O documento discute a alta taxa de homicídios em Pernambuco, Brasil. Apresenta dados alarmantes sobre o número de mortes, principalmente de jovens. Aponta que a violência representa um custo econômico e social elevado. Defende que a família estruturada e valores como a paz podem ajudar a reduzir a violência. O objetivo é sensibilizar a sociedade sobre o tema e construir uma cultura da vida.
Mapa de circulação proibição de giros rua 13 de maio e rua dos palmares
Campanha Não Matarás
1. Pastoral da Saúde da Arquidiocese de Olinda e Recife
Campanha:
Não Matarás!
“Bem aventurados os que trabalham para a paz
porque serão chamados filhos de Deus” (MT 5,9)
Recife
2008
Saúde e homicídios
2. A palavra “saúde” vem do latim salus, que significa, ao mesmo tempo,
saúde e salvação. Inclui alma e corpo, espírito e matéria; não separa as
coisas. Por isso, quando a Bíblia fala em salvação (salus), convém lembrar a
origem bem material desta palavra, a saúde. A palavra hebraica para indicar
saúde vem da raiz shalam, que significa inteiro. Ou ainda shalôm, paz
(BALDESSIN, 2000). Pois é exatamente no shalôm (paz) que a sociedade
pernambucana vem apresentando há vários anos índices epidemiológicos de
mortalidade alarmantes e dignos de calamidade pública.
Dados do Sistema Único de Saúde nos revelam que os crimes
violentos intencionais letais no período de 1996 a 2005 exterminaram cerca
de 42.000 pernambucanos. Informações da Secretaria de Defesa Social de
Pernambuco mostram que em 2005 o Estado teve 4.460 assassinatos o que
representa 53 crimes violentos letais por cada 100.000 habitantes. Dados
sobre homicídios adquiridos do site PEbodycount (acesso em 16/09/2008)
constam 3.093 assassinatos ocorridos no Estado de Pernambuco nesses
nove meses de 2008.
Ainda em relação aos dados existe um fator agravante: os jovens são
as principais vítimas dessa epidemia. Segundo informações da própria
SDS/PE e do Ministério da Saúde em 2004 o Estado teve uma média de 116
mortos jovens entre 20 e 29 anos para cada 100.000 habitantes nesta idade
e 83 assassinatos de seres humanos entre 15 e 19 anos para cada 100.000
existentes em solo pernambucano. No mesmo ano foram 310 mortos homens
na faixa de 20 a 29 anos para cada 100.000 habitantes. Você conhece
alguma chaga que afete pessoas em idade produtiva e que mate mais que a
violência letal intencional em Pernambuco?
Uma pesquisa do Ministério da Saúde apontou em junho de 2008 que
os homens são os que mais geram atendimentos nas urgências e emergências
do Sistema Único de Saúde (SUS). Entre setembro e outubro de 2007, de
5.488 notificações de pessoas vítimas de violências que procuraram as
unidades de urgências e emergências, 3.896 (71%) eram homens, apontados
também como os maiores agressores, com 3.670 (74%) dos registros de
agressões. Entre as mulheres, foram detectadas 1.592 vítimas de acidentes
e violências (29%).
Do ponto de vista econômico, a violência representa um custo não
mensurável, mas, com certeza, bastante elevado, visto que incide
3. prioritariamente sobre uma população em idade produtiva que é,
abruptamente, retirada do meio em que vive, seja pela morte precoce, seja
pela ocorrência de seqüelas, em grande número de vezes, graves e
irreversíveis. Segundo estudos divulgados por revistas especializadas o
paciente traumatizado é mais oneroso que o paciente internado por causas
naturais. Essa diferença decorre, provavelmente, de maior número de dias
de hospitalização em Unidades de Terapia Intensiva e procedimentos mais
dispendiosos, como cirurgias e diagnósticos por imagem.
O cientista político José Maria Nóbrega, em artigo publicado no site
PEbodycount (acesso em 11/09/2008) salienta que:
“uma pesquisa realizada pelo IPESPE entre os dias 30 e 31 de agosto
do presente ano revela que 54% dos entrevistados têm uma
expectativa ruim ou péssima a respeito da situação da segurança nos
próximos meses. 74% avaliam a situação da segurança no Recife como
sendo ruim ou péssima e 78% acreditam que a violência esteja
aumentando na capital de Pernambuco. Mas, quando elencam a
prioridade no combate à violência, os homicídios aparecem em
terceiro lugar, com 36% dos entrevistados, onde a violência contra a
mulher aparece em primeiro lugar com 54% e a violência contra
crianças em segundo com 44%, apesar da inexpressão estatística no
que tange a homicídios por estes grupos. Impressiona que, combater
grupos de extermínio não é prioridade para os recifenses, opinando
em apenas 1% como prioridade no combate à violência.”
