MURIAÉ
                             2009.
                     Felipe Aredes Galvão
DOENÇAS OCUPACIONAIS DO SISTEMA OSTEOMUSCULAR E SUAS
CORRELAÇÕES COM A ATIVIDADE DE MOTORISTA DE ÔNIBUS COLETIVO
                         URBANO




                            Monografia apresentada por Felipe Aredes
                            Galvão, como pré-requisito para obtenção
                            do título de Bacharel em Terapia
                            Ocupacional, sob a orientação do professor
                            Ivens M. O. Pereira.




                          MURIAÉ
                           2009.
Galvão, Felipe Aredes

Doenças ocupacionais do sistema osteomuscular e suas correlações com a atividade
de motorista de ônibus coletivo. Muriaé, Faculdade de Minas (Curso de Terapia
Ocupacional) 2009.



       Bibliografia

       Monografia apresentada à Faculdade de Minas para obtenção do título de
Bacharel em Terapia Ocupacional.

  1.Doenças Ocupacionais. 2.Osteomuscular. 3.Motorista. 4.Ônibus. 5.Ergonomia
Dedico aos meus pais, meus amigos e,
                                       em especial, ao meu orientador por onde
                                       me espelho como futuro profissional.
                           AGRADECIMENTOS




Agradeço primeiramente a Deus, aos meus pais pelo incentivo, carinho e o amor
incondicional. À empresa Transporte Coletivo Muriaeense e aos motoristas que
me acolheram com respeito e carinho, pois graças a eles este trabalho pode ser
desenvolvido. Ao meu orientador Ivens M. O. Pereira, por sua dedicação em me
orientar, o meu muito obrigado.

                                                          Felipe Aredes Galvão
                                   SUMÁRIO

                                                                    Página
RESUMO
                                                                    iii
ABSTRACT
                                                                    iv
LISTA DE TABELAS
                                                                       vi
LISTA DE ANEXOS
                                                                       vii
1 INTRODUÇÃO
                                                                       8
2 FUNDAMENTAÇÃO TEORICA
                                                                       10
2.1 Relações Trabalho Saúde
                                                                       10
2.2 O Trabalho e a Ergonomia
                                                                       13
    2.3 A Profissão de Motorista
                                                                       16
    2.3.1 Exigências motoras na atividade do motorista

                                                                       18
    2.4 Características Mecânicas da Postura Sentada
                                                                       19
       2.4.1 Mecânica da Postura Sentada
                                                                       20
       2.4.2 Conseqüências da Postura Sentada
                                                                       21
2.5 Doenças        Ocupacionais    do   Sistema      Osteomusculares
   relacionados ao trabalho (LER/DORT)                                 23
     2.6 Terapia Ocupacional e a Ergonomia
                                                                       27
  3 METODOLOGIA                                                        29
  4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS                                   31
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES
                                                                       42
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
                                                                       44




                                   RESUMO



GALVÃO, Felipe Aredes. DOENÇAS OCUPACIONAIS DO SISTEMA
OSTEOMUSCULAR E SUAS CORRELAÇÕES COM A ATIVIDADE DE
MOTORISTA DE ÔNIBUS COLETIVO URBANO. Muriaé, MG, 2009. 50 p.
Monografia para obtenção do título de Bacharel em Terapia Ocupacional, sob
orientação da Profº. Ivens M. O. Pereira. Curso de Terapia Ocupacional. Faculdade
de Minas - FAMINAS
Sendo a mecânica corporal, enquanto ciências que estuda as forças estáticas e
dinâmicas que agem sobre o corpo humano, o estudo pesquisou possíveis patologias
ocupacionais do sistema osteomuscular, queixas de dores e desconfortos causados
pelo impacto da atividade laborativa e como esse fatores interferem no desempenho
ocupacional em motoristas de ônibus coletivo urbano, no período de fevereiro a
abril de 2009. Trata-se de um estudo exploratório, onde os dados foram coletados
por meio de entrevistas, utilizando-se instrumento de pesquisa semi-estruturado. A
amostra constitui de 55 motoristas ativos com idade entre 27 a 72 anos, gênero
masculino da Empresa Coletivos Muriaeense Ltda, localizada em Muriaé (MG). Pelos
estudos realizados e análise dos dados obtidos foram encontradas evidências de
que, o trabalho de motorista é realmente penoso e fatigante, fatores que levam estes
profissionais a sentirem, no futuro, alguns desconfortos e dores, além da tensão
e atenção redobrada que devem ter por exigência da própria profissão. Assim as
atividades realizadas pelo motorista, em um ambiente de trabalho ergonomicamente
inadequado, exigindo a permanência prolongada na postura sentada, produzem
desajuste muscular e desconforto postural e corporal, caracterizado por dor ou perda
de conforto em conseqüência de diversos fatores entre eles a sobrecarga mecânica
e condições patológicas. Favorecendo o surgimento de LER/DORT, doenças do
sistema circulatório, distúrbios visuais, entre outros, acarretando também
incapacidades dos mesmos em continuar a exercer suas atividades, sendo afastados
de seus postos de trabalho decorrentes das doenças ocupacionais.




Palavras Chaves: 1.Doenças         Ocupacionais.    2.Osteomuscular.    3.Motorista.
4.Ônibus. 5.Ergonomia.

                                  ABSTRACT


GALVÃO, Felipe Aredes. DOENÇAS OCUPACIONAIS DO SISTEMA
OSTEOMUSCULAR E SUAS CORRELAÇÕES COM A ATIVIDADE DE
MOTORISTA DE ÔNIBUS COLETIVO URBANO. Muriaé, MG, 2009. 50 p.
Monografia para obtenção do título de Bacharel em Terapia Ocupacional, sob
orientação da Profº. Ivens M. O. Pereira. Curso de Terapia Ocupacional. Faculdade
de Minas - FAMINAS
As the body mechanics, as a science that studies the static and dynamic forces that
act on the human body, the study focused on the possible occupational diseases
of the musculoskeletal system, complaints of pain and discomfort caused by the
impact of labor activity and how such factors influence the occupational performance
drivers in urban public bus, from February to April 2009. This is an exploratory study,
where data were collected through interviews, using a search tool semi-structured.
The sample consisted of 55 active drivers aged 27 to 72 years, male Collective
Muriaeense Company Ltd., located in Muriaé (MG). Those studies and data analysis
found no evidence that the work's license is really painful and fatiguing, factors that
lead these professionals to feel in the future, some discomfort and pain, and tension
and increased attention should concentrate on requirement of the profession. Thus
the activities of the driver in a work environment ergonomically inadequate, requiring
prolonged sitting posture, produce misfit and muscular discomfort and body posture,
characterized by pain or loss of comfort as a result of several factors including the
mechanical overload and pathological conditions. Favoring the appearance of LER/
DORT, diseases of the circulatory system, visual disturbances, among others, also
causing the same disability to continue to exercise their activities, being away from
their jobs resulting from occupational diseases.




Keywords: 1.Occupational         Diseases.    2.Musculoskeletal.    3.Driver.        4.Bus.
5.Ergonomics.

                                LISTA DE TABELAS

                                                                                Página

FIGURA 1: Lateralidade dos Profissionais Motoristas                             31

FIGURA 2: Tempo de Profissão como Motorista                                     32

FIGURA 3: Tempo de Trabalho como Motorista na Empresa.                          33

FIGURA 4: Motoristas que afirmam sentir ou não Dores / Desconfortos34
durante o Trabalho
FIGURA 5: Motoristas que fazem uso ou não de Medicamentos
                                                                     35
FIGURA 6: Tipos de Medicamentos mais usados pelos Motoristas
                                                                     36
FIGURA 7: Motoristas que tiveram ou não Afastados do Trabalho
                                                                     37
FIGURA 8: Os Tipos de Afastamentos do Trabalho
                                                                     38
FIGURA 9: Período de Dores / Desconfortos nestes Motoristas nos quais
                                                                      39
se queixam
                                                                     40
FIGURA 10: Locais das queixas de Dores / Desconfortos

FIGURA 11: Idade dos Motoristas de Ônibus Coletivo Urbano            41




                            LISTA DE ANEXOS

                                                                      Página

A1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido                         49
A2 Instrumento de Pesquisa semi-estruturado, desenvolvido pelo próprio50
pesquisador
1.   INTRODUÇÃO

A palavra trabalho “abrange várias realidades, como mostra seu uso corrente. É
utilizada, conforme o caso, para designar as condições de trabalho (trabalho penoso,
trabalho pesado...), o resultado do trabalho (um trabalho malfeito, um trabalho de
primeira...) ou a própria atividade de trabalho (fazer seu trabalho, um trabalho
meticuloso, estar sobrecarregado de trabalho...). Em primeira análise, a atividade
se opõe à inércia. É o conjunto dos fenômenos fisiológicos, psicológicos..., que
caracterizam o ser vivo cumprindo atos. Estes resultam de um movimento do
conjunto do homem (corpo, pensamento, desejos, representações, história) adaptado
a esse objetivo. No caso do trabalho, esse objetivo é socialmente determinado. Sem
atividade humana não há trabalho, mas pode haver uma produção. Um automatismo,
por exemplo, materializa de certo modo o trabalho necessário a sua concepção,
fabricação e manutenção e transmite a cada unidade produzida uma parte do valor
desse trabalho” (F. GUÉRIN, 2001).
A profissão de motorista é considerada árdua e penosa. As exigências do trabalho
fazem com que o motorista permaneça muito tempo sentado e isolado, para garantir
segurança na viagem. Estes cuidados são acentuados quando se transportam
passageiros. A manutenção da postura em equipamentos (bancos), que podem
faltar com as condições ergonômicas necessárias, o estresse em trânsitos
congestionados, a poluição, desavenças com o público (passageiros) e muitos
outros, favorecem a caracterização de uma profissão altamente fatigante (MENDES,
1997).
Justifica-se a pesquisa em um estudo direcionado à classe trabalhadora, em
específico os motoristas de ônibus urbano focando as doenças geradas nesta classe,
devido a diversos fatores ergonômicos envolvidos nessa atividade laboral.
Segundo Lancman (2004), a ergonomia nasceu da constatação de que o homem
não é uma máquina como as outras, das patologias e infrapatologias específicas
do trabalho e da necessidade de responder questões levantadas pelas situações
de trabalho insatisfatórias. Surgindo da fusão de duas correntes, a produtivista, que
compreende o funcionamento do homem em atividade profissional para adaptar as
ferramentas, máquinas, os espaços de trabalho, os ambientes e organizações no
trabalho, e a higienista, que entende os efeitos negativos do trabalho sobre o homem
para suprimir suas causas.
Tomando como fundamento a mecânica corporal, enquanto ciência que estuda as
forças estáticas e dinâmicas que agem sobre o corpo humano, o estudo pesquisou
possíveis patologias ocupacionais do sistema osteomuscular, queixas de dores e
desconfortos causados pelo impacto da atividade laboral e como esse fatores
interferem no desempenho ocupacional em motoristas de ônibus urbano da cidade
de Muriaé, MG, no período de fevereiro a abril de 2009. Para participar da pesquisa,
foram selecionados todos os profissionais motoristas ativos da Empresa Coletivos
Muriaeense Ltda, localizada em Muriaé (MG), no total de 55 motoristas, gênero
masculino.




2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

      2.1.      Relações Trabalho e Saúde

O trabalho, na atualidade, reveste-se de muitos significados, dependendo da ciência
que o traz como enfoque: Biologia, Física, Ciências Sociais, dentre outras.
Trabalho, segundo Selma Lancman (2004), é definido como:

                    (...) aquilo que se faz, a relação com todos os aspectos que o
                    envolvem, produz a Inteligência, modifica o corpo, as relações sociais
                    e constitui o individuo psiquicamente. Neste sentido, o trabalho é
                    entendido como um continuum, que se estende para além dele e
                    influência todas as esferas da vida humana (LANCMAN, 2004).


Para Marx (apud COHN e MARSIGLIA, 1994: 56), o trabalho é “a ação dos homens
sobre a natureza, transformando-a intencionalmente”.
As várias escolas clássicas da teoria social encontram na categoria trabalho o
elemento central para a compreensão das sociedades contemporâneas,
compreendidas como “sociedades do trabalho”. É definidas em Marx, Durkheim e
Weber.
                    Trazer o trabalho para o cerne da explicação das regularidades
                    sociais não significa aderir a uma única perspectiva de análise.
                    Tanto assim é que, enquanto para Marx o trabalho gera conflito, para
Durkheim ele é fonte de solidariedade e de coesão sociais. (COHN
                     e MARSIGLIA, 1994).

O reconhecimento da relação entre saúde e trabalho são antigos na historia,
mudando apenas a forma de apreender esta relação e o modo de lidar com ela.
Observa-se que somente considera nos campos de investigação e intervenção a
comparação existente entre si e quando seus efeitos se tornam lesivos aos
interesses da produção ou geram conflitos e resistências por parte dos trabalhadores.
(GOMEZ et al, 1992).
O processo de transformação da natureza feita pelos homens acarretou
conseqüências para saúde, sofrendo grandes modificações no decorrer da história
até chegar ao capitalismo que vivenciamos. Desde a antigüidade podem-se
encontrar relatos de doenças advindas do trabalho. Os escritos de Hipócrates sobre
a intoxicação saturnina em um mineiro possibilitaram estabelecer o sentido com a
atividade laboral. Mas, já naquele momento a relação saúde-doença-trabalho não
faziam parte das preocupações dos estudiosos da época, uma vez que a força
produtiva era, em sua maioria, de escravos.
A idade média fora marcada pelo valor atribuído aos metais preciosos, fomentou
observações quanto ao estado de saúde das pessoas envolvidas na extração mineral
(MENDES, 1995).
A importância atribuída aos metais prolongou-se por outros períodos históricos
perpetuando os riscos à saúde. Desta forma, na idade moderna encontramos relatos
de Georgius Agrícola (1556), que após o estudo de aspectos relacionados à extração
e fundição de metais, destaca a “asma dos mineiros, cuja descrição dos sintomas
e a rápida evolução sugerem tratar-se de silicose, eventualmente acompanhada de
câncer de pulmão” (MENDES, 1995).
Em 1700 foi publicado o livro de Bernardino Ramazzini cujo título, “De Morbis
Artificum Diatriba”, obra fundamental para a patologia do trabalho, onde são descritas
as doenças que ocorrem em 50 diferentes ocupações da época. Ramazzini propõe,
acrescentar-se às investigações médicas o questionamento sobre a ocupação
(MENDES, 1995).
Entre 1760 e 1850 desenvolveu-se a fase histórica que se tornou mais evidentes as
conseqüências das más condições de vida e trabalho à saúde, pois neste período
ocorria a Revolução Industrial, estabelecendo uma maior abrangência no modo de
produção capitalista, foi produzido uma alteração profunda nas relações homem-
natureza e homem-homem. Neste modelo apenas um grupo da sociedade apropria-
se dos meios de produção, em detrimento da maioria que possuía parte de seu
trabalho revertido em mais valia[1] (MENDES, 1995).
No processo de trabalho onde o uso de maquinaria é hegemônico, dá-se a
substituição das ferramentas artesanais e da força humana pelas máquinas.
Aprofundam a separação entre concepção e execução do trabalho que agora é
organizado segundo as operações da maquinaria. Há dificuldades no conhecimento
da totalidade do processo. Neste momento cria-se a remuneração por volume de
produção, levando os trabalhadores a aumentar voluntariamente o seu ritmo de
trabalho (COHN e MARSIGLIA, 1994).
Aumentam os riscos físico-químicos, intensifica-se o ritmo de trabalho, e as técnicas
tayloristas, fayolistas e fordistas de gestão provocam a fadiga física e mental. A
exigência de esforço físico vem acompanhada, assim, de significativo desgaste
psíquico do trabalhador expresso em sintomatologia de fadiga, estresse e demais
patologias psicossomáticas e nervosas (COHN e MARSIGLIA, 1994).
A inserção diferenciada nos processos produtivos determina formas desiguais de
adoecer, portanto acrescentam uma carga de maiores riscos à saúde. Além,
daqueles compartilhados entre a população em sua grande maioria, submetida às
mesmas condições de vida. Dentro dos seus respectivos ambientes de trabalho, suas
condições de organização provocam situações que determinam cargas diversas e
sobrecargas aos trabalhos, quer em conjunto e/ou individualmente.




