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Para uma pedagogia do conflito
Vivemos em um tempo paradoxal.

Tempo de mudanças vertiginosas produzidas pela globalização, a sociedade do
consumo e a sociedade de informação.

Mas também um tempo de estagnação, para na impossibilidade de pensar a
transformação social radical.

Vivemos de fato, num tempo simultaneamente de conflito e de repetição.

Teoria do Fim da Historia:

                       Visão da burguesia internacional, que entende o tempo
             transformado na repetição automática e infinita de seu domínio.
                       O longo prazo colapsa assim no curto prazo e este, que foi sempre
             o quadro temporal do capitalismo, permite finalmente a burguesia produzir
             a única teoria da historia verdadeiramente burguesa.
                       Slogan celebração – versão capitulista do pensamento pós-
             moderno.
                       Hoje a burguesia sente que sua vitória histórica esta consumada e
             ao vencedor consumado não interessa senão a repetição do presente.
                       Teoria da historia da modernidade desvalorizou sistematicamente
             o passado em beneficio do futuro.
                       Contribuiu para trivializar, banalizar os conflitos e o sofrimento
             humano de que é feita a repetição do presente neste fim de século. – Essa
             trivialização traduz-se na morte do espanto e da indignação, e esta na
             morte do conformismo e da rebeldia.

O passado foi sempre concebido como reacionários e o futuro como progressista.

Futuro – modernidade ocidental – progresso

Os grandes vencidos do processo histórico capitalista, os trabalhadores e os povos do
terceiro mundo, descreem hoje do progresso porque foi em nome dele que viram se
degradar-se as suas condições de vida e as suas perspectivas de libertação.

O sofrimento humano mediatizado pela sociedade da informação esta transformado
numa telenovela interminável em que as cenas dos próximos capítulos são sempre
diferentes e iguais as cenas dos capítulos anteriores.

A necessidade de outra teoria da historia:

                      Devolva ao passado sua capacidade de revelação reanime o nosso
                      olhar para as imagens desestabilizadoras. Será através dessas
                      imagens desestabilizadoras que será possível recuperar a nossa
                      capacidade de indignação e espanto e de através dela, recuperar o
                      nosso inconformismo e a nossa rebeldia.
Projeto educativo emancipatório:

                  Projeto orientado para combater a trivialização do sofrimento, por via
                  de produzir imagens desestabilizadoras a partir do passado concebido
                  não como fatalidade, mas como produto da iniciativa humana.
                  Objetivo principal consiste em recuperar a capacidade de espanto e
                  de indignação e orienta-la para a formação de subjetividades
                  inconformistas e rebeldes.
                  Só o passado como opção e como conflito é capaz de desestabilizar a
                  repetição do presente.
                  Maximizar essa desestabilização.
                  Projeto de memoria e denuncia e projeto de comunicação e
                  cumplicidade.


Perfil epistemológico do projeto:

                    Não há uma, mas muitas formas ou tipos de conhecimento.
                    Todo conhecimento é uma pratica social de conhecimento.
                    Conflitos sociais – conhecimentos de conhecimentos.
                    O projeto educativo emancipatório é um projeto de aprendizagem
                    de conhecimentos conflituantes, com o objetivo de através dele
                    produzir imagens radicais e desestabilizadoras dos conflitos sociais
                    em que se traduziram o passado, imagens capazes de potenciar a
                    indignação e a rebeldia.


A educação para o inconformismo tem de ser ela própria inconformista.

A aprendizagem da conflitualidade dos conhecimentos tem de ser ela própria conflitual.

A sala de aula tem de se transformar em um campo de possibilidades de conhecimento
dentro do qual há que optar.

 Transformar a educação, convertendo-a no processo de aquisição daquilo que se
aprende, mas não se ensina o senso comum.

O conhecimento só suscita o inconformismo na medida em que se torna senso comum,
o saber evidente que não existe separado das praticas que o confirmam.

Uma educação que parte da conflitualidade dos conhecimentos visará, em ultima
instancia conduzir a conflitualidade entre sensos comuns alternativos, entre saberes
práticos que trivializam o sofrimento humano e saberes práticos que se inconformam
com ele....

Três conflitos de conhecimento:

               - Aplicação técnica e a aplicação edificante da ciência.
                -conhecimento como regulação e conhecimento com emancipação
                -imperialismo cultural e multiculturalismo.
- Aplicação técnica e a aplicação edificante da ciência.

