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 Ondjaki, pseudónimo de Ndalu de
Almeida, é um termo da língua
umbundu que significa "guerreiro"
Nascido em 1977 em Luanda, capital de
Angola,
o
autor
estreou-se
literariamente em 2000 com o livro de
poesia "actu sanguíneu", que lhe valeu
uma menção honrosa do Prémio
António Jacinto, nesse mesmo ano.
Produziu em 2006 o documentário
“Oxalá cresçam pitangas”, que mostra o
quotidiano de 10 jovens da periferia de
Luanda.
Poeta, prosador, Ondjaki visita também
a escrita para crianças, o teatro, a
pintura e o documentário. Formado em
Sociologia, completou o doutoramento
em Estudos Africanos em Itália.
Atualmente, reside no Rio de Janeiro.

ONDJAKI
LUANDA
Maior cidade e capital da Angola.
Apenas 20% da cidade tem água e saneamento básico e
apenas 30% das casas tem água corrente.
Independência de Portugal: apenas em 1975.

PLURALIDADE LINGUÍSTICA
Língua oficial: PORTUGUÊS.
Mais faladas: umbundu; kimbundu; kikongo; ibinda; chocué;
kwanyama e nhaneca.
A 5 de novembro de 2013 e com o
romance "Os transparentes" o
escritor angolano vence a oitava
edição
do
Prémio
José
Saramago, que distingue autores
com obra editada em língua
portuguesa,
instituído
pela
Fundação Círculo de Leitores. O
Prémio José Saramago é o segundo
galardão que o escritor angolano
recebe neste ano, depois do Prémio
Fundação Nacional do Livro Infantil
(IBBY do Brasil) 2013, pela obra de
ficção juvenil "A bicicleta que tinha
bigodes", que lhe tinha já valido o
Prémio Bissaya Barreto, no ano de
2012.

ONDJAKI
O escritor junta o Prémio Saramago a
outros
galardões
já
recebidos, nomeadamente o Prémio
António Paulouro, em 2005, pelo livro de
contos "E se amanhã o medo", o Grande
Prémio do Conto Camilo Castelo Branco da
Associação Portuguesa de Escritores, pela
obra "Os da minha rua", em 2007, o
Grinzane for Africa- young writer, em 2010
recebe o Prémio Jabuti (categoria juvenil)
com “Avó Dezanove” e o “Segredo do
Soviético” e ainda o angolano Caxinde do
Conto Infantil, pelo título "Ombela, a
estórias das chuvas", em 2011
Ondjaki é, na presente data, autor de 19
títulos, entre eles, refira-se "Bom Dia
Camaradas",
"O
Assobiador",
"Há
Prendisajens com o Xão", "Quantas
madrugadas tem a noite", "Materiais para
confecção
de
um
espanador
de
tristezas", "Os vivos, o morto e o peixefrito", "O voo do Golfinho“ e "Uma

