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COLÉGIO TELEYOS
DISCIPLINA: REDAÇÃO
PROFA. CARLA JABOUR
ALUNO (A):______________________________________________________________________________DATA:__/11/2012
TURMA: 3º ANO (A/B) MANHÃ
Crônica
Por meio de assuntos de composição aparentemente solta, do ar de coisa sem importância que
costuma assumir, a crônica se ajusta à nossa sensibilidade de todo dia. Retratando a vida, a
crônica serve a vida de perto, pois, está perto de nós. Despretensiosa, ela se humaniza e
aprofunda seu significado.
A crônica nos ajuda a estabelecer ou restabelecer a dimensão das coisas e das pessoas, quase
sempre com humor. Sua perspectiva não é de ser um texto grande, nem pomposo, mas do
simples dia-a-dia.
A fórmula moderna reúne um fato pequeno, uma notícia, um toque de humor, uma pitada de
poesia e representa o encontro mais puro da crônica com a vida real e com seu cúmplice
favorito, o leitor. Mas, apesar de seu ar despreocupado, de quem está falando de coisas sem
maior consequência, a crônica penetra fundo no significado dos atos e sentimentos do homem,
aprofundando a crítica social.
Aprende-se muito quando se diverte e os traços simples, graciosos e breves da crônica são um
veículo privilegiado para mostrar de modo persuasivo muita coisa, que, divertindo, atrai e faz
refletir, amadurecendo nossa visão das coisas. Por meio de um zigue-zague de aparente
conversa despretensiosa, a crônica pode dizer as coisas mais sérias, como as descrições da
vida, o relato caprichoso dos fatos, o desenho de certos tipos humanos, o registro de algo
inesperado.
Tudo é vida, tudo é motivo de experiência ou reflexão, divertimento e esquecimento
momentâneo de si, sonho ou piada que nos transporta ao mundo da imaginação, para voltarmos
um pouco mais sábios. A função da crônica, portanto, é aprofundar a notícia e deflagrar uma
profunda visão das relações entre o fato e as pessoas, entre cada um de nós e o mundo em que
vivemos.
Tipos de Crônica
Crônica Descritiva
Ocorre quando uma crônica explora a caracterização de seres animados e inanimados num
espaço, viva como uma pintura, precisa como uma fotografia ou dinâmica como um filme
publicado.
Crônica Narrativa
Próxima ao conto.Narrado tanto na 1ª quanto na 3ª pessoa do singular.Comprometimento com
fatos cotidianos.É uma história curta; narra os acontecimentos em ordem cronológica; aborda um
tema banal, do cotidiano; desenvolve os elementos da narrativa; desperta a imaginação do leitor.
Crônica Dissertativa
Opinião explícita, com argumentos mais “sentimentalistas” do que “racionais” A crônica além de
tudo se refere principalmente no modo dissertativo, oposicionando-se ao modo retratação do
sujeito verbal de um texto.
Crônica Narrativo-Descritiva
Pode ser narrado em 1ª ou na 3ª pessoa do singular.
Crônica Lírica
Linguagem poética e metafórica.
Crônica Poética
Versos poéticos em forma de poetista. Considerado, o melhor cronista: Rubem Alves, fez uma
crônica poética chamada "Emoções"; que está no seu livro "Sem sim e sem não".
Crônica Jornalística
A Crônica no sentido jornalístico (escrever notícias em diferentes áreas: crônica política, crônica
policial, crônica artística)
Crônica Histórica
Baseada em fatos tropeiros, ou fatos da historia...
Origem e desenvolvimento da Crônica
A palavra crônica deriva do Latim chronica, que significava, no início da era cristã, o relato de
acontecimentos em ordem cronológica (a narração de histórias segundo a ordem em que se
sucedem no tempo). Era, portanto, um breve registro de eventos. No século XIX, com o
desenvolvimento da imprensa, a crônica passou a fazer parte dos jornais. Ela apareceu pela
primeira vez em 1799, no Journal de Débats, em Paris. Esses textos comentavam, de forma
crítica, acontecimentos que haviam ocorrido durante a semana. Tinham, portanto, um sentido
histórico e serviam, assim como outros textos do jornal, para informar o leitor. Nesse período as
crônicas eram publicadas no rodapé dos jornais, os "folhetins".