Não é um conflito de conhecimento é de aplicação de conhecimento.

Os sistemas educativos da modernidade ocidental foram moldados por um tipo único de
conhecimento, o conhecimento cientifico, e por um tipo único da sua aplicação, a
aplicação técnica.

A criação moderna dos sistemas educativos coincide com a consolidação da ciência
moderna enquanto modo hegemônico de racionalidade.

Conversão progressiva da ciência em força produtiva.

Os sistemas educativos pressupõem, que entre ciência e produção há uma distancia, e
que essa distancia é medida pela aplicação técnica da ciência.

As características da aplicação técnica da ciência:

          - quem aplica o conhecimento esta fora da situação existencial em que incide
           a aplicação e não é afetado por ela.
          - existe uma separação total entre fins e meios. Pressupõem-se definidos os
           fins e a aplicação incide sobre os meios.
          - não existe mediação deliberativa entre o universal e o particular. A
           aplicação procede por demostraçõesnecessárias que dispensam
           argumentação.
          - a aplicação assume como única a definição da realidadeda dada pelo grupo
           dominte e força-a. escamoteia os eventuais conflitos e silencia as definições
           alternativas.
          - a aplicação do know-how técnico torna dispensável, e até absurda, qualquer
           discussão sobre um know-how ético. A naturalização técnica das relações
           sociais obscurece e reforça os desequilíbrios de poder que as constituem.
          - A aplicação é unívoca e o seu pensamento é unidimensional. Os saberes
           locais ou são recusados ou são funcionalizados e em, qualquer caso, tendo
           sempre em vista a diminuição das resistências ao desenrolar da aplicação.
          - os custos da apliação são sempre inferiores aos benefícios e uns e outro são
           avaliados quantitativamente a luz de efeitos imediatos do grupo que move a
           aplicação. Quanto mais fechado o horizonte contabilístico, tanto mais
           evidentes os fins e mais disponíveis os meios.


Na sua origem, este modelo visou converter todos os problemas sociais e políticos em
problemas técnicos e resolve-los de modo cientifico, isto é, eficazmente com total
neutralidade social e politica.

Problemas no século XIX: a desorganização da sociedade rural e a anomia urbana
causada pela urbanização caótica, a industrialização vertiginosa, a revolta das “classes
perigosas” vivendo na miséria ao lado da abundancia, as rivalidades colonialistas e
imperialistas entre os estado nacionais e a iminência da guerra, a degradação da
natureza pelo uso selvagem dos recursos naturais.
Descredito para com esse modelo – dimensão do descredito com o futuro.

O projeto educativo emancipatório tem de criar um campo epistemológico em que o
modelo de aplicação técnica da ciência seja posto em conflito com um modelo
alternativo. O conflito entre os dois modelos passara a constituir, neste domínio, o cerne
do processo de ensino-aprendizagem.

Modelo alternativo; modelo de aplicação edificante da ciência. Pautado pelas seguintes
características:

               - a aplicação tem sempre lugar numa situação concreta em que quem
               aplica esta existencial, ética e socialmente comprometido com o impacto
               da aplicação.
               - os meios e os fins não estão separados e a aplicação incide sobre
               ambos. Os fins são se concretizam na medida em que se discutem os
               meios adequados a situação concreta.
               - a aplicação é assim, um processo argumentativo e a adequação, maior
               ou menos da apliacação reside no equilíbrio, maior ou menor, das
               competências argumentativas entre os grupos que lutam pela decisão do
               conflito a seu favor (o consenso não é média, nem neutro).
               -O cientista deve, pois, envolver-se na luta pelo equilíbrio de poder, nos
               vários contextos de aplicação e para isso, terá de tomar o partido
               daqueles que tem menos poder. Cada mecanismo de poder cria a sua
               própria micro hegemonia. Quem tem menos desse poder tende, por isso a
               não ter argumentos para ter mais desse poder e muito menos para ter
               tanto poder quanto o do grupo hegemônico. A aplicação edificante
               consiste em revelar argumentos e tornar legitimo e credível para seu uso.
               - a aplicação edificante procura e reforça as definições emergentes e
               alternativas da realidade, para isso deslegitima as formas institucionais e
               os modos de racionalidade em cada um dos contextos.