      2.2.      O Trabalho e a Ergonomia
Santos (1997) define o trabalho como uma atividade própria do ser humano enquanto
ser social. Existem vários entendimentos para a atividade laboral, de acordo com a
forma de abordagem. Em uma das análises mais ressaltadas procurou-se diferenciar
as atividades humanas de trabalho. Para os pesquisadores, a distinção deve recair
na classificação das atividades do homem em "trabalho" e "não trabalho". Como
exemplos citam a atividade de colher uma fruta: quando o objetivo é apenas comê-
la, não seria trabalho, contudo a mesma ação com objetivo comercial caracterizar-
se-ia como uma situação laboral. Outro exemplo pode ser encontrado no lazer, onde
a atividade humana pode caracterizar-se como "não trabalho" para o turista que
procura apenas uma satisfação direta de uma necessidade recreativa, mas como
"trabalho" para o guia que o conduz.
No entanto, uma importante forma de identificar uma atividade como trabalho é o
valor pago pelo mesmo, isto é, o salário. Uma das características fundamentais do
trabalho é a remuneração, quando não se pode desconsiderar, por exemplo, os
estudantes, as atividades domésticas e os atletas. Estes, por sua vez, devem cada
indivíduo, com sua particularidade, apresentar algum resultado e/ou desempenho
sem, na maioria dos casos serem remunerados.
São muitas as áreas de conhecimento como no caso da Sociologia, Economia,
Administração de empresas, Serviço social, Psicologia, Terapia Ocupacional, entre
outros que incluem em seu campo de estudo as relações do trabalho. No entanto,
uma ciência reconhecida recentemente (1949-1950) a qual procura adaptar o
trabalho ao homem, identificada como Ergonomia, tem recebido muita aceitação por
parte dos pesquisadores (IIDA, 1993).
A palavra Ergonomia vem do grego ergon (trabalho) e nomos (legislação, normas).
Pode ser entendida como a ciência que procura configurar, planejar, adaptar o
trabalho ao homem, respondendo questões levantadas em condições de trabalho
insatisfatórias (DUL e WEERDMEESTER, 1995).
  Sendo esse termo empregado pela primeira vez em 1857, pelo polonês W.
Jastrzebowiski, que o definiu como a ciência da utilização das forças e capacidades
humanas (LANCMAN, 2004).
A Ergonomia possui vantagens em relação às outras áreas do conhecimento que
pesquisam o trabalho, pois apresenta natureza aplicada e em especial, caráter
interdisciplinar. O caráter aplicado está fundamentado na adaptação do posto de
trabalho e do ambiente cotidiano às necessidades e características humanas,
enquanto a interdisciplinaridade significa que a ergonomia se apóia e utiliza
informações de outras áreas do conhecimento humano para alcançar seus objetivos.
A interdisciplinaridade permite ao ergonomista a bagagem para entender as
necessidades e dificuldades do trabalhador e dos mais variados tipos de profissões
existentes em nossa sociedade (MONTMOLLIN, 1995).
Isto é facilitado porque a ergonomia está apoiada em conhecimentos de outras áreas
científicas, como Biomecânica, Fisiologia, Cineantropometria, Anatomia, Arquitetura,
Desenho industrial, Engenharia mecânica, Informática. Estes recursos contribuem
para um relacionamento harmonioso entre o indivíduo e a realização de uma tarefa.
Assim, a Ergonomia se faz presente no projeto e adaptação de ferramentas, armas,
utensílios, máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas de toda natureza às
necessidades e características humanas, com o objetivo de melhorar a segurança,
saúde, conforto e eficiência no trabalho (IIDA, 1993).
A condição de trabalho está, antes de tudo, no ambiente físico (temperatura, pressão,
barulho, vibração, irradiação, altitude e iluminação), no ambiente químico (produtos
manipulados, vapores e gases tóxicos, poeiras, fumaça, etc.), no ambiente biológico
(vírus, bactérias, parasitas e fungos), nas condições de higiene e nas características
antropométricas do posto de trabalho (DEJOURS, 1988).
A condição de trabalho estudada pela Ergonomia, de acordo com Dul e
Weerdmeester (1995), também permite incluir outros aspectos, como posturas e
movimentos corporais (sentado, em pé, empurrando, puxando, levantando pesos,
repetição de movimentos), informações (informações captadas pela visão, audição e
outros sentidos), relações entre mostradores e controles, bem como cargos e tarefas.
A análise e ajuste adequado destes fatores possibilitam projetar ambientes seguros,
saudáveis, confortáveis e eficientes, tanto para o trabalho quanto para as atividades
diárias.
Sendo esta análise do ambiente de trabalho um fornecedor de informações que
podem ser aplicadas na elaboração de instrumentos, para que o homem não fique
exposto a acidentes e a má postura, podendo moldar suas atividades ao conforto,
segurança e eficiência. Assim a ergonomia procura focalizar o homem no projeto de
trabalho e nas atividades cotidianas. As condições de insegurança, insalubridade,
desconforto e ineficiência podem ser eliminadas quando são adequadas às
capacidades e limitações físicas e psicológicas do homem (DUL &
WEERDMEESTER, 1995).
Montmollin (1995) coloca que a Ergonomia deverá analisar também, as
características antropométricas (medidas dos diferentes segmentos do corpo),
características funcionais/motoras (consumo de oxigênio, contrações musculares),
aspectos relacionados à influência do meio ambiente (calor, frio, agentes tóxicos,
ruídos e vibrações), características psicofisiológicas (visão, audição, olfato, o tato e
o tempo de reação), além das características dos ritmos circadianos (que regulam a
atividade biológica no decurso das vinte e quatro horas).
Para Carvalho (1984), a ergonomia propõe preservar o homem da fadiga, do
desgaste físico e mental, colocando-o apto ao trabalho produtivo. Complementa
Lancman (2004) que a ergonomia possui duas abordagens: a Human Factors e
Ergonomia da Atividade Humana. A primeira abordagem citada como enfatiza Mascia
e Sznelwar (apud LANCMAN, 2004) “privilegia a interface entre os componentes
materiais e os fatores humanos”, “leva em conta as características gerais do homem,
para que máquinas e dispositivos técnicos sejam mais bem adaptados aos
operadores...”.
Tendo em vista que a execução de toda atividade humana, seja no trabalho, no
lar, no tempo livre ou rendimento esportivo, requer o emprego de instrumentos,
equipamentos ou acessórios para realizá-la, torna-se evidente a valiosa contribuição
que a Ergonomia poderá fornecer na adaptação e realização destas atividades.




       2.3.      A Profissão de Motorista
O Brasil possui uma grande quantidade de caminhões e ônibus, sendo que o
transporte interno de produtos agrícolas, industrializados, matéria prima,
passageiros, entre outros, é realizado quase que inteiramente por transportes
rodoviários.
A capacidade do ser humano em dominar as máquinas motorizadas lhe proporcionou
uma importante forma de se engajar no mercado de trabalho. O homem quando
dirige um veículo automotivo pode fazê-lo como forma de lazer, necessidades
pessoais ou como instrumento de trabalho. O motorista pode atuar na área de
transporte de cargas, encomendas, passageiros, ou como piloto de veículos de
velocidade. Esta colocação evidencia a grande importância que o motorista
desempenha tanto no setor social quanto econômico.
As exigências do trabalho fazem com que o motorista permaneça muito tempo
sentado e isolado, para garantir segurança na viagem. Estes cuidados são
acentuados quando se transportam passageiros. A manutenção da postura em
equipamentos (bancos), que podem faltar com as condições ergonômicas
necessárias, o estresse em trânsitos congestionados, a poluição, desavenças com o
público (passageiros) e muitos outros, favorecem a caracterização de uma profissão
altamente fatigante MENDES (1997).
Entre outras exigências para a profissão de motorista, a atividade mental, que
para a Ergonomia tem significado especial, engloba alguns aspectos que devem
ser atendidos pelo motorista ou qualquer outro profissional que, em sua situação
laboral, exija uma demanda mental considerável. Grandjean (1998) descreve como
características que definem a atividade mental a recepção de informações, a
memória e a vigilância. Estas, entretanto, são características comuns ao cotidiano,
embora sejam mais exigidas em algumas situações. Assim, atividades laborais que
implicam em receber e analisar informações, processando e emitindo respostas,
memorização de controles, mostradores e botões, manter-se por longos períodos
em estado de vigilância, podem ser entendidas como profissões que necessitam de
elevada participação do sistema nervoso.
Neste sentido, o motorista deve manter a atenção constante, precisão na realização
das ações, autocontrole, direção defensiva, análise e interpretação das informações
fornecidas pelos equipamentos do veículo. O sistema auditivo, visual, a percepção, a
coordenação de movimentos e o raciocínio rápido para manipular os mecanismos e
equipamentos do veículo, estacionar, avançar, desviar, são solicitações que devem
ser percebidas, analisadas e respondidas em fração de segundos. Talvez isto
caracterize a exigência mental, aliada às exigências dos órgãos dos sentidos,
fundamentais na profissão de motorista. Dessa forma, a profissão de motorista torna-
se desgastante também devido à atenção e ao estado de alerta que o profissional
deve manter constantemente.
 Neste aspecto Pegorim e Balistieri (1997) constataram que a atividade do motorista
de ônibus coletivo é penosa, propondo que se regulamente a "penosidade" da
atividade, garantindo-se com isto os direitos destes trabalhadores. Para tanto,
sugerem a formulação de uma NR (Norma Regulamentadora) para incluir na portaria
3.214/78 do Ministério do Trabalho.
                      A     legislação    trabalhista,  conhecida    como      Norma
                      Regulamentadora 17 ou a Norma da Ergonomia, a ciência do
                      trabalho, foi recentemente alterada no sentido de disciplinar as
                      atividades que acarretam sobrecarga muscular (OLIVEIRA e
                      SCAVONE, 1997).
A exigência mental da profissão, combinada com fatores econômicos, administrativos
e sociais, pode aumentar as cargas de estresse no organismo. O estresse é uma
disfunção geradora de distúrbios orgânicos dos mais variados no ser humano
(GRANDJEAN, 1998). São vários os fatores que podem desencadear um estado
de estresse, além deste pode ser favorecido pelo padrão de comportamento do
indivíduo. Por exemplo, o indivíduo com uma personalidade que o caracteriza como
agitado, agressivo, competitivo, impaciente, possui maiores chances de desenvolver
doenças cardíacas (POLLOCK e WILMORE, 1993). Uma pesquisa realizada em
bancários por MONTEIRO, VIEGAS e GONTIJO (1998) revelou que o padrão de
comportamento individual demonstrou uma elevada associação com portadores de
DORT.
2.3.1.                    Exigências Motoras na Atividade do
      Motorista
O pouco espaço que possui para realizar suas tarefas (cabina), o estar sentado,
a atenção nos controles, mostradores localizados no painel, no teto ou em outro
local, exigem do motorista a manutenção repetida de ações básicas para conduzir
adequadamente o veículo. No entanto, as exigências motoras da profissão são
específicas, pois exigem que todo o corpo (cabeça, tronco, membros superiores
e inferiores) seja solicitado de maneira coordenada durante a realização das
atividades.
A coluna vertebral suporta a compressão exercida pela sobrecarga imposta, em
função da força da gravidade (trancos, vibrações e outros fatores externos), e ainda
é solicitada em freqüentes rotações da cabeça e do tronco. Estas ações são leves,
mas em muitos casos prejudiciais para as estruturas da coluna, ombros e pescoço,
porque devem ser realizadas freqüentemente como forma de assegurar a eficiência
da tarefa (PEGORIM e BALISTIERI, 1997).
Na análise ergonômica realizada por Pegorim e Balistieri (1997), foi identificado
um tempo de cinco horas e vinte minutos efetivamente trabalhados no volante,
desconsiderando os intervalos. Também notou um número elevado de movimentos
repetitivos como trocas de marchas, uso da embreagem e do freio. Durante o período
que permaneciam dirigindo o ônibus, os motoristas executavam em média 1415
trocas de marchas e 304 freadas diariamente. Foi registrado até 164 trocas de
marchas por hora, durante “horário de “rush”.
No caso de dirigir ônibus em rodovias, ou em centros urbanos, as exigências tanto
mentais quanto motoras podem apresentar diferenças. Apesar de se adotar os
mesmos princípios de atenção, alerta, trocam de marchas ou outros, suas
intensidades são distintas. Supõe-se que os motoristas de ônibus urbano
demonstram uma carga de trabalho físico maior que as outras categorias de
motoristas (rodoviário), pois são mais exigidos quanto à repetição de movimentos,
congestionamentos, parados e vibrações (PEGORIM e BALISTIERI, 1997).


2.4. Características Mecânicas da Postura Sentada
O estar sentado ou em pé, bem como suas variações (flexionado, deitado, agachado,
inclinado) são posturas adotadas no dia a dia de milhões de trabalhadores em todo
o mundo, e devem ser analisadas para identificar se e quando oferecem riscos para
a saúde. Por um lado, a postura sentada tem a vantagem de provocar uma menor
fadiga nos músculos dos membros inferiores comparada à postura em pé, uma vez
que a permanência em pé exige um maior consumo de energia, ocasionado pelo
trabalho muscular estático. Por outro lado, estar sentado acarreta maior sobrecarga
na coluna vertebral, do que o estar em pé. Nos dias atuais, aproximadamente
três quartos das posturas de trabalho em países industrializados são exercidos na
posição sentada (GRANDJEAN, 1998). Como exemplo, podemos citar o motorista, o
empresário, a secretária e o programador, entre outros.
Quando se analisa genericamente a manutenção da postura no estar sentado no
período escolar, em adição com as atividades profissionais e diárias (em casa, no
lazer), pode-se estimar que o ser humano permaneça muitas horas de sua vida nesta
postura. De acordo com um estudo ergonômico, desenvolvido por Yonamine (1995),
o ambiente escolar possui mobiliários inadequados para atender as necessidades
posturais de crianças e adolescentes. Enfatizando que boa parte de trabalhadores
que procuram órgãos da previdência, convênios médicos, clínicas ou similares,
com intenção de solicitar dispensa do trabalho para tratamento, afastamento e até
aposentadoria precoce, estão relacionados a problemas na coluna vertebral, os quais
podem estar associados às posturas adotadas ao sentar, no início da vida escolar.
Além da necessidade da criança permanecer sentada nos bancos escolares, às
inúmeras opções de lazer como TV, vídeo game, e o surgimento do computador, que
inevitavelmente estão invadindo os lares, são fatores adicionais no estar sentado.
O computador, que a cada dia se torna mais popular, é um instrumento necessário
e importante em todas as áreas de pesquisas e trabalho, para manuseá-lo, é
fundamental e mais confortável que o operador esteja sentado.

2.4.1. Mecânica da Postura Sentada
Mecanicamente, durante a postura ortostática (em pé) a carga imposta sobre a
coluna lombar é de aproximadamente 60% do peso corporal individual, enquanto na
posição sentada isto se eleva para 70%, e pode ultrapassar este valor com o tronco
inclinado (BANKOFF et al. apud YONAMINE, 1995).
Grandjean (1998) coloca que a carga imposta à coluna é de 1.5 vezes maior quando
o indivíduo está sentado do que quando em pé.
Knoplich (1982) cita o exemplo da carga exercida no interior do disco intervertebral
L3 (3º vértebra lombar), em diferentes posições. Assim, para uma pessoa de 70 kg,
quando deitada em decúbito dorsal, o disco suporta uma carga de 25 kg, deitada
lateralmente, se eleva para 75 kg, ficando em pé, 100 kg e se ficar sentada a
carga imposta ao disco aumenta para 150 kg, assim sendo possível observa-se
que, quando se está sentado, a pressão sobre os discos vertebrais é maior do
que quando se está em pé. Contudo, a pressão exercida sobre a coluna vertebral
é distribuída, graças a um eficiente trabalho conjunto de músculos, articulações,
fáscias e ligamentos, entre os discos intervertebrais durante a permanência no estar
sentado.
A compressão nos discos vertebrais pode ser acentuada por um único esforço ou
pela fadiga instalada em decorrência do período prolongado de trabalho, tornando
a musculatura tensa, enfatiza Achour Júnior (1996). O autor comenta que o homem
moderno realiza atividades que o obrigam há permanecer muito tempo sentado ou
em pé, situações que exigem estabilidade músculo - articular para conservação da
postura.




