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Entrevista cedida por Carmen Souza e Theo Pascal antes do concerto na
Philarmonie, Luxembourg.
10 de Dezembro de 2010, Hotel Meliá.

Cabolux/Contacto- Como e quando o seu casamento com a música?

Carmen: Sempre tive uma ligação à música. Sempre foi algo que me interessou muito
porque desde cedo via o meu pai a tocar guitarra e isso era algo que me captava muita
atenção e como cresci num ambiente de igreja isso também me influenciou muito,
porque era muita música.
Mas só comecei a fazer música a partir da altura em que conheci o Theo. Ele convidou-
me para muitos dos seus projectos e era já um músico estabelecido em Portugal e foi a
partir daí que que comecei a desenvolver a guitarra, o piano e voz, há cerca de 10 anos
atrás.

Se não é indiscrição, como é que se conheceram?

Carmen: Conhecemo-nos porque ele era director musical de uma banda e eu fui fazer
audições e foi aí que nos conhecemos e começamos a trabalhar.

Dessa época até hoje como define o seu percurso?

Carmen: Tem sido um percurso de muito trabalho e muita realização pessoal e
evolução. Tem sido muito bom porque temos construído as coisas e não temos pressa.
Queremos construir as coisas com calma e nós levamos isto como a nossa vida. Tal
como nós evoluímos como pessoas, a nossa música também evolui. A inspiração e
maturidade vêm daquilo que nos rodeia, das nossas viagens e daquilo que vivemos em
relação à música e música em relação a nós.

Sem pressa, mas no entanto já há resultados que já mostram esse
amadurecimento, está no seu terceiro álbum...

Carmen: Tem sido uma evolução musical, em que se mistura os ritmos de Cabo Verde
com o cheiro do jazz, improvisação. Tentamos que a nossa música seja sempre
espontânea e natural e que seja aquilo que sentimos no momento, o que torna a música
sempre muito especial e faz-nos crescer de várias maneiras.

Com esta mistura do cabo-verdiano, world music e jazz, se lhe perguntarem onde
se situa musicalmente... é possível dizer por onde anda?

Carmen: É difícil escolher estilos musicais porque é um bocado limitador, mas para
que seja imediato para as pessoas sintetizarem o que fazemos é: Cabo Verde jazz.
Existem outros ritmos Afro envolvidos...

Theo: o que acontece com o trabalho que temos desenvolvido ao longo destes anos,
com o trabalho da Carmen Souza é que tem sido a procura de uma identidade própria.
Não se anda à procura de barreiras estilísticas que se tenham de seguir obrigatoriamente.
Há todo um conceito de liberdade, mas apesar do risco, dá-nos prazer, desafios e
sentimo-nos muito mais honestos. Acho que a Carmen se sente mais honesta e o
mercado em si tem notado mais isso do que nós. Ela já tem três discos e todos deram
frutos fortes e em frentes diferentes e alguns comuns e isso é a confirmação do que a
Carmen tem desenvolvido e que tenho estado ao lado dela para ajudar e evoluirmos
juntos.

Apesar da quebra destas barreiras estilísticas, ficam-se por aqui ou num futuro
têm outros estilos a desenvolver?

Carmen: É sempre em aberto porque a nossa vida também muda muito.
Theo: Tudo gira à volta da música. É muito difícil para um artista que queira ter uma
liberdade musical conseguir definir estilos, se bem que o artista, como músico e
profissional acaba por reconhecer os estilos que existem no mercado, mas o selo
estilístico aqui não é jazz, não é só Cabo Verde, mas Carmen de Souza. Qualquer dia
arranja-se uma tabela que em vez de estilos de música vem nomes de pessoas. Acho
mais interessante as pessoas irem por ordem alfabética do que por estilos.

Como se sente quando ouve a crítica dizer que a Carmen é a nova voz da música
Cabo-verdiana, que está a ultrapassar novas barreiras musicais ou que vai para
além disto ou daquilo?

