SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 12
Descargar para leer sin conexión
Figura 1: Hospital Dom Luiz I da Beneficente
Portuguesa de Belém
Fonte: CENTRO DE MEMÓRIA DA AMAZÔNIA.
Disponível em:
<http://www.ufpa.br/cma/iconografias.html>. Acesso
em: 1º mar. 2010.
O hospital D. Luiz I da Beneficente Portuguesa em Belém-PA e a transferência de
modelos artísticos entre mares
SALVADOR MIRANDA, Cybelle1
; GODINHO, Emanuella Piani2
.
Resumo: O Hospital D. Luiz I da Beneficente Portuguesa de Belém, datado de 1877, foi
projetado em linhas neoclássicas pelo Arquiteto português Frederico José Branco, o
qual participou na edificação do Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro.
Sabe-se que a criação das Beneficências no século XIX foi de particular importância
para o desenvolvimento da sociedade brasileira, produto do intenso fluxo migratório
português para o Brasil, no século XIX, com destaque para o Pará. Estes migrantes
trouxeram consigo ideais estéticos que, mesclados as influências locais, também
retornaram a Portugal, como é visível no caso do Hospital da Beneficente do Rio de
Janeiro, que serviu de modelo ao Hospital de Fafe, afirmando a transferência de padrões
do Brasil a Portugal, reforçando os laços circulares de idéias entre os dois oceanos. Esta
pesquisa integra o “Inventário Nacional do Patrimônio da Saúde: bens edificados e
acervos” na cidade de Belém, Pará.
1. Transferência de modelos artísticos Brasil-Portugal: o Hospital da Beneficente
Portuguesa de Belém
Com base na pesquisa que coordenamos em Belém desde 2009, parte do Projeto
nacional gerenciado pela Fundação
Oswaldo Cruz (RJ) denominado
“Inventário Nacional do Patrimônio
da Saúde: bens edificados e
acervos”, destacamos a edificação
da segunda metade do século XIX,
que abriga o Hospital D. Luiz I da
Beneficente Portuguesa de Belém.
Projetado pelo Arquiteto português Frederico José Branco, do qual se tem pouquíssima
1
Doutora em Antropologia. Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Programa de Pós-
graduação em Arquitetura e Urbanismo – Universidade Federal do Pará.
2
Discente do Curso de Arquitetura e Urbanismo/UFPA. Bolsista de Iniciação Científica
PROPESP/FAPESPA.
Figura 2: Capela Nossa Srª da Conceição
Foto: Carla Albuquerque, 2010
informação, uma das quais aponta sua participação na edificação do Gabinete Português
de Leitura, no Rio de Janeiro3
, a edificação aparece em iconografia do artista italiano
Leon Righini, com um corpo central em dois pavimentos, arrematado por frontão
curvilíneo, com corpos laterais
simétricos em pavimento térreo.
Após reformulação no século XX,
houve acréscimo de pavimento
superior nos dois corpos laterais,
bem como a adição de um corpo
destinado a Maternidade D. Luiz I,
acompanhando as linhas clássicas
da edificação original. O hospital segue o modelo pavilhonar, com blocos voltados para
um jardim interno.
Em seus interiores, a edificação apresenta grandes salões, quartos amplos,
mantendo ainda a função hospitalar, bem como possui capela consagrada a Nossa Srª da
Conceição, com linhas arquitetônicas ecléticas, vitrais coloridos decorados com
elementos concheados e altar–mor em abside.
Sabe-se que a criação de Misericórdias durante o período colonial e das
Beneficências no século XIX foram de particular importância para o desenvolvimento
da sociedade brasileira, sendo que as Beneficências estão relacionadas com o intenso
fluxo migratório português para o Brasil, no século XIX, com destaque para o Pará
(COLÓQUIO Entre mares, 2009). Estes migrantes trouxeram consigo ideais estéticos
3
Arquiteto português residente no Rio de Janeiro, conhecido também como Frederico José Bianco.
Construtor do Real Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro. Ver COELHO, Gustavo Neiva. O
Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://casaabalcoada.blogspot.com/2009/11/o-real-gabinete-portugues-de-leitura-do.html>. Acesso em
18 mar. 2010.
que, mesclados as influências locais, também retornaram a Portugal, como é visível no
caso do Hospital da Beneficente Portuguesa do Rio de Janeiro, que serviu de modelo ao
Hospital de Fafe, em Portugal (SOUSA, 2007). Durante os oitocentos, Sousa defende a
tese da transferência de padrões do Brasil Império a Portugal, reforçando os laços
circulares de idéias entre os dois oceanos.
2. Considerações sobre as Beneficências no Brasil e no Pará
A assistência aos desamparados em Portugal tem origem na Idade Média, com a
reconquista da nacionalidade, cujas obras de caridade concretizavam ideais teológicos,
morais e sociais da Igreja Católica. “Hospitais, albergues, gafarias e confrarias foram-se
multiplicando no Portugal medieval seguindo os favores de patronos, ordens religiosas e
devoções cultuais cristológicas, marianas e uma longa lista de santos e santas.”
(CHAVES, 2008. p. 26) Segundo Abílio Garcia (apud CHAVES, 2008. p. 26) as obras
de caridade segmentavam-se em três categorias: albergarias ou albergues, gafarias ou
lazaretos para leprosos, mercearias para pobres. Durante o Império colonial português, o
estabelecimento das Misericórdias em todo o seu território colonial tornou-se uma das
bases de sustentação da administração metropolitana.
No Brasil, os primeiros hospitais tiveram por objetivo dar assistência aos
marinheiros e viajantes. Contudo, tais instituições não contavam com auxílio financeiro
do Estado, durante o período colonial, dependendo plenamente da caridade privada.
Durante o Império, passaram a contam com benefícios como a isenção de impostos, e o
privilégio da organização de loterias. Devido a necessidade dos migrantes lusos, foram
criadas as Sociedades Portuguesas de Beneficência, a partir da segunda metade do
século XIX:
Como instituição privada dependente do pagamento de mensalidades e
de doações espontâneas advindas dos associados, as Sociedades
Portuguesas de Beneficência diferiam das Santas Casas de
Misericórdia, cujo atendimento hospitalar foi direcionado para a
população em geral e as despesas indiretamente subvencionadas pelo
poder político do Império (CHAVES, 2008. p. 41).
A Sociedade Portuguesa de Beneficência tinha como metas, além da assistência
hospitalar, havia o intuito de observar normas de comportamentos, promovendo
atividades educacionais e sociais, destacando-se a devoção simbólica a monarquia
portuguesa. Isso se torna claro uma vez que, como prerrogativa para estabelecer-se, a
Instituição deveria obter o apadrinhamento de um monarca português, expresso por
meio de Decreto-Lei, como o Decreto de 14 de maio de 1862, assinado pelo rei D. Luiz
I:
Pelo Decreto de 14 de Maio de 1862: a Sociedade Portuguesa de
Beneficência do Rio de Janeiro, dela se declarou El- Rei seu protetor,
Alvará de 4 de Agosto de 1862, a Sociedade Portuguesa de
Beneficência do Pará, El- Rei declarou-se seu protetor, Alvará de 8 de
Janeiro de 1863, Sociedade Portuguesa Dezesseis de Setembro da
Bahia, El-Rei declarou-se seu protetor, Alvará de 27 de Maio de 1863.
(Indice Remissivo da Legislação Novíssima de Portugal. Anos de
1833 até 1868. Lisboa:Typographia Universal, 1870. p. 186. Arquivo
Ultramarino de Lisboa. Lisboa: Portugal.)
A Colônia Portuguesa no Pará fundou a Sociedade Beneficente em 8 de
outubro de 1854, que tinha por objetivo essencial reunir e socorrer seus sócios
(VIANNA, 1974. p. 23). Em 15 de março de 1857, a associação passa a ser chamada de
Sociedade Portuguesa Beneficente, cujos requisitos para associar-se exigiam fosse
“cidadão português no gozo de seus direitos, tivesse bom procedimento, residisse no
Pará ou Amazonas, e ganhasse em emprego lícito a sua subsistência.” (VIANNA, 1974.
p. 38)
Em 15 de novembro de 1863 a Sociedade compra um prédio no Largo das
Mercês, 28 na esquina com a Rua 15 de novembro que abrigaria a sua sede. Com a
morte de Medeiros Branco, em 1867, os sócios decidiram por em prática o projeto do
hospital com a compra de um prédio localizado na Praça da República próximo ao Café
Chic e vizinho ao antigo Hotel da Paz, local onde hoje localiza-se a sede do Banco da
Amazônia (BASA). O imóvel apresentava condições higiênicas suficientes e aceitáveis
para o funcionamento da Casa de Saúde. Em 31 de outubro, dia do aniversário de Dom
Luiz I, inaugura-se a Enfermaria e a Pedra Fundamental do Hospital que seria
construído no terreno ao lado. A Casa de Saúde ficou conhecida como Asilo Português
da Infância Desvalida e tinha como objetivo “assegurar aos filhos de seus sócios
falecidos em pobreza, os meios de subsistência, educação e instrução até a puberdade, e
a proporciona-lhes uma profissão honesta”. (VIANNA, 1974. p. 58)
Nos anos seguintes, o Asilo se mostrava insuficiente para as necessidades dos
associados da Beneficente. Em 1871, em face da epidemia de febre amarela em Belém,
o Cônsul português no Pará propõe a criação da Comissão Portuguesa de Socorro aos
Indigentes Atacados de Febre Amarela. Para minimizar o problema com os doentes, a
Sociedade instala, provisoriamente, uma enfermaria de dois pavimentos localizada na
Rua Santo Antônio conhecida como Casa de Saúde da Real Sociedade Portuguesa
Beneficente que tinha a frente dos serviços o médico José da Gama Malcher.
Em 23 de maio de 1873, o presidente do hospital, à época, Antônio Antunes
Sobrinho, apresenta a proposta de compra de um dos dois lotes situados na Estrada Dois
de Dezembro (atual Avenida Generalíssimo Deodoro) que não possuíam qualquer tipo
de benfeitoria, sendo a área pouco habitada, com um imenso matagal ventilado. O
negócio tinha por objetivo a construção de um hospital que atendesse às necessidades
dos associados, e em cujo terreno fosse passível de ampliação futura e não contasse com
nenhuma edificação a ser demolida. A Diretoria decidiu pela aquisição do terreno
compreendido entre as ruas João Balbi e Boaventura da Silva, cujas traseiras ficavam
para a Travessa Dom Romualdo de Seixas, pertencente ao Sr. Roberto Hesketh no valor
de 10.000$000 à vista e 5.000$000 a ser pago em oito meses.
Em 31 de outubro de 1874 lança-se mão da Pedra Fundamental do Hospital e
contrata-se o arquiteto Frederico José Branco, idealizador do projeto.
O artista compreendeu bem o que desejava e revelou de modo
inconcusso a sua competência traçando um projeto geral de um
grandioso edifício, devendo ser uma parte executada para servir às
exigências de então e outra quando mais tarde o desenvolvimento
interno do serviço hospitalar requeresse uma locação maior.
(VIANNA, 1974. p. 71)
Atendendo às exigências de higiene e saúde da época, a proposta compreendia
edifício amplo, com boa insolação e luminosidade, sendo bastante ventilado e arejado,
condições essenciais para evitar as possíveis insalubridades produzidas pelas águas e
pela umidade abundantes em Belém. Para a construção do prédio foram aceitos todos os
tipos de recursos, a saber: bilheteria dos teatros, bazares, donativos em dinheiro e em
materiais de construção e mão-de-obra escrava cedida pelos senhores de escravo. Em 29
