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                                Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona
Director editorial: Eduardo Quive * Maputo * 27 de Setembro de 2011 * Ano 01 * Nº 11 * E-Mail: kuphaluxa@sapo.mz




Paixão
Pela
escrita

Relançando Noémia de Sousa
                                        “Sangue Negro”                                                        Pág. 2
2    BLA BLA BLA   Exero 01, 5555
    Terça-feira, 27 de Setembro de 2011                                       https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                    2

Em primEira

“Sangue Negro”
         Ilustre obra da autora moçambicana Noémia de Sousa

    O PAíS - MAPuTO                                        um homem de ontem mas não me neguem um lugar de
                                                           repouso nos céus do vosso Hoje”                           meio de modificar as estruturas sociais que assolam a terra
Na data em que a poetisa completaria 85 anos, 20 de                                                                  moçambicana.
Setembro de 2011, a Marimbique reeditou “Sangue Negro”



                                                           Biografia
de Noémia de Sousa e proporciona-nos uma leve camin-                                                                 sempre, e desde muito cedo, pretendeu que o seu povo
hada pelos corredores do tempo, ou melhor, da história,                                                              avançasse uno, em colectivo, em direcção a um futuro que
da revolta e da emoção.                                                                                              alterasse os eixos em que se fundamentava a atitude do
                                                                                                                     homem, mas sem nunca fazer a apologia da desumaniza-
“NoSSa voz ergue-se consciente e bárbara/ Sobre o branco                                                             ção. afirma-se, acima de tudo, africana e aposta fortemente
egoísmo dos homens/ Sobre a indiferença assassina de                                                                 na divulgação dos valores culturais moçambicanos.
todos”. Noémia de Sousa não poderia ter um interessante NoémiA de Sousa
poema para dedicar a José Craveirinha, seu velho compan- escritorA moçAmBicANA, Carolina Noémia abranches de As propostAs essenciais da sua expressão literária vão do
heiro dos piqueniques que traçavam as linhas nacionalistas Sousa Soares nasceu a 20 de Setembro de 1926, em lou- desencanto quotidiano, de uma certa amargura, de uma
na última metade da década de 1950.                        renço Marques (hoje Maputo), Moçambique. o seu trabalho certa raiva, até ao grito dorido, até ao orgulho racial, até ao
                                                           poético continua por publicar em livro. Poetiza que, numa protesto altivo que contém a pulsão danada contra cinco
                                                           espécie de postura predestinada, desembaraçando-se das séculos de humilhação.
  O poema “Nossa
    Voz”, que abre
   o livro “Sangue
  Negro”, lançado
ontem em Maputo,
   na sua segunda
 edição – desta vez
 pela Marimbique
    – prepara-nos
  para um regresso
   à história, mas
   sem abandonar
  as fundamentais
                                                           normas tradicionais europeias, de 1949 a 1952 escreve
   e humanas bases de actualidade                          dezenas de poemas, estando muitos deles dispersos pela a grande base do texto de Noémia de Sousa está centrada
                                                           imprensa moçambicana e estrangeira.                           na eterna dicotomia “nós/outros” - “nós”, os perfeitamente
   que sempre compuseram Noémia                                                                                          africanos; os “outros”, as gentes estranhas, os que chegaram
                                                           com ApeNAs 22 anos de idade, surge na senda literária a África, os colonizadores. assim, estes são, sem dúvida,
 de Sousa. Nelson Saúte, que assina                        moçambicana num impulso encantatório, gritando o seu os dois grandes temas da poesia de Noémia de Sousa: se
                                                           verbo impetuoso, objectivo e generoso, vincado (bem fundo) por um lado temos a contínua denúncia da total incom-
 o prefácio do livro, nunca escondeu                       na alma do seu povo, da sua cultura, da sua consciência preensão por parte do colonizador, que apenas capta a
                                                           social, revelando um talento invulgar e uma coragem impres- superficialidade dos rituais, não compreendendo o âmago
     esse profundo sentimento pela                         sionante.                                                     de África, demonstrando, desta forma, uma visão plena-
                                                                                                                         mente distorcida, por outro lado lança-nos em poemas de
senhora que uma vez inspirada pelo                         mestiçA, reveLA ser marcada por uma profunda experiência, elogio aberto à raça negra, gritando bem alto e de forma
                                                           em grande parte por via dessa mesma circunstância de ser plenamente perceptível que a presença do colonizador
spiritual ongs dos negros da América                       mestiça.                                                      em África é sinónimo de força que apenas veio denegrir a
                                                                                                                         imagem daquela terra.
 brandaria em versos “deixem passar                        A suA poesia, desde logo, se mostrou “cheia” da “certeza
                                                           radiosa” de uma esperança, a esperança dos humilhados, NoémiA de Sousa fala do orgulho de pertencer a África por
     meu povo”... Escrevíamos que                          que é sempre a da sua libertação.                             parte dos africanos. E por esse mesmo motivo vem afirmar
                                                                                                                         que terão obrigatoriamente de ser os filhos a cantar essa
 Nelson Saúte nos prepara para esse                        todA A sua produção é marcada pela presença constante sua mãe-terra (que tanto amam e sentem) - e cantar África
                                                           das raízes profundamente africanas, abrindo os caminhos tinha forçosamente que ser entendido por oposição à
  regresso ao tempo que de que falá-                       da exaltação da Mãe-África, da glorificação dos valores afri- maneira de cantar do colonizador.
                                                           canos, do protesto e da denúncia.
  vamos. Primeiro, ele assume-o ao                                                                                       Nos seus poemas, o “eu” de Noémia de Sousa é entendido
                                                           poesiA de forte impacto social, acusatória, a sua linguagem como um “colectivo”, um povo inteiro que quer ter palavra
   postar a começar um conselho de                         recorre estilisticamente à ressonância verbal, ao encadea- - o povo moçambicano. desta forma, a poetiza assume-se
                                                           mento de significantes sonoros ásperos, à utilização de pala- como porta-voz daquele povo que é o seu e, dirigindo-se à
            José Craveirinha.                              vras que transportam o “grito inchado” de esperança.          terra-mãe que os acolhe e protege, ora canta a sua vida, ora
                                                                                                                         lhe pede perdão pela alienação demonstrada ao longo de
“NElSoN: ProCura ser um fiel servo da memória de todos     NoémiA de Sousa, como autêntica pioneira da literatura tanto tempo, ora (mesmo) lhe promete a rápida e definitiva
os tempos para que a tua voz se faça ouvir no teu tempo.   Moçambicana (como assim sempre foi considerada) pre- devolução do seu direito a uma vida própria, autêntica.
E escuta com atenção o que te dizem as vozes de outras     coniza - no seu percurso literário - a revolução como único
bocas, de outros mensageiros e as melodias de outras                                                                     ApesAr de breve, porém prolífera, passagem de Noémia
xipendonas. Então sentirás sobre os ombros o peso – o                                                                    de Sousa pelo panorama da literatura moçambicana, a
verdadeiro peso – de um genuíno legado, o legado do                                                                      qualidade dos seus textos não deixou, jamais, de ser recon-
teu amanhã em que dirás com toda a humildade: ‘Sou                                                                       hecida e admirada.
Exero 01, 5555   BLA BLA BLA       3
 Terça-feira, 27 de Setembro de 2011                                            https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                   3

Em primEira
Carlos Santos lança “Pastor de ondas”
Carlos dos Santos entrou para as profundezas de uma sociedade e deixou funcionar a sua imaginação
entre a realidade e a ficção. “O Pastor de Ondas” mostra essa falta de limites entre esses dois espaços.
 O PAíS - MAPuTO                                             Mas, primeiro era preciso perceber se os homens acreditam   caracterizar a forma como o personagem se faz a esse
                                                                                                       realmente se      local - Curvei-me até quase cair para a frente e entrei, a
                                                                                                       podem voar.       custo, quase que gatinhando, como se estivesse a fazer
                                                                                                                         uma vénia, em acto da mais profunda sujeição. a entrada
                                                                                                        “o ESCorPião é tão rebaixada que quando acabei de entrar... dei comigo
                                                                                                       está agora a sentado no chão”.
                                                                                                       andar em minha
                                                                                                       direcção. Quero É uM encontro com seres de um outro espaço. É uma ida
                                                                                                       fugir dele, mas incompreensível a uma agência de viagem que nos leva
                                                                                                       estou sem forças. para todos os lados, até aos inesperados.
                                                                                                       Esgotado. deve
                                                                                                       ser por causa “E dali partiam para onde bem lhes apetecia. uns iam
                                                                                                       das vertigens do dali encontrarem-se com os seus defuntos, falando-lhes
                                                                                                       voo. afinal, voar aos espíritos nas mais íntimas línguas. outros, a partir
                                                                                                       é muito cansa- dali encontravam-se com o próprio deus em pess... em
                                                                                                       tivo para quem, espírito. outros iam ter com extraterrestres das mais dis-
                                                                                                       como eu, não paras localizações celestiais.”
                                                                                                       nasceu ave.”
                                                                                                       E S ta     Co N - Na vErdadE, Carlos dos Santos é que nos leva em difer-
                                                                                                       Statação do entes viagens como se ele próprio fosse a agência pela
                                                                                                       narrador/per- forma simples com que escreve e pelos diferentes temas
                                                                                                       sonagem surge que recolhe para este “o Pastor de ondes.” Nós, prop-
                                                                                                       na sua visita ositadamente, apegamo-nos no ângulo desse estranho
                                                                                                       ao curandeiro curandeiro. Mas podíamos ir muito para além desse ponto
                                                                                                       onde se desco- e despertarmos a falarmos de um universo que o autor
                                                                                                       bre a voar com pretende nos oferecer. Ele o faz com simplicidade, como
                                                                                                       auxílio de uma quem nos conta a história com todo o seu entusiasmo,
                                                                                                       águia e depois é como quem quer passar para os que o ouvem.
                                                                                                       atacado por um
                                                                                                       escorpião.
                                                                                                       aqui surgem
 FOTO: O PAíS E SAPO Mz                                      as contradições propositadas do autor ou o baralho
                                                             próprio de um personagem como o dele, que se encon-
                                                             tra num espaço sem perceber o que está a acontecer. É
dEPoiS dE “Quinta dimensão”, o livro em prosa de Carlos      como dormir na rua e acordar na cama do rei e depois
dos Santos, a alcance Editores prepara-se para lançar “o     procurar uma explicação. “o Pastor de ondas” deixa-nos
pastor de ondas”. Embora coloca um paralelismo entre         nessa situação controversa principalmente quando nos
as duas obras – uma espécie de “continuidade” – em “o        caracteriza um escorpião com lâminas para riscar “onzes”
Pastor de ondas” Carlos dos Santos transfigura-se, faz uma   no corpo de quem visita um curandeiro.
profunda penetração à “ficção científica” e expõe as suas    a HiStória, em si, começa meio a medo, sem nos dar
crenças.                                                     campo para percebermos se entramos para um espaço
Por falarMoS em “crenças”, dos Santos parece brincar         pela livre vontade ou por falta de opção.
com elas. ou melhor, parece confundir o leitor se o que      “rESvalEi-ME a medo para o interior da palhota cilín-
escreve é simplesmente um alinhamento do narrador - que      drica de caniço, coberta com capim seco” – começa
é participante – ou o autor também se identifica com elas.   o livro dando-nos a imagem do espaço para depois




Jornalismo e Línguas
- o evento é organizado no âmbito das celeb-
rações de mais um aniversário da rádio que se
assinala no dia sua criação, 2 de outubro.

a ter lugar nesta quarta e quinta-feira em Maputo,
o encontro vai juntar académicos, especialistas
da África do Sul, tanzânia, inglaterra, Cabo verde
e angola. Serão debatidos temas relacionados
com a radiodifusão e linguística, com destaque
para as línguas moçambicanas, assim com as
experiências dos países convidados no que con-
cerne a uso das línguas nacionais nos meios de
comunicação social.
durante as vii Jornadas de radiodifusão e lin-
guística será lançado o livro Serviço Público de
radiodifusão: desafios do Presente e do futuro,
composto por comunicações das jornadas ante-
riores.
recordar que as vii jornadas foram antecedi-
das de debates organizados mensalmente pelo
núcleo de línguas da rádio Moçambique
4    BLA BLA BLA    Exero 01, 5555
    Terça-feira, 27 de Setembro de 2011                                                     LITERATuRA MOÇAMBICANA                                                                  4