2.4.2. Conseqüências da postura sentada
A inatividade física, por sua vez, relaciona-se com a debilidade muscular, como
rigidez, fraqueza, falta de amplitude articular, excesso de peso e baixa capacidade
cardio-respiratória (POLLOCK e WILMORE, 1993).
Nos estudos de Achour Júnior (1996) o encurtamento e/ou enfraquecimento de
importantes grupos musculares da região dorsal, favorecido pela postura estática
e pela falta de atividade física pode, a longo, prazo proporcionar uma somatória
de efeitos negativos até o surgimento de problemas mais graves. As más posturas
são mais prejudiciais na vida diária de pessoas pouco ativas, como também em
profissões que raramente exigem do trabalhador esforço físicas. O fato de estar
sentado, por si, não reduz em nenhum momento a necessidade dos indivíduos
procurarem programas de atividades físicas como forma de realizar exercícios de
alongamento e fortalecimento muscular.
A solicitação constante ou a deficiência de recrutamento de alguns grupos
musculares produzem um encurtamento muscular (pelo excesso de exigência), e
em geral um enfraquecimento (deficiência de atividade), caso não seja aliado a
exercícios de compensação. A combinação encurtamento/enfraquecimento, por sua
vez, resulta na instabilidade músculo - articular que poderia provocar problemas na
estrutura da coluna vertebral ou no surgimento de dor muscular (rigidez muscular)
em longo prazo (ACHOUR JÚNIOR, 1998). Complementando melhor Achour Júnior
(1996) comenta que a manutenção de um grupo muscular encurtado, aumenta a
estimulação dos agonistas, os tornado mais rígidos, e provoca simultaneamente,
maior enfraquecimento de seus antagonistas.
Existem evidências no sentido de que a permanência prolongada sentado, prejudica
o processo de entrada e saída de nutrientes para o interior do disco intervertebral,
favorecendo o desgaste precoce destas estruturas, uma vez que são estruturas
avasculares. Achour Júnior (1998) coloca que, em qualquer circunstância, atletas ou
não atletas devem atentar para as posturas cotidianas e para as ações motoras,
procurando impedir o encurtamento do sistema muscular. Esta medida pode reduzir
os sintomas de dor localizados na coluna vertebral ou outros segmentos corporais
provocados pelo encurtamento músculo - articular.
Aliado aos problemas de uma postura sentada prolongada são poucos os indivíduos
que adotam e/ou possuem um bom conhecimento sobre como sentar. Além disto,
corre-se o risco de acomodar-se em bancos, cadeiras ou poltronas mal projetadas,
que provocam a sobrecarga na curvatura lombar, comprimindo as vértebras.
2.5.    Doenças Ocupacionais do Sistema Osteomusculares
      relacionados ao trabalho (LER / DORT)

Segundo Michel (2000) no século XVI, algumas observações esparsas surgiram,
evidenciando a possibilidade de o trabalho ser causador de doenças.
No século XVII, Ramazzini, um médico italiano que se dedicou a descrever doenças
ocupacionais, relatou que movimentos violentos e irregulares, bem como posturas
inadequadas durante o trabalho provocavam sérios danos à máquina vital. Aqui cabe
ressaltar “as doenças dos escribas e notários”.
Com esta afirmação, constata-se então que certas atividades ocupacionais,
independentes da época em que são exercidas e da presença de máquinas ou
produção organizada, exigem das pessoas posturas, esforços físicos e mentais que
podem produzir doenças.
Já com o advento da Revolução Industrial, quadros clínicos decorrentes de
sobrecarga estática e dinâmica do sistema osteomuscular tornaram-se mais
numerosos.
Observa-se que dentro das discussões relativas à saúde dos trabalhadores, importa
a discriminação e a análise dos fatores dentro e fora do ambiente de trabalho,
bem como sua repercussão no desencadeamento e na manutenção dos processos
patológicos. Os problemas relativos às extremidades superiores, relacionados ao
trabalho, têm se constituído um grande fator de profundas discussões em termos de
saúde pública em muitos países.
A Saúde, segundo definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), é “um estado
de completo bem-estar físico, mental e social” (FISCHER et al., 1989). Este conceito
propõe uma ligação de todos os elementos presentes no ambiente com o estado
de saúde das pessoas. Onde saúde e doença são estados que dependem da
integridade física e mental do indivíduo, bem como das características físicas e
“emocionais” da sociedade na qual ele vive, mora, trabalha, diverte-se e sofre.
Assunção 1995 relata em seus estudos que as Lesões por Esforços Repetitivos
- LER é afecções de origem ocupacional que atingem os membros superiores,
região escapular e pescoço, resultantes do desgaste muscular, tendinoso, articular e
neurológico provocado pela inadequação do trabalho ao ser humano, e decorrem, de
forma combinada ou não, da manutenção de postura inadequada e do uso repetido
e/ou forçado de grupos musculares.
Miranda (1998) menciona que, diversos estudos têm revelado no desenvolvimento
da LER, a possível contribuição de fatores psicossociais.
Sendo que o trabalho em condições inadequadas, acima referidas, pode provocar o
acometimento de tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias, ligamentos, isolada
ou associadamente, com ou sem degeneração dos tecidos, especialmente dos dedos
da mão, punhos, antebraços, cotovelos, braços, ombros, pescoço e regiões
escapulares, relatada também a ocorrência de afecções de origem ocupacional
em membros inferiores, especialmente atingindo os joelhos. Onde historicamente
essas lesões por esforços repetitivos constituem um fenômeno universal, de grandes
proporções, em constante crescimento. Na verdade, tais lesões já foram registradas
em 1700 pelo médico italiano Ramazzini, que estudou sua ocorrência entre
escriturários. Em 1895, De Quervain descreveu o “entorse das lavadeiras”, depois
denominada tenossinovite do polegar. Contudo, somente a partir da década de
60 o problema ganhou maior dimensão com a incidência crescente de LER entre
trabalhadores de países industrializados.
No Brasil, desde o início da década de 80, alguns sindicatos de trabalhadores
em processamento de dados começaram a denunciar a ocorrência de lesões por
esforços repetitivos entre os digitadores. A partir de 1984/85, com a
redemocratização do país e diante da crescente pressão social exercida pelo
movimento sindical, a Previdência Social começa a reconhecer a existência do
problema e a conceder os primeiros benefícios previdenciários por LER. Contudo,
somente a partir de 1986 a LER passou a assumir relevância crescente nas
estatísticas sobre doenças profissionais, sendo que esse fato pode ser explicado,
em parte, pela rápida absorção pelo nosso país das inovações tecnológicas e pela
importante atuação dos trabalhadores (ROCHA 1989).

Vale recordar que, em nosso país, apenas a partir de 1987 a Previdência Social
passou a considerar a LER como uma doença profissional. (MINISTÉRIO DA
PREVIDÊNCIA SOCIAL, 1993).
Atualmente no mundo a tendência mais moderna para efeitos de atualização do
fenômeno LER é a denominação DORT (distúrbios Osteomusculares Relacionados
ao Trabalho). Destacas o termo “distúrbios”, ao invés de “lesões”, no sentido de
corresponder ao que se percebe na prática, de ocorrerem distúrbios numa fase
precoce.
Sobre esta denominação, Michel (2000) ratifica o parágrafo anterior, expondo que a
terminologia DORT tem sido preferida por alguns autores, a outras tais como: Lesões
por Traumas Cumulativos (LTC), Lesões por Esforços Repetitivos (LER), Doenças
Cervicobraquial Ocupacional (DCO) e Síndrome de Sobrecarga Ocupacional (SSO),
por evitar que na própria denominação já se apontem causas definidas (como por
exemplo, “cumulativo” nas LTC e “repetitivo” nas LER) e os efeitos (como por
exemplo, “lesões nas LTC e LER).” Couto et al. (1998) justifica melhor a questão
anterior no tocante a LTC (lesões por traumas cumulativos), expondo que a mesma
não contempla algumas situações de lesão decorrentes do uso intensivo e de curta
duração, em que não haveria de fato uma lesão por trauma cumulativo. Também
não contempla as situações de dor, ligadas simplesmente a um processo de fadiga
localizada.

                    A instrução normativa do Instituto Nacional de Seguridade
                    Social (INSS) usa a expressão LER/DORT para estabelecer o
                    conceito da síndrome e declara que elas não são frutos ex-
                    clusivos de movimentos repetitivos, mas podem ocorrer pela
                    permanência de segmentos do corpo em determinadas posi-
ções, por tempo prolongado. A necessidade de concentração
                    e atenção do trabalhador para realizar suas atividades e a
                    pressão imposta pela organização do trabalho são fatores que
                    interferem significativamente para a ocorrência da síndrome
                    (Instrução Normativa n. 98. Ministério da Previdência Social:
                    Brasil; 2003).

Ranney (2000) disponibiliza em seu livro a classificação dos grupos de fatores de
risco para LER / DORT segundo KUORINKA & FORCIER, na qual se agrupam da
seguinte maneira:

       è
       Grau de adequação do posto de trabalho à zona de atenção e à visão;
       è
       Frio, vibrações e pressões mecânicas localizadas nos tecidos;
       è
       Posturas inadequadas;
       è
       Cargas musculoesqueléticas;
       è
       Carga estática;
       è
       Invariabilidade da tarefa;
       è
       Exigências cognitivas;
       è
       Fatores organizacionais e psicossociais ligados ao trabalho.
Didaticamente, os fatores de riscos ocupacionais associados ao aparecimento de
LER / DORT podem estar relacionados ao ambiente físico, equipamentos e
mobiliários do posto de trabalho (fatores biomecânicos), à forma de organização do
trabalho (fatores organizacionais) e ao ambiente psíquico, social e de relações no
trabalho (fatores psicossociais).
Ranney (2000) ainda relata que o aparecimento de LER / DORT resulta, em geral,
de um desequilíbrio entre os três fatores mencionados anteriormente, ou, em outras
palavras a sobre carga estática e/ou dinâmica do aparelho osteomuscular agravada,
em geral, pelas reações de estresse.
2.6. Terapia Ocupacional e a Ergonomia

Segundo Coffito (2008) a Terapia Ocupacional é uma área voltada aos estudos,
prevenção e ao tratamento de indivíduos portadores de alterações cognitivas,
afetivas, perceptivas e psicomotoras, decorrentes ou não de distúrbios genéticos,
traumáticos e/ou doenças adquiridas, através da sistematização e utilização da
atividade humana como base de desenvolvimento de projetos terapêuticos
específicos.
 Já a ergonomia foi empregada pela primeira vez em 1857, por W. Jastrzebowiski,
que o definiu como a ciência da utilização das forças e capacidades humanas
(LANCMAN, 2004).
Segundo a Abergo (2008) (Associação Brasileira de Ergonomia) a Ergonomia ou
Fatores Humanos é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das
interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e a aplicação
de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de aperfeiçoar o bem estar
humano e o desempenho global do sistema.
A ergonomia no Brasil passou a ter mais destaque nos anos de 1980, em decorrência
da necessidade de prevenção das LER/DORT, que já acometiam grande número
de trabalhadores, mas especificamente os digitadores da área de processamento de
dados bancários (LANCMAN, 2004).
        A Terapia ocupacional apresentou desenvolvimento na área de reabilitação
física e mental em vista do aumento do número de portadores de incapacidades
físicas e mentais após a 1º e 2º Guerras Mundiais, o desenvolvimento e ascensão
temporariamente coincidentes na Ergonomia, mas voltadas para a melhoria e
eficácia do desempenho do individuo na sua função e dos seus instrumentos
utilizados na guerra (LANCMAN, 2004).
No início, a Terapia Ocupacional era mais voltada para a reabilitação/tratamento e
atualmente preconiza a prevenção de doenças e promoção da saúde; a Ergonomia
preocupava-se em corrigir problemas já instalados (Ergonomia de Correção) e
prevenir problemas (Ergonomia de Mudança) conscientizando os trabalhadores para
a prevenção dos mesmos, voltando-se ultimamente para promoção de saúde com
visão na produtividade, antevendo e evitando problemas ao elaborar projetos e
produtos (LANCMAN, 2004).
Assim tanto a Ergonomia quanto a Terapia Ocupacional utilizam de conceitos de
outras áreas das Ciências Humanas, numa relação de confrontação e de integração
desses diversos conhecimentos. A ergonomia busca, no seu dia-a-dia, um corpo
de conhecimentos que forneça subsídios para a ação, assim como o terapeuta
ocupacional (LANCMAN, 2004).
Por existirem, então, muitas variáveis a ser considerada no contexto do trabalho,
cada situação a ser estudada tem sua singularidade própria, o que também ocorre
na Terapia Ocupacional, uma vez que cada paciente, trabalhador ou empresa, é
um caso singular independentemente da problemática ou patologia apresentada, não
sendo possível generalizar (LANCMAN, 2004).
        A Ergonomia e a Terapia Ocupacional na área da Saúde e do Trabalho
estudam e analisam as questões e contradições individuais e coletivas, incluindo o
processo de adoecimento, diante dessa afinidade, estabelecem-se parcerias entre a
Terapia Ocupacional e a Ergonomia, apontando novos horizontes e perspectivas de
atuação no mercado de trabalho nas áreas de reabilitação, prevenção de doenças e
promoção de saúde (LANCMAN, 2004).




3. METODOLOGIA

Tomando como fundamento a mecânica corporal, enquanto ciências que estuda as
forças estáticas e dinâmicas que agem sobre o corpo humano, o estudo pesquisou
possíveis patologias ocupacionais do sistema osteomuscular, queixas de dores e
desconfortos causados pelo impacto da atividade laborativa e como esse fatores
interferem no desempenho ocupacional em motoristas de ônibus urbano da cidade
de Muriaé, MG, no período de fevereiro a abril de 2009.
         Para participar da pesquisa, foram selecionados todos os profissionais
motoristas ativos da Empresa Coletivos Muriaeense Ltda, localizada em Muriaé
(MG), no total de 55 motoristas com idade entre 27 a 72 anos, gênero masculino
(devido à prevalência deste gênero no quadro funcional da empresa).
         Trata-se de um estudo exploratório, onde os dados foram coletados por
meio de entrevistas, utilizando-se instrumento de pesquisa semi-estruturado (ANEXO
2), desenvolvido pelo próprio pesquisador. O presente instrumento de pesquisa é
composto por nove perguntas, entre elas abertas e fechadas. A entrevista necessita
em média de cinco minutos para que cada profissional forneça as informações.
         Os dados obtidos foram computados manualmente, apresentados em
gráficos estatísticos e analisados.
         Baseado na pesquisa quanti-qualitativa, apenas um instrumento semi-
estruturado foi aplicado aos participantes, de modo que seu preenchimento foi por
vontade própria, após cada motorista ser esclarecido quanto ao objetivo da pesquisa
por meio do termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO 1), onde constam
todos os dados fundamentais da pesquisa que foram repassados aos entrevistados.
        Para Figueiredo (2007) a pesquisa quanti-qualitativa é:

                     (...) um método que associa analise estatístico à investigação
                     dos significados das relações humanas, privilegiando a melhor
                     compreensão do tema a ser estudado, facilitando assim a
                     interpretação dos dados obtidos, é um tipo de abordagem que
                     permite a complementação entre palavras e números, as duas
                     linguagens     fundamentais    da    comunicação      humana
                     (FIGUEIREDO, 2007).


         A corrente filosófica positivista foi utilizada como embasamento para a
presente pesquisa, baseada nas premissas de Comte (2000). Seguindo este
raciocínio, em Figueiredo (2007) diz que, o pensamento positivista nada mais é
do que a expressão da realidade, principalmente quando se parte do princípio de
que tudo na vida, com exceção do sobrenatural, é concreto, ou seja, passível de
explicação. A partir desse momento, é possível observar que as pessoas que lidam
com a ciência são obrigatoriamente positivistas.
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

       A pesquisa foi realizada na Empresa Coletivos Muriaeense Ltda atualmente
apresenta 55 motoristas ativos, de ônibus coletivo de linha urbana e 21 afastados
do trabalho por motivos diversos, entre os quais patologias neurológicas,
osteomusculares, circulatórias e visuais.
        Na pesquisa identificou-se alguns fatores que levam esses profissionais a
sentirem, no futuro, alguns desconfortos, além da tensão e atenção redobrada que
devem ter por exigência da própria profissão.

     FIGURA 1: Lateralidade dos Profissionais Motoristas
                                   Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.

       Dessa amostra – 55 motoristas –, 48 são destros e 7 são canhotos, sendo
que estes encontram um pouco mais de dificuldade na profissão, devido aos veículos
não serem adaptados, resultando maior esforço na realização das manobras e
consequentemente, maior fadiga.