de abril de 1877, inaugurou-se o Hospital Dom Luiz I destinado aos portugueses
residentes em Belém.
Em outubro de 1904, em função das comemorações dos 50 anos de existência
da Sociedade Beneficente, a entidade definiu-se pela compra de um terreno de esquina
da Estrada da Boaventura da Silva com a Avenida Generalíssimo Deodoro, pela lateral
do hospital, que serviria para a construção do hidroterápico, o qual foi inaugurado em
20 de abril de 1906. O Hidroterápico foi uma das instituições mais prestigiadas do
complexo Beneficente Portuguesa pelos tratamentos de recuperação que prestava,
especialmente quando os tratamentos dessa natureza tinham muito crédito. Foi sempre
um serviço dirigido por médicos de bastante prestígio e nos anos 70 do século passado,
“ir ao hidroterápico” era sinônimo de cuidados de saúde que influenciavam na
conservação da beleza, seria “mal comparando” o correspondente aos institutos de
estética dos nossos dias.
Em 5 de maio de 1910, a Beneficente constrói a nova sala de operações e
investe na compra de material cirúrgico para que pudesse prestar serviços de alta
complexidade. Paralela à reforma do centro cirúrgico empreende-se a ampliação do
pavimento superior no corpo central do hospital, que se destinaria ao tratamento de
senhoras, concluída em 1911. Em 7 de julho de 1958, tem início a construção da nova
Maternidade, com fachada voltada para a Rua Boaventura da Silva, fazendo a união dos
dois blocos existentes. A execução ficou a cargo do sócio Sr. Antônio da Rocha Braga e
sua conclusão se deu em 1961.
Em que pese as reformas, atualmente os andares térreo e superior são
destinados aos quartos individuais e serviços cirúrgicos e nos porões habitáveis
encontram-se enfermarias, consultórios e serviços de apoio diagnóstico.
3. O classicismo Imperial como fonte do Classicismo à brasileira
Por três séculos teremos Portugal como a origem de toda e qualquer referência
arquitetônica brasileira até o período imperial, quando haverá uma inversão do fluxo de
influências. Apenas três décadas após sua independência, veremos a produção de uma
arquitetura inovadora no Brasil, que chamará a atenção de sua ex-metrópole ao ponto de
tomar para si tal estilo, que virá a ser denominado de Classicismo à Brasileira por
Alberto Sousa no livro “A variante portuguesa do classicismo imperial brasileiro”.
Assim, esta linguagem arquitetônica implantada no Brasil durante o século XIX
será chamada de Classicismo Imperial Brasileiro (SOUSA, 2007), e será o estilo
arquitetônico mais reconhecido entre as obras estudadas nesta pesquisa. Destaca-se por
seus elementos estilísticos marcantes, em que os mais característicos serão:
primeiramente o uso das platibandas, sendo estas cheias ou vazadas, apesar de que, no
Classicismo Imperial Brasileiro
será mais comum o uso de
platibandas cheias, enquanto que o
Classicismo à Brasileira
apresentará mais fachadas com
platibandas vazadas e com
balaústres. Esta será a característica
que define o estilo, visto que a
presença deste traço e de vãos encimados por vergas semicirculares serão determinantes
para julgar este estilo como classicismo imperial brasileiro, por mais que em algumas
obras vejamos variações quanto a este último elemento, tais como: vãos com verga
semicircular, concentrados num pavimento, e vãos com outros formatos de verga,
colocados no outro, formando assim um grupo a parte que possuem características
singulares dentro do estilo.
Irá se destacar nas obras públicas, as quais serão de grande relevância para este
estudo. O primeiro exemplar do classicismo imperial brasileiro foi o prédio da
Academia Militar do Rio de Janeiro, projetado pelo engenheiro francês P. J. Pezérat na
segunda metade dos anos de 1820. Destaca-se em razão de sua fusão de tradições
Figura 3 :Hospital da Misericórdia em Fafe, exemplar da
variante portuguesa, foi construido nos padrões da
edificação do Rio de Janeiro
Fonte: SOUSA, 2007. p. 77
arquitetônicas luso-brasileiras, formando assim uma frontaria moderna e classicista,
tendo como características principais o coroamento da elevação com uma platibanda
cheia, a marcação de um corpo central encimado por um frontão triangular e dividido
por pilastras; e o uso exclusivo, em tal corpo, de vãos com verga semicircular.
O Hospital da Beneficência Portuguesa no Rio de Janeiro será outro exemplar
deste estilo, tendo em vista que apresenta muitas das características que marcam o
Classicismo Imperial Brasileiro. Por outro lado, representa um modelo a ser seguido
pelos hospitais da Beneficente Portuguesa no Brasil, como o Hospital Dom Luiz I da
Beneficente Portuguesa de Belém.
O mais antigo componente do acervo do Classicismo à brasileira será o Hospital
da Misericórdia de Fafe, que fora inaugurado bastante incompleto em 1863, e tinha por
intenção ser uma réplica do Hospital
da Beneficência Portuguesa do Rio de
Janeiro, que foi iniciado em 1853 e
concluído em 1858 (Fig. 3). Ou seja, o
início do classicismo à brasileira na
arquitetura pública em Portugal, ainda
será bastante dependente do seu
modelo de origem - o classicismo
imperial brasileiro -, ao contrário dos
exemplos das estações ferroviárias que já datam de 1875, em que haverá mais liberdade
na combinação de soluções, no caso do Hospital da Beneficência ainda estão muito
presos em copiar um modelo anterior. Porém, apesar de se manterem muitas
semelhanças entre um edifício e outro como na volumetria e na elevação frontal,
Figura 4: Hospital da Beneficência Portuguesa no Rio
de Janeiro
Fonte: SOUSA, 2007. p. 77
Figura 5: Fachada principal do Hospital D. Luiz I
Foto: Carla Albuquerque, 2009
diferenças entre ambos foram inevitáveis. As principais distinções encontram-se na
platibanda, na fenestração do primeiro andar e na faixa de separação dos pavimentos,
conforme analisa Alberto Sousa:
Quase todas as mudanças feitas neste na hora de reproduzi-lo
contribuíram para tornar a frontaria fafense menos elegante que a
carioca. A platibanda cheia roubou boa parte da força visual do
frontão arqueado. As janelas de verga reta no andar romperam a
homogeneidade da fenestração, uma das razões principais da beleza
do alçado do hospital carioca. E a decisão de separar os pavimentos
com uma estreita cimalha, uma persistência estética do estilo chão,
privou a elevação da larga faixa horizontal escura que no último
edifício foi proporcionada por um entablamento completo e mostrou-
se tão benéfica à composição. (SOUSA, 2007. p. 76-77).
Parte-se, então, para a análise estilística do Hospital D Luiz I, em Belém.
4. Caracterização arquitetônica e estilística do Hospital D. Luiz I
O Imóvel tem sua fachada
principal voltada a Avenida
Generalíssimo Deodoro, 868, no bairro
de Nazaré, cujo entorno é
predominantemente residencial e de
alto valor imobiliário especulativo.
Arborização abundante pode ser
conferida no seu entorno,
especialmente na Avenida Generalíssimo. O estabelecimento de saúde ocupa a
totalidade do quarteirão em que se situa, com recuo frontal e lateral, em relação a
fachada anterior. A volumetria original não está preservada integramente, devido a
diversas de reformas e ampliações necessárias ao melhor atendimento hospitalar. Deste
modo, a forma arquitetônica predominante anteriormente, recortada com jardins
internos, encontra-se desfigurada pelas sucessivas ocupações dos afastamentos laterais e
de fundos, os quais tem prejudicado significativamente a insolação, ventilação e aeração
dos espaços destinados ao tratamento médico, que remetiam a ideia de modelo
higienista.
A época de construção do pavilhão principal data de 1877, contudo a
incorporação do pavimento superior dos corpos laterais e o bloco da Maternidade
consegue manter harmonia nas formas e no padrão de composição dos vãos. A fachada
principal possui características clássicas, tais como simetria, vãos ornados com frontões
triangulares e circulares, o frontão curvo (característica que remete à edificação do
Hospital da Beneficente Portuguesa do Rio de Janeiro) que arremata o corpo central e
platibanda que percorre toda a extensão do prédio. Os vãos alternam vergas retas e
curvas, estas em arco pleno e ogival, demonstrando a assimilação de influências
ecléticas. As pilastras apresentam-se na extensão da fachada como elemento de
marcação e identificação do rigor das proporções. A cobertura original em telha de
barro composta por três águas em cada pavilhão foi totalmente substituída pela telha do
tipo fibrocimento. A edificação apresenta conservação boa, porém percebe-se descuido
com questões referentes ao lixo e à poluição do ambiente.
Através da iconografia disponível, pode-se depreender que a edificação
original possuía volumetria predominantemente horizontal, em três corpos, sendo o
corpo central em dois pavimentos, mais destacado que os demais, lembrando o Palácio
Imperial de Petrópolis (construído entre 1845-1864), disposição típica do estilo imperial
brasileiro. Acredita-se que a planta original fosse em T, e, a partir de 1910, quando é
ampliado o segundo pavimento do corpo central, adquirindo o formato em H, como se
pode ver na fotografia à página 125 do livro de Artur Vianna. Com a construção da
Maternidade em 1958, unem-se os dois blocos, de frente e de fundos, perdendo a
edificação seu aspecto pavilhonar.
Na fachada do Hospital D. Luiz I nota-se semelhança com o Hospital da
Beneficente do Rio de Janeiro, especialmente no corpo central, destacando-se o frontão
curvilíneo, a presença de três janelas centrais situadas em volume que se projeta
levemente para a frente, vãos em arco pleno no 1º pavimento, escadaria central, cantos
arrematados por pilastras de capitel coríntio, com cornija saliente entre o 1º e 2º
pavimentos. Em Belém, as portas janelas do pavimento superior são arrematadas por
guarda-corpo entalado, e não por varandas contínuas como o exemplar carioca, bem
como as marcações horizontais e verticais do 1º pavimento no Rio de Janeiro foram
executadas em pedra, o que não ocorre em Belém. Com relação à volumetria, o
exemplar do Rio de Janeiro apresenta forma de quadrilátero, enquanto o D. Luiz I
possui forma horizontalidade, pela presença de dois corpos laterais simétricos.
REFERÊNCIAS
CHAVES, Larissa Patron. “Honremos a Pátria Senhores!”As sociedades Portuguesas de
Beneficência: caridade, poder e formação de elites na Província de São Pedro do Rio
grande. (1854-1910). Porto Alegre, 2008. 338 p. Tese (Doutorado em
História).Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Programa de Pós-graduação em
História. 2008.
COLÓQUIO Entre Mares o Brasil dos Portugueses. Disponível em :<
http://seminarioentremares.blogspot.com/2009/09/v-seminario-internacional-
sobre.html>. Acesso em: 12 fev.2011.
SOUSA, Alberto. A variante portuguesa do classicismo imperial brasileiro. João
Pessoa: Editora Universitária – UFPB, 2007. p. 76.
VIANNA, Arthur. A História da Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente. Belém,
[s.n], 1974.