Carmen: É bom porque as pessoas, de certa forma, percebem aquilo que está a ser
feito, porque eu não poderia dizer que sou tradicionalmente cabo-verdiana, nem
tradicionalmente jazzísta. Acho que percebem que isto é a música de Cabo Verde, mas é
um departamento diferente, mas costumo dizer que sou porta-voz de mim própria. Estar
a assumir ser a voz de Cabo Verde ou voz de seja o que for... sou voz de mim própria.
Tenho todo o orgulho em misturar o batuke e a coladera na minha música, mas é tudo
com o meu touch.

Mas reconhece que é difícil evitar essa colagem...

Carmen: Sim, claro.

Qual a marca distintiva deste novo álbum “Protegid” em relação aos dois
anteriores - Verdade e Es nha Cabo Verde? O que ele transmite?

Carmen: É diferente em quase todos os níveis, desde a maneira de gravar. Gravamos
em vários sítios do mundo, porque estávamos em tournée. Como não podíamos sentar
uns dias para ir para um estúdio, decidimos trazer o estúdio connosco. Hoje em dia tudo
é possível: gravamos no Canadá, Portugal, Paris, Londres e isso trouxe logo um cheiro
diferente e um ponto de vista diferente para nós compositores. A energia Todos estes
sítios e estes músicos de vários pontos do mundo também trouxeram um pouco daquilo
que é deles para a nossa música e isso tornou tudo mais interessante e cada vez temos
mais improvisação, novos instrumentos...

Como peregrinos, como conseguem conciliar as coisas? Tantas texturas,
sonoridades, se calhar acaba por vos ajudar...

Theo: ajuda muito porque é exactamente o que nos propomos fazer e quando andas na
estrada a fazer o que sempre quiseste fazer e com a qualidade que sempre sonhaste, tudo
isso te ajuda a que o próximo passo, o próximo disco ou concerto seja sempre uma
energia muito própria, o novo.
Apesar de termos as músicas preparadas para cada espectáculo há uma liberdade
tremenda em palco para a improvisação, o que faz que um espectáculo nunca seja igual
a outro, por obrigação. Na parte do disco, vêm elementos novos e esse factor surpresa é
muito bom, como já o vivemos na fase das misturas. Há um risco por ser nove não
sabermos exactamente o que é, mas há uma alegria e uma força muito grande por
defender o que é teu. É isso o que Carmen faz todos os dias, nos concertos, no avião ou
no carro ela defende constantemente não só a música dela, mas a mensagem que é muito
forte e muito definida. Isso é um ponto comum dos três discos.

Ainda sobre este disco, sente-se uma cantora protegida?

Carmen: (sorri) ...Sinto e agradeço a Deus todos os dias por isso. É um sentimento
muito especial porque sinto que desde o início da minha vida fui muito protegida.
Sempre tive pessoas à minha volta que de uma maneira ou de outra sempre cuidaram de
mim e continua a ser assim. Tenho o Theo, tenho a minha manager Patrícia e toda uma
equipa de pessoas que percebem o que quero fazer e o que sou e seguem esta missão.
Por isso é que me sinto protegida.

O que podemos esperar a curto-médio prazo? Que projectos? Ou ainda é cedo
para se falar nisso, já que estão ocupados com concertos?

Carmen: Temos várias ideias e projectos. Um deles é um duo, com o Theo, em que
trazemos a música de novo ao que era. A primeira visão que tivemos das músicas e é
isso que expressamos em duo porque surgem com uma linha de baixo e depois ponho a
voz por cima, a melodia, a harmonia. É muito cru e intimista, mas é um projecto que
estamos a desenvolver.
Existe outro projecto em que vamos explorar um bocadinho das influências do norte de
África e queremos ir a Marrocos para beber dessa...

Theo: (sobrepondo-se) ...Na verdade esse projecto era para ter começado mas as
tournées não têm permitido. A Carmen e eu estamos fazer pesquisas num projecto que
será baseado na música de Cabo Verde e lusófona e automaticamente a influência que
dos marroquinos, do norte de África teve em Portugal. Isso são as nossas raízes e
queremos fazer essa ligação. Não se sabe o que vai ser, mas é o tal desafio para ver em
que cor vai ficar.

O ADN está aí. Também em Cabo Verde tivemos uma leva de judeus marroquinos.
No fundo está tudo no sangue...

Carmen: Às vezes as pessoas pensam que não tem nada a ver, mas se recuarmos e
vermos bem a história, ela está lá. Existem várias ligações.