Quanto ao tempo de profissão 3 (5%) tem entre 1 a 3 anos; 6 (11%) tem entre 3 a 5
anos; 9 (16%) tem entre 5 a 10 anos; 7 (12%) tem entre 10 e 15 anos; 6 (11%) tem
de 15 a 20 anos e, 24 (45%) tem mais de 20 anos de profissão, conforme o Gráfico 2
abaixo.

      FIGURA 2: Tempo de Profissão como Motorista
                                     Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.
Em relação ao tempo de empresa 6 (11%) tem até 1 ano; 13 (25%) tem de 1 a 3
anos; 7 (12%) tem de 3 a 5 anos; 11 (20%) tem de 5 à 10 anos; 6 (11%) tem de 10 a
15 anos; 3 (5%) tem de 15 a 20 anos e, 9 (16%) dos motoristas tem mais de 20 anos
de empresa, ou seja, estão na mesma profissão e na mesma empresa há mais de 20
anos.

      FIGURA 3: Tempo de Trabalho como Motorista na Empresa
                                  Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.

Percebe-se que a grande maioria tem mais de 20 anos de profissão e
consequentemente, sentem as consequências físicas, mentais e psicológicas de
tantos anos exercendo a mesma atividade laboral, fazendo os mesmos movimentos
diariamente (esforços repetitivos).
De acordo com a teoria estudada especialistas como Pegorim e Balistieri (1997)
constataram que a profissão de motorista é bastante árdua e em função do desgaste
da referida atividade laboral, propõem inclusive a (re) formulação da NR para garantir
melhores condições de trabalho e segurança para esses profissionais.




A pesquisa confirma tal entendimento, pois mais da metade dos motoristas
entrevistas, ou seja, 28 (51%) sentem alguma dor ou desconforto durante as horas
em que estão trabalhando; 27 (49%) disseram que não tem nada, como mostra o
gráfico abaixo.

FIGURA 4: Motoristas que afirmam sentir ou não Dores / Desconfortos durante o Trabalho
                                     Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.




Quanto ao uso de medicamento a maioria 38 (69%) dos entrevistados disse não usar
nenhum tipo de medicamento; 17 (31%) disseram que tomam algum medicamento.

FIGURA 5: Motoristas que fazem uso ou não de Medicamentos
                                    Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.
Os que afirmaram tomar algum tipo de medicamento 76% tomam analgésicos; 11%
tomam medicação para hipertensão (Captopril entre outros) e, 13% disseram que
tomam antiinflamatórios (Piroxicam entre outros). Presume-se que essa medicação
seja receita por médico, até mesmo a empresa, já em conseqüência do desgaste da
profissão.

FIGURA 6: Tipos de Medicamentos mais usados pelos Motoristas
                                   Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.




Foi perguntado também sobre afastamento por algum motivo e, 17 (31%) disseram
que sim, desses 4 (22%) por LER/DORT; 3 (18%) por Hipertensão Arterial (pressão
alta), o que implica sobremaneira na execução do trabalho do motorista além de
representar alto risco, não só para o profissional, como também para aqueles que
estão sob sua responsabilidade, que são os passageiros; 10 (60%) disseram que
foram afastados das atividades laborais por um motivo ou outro, sem especificar.
O restante, 38 representando 69% dos motoristas, responderam que nunca foram
afastados por motivo nenhum, doença etc.

FIGURA 7: Motoristas que tiveram ou não Afastados do Trabalho
                               Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.
FIGURA 8: Os Tipos de Afastamentos do Trabalho
                                       Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.




Desses motoristas que disseram sentir dores e/ou desconforto, 2 (7%) disseram que
sentem dores há aproximadamente 1 ano; 6 (21%) entre 1 e três anos; 6 (21%) de 3
a 5 anos; 5 (19%) de 10 a 15 anos; 1 (4%) de 15 a 20 anos e, 2 (7%) há mais de 20
anos.

     FIGURA 9: Período de Dores / Desconfortos nestes Motoristas nos quais se queixam
                                     Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.
Aos que queixaram de sentirem dores e/ou algum desconforto a maioria, 19 (21%)
queixaram de dores torácico-lombares; 11 (21%) de dores no ombro; 2 (2,3%) dores
no cotovelo; 4 (4,6%) dores no punho; 4 (4,6%) dores na mão; 14 (16%) queixaram
dores no quadril; 14 (16%) dores no joelho; 4 (4,6%) dores no tornozelo e, 17 (19%)
queixou de dores no pescoço.

FIGURA 10: Regiões das queixas de Dores / Desconfortos
                             Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.




Quanto à idade, a maioria dos motoristas entrevistados tem entre 40 e 50 anos,
sendo assim distribuídos: 8 (15%) tem até 30 anos; 17 (31%) tem até 40 anos; 15
(27%) tem até 50 anos; 10 (18%) tem até 60 anos e, 5 (9%) tem mais de 60 anos.

FIGURA 11: Faixa Etária dos Motoristas de Ônibus Coletivo Urbano
                                        Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.

Mesmo com algumas queixas, todos gostam da profissão e muitos nunca tiveram
outra atividade ocupacional, senão a de motorista.
A pesquisa mostrou que pelo excesso de estresses, conforme esclarece as
literaturas citadas no conteúdo do trabalho, desencadeado por vários fatores, social,
econômico, psicológico, mental etc., os motoristas vivem em constante pressão
incluindo o número elevado de veículos automotores circulando pelas ruas da cidade,
a falta de educação no transito etc., fazem com que esses profissionais fiquem em
constante carga estressante e o ambiente de trabalho ergonomicamente inadequado
favorece ao aparecimento de doenças osteomusculares.




5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

Pelos estudos realizados e análise dos dados obtidos foram encontradas evidências
plausíveis de que, o trabalho de motorista é realmente penoso e extremamente
fatigante, fatores que levam estes profissionais a sentirem, no futuro, alguns
desconfortos e dores, além da tensão e atenção redobrada que devem ter por
exigência da própria profissão. Acrescenta-se a isso o longo período de trabalho
intenso, as atividades realizadas pelo motorista que exigem permanência prolongada
na postura sentada, produzindo desajuste muscular e desconforto postural e
corporal, caracterizado por dor ou perda de conforto em conseqüência de diversos
fatores entre eles a sobrecarga mecânica e condições patológicas.
A pesquisa confirma tal entendimento, pois mais da metade, 51% dos motoristas
entrevistados sentem alguma dor ou desconforto durante as horas em que estão
trabalhando. O tempo de profissão é contribuinte para o adoecimento destes
profissionais, pois 45% estão a mais de 20 anos na mesma atividade laboral sofrendo
seus impactos. Para eliminar ou minimizar as dores são utilizados medicamentos
como analgésicos, anti-inflamatórios para lesões osteomusculares, principalmente na
coluna vertebral e medicações para pressão arterial. Por conseqüência da exposição
desses indivíduos ao ambiente de trabalho ergonomicamente inadequado às
necessidades e características humanas, sofrendo de dores e desconfortos e o longo
período de trabalho, há o possível surgimento de LER/DORT, doenças do sistema
circulatório, distúrbios visuais, entre outros. Acarretando também incapacidades dos
mesmos em continuar a exercer suas atividades, sendo afastados de seus postos de
trabalho decorrentes das doenças ocupacionais.
Portanto são sugeridas alterações na carga horária laboral, utilizando de pausas
estratégicas durante o trabalho para amenizar a fadiga muscular e sobrecarga
mecânica, orientações e modificações ergonômicas no ambiente de trabalho
(cabines), no objetivo de prevenir as doenças ocupacionais do sistema
osteomuscular, e circulatório, doenças nas quais são comuns em acometerem esta
classe trabalhadora, como foram observadas neste estudo.
Estes resultados possibilitaram a formulação de recomendações que viabilize, em
estudos futuros, a introdução de melhorias para o aumento da qualidade de vida
dos motoristas de ônibus coletivo urbano. Os estudos também permitiram identificar
uma afinidade do processo participativo com os motoristas de ônibus, em que as
mudanças podem ocorrer de forma gradativa e experiencial por meio de padrões no
caso das demandas referentes a posto de trabalho e físico ambiental, ou através de
possíveis adaptações no conteúdo da tarefa do motorista no caso das demandas
referentes à organização do trabalho. Tudo isto visando o atendimento, por ordem
de importância, dos itens de demanda ergonômica. Considerando que para estes
trabalhadores os fatores acima são geradores de afastamentos, com consequente
redução de salário, o que gera constrangimentos, alteração da auto-estima, estresse
e depressão, comprometendo a qualidade de vida.
O Terapeuta Ocupacional analisa as práxis laborais e a partir dessa percepção
contribui na prevenção e redução dos agravos à saúde, valorizando o trabalhador
como indivíduo e favorecendo o bem estar social. Ao analisar as etapas desse
processo, o Terapeuta Ocupacional, contribui para o menor número de afastamentos
e consequentemente na redução dos custos da seguridade social.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia. O que é Ergonomia. Disponível
em: <http://www.abergo.org.br/oqueeergonomia.htm>.
ASSUNÇÃO, A. A. Sistema Músculo - Esquelético: Lesões por Esforços Repetitivos
(LER). In: MENDES, R. (Org.). Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro: Editora
Atheneu, 1995.
ARTIGO - Transporte Coletivo por Ônibus. Orlando Augusto Nunes – Acadêmico
em Tecnologia de Transporte – CEFET-GO Prof.:(a): Engª Patríca Margon.
ACHOUR JÚNIOR, A. Avaliando a flexibilidade: manual de instruções. Londrina:
Midiograf, 1997.
BRASIL, MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Ler lesões por esforços
repetitivos: normas técnicas        para avaliação da incapacidade.       Brasília:
MPS, ACS, 1993.
COMTE, A. – Curso de Filosofia Positiva - Discurso Preliminar Sobre o Conjunto
do Positivismo – Catecismo Positivista; Nova Cultural Ltda; 2000.
COUTO, H. A. et al. Como gerenciar a questão das LER/DORT: lesões por
esforços repetitivos, distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Belo
Horizonte: Ergo, 1998.
CARVALHO, A. M. Ergonomia e produtividade. Revista Brasileira de Saúde
Ocupacional, v.12, n.48, 1984.
DUL, WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. (Traduzido por Itiro Iida)
São Paulo, Edgard Blucher, 1995.
DEJOURS, C., 1988. A loucura do Trabalho: Estudo da psicologia do Trabalho, 3°
edição, Oboré: São Paulo.
Estudo dos constrangimentos físicos e mentais sofridos pelos motoristas de
ônibus urbano da cidade do Rio de Janeiro / Elisângela Azevedo Viana Gomes
da Costa; orientador: Claudia Mont’Alvão. – (Rio de Janeiro: PUC, Departamento de
Artes e Design, 2006).
F. GUÉRIN, A. LAVILLE, F. DANIELLOU, J. DURAFFOURG, A. KERGUELEN –
Compreender o Trabalho para Transformá-lo - A PRÁTICA DA ERGONOMIA;
Universidade de São Paulo – Departamento de Engenharia de Produção; ed. Edgard
Blücher Ltda; 2001.
FIGUEIREDO, Nébia Maria Almeida – Método e metodologia na pesquisa
científica; - 2. Ed. rev. – São Caetano do Sul, SP: Yendis Editora, 2007.
FICHER, F. M.; GOMES, J. R.; COLACIOPPO, S. Tópicos de saúde do
trabalhador. São Paulo: Hucitec, 1989.
GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul
Ltda., 1998.

IIDA, I. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo: Edgard Blucher, 1993
Instrução Normativa n. 98. Ministério da Previdência Social: Brasil; 2003.

KNOPLICK, J. Viva bem com a coluna que você tem: dores nas costas, tratamento
e prevenção. 14ª ed. São Paulo: Ibrasa, 1982.

LEWERGGER, T. M. C.; GARCEZ, V. F. A eficácia da mobilização neural em
funcionários de instituição pública portadores de DORT/LER. Multitemas, Campo
Grande, n. 24, p. 103-116, 2002. LER - LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS
UMA PROPOSTA DE AÇÃO PREVENTIVA Carlos Roberto Miranda e Carlos
Roberto Dias 1998.
LACMAN, Selma – Saúde, trabalho e Terapia Ocupacional; São Paulo; Rocea
2004.
MICHEL, O. Acidentes do trabalho e doenças ocupacionais. São Paulo: Ltr, 2000.

SANTOS, Neri dos; FIALHO, F. A. P. Manual de análise ergonômica do trabalho.
Curitiba: Gênesis, 1997.

MENDES, L.R. Serviço essencial x Trabalho penoso. Análise das condições
de Trabalho de Motorista de Ônibus coletivos urbanos na cidade de Belo
Horizonte. Dissertação. Belo Horizonte: Centro de Pós-graduação e Pesquisas em
Administração. Universidade Federal de Minas Gerais; 1997.

MENDES, R. Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995.

MONTMOLLIN, M. A ergonomia. Lisboa. Instituto Piaget, 1995.
MONTEIRO, J.C.; VIEGAS, R.S.; GONTIJO, L.A. LER: O sofrimento. Proteção,
junho, 1993.
MICHEL, O. Acidentes do trabalho e doenças ocupacionais. São Paulo: Ltr, 2000.

MINAYO, Maria Cecília de Souza – O desafio do conhecimento: pesquisa
qualitativa em saúde. São Paulo; Hucitec, 2004.

OLIVEIRA, Eleonora Menicucci de & SCAVONE, Lucila. (orgs.) Trabalho,
saúde e gênero na era da globalização. Goiânia, AB Editora, 1997.

PEGORIM, A.S.; BALISTIERI, W. Análise ergonômica do posto de trabalho do
motorista de ônibus urbano. Blumenau, 1997. Monografia, UFSC: Universidade
Regional de Blumenau SC.

POLLOCK, M.L.; WILMORE, J.H. Exercícios na saúde e na doença: Avaliação e
prescrição para prevenção e reabilitação. 2º ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1993.
ROCHA, L. E. Tenossinovite como doença do trabalho no Brasil: a atuação
dos trabalhadores. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Medicina da USP, São
Paulo, 1989.
YONAMINE, R.S. Estudo biomecânico entre dimensões de móveis escolares e
medidas antropométricas, na posição sentada, de estudantes da pré-escola a 4º
série do 1º grau de uma escola pública municipal de Campo Grande-MS. Campo
Grande, 1995. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
ANEXOS




A1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
CURSO DE TERAPIA OCUPACINOAL
          TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
      ALUNO: Felipe Aredes Galvão ORIENTADOR: Ivens M. O. Pereira




Eu,____________________________________________________________,
ciente das informações recebidas concordo com a participação na pesquisa intitulada
“Doença Ocupacional: Um estudo acerca da postura dos trabalhadores de ônibus
coletivo da cidade de Muriaé”, que será realizada sob responsabilidade de Felipe
Aredes Galvão, graduando do curso de Terapia Ocupacional da Faminas –
Faculdade de Minas, pois estou informado de que em nenhum momento estarei
exposto a riscos causados pela participação no estudo e de que poderei a qualquer
momento recusar ou anular o consentimento por mim assinado, sem nenhum
prejuízo para minha pessoa.
Estou ciente também de que os resultados encontrados no estudo serão usados
apenas para fins científicos. Fui informado de que não terei nenhum tipo de despesa
ou gratificação pela referida participação nesta pesquisa,
 E de que terei acesso aos resultados publicados em períodos científicos.
        Pelo exposto, concordo voluntariamente em participar no referido estudo.