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Especificação projeto hospitalar
Especificação projeto hospitalarEspecificação projeto hospitalar
Especificação projeto hospitalarElton Rocha
 
Hub switch repetidores
Hub switch repetidoresHub switch repetidores
Hub switch repetidoresTiago Garcia
 
SI - Introdução a Sistemas Distribuidos
SI - Introdução a Sistemas DistribuidosSI - Introdução a Sistemas Distribuidos
SI - Introdução a Sistemas DistribuidosFrederico Madeira
 
Guia alimentar para dm2 diabetes tipo 2
Guia alimentar para dm2   diabetes tipo 2Guia alimentar para dm2   diabetes tipo 2
Guia alimentar para dm2 diabetes tipo 2Ana Campelos
 
Aula02 Sistemas Distribuídos - Caracterização de sistemas distribuídos
Aula02 Sistemas Distribuídos - Caracterização de sistemas distribuídosAula02 Sistemas Distribuídos - Caracterização de sistemas distribuídos
Aula02 Sistemas Distribuídos - Caracterização de sistemas distribuídosMessias Batista
 
Sistema operativo servidor
Sistema operativo servidorSistema operativo servidor
Sistema operativo servidorSandu Postolachi
 
Funcionalidades Windows Server 2008 R2
Funcionalidades Windows Server 2008 R2Funcionalidades Windows Server 2008 R2
Funcionalidades Windows Server 2008 R2Rafael Cardoso
 
Turismo fluvial
Turismo fluvialTurismo fluvial
Turismo fluvialTina Lima
 
Formação nutrição desportiva - AHBE
Formação nutrição desportiva - AHBEFormação nutrição desportiva - AHBE
Formação nutrição desportiva - AHBETiago Sousa
 
Matemática das Redes - Parte I
Matemática das Redes - Parte IMatemática das Redes - Parte I
Matemática das Redes - Parte IDalton Martins
 
Sistemas Operativos (Operating Systems)
Sistemas Operativos (Operating Systems)Sistemas Operativos (Operating Systems)
Sistemas Operativos (Operating Systems)Pepe Rocker
 