Por outro lado a aplicação edificante tem nesta fase de transição paradigmática, de partir
dos consensos locais para criar mais conflito, em resultado do maior esclarecimento das
razoes contingentes que sustentam muito do que surge como socialmente necessário.

A ciência que se pauta pela aplicação edificante do conhecimento não interessa que a
transformação seja moderada ou radical, reformista ou revolucionaria, interessa t aso
que ela ocorra pela ampliação da comunicação e da argumentação, oque obviamente,
não obsta a intensidade do conflito ou a incondicionalidade do empenho que tantos nele
participam.

A aplicação edificante vigorosa ocorre dentro da própria comunidade cientifica e
técnica.

Os cientistas e os técnicos apostados nela lutam pelo aumento da comunicação e da
argumentação no seio da comunidade cientifica e técnica e lutam, por isso contra as
formas institucionais e os mecanismos de poder que nela produzem violência,
silenciamento e estranhamento.
Transformação dos saberes locais – transformação do saber cientifico – transformação
do sujeito epistêmico (do ser cientista, do ser técnico).



O projeto educativo conflitual faz do conflito entre o modelo de aplicação técnica e o
modelo de aplicação edificante um dos eixos principais do ensino aprendizagem.

-conhecimento como regulação e conhecimento com emancipação

Ciencia moderna – forma de conhecimento hegemônico – sistema educativo, como fora
dele – entretanto hegemonia em risco.

Dicotomia sujeito-objeto, ou a concepção da natureza como entidade separada da
sociedade e da cultura.

Transição paradigmática:

               Paradigma da ciência moderna – será substituído por outro paradigma de
               conhecimento ainda por definir, mas designado como um paradigma de
               conhecimento prudente para uma vida descente.
               Objetivo de reconstruir um conflito epistemológico matricial –conflito:
               conflito entre o conhecimento como regulação e conhecimento como
               emancipação.

Paradigma da modernidade comporta as duas formas de conhecimento:

               C. R.: trajetória entre um ponto de ignorância designado por caos e um
               ponto de conhecimento, designado por ordem.
               C. E.: trajetória entre um ponto de ignorância denominado colonialismo
               e um ponto de conhecimento chamado solidariedade.

Sendo que no ultimo século o C. R. ganhou primazia.... com isso a ordem passou a ser a
forma hegemônica de conhecimento e o caos, a forma hegemônica de ignorância.

Conflito pedagógico: reconstruir o conflito entre o C.R. e o C.E.

-imperialismo cultural e multiculturalismo.

Transborda os limites da modernidade eurocêntrica, para além de ser um conflito
epistemológico, é acima de tudo um conflito cultural.

Sistemas educativos da modernidade – mapa projeção de Mercator(coloca o continente
europeu no centro do mapa) – cultura eurocêntrica ocupa todo o tamanho do mapa –
mapa do imperialismo cultural do ocidente.

No sistema educativo hegemônico as outras culturas ou estão ausentes ou estão
merecidamente vencidas, marginalizadas ou suprimidas.
A globalização da economia, por um lado proclamou globalmente a hegemonia do
fundamentalismo neoliberal.

A africa foi integrada neste modelo da maneira mais cruel pela exclusão total, pela
fome, pelas epidemias e pela guerra.

Os processos de globalização ocorreram de par com os processos de localização, com a
adoção de politicas de identidade por parte de grupos sociais vitimizados direta ou
indiretamente, pela globalização hegemônica.

Vitimizados pelo fundamentalismo neoliberal –tendo visto o fracasso de outras
estratégias de desenvolvimento de raiz ocidental (nacionalismo, socialismo) – gerou a
adoção de politicas afirmativas de identidade.

Duas tendências contraditórias: uma que vai no sentido de agravamento dos conflitos
culturais no final do século, outra que vai no sentido oposto, o do fim de tais conflitos.

Agravamento dos conflitos: surge sob duas formas: hegemônica e contra hegemônica.

Comum as formas hegemônicas e contra hegemônicas é a ideia de que os modelos
sociais de desenvolvimento, e portanto também a luta contra eles, não se sustentam
apenas no plano econômico.