Essa prática foi trazida para o Brasil na segunda metade do século XIX e era muito parecida com
os textos publicados nos jornais franceses. José de Alencar foi um dos escritores brasileiros a
produzir esse tipo de texto nesse período. Com o passar do tempo, a crônica brasileira foi,
gradualmente, distanciando-se daquela crônica com sentido documentário originada na França.
Ela passou a ter um caráter mais literário, fazendo uso de linguagem mais leve e envolvendo
poesia, lirismo e fantasia. Diversos escritores brasileiros de renome escreveram crônicas:
Machado de Assis, João do Rio, Rubem Braga, Rachel de Queiroz, Fernando Sabino, Carlos
Drummond de Andrade, Henrique Pongetti, Paulo Mendes Campos, Alcântara Machado, Luis
Fernando Veríssimo, etc. Ainda hoje há diversos escritores que desenvolvem esse gênero,
publicando textos em jornais, revistas e sites.
Características da Crônica
A crônica é, primordialmente, um texto escrito para ser publicado em jornal. Este, como se
sabe, é um veículo de informação diário e, portanto, veicula textos efêmeros. Um texto publicado
no jornal de ontem dificilmente receberá atenção por parte dos leitores hoje.
O mesmo tende a acontecer com a crônica. O fato de ser publicada no jornal já lhe
determina vida curta, pois a crônica de hoje passa e seguem-se muitas outras nas próximas
edições.
Há semelhanças entre a crônica e o texto exclusivamente informativo. Assim como o
repórter, o cronista se alimenta dos acontecimentos diários, que constituem a base da crônica.
Entretanto, há elementos que distinguem um texto do outro. Após cercar-se desses
acontecimentos diários, o cronista dá-lhes um toque próprio, incluindo em seu texto elementos
como ficção, fantasia e criticismo, elementos que o texto essencialmente informativo não contém.
Com base nisso, pode-se dizer que a crônica situa-se entre o Jornalismo e a Literatura, e o
cronista pode ser considerado o poeta dos acontecimentos do dia-a-dia.
A crônica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o
próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma visão
totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista.
Ao desenvolver seu estilo e ao selecionar as palavras que utiliza em seu texto, o cronista
está transmitindo ao leitor a sua visão de mundo. Ele está, na verdade, expondo a sua forma
pessoal de compreender os acontecimentos que o cercam.
Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a
linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o cronista,
que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê.
Desenvolvendo a Crônica
"Escândalos derrubam financista japonês"
Essa manchete foi publicada no jornal Folha de S. Paulo no dia 23 de julho de 1991. Com base
nela, Ricardo Semler escreveu a crônica abaixo.
Crônica publicada no jornal Folha de S. Paulo, em 28 de julho de 1991.
É de puxar os olhos
E o camarão se mexeu. O danado estava vivo! Posso parecer um pouco caipira, já tinha
comido peixe cru em restaurante japonês, mas cru e vivo, nunca! Foi só pegar no bicho com
os tais pauzinhos e vuupt, o camarão deu um salto de samurai de volta para o prato. E assim
progredia a visita ao Japão... Descer no aeroporto de Narita leva à reflexão sobre o que
incentiva milhares de nisseis a abandonarem o Brasil à procura de uma oportunidade no
Japão. Logicamente, ganhar dinheiro verdadeiro é uma razão. Em vez de trocarem o seu
esforço por uma moeda-piada do tipo cruzeiro, cruzado ou cruz-credo, o conforto de botar
alguns iens no banco e saber que ainda estará lá quando for verificar o extrato. Até aí tudo
bem. Mas fico pensando se o desespero é parte vital da decisão e se os nossos nisseis sabem
no que estão se metendo. Esta semana foi interessante aqui. A primeira-ministra da França,
Edith "menina-veneno" Cresson, disse que os japoneses não sabem viver, que mais parecem
umas formigas. O pessoalzinho daqui ficou uma arara. Passados alguns dias, bomba em cima
de bomba com casos magistrais de corrupção nos mais altos níveis (ao leitor distraído
reafirmo que estou em Tóquio e não em Brasília). Começou com o Marubeni, acusado de
desvios de propinas para políticos. Aí, foi a vez da Nomura, a maior corretora de bolsa de
valores do mundo, que andou desviando dinheiro e dando propina para políticos. E, para
finalizar a novela da semana, a Itoman vê os seus executivos saírem algemados por
envolvimento em - pasmem! - desvio de fundos e propinas para políticos. E foram três casos
totalmente independentes um do outro... Rumar para o Japão à procura do pote de ouro no fim
do arco-íris é uma ingenuidade. O Japão é moderno, mas as suas tradições milenares
desafiam qualquer análise ou compreensão superficial. É a indústria da inovação, mas é
também o país que mais copiou produtos na história industrial. Tem ares de liberdade de
mercado, mas é uma das nações mais protecionistas e paternais do globo. É líder em
tecnologia em diversas áreas, mas só deixa japoneses legítimos assumirem qualquer cargo de
importância nas empresas. Fã do capitalismo livre é mestre inigualável de intervenção estatal
e poupança forçada. É nação orgulhosa de sua raça, mas os seus ídolos de comerciais não
têm nem mesmo os olhos puxados, a exemplo de um comercial muito popular por aqui com o
nosso "acelera A-i-rton"! Aos nisseis que pensam em vir para cá, cabe a mesma reflexão que
vale para Miami ou Lisboa. Todas as nações têm muito a ensinar, mas também muito a
aprender. Nivelar as expectativas com os pés no chão fará com que nossos imigrantes voltem
algum dia ao Brasil para ajudar a desatolar o nosso país com o que vivenciaram fora. É bom
colocar tudo no prato para evitar, como no caso do meu camarão rebelde, que se acabe
comendo cru...