La actualidad más candente (20)

Especificação projeto hospitalar
Especificação projeto hospitalarEspecificação projeto hospitalar
Especificação projeto hospitalar
 
Hub switch repetidores
Hub switch repetidoresHub switch repetidores
Hub switch repetidores
 
Guia básico wix
Guia básico wixGuia básico wix
Guia básico wix
 
SI - Introdução a Sistemas Distribuidos
SI - Introdução a Sistemas DistribuidosSI - Introdução a Sistemas Distribuidos
SI - Introdução a Sistemas Distribuidos
 
49778140 projeto-de-rede
49778140 projeto-de-rede49778140 projeto-de-rede
49778140 projeto-de-rede
 
Guia alimentar para dm2 diabetes tipo 2
Guia alimentar para dm2   diabetes tipo 2Guia alimentar para dm2   diabetes tipo 2
Guia alimentar para dm2 diabetes tipo 2
 
Aula02 Sistemas Distribuídos - Caracterização de sistemas distribuídos
Aula02 Sistemas Distribuídos - Caracterização de sistemas distribuídosAula02 Sistemas Distribuídos - Caracterização de sistemas distribuídos
Aula02 Sistemas Distribuídos - Caracterização de sistemas distribuídos
 
SI - Arquiteturas
SI - ArquiteturasSI - Arquiteturas
SI - Arquiteturas
 
Sistema operativo servidor
Sistema operativo servidorSistema operativo servidor
Sistema operativo servidor
 
Funcionalidades Windows Server 2008 R2
Funcionalidades Windows Server 2008 R2Funcionalidades Windows Server 2008 R2
Funcionalidades Windows Server 2008 R2
 
Endereçamento IPV4
Endereçamento IPV4Endereçamento IPV4
Endereçamento IPV4
 
O sonho de renato livro
O sonho de renato livroO sonho de renato livro
O sonho de renato livro
 
Turismo fluvial
Turismo fluvialTurismo fluvial
Turismo fluvial
 
Formação nutrição desportiva - AHBE
Formação nutrição desportiva - AHBEFormação nutrição desportiva - AHBE
Formação nutrição desportiva - AHBE
 
acta_5B
acta_5Bacta_5B
acta_5B
 
Cronograma de Execução do
Cronograma de Execução do Cronograma de Execução do
Cronograma de Execução do
 
Matemática das Redes - Parte I
Matemática das Redes - Parte IMatemática das Redes - Parte I
Matemática das Redes - Parte I
 
Sistemas Operativos (Operating Systems)
Sistemas Operativos (Operating Systems)Sistemas Operativos (Operating Systems)
Sistemas Operativos (Operating Systems)
 
Excel
ExcelExcel
Excel
 
CABEAMENTO ESTRUTURADO
CABEAMENTO ESTRUTURADOCABEAMENTO ESTRUTURADO
CABEAMENTO ESTRUTURADO
 

Destacado

Destacado (17)

Espetáculo arquitetônico
Espetáculo arquitetônicoEspetáculo arquitetônico
Espetáculo arquitetônico
 
Plano Salamanca 2014
Plano Salamanca 2014Plano Salamanca 2014
Plano Salamanca 2014
 
St pci-001-01-salvadormiranda
St pci-001-01-salvadormirandaSt pci-001-01-salvadormiranda
St pci-001-01-salvadormiranda
 
Sc pci-012 costa-pamplona_miranda
Sc pci-012 costa-pamplona_mirandaSc pci-012 costa-pamplona_miranda
Sc pci-012 costa-pamplona_miranda
 
Colégio e Igreja dos jesuítas e a paisagem da Belém do grão-Pará.
Colégio e Igreja dos jesuítas e a paisagem da Belém do grão-Pará.Colégio e Igreja dos jesuítas e a paisagem da Belém do grão-Pará.
Colégio e Igreja dos jesuítas e a paisagem da Belém do grão-Pará.
 
Apresentação1
Apresentação1Apresentação1
Apresentação1
 
Galeria Leme, São Paulo
Galeria Leme, São PauloGaleria Leme, São Paulo
Galeria Leme, São Paulo
 
0104 5970-hcsm-2015005000006
0104 5970-hcsm-20150050000060104 5970-hcsm-2015005000006
0104 5970-hcsm-2015005000006
 
A construção da identidade Luso-Paraense: Taipa como "lugar de memória"
A construção da identidade Luso-Paraense: Taipa como "lugar de memória"A construção da identidade Luso-Paraense: Taipa como "lugar de memória"
A construção da identidade Luso-Paraense: Taipa como "lugar de memória"
 
O “Raio que o parta” em Belém: um estudo sobre a valorização da arquitetura p...
O “Raio que o parta” em Belém: um estudo sobre a valorização da arquitetura p...O “Raio que o parta” em Belém: um estudo sobre a valorização da arquitetura p...
O “Raio que o parta” em Belém: um estudo sobre a valorização da arquitetura p...
 
Memória da assistência à Saúde em Belém-PA: Arquitetura como documento
Memória da assistência à Saúde em Belém-PA: Arquitetura como documentoMemória da assistência à Saúde em Belém-PA: Arquitetura como documento
Memória da assistência à Saúde em Belém-PA: Arquitetura como documento
 
Residências Neocoloniais do Bairro de Nazaré (Belém-PA): um percurso guiado p...
Residências Neocoloniais do Bairro de Nazaré (Belém-PA): um percurso guiado p...Residências Neocoloniais do Bairro de Nazaré (Belém-PA): um percurso guiado p...
Residências Neocoloniais do Bairro de Nazaré (Belém-PA): um percurso guiado p...
 
Espaços para aprender e ensinar música
Espaços para aprender e ensinar músicaEspaços para aprender e ensinar música
Espaços para aprender e ensinar música
 
Arquitetura Religiosa e o resgate do Sagrado em Belém-Pa
 Arquitetura Religiosa e o resgate do Sagrado em Belém-Pa Arquitetura Religiosa e o resgate do Sagrado em Belém-Pa
Arquitetura Religiosa e o resgate do Sagrado em Belém-Pa
 
Arquitetura Hospitalar em Belém na 1ª República: o caso do Hospital Juliano M...
Arquitetura Hospitalar em Belém na 1ª República: o caso do Hospital Juliano M...Arquitetura Hospitalar em Belém na 1ª República: o caso do Hospital Juliano M...
Arquitetura Hospitalar em Belém na 1ª República: o caso do Hospital Juliano M...
 
Arquitetura e Memória em Saúde
Arquitetura e Memória em SaúdeArquitetura e Memória em Saúde
Arquitetura e Memória em Saúde
 
ARQUITETURA ASSISTENCIAL E SAÚDE: DISCUTINDO CONCEPÇÕES E PROTAGONISTAS
ARQUITETURA ASSISTENCIAL E SAÚDE: DISCUTINDO CONCEPÇÕES E PROTAGONISTASARQUITETURA ASSISTENCIAL E SAÚDE: DISCUTINDO CONCEPÇÕES E PROTAGONISTAS
ARQUITETURA ASSISTENCIAL E SAÚDE: DISCUTINDO CONCEPÇÕES E PROTAGONISTAS
 

Similar a O Hospital D. Luiz I da Beneficente Portuguesa em Belém-PA e a transferência de modelos artísticos entre mares

A Assembleia da República - 200 anos do Parlamento Português
A Assembleia da República - 200 anos do Parlamento PortuguêsA Assembleia da República - 200 anos do Parlamento Português
A Assembleia da República - 200 anos do Parlamento PortuguêsArtur Filipe dos Santos
 
gestc3a3o-hospitalar.ppt
gestc3a3o-hospitalar.pptgestc3a3o-hospitalar.ppt
gestc3a3o-hospitalar.pptDboraLopesPorto
 
A Misericórida de Piratininga - Palestra
A Misericórida de Piratininga - PalestraA Misericórida de Piratininga - Palestra
A Misericórida de Piratininga - PalestraDanilo Barros Andrade
 
Colônias Agrícolas
Colônias AgrícolasColônias Agrícolas
Colônias AgrícolasACSHospitais
 
Sociedade e Cultura no Brasil imperial
Sociedade e Cultura no Brasil imperialSociedade e Cultura no Brasil imperial
Sociedade e Cultura no Brasil imperialAngelo Otto
 