Noémia de Sousa
escritorA moçAmBicANA, Carolina Noémia abranches
de Sousa Soares nasceu a 20 de Setembro de 1926, em
                                                              aposta fortemente na divulgação dos valores culturais
                                                              moçambicanos.
lourenço Marques (hoje Maputo), Moçambique. o seu             As propostAs essenciais da sua expressão literária vão
trabalho poético continua por publicar em livro. Poetiza      do desencanto quotidiano, de uma certa amargura,
que, numa espécie de postura predestinada, desemba-           de uma certa raiva, até ao grito dorido, até ao orgul-
raçando-se das normas tradicionais europeias, de 1949 a       ho racial, até ao protesto altivo que contém a pulsão
1952 escreve dezenas de poemas, estando muitos deles          danada contra cinco séculos de humilhação.
dispersos pela imprensa moçambicana e estrangeira.            a grande base do texto de Noémia de Sousa está cen-
com ApeNAs 22 anos de idade, surge na senda literária         trada na eterna dicotomia “nós/outros” - “nós”, os per-
moçambicana num impulso encantatório, gritando o
seu verbo impetuoso, objectivo e generoso, vincado
                                                              feitamente africanos; os “outros”, as gentes estranhas, os
                                                              que chegaram a África, os colonizadores. assim, estes
                                                                                                                              Nossa Voz
(bem fundo) na alma do seu povo, da sua cultura, da sua       são, sem dúvida, os dois grandes temas da poesia de
consciência social, revelando um talento invulgar e uma       Noémia de Sousa: se por um lado temos a contínua
coragem impressionante.
mestiçA, reveLA ser marcada por uma profunda experiên-
                                                              denúncia da total incompreensão por parte do coloniza-
                                                              dor, que apenas capta a superficialidade dos rituais, não
                                                                                                                            NOéMIA DE SOuSA
cia, em grande parte por via dessa mesma circunstância de     compreendendo o âmago de África, demonstrando,               ao J. Craveirinha
ser mestiça. a sua poesia, desde logo, se mostrou “cheia”     desta forma, uma visão plenamente distorcida, por
da “certeza radiosa” de uma esperança, a esperança dos        outro lado lança-nos em poemas de elogio aberto à            Nossa voz ergueu-se consciente e bárbara
humilhados, que é sempre a da sua libertação.                 raça negra, gritando bem alto e de forma plenamente          sobre o branco egoísmo dos homens
todA A sua produção é marcada pela presença constante         perceptível que a presença do colonizador em África é        sobre a indiferença assassina de todos.
das raízes profundamente africanas, abrindo os caminhos       sinónimo de força que apenas veio denegrir a imagem          Nossa voz molhada das cacimbadas do sertão
da exaltação da Mãe-África, da glorificação dos valores       daquela terra.                                               nossa voz ardente como o sol das malangas
africanos, do protesto e da denúncia.                         NoémiA de Sousa fala do orgulho de pertencer a África        nossa voz atabaque chamando
poesiA de forte impacto social, acusatória, a sua lingua-     por parte dos africanos. E por esse mesmo motivo vem         nossa voz lança de Maguiguana
gem recorre estilisticamente à ressonância verbal, ao         afirmar que terão obrigatoriamente de ser os filhos a        nossa voz, irmão,
encadeamento de significantes sonoros ásperos, à uti-         cantar essa sua mãe-terra (que tanto amam e sentem) - e      nossa voz trespassou a atmosfera conformista da cidade
lização de palavras que transportam o “grito inchado” de      cantar África tinha forçosamente que ser entendido por       e revolucionou-a
esperança.                                                    oposição à maneira de cantar do colonizador.                 arrastou-a como um ciclone de conhecimento.
NoémiA de Sousa, como autêntica pioneira da literatura        Nos seus poemas, o “eu” de Noémia de Sousa é enten-
Moçambicana (como assim sempre foi considerada) pre-          dido como um “colectivo”, um povo inteiro que quer ter       E acordou remorsos de olhos amarelos de hiena
coniza - no seu percurso literário - a revolução como único   palavra - o povo moçambicano. desta forma, a poetiza         e fez escorrer suores frios de condenados
meio de modificar as estruturas sociais que assolam a terra   assume-se como porta-voz daquele povo que é o seu            e acendeu luzes de esperança em almas sombrias de deses-
moçambicana.                                                  e, dirigindo-se à terra-mãe que os acolhe e protege, ora     perados...
sempre, e desde muito cedo, pretendeu que o seu povo          canta a sua vida, ora lhe pede perdão pela alienação
avançasse uno, em colectivo, em direcção a um futuro          demonstrada ao longo de tanto tempo, ora (mesmo) lhe         Nossa voz, irmão!
que alterasse os eixos em que se fundamentava a ati-          promete a rápida e definitiva devolução do seu direito       nossa voz atabaque chamando.
tude do homem, mas sem nunca fazer a apologia da              a uma vida própria, autêntica.
desumanização. afirma-se, acima de tudo, africana e           ApesAr de breve, porém prolífera, passagem de Noémia         Nossa voz lua cheia em noite escura de desesperança
                                                              de Sousa pelo panorama da literatura moçambicana,            nossa voz farol em mar de tempestade

Justificação                                                  a qualidade dos seus textos não deixou, jamais, de ser
                                                              reconhecida e admirada
                                                                                                                           nossa voz limando grades, grades seculares
                                                                                                                           nossa voz, irmão! nossa voz milhares,
                                                                                                                           nossa voz milhões de vozes clamando!
    NOéMIA DE SOuSA
se o nosso canto negro é simultaneamente                       A MuLHER QuE RI À                                           Nossa voz gemendo, sacudindo sacas imundas,

                                                               VIDA E À MORTE
BAço e ameaçador como o mar                                                                                                nossa voz gorda de miséria,
em Noites de calmaria;                                                                                                     nossa voz arrastando grilhetas
se A nossa voz é rouca e agreste                                                                                           nossa voz nostálgica de ímpis
só se abrindo em gritos de rebeldia;                                                                                       nossa voz África
se é ao mesmo tempo amarga e doce a nossa poesia                                                                           nossa voz cansada da masturbação dos batuques da guerra
como suco de nhantsumas silvestres;                                                                                        nossa voz gritando, gritando, gritando!
se é encovado e profundo o nosso olhar                                                                                     Nossa voz que descobriu até ao fundo,
rAsgANdo-se impávido à luz do dia;                                                                                         lá onde coaxam as rãs,
se são disformes e gretados nossos pés espalmados              NOéMIA DE SOuSA                                             a amargura imensa, inexprimível, enorme como o mundo,
de triLHAr caminhos ingratos;                                                                                              da simples palavra ESCravidão:
se A nossa alma se fechou para a alegria                      Para lá daquela curva
e só dá hospedagem ao ódio e à revolta                        os espíritos ancestrais me esperam.                          Nossa voz gritando sem cessar,
- Não nos culpes a nós, irmão vindo das ruas da cidade.                                                                    nossa voz apontando caminhos
                                                              Breve, muito breve                                           nossa voz xipalapala
Que eNtre nós e o sol se interpuseram                         tomarei o meu lugar entre os antepassados                    nossa voz atabaque chamando
grAdes FeiAs de escravidão,                                                                                                nossa voz, irmão!
grAdes NegrAs e cerradas a impedir-nos de tostar              À terra deixarei os despojos do meu corpo inútil             nossa voz milhões de vozes clamando, clamando, clamando.
de verdAdeirA felicidade,                                     as unhas córneas de todos os labores
                                                              este invólucro sulcado pela aranha dos dias
mAs Ai, irmão vindo das ruas da cidade!
Nosso Firme sentido de justiça, nossa indómita vontade a      Enquanto não falo com a voz do nyanga
nascer                                                        cada aurora é uma vitória
NossA misériA comum vestida de sacas rotas e imundas,         saúdo-a com o riso irreverente do meu secreto triunfo
NossA própriA escravidão
serão o calor e o maçarico que fundirão                       oyo, oyo, vida!
pArA sempre as grossas colunas que nos zebravam a vida        Para lá daquela curva
inteira                                                       os espíritos ancestrais me esperam
e LHe arrancaram todo o jeito doce e inexprimível de vida.



FicHA técNicA
                                                        Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa
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Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane (inguane.rafael@hotmail.com)
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Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza*
Brasil:Balneário Camboriú - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas.
Design e páginação: Eduardo Quive
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Terça-feira, 27 de Setembro de 2011                                                           CRÓNICA / CONTO                                                            5
                                                                                                       FiLosoFonias                      rapsódicas
                                                       A morte do sexo e
                                                       o nascimento do                                  MARCELO SORIANO -
                                                                                                        BRASIL
                                                       amor                                            m.m.soriano@gmail.
                                                                                                       com

                                                       NELSON LINEu - MAPuTO                           Nota preliminar:
                                                                                                       Antes de prosseguir
                                                       - amor!
                                                       - Não me chame assim, nesse mato já não
                                                                                                       com este artigo,
                                                       tem Coelho- victor respondeu a esposa.          lembro ao leitor
- Não podemos desistir o último a desistir vence- voltou a atacar a Madalena.                          que me dirijo à
- Madalena não achas que nosso amor já está enrugado?
- Eu acho que você está com preguiça de amar, esforce-se isso não pode acabar, poderia aceitar         CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa),
mesmo que seja difícil, mas isso depois de um de nós morrer.                                           portanto, podemos encontrar gerúndios, futuros do
o victor foi dizendo que todos os dias se esforçava para tudo voltar ao normal, passaram-se três
                                                                                                       pretérito, expressões etnocêntricas, familiares a certos
anos que não sentia aquele frio que só ela matava, o peito já não sentia necessidade de ter a cabeça   leitores, porém, inusitadas a outros. Oxalá, que esta
dela semeada, as pernas dela não convidavam os seus olhos quanto mais olhava indesejável ficava.
a mulher chamava-lhe de aquiles porque calcanhar dela era o ponto dele mais fraco, o traseiro          peculiaridade não seja pretexto para correções, mas
dela não mexia ao mesmo rítmo do bater do seu coração como antes, o umbigo dela passou a
ser a parte do corpo que ele menos queria ver, outrora ele não podiam camar sem olhar, era para
                                                                                                       para integrações e enriquecimentos léxicos e culturais
confirmar se estava mesmo com a mulher, porque ele era fielíssimo. ao lado dela sentia-se só hoje      entre nós. Marcelo Soriano. Santa Maria - RS - BR.
ela era a razão da sua inexistência, aquela saia preferida dele passou a ser injusta.
a Madalena achava que o amor deles acabou prazo. E devia ser por les casarem-se por desinteresse
                                                                                                       14/07/2011.
outros casam por dinheiro, riqueza ,ostentação, exibicionismo e até por amor e não era esse o caso
deles.
Já não sentia vontade de arranhar as costas dele, a mão dele já não lhe criava arrepios, nem depois
de abraçados sentia aquela quentura entre as pernas, ver-lhe descamisado era como ver um tronco
                                                                                                       [LetrAs Ao veNto]
, as veias do braço dele não corriam aquela sangue de leão que lha faziam ser domador, os pêlos
do peito não passavam de um capim seco, até passou a gostar de lhe ver grosso, porque quando
chega-se casa ia direito a cama, era melhor com ele na cama a dormir duque acordado a repararem-       Escreveu letras no papel. Levantou o papel na altura dos olhos. E
se um ao outro como Coelho e a cobra sem ninguém piscar o olho.                                        soprou contra a janela. As letras são insetos que voam em busca
fez nascer uma boa disposição, segundo o que ela aprendera as mulheres é que salvavam o                de sol.
casamento e os relacionamento só terminavam por incompetência delas, pediu ao meio marido era
assim que ela o chamava ultimamente, para falar-lhe na orelha aquelas palavras que ele inventou
mas foi ela que deu o aval para ser usada. isso nunca tentaram quem sabe daria certo.
- Quais? Eu até me esquece que falava nas tuas orelhas.                                                [ALmA é pANdorgA]
E ela ordenou para ele procurar se lembrar porque ela também tinha se esquecido. Quem sabe aí
voltariam a ser homem e mulher. os filhos nem ninguém sabia o que não estava a acontecer, na
cama eram como as madeiras que a constituiam ou lençol que não podiam usar.
Quanto mais tempo estivessem longe um do outro sentiam-se bem como antes quando estavam                Ao contrário do que imaginam os desalmados, a alma não dorme
juntos , tinham que ter algo a fazer para não ficarem a pensar no outro.
No Segundo ano daquele insólito a Madalena decidiu trabalhar, daí o querer arranjar empregado
                                                                                                       oculta no lado de dentro, ela paira muito alto, do lado de fora, como
doméstico para cuidar da casa e dos filhos. antes até poderia haver discução porque na zona norte      uma pandorga que acena colorido ao olhar inquieto do Menino Deus.
do país que era da Madalena trabalhavam homens e do victor no Sul trabalhavam mulheres nessa
profissão.
unanimente chegaram a conclusão que tinha que ser uma mulher. Pós o seu lado feminino ia de
acordo com o que se pretendia na casa e havia coisas que ela podia fazer por ter nascido com ela e
um homem teria que aprender.                                                                           [trAtAdo de poemA]
Na segunda semana o victor voltou cansado do serviço não estava a sentir-se bem e deu-se de
cara com a empregada que estava limpar o quarto. a má disposição se foi , transpirava em toda          A poesia vem assim: desescrita... Para que a desapaguem...
parte do corpo, revelava-se o homem que estava dentro dele. Pegou nela agressivamente, sem lhe
dar tempo para um grito, babava nos lençóis . voltou ao mundo selvagem, domou-lhe, horas iam
passando com mais vontade ia ficando e não saia o líquido que até então era desperdícios.              As cores primárias de um poema são Leste, Oeste, Norte e Sul.
a mulher chegou e assistiu sentada e não fizera nada, depois de cinco horas ele caiu no chão como      Os pontos cardeais de um poema: Amarelo, Ciano e Magenta.
um tronco, pedia água, a mulher concedeu o pedido mesmo depois de ver tudo aquilo acontecer
na sua própria cama.                                                                                   As operações básicas da matemática do poema: Sólido, Líquido, Gasoso
a empregada foi ajoelhando e pedindo desculpas contou como aconteceu . a Margarida mesmo               e Etéreo.
com aquela dor entre inveja e ciúme pagou dois meses adiantado e a empregada se foi da casa.           Os quatro estados da matéria do poema: soma, subtração, divisão e
Ela questionava-se se o marido ja não vem fazendo isso por aí fora. vestiu-se de preto e sentou-se     multiplicação.
na sala com os seus três filhos onde iam brincando. o victor estava até então no quarto de um lado     Mas eu diria que o poema só aceita quatro sexos: água, terra, fogo e
triste por ter matado o seu juramento pessoal e feliz por ter voltado a ser homem.
                                                                                                       ar.
Eles queriam ser um casal exemplar, disseram um ao outro que não podiam se divorciar ,queriam
ser exemplo para sociedade e principalmente para os seus filhos, que casamento era para sempre e
não só porque tinham um passado parecido , ambos viveram com madrasta ou padrasto.                     O vazio de quem poema (do verbo poemar) não é oco.
a Madalena depois da separação dos seus país que por ser criança não soube o motivo, viveu com         E tudo o que ciranda, ri-ri-rindo, em torno do próprio eixo é
a mãe e um padrasto que lhe maltratava e via-lhe como empregada, foi impedida de estudar mas
a mãe conseguiu com que ela mesmo com doze anos estudasse de noite. a mãe ajudava-lhe as               versopião... E dá poema...
vezes nas lágrimas.                                                                                    E não há nada mais íntimo, mais próximo, que um poema e seu poeta.
Era dona de casa mas tinha que se submeter aos devaneios do marido porque ela via aquele               Estão tão juntos, tão aglomerados, que ocupam o mesmo lugar no
casamento como salvação, ficou muito tempo solteira vivia do que produzia na sua machamba
uma parte era para casa e outra vendiam para matar outras necessidades.                                espaço.
a boca pequena voavam relatos falsos dos homens que a desejavam e desconsiguiam levar-lhe a
cama, porque ela queria casar e a maioria deles já eram casados. Mentiam que dormiam na casa
dela. Quem iria casar com uma mulher que já passará nas mãos de quase todos? Nem com toda
beleza dela seria humilhação demais.
o padrasto era um comerciante, viajava dependendo da fertilidade e das necessidades de cada            [coNtrA-ceNAs de umA Noite de meiA
zona. daí que não teve tempo de ouvir o que se falava da mãe, e quando soube já estava rendido
aos encantos dela.                                                                                     estAção]
a mãe adoeceu ela estava sozinha a cuidou mas não foi suficiente morrerá nos seus braços. E chega
o padrasto depois de uma semana carinhosamente a tratou, parecia outro homem, em menos de
uma semana convenceu-lhe a vender a casa, porque lhe traria lembranças da mãe, era isso que            É noite... E os pirilampos chuleiam o passo-a-passo
acontecia ela não conseguia dormir. ao dormir a mãe sempre ia ao quarto dela para saber como
estava e lhe cobria se não estivesse coberta. Era a essa hora que ela sempre acordava e punha-se a     das horas.
chorar lembrando-se dela.                                                                              Nos jardins o descanso é santo.
Partiu com o padrasto que prometeu, jurando que a cuidaria e pediu-lhe desculpas pelo que
aconteceu antes e já mais voltaria a acontecer.                                                        - Vem ver! Vem ver, ó Cema! Olha um bico de lua
arrumaram as malas e foram-se. Chegaram numa casa onde uns meninos vieram a correr e
chamavam o padrasto de pai e um beijo de uma senhora que só se ela fosse cega não perceberia
                                                                                                       acesa.
que se tratava da esposa dele, mãe daqueles meninos.                                                   A varanda é dos grilos...
apresentou a Madalena como uma órfã, ele a levou para cuidar e ela ajudaria com o trabalho de
casa e os meninos. a mulher orgulhosa pelo gesto do marido a recebeu e lhe mostrou onde tinha          Pequena árvore... Cadeirinha de balançar noite
que dormir e os restantes cantos da casa, onde ficava as roupas sujas para ela lavar, como tinha que
se apresentar, tudo isso antes dela descansar e perceber o que era essa nova vida.
                                                                                                       ventada.
o padrasto a deixou e viajou logo sem lhe despedir. Ela foi pensando quantas mulheres como sua         O junco... No lago... Espeta o luar...
mãe andavam por ai reféns. E indo na linha do que se tem dito: os homens são poucos e essa luta
renhida visto que muitos perderam a vida na Guerra e outros vão homo-sexualizando- se.                 Aranhas velhas babam tricôs...
Sempre triste e humilde ia fazendo o seu trabalho diário. ficou amiga dos meninos que a acarinhavam
e escondiam aquela comida que era para os da mesa, traziam a noite no quarto dela.
                                                                                                       Paixão de lua é coisa de muro
o padrasto vinha e voltava. Certo dia ela roubou dinheiro dele e fugiu nunca mais a viram
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    Terça-feira, 27 de Setembro de 2011                                            https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                   6


