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Teoria social e pós-modernismo: a resposta do marxismo aos enigmas teóricos contemporâneos
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  Teoria social e pós-modernismo: a resposta do marxismo
           aos enigmas teóricos contemporâneos
                                                                                           João Emanuel Evangelista – UFRN




RESUMO                                                                AS MUDANÇAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS
As sociedades capitalistas passaram por uma grande                          Nas últimas décadas, muito se tem debatido
transformação sistêmica nas últimas décadas que afeta-                sobre as mudanças sofridas pelas sociedades capita-
ram sua economia, sua política e sua cultura, redefinin-              listas modernas no mundo ocidental. A partir dos
do os processos sociais que configuram a vida cotidiana.
A reestruturação produtiva e os novos padrões flexíveis
                                                                      anos 1960, foram-se acumulando evidências de alte-
de acumulação foram mimetizados em suas formas supe-                  rações significativas na sociabilidade dos indivíduos
restruturais no neoliberalismo e no pós-modernismo. A                 que viviam, sobretudo, nos grandes centros urba-
teoria social tornou-se um campo de investigações ino-                nos das sociedades capitalistas desenvolvidas. Em
vadoras em busca de explicações para uma variada gama                 grande medida, tais fenômenos eram os efeitos mais
de fenômenos sociais resultantes dessas transformações                imediatos da onda longa expansiva que o capitalis-
societárias. Na contracorrente das formas intelectuais                mo vivera depois da Segunda Guerra Mundial. Nos
hegemônicas, o marxismo experimentou uma surpreen-
                                                                      anos 1950, depois da reconstrução do mundo oci-
dente renovação teórica, recuperando seu lugar proemi-
nente na crítica social ao discutir essas transformações do           dental com plano Marshall, as populações dos países
sistema capitalista contemporâneo.                                    capitalistas industrializados (EUA, Europa e Japão)
                                                                      experimentaram um crescimento extraordinário no
Palavras-chave: Teoria social. Capitalismo contemporâ-
neo. Pós-modernismo. Marxismo.                                        seu padrão de vida cotidiana. O processo de urbani-
                                                                      zação acelerado trouxe a difusão de novos hábitos de
ABSTRACT                                                              consumo e novos valores socioculturais foram ado-
                                                                      tados e difundidos socialmente. Esse foi o cenário
Capitalist societies have undergone deep and systemic
                                                                      que fez surgir os movimentos de contestação social
changes in the last decades. These changes have affec-
ted their economies, politics and culture, re-defining the
                                                                      às formas de poder vigentes e aos valores morais há
social processes which embody the daily life. The pro-                muito estabelecidos, representados por movimentos
ductive restructuring and the new flexible accumulation               como a contracultura e o feminismo ou as lutas con-
patterns have been replicated in their super-structural               tra a discriminação racial e contra as guerras impe-
forms in liberalism and post-modernism. Social theory                 rialistas. A culminação desses movimentos e lutas
turned out to be a field for innovative researches which              progressistas deu-se no final dos anos 1960, cujo
try to explain a number of social phenomena resulting of              ápice está representado simbolicamente, sobretudo,
these societal changes. In opposition to these hegemonic
                                                                      pelos acontecimentos de maio de 1968 na França.
intellectual forms, marxism underwent an outstanding
theoretical renewal, recovering its prominent place in                      A crise geral do capitalismo em meados da
social criticism as it discusses these changes inside the             década de 1970 encerrou a onda longa expansiva
contemporary capitalist system.                                       iniciada no pós-guerra. Os anos 1970 vivenciaram,
Keywords: Social theory. Contemporary capitalism. Post-               ao mesmo tempo, o refluxo dos movimentos sociais
modernism. Marxism.                                                   contestatórios e a ofensiva do capital para criar me-


                                        Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006
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canismos que propiciassem novas possibilidades de                    A isso se acrescentou, nos anos 1980, a crise
valorização e reprodução ampliadas para o capital.             do chamado socialismo real, comandado pela antiga
Dois fatos foram da maior significação para a con-             União Soviética, que não mais conseguia garantir o
figuração do capitalismo mundial nos anos seguin-              abastecimento de alimentos e bens de consumo às
tes. De um lado, empresas japonesas introduziram               suas populações. Numa tentativa derradeira, bus-
inovações na organização do processo de trabalho               cou-se a reforma política e econômica do socialis-
fabril, com a flexibilização do modelo taylorista-for-         mo soviético. A restauração das liberdades políticas,
dista e a adoção daquilo que se tornou conhecido               ao contrário de levar à reestruturação produtiva do
como toyotismo, substituindo as formas despóticas              sistema soviético, conduziu à contestação radical do
e rigidamente hierarquizadas adotadas na produção              sistema político pelas massas populares, lideradas
industrial. Por outro lado, um conjunto de inovações           por forças políticas interessadas na implementação
tecnológicas, tendo à frente as novas tecnologias in-          de uma economia de mercado capitalista.
formacionais que possibilitaram a incorporação de                    Assim, estavam criadas as condições propícias
comandos digitais nos sistemas de máquinas indus-              para que os ideólogos conservadores pudessem de-
triais. Essas novas tecnologias permitiram também              monstrar a inviabilidade prática da intervenção es-
uma verdadeira revolução nos processos comuni-                 tatal na economia. A crise do Estado de Bem-Estar
cacionais, com a constituição de redes de satélites            Social no Ocidente e a crise do socialismo real com-
conectadas mundialmente, que tornaram possível a               provavam, ao mesmo tempo, a inadequação e os
comunicação em tempo real em qualquer parte do                 efeitos perniciosos que a intervenção do Estado po-
nosso planeta. A conjunção dessas transformações               deria provocar na organização do sistema de produ-
tecnológicas ao processo produtivo garantiu as con-            ção e satisfação de necessidades humanas. Os fatos
dições técnicas para a retomada, em novas bases, do            pareciam revelar o fracasso das experiências de regu-
movimento da acumulação capitalista em âmbito                  lação estatal numa economia capitalista de mercado
mundial.                                                       e das tentativas de construção do socialismo como
      No plano político e ideológico, vieram somar-            alternativa societária superior. Estavam criadas as
se novos ingredientes à ofensiva do capital. A eclo-           condições para a hegemonia do pensamento úni-
são da crise geral do capitalismo nos anos 1970                co através da sacralização do mercado a ser imposta
apresentava as características clássicas das crises de         na esteira do processo de mundialização capitalista.
superprodução do sistema capitalista. A retração das           A ofensiva ideológica contra toda e qualquer inge-
atividades econômicas, as dificuldades financeiras de          rência do Estado nas relações entre capital e traba-
muitas empresas, o desemprego dos trabalhadores,               lho no processo de produção de mercadorias visava a
o ressurgimento do fenômeno inflacionário, dentre              implementação de um suposto Estado mínimo. Em
outros aspectos, levaram a uma profunda crise fiscal           sua essência, pretendia-se um Estado mínimo para
do Estado de Bem-Estar Social vigente nos países               os trabalhadores e um Estado máximo para o capital
capitalistas desenvolvidos (ANDERSON, 1995). A                 (PAULO NETTO, 1993).
experiência de conjugar a ampliação da democracia                    Esse conjunto de transformações ocorridas nas
e dos direitos sociais com crescimento econômico               últimas décadas passou a ser conhecido pelos termos
continuado nas sociedades capitalistas, através do             globalização e neoliberalismo. Na verdade, esses
Estado de Bem-Estar Social, passou a ser o alvo pre-           fenômenos constituem os aspectos mais visíveis de
ferencial da crítica dos ideólogos mais conservadores          uma transformação sistêmica na estruturação do
do capital como algo a ser definitivamente banido              capitalismo contemporâneo, que configuram o sur-
como alternativa política e econômica.                         gimento de um novo bloco histórico (GRAMSCI,
                                                               2000). A partir dos anos 1980, a vocação histórica