A feira de pocinhos na sua diversidade mudanças e resistências.
A feira de pocinhos  na sua diversidade  mudanças e resistências.A feira de pocinhos  na sua diversidade  mudanças e resistências.
A feira de pocinhos na sua diversidade mudanças e resistências.Eduardo Araujo
 
Jb news informativo nr. 2146
Jb news   informativo nr. 2146Jb news   informativo nr. 2146
Jb news informativo nr. 2146JB News
 
Fragmentos Históricos da criação e inauguração do Hospício São Pedro
Fragmentos Históricos da criação e inauguração do Hospício  São Pedro Fragmentos Históricos da criação e inauguração do Hospício  São Pedro
Fragmentos Históricos da criação e inauguração do Hospício São Pedro ACSHospitais
 
Seminário 2011 - Biblioteca Nacional
Seminário 2011 - Biblioteca NacionalSeminário 2011 - Biblioteca Nacional
Seminário 2011 - Biblioteca Nacionaljlpaesjr
 
HISTÓRIA DA CIDADE E DOS MONUMENTOS PORTUENSES - A Sinagoga do Porto - Artur ...
HISTÓRIA DA CIDADE E DOS MONUMENTOS PORTUENSES - A Sinagoga do Porto - Artur ...HISTÓRIA DA CIDADE E DOS MONUMENTOS PORTUENSES - A Sinagoga do Porto - Artur ...
HISTÓRIA DA CIDADE E DOS MONUMENTOS PORTUENSES - A Sinagoga do Porto - Artur ...Artur Filipe dos Santos
 
Construção do catolicismo em conc. do coité da coloinização ao primeiro cente...
Construção do catolicismo em conc. do coité da coloinização ao primeiro cente...Construção do catolicismo em conc. do coité da coloinização ao primeiro cente...
Construção do catolicismo em conc. do coité da coloinização ao primeiro cente...UNEB
 
Comunidade israelita porto_atual
Comunidade israelita porto_atualComunidade israelita porto_atual
Comunidade israelita porto_atualSandra Costa
 
INVENTÁRIO PEDRO FONTES
INVENTÁRIO PEDRO FONTESINVENTÁRIO PEDRO FONTES
INVENTÁRIO PEDRO FONTESwescleymm
 
Relatório visita técnica Centro RJ e Museu Histórico Nacional
Relatório visita técnica Centro RJ e Museu Histórico Nacional Relatório visita técnica Centro RJ e Museu Histórico Nacional
Relatório visita técnica Centro RJ e Museu Histórico Nacional Maira Teixeira
 

Similar a O Hospital D. Luiz I da Beneficente Portuguesa em Belém-PA e a transferência de modelos artísticos entre mares (20)

A Assembleia da República - 200 anos do Parlamento Português
A Assembleia da República - 200 anos do Parlamento PortuguêsA Assembleia da República - 200 anos do Parlamento Português
A Assembleia da República - 200 anos do Parlamento Português
 
gestc3a3o-hospitalar.ppt
gestc3a3o-hospitalar.pptgestc3a3o-hospitalar.ppt
gestc3a3o-hospitalar.ppt
 
A Misericórida de Piratininga - Palestra
A Misericórida de Piratininga - PalestraA Misericórida de Piratininga - Palestra
A Misericórida de Piratininga - Palestra
 
Colônias Agrícolas
Colônias AgrícolasColônias Agrícolas
Colônias Agrícolas
 
Sociedade e Cultura no Brasil imperial
Sociedade e Cultura no Brasil imperialSociedade e Cultura no Brasil imperial
Sociedade e Cultura no Brasil imperial
 
A feira de pocinhos na sua diversidade mudanças e resistências.
A feira de pocinhos  na sua diversidade  mudanças e resistências.A feira de pocinhos  na sua diversidade  mudanças e resistências.
A feira de pocinhos na sua diversidade mudanças e resistências.
 
SãO Paulo
SãO PauloSãO Paulo
SãO Paulo
 
São Paulo
São PauloSão Paulo
São Paulo
 
São Paulo
São PauloSão Paulo
São Paulo
 
Jb news informativo nr. 2146
Jb news   informativo nr. 2146Jb news   informativo nr. 2146
Jb news informativo nr. 2146
 
Fragmentos Históricos da criação e inauguração do Hospício São Pedro
Fragmentos Históricos da criação e inauguração do Hospício  São Pedro Fragmentos Históricos da criação e inauguração do Hospício  São Pedro
Fragmentos Históricos da criação e inauguração do Hospício São Pedro
 
Colonizacao do brasil
Colonizacao do brasilColonizacao do brasil
Colonizacao do brasil
 
20100225110232
2010022511023220100225110232
20100225110232
 
Seminário 2011 - Biblioteca Nacional
Seminário 2011 - Biblioteca NacionalSeminário 2011 - Biblioteca Nacional
Seminário 2011 - Biblioteca Nacional
 
HISTÓRIA DA CIDADE E DOS MONUMENTOS PORTUENSES - A Sinagoga do Porto - Artur ...
HISTÓRIA DA CIDADE E DOS MONUMENTOS PORTUENSES - A Sinagoga do Porto - Artur ...HISTÓRIA DA CIDADE E DOS MONUMENTOS PORTUENSES - A Sinagoga do Porto - Artur ...
HISTÓRIA DA CIDADE E DOS MONUMENTOS PORTUENSES - A Sinagoga do Porto - Artur ...
 
Perodo joanino
Perodo joaninoPerodo joanino
Perodo joanino
 
Construção do catolicismo em conc. do coité da coloinização ao primeiro cente...
Construção do catolicismo em conc. do coité da coloinização ao primeiro cente...Construção do catolicismo em conc. do coité da coloinização ao primeiro cente...
Construção do catolicismo em conc. do coité da coloinização ao primeiro cente...
 
Comunidade israelita porto_atual
Comunidade israelita porto_atualComunidade israelita porto_atual
Comunidade israelita porto_atual
 
INVENTÁRIO PEDRO FONTES
INVENTÁRIO PEDRO FONTESINVENTÁRIO PEDRO FONTES
INVENTÁRIO PEDRO FONTES
 
Relatório visita técnica Centro RJ e Museu Histórico Nacional
Relatório visita técnica Centro RJ e Museu Histórico Nacional Relatório visita técnica Centro RJ e Museu Histórico Nacional
Relatório visita técnica Centro RJ e Museu Histórico Nacional
 

Más de Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural

Más de Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural (15)

Uma reflexão sobre a função da arquitetura pós-moderna no templo religioso da...
Uma reflexão sobre a função da arquitetura pós-moderna no templo religioso da...Uma reflexão sobre a função da arquitetura pós-moderna no templo religioso da...
Uma reflexão sobre a função da arquitetura pós-moderna no templo religioso da...
 
Tecnologia assistiva na Arquitetura das smart homes: o uso de sensores para a...
Tecnologia assistiva na Arquitetura das smart homes: o uso de sensores para a...Tecnologia assistiva na Arquitetura das smart homes: o uso de sensores para a...
Tecnologia assistiva na Arquitetura das smart homes: o uso de sensores para a...
 
O SÍTIO DA PATRIMONIAL: Uma análise sobre a outra faceta do bairro gênese da ...
O SÍTIO DA PATRIMONIAL: Uma análise sobre a outra faceta do bairro gênese da ...O SÍTIO DA PATRIMONIAL: Uma análise sobre a outra faceta do bairro gênese da ...
O SÍTIO DA PATRIMONIAL: Uma análise sobre a outra faceta do bairro gênese da ...
 
Vila Andrade Ramos: estudo tipológico na cidade de Belém do Pará no período p...
Vila Andrade Ramos: estudo tipológico na cidade de Belém do Pará no período p...Vila Andrade Ramos: estudo tipológico na cidade de Belém do Pará no período p...
Vila Andrade Ramos: estudo tipológico na cidade de Belém do Pará no período p...
 
Subsídios para a caracterização do Hospital Universitário João de Barros Barr...
Subsídios para a caracterização do Hospital Universitário João de Barros Barr...Subsídios para a caracterização do Hospital Universitário João de Barros Barr...
Subsídios para a caracterização do Hospital Universitário João de Barros Barr...
 