- discurso dirEcto

Lurdes Breda: Apaixonada pelas palavras
Lurdes Breda nasceu no concelho de Montemor-
   o-Velho, onde reside. Frequenta o curso de
   Línguas e Literaturas Modernas – Variante
   Estudos Portugueses, da universidade
   Aberta. Foi premiada em vários certames
   literários nacionais e internacionais.
   é autora de treze obras literárias: “O
   misterioso falcão de jalne”, “Asas de vento
   e sal”, “zuleida, a princesa moura”, “A outra
   face do luar”,“A Nuvenzinha Cor-de-Farinha”,
   “O Duende Barnabé e as Cores Mágicas”, “O
   Abade João”, “O Piolho zarolho e o Arco-
   íris da Amizade”, “O Alfabeto Trapalhão”,
   “Para ti, Pai”, “O Rap do Mar e outros contos                                                                 da mesma ideia? O ser escritor compensa? E qual é o papel
                                                                os Livros ocupam um papel de extrema importância
                                                                                                                 do escritor?
   de rimar”, “O Duende Barnabé e o Jogo                        na minha vida e a leitura é fundamental para a minha
                                                                evolução e realização, que pessoal quer profissional, peNso Que a literatura pode ter uma função social e catártica
   geométrico” e “Para ti, Mãe” e co-autora                     enquanto escritora.                                          importantes. o escritor tem, por isso, um papel fundamental
                                                                                                                             na sociedade. o carisma do escritor pode, inclusivamente,
   de outras sete (cinco das quais editadas                     O escritor peruano Mario Vargas Llosa certa vez disse o influir na forma como a sua obra é vista e até na generali-
                                                                seguinte “a minha passagem pelo jornalismo foi fun-          dade da literatura perante o leitor. Pode fazer a diferença
   no Brasil): “Contos com Vinho Madeira –                      damental como escritor”. Como porta-voz da sociedade na defesa de determinadas causas. Se o escritor ama a sua
                                                                você percebe na literatura ou no jornalismo uma função arte, por mais provações que experimente, se consegue
   Cultura Madeirense na Forma Líquida”,                        definida ou mesmo prática?                                   fazer passar, no todo ou em parte, a sua mensagem, então
                                                                                                                             compensa ser escritor.
   “Folhas ao Vento”, “Casa lembrada, Casa                      A LiterAturA e o jornalismo, embora em paradigmas
                                                                diferentes e cada qual utilizando metodologias próprias A língua une-nos, mas continuamos muito distantes uns
   Perdida”, “Rosa dos Ventos”, “Amo de Ti –                    podem, por vezes, complementar-se. dependendo do dos outros, em termos globais, qual é o estado clínico da
                                                                género literário e da forma como é trabalhado o jor- literatura de expressão portuguesa? E o que a literatura
   Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua                    nalismo, pode existir, com certeza, uma função prática, do seu país recebe dos outros quadrantes lusófonos, con-
                                                                sobretudo, neste último, uma vez que se deve pautar pela cretamente os africanos, refiro-me à literatura moçambi-
   Portuguesa”, “Prémio Alquimia das Letras”                    objectividade e rigor na informação. a literatura, no meu cana, angolana, guineense, cabo-verdiana etc.?
                                                                ponto de vista, tem uma função mais estética e subjectiva,
   e “Prémio Valdeck Almeida de Jesus de                        embora mesmo através da literariedade se possa veicular peNso Que cada vez mais, possivelmente por influência da
                                                                determinadas mensagens mais ou menos práticas.               globalização e consequente inter e multiculturalidade entre
   Poesia – V Edição 2009”. Com o intuito de                                                                                 os países de língua Portuguesa, os autores africanos têm
                                                                Quais são os autores imprescindíveis nas sua leituras        um maior reconhecimento, neste caso, em Portugal. talvez
   promover a inclusão das pessoas portadoras                   como escritor e leitor e que nunca o abandonam?              também pelo próprio “peso” que o escritor vai tendo no seu
                                                                                                                             país de origem e que perpassa fronteiras.
   de deficiência na sociedade, participa em                    teNHo umA formação literária muito influenciada pelos
                                                                autores clássicos portugueses, em especial os do século Se em Moçambique, Angola, Cabo-Verde, São-Tomé,
   projectos que englobam a literatura, a                       XiX: Eça de Queiroz, Júlio dinis e trindade Coelho. li ainda Timor Leste etc. o grande problema que cruza o caminho
                                                                florbela Espanca, fernando Pessoa e os seus heterónimos, do escritor é encontrar uma editora onde possa publicar
   música e as artes de palco, em parceria                      Miguel torga e Sophia de Mello Breyner andersen. Na o seu trabalho, e em seguida alguém que compre e leia
                                                                literatura estrangeira, destaco léon tolstói, alexandre a mesma, creio que em Portugal e no Brasil acontece o
   com a APPACDM – unidade Funcional de                         dumas, Gabriel García Márquez e Mia Couto.                   inverso. Ou seja, compreende-se que as possibilidades de
                                                                                                                        publicação nesses dois países são bem maiores do que as
   Montemor-o-Velho. é, com frequência,                         Neste mundo cada vez mais globalizado, tão afeito ao    nossas, não se corre o risco de se ter muita obra imatura
                                                                imagético, com um nível elevado de analfabetismo e      nas prateleiras. Qual a sua opinião sobre isso?
   convidada para actividades que visam a                       com uma diversidade cultural abrangente, o que te leva
                                                                a dedicar à arte de escrever numa era onde ler um livro em portugAL, ao contrário do que possa pensar, não é assim
   promoção do livro e da leitura, junto das                    não é a palavra de ordem?                               tão fácil editar. Por outro lado, há expedientes e editoras
                                                                                                                             que proliferam com a vontade do autor em editar. Muitas
   escolas. Colabora em jornais e revistas de                   soBretudo, A paixão das e pelas palavras… o acreditar vezes a obra não é criteriosamente avaliada ou clivada para
                                                                que escrever e ler continuam a ser a base essencial para     edição, o que significa a introdução no mercado de obras
   âmbito regional e nacional.                                  a formação do ser humano. além disso, consequência           paraliterárias a par com as obras literárias.
                                                                da globalização e da evolução das novas tecnologias da
                                                                informação e da comunicação, é possível aliar a escrita      Que obra de um escritor de qualquer quadrante do mundo
                                                                e a leitura a novas ferramentas como enriquecimento          que os moçambicanos deviam ler urgentemente? E como
Na infância, qual foi o seu primeiro contacto marcante          e incentivo à sua (re)descoberta. um livro pode ser um       formar leitores?
com a escrita?                                                  alimento para a alma… Escrever é uma arte. uma arte
Foi NA escola, com a descoberta dos diversos textos literári-   que deve ser cultivada como uma flor delicada. Só assim      peNso Que Mia Couto é uma excelente escolha e um escritor
os e respectivos autores, assim como com a elaboração de        poderá desabrochar na sua plenitude.                         que todos deveriam ler, independentemente da naciona-
composições: a aprendizagem do uso e do poder da palavra                                                                     lidade. E é um bom exemplo de que um autor africano é
aliados à imaginação.                                           O escritor angolano José Agualusa disse, certa vez, que      reconhecido no exterior. Quanto a formar leitores, acho que
                                                                “o escritor africano deve sair do gueto”, sendo o escritor   se deve sempre passar a mensagem de que ler deve ser um
Que espaço os livros ocupam no seu dia-a-dia? A leitura,        a voz dos que não têm voz, a sua intervenção social não      prazer, uma viagem a nós mesmos e a mundos de outra
de alguma forma, influencia o seu trabalho e o seu quo-         só deve cingir-se à escrita num país com baixos níveis de    forma inacessíveis. deve alimentar-se a magia
tidiano?                                                        leitura, o escritor deve se expor na sociedade, comunga
Exero 01, 5555   BLA BLA BLA       7
Terça-feira, 27 de Setembro de 2011             https://literatas.blogs.sapo.mz
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LuRDES BREDA

 É um rosto de sorriso fácil. um sorriso
 nascido na sua própria simplicidade e no
amor de todos aqueles que a rodeiam. um
sorriso que brota da fertilidade da terra. um
sorriso que irradia a luz do sol, que
 desabrocha no perfume das flores e se
dispersa no abraço do vento até aos confins
da fantasia…

  Considera-se um ser humano privilegiado
pelo afecto que os outros lhe dedicam e
pelo dom da escrita. do seio da Natureza
flúi a inspiração, que dá vida às palavras,
com que inunda a brancura do papel.

 a sensibilidade e a criatividade são
 instrumentos fundamentais, que utiliza na
elaboração dos seus textos,
 recamando-os depois, com a
 multiplicidade dos sentimentos e das
emoções experimentadas no quotidiano.

 Quando acredita que determinado
 percurso é o mais certo para os objectivos
a que se propõe, é obstinada em segui-lo.
Possui, todavia, uma enorme capacidade de
improviso, face às adversidades inerentes a
qualquer vivência.

  Se tivesse que apontar alguns dos seus
defeitos, não hesitaria em dizer que é
  teimosa, demasiado perfeccionista e
extremamente distraída. ironicamente, ou
talvez não, muitas são as pessoas, que após
lerem o que ela escreve, lhe dizem ser boa
observadora. Pensa então, para consigo
mesma, que o que tem é uma imaginação
demasiado fértil…

 Extraído do blog da autora:
 http://lurdesbreda.wordpress.com
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Terça-feira, 27 de Setembro de 2011                                                 https://literatas.blogs.sapo.mz                                                      8
no rEcanto dE apoLo...
                                                                                                                          Resultado
7 anos de sextas de poesia                                                                                                PEDRO Du BOIS - BRASIL
                                                        os mesmos declamadores e seus próximos, mesmo assim sem           Certos jogos gritam resultados
 MAuRO BRITO - MAPuTO                                   deixar frustração por parte dos organizadores, tampouco dos
  É sempre dito por aí que a sexta-feira é dedicada     fazedores de poesia.                                              trancados em gargantas
ao homem ou seja em palavras autênticas, é o dia           de ressaltar que no início quem se encontrava em frente do
do homem; mas a última sexta-feira do mês de            projecto era o poeta nato amarildo, tempos depois por outros      afogadas em líquidos
Setembro, feliz ou infelizmente foi cem por cento       motivos, teve de abandonar a missão de fazer acontecer a
dedicada a poesia, somente a ela, literalmente sem      poesia na sua forma mais expressiva; assumiu assim o leme o
concorrentes. um dia com indiferente frio, a litera-    fotojornalista Juma Kapela, mais conhecido por feling Kapela,
tas não se fez rogado, estava lá, quase rebentando      que com toda sua força segurou-o, escrevendo assim novos          reaparecem em esbirros
pelas costuras do espaço do café Kultur do iCMa         caminhos da poesia, como poeta bélico, assim e conhecido.
                                                               Mas os tempos mudaram, as escritas amadureceram, os                          espirros
                                                             poetas cresceram, a poesia conquistou o seu espaço na
                                                             mente dos jovens de Moçambique, levando mais adeptos                         no acordo
                                                             para o seu elenco, é evidente hoje o seu poder e afirmação
                                                             no terreno da cultura moçambicana, sendo um instrumen-               desacordado em regras:
                                                             to de intervenção social, de elevação do espírito humano,
                                                             e exaltação de outros valores. temos como exemplo de
                                                             alguns que deram a cara as noites de poesia durante os
                                                             nos que passaram: Professor orlando, Mia Couto, domi                 ao vencedor
                                                             Chirongo, Clemente Bata, Jonasse, lucílio Manjate, mano
                                                             azagaia, Shakal, tira teimas, Jaime Santos, ungulani Ba Ka           cabe o barulho
                                                             Khossa, Nataniel Ngomane, Pedro Muimabo, Kululeko, e
                                                             muito mais figuras de vários sectores da sociedade. Sete             infernal do nada
                                                             anos a fazer poesia e declamar significa muita aprendiza-
                                                             gem, companhia, humanismo, amor, troca de experiência,        quantificado no instante.
                                                            irmandade, significa acima de tudo obter uma nova visão
– como habitual mensalmente.                            que nos permite compreender os prós e contras da sociedade,
  depois de se ter verificado uma paragem por           enfrentando novos desafios.
dois meses, por motivos alheios à vontade dos              Nesta noite que assinala o sétimo aniversário do grupo Pela    depois a vida segue o trajeto
poetas, mas graças aos mesmos e os demais, a            arte d’alma, foram cabeças de cartaz: Simba- poeta, Pedro Mui-
sessão de poesia voltou com a carga fortíssima.         ambo - stand up Comedy, Catarina & lorena Gonzaga - violino       previamente decorado: ao vencedor
Mais de uma razão para juntar no mesmo espaço,          e open Mic: 10 poetas em slide e feira do livro e artesanato.
apesar de ser dedicado a poesia, artes como a           Numa autêntica miscelânea entre almas de diferentes cores,        resta a tênue lembrança
música, a dança, o stand up comedy, o futebol, a        poetas da frança, Haiti e alemanha, depois do espaço ter sido
escrita, etc, todas as artes conjuntas, no intuito de   purificado pelo som dos violinos, em dose única, ouviu-se         do que esquece.
resumir tudo em forma de poesia.                        também poemas e língua changana, Sena e portuguesa, com
  diria que colheu mais uma rosa no jardim da vida,     a presença de poetas d’alma como anabela Jaime, Polinésio,
mas tratando-se de um grupo que faz poesia e            King e Sérgio, o Movimento literário Kuphaluxa também fez-se
declama, como lhe poderíamos felicitar? diríamos
que o grupo Pela arte d’alma deu mais um passo
                                                        presente, representado pelos declamadores francisco Junior &
                                                        izidine Jaime, os pedaços de poema em língua inglesa na voz                    Africanizado
ao assinalar sete longos e duradoiros anos a orga-      de Simba; a comédia veio para aflorar os ânimos, duma forma
nizar as noites poesia e a recitar os mesmos, desde     diferente, tocando cada espectador que ali se encontrava.                      ARSéNIO IMPISSA - LICHINgA
a primeiríssima noite, onde o número de aderentes          o regresso do poeta bélico amarildo a fechar a noite, de
era quase ínfimo, sendo que constituíam plateia         forma mais natural que podia nos ter concebido ao sabor do                      Sou homem África dentro
                                                        bolo que foi confeccionado para simbolizar a data tão especial                 a onde a minha realidade sou.
                                                                                                                                       la fora sou nomes que dizem, mon-
Sobreviver, reviver!                                                                                                                 stro…