                                 Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006
Teoria social e pós-modernismo: a resposta do marxismo aos enigmas teóricos contemporâneos
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do sistema de produção de mercadorias expandir a                       lavam em caráter permanente fluxos de informação
sua lógica em escala mundial tornou-se, pela pri-                      e de capital, instaurando-se uma nova percepção da
meira vez na história moderna, uma realidade con-                      relação espaço-tempo. Na modernidade, até então,
creta. Sob a ação política dos organismos financeiros                  o tempo subordinara o espaço. A contemporaneida-
internacionais, foram criadas novas áreas e fronteiras                 de, contudo, impôs a inversão dessas relações com a
para o processo de valorização do capital, através da                  supremacia da espacialidade sobre a temporalidade.
flexibilização dos direitos sociais, da mercadificação                 Tais mutações nas relações espaço-tempo levaram a
dos serviços públicos, da privatização de empresas                     drásticas alterações nas formas do homem contem-
estatais e da abertura dos mercados nacionais dos                      porâneo representar o mundo, a si mesmo e a sua
países periféricos à movimentação de capitais e ser-                   inserção sócio-histórica. Ao lado disso, a cultura so-
viços provenientes dos países capitalistas centrais.                   freu um processo de ampliação da sua ambiência,
      As mudanças não ficaram circunscritas às esfe-                   objetivando-se de fato como uma segunda natureza:
ras política e socioeconômica. Poucas vezes em sua                     a tudo recobre e deixa a sua marca.
história, as sociedades modernas sofreram transfor-                          A mundialização do capitalismo fez-se acom-
mações tão rápidas e profundas. Em situações de                        panhar por forças antinômicas de largo espectro,
normalidade histórica, geralmente os vetores da                        que se manifestam, simultaneamente, como ten-
permanência sobrepõem-se aos vetores da mudança                        dências centrífugas e centrípetas em processos de
ou há um relativo equilíbrio entre ambos. As trans-                    homogeneização e heterogeneização, de padroniza-
formações em curso levaram a um brusco desequi-                        ção e segmentação, de globalismo e localismo, de
líbrio em favor dos aspectos pertinentes à inovação                    desterritorialização e reterritorialização etc. A cultu-
sociocultural. Não vivemos, todavia, um cenário de                     ra mundial apresenta-se como um grande e irrepre-
revolução social. Muito pelo contrário. As mudan-                      sentável caleidoscópio (ORTIZ, 1996), ao mesmo
ças que se processaram em lógica quase metastática,                    tempo, fascinante e aterrorizante. Se por um lado é
atingindo todas as dimensões da vida social, ocor-                     evidente a imposição do estilo de vida e da cultura
reram dentro de um ambiente político e ideológico                      americana aos povos de todos os recantos mundiais,
profundamente conservador. Com o fim da experi-                        isso não significa a supressão das manifestações cul-
ência do socialismo real, pareceu a muitos que não                     turais locais. É verdade que cada vez mais pesso-
restaria alternativa ao capitalismo vitorioso. Não                     as ouvem, vêem, vestem, falam, usam e comem as
haveria escapatória às idéias ultraliberais hegemôni-                  mesmas coisas em qualquer parte do mundo. Seria
cas e à economia de mercado capitalista.                               ingenuidade não reconhecer os efeitos perversos da
      Aos quatro cantos, acumulavam-se também os                       massificação e padronização ideológica e cultural.
indicadores de mudanças na política e na cultura.                      No entanto, em sentido dialético, vemos a multi-
Ao longo da modernidade, as sociedades humanas                         plicação de novas formas de resistência cultural que
foram organizadas em termos dos limites territo-                       enfatizam o local, o próximo, o tradicional, o eterno.
riais do Estado nacional. Agora, essas estruturas so-                  São muitas também as demonstrações da capacida-
ciais foram adquirindo uma nova morfologia social,                     de de ressignificação dos povos de diferentes matri-
sendo recobertas por uma inusitada forma de rede                       zes étnico-culturais. Algumas modalidades culturais
mundial, esboroando as antigas clivagens políticas e                   dominantes nos centros capitalistas adquirem um
culturais1. O mundo assumiu, aos poucos, o formato                     sentido disruptivo e transgressor na periferia do
de um sistema descentrado, através do qual circu-                      capitalismo. Abundam formas inusitadas de hibri-
                                                                       dização cultural (CANCLINI, 1998). Essa nova
1	Jameson (1996) e Castells (1999) apresentam enfoques diferen-        heterogeneidade cultural, como é óbvio, processa-
  ciados na análise e nas implicações políticas da estrutura da so-    se sob os influxos dos mecanismos tradicionais do
  ciedade contemporânea como uma rede mundial descentrada.