Muitos são os fatores que contribuem para esta escalada da violência
e dos homicídios em nosso Estado e no Brasil. A sua complexidade passa por
questões antropológicas, sociais, morais, éticas, ambientais, filosóficas,
religiosas, entre outros fatores, o que inclui o papel do Estado, das
instituições e das pessoas.
Família e homicídios
4. Soares (2008) apresenta um vasto campo de informações que devem
servir de reflexão para toda a sociedade brasileira, em especial a
pernambucana no que tange fatores que geram violência. O autor trata de
forma interessante como a família pode contribuir para o aumento ou a
redução da violência e dos homicídios. Salienta ainda que famílias com
apenas um responsável (pai ou mãe), na média, enfrentam muitas
dificuldades na formação dos filhos, começando pela financeira.
Mesmo quando há um bom entendimento entre os ex-esposos, são
duas as residências a serem mantidas, e não uma. Entre os mais
pobres, a combinação da pobreza com a falta de apoio de um parceiro
pode levar a pesadas cargas horárias de trabalho para a mulher,
reduzindo ao mínimo as interações entre ela e os filhos. Muitos
passam a ser, literalmente, educados na rua, por outros meninos,
entre os quais é maior a possibilidade de socialização na direção da
delinqüência. Pode também levar à substituição do pai por outros
parceiros, que, na média, são menos interessados e mais violentos do
que o pai biológico. (SOARES, 2008, p.88).
Em tabela, Soares (2008, p,88) relaciona por Estado da federação, a
proporção de domicílios chefiados por mulher sem companheiro e com pelo
menos um filho de até 17 anos com a taxa de homicídios entre 1996 e 2002.
O autor afirma que quanto maior a quantidade de mulheres dirigindo
sozinhas famílias no município, mais alta a taxa de homicídios. Salienta
ainda que os dados justificam a inclusão de indicadores de estrutura e
funções familiares na análise dos homicídios.
Por fim, em relação ao tema, Soares (2008, p.89) vincula a família,
num modelo de socialização das crianças e jovens, à transmissão de valores
diferentes dos aprendidos com gangues e os traficantes – ainda que alguns
destes valores possam ser eticamente condenáveis. Ou seja, o autor nos
leva refletir que uma família bem estruturada juntamente com a escola e a
religião competem na formação ética dos seus filhos com as gangues, os
traficantes e pessoas de más influências. Ao passo que uma família
desestruturada soma zero, o que fortalece a marginalidade e a violência.
Sustentabilidade da vida e homicídios
5. A Campanha da Fraternidade (CF) de 2008 nos conduz às reflexões
sociais, morais e éticas que devem nortear todo ser humano (não só o
católico) na defesa da vida. Ao agente de Pastoral da Saúde compete
refletir e agir à luz da ciência e das políticas públicas comprometidas com a
sustentabilidade da vida no planeta. Escolher, pois, a vida foi
primordialmente a opção feita por Jesus durante toda sua passagem
conforme nos relata a Sagrada Escritura e não poderia ser diferente a ação
da Pastoral da Saúde que é a Pastoral da Vida.
O texto base da CF 2008 sobre a DEFESA da VIDA diz que:
“nas periferias das grandes cidades, a violência, o crime e o tráfico
de drogas são cada vez maiores. Muitos se perguntam será que a pobreza é a
causa da violência? Em primeiro lugar, é notório que grandes líderes do crime
organizado não costumam morar em favelas. Por outro lado, a ausência do
Estado, a falta de perspectivas e de modelos a seguir torna muitas pessoas,
sobretudo jovens e adolescentes, bastante vulneráveis diante das promessas
de dinheiro fácil, de aventura e de proteção de parte dos corruptores”...
“quem trabalha nas comunidades de periferia sabe muito bem como seus
moradores são acolhedores, honestos, trabalhadores, pessoas da paz e do
bem, que sonham e lutam por um mundo mais justo e solidário. São, sim,
vítimas da violência e da truculência de uma minoria criminosa, que se impõe à
população, não raro com a conivência de pessoas que deveriam zelar por sua
segurança. Associar pobreza à violência pode gerar grandes injustiças na
avaliação das pessoas” (CF 2008 – Texto base).