______________________________               ___________________________
   Assinatura do Pesquisador                   Assinatura do Participante
         (Acadêmico)                                   (Motorista)




A2 Instrumento     de   Pesquisa   semi-estruturado,   desenvolvido   pelo   próprio
pesquisador
CURSO DE TERAPIA OCUPACINOAL
                          INSTRUMENTO DE PESQUISA
          ALUNO: Felipe Aredes Galvão ORIENTADOR: Ivens M. O. Pereira

                                              ENTREVISTA

     1.   Nome: _____________________________________ Idade:_____________

     2.   Lateralidade: ( ) Destro ( ) Sinistro / Canhoto

     3.   Qual tempo de trabalho nesta profissão?

          ( ) Até 1 Ano           ( ) 1 à 3 Anos   ( ) 3 à 5 Anos ( ) 5 à 10 Anos
          ( ) 10 à 15 Anos        ( ) 15 à 20 Anos ( ) Mais de 20 Anos

     4.   Qual o tempo de serviço nesta empresa?

          ( ) Até 1 Ano           ( ) 1 à 3 Anos   ( ) 3 à 5 Anos ( ) 5 à 10 Anos
          ( ) 10 à 15 Anos        ( ) 15 à 20 Anos ( ) Mais de 20 Anos

     5.   Durante a realização da atividade laboral, sente dores ou desconfortos?

          ( ) Sim      ( ) Não

     6.   Qual o local destas dores e desconfortos?

          ( ) Pescoço       ( ) Ombro         ( ) Cotovelo ( ) Punho                ( ) Mão
          ( ) Quadril       ( ) Joelho        ( ) Tornozelo

     7.   Faz uso de alguma medicação para estes desconfortos e dores?

          ( ) Sim     ( ) Não Quais? ________________________________________

     8.   Teve afastamentos relativos ao trabalho?

          ( ) Sim ( ) Não          Quais? ________________________________________

     9.   Quanto tempo sente estes desconfortos e dores devido à atividade laboral?

          ( ) Até 1 Ano           ( ) 1 à 3 Anos   ( ) 3 à 5 Anos ( ) 5 à 10 Anos
          ( ) 10 à 15 Anos        ( ) 15 à 20 Anos ( ) Mais de 20 Anos


[1] Mais-valia é conceito formulado por Karl Marx relativo à diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o
salário pago ao trabalhador, que seria a base da exploração no sistema capitalista. (Marx, 1998)