Turbulência cultural contemporânea, é de sentido oposto a primeira e defende que que
nas condições globais geradas, tanto pela sociedade do consumo, como pela sociedade
da informação, os conflitos culturais terão cada vez mais menos acutilância. Essa
tendência assume duas formas diferentes, ambas hegemônicas:

              - uma consiste na versão ultraliberal do relativismo cultural, na idéia de
              que todas as culturas e todas as versões da mesma cultura tem uma
              singularidade original que não permite nem comparações, nem diálogos
              profundos entre elas.
              - a outra consiste na forma de ver a tendência para atenuação dos
              conflitos culturais faz uma leitura da situação cultural parcialmente
              contraditória com a anterior. No lugar de culturas singulares estão a
              surgir culturas hibridas, produtos de fertilizações e contaminações
              cruzadas entre culturas.

O fenômeno da hibridização torna mesmo difícil falar de culturas dominantes e culturas
dominadas já que todas estão sujeitas ao mesmo processo de diluição da especificidade.

Ainda temos a ideia de que por sobre as culturas existentes, todas elas especificas e
parcelares, esta a emergir um cultural global, uma cultura global, uma cultura sem raízes
nem lealdades locais, que é partilhada por gente em toda a parte do mundo, uma cultura
cosmopolita que subjaz ao que é globalmente comum a toda humanidade.

Turbulência a que estão submetidos os mapas culturais que serviram como base aos
sistemas educativos modernos.
O imperialismo cultural longe de ter acabado apenas mudou de forma – assume ora a
forma de choques culturais, ora a da hibridização e da cultura global.

A existência de culturas dominantes e culturas dominadas, enquanto a cultura global
não é mais que a globalização de certas características especifica da cultura
eurocêntrica.

Essa discussão acerca das culturas tem estado ausente dos sistemas educativos – Um
projeto educativo emancipatório tem de colocar o conflito cultural no centro do seu
conflito.

Mesmo algumas politicas contra hegemônicas como, por exemplo, da afirmação da
identidade nacional, étnica, sexual, cultural têm em suas versões mais extremas,
contribuído para o separatismo e para a criação de guetos culturais mutuamente
incomunicáveis.

Projeto educativo emancipatório:

       - definir corretamente a natureza do conflito cultural
       - investigar dispositivos que facilitem a comunicação.
       - conflito seja definido como conflito entre o imperialismo cultural e o
       multiculturalismo.

Multiculturalismo como modelo emergente de interculturalidade.

O modelo dominante do imperialismo cultural, não reconhece outro tipo de relações
entre culturas senão a hierarquização segundo critérios que são tidos como universais
ainda que sejam específicos de um só universo cultural, a cultura ocidental.

Superioridade cultural própria das culturas dominantes – justifica a existência de
culturas dominadas – essa forma de superioridade pode se afirmar de várias formas,
inclusive através de formas que aparentemente negam a ideia de hierarquia como a
hibridização da cultura e a cultura global.

Compete ao campo pedagógico emancipatório, criar imagens desestabilizadoras deste
tipo de relacionamento entre culturas. Estas imagens desestabilizadoras ajudarão a criar
o espaço pedagógico para um modelo alternativo de relações interculturais – o
multiculturalismo.

Hermenêutica diatópica

       – dispositivo de comunicação multicultural.
       - baseado na ideia de que todas as culturas são incompletas
       - objetivo: maximizar a consciência de incompletude reciproca das culturas,
       através de um dialogo com um pé numa cultura e o outro pé noutra (dai seu
       caráter diatópico).
       - é um exercício de reciprocidade entre culturas que consiste em transformar as
       premissas de argumentação de uma dada cultura em argumentos inteligíveis e
       credíveis noutra cultura.
- dispositivo privilegiado do multiculturalismo enquanto modelo emergente de
       interculturalidade.
       - com um forte conteúdo utópico, a energia para a por em pratica advém-lhe de
       uma imagem desestabilizadora que designo por epistemicídio (o assassínio do
       conhecimento).

Direitos humanos duas tradições ocidentais:

                a) liberal que da prioridade aos direitos cívicos e políticos,
       negligenciando os direitos econômicos e sociais.

                   b) tradição marxista que sem perder de vista os direitos cívicos e
       políticos, da prioridade aos direitos econômicos e sociais.

Conflito deve ocupar o centro de toda experiência pedagógica emancipatória.