Mudar a realidade de cultura da morte e da violência é função ímpar
não só do cristão católico, mas de todas as pessoas de bem independente de
credo ou religião. Os números da violência e dos homicídios em Pernambuco
mostram-nos uma epidemia de conseqüências imprevisíveis para a
sustentabilidade da vida humana em nossa região.
É importante salientar que jamais, em toda a história humana, foram
dadas tantas condições e apresentadas tantas circunstâncias para que seu
futuro seja melhor. (WESCHENFELDER, 2005, p.39) Depende apenas das
pessoas e instituições do bem. Ressalta-se assim, em nossos dias, a
convergência entre a mensagem evangélica e os mais profundos objetivos e
desejos do gênero humano, quando o Evangelho proclama bem-aventurados
os que trabalham para a paz “porque serão chamados filhos de Deus” (MT
5,9) (Gaudium et spes)
Objetivo geral:
6. Sensibilizar o maior número de pessoas e de organizações
governamentais e não governamentais em relação ao tema homicídios no
âmbito do Estado de Pernambuco e contribuir para a construção da cultura
da vida em nossas cidades.
Metodologia:
PRIMEIRO MOMENTO:
Realização: PASTORAL DA SAÚDE DA ARQUIDIOCESE DE OLINDA E
RECIFE E PEBODYCOUNT.
Apoio:
Período: de 17 de Outubro (domingo) ao dia 16 de Novembro de 2008.
1. Lançamento oficial da parceria institucional entre a Pastoral da
Saúde da Arquidiocese de Olinda e Recife e o Grupo de Jornalistas
organizadores do sítio eletrônico contador de homicídios de
Pernambuco PEbodycount: dia 17/10, sexta-feira, às 19h00 na
paróquia matriz de Campo Grande (Estrada de Belém, 1425, Campo
Grande, Recife/ PE, fone: 3243-2900 – secretária Bete);
2. Pedidos de orações e divulgação, em paróquias determinadas da
Arquidiocese (especificadas no dia 17/10), das pessoas assassinadas
em Pernambuco em cada semana nos informes das missas seguidos de
breve esclarecimento/ sensibilização à assembléia: período litúrgico
anterior ao advento: 17/10 – 16/11, compreendendo cinco finais de
semana;
3. Fixação semanal nos murais das paróquias envolvidas dos nomes das
pessoas assassinadas em Pernambuco em cada semana durante o
período compreendido da campanha de sensibilização (17/10 – 16/11);
4. Envio semanal a todos os contatos da Pastoral da Saúde (bispos,
padres, religiosos, fiéis, amigos, autoridades ...) por e-mails e outros
canais dos nomes das pessoas assassinadas junto com reflexões sobre
a problemática;
7. 5. Formação de grupo de trabalho para discutir com representantes de
outras instituições a elaboração das novas ações/ campanhas de
sensibilização da sociedade pernambucana em relação à temática;
Leituras bíblicas dominicais dos finais de semana da
campanha (conforme liturgia diária):
1. Dia 17 de Outubro de 2008: Sexta-feira – Lc 12,1-7;
2. Dia 19 de Outubro de 2008: 29° Domingo Comum – Mt 22, 15-21 (Dia
das Missões);
3. Dia 26 de Outubro de 2008: 30° Domingo Comum – Mt 22, 34-40;
4. Dia 02 de Novembro de 2008: 31° Domingo Comum/ FINADOS – Lc
12, 35-40;
5. Dia 09 de Novembro de 2008: 32° Domingo Comum – Jo 2, 13-22;
6. Dia 16 de Novembro de 2008: 33° Domingo Comum – Mt 25, 14-30;
Referências
8. 1. BALDESSIN, Anísio. Com fazer pastoral da saúde? Edições Loyola.
São Paulo. 2000. 219p.
2. Constituição Pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo de
hoje – cap. V – números 77 e 78. In: Vaticano II – mensagens,
discursos, documentos. São Paulo. Edições Paulinas, 1998.
3. SOARES, Gláucio Ary Dillon. Não Matarás – desenvolvimento,
desigualdade e homicídios. Rio de Janeiro. Editora FGV, 2008. 200p.
4. Campanha da Fraternidade (CF) – Texto base. CNBB. Editora
Salesiana. Brasília. 2008.
5. PEbodycount – Contador de homicídios de Pernambuco. Disponível em:
http://www.pebodycount.com.br. Acesso em: 27 set. 2008.
6. SOTER – Sociedade de teologia e ciências da religião (org.).
Sustentabilidade da vida e espiritualidade. São Paulo. Edições
Paulinas, 2008.
7. WESCHENFELDER, Celina H. (org.) Tempo de Paz. São Paulo. Edições
Paulinas, 2005.