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  • 1. FACULDADE DE MINAS – FAMINAS Felipe Aredes Galvão DOENÇAS OCUPACIONAIS DO SISTEMA OSTEOMUSCULAR E SUAS CORRELAÇÕES COM A ATIVIDADE DE MOTORISTA DE ÔNIBUS COLETIVO URBANO MURIAÉ 2009. Felipe Aredes Galvão
  • 2. DOENÇAS OCUPACIONAIS DO SISTEMA OSTEOMUSCULAR E SUAS CORRELAÇÕES COM A ATIVIDADE DE MOTORISTA DE ÔNIBUS COLETIVO URBANO Monografia apresentada por Felipe Aredes Galvão, como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em Terapia Ocupacional, sob a orientação do professor Ivens M. O. Pereira. MURIAÉ 2009.
  • 3. Galvão, Felipe Aredes Doenças ocupacionais do sistema osteomuscular e suas correlações com a atividade de motorista de ônibus coletivo. Muriaé, Faculdade de Minas (Curso de Terapia Ocupacional) 2009. Bibliografia Monografia apresentada à Faculdade de Minas para obtenção do título de Bacharel em Terapia Ocupacional. 1.Doenças Ocupacionais. 2.Osteomuscular. 3.Motorista. 4.Ônibus. 5.Ergonomia
  • 4. Dedico aos meus pais, meus amigos e, em especial, ao meu orientador por onde me espelho como futuro profissional. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, aos meus pais pelo incentivo, carinho e o amor incondicional. À empresa Transporte Coletivo Muriaeense e aos motoristas que me acolheram com respeito e carinho, pois graças a eles este trabalho pode ser desenvolvido. Ao meu orientador Ivens M. O. Pereira, por sua dedicação em me orientar, o meu muito obrigado. Felipe Aredes Galvão SUMÁRIO Página RESUMO iii ABSTRACT iv
  • 5. LISTA DE TABELAS vi LISTA DE ANEXOS vii 1 INTRODUÇÃO 8 2 FUNDAMENTAÇÃO TEORICA 10 2.1 Relações Trabalho Saúde 10 2.2 O Trabalho e a Ergonomia 13 2.3 A Profissão de Motorista 16 2.3.1 Exigências motoras na atividade do motorista 18 2.4 Características Mecânicas da Postura Sentada 19 2.4.1 Mecânica da Postura Sentada 20 2.4.2 Conseqüências da Postura Sentada 21 2.5 Doenças Ocupacionais do Sistema Osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/DORT) 23 2.6 Terapia Ocupacional e a Ergonomia 27 3 METODOLOGIA 29 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 31 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES 42 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44 RESUMO GALVÃO, Felipe Aredes. DOENÇAS OCUPACIONAIS DO SISTEMA OSTEOMUSCULAR E SUAS CORRELAÇÕES COM A ATIVIDADE DE MOTORISTA DE ÔNIBUS COLETIVO URBANO. Muriaé, MG, 2009. 50 p. Monografia para obtenção do título de Bacharel em Terapia Ocupacional, sob orientação da Profº. Ivens M. O. Pereira. Curso de Terapia Ocupacional. Faculdade de Minas - FAMINAS
  • 6. Sendo a mecânica corporal, enquanto ciências que estuda as forças estáticas e dinâmicas que agem sobre o corpo humano, o estudo pesquisou possíveis patologias ocupacionais do sistema osteomuscular, queixas de dores e desconfortos causados pelo impacto da atividade laborativa e como esse fatores interferem no desempenho ocupacional em motoristas de ônibus coletivo urbano, no período de fevereiro a abril de 2009. Trata-se de um estudo exploratório, onde os dados foram coletados por meio de entrevistas, utilizando-se instrumento de pesquisa semi-estruturado. A amostra constitui de 55 motoristas ativos com idade entre 27 a 72 anos, gênero masculino da Empresa Coletivos Muriaeense Ltda, localizada em Muriaé (MG). Pelos estudos realizados e análise dos dados obtidos foram encontradas evidências de que, o trabalho de motorista é realmente penoso e fatigante, fatores que levam estes profissionais a sentirem, no futuro, alguns desconfortos e dores, além da tensão e atenção redobrada que devem ter por exigência da própria profissão. Assim as atividades realizadas pelo motorista, em um ambiente de trabalho ergonomicamente inadequado, exigindo a permanência prolongada na postura sentada, produzem desajuste muscular e desconforto postural e corporal, caracterizado por dor ou perda de conforto em conseqüência de diversos fatores entre eles a sobrecarga mecânica e condições patológicas. Favorecendo o surgimento de LER/DORT, doenças do sistema circulatório, distúrbios visuais, entre outros, acarretando também incapacidades dos mesmos em continuar a exercer suas atividades, sendo afastados de seus postos de trabalho decorrentes das doenças ocupacionais. Palavras Chaves: 1.Doenças Ocupacionais. 2.Osteomuscular. 3.Motorista. 4.Ônibus. 5.Ergonomia. ABSTRACT GALVÃO, Felipe Aredes. DOENÇAS OCUPACIONAIS DO SISTEMA OSTEOMUSCULAR E SUAS CORRELAÇÕES COM A ATIVIDADE DE MOTORISTA DE ÔNIBUS COLETIVO URBANO. Muriaé, MG, 2009. 50 p. Monografia para obtenção do título de Bacharel em Terapia Ocupacional, sob orientação da Profº. Ivens M. O. Pereira. Curso de Terapia Ocupacional. Faculdade de Minas - FAMINAS
  • 7. As the body mechanics, as a science that studies the static and dynamic forces that act on the human body, the study focused on the possible occupational diseases of the musculoskeletal system, complaints of pain and discomfort caused by the impact of labor activity and how such factors influence the occupational performance drivers in urban public bus, from February to April 2009. This is an exploratory study, where data were collected through interviews, using a search tool semi-structured. The sample consisted of 55 active drivers aged 27 to 72 years, male Collective Muriaeense Company Ltd., located in Muriaé (MG). Those studies and data analysis found no evidence that the work's license is really painful and fatiguing, factors that lead these professionals to feel in the future, some discomfort and pain, and tension and increased attention should concentrate on requirement of the profession. Thus the activities of the driver in a work environment ergonomically inadequate, requiring prolonged sitting posture, produce misfit and muscular discomfort and body posture, characterized by pain or loss of comfort as a result of several factors including the mechanical overload and pathological conditions. Favoring the appearance of LER/ DORT, diseases of the circulatory system, visual disturbances, among others, also causing the same disability to continue to exercise their activities, being away from their jobs resulting from occupational diseases. Keywords: 1.Occupational Diseases. 2.Musculoskeletal. 3.Driver. 4.Bus. 5.Ergonomics. LISTA DE TABELAS Página FIGURA 1: Lateralidade dos Profissionais Motoristas 31 FIGURA 2: Tempo de Profissão como Motorista 32 FIGURA 3: Tempo de Trabalho como Motorista na Empresa. 33 FIGURA 4: Motoristas que afirmam sentir ou não Dores / Desconfortos34 durante o Trabalho
  • 8. FIGURA 5: Motoristas que fazem uso ou não de Medicamentos 35 FIGURA 6: Tipos de Medicamentos mais usados pelos Motoristas 36 FIGURA 7: Motoristas que tiveram ou não Afastados do Trabalho 37 FIGURA 8: Os Tipos de Afastamentos do Trabalho 38 FIGURA 9: Período de Dores / Desconfortos nestes Motoristas nos quais 39 se queixam 40 FIGURA 10: Locais das queixas de Dores / Desconfortos FIGURA 11: Idade dos Motoristas de Ônibus Coletivo Urbano 41 LISTA DE ANEXOS Página A1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 49 A2 Instrumento de Pesquisa semi-estruturado, desenvolvido pelo próprio50 pesquisador
  • 9. 1. INTRODUÇÃO A palavra trabalho “abrange várias realidades, como mostra seu uso corrente. É utilizada, conforme o caso, para designar as condições de trabalho (trabalho penoso, trabalho pesado...), o resultado do trabalho (um trabalho malfeito, um trabalho de primeira...) ou a própria atividade de trabalho (fazer seu trabalho, um trabalho meticuloso, estar sobrecarregado de trabalho...). Em primeira análise, a atividade se opõe à inércia. É o conjunto dos fenômenos fisiológicos, psicológicos..., que caracterizam o ser vivo cumprindo atos. Estes resultam de um movimento do conjunto do homem (corpo, pensamento, desejos, representações, história) adaptado a esse objetivo. No caso do trabalho, esse objetivo é socialmente determinado. Sem atividade humana não há trabalho, mas pode haver uma produção. Um automatismo, por exemplo, materializa de certo modo o trabalho necessário a sua concepção, fabricação e manutenção e transmite a cada unidade produzida uma parte do valor desse trabalho” (F. GUÉRIN, 2001). A profissão de motorista é considerada árdua e penosa. As exigências do trabalho fazem com que o motorista permaneça muito tempo sentado e isolado, para garantir segurança na viagem. Estes cuidados são acentuados quando se transportam passageiros. A manutenção da postura em equipamentos (bancos), que podem faltar com as condições ergonômicas necessárias, o estresse em trânsitos congestionados, a poluição, desavenças com o público (passageiros) e muitos outros, favorecem a caracterização de uma profissão altamente fatigante (MENDES, 1997). Justifica-se a pesquisa em um estudo direcionado à classe trabalhadora, em específico os motoristas de ônibus urbano focando as doenças geradas nesta classe, devido a diversos fatores ergonômicos envolvidos nessa atividade laboral. Segundo Lancman (2004), a ergonomia nasceu da constatação de que o homem não é uma máquina como as outras, das patologias e infrapatologias específicas do trabalho e da necessidade de responder questões levantadas pelas situações de trabalho insatisfatórias. Surgindo da fusão de duas correntes, a produtivista, que compreende o funcionamento do homem em atividade profissional para adaptar as ferramentas, máquinas, os espaços de trabalho, os ambientes e organizações no trabalho, e a higienista, que entende os efeitos negativos do trabalho sobre o homem para suprimir suas causas. Tomando como fundamento a mecânica corporal, enquanto ciência que estuda as forças estáticas e dinâmicas que agem sobre o corpo humano, o estudo pesquisou possíveis patologias ocupacionais do sistema osteomuscular, queixas de dores e desconfortos causados pelo impacto da atividade laboral e como esse fatores interferem no desempenho ocupacional em motoristas de ônibus urbano da cidade de Muriaé, MG, no período de fevereiro a abril de 2009. Para participar da pesquisa,
  • 10. foram selecionados todos os profissionais motoristas ativos da Empresa Coletivos Muriaeense Ltda, localizada em Muriaé (MG), no total de 55 motoristas, gênero masculino. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. Relações Trabalho e Saúde O trabalho, na atualidade, reveste-se de muitos significados, dependendo da ciência que o traz como enfoque: Biologia, Física, Ciências Sociais, dentre outras. Trabalho, segundo Selma Lancman (2004), é definido como: (...) aquilo que se faz, a relação com todos os aspectos que o envolvem, produz a Inteligência, modifica o corpo, as relações sociais e constitui o individuo psiquicamente. Neste sentido, o trabalho é entendido como um continuum, que se estende para além dele e influência todas as esferas da vida humana (LANCMAN, 2004). Para Marx (apud COHN e MARSIGLIA, 1994: 56), o trabalho é “a ação dos homens sobre a natureza, transformando-a intencionalmente”. As várias escolas clássicas da teoria social encontram na categoria trabalho o elemento central para a compreensão das sociedades contemporâneas, compreendidas como “sociedades do trabalho”. É definidas em Marx, Durkheim e Weber. Trazer o trabalho para o cerne da explicação das regularidades sociais não significa aderir a uma única perspectiva de análise. Tanto assim é que, enquanto para Marx o trabalho gera conflito, para
  • 11. Durkheim ele é fonte de solidariedade e de coesão sociais. (COHN e MARSIGLIA, 1994). O reconhecimento da relação entre saúde e trabalho são antigos na historia, mudando apenas a forma de apreender esta relação e o modo de lidar com ela. Observa-se que somente considera nos campos de investigação e intervenção a comparação existente entre si e quando seus efeitos se tornam lesivos aos interesses da produção ou geram conflitos e resistências por parte dos trabalhadores. (GOMEZ et al, 1992). O processo de transformação da natureza feita pelos homens acarretou conseqüências para saúde, sofrendo grandes modificações no decorrer da história até chegar ao capitalismo que vivenciamos. Desde a antigüidade podem-se encontrar relatos de doenças advindas do trabalho. Os escritos de Hipócrates sobre a intoxicação saturnina em um mineiro possibilitaram estabelecer o sentido com a atividade laboral. Mas, já naquele momento a relação saúde-doença-trabalho não faziam parte das preocupações dos estudiosos da época, uma vez que a força produtiva era, em sua maioria, de escravos. A idade média fora marcada pelo valor atribuído aos metais preciosos, fomentou observações quanto ao estado de saúde das pessoas envolvidas na extração mineral (MENDES, 1995). A importância atribuída aos metais prolongou-se por outros períodos históricos perpetuando os riscos à saúde. Desta forma, na idade moderna encontramos relatos de Georgius Agrícola (1556), que após o estudo de aspectos relacionados à extração e fundição de metais, destaca a “asma dos mineiros, cuja descrição dos sintomas e a rápida evolução sugerem tratar-se de silicose, eventualmente acompanhada de câncer de pulmão” (MENDES, 1995). Em 1700 foi publicado o livro de Bernardino Ramazzini cujo título, “De Morbis Artificum Diatriba”, obra fundamental para a patologia do trabalho, onde são descritas as doenças que ocorrem em 50 diferentes ocupações da época. Ramazzini propõe, acrescentar-se às investigações médicas o questionamento sobre a ocupação (MENDES, 1995). Entre 1760 e 1850 desenvolveu-se a fase histórica que se tornou mais evidentes as conseqüências das más condições de vida e trabalho à saúde, pois neste período ocorria a Revolução Industrial, estabelecendo uma maior abrangência no modo de produção capitalista, foi produzido uma alteração profunda nas relações homem- natureza e homem-homem. Neste modelo apenas um grupo da sociedade apropria- se dos meios de produção, em detrimento da maioria que possuía parte de seu trabalho revertido em mais valia[1] (MENDES, 1995). No processo de trabalho onde o uso de maquinaria é hegemônico, dá-se a substituição das ferramentas artesanais e da força humana pelas máquinas. Aprofundam a separação entre concepção e execução do trabalho que agora é organizado segundo as operações da maquinaria. Há dificuldades no conhecimento da totalidade do processo. Neste momento cria-se a remuneração por volume de produção, levando os trabalhadores a aumentar voluntariamente o seu ritmo de trabalho (COHN e MARSIGLIA, 1994). Aumentam os riscos físico-químicos, intensifica-se o ritmo de trabalho, e as técnicas tayloristas, fayolistas e fordistas de gestão provocam a fadiga física e mental. A exigência de esforço físico vem acompanhada, assim, de significativo desgaste
  • 12. psíquico do trabalhador expresso em sintomatologia de fadiga, estresse e demais patologias psicossomáticas e nervosas (COHN e MARSIGLIA, 1994). A inserção diferenciada nos processos produtivos determina formas desiguais de adoecer, portanto acrescentam uma carga de maiores riscos à saúde. Além, daqueles compartilhados entre a população em sua grande maioria, submetida às mesmas condições de vida. Dentro dos seus respectivos ambientes de trabalho, suas condições de organização provocam situações que determinam cargas diversas e sobrecargas aos trabalhos, quer em conjunto e/ou individualmente. 2.2. O Trabalho e a Ergonomia Santos (1997) define o trabalho como uma atividade própria do ser humano enquanto ser social. Existem vários entendimentos para a atividade laboral, de acordo com a forma de abordagem. Em uma das análises mais ressaltadas procurou-se diferenciar as atividades humanas de trabalho. Para os pesquisadores, a distinção deve recair na classificação das atividades do homem em "trabalho" e "não trabalho". Como exemplos citam a atividade de colher uma fruta: quando o objetivo é apenas comê- la, não seria trabalho, contudo a mesma ação com objetivo comercial caracterizar- se-ia como uma situação laboral. Outro exemplo pode ser encontrado no lazer, onde a atividade humana pode caracterizar-se como "não trabalho" para o turista que procura apenas uma satisfação direta de uma necessidade recreativa, mas como "trabalho" para o guia que o conduz. No entanto, uma importante forma de identificar uma atividade como trabalho é o valor pago pelo mesmo, isto é, o salário. Uma das características fundamentais do trabalho é a remuneração, quando não se pode desconsiderar, por exemplo, os estudantes, as atividades domésticas e os atletas. Estes, por sua vez, devem cada indivíduo, com sua particularidade, apresentar algum resultado e/ou desempenho sem, na maioria dos casos serem remunerados.
  • 13. São muitas as áreas de conhecimento como no caso da Sociologia, Economia, Administração de empresas, Serviço social, Psicologia, Terapia Ocupacional, entre outros que incluem em seu campo de estudo as relações do trabalho. No entanto, uma ciência reconhecida recentemente (1949-1950) a qual procura adaptar o trabalho ao homem, identificada como Ergonomia, tem recebido muita aceitação por parte dos pesquisadores (IIDA, 1993). A palavra Ergonomia vem do grego ergon (trabalho) e nomos (legislação, normas). Pode ser entendida como a ciência que procura configurar, planejar, adaptar o trabalho ao homem, respondendo questões levantadas em condições de trabalho insatisfatórias (DUL e WEERDMEESTER, 1995). Sendo esse termo empregado pela primeira vez em 1857, pelo polonês W. Jastrzebowiski, que o definiu como a ciência da utilização das forças e capacidades humanas (LANCMAN, 2004). A Ergonomia possui vantagens em relação às outras áreas do conhecimento que pesquisam o trabalho, pois apresenta natureza aplicada e em especial, caráter interdisciplinar. O caráter aplicado está fundamentado na adaptação do posto de trabalho e do ambiente cotidiano às necessidades e características humanas, enquanto a interdisciplinaridade significa que a ergonomia se apóia e utiliza informações de outras áreas do conhecimento humano para alcançar seus objetivos. A interdisciplinaridade permite ao ergonomista a bagagem para entender as necessidades e dificuldades do trabalhador e dos mais variados tipos de profissões existentes em nossa sociedade (MONTMOLLIN, 1995). Isto é facilitado porque a ergonomia está apoiada em conhecimentos de outras áreas científicas, como Biomecânica, Fisiologia, Cineantropometria, Anatomia, Arquitetura, Desenho industrial, Engenharia mecânica, Informática. Estes recursos contribuem para um relacionamento harmonioso entre o indivíduo e a realização de uma tarefa. Assim, a Ergonomia se faz presente no projeto e adaptação de ferramentas, armas, utensílios, máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas de toda natureza às necessidades e características humanas, com o objetivo de melhorar a segurança, saúde, conforto e eficiência no trabalho (IIDA, 1993). A condição de trabalho está, antes de tudo, no ambiente físico (temperatura, pressão, barulho, vibração, irradiação, altitude e iluminação), no ambiente químico (produtos manipulados, vapores e gases tóxicos, poeiras, fumaça, etc.), no ambiente biológico (vírus, bactérias, parasitas e fungos), nas condições de higiene e nas características antropométricas do posto de trabalho (DEJOURS, 1988). A condição de trabalho estudada pela Ergonomia, de acordo com Dul e Weerdmeester (1995), também permite incluir outros aspectos, como posturas e movimentos corporais (sentado, em pé, empurrando, puxando, levantando pesos, repetição de movimentos), informações (informações captadas pela visão, audição e outros sentidos), relações entre mostradores e controles, bem como cargos e tarefas. A análise e ajuste adequado destes fatores possibilitam projetar ambientes seguros, saudáveis, confortáveis e eficientes, tanto para o trabalho quanto para as atividades diárias. Sendo esta análise do ambiente de trabalho um fornecedor de informações que podem ser aplicadas na elaboração de instrumentos, para que o homem não fique exposto a acidentes e a má postura, podendo moldar suas atividades ao conforto, segurança e eficiência. Assim a ergonomia procura focalizar o homem no projeto de trabalho e nas atividades cotidianas. As condições de insegurança, insalubridade,