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poder político e da dominação de classe, vigentes              Por fim, o pós-modernismo requer, como compo-
historicamente nas sociedades burguesas modernas,              nente político fundamental, um sentimento de de-
que assumem novas e complexas mediações.                       salento, de impotência e de apatia coletivos, frutos
                                                               em geral de uma derrota estratégica das forças po-
O NOVO PARADIGMA PÓS-MODERNO                                   líticas e ideológicas empenhadas em transformações
      Essas transformações incidiram diretamente               sociais radicais.
sobre as formas através das quais os homens sentiam                  O pós-modernismo pode se manifestar como
e representavam para si mesmos o mundo existente.              cultura pós-moderna e/ou como pensamento pós-
Há uma sensação cada vez mais disseminada de ir-               moderno. A cultura pós-moderna surge como uma
realidade, de vazio e de confusão. A razão humana é            reação crítica ao alto modernismo que, depois da
desafiada pelo avanço de processos “imateriais” e pela         II Guerra Mundial, tornara-se o cânone cultural e
constituição de novas esferas de existência virtuais,          passara a representar o establishment em termos de
que se sobrepõem à realidade objetiva. A velocidade            arte, literatura e arquitetura nas sociedades ociden-
dos fluxos de imagens e informações e o processo de            tais. Na efervescência dos anos 1960, a contracul-
desterritorialização que lhes acompanham abalam                tura criou o ambiente para a recusa dos valores da
os mecanismos cognitivos, axiológicos e estéticos de-          racionalidade técnico-burocrática e científica então
senvolvidos pela modernidade no Ocidente. Houve                hegemônica que inspiravam a crença no progresso
uma alteração brusca nas relações espaço-temporais             histórico linear, em verdades absolutas e nas poten-
que sustentam as formas de representação estética              cialidades do planejamento racional dos processos
e apreensão lógica da realidade (HARVEY, 1992).                sociais e da produção material. No primeiro mo-
Tudo parece sofrer a influência da efemeridade, da             mento, em meados da década de 70, o pós-moder-
fragmentação, da indeterminação, da descontinui-               nismo surgiu como uma contestação à monotonia
dade, do ecletismo e da heterogeneidade.                       estilística predominante no International Style da ar-
      O pós-modernismo é a expressão mais típica               quitetura moderna.
dessa sensibilidade emergente e afirma-se como um                    A multiplicação de novas práticas culturais
novo padrão cultural dominante nas sociedades do               será, a posteriori, objeto de uma reflexão filosófica
capitalismo tardio. Seu florescer exige a existência           pouco sistemática que terá no ensaísmo o seu forma-
de uma indústria cultural desenvolvida, tendo à                to privilegiado. O questionamento do autoritarismo
frente os meios eletrônicos audiovisuais, responsá-            das estruturas hierárquicas e dos valores da cultura
veis pela midiatização da cultura (THOMPSON,                   tradicional ensejou uma nova política de esquerda,
1995). Tem como sua base societária um significa-              dirigida para a crítica das relações de dominação que
tivo contingente de novos intermediários culturais,            infestavam a vida cotidiana. A revolta artística, polí-
dotados de formação cultural e / ou profissional               tica e cultural voltou-se contra o modernismo estéti-
universitária, que estejam inseridos no circuito da            co e as formas dominantes do pensamento moderno.
produção e consumo de bens culturais – como a mí-              A contracultura e a contestação dos movimentos so-
dia, a publicidade, a moda, o design, e profissões de          ciais do final dos anos 1960 foram os precursores
aconselhamento, terapêuticas e educacionais (FEA-              políticos e culturais do pós-modernismo (HARVEY,
THERSTONE, 1994). Depende também da difu-                      1992).
são de novas tecnologias de comunicação e novas                      Um impulso iconoclasta, talvez um último
formas de produção cultural baseadas na simulação              resquício vanguardista, anima o pensamento pós-
de imagens e na telemática, que erodem o sentido               moderno. Recusa as denominadas metanarrativas
de orientação e localização e modificam a capacida-            do pensamento moderno, que se afirmavam como
de de representação e discernimento dos indivíduos.            modelos explicativos totalizantes de aplicação e va-


                                 Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006
Teoria social e pós-modernismo: a resposta do marxismo aos enigmas teóricos contemporâneos
                                                                                                                                 275

lidade universais. Insurge-se contra o que chamam                     rentes e implicariam alteridade em termos políticos,
os valores absolutos e os fundamentos metafísicos da                  étnicos e sexuais (EVANGELISTA, 2001b).
modernidade. Relativiza a razão moderna em suas
promessas emancipatórias e desconstrói as suas an-                    A REVIVESCÊNCIA DA CRÍTICA MARXISTA2
tinomias, relevando-lhe suas limitações e cegueiras
                                                                            Apesar da algaravia em torno do pós-moderno,
positivistas, deterministas e etnocêntricas. A ciên-
                                                                      é possível detectar algo em comum aos seus maio-
cia é tida como uma simples narrativa entre outras
                                                                      res expoentes na literatura, na arquitetura e na filo-
tantas igualmente legítimas, num cenário em que
                                                                      sofia. A recusa genérica da metanarrativas esconde
predomina a agonística dos jogos de linguagem. Põe
                                                                      o real adversário dos pensadores pós-modernos. O
à prova categorias, até então universalmente acei-
                                                                      alvo da crítica pós-moderna é, em última análise,
tas, que são distintivas do pensamento moderno e
                                                                      o marxismo e a esquerda socialista (ANDERSON,
dariam suporte às pretensões cognitivas de uma ra-
                                                                      1999). Por exemplo, Ihab Hassan insurge-se con-
zão onipotente. Subverte as certezas que embalam a
                                                                      tra a “raiva ideológica” e a “prepotência dos dog-
ciência moderna e afirma o relativismo como valor
                                                                      máticos” dos críticos marxistas em sua submissão ao
cultural e epistemologia. A busca de causas explica-
                                                                      “jugo de ferro da ideologia”, ao “determinismo so-
tivas é substituída pela descrição tópica feita através
                                                                      cial” e ao preconceito e desconfiança em relação ao
de relatos de fenômenos particulares. A intuição ga-
                                                                      “prazer estético”. Advoga, ainda, que termos como
nha primazia sobre a racionalidade, atribuindo-se à
                                                                      esquerda e direita, base e superestrutura, produção
arte o estatuto de paradigma de representação do
                                                                      e reprodução, materialismo e idealismo, perderam
real. Difunde suspeitas sobre a existência de iden-
                                                                      qualquer significação e são “quase inúteis”. Por sua
tidades fixas e de sujeitos monádicos, portadores
                                                                      vez, Robert Venturi e Charles Jencks irão recusar o
de alguma vocação redentora previamente definida
                                                                      caráter progressista, revolucionário, utópico e pu-
(LYOTARD, 1993; EVANGELISTA, 2001b).
                                                                      rista da “arquitetura ortodoxa moderna”, em seu
      O pós-modernismo busca legitimar-se através
                                                                      questionamento das condições vigentes na socieda-
da rejeição das formas intelectuais modernas, em
                                                                      de capitalista. De modo mais direto, Jencks festeja o
que algumas categorias – tais como sujeito, razão,
                                                                      pós-moderno em sua tolerância pluralística e abun-
ciência, verdade, história, etc. – ocupam uma posi-
                                                                      dante num contexto sócio-histórico em que perdera
ção axial. O impulso contestador pós-moderno põe
                                                                      sentido polaridades como “esquerda e direita”, “ca-
na berlinda a razão e a ciência modernas, em suas
                                                                      pitalista e classe operária”, pois não mais havia “ini-
pretensões de produzir um conhecimento verdadei-
                                                                      migo a derrotar”.
ro sobre a realidade que poderia ser apropriado pelo
                                                                            Essas tendências ganharão nitidez paradigmá-
homem, como sujeito individual e/ou coletivo, e diri-
                                                                      tica em Lyotard (1993). A sua trajetória política e
gido contra todas as modalidades de exploração, do-
                                                                      intelectual é marcada por um anticomunismo persis-
minação e tutela que impedem a sua emancipação,
                                                                      tente. Lyotard está convencido que o pós-moderno
abrindo a possibilidade de objetivação de uma orga-
                                                                      é a expressão cultural do surgimento da sociedade
nização social racional na história. A desconstrução
                                                                      pós-industrial, na qual o conhecimento tornou-se a
do pensamento moderno revela que tais categorias
                                                                      principal força produtiva. O proletariado integrou-
não passariam de construtos sociais. A ciência cons-
                                                                      se ao capitalismo e perdeu a condição de agente re-
tituiria apenas uma narrativa, entre tantas outras
                                                                      volucionário. A economia política deveria dar lugar
existentes e igualmente legítimas, que está subordi-
                                                                      à economia libidinal, que explicaria porque a própria
nada a uma lógica de dominação ocidental, elidindo
modos e práticas socioculturais que lhes são concor-
                                                                      2	As idéias aqui apresentadas são uma síntese da análise desen-
                                                                        volvida em Evangelista (2000).