Já tem experiência de concertos, mas entre o frio e o calor, qual a sensação de
entrar num palco?

Carmen: A sensação é óptima Partilhar a minha mensagem com as pessoas, mas o mais
importante é que no fim do concerto as pessoas se sintam diferentes e que algo mexeu
com elas. Esse é o feedback que temos recebido ao longo das tournées.
Theo: Existe o outro lado do frio e do calor. Ainda há pouco terminamos uma tournée
no calor do Brasil e ontem chegamos a Paris para actuar e hoje estamos no Luxemburgo
com esta neve. Nós gostamos exactamente igual dos dois lados. É a mesma sensação...
quando estamos no estúdio nos sentimos tão realizados como em palco, mas a única
confirmação é quando estamos no palco e as pessoas se manifestam, gostam e esperam
pela saída da Carmen ou quando as pessoas compram o teu CD, ouvem em casa,
mandam mensagem. Tudo isto é o resultado do trabalho que temos feito.


Sobre o público cabo-verdiano...

Carmen: Recebem de uma maneira muito interessante, porque dizem que isto é
completamente novo, mas gostam. Espero poder chegar a eles também porque o meu
crioulo é uma mistura do S. Antão, do badiu e tudo mais, porque gosto de brincar com a
musicalidade do crioulo, o que me importa é a musicalidade e a mensagem.

Theo: A música da Carmen é uma cultura um pouco diferente e por vezes nem todas as
comunidades podem entender. Mas a ideia não é entender, mas sentir.

É para si um privilegio ter esta missão e poder da música...

Carmen: Sinto-me protegida e tive a sorte de descobrir este talento e de a desenvolver.
Como músico e mensageiro de algo tento ajudar as pessoas. Posso agarrar na minha
guitarra e ir para um hospital tocar a minha música para crianças doentes e naquele
momento fazer com se sintam bem e se esqueçam um pouco do sofrimento por que
estão a passar. Seja de que maneira for eu estarei a fazer música, pois a música faz-se
num palco ou onde tiver que ser.

É uma forma de terapia ouvir Carmen Sousa...

Carmen: (risos) Poderá ser!

                                                                                    HB

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Entrevista com Carmen Souza e Theo Pascal antes do concerto na Philharmonie