  • 14. desconforto e ineficiência podem ser eliminadas quando são adequadas às capacidades e limitações físicas e psicológicas do homem (DUL & WEERDMEESTER, 1995). Montmollin (1995) coloca que a Ergonomia deverá analisar também, as características antropométricas (medidas dos diferentes segmentos do corpo), características funcionais/motoras (consumo de oxigênio, contrações musculares), aspectos relacionados à influência do meio ambiente (calor, frio, agentes tóxicos, ruídos e vibrações), características psicofisiológicas (visão, audição, olfato, o tato e o tempo de reação), além das características dos ritmos circadianos (que regulam a atividade biológica no decurso das vinte e quatro horas). Para Carvalho (1984), a ergonomia propõe preservar o homem da fadiga, do desgaste físico e mental, colocando-o apto ao trabalho produtivo. Complementa Lancman (2004) que a ergonomia possui duas abordagens: a Human Factors e Ergonomia da Atividade Humana. A primeira abordagem citada como enfatiza Mascia e Sznelwar (apud LANCMAN, 2004) “privilegia a interface entre os componentes materiais e os fatores humanos”, “leva em conta as características gerais do homem, para que máquinas e dispositivos técnicos sejam mais bem adaptados aos operadores...”. Tendo em vista que a execução de toda atividade humana, seja no trabalho, no lar, no tempo livre ou rendimento esportivo, requer o emprego de instrumentos, equipamentos ou acessórios para realizá-la, torna-se evidente a valiosa contribuição que a Ergonomia poderá fornecer na adaptação e realização destas atividades. 2.3. A Profissão de Motorista O Brasil possui uma grande quantidade de caminhões e ônibus, sendo que o transporte interno de produtos agrícolas, industrializados, matéria prima, passageiros, entre outros, é realizado quase que inteiramente por transportes rodoviários. A capacidade do ser humano em dominar as máquinas motorizadas lhe proporcionou uma importante forma de se engajar no mercado de trabalho. O homem quando dirige um veículo automotivo pode fazê-lo como forma de lazer, necessidades pessoais ou como instrumento de trabalho. O motorista pode atuar na área de transporte de cargas, encomendas, passageiros, ou como piloto de veículos de velocidade. Esta colocação evidencia a grande importância que o motorista desempenha tanto no setor social quanto econômico. As exigências do trabalho fazem com que o motorista permaneça muito tempo sentado e isolado, para garantir segurança na viagem. Estes cuidados são acentuados quando se transportam passageiros. A manutenção da postura em equipamentos (bancos), que podem faltar com as condições ergonômicas necessárias, o estresse em trânsitos congestionados, a poluição, desavenças com o público (passageiros) e muitos outros, favorecem a caracterização de uma profissão altamente fatigante MENDES (1997).
  • 15. Entre outras exigências para a profissão de motorista, a atividade mental, que para a Ergonomia tem significado especial, engloba alguns aspectos que devem ser atendidos pelo motorista ou qualquer outro profissional que, em sua situação laboral, exija uma demanda mental considerável. Grandjean (1998) descreve como características que definem a atividade mental a recepção de informações, a memória e a vigilância. Estas, entretanto, são características comuns ao cotidiano, embora sejam mais exigidas em algumas situações. Assim, atividades laborais que implicam em receber e analisar informações, processando e emitindo respostas, memorização de controles, mostradores e botões, manter-se por longos períodos em estado de vigilância, podem ser entendidas como profissões que necessitam de elevada participação do sistema nervoso. Neste sentido, o motorista deve manter a atenção constante, precisão na realização das ações, autocontrole, direção defensiva, análise e interpretação das informações fornecidas pelos equipamentos do veículo. O sistema auditivo, visual, a percepção, a coordenação de movimentos e o raciocínio rápido para manipular os mecanismos e equipamentos do veículo, estacionar, avançar, desviar, são solicitações que devem ser percebidas, analisadas e respondidas em fração de segundos. Talvez isto caracterize a exigência mental, aliada às exigências dos órgãos dos sentidos, fundamentais na profissão de motorista. Dessa forma, a profissão de motorista torna- se desgastante também devido à atenção e ao estado de alerta que o profissional deve manter constantemente. Neste aspecto Pegorim e Balistieri (1997) constataram que a atividade do motorista de ônibus coletivo é penosa, propondo que se regulamente a "penosidade" da atividade, garantindo-se com isto os direitos destes trabalhadores. Para tanto, sugerem a formulação de uma NR (Norma Regulamentadora) para incluir na portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho. A legislação trabalhista, conhecida como Norma Regulamentadora 17 ou a Norma da Ergonomia, a ciência do trabalho, foi recentemente alterada no sentido de disciplinar as atividades que acarretam sobrecarga muscular (OLIVEIRA e SCAVONE, 1997). A exigência mental da profissão, combinada com fatores econômicos, administrativos e sociais, pode aumentar as cargas de estresse no organismo. O estresse é uma disfunção geradora de distúrbios orgânicos dos mais variados no ser humano (GRANDJEAN, 1998). São vários os fatores que podem desencadear um estado de estresse, além deste pode ser favorecido pelo padrão de comportamento do indivíduo. Por exemplo, o indivíduo com uma personalidade que o caracteriza como agitado, agressivo, competitivo, impaciente, possui maiores chances de desenvolver doenças cardíacas (POLLOCK e WILMORE, 1993). Uma pesquisa realizada em bancários por MONTEIRO, VIEGAS e GONTIJO (1998) revelou que o padrão de comportamento individual demonstrou uma elevada associação com portadores de DORT.
  • 16. 2.3.1. Exigências Motoras na Atividade do Motorista O pouco espaço que possui para realizar suas tarefas (cabina), o estar sentado, a atenção nos controles, mostradores localizados no painel, no teto ou em outro local, exigem do motorista a manutenção repetida de ações básicas para conduzir adequadamente o veículo. No entanto, as exigências motoras da profissão são específicas, pois exigem que todo o corpo (cabeça, tronco, membros superiores e inferiores) seja solicitado de maneira coordenada durante a realização das atividades. A coluna vertebral suporta a compressão exercida pela sobrecarga imposta, em função da força da gravidade (trancos, vibrações e outros fatores externos), e ainda é solicitada em freqüentes rotações da cabeça e do tronco. Estas ações são leves, mas em muitos casos prejudiciais para as estruturas da coluna, ombros e pescoço, porque devem ser realizadas freqüentemente como forma de assegurar a eficiência da tarefa (PEGORIM e BALISTIERI, 1997). Na análise ergonômica realizada por Pegorim e Balistieri (1997), foi identificado um tempo de cinco horas e vinte minutos efetivamente trabalhados no volante, desconsiderando os intervalos. Também notou um número elevado de movimentos repetitivos como trocas de marchas, uso da embreagem e do freio. Durante o período que permaneciam dirigindo o ônibus, os motoristas executavam em média 1415 trocas de marchas e 304 freadas diariamente. Foi registrado até 164 trocas de marchas por hora, durante “horário de “rush”. No caso de dirigir ônibus em rodovias, ou em centros urbanos, as exigências tanto mentais quanto motoras podem apresentar diferenças. Apesar de se adotar os mesmos princípios de atenção, alerta, trocam de marchas ou outros, suas intensidades são distintas. Supõe-se que os motoristas de ônibus urbano demonstram uma carga de trabalho físico maior que as outras categorias de motoristas (rodoviário), pois são mais exigidos quanto à repetição de movimentos, congestionamentos, parados e vibrações (PEGORIM e BALISTIERI, 1997). 2.4. Características Mecânicas da Postura Sentada O estar sentado ou em pé, bem como suas variações (flexionado, deitado, agachado, inclinado) são posturas adotadas no dia a dia de milhões de trabalhadores em todo o mundo, e devem ser analisadas para identificar se e quando oferecem riscos para a saúde. Por um lado, a postura sentada tem a vantagem de provocar uma menor fadiga nos músculos dos membros inferiores comparada à postura em pé, uma vez que a permanência em pé exige um maior consumo de energia, ocasionado pelo trabalho muscular estático. Por outro lado, estar sentado acarreta maior sobrecarga na coluna vertebral, do que o estar em pé. Nos dias atuais, aproximadamente três quartos das posturas de trabalho em países industrializados são exercidos na posição sentada (GRANDJEAN, 1998). Como exemplo, podemos citar o motorista, o empresário, a secretária e o programador, entre outros. Quando se analisa genericamente a manutenção da postura no estar sentado no período escolar, em adição com as atividades profissionais e diárias (em casa, no lazer), pode-se estimar que o ser humano permaneça muitas horas de sua vida nesta postura. De acordo com um estudo ergonômico, desenvolvido por Yonamine (1995),
  • 17. o ambiente escolar possui mobiliários inadequados para atender as necessidades posturais de crianças e adolescentes. Enfatizando que boa parte de trabalhadores que procuram órgãos da previdência, convênios médicos, clínicas ou similares, com intenção de solicitar dispensa do trabalho para tratamento, afastamento e até aposentadoria precoce, estão relacionados a problemas na coluna vertebral, os quais podem estar associados às posturas adotadas ao sentar, no início da vida escolar. Além da necessidade da criança permanecer sentada nos bancos escolares, às inúmeras opções de lazer como TV, vídeo game, e o surgimento do computador, que inevitavelmente estão invadindo os lares, são fatores adicionais no estar sentado. O computador, que a cada dia se torna mais popular, é um instrumento necessário e importante em todas as áreas de pesquisas e trabalho, para manuseá-lo, é fundamental e mais confortável que o operador esteja sentado. 2.4.1. Mecânica da Postura Sentada Mecanicamente, durante a postura ortostática (em pé) a carga imposta sobre a coluna lombar é de aproximadamente 60% do peso corporal individual, enquanto na posição sentada isto se eleva para 70%, e pode ultrapassar este valor com o tronco inclinado (BANKOFF et al. apud YONAMINE, 1995). Grandjean (1998) coloca que a carga imposta à coluna é de 1.5 vezes maior quando o indivíduo está sentado do que quando em pé. Knoplich (1982) cita o exemplo da carga exercida no interior do disco intervertebral L3 (3º vértebra lombar), em diferentes posições. Assim, para uma pessoa de 70 kg, quando deitada em decúbito dorsal, o disco suporta uma carga de 25 kg, deitada lateralmente, se eleva para 75 kg, ficando em pé, 100 kg e se ficar sentada a carga imposta ao disco aumenta para 150 kg, assim sendo possível observa-se que, quando se está sentado, a pressão sobre os discos vertebrais é maior do que quando se está em pé. Contudo, a pressão exercida sobre a coluna vertebral é distribuída, graças a um eficiente trabalho conjunto de músculos, articulações, fáscias e ligamentos, entre os discos intervertebrais durante a permanência no estar sentado. A compressão nos discos vertebrais pode ser acentuada por um único esforço ou pela fadiga instalada em decorrência do período prolongado de trabalho, tornando a musculatura tensa, enfatiza Achour Júnior (1996). O autor comenta que o homem moderno realiza atividades que o obrigam há permanecer muito tempo sentado ou em pé, situações que exigem estabilidade músculo - articular para conservação da postura. 2.4.2. Conseqüências da postura sentada A inatividade física, por sua vez, relaciona-se com a debilidade muscular, como rigidez, fraqueza, falta de amplitude articular, excesso de peso e baixa capacidade cardio-respiratória (POLLOCK e WILMORE, 1993). Nos estudos de Achour Júnior (1996) o encurtamento e/ou enfraquecimento de importantes grupos musculares da região dorsal, favorecido pela postura estática
  • 18. e pela falta de atividade física pode, a longo, prazo proporcionar uma somatória de efeitos negativos até o surgimento de problemas mais graves. As más posturas são mais prejudiciais na vida diária de pessoas pouco ativas, como também em profissões que raramente exigem do trabalhador esforço físicas. O fato de estar sentado, por si, não reduz em nenhum momento a necessidade dos indivíduos procurarem programas de atividades físicas como forma de realizar exercícios de alongamento e fortalecimento muscular. A solicitação constante ou a deficiência de recrutamento de alguns grupos musculares produzem um encurtamento muscular (pelo excesso de exigência), e em geral um enfraquecimento (deficiência de atividade), caso não seja aliado a exercícios de compensação. A combinação encurtamento/enfraquecimento, por sua vez, resulta na instabilidade músculo - articular que poderia provocar problemas na estrutura da coluna vertebral ou no surgimento de dor muscular (rigidez muscular) em longo prazo (ACHOUR JÚNIOR, 1998). Complementando melhor Achour Júnior (1996) comenta que a manutenção de um grupo muscular encurtado, aumenta a estimulação dos agonistas, os tornado mais rígidos, e provoca simultaneamente, maior enfraquecimento de seus antagonistas. Existem evidências no sentido de que a permanência prolongada sentado, prejudica o processo de entrada e saída de nutrientes para o interior do disco intervertebral, favorecendo o desgaste precoce destas estruturas, uma vez que são estruturas avasculares. Achour Júnior (1998) coloca que, em qualquer circunstância, atletas ou não atletas devem atentar para as posturas cotidianas e para as ações motoras, procurando impedir o encurtamento do sistema muscular. Esta medida pode reduzir os sintomas de dor localizados na coluna vertebral ou outros segmentos corporais provocados pelo encurtamento músculo - articular. Aliado aos problemas de uma postura sentada prolongada são poucos os indivíduos que adotam e/ou possuem um bom conhecimento sobre como sentar. Além disto, corre-se o risco de acomodar-se em bancos, cadeiras ou poltronas mal projetadas, que provocam a sobrecarga na curvatura lombar, comprimindo as vértebras.
  • 19. 2.5. Doenças Ocupacionais do Sistema Osteomusculares relacionados ao trabalho (LER / DORT) Segundo Michel (2000) no século XVI, algumas observações esparsas surgiram, evidenciando a possibilidade de o trabalho ser causador de doenças. No século XVII, Ramazzini, um médico italiano que se dedicou a descrever doenças ocupacionais, relatou que movimentos violentos e irregulares, bem como posturas inadequadas durante o trabalho provocavam sérios danos à máquina vital. Aqui cabe ressaltar “as doenças dos escribas e notários”. Com esta afirmação, constata-se então que certas atividades ocupacionais, independentes da época em que são exercidas e da presença de máquinas ou produção organizada, exigem das pessoas posturas, esforços físicos e mentais que podem produzir doenças. Já com o advento da Revolução Industrial, quadros clínicos decorrentes de sobrecarga estática e dinâmica do sistema osteomuscular tornaram-se mais numerosos. Observa-se que dentro das discussões relativas à saúde dos trabalhadores, importa a discriminação e a análise dos fatores dentro e fora do ambiente de trabalho, bem como sua repercussão no desencadeamento e na manutenção dos processos patológicos. Os problemas relativos às extremidades superiores, relacionados ao trabalho, têm se constituído um grande fator de profundas discussões em termos de saúde pública em muitos países. A Saúde, segundo definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social” (FISCHER et al., 1989). Este conceito propõe uma ligação de todos os elementos presentes no ambiente com o estado de saúde das pessoas. Onde saúde e doença são estados que dependem da integridade física e mental do indivíduo, bem como das características físicas e “emocionais” da sociedade na qual ele vive, mora, trabalha, diverte-se e sofre. Assunção 1995 relata em seus estudos que as Lesões por Esforços Repetitivos - LER é afecções de origem ocupacional que atingem os membros superiores, região escapular e pescoço, resultantes do desgaste muscular, tendinoso, articular e neurológico provocado pela inadequação do trabalho ao ser humano, e decorrem, de forma combinada ou não, da manutenção de postura inadequada e do uso repetido e/ou forçado de grupos musculares. Miranda (1998) menciona que, diversos estudos têm revelado no desenvolvimento da LER, a possível contribuição de fatores psicossociais. Sendo que o trabalho em condições inadequadas, acima referidas, pode provocar o acometimento de tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias, ligamentos, isolada
  • 20. ou associadamente, com ou sem degeneração dos tecidos, especialmente dos dedos da mão, punhos, antebraços, cotovelos, braços, ombros, pescoço e regiões escapulares, relatada também a ocorrência de afecções de origem ocupacional em membros inferiores, especialmente atingindo os joelhos. Onde historicamente essas lesões por esforços repetitivos constituem um fenômeno universal, de grandes proporções, em constante crescimento. Na verdade, tais lesões já foram registradas em 1700 pelo médico italiano Ramazzini, que estudou sua ocorrência entre escriturários. Em 1895, De Quervain descreveu o “entorse das lavadeiras”, depois denominada tenossinovite do polegar. Contudo, somente a partir da década de 60 o problema ganhou maior dimensão com a incidência crescente de LER entre trabalhadores de países industrializados. No Brasil, desde o início da década de 80, alguns sindicatos de trabalhadores em processamento de dados começaram a denunciar a ocorrência de lesões por esforços repetitivos entre os digitadores. A partir de 1984/85, com a redemocratização do país e diante da crescente pressão social exercida pelo movimento sindical, a Previdência Social começa a reconhecer a existência do problema e a conceder os primeiros benefícios previdenciários por LER. Contudo, somente a partir de 1986 a LER passou a assumir relevância crescente nas estatísticas sobre doenças profissionais, sendo que esse fato pode ser explicado, em parte, pela rápida absorção pelo nosso país das inovações tecnológicas e pela importante atuação dos trabalhadores (ROCHA 1989). Vale recordar que, em nosso país, apenas a partir de 1987 a Previdência Social passou a considerar a LER como uma doença profissional. (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 1993). Atualmente no mundo a tendência mais moderna para efeitos de atualização do fenômeno LER é a denominação DORT (distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho). Destacas o termo “distúrbios”, ao invés de “lesões”, no sentido de corresponder ao que se percebe na prática, de ocorrerem distúrbios numa fase precoce. Sobre esta denominação, Michel (2000) ratifica o parágrafo anterior, expondo que a terminologia DORT tem sido preferida por alguns autores, a outras tais como: Lesões por Traumas Cumulativos (LTC), Lesões por Esforços Repetitivos (LER), Doenças Cervicobraquial Ocupacional (DCO) e Síndrome de Sobrecarga Ocupacional (SSO), por evitar que na própria denominação já se apontem causas definidas (como por exemplo, “cumulativo” nas LTC e “repetitivo” nas LER) e os efeitos (como por exemplo, “lesões nas LTC e LER).” Couto et al. (1998) justifica melhor a questão anterior no tocante a LTC (lesões por traumas cumulativos), expondo que a mesma não contempla algumas situações de lesão decorrentes do uso intensivo e de curta duração, em que não haveria de fato uma lesão por trauma cumulativo. Também não contempla as situações de dor, ligadas simplesmente a um processo de fadiga localizada. A instrução normativa do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) usa a expressão LER/DORT para estabelecer o conceito da síndrome e declara que elas não são frutos ex- clusivos de movimentos repetitivos, mas podem ocorrer pela permanência de segmentos do corpo em determinadas posi-
  • 21. ções, por tempo prolongado. A necessidade de concentração e atenção do trabalhador para realizar suas atividades e a pressão imposta pela organização do trabalho são fatores que interferem significativamente para a ocorrência da síndrome (Instrução Normativa n. 98. Ministério da Previdência Social: Brasil; 2003). Ranney (2000) disponibiliza em seu livro a classificação dos grupos de fatores de risco para LER / DORT segundo KUORINKA & FORCIER, na qual se agrupam da seguinte maneira: è Grau de adequação do posto de trabalho à zona de atenção e à visão; è Frio, vibrações e pressões mecânicas localizadas nos tecidos; è Posturas inadequadas; è Cargas musculoesqueléticas; è Carga estática; è Invariabilidade da tarefa; è Exigências cognitivas; è Fatores organizacionais e psicossociais ligados ao trabalho. Didaticamente, os fatores de riscos ocupacionais associados ao aparecimento de LER / DORT podem estar relacionados ao ambiente físico, equipamentos e mobiliários do posto de trabalho (fatores biomecânicos), à forma de organização do trabalho (fatores organizacionais) e ao ambiente psíquico, social e de relações no trabalho (fatores psicossociais). Ranney (2000) ainda relata que o aparecimento de LER / DORT resulta, em geral, de um desequilíbrio entre os três fatores mencionados anteriormente, ou, em outras palavras a sobre carga estática e/ou dinâmica do aparelho osteomuscular agravada, em geral, pelas reações de estresse.
  • 22. 2.6. Terapia Ocupacional e a Ergonomia Segundo Coffito (2008) a Terapia Ocupacional é uma área voltada aos estudos, prevenção e ao tratamento de indivíduos portadores de alterações cognitivas, afetivas, perceptivas e psicomotoras, decorrentes ou não de distúrbios genéticos, traumáticos e/ou doenças adquiridas, através da sistematização e utilização da atividade humana como base de desenvolvimento de projetos terapêuticos específicos. Já a ergonomia foi empregada pela primeira vez em 1857, por W. Jastrzebowiski, que o definiu como a ciência da utilização das forças e capacidades humanas (LANCMAN, 2004). Segundo a Abergo (2008) (Associação Brasileira de Ergonomia) a Ergonomia ou Fatores Humanos é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e a aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de aperfeiçoar o bem estar humano e o desempenho global do sistema. A ergonomia no Brasil passou a ter mais destaque nos anos de 1980, em decorrência da necessidade de prevenção das LER/DORT, que já acometiam grande número de trabalhadores, mas especificamente os digitadores da área de processamento de dados bancários (LANCMAN, 2004). A Terapia ocupacional apresentou desenvolvimento na área de reabilitação física e mental em vista do aumento do número de portadores de incapacidades físicas e mentais após a 1º e 2º Guerras Mundiais, o desenvolvimento e ascensão temporariamente coincidentes na Ergonomia, mas voltadas para a melhoria e eficácia do desempenho do individuo na sua função e dos seus instrumentos utilizados na guerra (LANCMAN, 2004). No início, a Terapia Ocupacional era mais voltada para a reabilitação/tratamento e atualmente preconiza a prevenção de doenças e promoção da saúde; a Ergonomia preocupava-se em corrigir problemas já instalados (Ergonomia de Correção) e prevenir problemas (Ergonomia de Mudança) conscientizando os trabalhadores para a prevenção dos mesmos, voltando-se ultimamente para promoção de saúde com visão na produtividade, antevendo e evitando problemas ao elaborar projetos e produtos (LANCMAN, 2004). Assim tanto a Ergonomia quanto a Terapia Ocupacional utilizam de conceitos de outras áreas das Ciências Humanas, numa relação de confrontação e de integração