 EDuARDO TOCOLOuA - LICHINgA
                                                  Poetas                                                                               Em cada cantinho por onde vou.

                                                  NONIA ISSAC – TETE                                                                   Quem sou homem preto

  revanche no sussuro,                                                                   Veremos                                       Que na presença da sombra de deus
                                                                                                                                       Sou um simples esqueleto
                                                   Connosco poesia,                                                                    Que representa os ateus!!?
  dando a vida no duro,                            vigilantes do nosso amor.
                                                                                         JAPONE ARIJuANE - MAPuTO                      ai de mim na minha sina
 Pelo povo eu juro,                                Censurados como não                                                                 Que crente sou belzebu
                                                   aqui estamos,                         formas absolutas                              E o verdadeiro é obra divina
 Por um dia tao puro!                              resistimos, por aquilo que amamos.    formar desinformados                          Na minha cor de diabo
 dizia Kankhomba,                                                                        Peregrinando hostilidades históricas
                                                   Serenos, murmuramos:                  Contemplando o futuro que passa               Não choro aqui o meu realismo
 Embriao de Messumba,                              dizer, fazer e Sentir a literatura    Na ingratidão do tempo                        Mas sim o vosso egoísmo “o racismo”.
                                                   Navegamos nela                        a dignidade do presente que não se vê

                                                                                                                                      Mãe Niasse
 do sertao do lago Niassa,                         a poesia                              andorinha-mos em lindas teorias
                                                   Nosso amante.                         Serpenteantes em práticas hostis
 Por onde a espada perpassa.                                                             Queremos ser aquele que passa
 ranger de dentes,                                 Serenamente palavreamos               Estacionados no tempo                         HuMBERTO RODRIguES -LICHINgA
                                                   inesperadamente esculpimos palavras   Barrigas cheias da fome que engolimos
 Por entre as gentes,                              Essa é a nossa arte                   Para não morrer dela                          oh mãe Niassa
                                                                                                                                       o teu agasalho
 fica o recado,                                                                          aqui é Maningue Nice!                         Sentimulos
 longe de ser pecado,                                                                    Não passamos dificuldades                     oh mãe Niassa
                                                  LuA E ALMA                             vivemo-las.
 Pulando o cercado                                                                       o que fazemos                                 as tuas aguas nascentes
                                                   o meu mundo acontece                  Nem melhor nem pior.                          Que lubrificam as montanhas
 Para o outro lado do cenado.                      no mais minúsculo cílio               Não fazemos!                                  Escorem nas nossas mentes
                                                   do tempo...                           o que somos                                   oh mãe Niassa.
                                                                                         alguém quis que fossemos
                                                   E devora-me a certeza                 Não nós!                                      Procurada pelos estrangeiros
                                                   de reencontrar-me                     amarados onde não podemos comer               Contada outrem
                                                   diante do espelho:                                                                  oh mãe Niassa
                                                   ahhh esbeltas asas                    Pobre de nós.
                                                   inchadas de vida                                                                    Niassa nossa mãe
                                                   de belas rosas e aromas
                                                   beijando o vento em passagem!
Exero 01, 5555    BLA BLA BLA       9
Terça-feira, 27 de Setembro de 2011                                            https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                                9

canto da poEsia - FacEbook
   Última vontade                                                                                                            A manhã pálida
                                                           Poema da morte
 VICENTE SITOE                                                                                                         HuDSON gwAMBE
  Sinto vontade...
                                                            raffael inguane
  de deitar-me em cima                                                                                                   Naquela manhã pálida
  ... desta cama                                                                                                         deslizava sob o asfalto da cidade das acácias
                                                            a morte morreu mortalmente morrida,                          apadrinhado estava de um frio que congelava os meus mar-
  Cabeça para cima                                                                                                    fins
  Barriga ao ar                                             Matando mortos mortais,                                      Naquela manhã pálida expirei o Co2 pálido, naquela manhã
  Cruzar os braços no peito                                                                                           respirei cacimba
  Cruzar as pernas                                          Matadores mortíferos da mortalidade e martandade morta.      a minha boca parecia um chaminé de tanto respirar o Co2,
  sobre este leito                                                                                                    fiquei amarrotado com frio...
  fechar os olhos                                           um morticínio mortiço em morraria
  Pensar...                                                                                                              E naquela manhã pálida vi o Chiquito deitado ao lado de uma
  imaginar...                                               Mortificação do moribundo mortificativo                      lareira de papelão, bem enrolado como uma serpente, cobria ele o próprio
                                                                                                                      frio
  inspirar o último ar                                      a mortinatalidade do morto-vivo é um mortório mortuoso      da manhã pálida e de tanto frio que estava recebia dolorosos
  Expirar a única vida                                                                                                carinhos do frio
  E me desligar                                             o mortulho da mortualha mortificada
                                                                                                                         vi o Chiquito, vi o Chiquito rico de fome e rei de palidez
  voltar ao desconhecido                                    E o morediço morredoiro morremorrer                          a língua estava pálida, vi o Chiquito, não tinha onde ir
  da inexistência                                                                                                        o lar dele era dia e noite na rua, vi o Chiquito,
  ao esquecimento                                                                                                        alimentava-se de fome a cada rodar do dia
  voltar aonde nunca estive                                                                                              cobria o frio, o luxo de enganar o estômago era raro
  Morrer para o mundo
  e para os céus...                                                                                                     vi o Chiquito a sofrer mas, no calcanhar dele há uma família
  voltar ao vão                                                                                                         Que não o querem
  apenas me desligar                                                                                                    Chiquito de água vive, mas o amanhã nos pés dele se ajo-
                                                                                                                      elhará
                                                                                                                        E terá o luxo que hoje é um caso notável

NÓS gABAMO-NOS                                             DIVERSÃO, SABE-NOS A
PETER PEDRO PIERRE PETROSSE                                MORTE O VALOR DA VIDA                                         Chiquito não é mais escravo da manhã pálida
                                                                                                                         Já é escravo da vida luxuosa que o rodeia
                                                                                                                         Chiquito estende a mão para o próximo
Nós gabamo-nos,                                                                                                          E com amor ajuda o próximo
Porque vivemos na cidade,
onde tem água, luz de qualidade,
                                                           IzIDINE JAIME                                                Chiquito já tem uma família e dá todas as regalias
temos tudo por perto.                                                                                                   Chiquito hoje é homem rico e estende a mão para o próxi-
                                                            Noite calma                                               mo
Nós gabamo-nos,                                             Corpos dançam                                               Chiquito hoje é homem rico e assou todo sofrimento no
Porque vivemos em Maputo city,                              o som reina                                               luxo
a cidade das acácias.                                       deuses da música                                            E estende a mão para o próximo
acácias que viraram balneários públicos.                    Sabem-nos na alma
Já nem sei se elas libertam oxigénio ou oximijo.            a Paixão é líquida
                                                            o álcool
                                                            faz-nos outros
                                                                                                                      Eu ainda não morri
Mesmo assim gabamo-nos,
Porque vivemos no prédio,                                   Corajosos
Mas, alguns de nós não conhecem o vizinho do lado.          as vezes
                                                            Sem juizo
Consumimos poluição sonora de 1 a 365 de cada ano.          Sentimo-nos                                               CELSO AuguSTO FOLEgE
olhem para o jardim da Estrela vulgo Madjerman’s,           deuses de nós                                               Por longas estradas passei
Está todo deplorado.                                        também somos                                                longas distâncias percorri
Á dias atrás era um autêntico dzudza’s fashion.             filhos do além                                              Em bravos mares naveguei
a praça da juventude,                                       Mas                                                         Minha alma diz: Eu ainda não morri
virou um parque de venda de materiais de construção.        Matamo-nos
                                                            antes de morrer                                             Corpo esmorecido, sistema muscular
Nós temos coragem,                                          tudo é uma festa                                            digestivo e circulatório enfraquecidos
Conviver com o lixo, como se fosse um membro da família.    Sorrisos se beijam                                          apesar do meu débil estado físico
até contaminamos as crianças.                               disfarçados                                                 em bravos mares naveguei
Elas são bem desleixadas,                                   Como os homens                                              minha alma sussurra: eu ainda não morri
Mas não têm culpa,                                          dois corações
apenas tiveram a quem puxar.                                também se abraçam                                           continentes, mares bons e maus
                                                            a vida                                                      riam-se de mim, me mantenho firme
viras daqui, tem papel no chão,                             é uma cena                                                  firme na minha infinita esperança
viras para ali, tem garrafa no chão,                        também diversão                                             firme no meu caminhar, a vida torna-se um caos
viras acolá, tem plástico no chão,                          E quem não se “de verde”                                    de varias ervas, até daninhas e frutos silvestres vivo
viras mais uma vez, tem preservativo usado no chão.         É azul.                                                     frutos que outrora não sabia da sua comestibilidade
viras mais uma vez e o cenário piora,                                                                                   fazem parte do meu improvisado cardápio de dificuldade
os vermes deliciam-se de restos de comida podre.
                                                                                                                        o que faço eu neste imenso vácuo de sociedade
respiramos a nauseabundice das nossas acções de ufuta.                                                                  neste local esverdeado e abundado por selvagens
olhem para os contentores de lixo,                                                                                      animais irracionais, onde só eu trago racionalidade
Se não estão vazios, transbordam de lixo,
Mas o lixo ainda desfila desnorteado pela cidade.                                                                       pretendo gozar os direitos humanos na sua plenitude
                                                                                                                        pois na urbe não sorri, mas tanto sofri
de quem é a culpa?                                                                                                      estrondos de insígnias ouvi, mas reafirmo eu ainda não morri.
Será do conselho municipal?
Que cobra taxas e não cumpre com as suas obrigações?                                                                    a minha educação redundou-se em frustração
Será dos munícipes?                                                                                                     Não tive consideração, apesar da minha formação
Que não sabem gerir o seu lixo,                                                                                         Chamada superior, culpei a corrupção
deitando-o de qualquer maneira,                                                                                         Por isso para o mato parti
alegando que a gerência do lixo cabe ao município.                                                                      isolado vivo, a miséria curiosamente suporto,
                                                                                                                        pois eu ainda não morri…
de quem é a culpa?
Eu, não sei.
Só sei que nós gabamo-nos porque vivemos na cidade.
                                                           textos do Grupo - Canto da Poesia do facebooK. recolha de raffa inguane.
10   BLA BLA BLA   Exero 01, 5555
 Terça-feira, 27 de Setembro de 2011                                              https://literatas.blogs.sapo.mz                                                         10

                   Noites d ´Álma                                           Em outras paLavras
          https://noitesdalma.blogspot.com
                                                                            RESULTADO DO IV CONCURSO “Sport
                                                                            Club Internacional” de Contos,
                                                                            Crônicas, Poesias e Histórias do Inter.
Carta de Mbie à Nikotile
                                                                             VENCEDORES: POESIA
                                                                            1º LugAr - João Justiniano, com a poesia: tarde triste - troféu
                                                                            2º LugAr - Nelsi inês urnau, com a poesia: Entardecer - Medalha
 XIguIANA DA Luz                                                            3º LugAr - José Nedel, com a poesia: Conflito distributivo - Medalha
                                                                            4º LugAr - Mário luís Souza terres, com a poesia: definição - Menção Honrosa