Texto extraído do livro Embrulhando o Peixe - Crônicas de um Empresário do Sanatório
Brasil. Ricardo Semler. Editora Best Seller. 2ª ed. São Paulo. 1992. p. 58 - 59.
Faça a sua Crônica
Agora é a sua vez!
Ao ler crônicas, você conhece a visão de mundo daquela pessoa que escreveu o texto. Tão
interessante quanto isso é você mesmo tentar encontrar a sua forma de ver e questionar o
mundo ao seu redor. Como? Escrevendo sua própria crônica. Além de observar mais
atentamente as pessoas e situações que fazem parte do seu dia-a-dia, você estará exercitando
sua redação ao construir textos claros e, ao mesmo tempo, criativos.
As etapas abaixo podem servir como um guia caso você esteja começando a se aventurar pelo
mundo da crônica. Com o tempo, você desenvolverá seu próprio processo criativo e o texto
surgirá de forma natural, sem que seja necessário seguir etapas definidas.
Etapas para escrever sua crônica:
1. Escolha algum acontecimento atual que lhe chame a atenção. Você pode procurá-lo em meios
como jornais, revistas e noticiários. Outra boa forma de encontrar um tema é andar, abrir a janela,
conversar com as pessoas, ou seja, entrar em contato com a infinidade de coisas que acontecem
ao seu redor. Tudo pode ser assunto para uma crônica. É importante que o tema escolhido
desperte o seu interesse, cause em você alguma sensação interessante: entusiasmo, horror,
desânimo, indignação, felicidade... Isso pode ajudá-lo a escrever uma crônica com maior
facilidade.
2. Muito bem. Agora que você já selecionou um acontecimento interessante, tente formular
algumas opiniões sobre esse fato. Você pode fazer uma lista com essas ideias antes de começar
a crônica propriamente dita.
• Frases como as que seguem abaixo podem ser um bom começo para você fazer a sua
lista:
"Quando penso nesse fato, a primeira ideia que me vem à mente..."
"Na minha opinião esse fato é..."
"Se eu estivesse nessa situação, eu..."
"Ao saber desse fato eu me senti..."
"Sobre esse fato, as pessoas estão dizendo que..."
"A solução para isso..."
"Esse fato está relacionado com a minha realidade, pois..."
Como você deve ter notado, é muito importante que o seu ponto de vista, a sua forma de ver
aquele fato fique evidente. Esse é um dos elementos que caracterizam a crônica: uma visão
pessoal sobre um evento.
3. Agora que você já formou opiniões sobre o acontecimento escolhido, é hora de escrever sua
crônica. Seu ponto de partida pode ser o próprio fato, mas esse também pode ser mencionado ao
longo do texto, como ocorre na crônica exemplificativa de Ricardo Semler.
 Escreva! Pratique! E procure usar a criatividade para criar seu próprio estilo, pois é isso
que faz de um escritor um bom cronista.