O conflito serve antes de mais, para vulnerabilizar e desestabilizar os modelos
epistemológicos dominantes e para olhar para o passado através do sofrimento humano
que, por via deles e da iniciativa humana a eles referida, foi indesculpavelmente
causado.

Esse olhar produzira imagens desestabilizadoras susceptíveis de desenvolver nos
estudantes e professores a capacidade de espanto e de indignação e a vontade de
rebeldia e de inconformismo.

Aprender o mundo de modo edificante, emancipatório, e multicultural.

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Para uma pedagogia do conflito

  • 1. Para uma pedagogia do conflito Vivemos em um tempo paradoxal. Tempo de mudanças vertiginosas produzidas pela globalização, a sociedade do consumo e a sociedade de informação. Mas também um tempo de estagnação, para na impossibilidade de pensar a transformação social radical. Vivemos de fato, num tempo simultaneamente de conflito e de repetição. Teoria do Fim da Historia: Visão da burguesia internacional, que entende o tempo transformado na repetição automática e infinita de seu domínio. O longo prazo colapsa assim no curto prazo e este, que foi sempre o quadro temporal do capitalismo, permite finalmente a burguesia produzir a única teoria da historia verdadeiramente burguesa. Slogan celebração – versão capitulista do pensamento pós- moderno. Hoje a burguesia sente que sua vitória histórica esta consumada e ao vencedor consumado não interessa senão a repetição do presente. Teoria da historia da modernidade desvalorizou sistematicamente o passado em beneficio do futuro. Contribuiu para trivializar, banalizar os conflitos e o sofrimento humano de que é feita a repetição do presente neste fim de século. – Essa trivialização traduz-se na morte do espanto e da indignação, e esta na morte do conformismo e da rebeldia. O passado foi sempre concebido como reacionários e o futuro como progressista. Futuro – modernidade ocidental – progresso Os grandes vencidos do processo histórico capitalista, os trabalhadores e os povos do terceiro mundo, descreem hoje do progresso porque foi em nome dele que viram se degradar-se as suas condições de vida e as suas perspectivas de libertação. O sofrimento humano mediatizado pela sociedade da informação esta transformado numa telenovela interminável em que as cenas dos próximos capítulos são sempre diferentes e iguais as cenas dos capítulos anteriores. A necessidade de outra teoria da historia: Devolva ao passado sua capacidade de revelação reanime o nosso olhar para as imagens desestabilizadoras. Será através dessas imagens desestabilizadoras que será possível recuperar a nossa capacidade de indignação e espanto e de através dela, recuperar o nosso inconformismo e a nossa rebeldia.
  • 2. Projeto educativo emancipatório: Projeto orientado para combater a trivialização do sofrimento, por via de produzir imagens desestabilizadoras a partir do passado concebido não como fatalidade, mas como produto da iniciativa humana. Objetivo principal consiste em recuperar a capacidade de espanto e de indignação e orienta-la para a formação de subjetividades inconformistas e rebeldes. Só o passado como opção e como conflito é capaz de desestabilizar a repetição do presente. Maximizar essa desestabilização. Projeto de memoria e denuncia e projeto de comunicação e cumplicidade. Perfil epistemológico do projeto: Não há uma, mas muitas formas ou tipos de conhecimento. Todo conhecimento é uma pratica social de conhecimento. Conflitos sociais – conhecimentos de conhecimentos. O projeto educativo emancipatório é um projeto de aprendizagem de conhecimentos conflituantes, com o objetivo de através dele produzir imagens radicais e desestabilizadoras dos conflitos sociais em que se traduziram o passado, imagens capazes de potenciar a indignação e a rebeldia. A educação para o inconformismo tem de ser ela própria inconformista. A aprendizagem da conflitualidade dos conhecimentos tem de ser ela própria conflitual. A sala de aula tem de se transformar em um campo de possibilidades de conhecimento dentro do qual há que optar. Transformar a educação, convertendo-a no processo de aquisição daquilo que se aprende, mas não se ensina o senso comum. O conhecimento só suscita o inconformismo na medida em que se torna senso comum, o saber evidente que não existe separado das praticas que o confirmam. Uma educação que parte da conflitualidade dos conhecimentos visará, em ultima instancia conduzir a conflitualidade entre sensos comuns alternativos, entre saberes práticos que trivializam o sofrimento humano e saberes práticos que se inconformam com ele.... Três conflitos de conhecimento: - Aplicação técnica e a aplicação edificante da ciência. -conhecimento como regulação e conhecimento com emancipação -imperialismo cultural e multiculturalismo.