ONDJAKI
Prémio José Saramago 2013
Cerimónia entrega do prémio:
"Este prémio não é meu, este prémio é de Angola." Foi assim que
Ondjaki agradeceu o prémio, no valor de 25 mil euros. "Eu não ando
sozinho, faço-me acompanhar dos materiais que me passaram os mais
velhos. Na palavra 'cantil' guardo a utopia, para que durante a vida eu
possa não morrer de sede.“
"Este é um livro sobre uma Angola que existe dentro de uma Luanda
que eu procurei escrever e descrever. Fi-lo com o que tinha dentro de
mim entre verdade, sentimento, imaginação. E amor. É uma leitura de
carinho e de preocupação. É um abraço aos que não se acomodam
mas antes se incomodam. É uma celebração da nossa festa
interior, trazendo as makas, os mujimbos, algumas dores, alguns
amores. Penso que todos queremos uma Angola melhor", disse o
escritor no seu discurso de agradecimento.
(in Público, 05/11/2013)
O Jika era o mais novo da minha rua. Assim: o Tibas era o mais
velho, depois havia o Bruno Ferraz, eu e o Jika. Nós até às vezes lhe protegíamos
doutros mais-velhos que vinham fazer confusão na nossa rua.
O almoço na minha casa era perto do meio-dia. Às vezes quase à uma.
Ao meio-dia e quinze, o Jika tocava à campainha.
- O Ndalu tá? – perguntava à minha irmã ou ao camarada António.
- Sim, tá.
- Chama só, faz favor.
Eu interrompia o que estivesse a fazer, descia.
- Mó Jika, come?
- Ndalu, vinha te perguntar uma coisa.
- Diz.
- Hoje num queres me convidar pra almoçar na tua casa?
- Deixinda ir perguntar à minha mãe.
Entrei. O Jika ficou ansioso na porta, aguardando a resposta. Quase
sempre a minha mãe dizia sim. Só se fosse mesmo maka de pouca comida, ou
muita gente que já estava combinada para o almoço. Se a avó Chica viesse, ia
trazer também a Helda, e assim já não ia dar. Mas normalmente a minha mãe
dizia “sim” mesmo. E ficava a rir
- A minha mãe disse que podes.
- Ah é? – ele pareceu surpreendido. – E a que horas é que vocês vão
almoçar?
- Ao meio-dia e meia, Jika.
- Então vou pedir a minha mãe.
Deixei a porta aberta. O Jika devia voltar sem demora quase
nenhuma. Gritou contente, cá de baixo, na direcção da janela do quarto da
mãe dele:
- Maaaaãe, a tia Sita me convidou pra almoçar na casa dela. Posso?
- Podes. Mas vem mudar essa camisa suada.
O Jika deu uma esquindiva, fingiu que já tinha mudado, veio a correr
numa transpiração respirada. Contente. Olhos do miúdo que ele era. Fosse o
melhor programa da semana dele. E eu, mesmo miúdo candengue, fiquei a
pensar nas razões do Jika não gostar nada de almoçar na própria casa dele.
O Jika estava habituado a muita gasosa. Nesse tempo, se houvesse
gasosa na minha casa era para dividir. Como nós éramos três, eu e duas
irmãs, quando o Jika vinha almoçar, até a divisão corria melhor. Ele por vezes
queria fugir desse ritual:
- Tia Sita, posso beber uma gasosa sozinho?
- Sozinho, bebes na tua casa – a minha mãe respondeu. – Aqui dividese.
Depois do almoço, o Jika disse que ia à casa dele buscar uma coisa; Eu
fiquei à espera, no portão aberto. Prometeu não demorar. Voltou com a tal
coisa escondida debaixo do braço, e entrámos rapidamente na minha casa.
Subimos ao primeiro andar, fomos até ao quarto da minha irmã Tchi, e saltámos
da varanda para uma espécie de telhado. Aproximámo-nos da berma. Lá em
baixo estava a relva verde do jardim. O Jika abriu um muito, muito pequenino
guarda-chuva azul.
- Põe a mão aqui – ensinou-me. – Agora podemos saltar
- Tens a certeza? – olhei para baixo
Saltámos.
A infância é uma coisa assim bonita: caímos juntos na relva, magoamonos um bocadinho, mas sobretudo rimos. O Jika teve outra ideia.
- Calma só, mô Ndalu. Vou na minha casa buscar um maior.
- Não, Jika, desculpa lá. Vais saltar sozinho, eu já num vou saltar mais
de guarda-chuva.
- Nem num bem grande que tenho, daqueles da praia, anti-sol e
tudo, colorido tipo arco-íris?
- Nem esse!
O Jika ficou desanimado. Sem outras propostas para brincadeiras
perigosas, decidiu ir para casa. Ao cruzar o portão, falou ainda:
- Posso te perguntar uma coisa?
- Diz, Jika.
- Amanhã num queres me convidar pra almoçar na tua casa?
Série Autores Lusófonos
1. Mia Couto
2. José Eduardo Agualusa
3. Ondjaki