  • 1. Entrevista cedida por Carmen Souza e Theo Pascal antes do concerto na Philarmonie, Luxembourg. 10 de Dezembro de 2010, Hotel Meliá. Cabolux/Contacto- Como e quando o seu casamento com a música? Carmen: Sempre tive uma ligação à música. Sempre foi algo que me interessou muito porque desde cedo via o meu pai a tocar guitarra e isso era algo que me captava muita atenção e como cresci num ambiente de igreja isso também me influenciou muito, porque era muita música. Mas só comecei a fazer música a partir da altura em que conheci o Theo. Ele convidou- me para muitos dos seus projectos e era já um músico estabelecido em Portugal e foi a partir daí que que comecei a desenvolver a guitarra, o piano e voz, há cerca de 10 anos atrás. Se não é indiscrição, como é que se conheceram? Carmen: Conhecemo-nos porque ele era director musical de uma banda e eu fui fazer audições e foi aí que nos conhecemos e começamos a trabalhar. Dessa época até hoje como define o seu percurso? Carmen: Tem sido um percurso de muito trabalho e muita realização pessoal e evolução. Tem sido muito bom porque temos construído as coisas e não temos pressa. Queremos construir as coisas com calma e nós levamos isto como a nossa vida. Tal como nós evoluímos como pessoas, a nossa música também evolui. A inspiração e maturidade vêm daquilo que nos rodeia, das nossas viagens e daquilo que vivemos em relação à música e música em relação a nós. Sem pressa, mas no entanto já há resultados que já mostram esse amadurecimento, está no seu terceiro álbum... Carmen: Tem sido uma evolução musical, em que se mistura os ritmos de Cabo Verde com o cheiro do jazz, improvisação. Tentamos que a nossa música seja sempre espontânea e natural e que seja aquilo que sentimos no momento, o que torna a música sempre muito especial e faz-nos crescer de várias maneiras. Com esta mistura do cabo-verdiano, world music e jazz, se lhe perguntarem onde se situa musicalmente... é possível dizer por onde anda? Carmen: É difícil escolher estilos musicais porque é um bocado limitador, mas para que seja imediato para as pessoas sintetizarem o que fazemos é: Cabo Verde jazz. Existem outros ritmos Afro envolvidos... Theo: o que acontece com o trabalho que temos desenvolvido ao longo destes anos, com o trabalho da Carmen Souza é que tem sido a procura de uma identidade própria. Não se anda à procura de barreiras estilísticas que se tenham de seguir obrigatoriamente. Há todo um conceito de liberdade, mas apesar do risco, dá-nos prazer, desafios e sentimo-nos muito mais honestos. Acho que a Carmen se sente mais honesta e o mercado em si tem notado mais isso do que nós. Ela já tem três discos e todos deram
  • 2. frutos fortes e em frentes diferentes e alguns comuns e isso é a confirmação do que a Carmen tem desenvolvido e que tenho estado ao lado dela para ajudar e evoluirmos juntos. Apesar da quebra destas barreiras estilísticas, ficam-se por aqui ou num futuro têm outros estilos a desenvolver? Carmen: É sempre em aberto porque a nossa vida também muda muito. Theo: Tudo gira à volta da música. É muito difícil para um artista que queira ter uma liberdade musical conseguir definir estilos, se bem que o artista, como músico e profissional acaba por reconhecer os estilos que existem no mercado, mas o selo estilístico aqui não é jazz, não é só Cabo Verde, mas Carmen de Souza. Qualquer dia arranja-se uma tabela que em vez de estilos de música vem nomes de pessoas. Acho mais interessante as pessoas irem por ordem alfabética do que por estilos. Como se sente quando ouve a crítica dizer que a Carmen é a nova voz da música Cabo-verdiana, que está a ultrapassar novas barreiras musicais ou que vai para além disto ou daquilo? Carmen: É bom porque as pessoas, de certa forma, percebem aquilo que está a ser feito, porque eu não poderia dizer que sou tradicionalmente cabo-verdiana, nem tradicionalmente jazzísta. Acho que percebem que isto é a música de Cabo Verde, mas é um departamento diferente, mas costumo dizer que sou porta-voz de mim própria. Estar a assumir ser a voz de Cabo Verde ou voz de seja o que for... sou voz de mim própria. Tenho todo o orgulho em misturar o batuke e a coladera na minha música, mas é tudo com o meu touch. Mas reconhece que é difícil evitar essa colagem... Carmen: Sim, claro. Qual a marca distintiva deste novo álbum “Protegid” em relação aos dois anteriores - Verdade e Es nha Cabo Verde? O que ele transmite? Carmen: É diferente em quase todos os níveis, desde a maneira de gravar. Gravamos em vários sítios do mundo, porque estávamos em tournée. Como não podíamos sentar uns dias para ir para um estúdio, decidimos trazer o estúdio connosco. Hoje em dia tudo é possível: gravamos no Canadá, Portugal, Paris, Londres e isso trouxe logo um cheiro diferente e um ponto de vista diferente para nós compositores. A energia Todos estes sítios e estes músicos de vários pontos do mundo também trouxeram um pouco daquilo que é deles para a nossa música e isso tornou tudo mais interessante e cada vez temos mais improvisação, novos instrumentos... Como peregrinos, como conseguem conciliar as coisas? Tantas texturas, sonoridades, se calhar acaba por vos ajudar... Theo: ajuda muito porque é exactamente o que nos propomos fazer e quando andas na estrada a fazer o que sempre quiseste fazer e com a qualidade que sempre sonhaste, tudo isso te ajuda a que o próximo passo, o próximo disco ou concerto seja sempre uma energia muito própria, o novo.