  • 3. - Aplicação técnica e a aplicação edificante da ciência. Não é um conflito de conhecimento é de aplicação de conhecimento. Os sistemas educativos da modernidade ocidental foram moldados por um tipo único de conhecimento, o conhecimento cientifico, e por um tipo único da sua aplicação, a aplicação técnica. A criação moderna dos sistemas educativos coincide com a consolidação da ciência moderna enquanto modo hegemônico de racionalidade. Conversão progressiva da ciência em força produtiva. Os sistemas educativos pressupõem, que entre ciência e produção há uma distancia, e que essa distancia é medida pela aplicação técnica da ciência. As características da aplicação técnica da ciência:  - quem aplica o conhecimento esta fora da situação existencial em que incide a aplicação e não é afetado por ela.  - existe uma separação total entre fins e meios. Pressupõem-se definidos os fins e a aplicação incide sobre os meios.  - não existe mediação deliberativa entre o universal e o particular. A aplicação procede por demostraçõesnecessárias que dispensam argumentação.  - a aplicação assume como única a definição da realidadeda dada pelo grupo dominte e força-a. escamoteia os eventuais conflitos e silencia as definições alternativas.  - a aplicação do know-how técnico torna dispensável, e até absurda, qualquer discussão sobre um know-how ético. A naturalização técnica das relações sociais obscurece e reforça os desequilíbrios de poder que as constituem.  - A aplicação é unívoca e o seu pensamento é unidimensional. Os saberes locais ou são recusados ou são funcionalizados e em, qualquer caso, tendo sempre em vista a diminuição das resistências ao desenrolar da aplicação.  - os custos da apliação são sempre inferiores aos benefícios e uns e outro são avaliados quantitativamente a luz de efeitos imediatos do grupo que move a aplicação. Quanto mais fechado o horizonte contabilístico, tanto mais evidentes os fins e mais disponíveis os meios. Na sua origem, este modelo visou converter todos os problemas sociais e políticos em problemas técnicos e resolve-los de modo cientifico, isto é, eficazmente com total neutralidade social e politica. Problemas no século XIX: a desorganização da sociedade rural e a anomia urbana causada pela urbanização caótica, a industrialização vertiginosa, a revolta das “classes perigosas” vivendo na miséria ao lado da abundancia, as rivalidades colonialistas e imperialistas entre os estado nacionais e a iminência da guerra, a degradação da natureza pelo uso selvagem dos recursos naturais.
  • 4. Descredito para com esse modelo – dimensão do descredito com o futuro. O projeto educativo emancipatório tem de criar um campo epistemológico em que o modelo de aplicação técnica da ciência seja posto em conflito com um modelo alternativo. O conflito entre os dois modelos passara a constituir, neste domínio, o cerne do processo de ensino-aprendizagem. Modelo alternativo; modelo de aplicação edificante da ciência. Pautado pelas seguintes características: - a aplicação tem sempre lugar numa situação concreta em que quem aplica esta existencial, ética e socialmente comprometido com o impacto da aplicação. - os meios e os fins não estão separados e a aplicação incide sobre ambos. Os fins são se concretizam na medida em que se discutem os meios adequados a situação concreta. - a aplicação é assim, um processo argumentativo e a adequação, maior ou menos da apliacação reside no equilíbrio, maior ou menor, das competências argumentativas entre os grupos que lutam pela decisão do conflito a seu favor (o consenso não é média, nem neutro). -O cientista deve, pois, envolver-se na luta pelo equilíbrio de poder, nos vários contextos de aplicação e para isso, terá de tomar o partido daqueles que tem menos poder. Cada mecanismo de poder cria a sua própria micro hegemonia. Quem tem menos desse poder tende, por isso a não ter argumentos para ter mais desse poder e muito menos para ter tanto poder quanto o do grupo hegemônico. A aplicação edificante consiste em revelar argumentos e tornar legitimo e credível para seu uso. - a aplicação edificante procura e reforça as definições emergentes e alternativas da realidade, para isso deslegitima as formas institucionais e os modos de racionalidade