Homens desta terra,                                                          VENCEDORES: CONTOS
Chamaram-me para educar seus ouvidos,
Surdos e mudos,                                                             1º LugAr - Sonia mª d. athayde, com o conto: Muito além do olhar - troféu
Cegos e cheios de vozes que não deixam nenhum dizer,                        2º LugAr - adilar Signori, com o conto: a roupa Nº 3 - Medalha
Dizem que és tu a culpada meu amor, mas sei que não.                        3º LugAr – antonio augusto Bandeira, com o conto: o infinito - Medalha
Encheram-te de desilusões na cabeça. Na cabeça sim eu sei, porque na        4º LugAr - Edson Xavier de Castro, com: Palavras trocadas - Menção Honrosa
alma vice me trancou e não deixa ninguém entrar.
Pediram-te sexo, entre a vagina, os seios e lábios amelados, a sua           VENCEDORES: CRÔNICAS
beleza informal, eles levaram tudo isso.
Eu sei Kotile.                                                              1º LugAr-péroLA Bensabath oiy, com a Crônica: torcedor ou Macho Profano? -troféu
Sei também que você não é deles!                                            2º LugAr Sonia athayde, No Principio,Era a Cor. - Medalha
Ofereceste-os amizade e amor,                                               3º LugAr – adilar Signori, com a Crônica: o retrato dos Meus Pais - Medalha
Provando a sua lealdade aos vagineiros deste mundo selvagem.                4º LugAr – alcione Sortica, com a Crônica: o jovem que chora - Menção Honrosa
Mundo que não sabe amar. Mundo com homens que sem piedade
vão fazendo dos seus nesse teu coraçãozinho pequenito. Cheio de               VENCEDORES: HISTÓRIAS DO INTER
pequeneza e pureza.
Eu sabia que é isso mesmo Maputo…que é assim mesmo Ka Mpfumo                1º LugAr - Edson Xavier de Castro, com vermelho inter-troféu
dele.                                                                       2º LugAr - Márcio Mór Giongo, com Mar vermelho - Medalha
Sabia também que te entregarias demasiadamente à esses nholwenes,           3º LugAr-JúLio Mafra, com o Primeiro Jogo - Medalha
viventes desse mundo que não lhes pertence.                                 4º LugAr - Mario l. S. terres, com Colorado o Clube do Povo - Menção Honrosa
Disseram-me em jeito de gozo que venceriam esta luta em que senti-me
sozinho, a combater leões, tigres e leopardos famintos, dependentes da       MEDALHAS DE MéRITO CuLTuRAL POéTICO PARA:
caça. Caça aos mais sensíveis.
E sempre soube das intenções desses recuados do tempo. Mutantes
destes dias. Predadores sem objectivo, que na verdade são extermina-        vALdir Luiz Scariot em Histórias do inter: com a tobata Pioneira.
dores de virgens deste Nkomane, até do Deus mi livre que Deus há-de         emANueLLe BueNo, com a Crônica: olhar Colorado.
levar pelas maldades.                                                       mArceLo ALLgAyer Canto, com o poema: inútil transigência,
Virgens que seriam escolhidas de Cristo para o reino das bruxas e as        vALter morigi, com o poema: internacional.
mãos doutras donzelas que desta vida passaram.                              viviANe BALAu, com o poema: internacional.
Sabia Kotile…eu sabia tudo.                                                 iArA irigArAy, com o poema: Música.
Sabia que levariam-te para lá depois de revelarem-se falsosamente,
seus amantes e apaixonados, fiéis e venerandos.
Na verdade não prestam. São das impurezas…
São palavras atormentadoras e sem espírito que ti seduzirão a tombar        reALizAção e Coordenação: Cesardo vignochi Presidente, lúcio ignácio regner
no palácio da morte.                                                        vice-presideNte, mAriNês Bonacina diretora Cultural,
Ha! Nikotile, quem diria va hetile…são os mufanas de uma cidade
grande e cheia de maldições. Maldições que agora você também tem!                          porto ALegre, setembro de 2011.
Hoje os espíritos vigam-se das suas decisões de ir a capital, cobrindo-se
de sacos, movendo-se à fome e esfregando-se aos homens machos que           reALizAção: cApoLAt - Casa do Poeta latino-americano e departamento Cultural da fECi/iNtEr.
agressivamente ti fazem.
Esperava ti amar e ter-te um dia…mas o que poço fazer depois de
tantos que com metical fizeram tudo?


                           Seu eu   Mbié
Revista Literária Moçambicana Relança Obra de Noémia de Sousa

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Revista Literária Moçambicana Relança Obra de Noémia de Sousa