                                        Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006
João Emanuel Evangelista
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exploração era desejada e sofrida com gozo erótico                    passou a ser uma referência obrigatória na aborda-
pelos operários industriais. Não é possível superar                   gem do pós-modernismo. Favorecido pelo distan-
o capitalismo, resultado de um processo de seleção                    ciamento temporal, Harvey (1992) coligiu a análise
natural de comutação de formas de energia, que an-                    mais sistemática das mutações em curso nas socieda-
tecede a própria vida humana. Diante das denúncias                    des capitalistas desenvolvidas, articulando os novos
sobre o Gulag, ficaria evidente que o socialismo é                    arranjos socioculturais às transformações tecnológi-
idêntico ao capitalismo. Revela-se a verdadeira “me-                  cas que sustentam um novo padrão de acumulação
tanarrativa” que cabe recusar: o marxismo e o socia-                  na história do capitalismo. E, por fim, as análises
lismo clássico (ANDERSON, 1999).                                      do crítico inglês Eagleton (1998) sobre as ambi-
     O campo pós-moderno demonstra, assim, uma                        güidades do pós-modernismo são de grande valia
inusitada coerência ideológica: “Não podia haver                      na apreensão desse fenômeno – ao mesmo tempo,
nada mais que o capitalismo. O pós-moderno foi                        transgressor em termos culturais e conservador em
uma sentença contra as ilusões alternativas” (AN-                     termos econômicos – em todas as suas complexas
DERSON, 1999, p. 54). Oblitera-se que o triun-                        dimensões. De alvo preferencial das críticas teóricas
fo neoliberal nos anos 1980, longe de destruir as                     do pós-modernismo, o marxismo demonstrou vita-
“grandes narrativas”, significou que “pela primeira                   lidade intelectual suficiente para virar a mesa. Assu-
vez na história o mundo caía sob o domínio da mais                    miu o pós-modernismo como objeto da sua reflexão
grandiosa de todas” (ANDERSON, 1999, p. 39) – a                       crítica, tomando-o como o ponto arquimediano para
grande narrativa do pensamento único e da vitória                     pensar a contemporaneidade capitalista.
global do mercado.                                                          Em instigante abordagem teórica que supera
     Como objeto implícito das críticas pós-moder-                    certos limites da análise frankfurtiana da indústria
nas, o marxismo abandonou a posição inicial de saco                   cultural, mesmo tendo-a como premissa, Jame-
de pancadas teóricas e ideológicas e retomou a sua                    son (1996) destaca-se intelectualmente no cenário
tradição crítica. Em chave interpretativa radicalmen-                 contemporâneo por considerar o pós-modernismo
te diversa, o marxismo revelou-se um instrumental                     como a lógica cultural do capitalismo avançado
heurístico altamente percuciente das transforma-                      ou tardio. A produção cultural foi assimilada pela
ções societárias contemporâneas. Surpreendendo                        produção de mercadorias em geral, na qual a ino-
aos obituaristas ideológicos de plantão, o marxismo                   vação e a experimentação estéticas passaram a ter
mostrou que ainda é capaz de propiciar, a despeito                    uma função estrutural essencial diante da necessi-
das inelutáveis tendências fragmentadoras do capi-                    dade frenética de produzir uma infinidade de no-
talismo tardio, uma análise teórica abrangente das                    vos bens com uma aparência cada vez mais nova. A
mudanças socioculturais que dominaram o cenário                       cultura, mais do que nunca, passou a ser uma esfera
mundial nas duas últimas décadas, ao mesmo tem-                       central do processo de reprodução social, invadin-
po em que municia as armas da crítica política e cul-                 do e recobrindo todos os espaços da sociabilidade.
tural da ordem capitalista triunfante. Tal é o que se                 Na condição pós-moderna, houve a transformação
pode depreender da produção teórica de intelectuais                   da cultura em economia e da economia em cultu-
marxistas3 como o crítico norte-americano Jameson                     ra. As antigas fronteiras existentes entre a produção
(1996), cuja intervenção no debate internacional                      econômica e a vida cultural desapareceram (EVAN-
                                                                      GELISTA, 2001a).
3	Cabe registrar a contribuição de outros autores para a crítica            A expansão do capital não somente “atingiu”
  do pós-modernismo, em particular ver os lúcidos argumentos
  de Callinicos (1995) quanto à avaliação hiperbólica dos traços
                                                                      a dimensão cultural, mas as imagens, as represen-
  definidores da contemporaneidade e ao contexto de decadên-          tações e as formas culturais se tornaram uma área
  cia ideológica experimentados pelos próceres da contracultura e     de atuação fundamental do mercado capitalista. Os
  dos movimentos de contestação do final dos anos 1960.