em cada um dos contextos. Por outro lado a aplicação edificante tem nesta fase de transição paradigmática, de partir dos consensos locais para criar mais conflito, em resultado do maior esclarecimento das razoes contingentes que sustentam muito do que surge como socialmente necessário. A ciência que se pauta pela aplicação edificante do conhecimento não interessa que a transformação seja moderada ou radical, reformista ou revolucionaria, interessa t aso que ela ocorra pela ampliação da comunicação e da argumentação, oque obviamente, não obsta a intensidade do conflito ou a incondicionalidade do empenho que tantos nele participam. A aplicação edificante vigorosa ocorre dentro da própria comunidade cientifica e técnica. Os cientistas e os técnicos apostados nela lutam pelo aumento da comunicação e da argumentação no seio da comunidade cientifica e técnica e lutam, por isso contra as formas institucionais e os mecanismos de poder que nela produzem violência, silenciamento e estranhamento.
  • 5. Transformação dos saberes locais – transformação do saber cientifico – transformação do sujeito epistêmico (do ser cientista, do ser técnico). O projeto educativo conflitual faz do conflito entre o modelo de aplicação técnica e o modelo de aplicação edificante um dos eixos principais do ensino aprendizagem. -conhecimento como regulação e conhecimento com emancipação Ciencia moderna – forma de conhecimento hegemônico – sistema educativo, como fora dele – entretanto hegemonia em risco. Dicotomia sujeito-objeto, ou a concepção da natureza como entidade separada da sociedade e da cultura. Transição paradigmática: Paradigma da ciência moderna – será substituído por outro paradigma de conhecimento ainda por definir, mas designado como um paradigma de conhecimento prudente para uma vida descente. Objetivo de reconstruir um conflito epistemológico matricial –conflito: conflito entre o conhecimento como regulação e conhecimento como emancipação. Paradigma da modernidade comporta as duas formas de conhecimento: C. R.: trajetória entre um ponto de ignorância designado por caos e um ponto de conhecimento, designado por ordem. C. E.: trajetória entre um ponto de ignorância denominado colonialismo e um ponto de conhecimento chamado solidariedade. Sendo que no ultimo século o C. R. ganhou primazia.... com isso a ordem passou a ser a forma hegemônica de conhecimento e o caos, a forma hegemônica de ignorância. Conflito pedagógico: reconstruir o conflito entre o C.R. e o C.E. -imperialismo cultural e multiculturalismo. Transborda os limites da modernidade eurocêntrica, para além de ser um conflito epistemológico, é acima de tudo um conflito cultural. Sistemas educativos da modernidade – mapa projeção de Mercator(coloca o continente europeu no centro do mapa) – cultura eurocêntrica ocupa todo o tamanho do mapa – mapa do imperialismo cultural do ocidente. No sistema educativo hegemônico as outras culturas ou estão ausentes ou estão merecidamente vencidas, marginalizadas ou suprimidas.
  • 6. A globalização da economia, por um lado proclamou globalmente a hegemonia do fundamentalismo neoliberal. A africa foi integrada neste modelo da maneira mais cruel pela exclusão total, pela fome, pelas epidemias e pela guerra. Os processos de globalização ocorreram de par com os processos de localização, com a adoção de politicas de identidade por parte de grupos sociais vitimizados direta ou indiretamente, pela globalização hegemônica. Vitimizados pelo fundamentalismo neoliberal –tendo visto o fracasso de outras estratégias de desenvolvimento de raiz ocidental (nacionalismo, socialismo) – gerou a adoção de politicas afirmativas de identidade. Duas tendências contraditórias: uma que vai no sentido de agravamento dos conflitos culturais no final do século, outra que vai no sentido oposto, o do fim de tais conflitos. Agravamento dos conflitos: surge sob duas formas: hegemônica e contra hegemônica. Comum as formas hegemônicas e contra hegemônicas é a ideia de que os modelos sociais de desenvolvimento, e portanto também a luta contra eles, não se sustentam apenas no plano econômico. Turbulência cultural contemporânea, é de sentido oposto a primeira e defende que que nas condições globais geradas, tanto pela sociedade do consumo, como pela sociedade da informação, os conflitos culturais terão cada vez mais menos acutilância. Essa tendência assume duas formas diferentes, ambas hegemônicas: - uma consiste na versão ultraliberal do relativismo cultural, na idéia de que todas as culturas e todas