  • 1. Literatas Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigo Literatas agora é no SAPO Sai às Terças-feiras literatas.blogs.sapo.mz Encontre-nos no facebook Literatas Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona Director editorial: Eduardo Quive * Maputo * 27 de Setembro de 2011 * Ano 01 * Nº 11 * E-Mail: kuphaluxa@sapo.mz Paixão Pela escrita Relançando Noémia de Sousa “Sangue Negro” Pág. 2
  • 2. 2 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 2 Em primEira “Sangue Negro” Ilustre obra da autora moçambicana Noémia de Sousa O PAíS - MAPuTO um homem de ontem mas não me neguem um lugar de repouso nos céus do vosso Hoje” meio de modificar as estruturas sociais que assolam a terra Na data em que a poetisa completaria 85 anos, 20 de moçambicana. Setembro de 2011, a Marimbique reeditou “Sangue Negro” Biografia de Noémia de Sousa e proporciona-nos uma leve camin- sempre, e desde muito cedo, pretendeu que o seu povo hada pelos corredores do tempo, ou melhor, da história, avançasse uno, em colectivo, em direcção a um futuro que da revolta e da emoção. alterasse os eixos em que se fundamentava a atitude do homem, mas sem nunca fazer a apologia da desumaniza- “NoSSa voz ergue-se consciente e bárbara/ Sobre o branco ção. afirma-se, acima de tudo, africana e aposta fortemente egoísmo dos homens/ Sobre a indiferença assassina de na divulgação dos valores culturais moçambicanos. todos”. Noémia de Sousa não poderia ter um interessante NoémiA de Sousa poema para dedicar a José Craveirinha, seu velho compan- escritorA moçAmBicANA, Carolina Noémia abranches de As propostAs essenciais da sua expressão literária vão do heiro dos piqueniques que traçavam as linhas nacionalistas Sousa Soares nasceu a 20 de Setembro de 1926, em lou- desencanto quotidiano, de uma certa amargura, de uma na última metade da década de 1950. renço Marques (hoje Maputo), Moçambique. o seu trabalho certa raiva, até ao grito dorido, até ao orgulho racial, até ao poético continua por publicar em livro. Poetiza que, numa protesto altivo que contém a pulsão danada contra cinco espécie de postura predestinada, desembaraçando-se das séculos de humilhação. O poema “Nossa Voz”, que abre o livro “Sangue Negro”, lançado ontem em Maputo, na sua segunda edição – desta vez pela Marimbique – prepara-nos para um regresso à história, mas sem abandonar as fundamentais normas tradicionais europeias, de 1949 a 1952 escreve e humanas bases de actualidade dezenas de poemas, estando muitos deles dispersos pela a grande base do texto de Noémia de Sousa está centrada imprensa moçambicana e estrangeira. na eterna dicotomia “nós/outros” - “nós”, os perfeitamente que sempre compuseram Noémia africanos; os “outros”, as gentes estranhas, os que chegaram com ApeNAs 22 anos de idade, surge na senda literária a África, os colonizadores. assim, estes são, sem dúvida, de Sousa. Nelson Saúte, que assina moçambicana num impulso encantatório, gritando o seu os dois grandes temas da poesia de Noémia de Sousa: se verbo impetuoso, objectivo e generoso, vincado (bem fundo) por um lado temos a contínua denúncia da total incom- o prefácio do livro, nunca escondeu na alma do seu povo, da sua cultura, da sua consciência preensão por parte do colonizador, que apenas capta a social, revelando um talento invulgar e uma coragem impres- superficialidade dos rituais, não compreendendo o âmago esse profundo sentimento pela sionante. de África, demonstrando, desta forma, uma visão plena- mente distorcida, por outro lado lança-nos em poemas de senhora que uma vez inspirada pelo mestiçA, reveLA ser marcada por uma profunda experiência, elogio aberto à raça negra, gritando bem alto e de forma em grande parte por via dessa mesma circunstância de ser plenamente perceptível que a presença do colonizador spiritual ongs dos negros da América mestiça. em África é sinónimo de força que apenas veio denegrir a imagem daquela terra. brandaria em versos “deixem passar A suA poesia, desde logo, se mostrou “cheia” da “certeza radiosa” de uma esperança, a esperança dos humilhados, NoémiA de Sousa fala do orgulho de pertencer a África por meu povo”... Escrevíamos que que é sempre a da sua libertação. parte dos africanos. E por esse mesmo motivo vem afirmar que terão obrigatoriamente de ser os filhos a cantar essa Nelson Saúte nos prepara para esse todA A sua produção é marcada pela presença constante sua mãe-terra (que tanto amam e sentem) - e cantar África das raízes profundamente africanas, abrindo os caminhos tinha forçosamente que ser entendido por oposição à regresso ao tempo que de que falá- da exaltação da Mãe-África, da glorificação dos valores afri- maneira de cantar do colonizador. canos, do protesto e da denúncia. vamos. Primeiro, ele assume-o ao Nos seus poemas, o “eu” de Noémia de Sousa é entendido poesiA de forte impacto social, acusatória, a sua linguagem como um “colectivo”, um povo inteiro que quer ter palavra postar a começar um conselho de recorre estilisticamente à ressonância verbal, ao encadea- - o povo moçambicano. desta forma, a poetiza assume-se mento de significantes sonoros ásperos, à utilização de pala- como porta-voz daquele povo que é o seu e, dirigindo-se à José Craveirinha. vras que transportam o “grito inchado” de esperança. terra-mãe que os acolhe e protege, ora canta a sua vida, ora lhe pede perdão pela alienação demonstrada ao longo de “NElSoN: ProCura ser um fiel servo da memória de todos NoémiA de Sousa, como autêntica pioneira da literatura tanto tempo, ora (mesmo) lhe promete a rápida e definitiva os tempos para que a tua voz se faça ouvir no teu tempo. Moçambicana (como assim sempre foi considerada) pre- devolução do seu direito a uma vida própria, autêntica. E escuta com atenção o que te dizem as vozes de outras coniza - no seu percurso literário - a revolução como único bocas, de outros mensageiros e as melodias de outras ApesAr de breve, porém prolífera, passagem de Noémia xipendonas. Então sentirás sobre os ombros o peso – o de Sousa pelo panorama da literatura moçambicana, a verdadeiro peso – de um genuíno legado, o legado do qualidade dos seus textos não deixou, jamais, de ser recon- teu amanhã em que dirás com toda a humildade: ‘Sou hecida e admirada.
  • 3. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 3 Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 3 Em primEira Carlos Santos lança “Pastor de ondas” Carlos dos Santos entrou para as profundezas de uma sociedade e deixou funcionar a sua imaginação entre a realidade e a ficção. “O Pastor de Ondas” mostra essa falta de limites entre esses dois espaços. O PAíS - MAPuTO Mas, primeiro era preciso perceber se os homens acreditam caracterizar a forma como o personagem se faz a esse realmente se local - Curvei-me até quase cair para a frente e entrei, a podem voar. custo, quase que gatinhando, como se estivesse a fazer uma vénia, em acto da mais profunda sujeição. a entrada “o ESCorPião é tão rebaixada que quando acabei de entrar... dei comigo está agora a sentado no chão”. andar em minha direcção. Quero É uM encontro com seres de um outro espaço. É uma ida fugir dele, mas incompreensível a uma agência de viagem que nos leva estou sem forças. para todos os lados, até aos inesperados. Esgotado. deve ser por causa “E dali partiam para onde bem lhes apetecia. uns iam das vertigens do dali encontrarem-se com os seus defuntos, falando-lhes voo. afinal, voar aos espíritos nas mais íntimas línguas. outros, a partir é muito cansa- dali encontravam-se com o próprio deus em pess... em tivo para quem, espírito. outros iam ter com extraterrestres das mais dis- como eu, não paras localizações celestiais.” nasceu ave.” E S ta Co N - Na vErdadE, Carlos dos Santos é que nos leva em difer- Statação do entes viagens como se ele próprio fosse a agência pela narrador/per- forma simples com que escreve e pelos diferentes temas sonagem surge que recolhe para este “o Pastor de ondes.” Nós, prop- na sua visita ositadamente, apegamo-nos no ângulo desse estranho ao curandeiro curandeiro. Mas podíamos ir muito para além desse ponto onde se desco- e despertarmos a falarmos de um universo que o autor bre a voar com pretende nos oferecer. Ele o faz com simplicidade, como auxílio de uma quem nos conta a história com todo o seu entusiasmo, águia e depois é como quem quer passar para os que o ouvem. atacado por um escorpião. aqui surgem FOTO: O PAíS E SAPO Mz as contradições propositadas do autor ou o baralho próprio de um personagem como o dele, que se encon- tra num espaço sem perceber o que está a acontecer. É dEPoiS dE “Quinta dimensão”, o livro em prosa de Carlos como dormir na rua e acordar na cama do rei e depois dos Santos, a alcance Editores prepara-se para lançar “o procurar uma explicação. “o Pastor de ondas” deixa-nos pastor de ondas”. Embora coloca um paralelismo entre nessa situação controversa principalmente quando nos as duas obras – uma espécie de “continuidade” – em “o caracteriza um escorpião com lâminas para riscar “onzes” Pastor de ondas” Carlos dos Santos transfigura-se, faz uma no corpo de quem visita um curandeiro. profunda penetração à “ficção científica” e expõe as suas a HiStória, em si, começa meio a medo, sem nos dar crenças. campo para percebermos se entramos para um espaço Por falarMoS em “crenças”, dos Santos parece brincar pela livre vontade ou por falta de opção. com elas. ou melhor, parece confundir o leitor se o que “rESvalEi-ME a medo para o interior da palhota cilín- escreve é simplesmente um alinhamento do narrador - que drica de caniço, coberta com capim seco” – começa é participante – ou o autor também se identifica com elas. o livro dando-nos a imagem do espaço para depois Jornalismo e Línguas - o evento é organizado no âmbito das celeb- rações de mais um aniversário da rádio que se assinala no dia sua criação, 2 de outubro. a ter lugar nesta quarta e quinta-feira em Maputo, o encontro vai juntar académicos, especialistas da África do Sul, tanzânia, inglaterra, Cabo verde e angola. Serão debatidos temas relacionados com a radiodifusão e linguística, com destaque para as línguas moçambicanas, assim com as experiências dos países convidados no que con- cerne a uso das línguas nacionais nos meios de comunicação social. durante as vii Jornadas de radiodifusão e lin- guística será lançado o livro Serviço Público de radiodifusão: desafios do Presente e do futuro, composto por comunicações das jornadas ante- riores. recordar que as vii jornadas foram antecedi- das de debates organizados mensalmente pelo núcleo de línguas da rádio Moçambique
  • 4. 4 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 LITERATuRA MOÇAMBICANA 4 Noémia de Sousa escritorA moçAmBicANA, Carolina Noémia abranches de Sousa Soares nasceu a 20 de Setembro de 1926, em aposta fortemente na divulgação dos valores culturais moçambicanos. lourenço Marques (hoje Maputo), Moçambique. o seu As propostAs essenciais da sua expressão literária vão trabalho poético continua por publicar em livro. Poetiza do desencanto quotidiano, de uma certa amargura, que, numa espécie de postura predestinada, desemba- de uma certa raiva, até ao grito dorido, até ao orgul- raçando-se das normas tradicionais europeias, de 1949 a ho racial, até ao protesto altivo que contém a pulsão 1952 escreve dezenas de poemas, estando muitos deles danada contra cinco séculos de humilhação. dispersos pela imprensa moçambicana e estrangeira. a grande base do texto de Noémia de Sousa está cen- com ApeNAs 22 anos de idade, surge na senda literária trada na eterna dicotomia “nós/outros” - “nós”, os per- moçambicana num impulso encantatório, gritando o seu verbo impetuoso, objectivo e generoso, vincado feitamente africanos; os “outros”, as gentes estranhas, os que chegaram a África, os colonizadores. assim, estes Nossa Voz (bem fundo) na alma do seu povo, da sua cultura, da sua são, sem dúvida, os dois grandes temas da poesia de consciência social, revelando um talento invulgar e uma Noémia de Sousa: se por um lado temos a contínua coragem impressionante. mestiçA, reveLA ser marcada por uma profunda experiên- denúncia da total incompreensão por parte do coloniza- dor, que apenas capta a superficialidade dos rituais, não NOéMIA DE SOuSA cia, em grande parte por via dessa mesma circunstância de compreendendo o âmago de África, demonstrando, ao J. Craveirinha ser mestiça. a sua poesia, desde logo, se mostrou “cheia” desta forma, uma visão plenamente distorcida, por da “certeza radiosa” de uma esperança, a esperança dos outro lado lança-nos em poemas de elogio aberto à Nossa voz ergueu-se consciente e bárbara humilhados, que é sempre a da sua libertação. raça negra, gritando bem alto e de forma plenamente sobre o branco egoísmo dos homens todA A sua produção é marcada pela presença constante perceptível que a presença do colonizador em África é sobre a indiferença assassina de todos. das raízes profundamente africanas, abrindo os caminhos sinónimo de força que apenas veio denegrir a imagem Nossa voz molhada das cacimbadas do sertão da exaltação da Mãe-África, da glorificação dos valores daquela terra. nossa voz ardente como o sol das malangas africanos, do protesto e da denúncia. NoémiA de Sousa fala do orgulho de pertencer a África nossa voz atabaque chamando poesiA de forte impacto social, acusatória, a sua lingua- por parte dos africanos. E por esse mesmo motivo vem nossa voz lança de Maguiguana gem recorre estilisticamente à ressonância verbal, ao afirmar que terão obrigatoriamente de ser os filhos a nossa voz, irmão, encadeamento de significantes sonoros ásperos, à uti- cantar essa sua mãe-terra (que tanto amam e sentem) - e nossa voz trespassou a atmosfera conformista da cidade lização de palavras que transportam o “grito inchado” de cantar África tinha forçosamente que ser entendido por e revolucionou-a esperança. oposição à maneira de cantar do colonizador. arrastou-a como um ciclone de conhecimento. NoémiA de Sousa, como autêntica pioneira da literatura Nos seus poemas, o “eu” de Noémia de Sousa é enten- Moçambicana (como assim sempre foi considerada) pre- dido como um “colectivo”, um povo inteiro que quer ter E acordou remorsos de olhos amarelos de hiena coniza - no seu percurso literário - a revolução como único palavra - o povo moçambicano. desta forma, a poetiza e fez escorrer suores frios de condenados meio de modificar as estruturas sociais que assolam a terra assume-se como porta-voz daquele povo que é o seu e acendeu luzes de esperança em almas sombrias de deses- moçambicana. e, dirigindo-se à terra-mãe que os acolhe e protege, ora perados... sempre, e desde muito cedo, pretendeu que o seu povo canta a sua vida, ora lhe pede perdão pela alienação avançasse uno, em colectivo, em direcção a um futuro demonstrada ao longo de tanto tempo, ora (mesmo) lhe Nossa voz, irmão! que alterasse os eixos em que se fundamentava a ati- promete a rápida e definitiva devolução do seu direito nossa voz atabaque chamando. tude do homem, mas sem nunca fazer a apologia da a uma vida própria, autêntica. desumanização. afirma-se, acima de tudo, africana e ApesAr de breve, porém prolífera, passagem de Noémia Nossa voz lua cheia em noite escura de desesperança de Sousa pelo panorama da literatura moçambicana, nossa voz farol em mar de tempestade Justificação a qualidade dos seus textos não deixou, jamais, de ser reconhecida e admirada nossa voz limando grades, grades seculares nossa voz, irmão! nossa voz milhares, nossa voz milhões de vozes clamando! NOéMIA DE SOuSA se o nosso canto negro é simultaneamente A MuLHER QuE RI À Nossa voz gemendo, sacudindo sacas imundas, VIDA E À MORTE BAço e ameaçador como o mar nossa voz gorda de miséria, em Noites de calmaria; nossa voz arrastando grilhetas se A nossa voz é rouca e agreste nossa voz nostálgica de ímpis só se abrindo em gritos de rebeldia; nossa voz África se é ao mesmo tempo amarga e doce a nossa poesia nossa voz cansada da masturbação dos batuques da guerra como suco de nhantsumas silvestres; nossa voz gritando, gritando, gritando! se é encovado e profundo o nosso olhar Nossa voz que descobriu até ao fundo, rAsgANdo-se impávido à luz do dia; lá onde coaxam as rãs, se são disformes e gretados nossos pés espalmados NOéMIA DE SOuSA a amargura imensa, inexprimível, enorme como o mundo, de triLHAr caminhos ingratos; da simples palavra ESCravidão: se A nossa alma se fechou para a alegria Para lá daquela curva e só dá hospedagem ao ódio e à revolta os espíritos ancestrais me esperam. Nossa voz gritando sem cessar, - Não nos culpes a nós, irmão vindo das ruas da cidade. nossa voz apontando caminhos Breve, muito breve nossa voz xipalapala Que eNtre nós e o sol se interpuseram tomarei o meu lugar entre os antepassados nossa voz atabaque chamando grAdes FeiAs de escravidão, nossa voz, irmão! grAdes NegrAs e cerradas a impedir-nos de tostar À terra deixarei os despojos do meu corpo inútil nossa voz milhões de vozes clamando, clamando, clamando. de verdAdeirA felicidade, as unhas córneas de todos os labores este invólucro sulcado pela aranha dos dias mAs Ai, irmão vindo das ruas da cidade! Nosso Firme sentido de justiça, nossa indómita vontade a Enquanto não falo com a voz do nyanga nascer cada aurora é uma vitória NossA misériA comum vestida de sacas rotas e imundas, saúdo-a com o riso irreverente do meu secreto triunfo NossA própriA escravidão serão o calor e o maçarico que fundirão oyo, oyo, vida! pArA sempre as grossas colunas que nos zebravam a vida Para lá daquela curva inteira os espíritos ancestrais me esperam e LHe arrancaram todo o jeito doce e inexprimível de vida. FicHA técNicA Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 * Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: kuphaluxa@sapo.mz Director Editorial: Eduardo Quive (eduardoquive@gmail.com) Coordenador: Amosse Mucavele (amosse1987@yahoo.com.br) Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane (inguane.rafael@hotmail.com) Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane. Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza* Brasil:Balneário Camboriú - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas. Design e páginação: Eduardo Quive