Arquitetura Contemporânea e Estética do Ecletismo na cidade de Belém do Pará
Arquitetura Contemporânea e Estética do Ecletismo na cidade de Belém do ParáArquitetura Contemporânea e Estética do Ecletismo na cidade de Belém do Pará
Arquitetura Contemporânea e Estética do Ecletismo na cidade de Belém do Pará
 
Proposta de reabilitação de corredor de comércio na avenida generalíssimo deo...
Proposta de reabilitação de corredor de comércio na avenida generalíssimo deo...Proposta de reabilitação de corredor de comércio na avenida generalíssimo deo...
Proposta de reabilitação de corredor de comércio na avenida generalíssimo deo...
 
Lugares de Memória: A profissionalização da cultura e do patrimônio em Belém-PA.
Lugares de Memória: A profissionalização da cultura e do patrimônio em Belém-PA.Lugares de Memória: A profissionalização da cultura e do patrimônio em Belém-PA.
Lugares de Memória: A profissionalização da cultura e do patrimônio em Belém-PA.
 
Grandejean de montigny ok
Grandejean de montigny okGrandejean de montigny ok
Grandejean de montigny ok
 
José da costa e silva ok
José da costa e silva okJosé da costa e silva ok
José da costa e silva ok
 
Arquitetura neoclássica no rj ok
Arquitetura neoclássica no rj okArquitetura neoclássica no rj ok
Arquitetura neoclássica no rj ok
 
Itinerários da saúde na Belém colonial e imperial
Itinerários da saúde na Belém colonial e imperialItinerários da saúde na Belém colonial e imperial
Itinerários da saúde na Belém colonial e imperial
 
“FILHOS DO AURÁ”: PROJETO ARQUITETÔNICO DE UMA ESCOLA COMUNITÁRIA
“FILHOS DO AURÁ”: PROJETO ARQUITETÔNICO DE UMA  ESCOLA COMUNITÁRIA“FILHOS DO AURÁ”: PROJETO ARQUITETÔNICO DE UMA  ESCOLA COMUNITÁRIA
“FILHOS DO AURÁ”: PROJETO ARQUITETÔNICO DE UMA ESCOLA COMUNITÁRIA
 
Da Almedina à Feliz Lusitânia: personagens do patrimônio
Da Almedina à Feliz Lusitânia: personagens do patrimônioDa Almedina à Feliz Lusitânia: personagens do patrimônio
Da Almedina à Feliz Lusitânia: personagens do patrimônio
 
Santana do Bujaru: lugar de memória ou não-lugar?
Santana do Bujaru: lugar de memória ou não-lugar?Santana do Bujaru: lugar de memória ou não-lugar?
Santana do Bujaru: lugar de memória ou não-lugar?
 

O Hospital D. Luiz I da Beneficente Portuguesa em Belém-PA e a transferência de modelos artísticos entre mares