as versões da mesma cultura tem uma singularidade original que não permite nem comparações, nem diálogos profundos entre elas. - a outra consiste na forma de ver a tendência para atenuação dos conflitos culturais faz uma leitura da situação cultural parcialmente contraditória com a anterior. No lugar de culturas singulares estão a surgir culturas hibridas, produtos de fertilizações e contaminações cruzadas entre culturas. O fenômeno da hibridização torna mesmo difícil falar de culturas dominantes e culturas dominadas já que todas estão sujeitas ao mesmo processo de diluição da especificidade. Ainda temos a ideia de que por sobre as culturas existentes, todas elas especificas e parcelares, esta a emergir um cultural global, uma cultura global, uma cultura sem raízes nem lealdades locais, que é partilhada por gente em toda a parte do mundo, uma cultura cosmopolita que subjaz ao que é globalmente comum a toda humanidade. Turbulência a que estão submetidos os mapas culturais que serviram como base aos sistemas educativos modernos.
  • 7. O imperialismo cultural longe de ter acabado apenas mudou de forma – assume ora a forma de choques culturais, ora a da hibridização e da cultura global. A existência de culturas dominantes e culturas dominadas, enquanto a cultura global não é mais que a globalização de certas características especifica da cultura eurocêntrica. Essa discussão acerca das culturas tem estado ausente dos sistemas educativos – Um projeto educativo emancipatório tem de colocar o conflito cultural no centro do seu conflito. Mesmo algumas politicas contra hegemônicas como, por exemplo, da afirmação da identidade nacional, étnica, sexual, cultural têm em suas versões mais extremas, contribuído para o separatismo e para a criação de guetos culturais mutuamente incomunicáveis. Projeto educativo emancipatório: - definir corretamente a natureza do conflito cultural - investigar dispositivos que facilitem a comunicação. - conflito seja definido como conflito entre o imperialismo cultural e o multiculturalismo. Multiculturalismo como modelo emergente de interculturalidade. O modelo dominante do imperialismo cultural, não reconhece outro tipo de relações entre culturas senão a hierarquização segundo critérios que são tidos como universais ainda que sejam específicos de um só universo cultural, a cultura ocidental. Superioridade cultural própria das culturas dominantes – justifica a existência de culturas dominadas – essa forma de superioridade pode se afirmar de várias formas, inclusive através de formas que aparentemente negam a ideia de hierarquia como a hibridização da cultura e a cultura global. Compete ao campo pedagógico emancipatório, criar imagens desestabilizadoras deste tipo de relacionamento entre culturas. Estas imagens desestabilizadoras ajudarão a criar o espaço pedagógico para um modelo alternativo de relações interculturais – o multiculturalismo. Hermenêutica diatópica – dispositivo de comunicação multicultural. - baseado na ideia de que todas as culturas são incompletas - objetivo: maximizar a consciência de incompletude reciproca das culturas, através de um dialogo com um pé numa cultura e o outro pé noutra (dai seu caráter diatópico). - é um exercício de reciprocidade entre culturas que consiste em transformar as premissas de argumentação de uma dada cultura em argumentos inteligíveis e credíveis noutra cultura.
  • 8. - dispositivo privilegiado do multiculturalismo enquanto modelo emergente de interculturalidade. - com um forte conteúdo utópico, a energia para a por em pratica advém-lhe de uma imagem desestabilizadora que designo por epistemicídio (o assassínio do conhecimento). Direitos humanos duas tradições ocidentais: a) liberal que da prioridade aos direitos cívicos e políticos, negligenciando os direitos econômicos e sociais. b) tradição marxista que sem perder de vista os direitos cívicos e políticos, da prioridade aos direitos econômicos e sociais. Conflito deve ocupar o centro de toda experiência pedagógica emancipatória. O conflito serve antes de mais, para vulnerabilizar e desestabilizar os modelos epistemológicos dominantes e para olhar para o passado através do sofrimento humano que, por via deles e da iniciativa humana a eles referida, foi indesculpavelmente causado. Esse olhar produzira imagens desestabilizadoras susceptíveis de desenvolver nos estudantes e professores a capacidade de espanto e de indignação e a vontade de rebeldia e de inconformismo. Aprender o mundo de modo edificante, emancipatório, e multicultural.