  • 5. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 5 Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 CRÓNICA / CONTO 5 FiLosoFonias rapsódicas A morte do sexo e o nascimento do MARCELO SORIANO - BRASIL amor m.m.soriano@gmail. com NELSON LINEu - MAPuTO Nota preliminar: Antes de prosseguir - amor! - Não me chame assim, nesse mato já não com este artigo, tem Coelho- victor respondeu a esposa. lembro ao leitor - Não podemos desistir o último a desistir vence- voltou a atacar a Madalena. que me dirijo à - Madalena não achas que nosso amor já está enrugado? - Eu acho que você está com preguiça de amar, esforce-se isso não pode acabar, poderia aceitar CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), mesmo que seja difícil, mas isso depois de um de nós morrer. portanto, podemos encontrar gerúndios, futuros do o victor foi dizendo que todos os dias se esforçava para tudo voltar ao normal, passaram-se três pretérito, expressões etnocêntricas, familiares a certos anos que não sentia aquele frio que só ela matava, o peito já não sentia necessidade de ter a cabeça leitores, porém, inusitadas a outros. Oxalá, que esta dela semeada, as pernas dela não convidavam os seus olhos quanto mais olhava indesejável ficava. a mulher chamava-lhe de aquiles porque calcanhar dela era o ponto dele mais fraco, o traseiro peculiaridade não seja pretexto para correções, mas dela não mexia ao mesmo rítmo do bater do seu coração como antes, o umbigo dela passou a ser a parte do corpo que ele menos queria ver, outrora ele não podiam camar sem olhar, era para para integrações e enriquecimentos léxicos e culturais confirmar se estava mesmo com a mulher, porque ele era fielíssimo. ao lado dela sentia-se só hoje entre nós. Marcelo Soriano. Santa Maria - RS - BR. ela era a razão da sua inexistência, aquela saia preferida dele passou a ser injusta. a Madalena achava que o amor deles acabou prazo. E devia ser por les casarem-se por desinteresse 14/07/2011. outros casam por dinheiro, riqueza ,ostentação, exibicionismo e até por amor e não era esse o caso deles. Já não sentia vontade de arranhar as costas dele, a mão dele já não lhe criava arrepios, nem depois de abraçados sentia aquela quentura entre as pernas, ver-lhe descamisado era como ver um tronco [LetrAs Ao veNto] , as veias do braço dele não corriam aquela sangue de leão que lha faziam ser domador, os pêlos do peito não passavam de um capim seco, até passou a gostar de lhe ver grosso, porque quando chega-se casa ia direito a cama, era melhor com ele na cama a dormir duque acordado a repararem- Escreveu letras no papel. Levantou o papel na altura dos olhos. E se um ao outro como Coelho e a cobra sem ninguém piscar o olho. soprou contra a janela. As letras são insetos que voam em busca fez nascer uma boa disposição, segundo o que ela aprendera as mulheres é que salvavam o de sol. casamento e os relacionamento só terminavam por incompetência delas, pediu ao meio marido era assim que ela o chamava ultimamente, para falar-lhe na orelha aquelas palavras que ele inventou mas foi ela que deu o aval para ser usada. isso nunca tentaram quem sabe daria certo. - Quais? Eu até me esquece que falava nas tuas orelhas. [ALmA é pANdorgA] E ela ordenou para ele procurar se lembrar porque ela também tinha se esquecido. Quem sabe aí voltariam a ser homem e mulher. os filhos nem ninguém sabia o que não estava a acontecer, na cama eram como as madeiras que a constituiam ou lençol que não podiam usar. Quanto mais tempo estivessem longe um do outro sentiam-se bem como antes quando estavam Ao contrário do que imaginam os desalmados, a alma não dorme juntos , tinham que ter algo a fazer para não ficarem a pensar no outro. No Segundo ano daquele insólito a Madalena decidiu trabalhar, daí o querer arranjar empregado oculta no lado de dentro, ela paira muito alto, do lado de fora, como doméstico para cuidar da casa e dos filhos. antes até poderia haver discução porque na zona norte uma pandorga que acena colorido ao olhar inquieto do Menino Deus. do país que era da Madalena trabalhavam homens e do victor no Sul trabalhavam mulheres nessa profissão. unanimente chegaram a conclusão que tinha que ser uma mulher. Pós o seu lado feminino ia de acordo com o que se pretendia na casa e havia coisas que ela podia fazer por ter nascido com ela e um homem teria que aprender. [trAtAdo de poemA] Na segunda semana o victor voltou cansado do serviço não estava a sentir-se bem e deu-se de cara com a empregada que estava limpar o quarto. a má disposição se foi , transpirava em toda A poesia vem assim: desescrita... Para que a desapaguem... parte do corpo, revelava-se o homem que estava dentro dele. Pegou nela agressivamente, sem lhe dar tempo para um grito, babava nos lençóis . voltou ao mundo selvagem, domou-lhe, horas iam passando com mais vontade ia ficando e não saia o líquido que até então era desperdícios. As cores primárias de um poema são Leste, Oeste, Norte e Sul. a mulher chegou e assistiu sentada e não fizera nada, depois de cinco horas ele caiu no chão como Os pontos cardeais de um poema: Amarelo, Ciano e Magenta. um tronco, pedia água, a mulher concedeu o pedido mesmo depois de ver tudo aquilo acontecer na sua própria cama. As operações básicas da matemática do poema: Sólido, Líquido, Gasoso a empregada foi ajoelhando e pedindo desculpas contou como aconteceu . a Margarida mesmo e Etéreo. com aquela dor entre inveja e ciúme pagou dois meses adiantado e a empregada se foi da casa. Os quatro estados da matéria do poema: soma, subtração, divisão e Ela questionava-se se o marido ja não vem fazendo isso por aí fora. vestiu-se de preto e sentou-se multiplicação. na sala com os seus três filhos onde iam brincando. o victor estava até então no quarto de um lado Mas eu diria que o poema só aceita quatro sexos: água, terra, fogo e triste por ter matado o seu juramento pessoal e feliz por ter voltado a ser homem. ar. Eles queriam ser um casal exemplar, disseram um ao outro que não podiam se divorciar ,queriam ser exemplo para sociedade e principalmente para os seus filhos, que casamento era para sempre e não só porque tinham um passado parecido , ambos viveram com madrasta ou padrasto. O vazio de quem poema (do verbo poemar) não é oco. a Madalena depois da separação dos seus país que por ser criança não soube o motivo, viveu com E tudo o que ciranda, ri-ri-rindo, em torno do próprio eixo é a mãe e um padrasto que lhe maltratava e via-lhe como empregada, foi impedida de estudar mas a mãe conseguiu com que ela mesmo com doze anos estudasse de noite. a mãe ajudava-lhe as versopião... E dá poema... vezes nas lágrimas. E não há nada mais íntimo, mais próximo, que um poema e seu poeta. Era dona de casa mas tinha que se submeter aos devaneios do marido porque ela via aquele Estão tão juntos, tão aglomerados, que ocupam o mesmo lugar no casamento como salvação, ficou muito tempo solteira vivia do que produzia na sua machamba uma parte era para casa e outra vendiam para matar outras necessidades. espaço. a boca pequena voavam relatos falsos dos homens que a desejavam e desconsiguiam levar-lhe a cama, porque ela queria casar e a maioria deles já eram casados. Mentiam que dormiam na casa dela. Quem iria casar com uma mulher que já passará nas mãos de quase todos? Nem com toda beleza dela seria humilhação demais. o padrasto era um comerciante, viajava dependendo da fertilidade e das necessidades de cada [coNtrA-ceNAs de umA Noite de meiA zona. daí que não teve tempo de ouvir o que se falava da mãe, e quando soube já estava rendido aos encantos dela. estAção] a mãe adoeceu ela estava sozinha a cuidou mas não foi suficiente morrerá nos seus braços. E chega o padrasto depois de uma semana carinhosamente a tratou, parecia outro homem, em menos de uma semana convenceu-lhe a vender a casa, porque lhe traria lembranças da mãe, era isso que É noite... E os pirilampos chuleiam o passo-a-passo acontecia ela não conseguia dormir. ao dormir a mãe sempre ia ao quarto dela para saber como estava e lhe cobria se não estivesse coberta. Era a essa hora que ela sempre acordava e punha-se a das horas. chorar lembrando-se dela. Nos jardins o descanso é santo. Partiu com o padrasto que prometeu, jurando que a cuidaria e pediu-lhe desculpas pelo que aconteceu antes e já mais voltaria a acontecer. - Vem ver! Vem ver, ó Cema! Olha um bico de lua arrumaram as malas e foram-se. Chegaram numa casa onde uns meninos vieram a correr e chamavam o padrasto de pai e um beijo de uma senhora que só se ela fosse cega não perceberia acesa. que se tratava da esposa dele, mãe daqueles meninos. A varanda é dos grilos... apresentou a Madalena como uma órfã, ele a levou para cuidar e ela ajudaria com o trabalho de casa e os meninos. a mulher orgulhosa pelo gesto do marido a recebeu e lhe mostrou onde tinha Pequena árvore... Cadeirinha de balançar noite que dormir e os restantes cantos da casa, onde ficava as roupas sujas para ela lavar, como tinha que se apresentar, tudo isso antes dela descansar e perceber o que era essa nova vida. ventada. o padrasto a deixou e viajou logo sem lhe despedir. Ela foi pensando quantas mulheres como sua O junco... No lago... Espeta o luar... mãe andavam por ai reféns. E indo na linha do que se tem dito: os homens são poucos e essa luta renhida visto que muitos perderam a vida na Guerra e outros vão homo-sexualizando- se. Aranhas velhas babam tricôs... Sempre triste e humilde ia fazendo o seu trabalho diário. ficou amiga dos meninos que a acarinhavam e escondiam aquela comida que era para os da mesa, traziam a noite no quarto dela. Paixão de lua é coisa de muro o padrasto vinha e voltava. Certo dia ela roubou dinheiro dele e fugiu nunca mais a viram
  • 6. 6 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 6 - discurso dirEcto Lurdes Breda: Apaixonada pelas palavras Lurdes Breda nasceu no concelho de Montemor- o-Velho, onde reside. Frequenta o curso de Línguas e Literaturas Modernas – Variante Estudos Portugueses, da universidade Aberta. Foi premiada em vários certames literários nacionais e internacionais. é autora de treze obras literárias: “O misterioso falcão de jalne”, “Asas de vento e sal”, “zuleida, a princesa moura”, “A outra face do luar”,“A Nuvenzinha Cor-de-Farinha”, “O Duende Barnabé e as Cores Mágicas”, “O Abade João”, “O Piolho zarolho e o Arco- íris da Amizade”, “O Alfabeto Trapalhão”, “Para ti, Pai”, “O Rap do Mar e outros contos da mesma ideia? O ser escritor compensa? E qual é o papel os Livros ocupam um papel de extrema importância do escritor? de rimar”, “O Duende Barnabé e o Jogo na minha vida e a leitura é fundamental para a minha evolução e realização, que pessoal quer profissional, peNso Que a literatura pode ter uma função social e catártica geométrico” e “Para ti, Mãe” e co-autora enquanto escritora. importantes. o escritor tem, por isso, um papel fundamental na sociedade. o carisma do escritor pode, inclusivamente, de outras sete (cinco das quais editadas O escritor peruano Mario Vargas Llosa certa vez disse o influir na forma como a sua obra é vista e até na generali- seguinte “a minha passagem pelo jornalismo foi fun- dade da literatura perante o leitor. Pode fazer a diferença no Brasil): “Contos com Vinho Madeira – damental como escritor”. Como porta-voz da sociedade na defesa de determinadas causas. Se o escritor ama a sua você percebe na literatura ou no jornalismo uma função arte, por mais provações que experimente, se consegue Cultura Madeirense na Forma Líquida”, definida ou mesmo prática? fazer passar, no todo ou em parte, a sua mensagem, então compensa ser escritor. “Folhas ao Vento”, “Casa lembrada, Casa A LiterAturA e o jornalismo, embora em paradigmas diferentes e cada qual utilizando metodologias próprias A língua une-nos, mas continuamos muito distantes uns Perdida”, “Rosa dos Ventos”, “Amo de Ti – podem, por vezes, complementar-se. dependendo do dos outros, em termos globais, qual é o estado clínico da género literário e da forma como é trabalhado o jor- literatura de expressão portuguesa? E o que a literatura Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua nalismo, pode existir, com certeza, uma função prática, do seu país recebe dos outros quadrantes lusófonos, con- sobretudo, neste último, uma vez que se deve pautar pela cretamente os africanos, refiro-me à literatura moçambi- Portuguesa”, “Prémio Alquimia das Letras” objectividade e rigor na informação. a literatura, no meu cana, angolana, guineense, cabo-verdiana etc.? ponto de vista, tem uma função mais estética e subjectiva, e “Prémio Valdeck Almeida de Jesus de embora mesmo através da literariedade se possa veicular peNso Que cada vez mais, possivelmente por influência da determinadas mensagens mais ou menos práticas. globalização e consequente inter e multiculturalidade entre Poesia – V Edição 2009”. Com o intuito de os países de língua Portuguesa, os autores africanos têm Quais são os autores imprescindíveis nas sua leituras um maior reconhecimento, neste caso, em Portugal. talvez promover a inclusão das pessoas portadoras como escritor e leitor e que nunca o abandonam? também pelo próprio “peso” que o escritor vai tendo no seu país de origem e que perpassa fronteiras. de deficiência na sociedade, participa em teNHo umA formação literária muito influenciada pelos autores clássicos portugueses, em especial os do século Se em Moçambique, Angola, Cabo-Verde, São-Tomé, projectos que englobam a literatura, a XiX: Eça de Queiroz, Júlio dinis e trindade Coelho. li ainda Timor Leste etc. o grande problema que cruza o caminho florbela Espanca, fernando Pessoa e os seus heterónimos, do escritor é encontrar uma editora onde possa publicar música e as artes de palco, em parceria Miguel torga e Sophia de Mello Breyner andersen. Na o seu trabalho, e em seguida alguém que compre e leia literatura estrangeira, destaco léon tolstói, alexandre a mesma, creio que em Portugal e no Brasil acontece o com a APPACDM – unidade Funcional de dumas, Gabriel García Márquez e Mia Couto. inverso. Ou seja, compreende-se que as possibilidades de publicação nesses dois países são bem maiores do que as Montemor-o-Velho. é, com frequência, Neste mundo cada vez mais globalizado, tão afeito ao nossas, não se corre o risco de se ter muita obra imatura imagético, com um nível elevado de analfabetismo e nas prateleiras. Qual a sua opinião sobre isso? convidada para actividades que visam a com uma diversidade cultural abrangente, o que te leva a dedicar à arte de escrever numa era onde ler um livro em portugAL, ao contrário do que possa pensar, não é assim promoção do livro e da leitura, junto das não é a palavra de ordem? tão fácil editar. Por outro lado, há expedientes e editoras que proliferam com a vontade do autor em editar. Muitas escolas. Colabora em jornais e revistas de soBretudo, A paixão das e pelas palavras… o acreditar vezes a obra não é criteriosamente avaliada ou clivada para que escrever e ler continuam a ser a base essencial para edição, o que significa a introdução no mercado de obras âmbito regional e nacional. a formação do ser humano. além disso, consequência paraliterárias a par com as obras literárias. da globalização e da evolução das novas tecnologias da informação e da comunicação, é possível aliar a escrita Que obra de um escritor de qualquer quadrante do mundo e a leitura a novas ferramentas como enriquecimento que os moçambicanos deviam ler urgentemente? E como Na infância, qual foi o seu primeiro contacto marcante e incentivo à sua (re)descoberta. um livro pode ser um formar leitores? com a escrita? alimento para a alma… Escrever é uma arte. uma arte Foi NA escola, com a descoberta dos diversos textos literári- que deve ser cultivada como uma flor delicada. Só assim peNso Que Mia Couto é uma excelente escolha e um escritor os e respectivos autores, assim como com a elaboração de poderá desabrochar na sua plenitude. que todos deveriam ler, independentemente da naciona- composições: a aprendizagem do uso e do poder da palavra lidade. E é um bom exemplo de que um autor africano é aliados à imaginação. O escritor angolano José Agualusa disse, certa vez, que reconhecido no exterior. Quanto a formar leitores, acho que “o escritor africano deve sair do gueto”, sendo o escritor se deve sempre passar a mensagem de que ler deve ser um Que espaço os livros ocupam no seu dia-a-dia? A leitura, a voz dos que não têm voz, a sua intervenção social não prazer, uma viagem a nós mesmos e a mundos de outra de alguma forma, influencia o seu trabalho e o seu quo- só deve cingir-se à escrita num país com baixos níveis de forma inacessíveis. deve alimentar-se a magia tidiano? leitura, o escritor deve se expor na sociedade, comunga