  • 3. Apesar de termos as músicas preparadas para cada espectáculo há uma liberdade tremenda em palco para a improvisação, o que faz que um espectáculo nunca seja igual a outro, por obrigação. Na parte do disco, vêm elementos novos e esse factor surpresa é muito bom, como já o vivemos na fase das misturas. Há um risco por ser nove não sabermos exactamente o que é, mas há uma alegria e uma força muito grande por defender o que é teu. É isso o que Carmen faz todos os dias, nos concertos, no avião ou no carro ela defende constantemente não só a música dela, mas a mensagem que é muito forte e muito definida. Isso é um ponto comum dos três discos. Ainda sobre este disco, sente-se uma cantora protegida? Carmen: (sorri) ...Sinto e agradeço a Deus todos os dias por isso. É um sentimento muito especial porque sinto que desde o início da minha vida fui muito protegida. Sempre tive pessoas à minha volta que de uma maneira ou de outra sempre cuidaram de mim e continua a ser assim. Tenho o Theo, tenho a minha manager Patrícia e toda uma equipa de pessoas que percebem o que quero fazer e o que sou e seguem esta missão. Por isso é que me sinto protegida. O que podemos esperar a curto-médio prazo? Que projectos? Ou ainda é cedo para se falar nisso, já que estão ocupados com concertos? Carmen: Temos várias ideias e projectos. Um deles é um duo, com o Theo, em que trazemos a música de novo ao que era. A primeira visão que tivemos das músicas e é isso que expressamos em duo porque surgem com uma linha de baixo e depois ponho a voz por cima, a melodia, a harmonia. É muito cru e intimista, mas é um projecto que estamos a desenvolver. Existe outro projecto em que vamos explorar um bocadinho das influências do norte de África e queremos ir a Marrocos para beber dessa... Theo: (sobrepondo-se) ...Na verdade esse projecto era para ter começado mas as tournées não têm permitido. A Carmen e eu estamos fazer pesquisas num projecto que será baseado na música de Cabo Verde e lusófona e automaticamente a influência que dos marroquinos, do norte de África teve em Portugal. Isso são as nossas raízes e queremos fazer essa ligação. Não se sabe o que vai ser, mas é o tal desafio para ver em que cor vai ficar. O ADN está aí. Também em Cabo Verde tivemos uma leva de judeus marroquinos. No fundo está tudo no sangue... Carmen: Às vezes as pessoas pensam que não tem nada a ver, mas se recuarmos e vermos bem a história, ela está lá. Existem várias ligações. Já tem experiência de concertos, mas entre o frio e o calor, qual a sensação de entrar num palco? Carmen: A sensação é óptima Partilhar a minha mensagem com as pessoas, mas o mais importante é que no fim do concerto as pessoas se sintam diferentes e que algo mexeu com elas. Esse é o feedback que temos recebido ao longo das tournées.
  • 4. Theo: Existe o outro lado do frio e do calor. Ainda há pouco terminamos uma tournée no calor do Brasil e ontem chegamos a Paris para actuar e hoje estamos no Luxemburgo com esta neve. Nós gostamos exactamente igual dos dois lados. É a mesma sensação... quando estamos no estúdio nos sentimos tão realizados como em palco, mas a única confirmação é quando estamos no palco e as pessoas se manifestam, gostam e esperam pela saída da Carmen ou quando as pessoas compram o teu CD, ouvem em casa, mandam mensagem. Tudo isto é o resultado do trabalho que temos feito. Sobre o público cabo-verdiano... Carmen: Recebem de uma maneira muito interessante, porque dizem que isto é completamente novo, mas gostam. Espero poder chegar a eles também porque o meu crioulo é uma mistura do S. Antão, do badiu e tudo mais, porque gosto de brincar com a musicalidade do crioulo, o que me importa é a musicalidade e a mensagem. Theo: A música da Carmen é uma cultura um pouco diferente e por vezes nem todas as comunidades podem entender. Mas a ideia não é entender, mas sentir. É para si um privilegio ter esta missão e poder da música... Carmen: Sinto-me protegida e tive a sorte de descobrir este talento e de a desenvolver. Como músico e mensageiro de algo tento ajudar as pessoas. Posso agarrar na minha guitarra e ir para um hospital tocar a minha música para crianças doentes e naquele momento fazer com se sintam bem e se esqueçam um pouco do sofrimento por que estão a passar. Seja de que maneira for eu estarei a fazer música, pois a música faz-se num palco ou onde tiver que ser. É uma forma de terapia ouvir Carmen Sousa... Carmen: (risos) Poderá ser! HB