  • 1. Figura 1: Hospital Dom Luiz I da Beneficente Portuguesa de Belém Fonte: CENTRO DE MEMÓRIA DA AMAZÔNIA. Disponível em: <http://www.ufpa.br/cma/iconografias.html>. Acesso em: 1º mar. 2010. O hospital D. Luiz I da Beneficente Portuguesa em Belém-PA e a transferência de modelos artísticos entre mares SALVADOR MIRANDA, Cybelle1 ; GODINHO, Emanuella Piani2 . Resumo: O Hospital D. Luiz I da Beneficente Portuguesa de Belém, datado de 1877, foi projetado em linhas neoclássicas pelo Arquiteto português Frederico José Branco, o qual participou na edificação do Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro. Sabe-se que a criação das Beneficências no século XIX foi de particular importância para o desenvolvimento da sociedade brasileira, produto do intenso fluxo migratório português para o Brasil, no século XIX, com destaque para o Pará. Estes migrantes trouxeram consigo ideais estéticos que, mesclados as influências locais, também retornaram a Portugal, como é visível no caso do Hospital da Beneficente do Rio de Janeiro, que serviu de modelo ao Hospital de Fafe, afirmando a transferência de padrões do Brasil a Portugal, reforçando os laços circulares de idéias entre os dois oceanos. Esta pesquisa integra o “Inventário Nacional do Patrimônio da Saúde: bens edificados e acervos” na cidade de Belém, Pará. 1. Transferência de modelos artísticos Brasil-Portugal: o Hospital da Beneficente Portuguesa de Belém Com base na pesquisa que coordenamos em Belém desde 2009, parte do Projeto nacional gerenciado pela Fundação Oswaldo Cruz (RJ) denominado “Inventário Nacional do Patrimônio da Saúde: bens edificados e acervos”, destacamos a edificação da segunda metade do século XIX, que abriga o Hospital D. Luiz I da Beneficente Portuguesa de Belém. Projetado pelo Arquiteto português Frederico José Branco, do qual se tem pouquíssima 1 Doutora em Antropologia. Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Programa de Pós- graduação em Arquitetura e Urbanismo – Universidade Federal do Pará. 2 Discente do Curso de Arquitetura e Urbanismo/UFPA. Bolsista de Iniciação Científica PROPESP/FAPESPA.
  • 2. Figura 2: Capela Nossa Srª da Conceição Foto: Carla Albuquerque, 2010 informação, uma das quais aponta sua participação na edificação do Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro3 , a edificação aparece em iconografia do artista italiano Leon Righini, com um corpo central em dois pavimentos, arrematado por frontão curvilíneo, com corpos laterais simétricos em pavimento térreo. Após reformulação no século XX, houve acréscimo de pavimento superior nos dois corpos laterais, bem como a adição de um corpo destinado a Maternidade D. Luiz I, acompanhando as linhas clássicas da edificação original. O hospital segue o modelo pavilhonar, com blocos voltados para um jardim interno. Em seus interiores, a edificação apresenta grandes salões, quartos amplos, mantendo ainda a função hospitalar, bem como possui capela consagrada a Nossa Srª da Conceição, com linhas arquitetônicas ecléticas, vitrais coloridos decorados com elementos concheados e altar–mor em abside. Sabe-se que a criação de Misericórdias durante o período colonial e das Beneficências no século XIX foram de particular importância para o desenvolvimento da sociedade brasileira, sendo que as Beneficências estão relacionadas com o intenso fluxo migratório português para o Brasil, no século XIX, com destaque para o Pará (COLÓQUIO Entre mares, 2009). Estes migrantes trouxeram consigo ideais estéticos 3 Arquiteto português residente no Rio de Janeiro, conhecido também como Frederico José Bianco. Construtor do Real Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro. Ver COELHO, Gustavo Neiva. O Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://casaabalcoada.blogspot.com/2009/11/o-real-gabinete-portugues-de-leitura-do.html>. Acesso em 18 mar. 2010.
  • 3. que, mesclados as influências locais, também retornaram a Portugal, como é visível no caso do Hospital da Beneficente Portuguesa do Rio de Janeiro, que serviu de modelo ao Hospital de Fafe, em Portugal (SOUSA, 2007). Durante os oitocentos, Sousa defende a tese da transferência de padrões do Brasil Império a Portugal, reforçando os laços circulares de idéias entre os dois oceanos. 2. Considerações sobre as Beneficências no Brasil e no Pará A assistência aos desamparados em Portugal tem origem na Idade Média, com a reconquista da nacionalidade, cujas obras de caridade concretizavam ideais teológicos, morais e sociais da Igreja Católica. “Hospitais, albergues, gafarias e confrarias foram-se multiplicando no Portugal medieval seguindo os favores de patronos, ordens religiosas e devoções cultuais cristológicas, marianas e uma longa lista de santos e santas.” (CHAVES, 2008. p. 26) Segundo Abílio Garcia (apud CHAVES, 2008. p. 26) as obras de caridade segmentavam-se em três categorias: albergarias ou albergues, gafarias ou lazaretos para leprosos, mercearias para pobres. Durante o Império colonial português, o estabelecimento das Misericórdias em todo o seu território colonial tornou-se uma das bases de sustentação da administração metropolitana. No Brasil, os primeiros hospitais tiveram por objetivo dar assistência aos marinheiros e viajantes. Contudo, tais instituições não contavam com auxílio financeiro do Estado, durante o período colonial, dependendo plenamente da caridade privada. Durante o Império, passaram a contam com benefícios como a isenção de impostos, e o privilégio da organização de loterias. Devido a necessidade dos migrantes lusos, foram criadas as Sociedades Portuguesas de Beneficência, a partir da segunda metade do século XIX:
  • 4. Como instituição privada dependente do pagamento de mensalidades e de doações espontâneas advindas dos associados, as Sociedades Portuguesas de Beneficência diferiam das Santas Casas de Misericórdia, cujo atendimento hospitalar foi direcionado para a população em geral e as despesas indiretamente subvencionadas pelo poder político do Império (CHAVES, 2008. p. 41). A Sociedade Portuguesa de Beneficência tinha como metas, além da assistência hospitalar, havia o intuito de observar normas de comportamentos, promovendo atividades educacionais e sociais, destacando-se a devoção simbólica a monarquia portuguesa. Isso se torna claro uma vez que, como prerrogativa para estabelecer-se, a Instituição deveria obter o apadrinhamento de um monarca português, expresso por meio de Decreto-Lei, como o Decreto de 14 de maio de 1862, assinado pelo rei D. Luiz I: Pelo Decreto de 14 de Maio de 1862: a Sociedade Portuguesa de Beneficência do Rio de Janeiro, dela se declarou El- Rei seu protetor, Alvará de 4 de Agosto de 1862, a Sociedade Portuguesa de Beneficência do Pará, El- Rei declarou-se seu protetor, Alvará de 8 de Janeiro de 1863, Sociedade Portuguesa Dezesseis de Setembro da Bahia, El-Rei declarou-se seu protetor, Alvará de 27 de Maio de 1863. (Indice Remissivo da Legislação Novíssima de Portugal. Anos de 1833 até 1868. Lisboa:Typographia Universal, 1870. p. 186. Arquivo Ultramarino de Lisboa. Lisboa: Portugal.) A Colônia Portuguesa no Pará fundou a Sociedade Beneficente em 8 de outubro de 1854, que tinha por objetivo essencial reunir e socorrer seus sócios (VIANNA, 1974. p. 23). Em 15 de março de 1857, a associação passa a ser chamada de Sociedade Portuguesa Beneficente, cujos requisitos para associar-se exigiam fosse “cidadão português no gozo de seus direitos, tivesse bom procedimento, residisse no Pará ou Amazonas, e ganhasse em emprego lícito a sua subsistência.” (VIANNA, 1974. p. 38)
  • 5. Em 15 de novembro de 1863 a Sociedade compra um prédio no Largo das Mercês, 28 na esquina com a Rua 15 de novembro que abrigaria a sua sede. Com a morte de Medeiros Branco, em 1867, os sócios decidiram por em prática o projeto do hospital com a compra de um prédio localizado na Praça da República próximo ao Café Chic e vizinho ao antigo Hotel da Paz, local onde hoje localiza-se a sede do Banco da Amazônia (BASA). O imóvel apresentava condições higiênicas suficientes e aceitáveis para o funcionamento da Casa de Saúde. Em 31 de outubro, dia do aniversário de Dom Luiz I, inaugura-se a Enfermaria e a Pedra Fundamental do Hospital que seria construído no terreno ao lado. A Casa de Saúde ficou conhecida como Asilo Português da Infância Desvalida e tinha como objetivo “assegurar aos filhos de seus sócios falecidos em pobreza, os meios de subsistência, educação e instrução até a puberdade, e a proporciona-lhes uma profissão honesta”. (VIANNA, 1974. p. 58) Nos anos seguintes, o Asilo se mostrava insuficiente para as necessidades dos associados da Beneficente. Em 1871, em face da epidemia de febre amarela em Belém, o Cônsul português no Pará propõe a criação da Comissão Portuguesa de Socorro aos Indigentes Atacados de Febre Amarela. Para minimizar o problema com os doentes, a Sociedade instala, provisoriamente, uma enfermaria de dois pavimentos localizada na Rua Santo Antônio conhecida como Casa de Saúde da Real Sociedade Portuguesa Beneficente que tinha a frente dos serviços o médico José da Gama Malcher. Em 23 de maio de 1873, o presidente do hospital, à época, Antônio Antunes Sobrinho, apresenta a proposta de compra de um dos dois lotes situados na Estrada Dois de Dezembro (atual Avenida Generalíssimo Deodoro) que não possuíam qualquer tipo de benfeitoria, sendo a área pouco habitada, com um imenso matagal ventilado. O negócio tinha por objetivo a construção de um hospital que atendesse às necessidades
  • 6. dos associados, e em cujo terreno fosse passível de ampliação futura e não contasse com nenhuma edificação a ser demolida. A Diretoria decidiu pela aquisição do terreno compreendido entre as ruas João Balbi e Boaventura da Silva, cujas traseiras ficavam para a Travessa Dom Romualdo de Seixas, pertencente ao Sr. Roberto Hesketh no valor de 10.000$000 à vista e 5.000$000 a ser pago em oito meses. Em 31 de outubro de 1874 lança-se mão da Pedra Fundamental do Hospital e contrata-se o arquiteto Frederico José Branco, idealizador do projeto. O artista compreendeu bem o que desejava e revelou de modo inconcusso a sua competência traçando um projeto geral de um grandioso edifício, devendo ser uma parte executada para servir às exigências de então e outra quando mais tarde o desenvolvimento interno do serviço hospitalar requeresse uma locação maior. (VIANNA, 1974. p. 71) Atendendo às exigências de higiene e saúde da época, a proposta compreendia edifício amplo, com boa insolação e luminosidade, sendo bastante ventilado e arejado, condições essenciais para evitar as possíveis insalubridades produzidas pelas águas e pela umidade abundantes em Belém. Para a construção do prédio foram aceitos todos os tipos de recursos, a saber: bilheteria dos teatros, bazares, donativos em dinheiro e em materiais de construção e mão-de-obra escrava cedida pelos senhores de escravo. Em 29 de abril de 1877, inaugurou-se o Hospital Dom Luiz I destinado aos portugueses residentes em Belém. Em outubro de 1904, em função das comemorações dos 50 anos de existência da Sociedade Beneficente, a entidade definiu-se pela compra de um terreno de esquina da Estrada da Boaventura da Silva com a Avenida Generalíssimo Deodoro, pela lateral do hospital, que serviria para a construção do hidroterápico, o qual foi inaugurado em 20 de abril de 1906. O Hidroterápico foi uma das instituições mais prestigiadas do