A professora bibliotecária, Carla Nunes
Ano letivo 2013/2014

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Ondjaki, escritor angolano premiado

  • 1.  Ondjaki, pseudónimo de Ndalu de Almeida, é um termo da língua umbundu que significa "guerreiro" Nascido em 1977 em Luanda, capital de Angola, o autor estreou-se literariamente em 2000 com o livro de poesia "actu sanguíneu", que lhe valeu uma menção honrosa do Prémio António Jacinto, nesse mesmo ano. Produziu em 2006 o documentário “Oxalá cresçam pitangas”, que mostra o quotidiano de 10 jovens da periferia de Luanda. Poeta, prosador, Ondjaki visita também a escrita para crianças, o teatro, a pintura e o documentário. Formado em Sociologia, completou o doutoramento em Estudos Africanos em Itália. Atualmente, reside no Rio de Janeiro. ONDJAKI
  • 2.
  • 3. LUANDA Maior cidade e capital da Angola. Apenas 20% da cidade tem água e saneamento básico e apenas 30% das casas tem água corrente. Independência de Portugal: apenas em 1975. PLURALIDADE LINGUÍSTICA Língua oficial: PORTUGUÊS. Mais faladas: umbundu; kimbundu; kikongo; ibinda; chocué; kwanyama e nhaneca.
  • 4.
  • 5.
  • 6. A 5 de novembro de 2013 e com o romance "Os transparentes" o escritor angolano vence a oitava edição do Prémio José Saramago, que distingue autores com obra editada em língua portuguesa, instituído pela Fundação Círculo de Leitores. O Prémio José Saramago é o segundo galardão que o escritor angolano recebe neste ano, depois do Prémio Fundação Nacional do Livro Infantil (IBBY do Brasil) 2013, pela obra de ficção juvenil "A bicicleta que tinha bigodes", que lhe tinha já valido o Prémio Bissaya Barreto, no ano de 2012. ONDJAKI
  • 7. O escritor junta o Prémio Saramago a outros galardões já recebidos, nomeadamente o Prémio António Paulouro, em 2005, pelo livro de contos "E se amanhã o medo", o Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco da Associação Portuguesa de Escritores, pela obra "Os da minha rua", em 2007, o Grinzane for Africa- young writer, em 2010 recebe o Prémio Jabuti (categoria juvenil) com “Avó Dezanove” e o “Segredo do Soviético” e ainda o angolano Caxinde do Conto Infantil, pelo título "Ombela, a estórias das chuvas", em 2011 Ondjaki é, na presente data, autor de 19 títulos, entre eles, refira-se "Bom Dia Camaradas", "O Assobiador", "Há Prendisajens com o Xão", "Quantas madrugadas tem a noite", "Materiais para confecção de um espanador de tristezas", "Os vivos, o morto e o peixefrito", "O voo do Golfinho“ e "Uma ONDJAKI
  • 8. Prémio José Saramago 2013 Cerimónia entrega do prémio: "Este prémio não é meu, este prémio é de Angola." Foi assim que Ondjaki agradeceu o prémio, no valor de 25 mil euros. "Eu não ando sozinho, faço-me acompanhar dos materiais que me passaram os mais velhos. Na palavra 'cantil' guardo a utopia, para que durante a vida eu possa não morrer de sede.“ "Este é um livro sobre uma Angola que existe dentro de uma Luanda que eu procurei escrever e descrever. Fi-lo com o que tinha dentro de mim entre verdade, sentimento, imaginação. E amor. É uma leitura de carinho e de preocupação. É um abraço aos que não se acomodam mas antes se incomodam. É uma celebração da nossa festa interior, trazendo as makas, os mujimbos, algumas dores, alguns amores. Penso que todos queremos uma Angola melhor", disse o escritor no seu discurso de agradecimento. (in Público, 05/11/2013)