                                        Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006
Teoria social e pós-modernismo: a resposta do marxismo aos enigmas teóricos contemporâneos
                                                                                                                          277

componentes da esfera cultural foram convertidos                      perspectiva de crítica radical e de transformação da
plenamente em mercadorias. Com a expansão das                         ordem societária (JAMESON, 1996; EVANGELIS-
novas tecnologias informacionais, a produção e a                      TA, 2001a).
circulação de informação passaram a ser uma das                             Por sua vez, Harvey (1992) encara as mudan-
mercadorias mais importantes no capitalismo tardio                    ças culturais contemporâneas como o resultado de
ou multinacional. Assim, os conflitos e as contradi-                  um complexo processo de transformações na estru-
ções, antes relacionados principalmente à produção                    turação das sociedades capitalistas. As crises cícli-
material, espalham-se e invadem também a produ-                       cas do modo de produção capitalista desencadeiam
ção cultural. E tudo isso se faz acompanhar de uma                    revoluções científico-tecnológicas que ensejam mo-
profunda mudança nos hábitos e atitudes de con-                       dificações fundamentais no sistema produtivo e per-
sumo e nas relações intersubjetivas que ocorrem no                    mitem a retomada em novas bases da acumulação
mundo cotidiano (JAMESON, 1996; EVANGELIS-                            de capital. A incorporação dessas inovações tecnoló-
TA, 2001a).                                                           gicas ao sistema de produção de mercadorias acar-
      Jameson (1996) define alguns traços constitu-                   reta uma redução do tempo de rotação do capital e
tivos que são peculiares à cultura pós-moderna. O                     a necessidade de expansão geográfica da lógica ca-
pós-modernismo inaugura uma nova superficiali-                        pitalista. Disso resulta a compressão na relação es-
dade, na qual o mundo objetivo é convertido em                        paço-tempo, proveniente da simultânea aceleração
um conjunto de textos e simulacros e as coisas são                    do tempo e redução do espaço nas novas condições
reduzidas à imagem de suas superfícies externas.                      criadas pela reestruturação sistêmica do capitalismo.
Há, também, um enfraquecimento da historici-                          Surgem, então, novas formas de sensibilidade e de
dade, em que o passado é tomado como uma vasta                        representação do mundo que incidem diretamente
coleção de imagens aleatórias, que são combinadas                     sobre a cultura e as múltiplas formas de consciên-
de múltiplas formas a partir do presente. Essa pre-                   cia social, com o esgotamento de cânones até então
sentificação do passado e do futuro funda um discur-                  estabelecidos e a transição para novas modalidades
so “esquizofrênico” sobre a história. Assim, não por                  de racionalidade e novos padrões artístico-culturais
acaso, no pós-modernismo, as categorias espaciais                     e ideológicos. Essas são as matrizes a partir das quais
substituem as categorias temporais, cuja dominân-                     pode ser pensada criticamente a modernidade e a
cia são uma das maiores características do moder-                     atual condição pós-moderna.
nismo. Surge, também, uma nova experiência do                               As ambigüidades características do pós-mo-
espaço, em que a configuração de um hiperespaço,                      dernismo derivam, em larga medida, da semelhan-
com a constituição de redes mundiais de comuni-                       ça com que reproduz o movimento social da forma
cação, possibilitadas pela descoberta e difusão das                   mercadoria. A lógica mercantil é “transgressiva,
novas tecnologias informacionais, transcende a an-                    promíscua, polimorfa” em sua “paixão niveladora”
terior capacidade de localização pelo indivíduo e tor-                pela troca entre mercadorias. A forma mercadoria
nam evidentes as dificuldades de representação do                     “continuamente nivela e iguala identidades para po-
real pelas atuais categorias mentais. Isso terá como                  der permutá-las de novos fantasticamente novos”.
rebatimento estético, o desaparecimento do sujeito                    A forma mercadoria tende a destruir as identida-
como produtor artístico-cultural autêntico e origi-                   des distintivas, pois “transforma a realidade social
nal e o fim da busca por um estilo pessoal. Emer-                     numa selva de espelhos, cada objeto contemplando
ge, enfim, uma nova sensibilidade, marcada pela                       especularmente no outro a essência abstrata de si
intensidade emocional, que celebra o advento do                       mesmo”. Com indiferença olímpica, são esmaecidas
pastiche – colagem de estilos passados – como nova                    as divisões de classe, sexo, raça, alto e baixo, passado
solução estética descompromissada com qualquer                        e presente. A mercadoria “aparece como uma força