  • 7. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 7 Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz https://literatas.blogs.sapo.mz 7 LuRDES BREDA É um rosto de sorriso fácil. um sorriso nascido na sua própria simplicidade e no amor de todos aqueles que a rodeiam. um sorriso que brota da fertilidade da terra. um sorriso que irradia a luz do sol, que desabrocha no perfume das flores e se dispersa no abraço do vento até aos confins da fantasia… Considera-se um ser humano privilegiado pelo afecto que os outros lhe dedicam e pelo dom da escrita. do seio da Natureza flúi a inspiração, que dá vida às palavras, com que inunda a brancura do papel. a sensibilidade e a criatividade são instrumentos fundamentais, que utiliza na elaboração dos seus textos, recamando-os depois, com a multiplicidade dos sentimentos e das emoções experimentadas no quotidiano. Quando acredita que determinado percurso é o mais certo para os objectivos a que se propõe, é obstinada em segui-lo. Possui, todavia, uma enorme capacidade de improviso, face às adversidades inerentes a qualquer vivência. Se tivesse que apontar alguns dos seus defeitos, não hesitaria em dizer que é teimosa, demasiado perfeccionista e extremamente distraída. ironicamente, ou talvez não, muitas são as pessoas, que após lerem o que ela escreve, lhe dizem ser boa observadora. Pensa então, para consigo mesma, que o que tem é uma imaginação demasiado fértil… Extraído do blog da autora: http://lurdesbreda.wordpress.com
  • 8. 8 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 8 no rEcanto dE apoLo... Resultado 7 anos de sextas de poesia PEDRO Du BOIS - BRASIL os mesmos declamadores e seus próximos, mesmo assim sem Certos jogos gritam resultados MAuRO BRITO - MAPuTO deixar frustração por parte dos organizadores, tampouco dos É sempre dito por aí que a sexta-feira é dedicada fazedores de poesia. trancados em gargantas ao homem ou seja em palavras autênticas, é o dia de ressaltar que no início quem se encontrava em frente do do homem; mas a última sexta-feira do mês de projecto era o poeta nato amarildo, tempos depois por outros afogadas em líquidos Setembro, feliz ou infelizmente foi cem por cento motivos, teve de abandonar a missão de fazer acontecer a dedicada a poesia, somente a ela, literalmente sem poesia na sua forma mais expressiva; assumiu assim o leme o concorrentes. um dia com indiferente frio, a litera- fotojornalista Juma Kapela, mais conhecido por feling Kapela, tas não se fez rogado, estava lá, quase rebentando que com toda sua força segurou-o, escrevendo assim novos reaparecem em esbirros pelas costuras do espaço do café Kultur do iCMa caminhos da poesia, como poeta bélico, assim e conhecido. Mas os tempos mudaram, as escritas amadureceram, os espirros poetas cresceram, a poesia conquistou o seu espaço na mente dos jovens de Moçambique, levando mais adeptos no acordo para o seu elenco, é evidente hoje o seu poder e afirmação no terreno da cultura moçambicana, sendo um instrumen- desacordado em regras: to de intervenção social, de elevação do espírito humano, e exaltação de outros valores. temos como exemplo de alguns que deram a cara as noites de poesia durante os nos que passaram: Professor orlando, Mia Couto, domi ao vencedor Chirongo, Clemente Bata, Jonasse, lucílio Manjate, mano azagaia, Shakal, tira teimas, Jaime Santos, ungulani Ba Ka cabe o barulho Khossa, Nataniel Ngomane, Pedro Muimabo, Kululeko, e muito mais figuras de vários sectores da sociedade. Sete infernal do nada anos a fazer poesia e declamar significa muita aprendiza- gem, companhia, humanismo, amor, troca de experiência, quantificado no instante. irmandade, significa acima de tudo obter uma nova visão – como habitual mensalmente. que nos permite compreender os prós e contras da sociedade, depois de se ter verificado uma paragem por enfrentando novos desafios. dois meses, por motivos alheios à vontade dos Nesta noite que assinala o sétimo aniversário do grupo Pela depois a vida segue o trajeto poetas, mas graças aos mesmos e os demais, a arte d’alma, foram cabeças de cartaz: Simba- poeta, Pedro Mui- sessão de poesia voltou com a carga fortíssima. ambo - stand up Comedy, Catarina & lorena Gonzaga - violino previamente decorado: ao vencedor Mais de uma razão para juntar no mesmo espaço, e open Mic: 10 poetas em slide e feira do livro e artesanato. apesar de ser dedicado a poesia, artes como a Numa autêntica miscelânea entre almas de diferentes cores, resta a tênue lembrança música, a dança, o stand up comedy, o futebol, a poetas da frança, Haiti e alemanha, depois do espaço ter sido escrita, etc, todas as artes conjuntas, no intuito de purificado pelo som dos violinos, em dose única, ouviu-se do que esquece. resumir tudo em forma de poesia. também poemas e língua changana, Sena e portuguesa, com diria que colheu mais uma rosa no jardim da vida, a presença de poetas d’alma como anabela Jaime, Polinésio, mas tratando-se de um grupo que faz poesia e King e Sérgio, o Movimento literário Kuphaluxa também fez-se declama, como lhe poderíamos felicitar? diríamos que o grupo Pela arte d’alma deu mais um passo presente, representado pelos declamadores francisco Junior & izidine Jaime, os pedaços de poema em língua inglesa na voz Africanizado ao assinalar sete longos e duradoiros anos a orga- de Simba; a comédia veio para aflorar os ânimos, duma forma nizar as noites poesia e a recitar os mesmos, desde diferente, tocando cada espectador que ali se encontrava. ARSéNIO IMPISSA - LICHINgA a primeiríssima noite, onde o número de aderentes o regresso do poeta bélico amarildo a fechar a noite, de era quase ínfimo, sendo que constituíam plateia forma mais natural que podia nos ter concebido ao sabor do Sou homem África dentro bolo que foi confeccionado para simbolizar a data tão especial a onde a minha realidade sou. la fora sou nomes que dizem, mon- Sobreviver, reviver! stro… EDuARDO TOCOLOuA - LICHINgA Poetas Em cada cantinho por onde vou. NONIA ISSAC – TETE Quem sou homem preto revanche no sussuro, Veremos Que na presença da sombra de deus Sou um simples esqueleto Connosco poesia, Que representa os ateus!!? dando a vida no duro, vigilantes do nosso amor. JAPONE ARIJuANE - MAPuTO ai de mim na minha sina Pelo povo eu juro, Censurados como não Que crente sou belzebu aqui estamos, formas absolutas E o verdadeiro é obra divina Por um dia tao puro! resistimos, por aquilo que amamos. formar desinformados Na minha cor de diabo dizia Kankhomba, Peregrinando hostilidades históricas Serenos, murmuramos: Contemplando o futuro que passa Não choro aqui o meu realismo Embriao de Messumba, dizer, fazer e Sentir a literatura Na ingratidão do tempo Mas sim o vosso egoísmo “o racismo”. Navegamos nela a dignidade do presente que não se vê Mãe Niasse do sertao do lago Niassa, a poesia andorinha-mos em lindas teorias Nosso amante. Serpenteantes em práticas hostis Por onde a espada perpassa. Queremos ser aquele que passa ranger de dentes, Serenamente palavreamos Estacionados no tempo HuMBERTO RODRIguES -LICHINgA inesperadamente esculpimos palavras Barrigas cheias da fome que engolimos Por entre as gentes, Essa é a nossa arte Para não morrer dela oh mãe Niassa o teu agasalho fica o recado, aqui é Maningue Nice! Sentimulos longe de ser pecado, Não passamos dificuldades oh mãe Niassa LuA E ALMA vivemo-las. Pulando o cercado o que fazemos as tuas aguas nascentes o meu mundo acontece Nem melhor nem pior. Que lubrificam as montanhas Para o outro lado do cenado. no mais minúsculo cílio Não fazemos! Escorem nas nossas mentes do tempo... o que somos oh mãe Niassa. alguém quis que fossemos E devora-me a certeza Não nós! Procurada pelos estrangeiros de reencontrar-me amarados onde não podemos comer Contada outrem diante do espelho: oh mãe Niassa ahhh esbeltas asas Pobre de nós. inchadas de vida Niassa nossa mãe de belas rosas e aromas beijando o vento em passagem!
  • 9. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 9 Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 9 canto da poEsia - FacEbook Última vontade A manhã pálida Poema da morte VICENTE SITOE HuDSON gwAMBE Sinto vontade... raffael inguane de deitar-me em cima Naquela manhã pálida ... desta cama deslizava sob o asfalto da cidade das acácias a morte morreu mortalmente morrida, apadrinhado estava de um frio que congelava os meus mar- Cabeça para cima fins Barriga ao ar Matando mortos mortais, Naquela manhã pálida expirei o Co2 pálido, naquela manhã Cruzar os braços no peito respirei cacimba Cruzar as pernas Matadores mortíferos da mortalidade e martandade morta. a minha boca parecia um chaminé de tanto respirar o Co2, sobre este leito fiquei amarrotado com frio... fechar os olhos um morticínio mortiço em morraria Pensar... E naquela manhã pálida vi o Chiquito deitado ao lado de uma imaginar... Mortificação do moribundo mortificativo lareira de papelão, bem enrolado como uma serpente, cobria ele o próprio frio inspirar o último ar a mortinatalidade do morto-vivo é um mortório mortuoso da manhã pálida e de tanto frio que estava recebia dolorosos Expirar a única vida carinhos do frio E me desligar o mortulho da mortualha mortificada vi o Chiquito, vi o Chiquito rico de fome e rei de palidez voltar ao desconhecido E o morediço morredoiro morremorrer a língua estava pálida, vi o Chiquito, não tinha onde ir da inexistência o lar dele era dia e noite na rua, vi o Chiquito, ao esquecimento alimentava-se de fome a cada rodar do dia voltar aonde nunca estive cobria o frio, o luxo de enganar o estômago era raro Morrer para o mundo e para os céus... vi o Chiquito a sofrer mas, no calcanhar dele há uma família voltar ao vão Que não o querem apenas me desligar Chiquito de água vive, mas o amanhã nos pés dele se ajo- elhará E terá o luxo que hoje é um caso notável NÓS gABAMO-NOS DIVERSÃO, SABE-NOS A PETER PEDRO PIERRE PETROSSE MORTE O VALOR DA VIDA Chiquito não é mais escravo da manhã pálida Já é escravo da vida luxuosa que o rodeia Chiquito estende a mão para o próximo Nós gabamo-nos, E com amor ajuda o próximo Porque vivemos na cidade, onde tem água, luz de qualidade, IzIDINE JAIME Chiquito já tem uma família e dá todas as regalias temos tudo por perto. Chiquito hoje é homem rico e estende a mão para o próxi- Noite calma mo Nós gabamo-nos, Corpos dançam Chiquito hoje é homem rico e assou todo sofrimento no Porque vivemos em Maputo city, o som reina luxo a cidade das acácias. deuses da música E estende a mão para o próximo acácias que viraram balneários públicos. Sabem-nos na alma Já nem sei se elas libertam oxigénio ou oximijo. a Paixão é líquida o álcool faz-nos outros Eu ainda não morri Mesmo assim gabamo-nos, Porque vivemos no prédio, Corajosos Mas, alguns de nós não conhecem o vizinho do lado. as vezes Sem juizo Consumimos poluição sonora de 1 a 365 de cada ano. Sentimo-nos CELSO AuguSTO FOLEgE olhem para o jardim da Estrela vulgo Madjerman’s, deuses de nós Por longas estradas passei Está todo deplorado. também somos longas distâncias percorri Á dias atrás era um autêntico dzudza’s fashion. filhos do além Em bravos mares naveguei a praça da juventude, Mas Minha alma diz: Eu ainda não morri virou um parque de venda de materiais de construção. Matamo-nos antes de morrer Corpo esmorecido, sistema muscular Nós temos coragem, tudo é uma festa digestivo e circulatório enfraquecidos Conviver com o lixo, como se fosse um membro da família. Sorrisos se beijam apesar do meu débil estado físico até contaminamos as crianças. disfarçados em bravos mares naveguei Elas são bem desleixadas, Como os homens minha alma sussurra: eu ainda não morri Mas não têm culpa, dois corações apenas tiveram a quem puxar. também se abraçam continentes, mares bons e maus a vida riam-se de mim, me mantenho firme viras daqui, tem papel no chão, é uma cena firme na minha infinita esperança viras para ali, tem garrafa no chão, também diversão firme no meu caminhar, a vida torna-se um caos viras acolá, tem plástico no chão, E quem não se “de verde” de varias ervas, até daninhas e frutos silvestres vivo viras mais uma vez, tem preservativo usado no chão. É azul. frutos que outrora não sabia da sua comestibilidade viras mais uma vez e o cenário piora, fazem parte do meu improvisado cardápio de dificuldade os vermes deliciam-se de restos de comida podre. o que faço eu neste imenso vácuo de sociedade respiramos a nauseabundice das nossas acções de ufuta. neste local esverdeado e abundado por selvagens olhem para os contentores de lixo, animais irracionais, onde só eu trago racionalidade Se não estão vazios, transbordam de lixo, Mas o lixo ainda desfila desnorteado pela cidade. pretendo gozar os direitos humanos na sua plenitude pois na urbe não sorri, mas tanto sofri de quem é a culpa? estrondos de insígnias ouvi, mas reafirmo eu ainda não morri. Será do conselho municipal? Que cobra taxas e não cumpre com as suas obrigações? a minha educação redundou-se em frustração Será dos munícipes? Não tive consideração, apesar da minha formação Que não sabem gerir o seu lixo, Chamada superior, culpei a corrupção deitando-o de qualquer maneira, Por isso para o mato parti alegando que a gerência do lixo cabe ao município. isolado vivo, a miséria curiosamente suporto, pois eu ainda não morri… de quem é a culpa? Eu, não sei. Só sei que nós gabamo-nos porque vivemos na cidade. textos do Grupo - Canto da Poesia do facebooK. recolha de raffa inguane.
  • 10. 10 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 10 Noites d ´Álma Em outras paLavras https://noitesdalma.blogspot.com RESULTADO DO IV CONCURSO “Sport Club Internacional” de Contos, Crônicas, Poesias e Histórias do Inter. Carta de Mbie à Nikotile VENCEDORES: POESIA 1º LugAr - João Justiniano, com a poesia: tarde triste - troféu 2º LugAr - Nelsi inês urnau, com a poesia: Entardecer - Medalha XIguIANA DA Luz 3º LugAr - José Nedel, com a poesia: Conflito distributivo - Medalha 4º LugAr - Mário luís Souza terres, com a poesia: definição - Menção Honrosa Homens desta terra, VENCEDORES: CONTOS Chamaram-me para educar seus ouvidos, Surdos e mudos, 1º LugAr - Sonia mª d. athayde, com o conto: Muito além do olhar - troféu Cegos e cheios de vozes que não deixam nenhum dizer, 2º LugAr - adilar Signori, com o conto: a roupa Nº 3 - Medalha Dizem que és tu a culpada meu amor, mas sei que não. 3º LugAr – antonio augusto Bandeira, com o conto: o infinito - Medalha Encheram-te de desilusões na cabeça. Na cabeça sim eu sei, porque na 4º LugAr - Edson Xavier de Castro, com: Palavras trocadas - Menção Honrosa alma vice me trancou e não deixa ninguém entrar. Pediram-te sexo, entre a vagina, os seios e lábios amelados, a sua VENCEDORES: CRÔNICAS beleza informal, eles levaram tudo isso. Eu sei Kotile. 1º LugAr-péroLA Bensabath oiy, com a Crônica: torcedor ou Macho Profano? -troféu Sei também que você não é deles! 2º LugAr Sonia athayde, No Principio,Era a Cor. - Medalha Ofereceste-os amizade e amor, 3º LugAr – adilar Signori, com a Crônica: o retrato dos Meus Pais - Medalha Provando a sua lealdade aos vagineiros deste mundo selvagem. 4º LugAr – alcione Sortica, com a Crônica: o jovem que chora - Menção Honrosa Mundo que não sabe amar. Mundo com homens que sem piedade vão fazendo dos seus nesse teu coraçãozinho pequenito. Cheio de VENCEDORES: HISTÓRIAS DO INTER pequeneza e pureza. Eu sabia que é isso mesmo Maputo…que é assim mesmo Ka Mpfumo 1º LugAr - Edson Xavier de Castro, com vermelho inter-troféu dele. 2º LugAr - Márcio Mór Giongo, com Mar vermelho - Medalha Sabia também que te entregarias demasiadamente à esses nholwenes, 3º LugAr-JúLio Mafra, com o Primeiro Jogo - Medalha viventes desse mundo que não lhes pertence. 4º LugAr - Mario l. S. terres, com Colorado o Clube do Povo - Menção Honrosa Disseram-me em jeito de gozo que venceriam esta luta em que senti-me sozinho, a combater leões, tigres e leopardos famintos, dependentes da MEDALHAS DE MéRITO CuLTuRAL POéTICO PARA: caça. Caça aos mais sensíveis. E sempre soube das intenções desses recuados do tempo. Mutantes destes dias. Predadores sem objectivo, que na verdade são extermina- vALdir Luiz Scariot em Histórias do inter: com a tobata Pioneira. dores de virgens deste Nkomane, até do Deus mi livre que Deus há-de emANueLLe BueNo, com a Crônica: olhar Colorado. levar pelas maldades. mArceLo ALLgAyer Canto, com o poema: inútil transigência, Virgens que seriam escolhidas de Cristo para o reino das bruxas e as vALter morigi, com o poema: internacional. mãos doutras donzelas que desta vida passaram. viviANe BALAu, com o poema: internacional. Sabia Kotile…eu sabia tudo. iArA irigArAy, com o poema: Música. Sabia que levariam-te para lá depois de revelarem-se falsosamente, seus amantes e apaixonados, fiéis e venerandos. Na verdade não prestam. São das impurezas… São palavras atormentadoras e sem espírito que ti seduzirão a tombar reALizAção e Coordenação: Cesardo vignochi Presidente, lúcio ignácio regner no palácio da morte. vice-presideNte, mAriNês Bonacina diretora Cultural, Ha! Nikotile, quem diria va hetile…são os mufanas de uma cidade grande e cheia de maldições. Maldições que agora você também tem! porto ALegre, setembro de 2011. Hoje os espíritos vigam-se das suas decisões de ir a capital, cobrindo-se de sacos, movendo-se à fome e esfregando-se aos homens machos que reALizAção: cApoLAt - Casa do Poeta latino-americano e departamento Cultural da fECi/iNtEr. agressivamente ti fazem. Esperava ti amar e ter-te um dia…mas o que poço fazer depois de tantos que com metical fizeram tudo? Seu eu Mbié