  • 9. O Jika era o mais novo da minha rua. Assim: o Tibas era o mais velho, depois havia o Bruno Ferraz, eu e o Jika. Nós até às vezes lhe protegíamos doutros mais-velhos que vinham fazer confusão na nossa rua. O almoço na minha casa era perto do meio-dia. Às vezes quase à uma. Ao meio-dia e quinze, o Jika tocava à campainha. - O Ndalu tá? – perguntava à minha irmã ou ao camarada António. - Sim, tá. - Chama só, faz favor. Eu interrompia o que estivesse a fazer, descia. - Mó Jika, come? - Ndalu, vinha te perguntar uma coisa. - Diz. - Hoje num queres me convidar pra almoçar na tua casa? - Deixinda ir perguntar à minha mãe. Entrei. O Jika ficou ansioso na porta, aguardando a resposta. Quase sempre a minha mãe dizia sim. Só se fosse mesmo maka de pouca comida, ou muita gente que já estava combinada para o almoço. Se a avó Chica viesse, ia trazer também a Helda, e assim já não ia dar. Mas normalmente a minha mãe dizia “sim” mesmo. E ficava a rir
  • 10. - A minha mãe disse que podes. - Ah é? – ele pareceu surpreendido. – E a que horas é que vocês vão almoçar? - Ao meio-dia e meia, Jika. - Então vou pedir a minha mãe. Deixei a porta aberta. O Jika devia voltar sem demora quase nenhuma. Gritou contente, cá de baixo, na direcção da janela do quarto da mãe dele: - Maaaaãe, a tia Sita me convidou pra almoçar na casa dela. Posso? - Podes. Mas vem mudar essa camisa suada. O Jika deu uma esquindiva, fingiu que já tinha mudado, veio a correr numa transpiração respirada. Contente. Olhos do miúdo que ele era. Fosse o melhor programa da semana dele. E eu, mesmo miúdo candengue, fiquei a pensar nas razões do Jika não gostar nada de almoçar na própria casa dele. O Jika estava habituado a muita gasosa. Nesse tempo, se houvesse gasosa na minha casa era para dividir. Como nós éramos três, eu e duas irmãs, quando o Jika vinha almoçar, até a divisão corria melhor. Ele por vezes queria fugir desse ritual:
  • 11. - Tia Sita, posso beber uma gasosa sozinho? - Sozinho, bebes na tua casa – a minha mãe respondeu. – Aqui dividese. Depois do almoço, o Jika disse que ia à casa dele buscar uma coisa; Eu fiquei à espera, no portão aberto. Prometeu não demorar. Voltou com a tal coisa escondida debaixo do braço, e entrámos rapidamente na minha casa. Subimos ao primeiro andar, fomos até ao quarto da minha irmã Tchi, e saltámos da varanda para uma espécie de telhado. Aproximámo-nos da berma. Lá em baixo estava a relva verde do jardim. O Jika abriu um muito, muito pequenino guarda-chuva azul. - Põe a mão aqui – ensinou-me. – Agora podemos saltar - Tens a certeza? – olhei para baixo Saltámos. A infância é uma coisa assim bonita: caímos juntos na relva, magoamonos um bocadinho, mas sobretudo rimos. O Jika teve outra ideia. - Calma só, mô Ndalu. Vou na minha casa buscar um maior. - Não, Jika, desculpa lá. Vais saltar sozinho, eu já num vou saltar mais de guarda-chuva.
  • 12. - Nem num bem grande que tenho, daqueles da praia, anti-sol e tudo, colorido tipo arco-íris? - Nem esse! O Jika ficou desanimado. Sem outras propostas para brincadeiras perigosas, decidiu ir para casa. Ao cruzar o portão, falou ainda: - Posso te perguntar uma coisa? - Diz, Jika. - Amanhã num queres me convidar pra almoçar na tua casa?
  • 13. Série Autores Lusófonos 1. Mia Couto 2. José Eduardo Agualusa 3. Ondjaki A professora bibliotecária, Carla Nunes Ano letivo 2013/2014