                                        Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006
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anárquica e iconoclasta, que zomba das classifica-              [espírito do tempo] correspondente à chamada glo-
ções obsessivas da cultura tradicional, mesmo que               balização. O pós-modernismo opera como uma in-
[...] dependa delas para assegurar condições estáveis           terface cultural que possui uma afinidade estrutural
para suas próprias operações” (EAGLETON, 1993,                  com a hegemonia neoliberal na economia e na polí-
p. 270).                                                        tica do capitalismo mundializado (EVANGELISTA,
       Para Eagleton, um dos traços mais marcantes              2001b; HARVEY, 1993).
das sociedades capitalistas avançadas estaria no fato
de serem “tanto libertárias como autoritárias, tanto            CONCLUSÃO
hedonistas como repressoras, tanto múltiplas como                     A análise das transformações sistêmicas ocor-
monolíticas”. A lógica do mercado e do consumismo               ridas nas sociedades contemporâneas exige uma
necessita “de prazer e pluralidade, do efêmero e des-           abordagem analítica que vá além das aparências
contínuo, de uma grande rede descentrada de desejo              imediatas. A magnitude das mudanças societárias,
da qual os indivíduos surgem como meros reflexos                expressas nos múltiplos fenômenos emergentes já
passageiros” (EAGLETON, 1998, p.127-128). Não                   referidos, não caracterizam, contudo, uma ruptura
pode prescindir da coexistência de duas formas dis-             histórica radical com a modernidade capitalista e a
tintas de subjetivação. De um lado, o sujeito centra-           instauração de uma nova lógica de estruturação e
do e autônomo significa uma necessidade ideológica              reprodução social. Essas mudanças sociais, que se
em termos éticos, jurídicos e políticos na cultura tra-         desdobram nos interstícios da cotidianidade con-
dicional, representando o “ideal oficial do sistema”.           temporânea, são o resultado da generalização e do
Por outro, o império da mídia e dos shoppings centers           aprofundamento da lógica de produção de merca-
criam um modo de vida baseado na pluralidade, no                dorias e de acumulação de capital que adquiriu uma
desejo, na fragmentação. A vigência do capitalismo              inédita dimensão mundializada. A reestruturação
tardio supõe a proliferação de um sujeito pós-mo-               produtiva e o padrão flexível de acumulação capi-
derno, constituído como uma “rede difusa de laços               talista encontraram sua mimese superestrutural no
libidinais passageiros”, dotado de uma subjetivida-             pós-modernismo e no neoliberalismo. Essas rede-
de fugidia e polissêmica o suficiente para atender              finições estruturais são os elementos constitutivos
aos chamamentos do hedonismo e do consumo (EA-                  de um novo bloco histórico mundial (GRAMSCI,
GLETON, 1993, p. 272).                                          2000), com implicações na economia, na política e
       O reconhecimento da mediação necessária do               na cultura das sociedades contemporâneas.
mercado é o ponto de convergência mais evidente                       No capitalismo contemporâneo, a cultura é
entre o pós-modernismo e outras modalidades do                  submetida plenamente ao movimento do capital e
pensamento conservador contemporâneo. Suas rela-                à reprodução capitalista, constituindo-se em lugar
ções não são fortuitas. O pós-modernismo mantém                 estratégico de expansão da produção de mercadorias
uma relação ontológica com o mercado, constituin-               e de acumulação capitalista, com a hipostasia das
do uma forma de consciência social que lhe é perfei-            repercussões do fenômeno da reificação, que tam-
tamente funcional. Corresponde à lógica cultural do             bém ocupa a esfera da cultura e generaliza os seus
sistema capitalista contemporâneo cuja objetivação              efeitos sobre os signos e as imagens que se objetivam
assumiu as feições de uma rede mundialmente des-                na nossa vida cotidiana. O pós-modernismo, assim,
centrada e fragmentada que dificulta a sua adequa-              não pode ser adequadamente analisado se aborda-
da representação mental. A aceitação celebratória               do como simples epifenômeno passageiro ou como
da lógica do mercado e dos seus efeitos sociocultu-             mero modismo intelectual com farta difusão midiá-
rais indica que o pós-modernismo e o neoliberalismo             tica. O pós-modernismo, nunca é demais reafirmar,
são componentes importantes do mesmo Zeitgeist


                                  Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006
Teoria social e pós-modernismo: a resposta do marxismo aos enigmas teóricos contemporâneos
                                                                                                                       279

exprime a lógica cultural adquirida pelo capitalismo                        A postura celebratória e/ou apologética do ad-
contemporâneo (JAMESON, 1996).                                        vento da pós-modernidade apenas torna-se possí-
      O pós-modernismo é a expressão cultural de                      vel se forem ignorados os fenômenos sociais, com
uma nova sensibilidade que produziu uma nova                          suas respectivas categorias intelectivas, derivados
agenda intelectual, que não pode ser ignorada. O                      e distintivos do sistema capitalista de produção de
moderno pensamento crítico-radical tematizou e                        mercadorias, tais como a valorização do capital, a
denunciou muitas formas de dominação e de explo-                      exploração capitalista do trabalho, a reprodução ca-
ração trazidas com o desenvolvimento da sociedade                     pitalista ampliada, o fetichismo da mercadoria e rei-
capitalista. Todavia, o pós-modernismo, apesar de                     ficação. Essa é a condição para não compreender e
todos os impasses políticos e ideológicos derivados                   decifrar a cultura e a sociabilidade contemporânea,
de sua transgressão de caráter conformista, pode ser                  em que efetivamente ocorre a inversão nas relações
um excelente ponto de partida para se pensar os li-                   e nas conexões entre o signo e o referente e entre o
mites e as insuficiências do pensamento tradicional                   significante e o significado, produzindo a autono-
da esquerda socialista e revolucionária. Os proble-                   mização dos signos e, posteriormente, dos signifi-
mas relacionados às diferenças e/ou aos modos de                      cantes. Só assim a realidade pode ser subsumida à
opressão de gênero, sexo e raça, além das questões                    imagem, que aparentemente assume o estatuto de
ambientais, não podem mais ser ignorados. Essas                       elemento fundante de todo o real. Tal prestidigi-
novas problemáticas podem e devem ser incorpora-                      tação intelectual explica a representação teórica da
das à crítica da exploração e da dominação capita-                    vida social, da cultura e da política como um mun-
lista, propiciando uma oportunidade histórica para                    do governado por simulacros que instauram a pura
catalizar e impulsionar as novas formas de contes-                    especularidade e espectralidade (BAUDRILLARD,
tação e protesto social numa perspectiva emancipa-                    1996; HARVEY, 1992).
tória e igualitária (EAGLETON, 1998; WOOD;                                  O confronto teórico com o pensamento pós-
FOSTER, 1999; WOOD, 2003).                                            moderno propiciou ao marxismo pensar a realidade
      A fragmentação, a efemeridade e a indeter-                      contemporânea a partir de uma perspectiva inte-
minação, propostas e/ou aceitas como premissas                        lectual que combina a análise crítica da cultura e
teóricas pelo pensamento pós-moderno, são a ma-                       a crítica da economia política. Para refletir sobre a
nifestação fenomênica da aparência necessária do ser                  desafiadora centralidade da cultura nas sociedades
social do capitalismo mundializado contemporâneo.                     capitalistas desenvolvidas e no sistema capitalista
Com a mundialização do capitalismo, a forma mer-                      globalizado, foi imprescindível a recuperação inova-
cadoria e a lógica capitalista ganharam uma univer-                   dora das idéias formuladas por Marx que rompes-
salidade nunca vista. Esse desenvolvimento recente                    se com o reducionismo e com o economicismo. As
do capitalismo contemporâneo acarreta a radicaliza-                   novas problemáticas que emergiram socialmente
ção dos efeitos da reificação sobre as relações sociais               fizeram despertar o interesse por autores marxis-
entre os seres humanos, nas suas instituições sociais                 tas, como Lukács e Gramsci, que sempre fizeram
e nas suas experiências cotidianas, com óbvias impli-                 da cultura uma temática fundamental no conjun-
cações e conseqüências em suas formas de represen-                    to das suas principais preocupações teóricas e polí-
tação social. Assim, a compreensão da natureza dos                    ticas. Esses rearranjos societários estão também na
fenômenos socioculturais contemporâneos não pode                      origem da revitalização do prestígio dos mais desta-
prescindir do aporte marxista que reitera uma angu-                   cados intelectuais da chamada Escola de Frankfurt,
lação teórica assentada na ontologia materialista do                  como Adorno, Horkheimer e Marcuse, que tiveram
ser social e na perspectiva da totalidade (LUKÁCS,                    nas idéias marxianas uma das suas motivações semi-
1974; KOSIK, 1976; EVANGELISTA, 2002).