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  • 2. Origem e desenvolvimento da Crônica A palavra crônica deriva do Latim chronica, que significava, no início da era cristã, o relato de acontecimentos em ordem cronológica (a narração de histórias segundo a ordem em que se sucedem no tempo). Era, portanto, um breve registro de eventos. No século XIX, com o desenvolvimento da imprensa, a crônica passou a fazer parte dos jornais. Ela apareceu pela primeira vez em 1799, no Journal de Débats, em Paris. Esses textos comentavam, de forma crítica, acontecimentos que haviam ocorrido durante a semana. Tinham, portanto, um sentido histórico e serviam, assim como outros textos do jornal, para informar o leitor. Nesse período as crônicas eram publicadas no rodapé dos jornais, os "folhetins". Essa prática foi trazida para o Brasil na segunda metade do século XIX e era muito parecida com os textos publicados nos jornais franceses. José de Alencar foi um dos escritores brasileiros a produzir esse tipo de texto nesse período. Com o passar do tempo, a crônica brasileira foi, gradualmente, distanciando-se daquela crônica com sentido documentário originada na França. Ela passou a ter um caráter mais literário, fazendo uso de linguagem mais leve e envolvendo poesia, lirismo e fantasia. Diversos escritores brasileiros de renome escreveram crônicas: Machado de Assis, João do Rio, Rubem Braga, Rachel de Queiroz, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Henrique Pongetti, Paulo Mendes Campos, Alcântara Machado, Luis Fernando Veríssimo, etc. Ainda hoje há diversos escritores que desenvolvem esse gênero, publicando textos em jornais, revistas e sites. Características da Crônica A crônica é, primordialmente, um texto escrito para ser publicado em jornal. Este, como se sabe, é um veículo de informação diário e, portanto, veicula textos efêmeros. Um texto publicado no jornal de ontem dificilmente receberá atenção por parte dos leitores hoje. O mesmo tende a acontecer com a crônica. O fato de ser publicada no jornal já lhe determina vida curta, pois a crônica de hoje passa e seguem-se muitas outras nas próximas edições. Há semelhanças entre a crônica e o texto exclusivamente informativo. Assim como o repórter, o cronista se alimenta dos acontecimentos diários, que constituem a base da crônica. Entretanto, há elementos que distinguem um texto do outro. Após cercar-se desses acontecimentos diários, o cronista dá-lhes um toque próprio, incluindo em seu texto elementos como ficção, fantasia e criticismo, elementos que o texto essencialmente informativo não contém. Com base nisso, pode-se dizer que a crônica situa-se entre o Jornalismo e a Literatura, e o cronista pode ser considerado o poeta dos acontecimentos do dia-a-dia. A crônica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista. Ao desenvolver seu estilo e ao selecionar as palavras que utiliza em seu texto, o cronista está transmitindo ao leitor a sua visão de mundo. Ele está, na verdade, expondo a sua forma pessoal de compreender os acontecimentos que o cercam. Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê. Desenvolvendo a Crônica "Escândalos derrubam financista japonês" Essa manchete foi publicada no jornal Folha de S. Paulo no dia 23 de julho de 1991. Com base nela, Ricardo Semler escreveu a crônica abaixo. Crônica publicada no jornal Folha de S. Paulo, em 28 de julho de 1991.
  • 3. É de puxar os olhos E o camarão se mexeu. O danado estava vivo! Posso parecer um pouco caipira, já tinha comido peixe cru em restaurante japonês, mas cru e vivo, nunca! Foi só pegar no bicho com os tais pauzinhos e vuupt, o camarão deu um salto de samurai de volta para o prato. E assim progredia a visita ao Japão... Descer no aeroporto de Narita leva à reflexão sobre o que incentiva milhares de nisseis a abandonarem o Brasil à procura de uma oportunidade no Japão. Logicamente, ganhar dinheiro verdadeiro é uma razão. Em vez de trocarem o seu esforço por uma moeda-piada do tipo cruzeiro, cruzado ou cruz-credo, o conforto de botar alguns iens no banco e saber que ainda estará lá quando for verificar o extrato. Até aí tudo bem. Mas fico pensando se o desespero é parte vital da decisão e se os nossos nisseis sabem no que estão se metendo. Esta semana foi interessante aqui. A primeira-ministra da França, Edith "menina-veneno" Cresson, disse que os japoneses não sabem viver, que mais parecem umas formigas. O pessoalzinho daqui ficou uma arara. Passados alguns