  • 7. complexo Beneficente Portuguesa pelos tratamentos de recuperação que prestava, especialmente quando os tratamentos dessa natureza tinham muito crédito. Foi sempre um serviço dirigido por médicos de bastante prestígio e nos anos 70 do século passado, “ir ao hidroterápico” era sinônimo de cuidados de saúde que influenciavam na conservação da beleza, seria “mal comparando” o correspondente aos institutos de estética dos nossos dias. Em 5 de maio de 1910, a Beneficente constrói a nova sala de operações e investe na compra de material cirúrgico para que pudesse prestar serviços de alta complexidade. Paralela à reforma do centro cirúrgico empreende-se a ampliação do pavimento superior no corpo central do hospital, que se destinaria ao tratamento de senhoras, concluída em 1911. Em 7 de julho de 1958, tem início a construção da nova Maternidade, com fachada voltada para a Rua Boaventura da Silva, fazendo a união dos dois blocos existentes. A execução ficou a cargo do sócio Sr. Antônio da Rocha Braga e sua conclusão se deu em 1961. Em que pese as reformas, atualmente os andares térreo e superior são destinados aos quartos individuais e serviços cirúrgicos e nos porões habitáveis encontram-se enfermarias, consultórios e serviços de apoio diagnóstico. 3. O classicismo Imperial como fonte do Classicismo à brasileira Por três séculos teremos Portugal como a origem de toda e qualquer referência arquitetônica brasileira até o período imperial, quando haverá uma inversão do fluxo de influências. Apenas três décadas após sua independência, veremos a produção de uma arquitetura inovadora no Brasil, que chamará a atenção de sua ex-metrópole ao ponto de tomar para si tal estilo, que virá a ser denominado de Classicismo à Brasileira por
  • 8. Alberto Sousa no livro “A variante portuguesa do classicismo imperial brasileiro”. Assim, esta linguagem arquitetônica implantada no Brasil durante o século XIX será chamada de Classicismo Imperial Brasileiro (SOUSA, 2007), e será o estilo arquitetônico mais reconhecido entre as obras estudadas nesta pesquisa. Destaca-se por seus elementos estilísticos marcantes, em que os mais característicos serão: primeiramente o uso das platibandas, sendo estas cheias ou vazadas, apesar de que, no Classicismo Imperial Brasileiro será mais comum o uso de platibandas cheias, enquanto que o Classicismo à Brasileira apresentará mais fachadas com platibandas vazadas e com balaústres. Esta será a característica que define o estilo, visto que a presença deste traço e de vãos encimados por vergas semicirculares serão determinantes para julgar este estilo como classicismo imperial brasileiro, por mais que em algumas obras vejamos variações quanto a este último elemento, tais como: vãos com verga semicircular, concentrados num pavimento, e vãos com outros formatos de verga, colocados no outro, formando assim um grupo a parte que possuem características singulares dentro do estilo. Irá se destacar nas obras públicas, as quais serão de grande relevância para este estudo. O primeiro exemplar do classicismo imperial brasileiro foi o prédio da Academia Militar do Rio de Janeiro, projetado pelo engenheiro francês P. J. Pezérat na segunda metade dos anos de 1820. Destaca-se em razão de sua fusão de tradições Figura 3 :Hospital da Misericórdia em Fafe, exemplar da variante portuguesa, foi construido nos padrões da edificação do Rio de Janeiro Fonte: SOUSA, 2007. p. 77
  • 9. arquitetônicas luso-brasileiras, formando assim uma frontaria moderna e classicista, tendo como características principais o coroamento da elevação com uma platibanda cheia, a marcação de um corpo central encimado por um frontão triangular e dividido por pilastras; e o uso exclusivo, em tal corpo, de vãos com verga semicircular. O Hospital da Beneficência Portuguesa no Rio de Janeiro será outro exemplar deste estilo, tendo em vista que apresenta muitas das características que marcam o Classicismo Imperial Brasileiro. Por outro lado, representa um modelo a ser seguido pelos hospitais da Beneficente Portuguesa no Brasil, como o Hospital Dom Luiz I da Beneficente Portuguesa de Belém. O mais antigo componente do acervo do Classicismo à brasileira será o Hospital da Misericórdia de Fafe, que fora inaugurado bastante incompleto em 1863, e tinha por intenção ser uma réplica do Hospital da Beneficência Portuguesa do Rio de Janeiro, que foi iniciado em 1853 e concluído em 1858 (Fig. 3). Ou seja, o início do classicismo à brasileira na arquitetura pública em Portugal, ainda será bastante dependente do seu modelo de origem - o classicismo imperial brasileiro -, ao contrário dos exemplos das estações ferroviárias que já datam de 1875, em que haverá mais liberdade na combinação de soluções, no caso do Hospital da Beneficência ainda estão muito presos em copiar um modelo anterior. Porém, apesar de se manterem muitas semelhanças entre um edifício e outro como na volumetria e na elevação frontal, Figura 4: Hospital da Beneficência Portuguesa no Rio de Janeiro Fonte: SOUSA, 2007. p. 77
  • 10. Figura 5: Fachada principal do Hospital D. Luiz I Foto: Carla Albuquerque, 2009 diferenças entre ambos foram inevitáveis. As principais distinções encontram-se na platibanda, na fenestração do primeiro andar e na faixa de separação dos pavimentos, conforme analisa Alberto Sousa: Quase todas as mudanças feitas neste na hora de reproduzi-lo contribuíram para tornar a frontaria fafense menos elegante que a carioca. A platibanda cheia roubou boa parte da força visual do frontão arqueado. As janelas de verga reta no andar romperam a homogeneidade da fenestração, uma das razões principais da beleza do alçado do hospital carioca. E a decisão de separar os pavimentos com uma estreita cimalha, uma persistência estética do estilo chão, privou a elevação da larga faixa horizontal escura que no último edifício foi proporcionada por um entablamento completo e mostrou- se tão benéfica à composição. (SOUSA, 2007. p. 76-77). Parte-se, então, para a análise estilística do Hospital D Luiz I, em Belém. 4. Caracterização arquitetônica e estilística do Hospital D. Luiz I O Imóvel tem sua fachada principal voltada a Avenida Generalíssimo Deodoro, 868, no bairro de Nazaré, cujo entorno é predominantemente residencial e de alto valor imobiliário especulativo. Arborização abundante pode ser conferida no seu entorno, especialmente na Avenida Generalíssimo. O estabelecimento de saúde ocupa a totalidade do quarteirão em que se situa, com recuo frontal e lateral, em relação a fachada anterior. A volumetria original não está preservada integramente, devido a diversas de reformas e ampliações necessárias ao melhor atendimento hospitalar. Deste modo, a forma arquitetônica predominante anteriormente, recortada com jardins
  • 11. internos, encontra-se desfigurada pelas sucessivas ocupações dos afastamentos laterais e de fundos, os quais tem prejudicado significativamente a insolação, ventilação e aeração dos espaços destinados ao tratamento médico, que remetiam a ideia de modelo higienista. A época de construção do pavilhão principal data de 1877, contudo a incorporação do pavimento superior dos corpos laterais e o bloco da Maternidade consegue manter harmonia nas formas e no padrão de composição dos vãos. A fachada principal possui características clássicas, tais como simetria, vãos ornados com frontões triangulares e circulares, o frontão curvo (característica que remete à edificação do Hospital da Beneficente Portuguesa do Rio de Janeiro) que arremata o corpo central e platibanda que percorre toda a extensão do prédio. Os vãos alternam vergas retas e curvas, estas em arco pleno e ogival, demonstrando a assimilação de influências ecléticas. As pilastras apresentam-se na extensão da fachada como elemento de marcação e identificação do rigor das proporções. A cobertura original em telha de barro composta por três águas em cada pavilhão foi totalmente substituída pela telha do tipo fibrocimento. A edificação apresenta conservação boa, porém percebe-se descuido com questões referentes ao lixo e à poluição do ambiente. Através da iconografia disponível, pode-se depreender que a edificação original possuía volumetria predominantemente horizontal, em três corpos, sendo o corpo central em dois pavimentos, mais destacado que os demais, lembrando o Palácio Imperial de Petrópolis (construído entre 1845-1864), disposição típica do estilo imperial brasileiro. Acredita-se que a planta original fosse em T, e, a partir de 1910, quando é ampliado o segundo pavimento do corpo central, adquirindo o formato em H, como se pode ver na fotografia à página 125 do livro de Artur Vianna. Com a construção da
  • 12. Maternidade em 1958, unem-se os dois blocos, de frente e de fundos, perdendo a edificação seu aspecto pavilhonar. Na fachada do Hospital D. Luiz I nota-se semelhança com o Hospital da Beneficente do Rio de Janeiro, especialmente no corpo central, destacando-se o frontão curvilíneo, a presença de três janelas centrais situadas em volume que se projeta levemente para a frente, vãos em arco pleno no 1º pavimento, escadaria central, cantos arrematados por pilastras de capitel coríntio, com cornija saliente entre o 1º e 2º pavimentos. Em Belém, as portas janelas do pavimento superior são arrematadas por guarda-corpo entalado, e não por varandas contínuas como o exemplar carioca, bem como as marcações horizontais e verticais do 1º pavimento no Rio de Janeiro foram executadas em pedra, o que não ocorre em Belém. Com relação à volumetria, o exemplar do Rio de Janeiro apresenta forma de quadrilátero, enquanto o D. Luiz I possui forma horizontalidade, pela presença de dois corpos laterais simétricos. REFERÊNCIAS CHAVES, Larissa Patron. “Honremos a Pátria Senhores!”As sociedades Portuguesas de Beneficência: caridade, poder e formação de elites na Província de São Pedro do Rio grande. (1854-1910). Porto Alegre, 2008. 338 p. Tese (Doutorado em História).Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Programa de Pós-graduação em História. 2008. COLÓQUIO Entre Mares o Brasil dos Portugueses. Disponível em :< http://seminarioentremares.blogspot.com/2009/09/v-seminario-internacional- sobre.html>. Acesso em: 12 fev.2011. SOUSA, Alberto. A variante portuguesa do classicismo imperial brasileiro. João Pessoa: Editora Universitária – UFPB, 2007. p. 76. VIANNA, Arthur. A História da Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente. Belém, [s.n], 1974.