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Li em ZH a notícia do abandono de gatos e cães. Sem nenhuma culpa, seus donos deixam os animais perambulando por um mundo que não tem lugar para eles. Vão para suas férias. O olhar que cria o laço de afeto e de pertença certamente não foi exercido com eles e isto é marca que se reproduz nas relações do cotidiano.  cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos
Paul Auster, em Timbuktu, narra a amizade entre um vira-lata e um poeta indigente tocado pela loucura. Ao criar um cão ou gato demasiadamente humano ele sugere o quanto rejeitamos de nossa natureza. cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos
Tenho um cão Yorkshire, oito anos de idade que me acompanhava em longas caminhadas.  Descíamos a Av.Lajeado, subíamos a Guaporé, continuávamos pela Av. Bagé até a Carlos Gomes, descíamos de novo, em busca de um paradouro. No verão uma cerveja gelada, no inverno um trago forte.  cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos
Também é verdade que os cães ficam iguais a seus donos. Eu, com uma seqüela de poliomielite, manco com a perna esquerda e ele com problemas na rótula do joelho esquerdo, me acompanha.  Envelhecemos juntos. Ambos com poucos cabelos e brancos.  cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos
Vivíamos felizes e éramos os donos da rua. Agora, doente, alterno conduzí-lo no colo com pequenas caminhadas. Caminhadas com o fulgor da nostalgia dos cheiros. O seu mundo é uma "sinfonia de cheiros".  cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos
A crueldade do abandono dos animais não está só na negação do afeto, na rejeição, mas também no problema da sobrevivência.  Matar os gatos para salvar os pássaros?!  Mas nada disso acontece, porque seres humanos que tem "sonhos dentro dos sonhos" e uma deliciosa garantia de dias melhores para todos nós, através de organizações de ONGs de bichos, que aplacam nossa consciência e culpa de assistir toda esta catarse de maneira distante.  cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos
Mr.Bones, o cachorro de Willy, o poeta de Auster, iria para a terra das palavras e das torradeiras transparentes, a terra das rodas de bicicleta e dos desertos ardentes onde cães e homens conversavam de igual para igual.  Mr.Bones não está propondo o suicídio, ia simplesmente fazer uma brincadeira que um cão velho, louco e doente faria. Era isto que ele era agora - um cão velho, doente e louco.  cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos
Chamava-se "desvie do carro". Correr para o outro lado da rua e ver se conseguia escapar dos carros. Uma brincadeira venerável que permitia a todo cachorro da velha guarda recuperar a glória da juventude. cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos
Correu rumo ao barulho da pista,  rumo a luz ao rugido que disparavam contra ele de todas as direções. Com um pouco de sorte estaria ao lado de Willy seu dono e amigo antes do dia acabar. Artigo escrito por Dr. Rui Peixoto -Médico Cardiologista http://cardiologistaruipeixoto.com.br/2009/01/23/o-cruel-abandono-dos-caes-demasiadamente-humanos/ cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos

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  • 1. Li em ZH a notícia do abandono de gatos e cães. Sem nenhuma culpa, seus donos deixam os animais perambulando por um mundo que não tem lugar para eles. Vão para suas férias. O olhar que cria o laço de afeto e de pertença certamente não foi exercido com eles e isto é marca que se reproduz nas relações do cotidiano. cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos
  • 2. Paul Auster, em Timbuktu, narra a amizade entre um vira-lata e um poeta indigente tocado pela loucura. Ao criar um cão ou gato demasiadamente humano ele sugere o quanto rejeitamos de nossa natureza. cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos
  • 3. Tenho um cão Yorkshire, oito anos de idade que me acompanhava em longas caminhadas. Descíamos a Av.Lajeado, subíamos a Guaporé, continuávamos pela Av. Bagé até a Carlos Gomes, descíamos de novo, em busca de um paradouro. No verão uma cerveja gelada, no inverno um trago forte. cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos
  • 4. Também é verdade que os cães ficam iguais a seus donos. Eu, com uma seqüela de poliomielite, manco com a perna esquerda e ele com problemas na rótula do joelho esquerdo, me acompanha. Envelhecemos juntos. Ambos com poucos cabelos e brancos. cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos
  • 5. Vivíamos felizes e éramos os donos da rua. Agora, doente, alterno conduzí-lo no colo com pequenas caminhadas. Caminhadas com o fulgor da nostalgia dos cheiros. O seu mundo é uma "sinfonia de cheiros". cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos
  • 6. A crueldade do abandono dos animais não está só na negação do afeto, na rejeição, mas também no problema da sobrevivência. Matar os gatos para salvar os pássaros?! Mas nada disso acontece, porque seres humanos que tem "sonhos dentro dos sonhos" e uma deliciosa garantia de dias melhores para todos nós, através de organizações de ONGs de bichos, que aplacam nossa consciência e culpa de assistir toda esta catarse de maneira distante. cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos
  • 7. Mr.Bones, o cachorro de Willy, o poeta de Auster, iria para a terra das palavras e das torradeiras transparentes, a terra das rodas de bicicleta e dos desertos ardentes onde cães e homens conversavam de igual para igual. Mr.Bones não está propondo o suicídio, ia simplesmente fazer uma brincadeira que um cão velho, louco e doente faria. Era isto que ele era agora - um cão velho, doente e louco. cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos
  • 8. Chamava-se "desvie do carro". Correr para o outro lado da rua e ver se conseguia escapar dos carros. Uma brincadeira venerável que permitia a todo cachorro da velha guarda recuperar a glória da juventude. cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos
  • 9. Correu rumo ao barulho da pista, rumo a luz ao rugido que disparavam contra ele de todas as direções. Com um pouco de sorte estaria ao lado de Willy seu dono e amigo antes do dia acabar. Artigo escrito por Dr. Rui Peixoto -Médico Cardiologista http://cardiologistaruipeixoto.com.br/2009/01/23/o-cruel-abandono-dos-caes-demasiadamente-humanos/ cardiologistaruipeixoto.com.br/artigos