dias, bomba em cima de bomba com casos magistrais de corrupção nos mais altos níveis (ao leitor distraído reafirmo que estou em Tóquio e não em Brasília). Começou com o Marubeni, acusado de desvios de propinas para políticos. Aí, foi a vez da Nomura, a maior corretora de bolsa de valores do mundo, que andou desviando dinheiro e dando propina para políticos. E, para finalizar a novela da semana, a Itoman vê os seus executivos saírem algemados por envolvimento em - pasmem! - desvio de fundos e propinas para políticos. E foram três casos totalmente independentes um do outro... Rumar para o Japão à procura do pote de ouro no fim do arco-íris é uma ingenuidade. O Japão é moderno, mas as suas tradições milenares desafiam qualquer análise ou compreensão superficial. É a indústria da inovação, mas é também o país que mais copiou produtos na história industrial. Tem ares de liberdade de mercado, mas é uma das nações mais protecionistas e paternais do globo. É líder em tecnologia em diversas áreas, mas só deixa japoneses legítimos assumirem qualquer cargo de importância nas empresas. Fã do capitalismo livre é mestre inigualável de intervenção estatal e poupança forçada. É nação orgulhosa de sua raça, mas os seus ídolos de comerciais não têm nem mesmo os olhos puxados, a exemplo de um comercial muito popular por aqui com o nosso "acelera A-i-rton"! Aos nisseis que pensam em vir para cá, cabe a mesma reflexão que vale para Miami ou Lisboa. Todas as nações têm muito a ensinar, mas também muito a aprender. Nivelar as expectativas com os pés no chão fará com que nossos imigrantes voltem algum dia ao Brasil para ajudar a desatolar o nosso país com o que vivenciaram fora. É bom colocar tudo no prato para evitar, como no caso do meu camarão rebelde, que se acabe comendo cru... Texto extraído do livro Embrulhando o Peixe - Crônicas de um Empresário do Sanatório Brasil. Ricardo Semler. Editora Best Seller. 2ª ed. São Paulo. 1992. p. 58 - 59. Faça a sua Crônica Agora é a sua vez! Ao ler crônicas, você conhece a visão de mundo daquela pessoa que escreveu o texto. Tão interessante quanto isso é você mesmo tentar encontrar a sua forma de ver e questionar o mundo ao seu redor. Como? Escrevendo sua própria crônica. Além de observar mais atentamente as pessoas e situações que fazem parte do seu dia-a-dia, você estará exercitando sua redação ao construir textos claros e, ao mesmo tempo, criativos. As etapas abaixo podem servir como um guia caso você esteja começando a se aventurar pelo mundo da crônica. Com o tempo, você desenvolverá seu próprio processo criativo e o texto surgirá de forma natural, sem que seja necessário seguir etapas definidas.
  • 4. Etapas para escrever sua crônica: 1. Escolha algum acontecimento atual que lhe chame a atenção. Você pode procurá-lo em meios como jornais, revistas e noticiários. Outra boa forma de encontrar um tema é andar, abrir a janela, conversar com as pessoas, ou seja, entrar em contato com a infinidade de coisas que acontecem ao seu redor. Tudo pode ser assunto para uma crônica. É importante que o tema escolhido desperte o seu interesse, cause em você alguma sensação interessante: entusiasmo, horror, desânimo, indignação, felicidade... Isso pode ajudá-lo a escrever uma crônica com maior facilidade. 2. Muito bem. Agora que você já selecionou um acontecimento interessante, tente formular algumas opiniões sobre esse fato. Você pode fazer uma lista com essas ideias antes de começar a crônica propriamente dita. • Frases como as que seguem abaixo podem ser um bom começo para você fazer a sua lista: "Quando penso nesse fato, a primeira ideia que me vem à mente..." "Na minha opinião esse fato é..." "Se eu estivesse nessa situação, eu..." "Ao saber desse fato eu me senti..." "Sobre esse fato, as pessoas estão dizendo que..." "A solução para isso..." "Esse fato está relacionado com a minha realidade, pois..." Como você deve ter notado, é muito importante que o seu ponto de vista, a sua forma de ver aquele fato fique evidente. Esse é um dos elementos que caracterizam a crônica: uma visão pessoal sobre um evento. 3. Agora que você já formou opiniões sobre o acontecimento escolhido, é hora de escrever sua crônica. Seu ponto de partida pode ser o próprio fato, mas esse também pode ser mencionado ao longo do texto, como ocorre na crônica exemplificativa de Ricardo Semler.  Escreva! Pratique! E procure usar a criatividade para criar seu próprio estilo, pois é isso que faz de um escritor um bom cronista.