                                        Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006
João Emanuel Evangelista
280

nais para a renovação teórica do pensamento crítico                EVANGELISTA, João E. Política e cultura pós-moderna:
ocidental.                                                         um estudo dos cadernos culturais do Jornal Folha de São Paulo.
                                                                   Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) – Universidade
      Numa angulação teórica similar, as reflexões
                                                                   de São Paulo. Programa de Pós-Graduação da Escola de
de autores marxistas contemporâneas, tais como,                    Comunicações e Artes, São Paulo, 2000.
dentre outros, Jameson, Harvey, Eagleton e Wood,
devolveram ao marxismo a condição de fonte inspi-                  ______. Elementos para uma Crítica da Cultura Pós-moderna.
radora, entre vertentes políticas e ideológicas diver-             Revista Novos Rumos, São Paulo, ano 15, n. 34, 2001.
sas, para as forças sociais e políticas empenhadas na
                                                                   ______. Neoliberalismo e pós-modernismo: algumas rela-
luta contra a exploração capitalista e pela emancipa-              ções nem sempre óbvias. In: GICO, Vania de Vasconcelos;
ção humana. Apesar de ainda vivermos sob os efeitos                LINDOSO, José Antonio Spinelli; COSTA SOBRINHO,
da última longa hegemonia conservadora, o marxis-                  Pedro Vicente (Org.). As ciências sociais: desafios do milê-
mo apresenta-se como um incontornável e necessá-                   nio. Natal: EDUFRN, 2001. p. 718-733.
rio ponto de partida para a realização de uma crítica
                                                                   FEATHERSTONE, Mike. Para uma sociologia da cultura pós-
teórica da cultura pós-moderna e da emergência da
                                                                   moderna. Revista Brasileira de Ciências Sociais, ano 9, n.
“pós-modernidade” nas sociedades contemporâneas,                   25, p.12, jun. 1994.
recuperando sua potencialidade heurística de expli-
car criticamente e propor caminhos de superação                    HARVEY, David. A condição pós-moderna: uma pesqui-
das atuais formas de manifestação e estruturação do                sa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Edições
                                                                   Loyola, 1992.
sistema capitalista mundial.
                                                                   ______. Reestruturação capitalista e socialismo. Revista
REFERÊNCIAS                                                        Novos Rumos, São Paulo, ano 8, n. 21, p. 9, 1993.

ANDERSON, Perry. As origens da pós-modernidade. Rio                GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere: Maquiavel.
de Janeiro: J. Zahar , 1999.                                       Notas sobre o Estado e a Política. Volume 3. Rio de Janeiro:
                                                                   Civilização Brasileira, 2000.
BAUDRILLARD, Jean. A troca simbólica e a morte. São
Paulo: Edições Loyola, 1996.                                       JAMESON, Fredric. Periodizando os Anos 60. In: HOLANDA,
                                                                   Heloísa B. de (Org.). Pós-modernismo e política. 2. ed. Rio
CALLINICOS, Alex. Contra o post-modernismo: uma críti-             de Janeiro: Rocco, 1992.
ca marxista. Santiago de Compostela: Laiovento, 1995.
                                                                   JAMESON, Fredric. Pós-modernismo: a lógica cultural do
CANCLINI, Nestor García. Culturas híbridas: estratégias            capitalismo tardio. São Paulo: Ática, 1996.
para entrar e sair da modernidade. 2. ed. São Paulo: EDUSP,
1998. (Ensaios Latino-americanos).                                 KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 2. ed. Rio de Janeiro:
                                                                   Paz e Terra, 1976.
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em rede. In: ______. A era
da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz       LUKÁCS, G. História e consciência de classe: estudos de
e Terra, 1999. v.1.                                                dialéctica marxista. Porto: Publicação Escorpião, 1974.

EAGLETON, Terry. A ideologia da estética. Rio de Janeiro:          LYOTARD, Jean-François. O Pós-moderno. 4. ed. Rio de
J. Zahar, 1993.                                                    Janeiro: J. Olympio, 1993.

______. As ilusões do pós-modernismo. Rio de Janeiro: J.           ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. 2. ed. São Paulo:
Zahar, 1998.                                                       Brasiliense, 1996.

EVANGELISTA, João E. Crise do marxismo e irracionalis-
mo pós-moderno. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2002.