  • 23. desses diversos conhecimentos. A ergonomia busca, no seu dia-a-dia, um corpo de conhecimentos que forneça subsídios para a ação, assim como o terapeuta ocupacional (LANCMAN, 2004). Por existirem, então, muitas variáveis a ser considerada no contexto do trabalho, cada situação a ser estudada tem sua singularidade própria, o que também ocorre na Terapia Ocupacional, uma vez que cada paciente, trabalhador ou empresa, é um caso singular independentemente da problemática ou patologia apresentada, não sendo possível generalizar (LANCMAN, 2004). A Ergonomia e a Terapia Ocupacional na área da Saúde e do Trabalho estudam e analisam as questões e contradições individuais e coletivas, incluindo o processo de adoecimento, diante dessa afinidade, estabelecem-se parcerias entre a Terapia Ocupacional e a Ergonomia, apontando novos horizontes e perspectivas de atuação no mercado de trabalho nas áreas de reabilitação, prevenção de doenças e promoção de saúde (LANCMAN, 2004). 3. METODOLOGIA Tomando como fundamento a mecânica corporal, enquanto ciências que estuda as forças estáticas e dinâmicas que agem sobre o corpo humano, o estudo pesquisou possíveis patologias ocupacionais do sistema osteomuscular, queixas de dores e desconfortos causados pelo impacto da atividade laborativa e como esse fatores interferem no desempenho ocupacional em motoristas de ônibus urbano da cidade de Muriaé, MG, no período de fevereiro a abril de 2009. Para participar da pesquisa, foram selecionados todos os profissionais motoristas ativos da Empresa Coletivos Muriaeense Ltda, localizada em Muriaé (MG), no total de 55 motoristas com idade entre 27 a 72 anos, gênero masculino (devido à prevalência deste gênero no quadro funcional da empresa). Trata-se de um estudo exploratório, onde os dados foram coletados por meio de entrevistas, utilizando-se instrumento de pesquisa semi-estruturado (ANEXO 2), desenvolvido pelo próprio pesquisador. O presente instrumento de pesquisa é
  • 24. composto por nove perguntas, entre elas abertas e fechadas. A entrevista necessita em média de cinco minutos para que cada profissional forneça as informações. Os dados obtidos foram computados manualmente, apresentados em gráficos estatísticos e analisados. Baseado na pesquisa quanti-qualitativa, apenas um instrumento semi- estruturado foi aplicado aos participantes, de modo que seu preenchimento foi por vontade própria, após cada motorista ser esclarecido quanto ao objetivo da pesquisa por meio do termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO 1), onde constam todos os dados fundamentais da pesquisa que foram repassados aos entrevistados. Para Figueiredo (2007) a pesquisa quanti-qualitativa é: (...) um método que associa analise estatístico à investigação dos significados das relações humanas, privilegiando a melhor compreensão do tema a ser estudado, facilitando assim a interpretação dos dados obtidos, é um tipo de abordagem que permite a complementação entre palavras e números, as duas linguagens fundamentais da comunicação humana (FIGUEIREDO, 2007). A corrente filosófica positivista foi utilizada como embasamento para a presente pesquisa, baseada nas premissas de Comte (2000). Seguindo este raciocínio, em Figueiredo (2007) diz que, o pensamento positivista nada mais é do que a expressão da realidade, principalmente quando se parte do princípio de que tudo na vida, com exceção do sobrenatural, é concreto, ou seja, passível de explicação. A partir desse momento, é possível observar que as pessoas que lidam com a ciência são obrigatoriamente positivistas.
  • 25. 4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS A pesquisa foi realizada na Empresa Coletivos Muriaeense Ltda atualmente apresenta 55 motoristas ativos, de ônibus coletivo de linha urbana e 21 afastados do trabalho por motivos diversos, entre os quais patologias neurológicas, osteomusculares, circulatórias e visuais. Na pesquisa identificou-se alguns fatores que levam esses profissionais a sentirem, no futuro, alguns desconfortos, além da tensão e atenção redobrada que devem ter por exigência da própria profissão. FIGURA 1: Lateralidade dos Profissionais Motoristas Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009. Dessa amostra – 55 motoristas –, 48 são destros e 7 são canhotos, sendo que estes encontram um pouco mais de dificuldade na profissão, devido aos veículos não serem adaptados, resultando maior esforço na realização das manobras e consequentemente, maior fadiga. Quanto ao tempo de profissão 3 (5%) tem entre 1 a 3 anos; 6 (11%) tem entre 3 a 5 anos; 9 (16%) tem entre 5 a 10 anos; 7 (12%) tem entre 10 e 15 anos; 6 (11%) tem de 15 a 20 anos e, 24 (45%) tem mais de 20 anos de profissão, conforme o Gráfico 2 abaixo. FIGURA 2: Tempo de Profissão como Motorista Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.
  • 26. Em relação ao tempo de empresa 6 (11%) tem até 1 ano; 13 (25%) tem de 1 a 3 anos; 7 (12%) tem de 3 a 5 anos; 11 (20%) tem de 5 à 10 anos; 6 (11%) tem de 10 a 15 anos; 3 (5%) tem de 15 a 20 anos e, 9 (16%) dos motoristas tem mais de 20 anos de empresa, ou seja, estão na mesma profissão e na mesma empresa há mais de 20 anos. FIGURA 3: Tempo de Trabalho como Motorista na Empresa Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009. Percebe-se que a grande maioria tem mais de 20 anos de profissão e consequentemente, sentem as consequências físicas, mentais e psicológicas de tantos anos exercendo a mesma atividade laboral, fazendo os mesmos movimentos diariamente (esforços repetitivos). De acordo com a teoria estudada especialistas como Pegorim e Balistieri (1997) constataram que a profissão de motorista é bastante árdua e em função do desgaste da referida atividade laboral, propõem inclusive a (re) formulação da NR para garantir melhores condições de trabalho e segurança para esses profissionais. A pesquisa confirma tal entendimento, pois mais da metade dos motoristas entrevistas, ou seja, 28 (51%) sentem alguma dor ou desconforto durante as horas em que estão trabalhando; 27 (49%) disseram que não tem nada, como mostra o gráfico abaixo. FIGURA 4: Motoristas que afirmam sentir ou não Dores / Desconfortos durante o Trabalho Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009. Quanto ao uso de medicamento a maioria 38 (69%) dos entrevistados disse não usar nenhum tipo de medicamento; 17 (31%) disseram que tomam algum medicamento. FIGURA 5: Motoristas que fazem uso ou não de Medicamentos Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.
  • 27. Os que afirmaram tomar algum tipo de medicamento 76% tomam analgésicos; 11% tomam medicação para hipertensão (Captopril entre outros) e, 13% disseram que tomam antiinflamatórios (Piroxicam entre outros). Presume-se que essa medicação seja receita por médico, até mesmo a empresa, já em conseqüência do desgaste da profissão. FIGURA 6: Tipos de Medicamentos mais usados pelos Motoristas Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009. Foi perguntado também sobre afastamento por algum motivo e, 17 (31%) disseram que sim, desses 4 (22%) por LER/DORT; 3 (18%) por Hipertensão Arterial (pressão alta), o que implica sobremaneira na execução do trabalho do motorista além de representar alto risco, não só para o profissional, como também para aqueles que estão sob sua responsabilidade, que são os passageiros; 10 (60%) disseram que foram afastados das atividades laborais por um motivo ou outro, sem especificar. O restante, 38 representando 69% dos motoristas, responderam que nunca foram afastados por motivo nenhum, doença etc. FIGURA 7: Motoristas que tiveram ou não Afastados do Trabalho Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.
  • 28. FIGURA 8: Os Tipos de Afastamentos do Trabalho Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009. Desses motoristas que disseram sentir dores e/ou desconforto, 2 (7%) disseram que sentem dores há aproximadamente 1 ano; 6 (21%) entre 1 e três anos; 6 (21%) de 3 a 5 anos; 5 (19%) de 10 a 15 anos; 1 (4%) de 15 a 20 anos e, 2 (7%) há mais de 20 anos. FIGURA 9: Período de Dores / Desconfortos nestes Motoristas nos quais se queixam Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.
  • 29. Aos que queixaram de sentirem dores e/ou algum desconforto a maioria, 19 (21%) queixaram de dores torácico-lombares; 11 (21%) de dores no ombro; 2 (2,3%) dores no cotovelo; 4 (4,6%) dores no punho; 4 (4,6%) dores na mão; 14 (16%) queixaram dores no quadril; 14 (16%) dores no joelho; 4 (4,6%) dores no tornozelo e, 17 (19%) queixou de dores no pescoço. FIGURA 10: Regiões das queixas de Dores / Desconfortos Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009. Quanto à idade, a maioria dos motoristas entrevistados tem entre 40 e 50 anos, sendo assim distribuídos: 8 (15%) tem até 30 anos; 17 (31%) tem até 40 anos; 15 (27%) tem até 50 anos; 10 (18%) tem até 60 anos e, 5 (9%) tem mais de 60 anos. FIGURA 11: Faixa Etária dos Motoristas de Ônibus Coletivo Urbano Fonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009. Mesmo com algumas queixas, todos gostam da profissão e muitos nunca tiveram outra atividade ocupacional, senão a de motorista. A pesquisa mostrou que pelo excesso de estresses, conforme esclarece as literaturas citadas no conteúdo do trabalho, desencadeado por vários fatores, social, econômico, psicológico, mental etc., os motoristas vivem em constante pressão incluindo o número elevado de veículos automotores circulando pelas ruas da cidade, a falta de educação no transito etc., fazem com que esses profissionais fiquem em constante carga estressante e o ambiente de trabalho ergonomicamente inadequado favorece ao aparecimento de doenças osteomusculares. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES Pelos estudos realizados e análise dos dados obtidos foram encontradas evidências plausíveis de que, o trabalho de motorista é realmente penoso e extremamente fatigante, fatores que levam estes profissionais a sentirem, no futuro, alguns desconfortos e dores, além da tensão e atenção redobrada que devem ter por
  • 30. exigência da própria profissão. Acrescenta-se a isso o longo período de trabalho intenso, as atividades realizadas pelo motorista que exigem permanência prolongada na postura sentada, produzindo desajuste muscular e desconforto postural e corporal, caracterizado por dor ou perda de conforto em conseqüência de diversos fatores entre eles a sobrecarga mecânica e condições patológicas. A pesquisa confirma tal entendimento, pois mais da metade, 51% dos motoristas entrevistados sentem alguma dor ou desconforto durante as horas em que estão trabalhando. O tempo de profissão é contribuinte para o adoecimento destes profissionais, pois 45% estão a mais de 20 anos na mesma atividade laboral sofrendo seus impactos. Para eliminar ou minimizar as dores são utilizados medicamentos como analgésicos, anti-inflamatórios para lesões osteomusculares, principalmente na coluna vertebral e medicações para pressão arterial. Por conseqüência da exposição desses indivíduos ao ambiente de trabalho ergonomicamente inadequado às necessidades e características humanas, sofrendo de dores e desconfortos e o longo período de trabalho, há o possível surgimento de LER/DORT, doenças do sistema circulatório, distúrbios visuais, entre outros. Acarretando também incapacidades dos mesmos em continuar a exercer suas atividades, sendo afastados de seus postos de trabalho decorrentes das doenças ocupacionais. Portanto são sugeridas alterações na carga horária laboral, utilizando de pausas estratégicas durante o trabalho para amenizar a fadiga muscular e sobrecarga mecânica, orientações e modificações ergonômicas no ambiente de trabalho (cabines), no objetivo de prevenir as doenças ocupacionais do sistema osteomuscular, e circulatório, doenças nas quais são comuns em acometerem esta classe trabalhadora, como foram observadas neste estudo. Estes resultados possibilitaram a formulação de recomendações que viabilize, em estudos futuros, a introdução de melhorias para o aumento da qualidade de vida dos motoristas de ônibus coletivo urbano. Os estudos também permitiram identificar uma afinidade do processo participativo com os motoristas de ônibus, em que as mudanças podem ocorrer de forma gradativa e experiencial por meio de padrões no caso das demandas referentes a posto de trabalho e físico ambiental, ou através de possíveis adaptações no conteúdo da tarefa do motorista no caso das demandas referentes à organização do trabalho. Tudo isto visando o atendimento, por ordem de importância, dos itens de demanda ergonômica. Considerando que para estes trabalhadores os fatores acima são geradores de afastamentos, com consequente redução de salário, o que gera constrangimentos, alteração da auto-estima, estresse e depressão, comprometendo a qualidade de vida. O Terapeuta Ocupacional analisa as práxis laborais e a partir dessa percepção contribui na prevenção e redução dos agravos à saúde, valorizando o trabalhador como indivíduo e favorecendo o bem estar social. Ao analisar as etapas desse processo, o Terapeuta Ocupacional, contribui para o menor número de afastamentos e consequentemente na redução dos custos da seguridade social.
  • 31. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia. O que é Ergonomia. Disponível em: <http://www.abergo.org.br/oqueeergonomia.htm>. ASSUNÇÃO, A. A. Sistema Músculo - Esquelético: Lesões por Esforços Repetitivos (LER). In: MENDES, R. (Org.). Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro: Editora Atheneu, 1995. ARTIGO - Transporte Coletivo por Ônibus. Orlando Augusto Nunes – Acadêmico em Tecnologia de Transporte – CEFET-GO Prof.:(a): Engª Patríca Margon. ACHOUR JÚNIOR, A. Avaliando a flexibilidade: manual de instruções. Londrina: Midiograf, 1997. BRASIL, MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Ler lesões por esforços repetitivos: normas técnicas para avaliação da incapacidade. Brasília: MPS, ACS, 1993. COMTE, A. – Curso de Filosofia Positiva - Discurso Preliminar Sobre o Conjunto do Positivismo – Catecismo Positivista; Nova Cultural Ltda; 2000. COUTO, H. A. et al. Como gerenciar a questão das LER/DORT: lesões por esforços repetitivos, distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Belo Horizonte: Ergo, 1998. CARVALHO, A. M. Ergonomia e produtividade. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v.12, n.48, 1984. DUL, WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. (Traduzido por Itiro Iida) São Paulo, Edgard Blucher, 1995. DEJOURS, C., 1988. A loucura do Trabalho: Estudo da psicologia do Trabalho, 3° edição, Oboré: São Paulo. Estudo dos constrangimentos físicos e mentais sofridos pelos motoristas de ônibus urbano da cidade do Rio de Janeiro / Elisângela Azevedo Viana Gomes da Costa; orientador: Claudia Mont’Alvão. – (Rio de Janeiro: PUC, Departamento de Artes e Design, 2006). F. GUÉRIN, A. LAVILLE, F. DANIELLOU, J. DURAFFOURG, A. KERGUELEN – Compreender o Trabalho para Transformá-lo - A PRÁTICA DA ERGONOMIA; Universidade de São Paulo – Departamento de Engenharia de Produção; ed. Edgard Blücher Ltda; 2001. FIGUEIREDO, Nébia Maria Almeida – Método e metodologia na pesquisa científica; - 2. Ed. rev. – São Caetano do Sul, SP: Yendis Editora, 2007.
  • 32. FICHER, F. M.; GOMES, J. R.; COLACIOPPO, S. Tópicos de saúde do trabalhador. São Paulo: Hucitec, 1989. GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul Ltda., 1998. IIDA, I. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo: Edgard Blucher, 1993 Instrução Normativa n. 98. Ministério da Previdência Social: Brasil; 2003. KNOPLICK, J. Viva bem com a coluna que você tem: dores nas costas, tratamento e prevenção. 14ª ed. São Paulo: Ibrasa, 1982. LEWERGGER, T. M. C.; GARCEZ, V. F. A eficácia da mobilização neural em funcionários de instituição pública portadores de DORT/LER. Multitemas, Campo Grande, n. 24, p. 103-116, 2002. LER - LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS UMA PROPOSTA DE AÇÃO PREVENTIVA Carlos Roberto Miranda e Carlos Roberto Dias 1998. LACMAN, Selma – Saúde, trabalho e Terapia Ocupacional; São Paulo; Rocea 2004. MICHEL, O. Acidentes do trabalho e doenças ocupacionais. São Paulo: Ltr, 2000. SANTOS, Neri dos; FIALHO, F. A. P. Manual de análise ergonômica do trabalho. Curitiba: Gênesis, 1997. MENDES, L.R. Serviço essencial x Trabalho penoso. Análise das condições de Trabalho de Motorista de Ônibus coletivos urbanos na cidade de Belo Horizonte. Dissertação. Belo Horizonte: Centro de Pós-graduação e Pesquisas em Administração. Universidade Federal de Minas Gerais; 1997. MENDES, R. Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995. MONTMOLLIN, M. A ergonomia. Lisboa. Instituto Piaget, 1995. MONTEIRO, J.C.; VIEGAS, R.S.; GONTIJO, L.A. LER: O sofrimento. Proteção, junho, 1993. MICHEL, O. Acidentes do trabalho e doenças ocupacionais. São Paulo: Ltr, 2000. MINAYO, Maria Cecília de Souza – O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo; Hucitec, 2004. OLIVEIRA, Eleonora Menicucci de & SCAVONE, Lucila. (orgs.) Trabalho, saúde e gênero na era da globalização. Goiânia, AB Editora, 1997. PEGORIM, A.S.; BALISTIERI, W. Análise ergonômica do posto de trabalho do motorista de ônibus urbano. Blumenau, 1997. Monografia, UFSC: Universidade Regional de Blumenau SC. POLLOCK, M.L.; WILMORE, J.H. Exercícios na saúde e na doença: Avaliação e prescrição para prevenção e reabilitação. 2º ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1993.
  • 33. ROCHA, L. E. Tenossinovite como doença do trabalho no Brasil: a atuação dos trabalhadores. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Medicina da USP, São Paulo, 1989. YONAMINE, R.S. Estudo biomecânico entre dimensões de móveis escolares e medidas antropométricas, na posição sentada, de estudantes da pré-escola a 4º série do 1º grau de uma escola pública municipal de Campo Grande-MS. Campo Grande, 1995. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
  • 34. ANEXOS A1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
  • 35. CURSO DE TERAPIA OCUPACINOAL TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ALUNO: Felipe Aredes Galvão ORIENTADOR: Ivens M. O. Pereira Eu,____________________________________________________________, ciente das informações recebidas concordo com a participação na pesquisa intitulada “Doença Ocupacional: Um estudo acerca da postura dos trabalhadores de ônibus coletivo da cidade de Muriaé”, que será realizada sob responsabilidade de Felipe Aredes Galvão, graduando do curso de Terapia Ocupacional da Faminas – Faculdade de Minas, pois estou informado de que em nenhum momento estarei exposto a riscos causados pela participação no estudo e de que poderei a qualquer momento recusar ou anular o consentimento por mim assinado, sem nenhum prejuízo para minha pessoa. Estou ciente também de que os resultados encontrados no estudo serão usados apenas para fins científicos. Fui informado de que não terei nenhum tipo de despesa ou gratificação pela referida participação nesta pesquisa, E de que terei acesso aos resultados publicados em períodos científicos. Pelo exposto, concordo voluntariamente em participar no referido estudo. ______________________________ ___________________________ Assinatura do Pesquisador Assinatura do Participante (Acadêmico) (Motorista) A2 Instrumento de Pesquisa semi-estruturado, desenvolvido pelo próprio pesquisador
  • 36. CURSO DE TERAPIA OCUPACINOAL INSTRUMENTO DE PESQUISA ALUNO: Felipe Aredes Galvão ORIENTADOR: Ivens M. O. Pereira ENTREVISTA 1. Nome: _____________________________________ Idade:_____________ 2. Lateralidade: ( ) Destro ( ) Sinistro / Canhoto 3. Qual tempo de trabalho nesta profissão? ( ) Até 1 Ano ( ) 1 à 3 Anos ( ) 3 à 5 Anos ( ) 5 à 10 Anos ( ) 10 à 15 Anos ( ) 15 à 20 Anos ( ) Mais de 20 Anos 4. Qual o tempo de serviço nesta empresa? ( ) Até 1 Ano ( ) 1 à 3 Anos ( ) 3 à 5 Anos ( ) 5 à 10 Anos ( ) 10 à 15 Anos ( ) 15 à 20 Anos ( ) Mais de 20 Anos 5. Durante a realização da atividade laboral, sente dores ou desconfortos? ( ) Sim ( ) Não 6. Qual o local destas dores e desconfortos? ( ) Pescoço ( ) Ombro ( ) Cotovelo ( ) Punho ( ) Mão ( ) Quadril ( ) Joelho ( ) Tornozelo 7. Faz uso de alguma medicação para estes desconfortos e dores? ( ) Sim ( ) Não Quais? ________________________________________ 8. Teve afastamentos relativos ao trabalho? ( ) Sim ( ) Não Quais? ________________________________________ 9. Quanto tempo sente estes desconfortos e dores devido à atividade laboral? ( ) Até 1 Ano ( ) 1 à 3 Anos ( ) 3 à 5 Anos ( ) 5 à 10 Anos ( ) 10 à 15 Anos ( ) 15 à 20 Anos ( ) Mais de 20 Anos [1] Mais-valia é conceito formulado por Karl Marx relativo à diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador, que seria a base da exploração no sistema capitalista. (Marx, 1998)