                                     Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006

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  • 1. Teoria social e pós-modernismo: a resposta do marxismo aos enigmas teóricos contemporâneos 271 Teoria social e pós-modernismo: a resposta do marxismo aos enigmas teóricos contemporâneos João Emanuel Evangelista – UFRN RESUMO AS MUDANÇAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS As sociedades capitalistas passaram por uma grande Nas últimas décadas, muito se tem debatido transformação sistêmica nas últimas décadas que afeta- sobre as mudanças sofridas pelas sociedades capita- ram sua economia, sua política e sua cultura, redefinin- listas modernas no mundo ocidental. A partir dos do os processos sociais que configuram a vida cotidiana. A reestruturação produtiva e os novos padrões flexíveis anos 1960, foram-se acumulando evidências de alte- de acumulação foram mimetizados em suas formas supe- rações significativas na sociabilidade dos indivíduos restruturais no neoliberalismo e no pós-modernismo. A que viviam, sobretudo, nos grandes centros urba- teoria social tornou-se um campo de investigações ino- nos das sociedades capitalistas desenvolvidas. Em vadoras em busca de explicações para uma variada gama grande medida, tais fenômenos eram os efeitos mais de fenômenos sociais resultantes dessas transformações imediatos da onda longa expansiva que o capitalis- societárias. Na contracorrente das formas intelectuais mo vivera depois da Segunda Guerra Mundial. Nos hegemônicas, o marxismo experimentou uma surpreen- anos 1950, depois da reconstrução do mundo oci- dente renovação teórica, recuperando seu lugar proemi- nente na crítica social ao discutir essas transformações do dental com plano Marshall, as populações dos países sistema capitalista contemporâneo. capitalistas industrializados (EUA, Europa e Japão) experimentaram um crescimento extraordinário no Palavras-chave: Teoria social. Capitalismo contemporâ- neo. Pós-modernismo. Marxismo. seu padrão de vida cotidiana. O processo de urbani- zação acelerado trouxe a difusão de novos hábitos de ABSTRACT consumo e novos valores socioculturais foram ado- tados e difundidos socialmente. Esse foi o cenário Capitalist societies have undergone deep and systemic que fez surgir os movimentos de contestação social changes in the last decades. These changes have affec- ted their economies, politics and culture, re-defining the às formas de poder vigentes e aos valores morais há social processes which embody the daily life. The pro- muito estabelecidos, representados por movimentos ductive restructuring and the new flexible accumulation como a contracultura e o feminismo ou as lutas con- patterns have been replicated in their super-structural tra a discriminação racial e contra as guerras impe- forms in liberalism and post-modernism. Social theory rialistas. A culminação desses movimentos e lutas turned out to be a field for innovative researches which progressistas deu-se no final dos anos 1960, cujo try to explain a number of social phenomena resulting of ápice está representado simbolicamente, sobretudo, these societal changes. In opposition to these hegemonic pelos acontecimentos de maio de 1968 na França. intellectual forms, marxism underwent an outstanding theoretical renewal, recovering its prominent place in A crise geral do capitalismo em meados da social criticism as it discusses these changes inside the década de 1970 encerrou a onda longa expansiva contemporary capitalist system. iniciada no pós-guerra. Os anos 1970 vivenciaram, Keywords: Social theory. Contemporary capitalism. Post- ao mesmo tempo, o refluxo dos movimentos sociais modernism. Marxism. contestatórios e a ofensiva do capital para criar me- Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006
  • 2. João Emanuel Evangelista 272 canismos que propiciassem novas possibilidades de A isso se acrescentou, nos anos 1980, a crise valorização e reprodução ampliadas para o capital. do chamado socialismo real, comandado pela antiga Dois fatos foram da maior significação para a con- União Soviética, que não mais conseguia garantir o figuração do capitalismo mundial nos anos seguin- abastecimento de alimentos e bens de consumo às tes. De um lado, empresas japonesas introduziram suas populações. Numa tentativa derradeira, bus- inovações na organização do processo de trabalho cou-se a reforma política e econômica do socialis- fabril, com a flexibilização do modelo taylorista-for- mo soviético. A restauração das liberdades políticas, dista e a adoção daquilo que se tornou conhecido ao contrário de levar à reestruturação produtiva do como toyotismo, substituindo as formas despóticas sistema soviético, conduziu à contestação radical do e rigidamente hierarquizadas adotadas na produção sistema político pelas massas populares, lideradas industrial. Por outro lado, um conjunto de inovações por forças políticas interessadas na implementação tecnológicas, tendo à frente as novas tecnologias in- de uma economia de mercado capitalista. formacionais que possibilitaram a incorporação de Assim, estavam criadas as condições propícias comandos digitais nos sistemas de máquinas indus- para que os ideólogos conservadores pudessem de- triais. Essas novas tecnologias permitiram também monstrar a inviabilidade prática da intervenção es- uma verdadeira revolução nos processos comuni- tatal na economia. A crise do Estado de Bem-Estar cacionais, com a constituição de redes de satélites Social no Ocidente e a crise do socialismo real com- conectadas mundialmente, que tornaram possível a provavam, ao mesmo tempo, a inadequação e os comunicação em tempo real em qualquer parte do efeitos perniciosos que a intervenção do Estado po- nosso planeta. A conjunção dessas transformações deria provocar na organização do sistema de produ- tecnológicas ao processo produtivo garantiu as con- ção e satisfação de necessidades humanas. Os fatos dições técnicas para a retomada, em novas bases, do pareciam revelar o fracasso das experiências de regu- movimento da acumulação capitalista em âmbito lação estatal numa economia capitalista de mercado mundial. e das tentativas de construção do socialismo como No plano político e ideológico, vieram somar- alternativa societária superior. Estavam criadas as se novos ingredientes à ofensiva do capital. A eclo- condições para a hegemonia do pensamento úni- são da crise geral do capitalismo nos anos 1970 co através da sacralização do mercado a ser imposta apresentava as características clássicas das crises de na esteira do processo de mundialização capitalista. superprodução do sistema capitalista. A retração das A ofensiva ideológica contra toda e qualquer inge- atividades econômicas, as dificuldades financeiras de rência do Estado nas relações entre capital e traba- muitas empresas, o desemprego dos trabalhadores, lho no processo de produção de mercadorias visava a o ressurgimento do fenômeno inflacionário, dentre implementação de um suposto Estado mínimo. Em outros aspectos, levaram a uma profunda crise fiscal sua essência, pretendia-se um Estado mínimo para do Estado de Bem-Estar Social vigente nos países os trabalhadores e um Estado máximo para o capital capitalistas desenvolvidos (ANDERSON, 1995). A (PAULO NETTO, 1993). experiência de conjugar a ampliação da democracia Esse conjunto de transformações ocorridas nas e dos direitos sociais com crescimento econômico últimas décadas passou a ser conhecido pelos termos continuado nas sociedades capitalistas, através do globalização e neoliberalismo. Na verdade, esses Estado de Bem-Estar Social, passou a ser o alvo pre- fenômenos constituem os aspectos mais visíveis de ferencial da crítica dos ideólogos mais conservadores uma transformação sistêmica na estruturação do do capital como algo a ser definitivamente banido capitalismo contemporâneo, que configuram o sur- como alternativa política e econômica. gimento de um novo bloco histórico (GRAMSCI, 2000). A partir dos anos 1980, a vocação histórica Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006
  • 3. Teoria social e pós-modernismo: a resposta do marxismo aos enigmas teóricos contemporâneos 273 do sistema de produção de mercadorias expandir a lavam em caráter permanente fluxos de informação sua lógica em escala mundial tornou-se, pela pri- e de capital, instaurando-se uma nova percepção da meira vez na história moderna, uma realidade con- relação espaço-tempo. Na modernidade, até então, creta. Sob a ação política dos organismos financeiros o tempo subordinara o espaço. A contemporaneida- internacionais, foram criadas novas áreas e fronteiras de, contudo, impôs a inversão dessas relações com a para o processo de valorização do capital, através da supremacia da espacialidade sobre a temporalidade. flexibilização dos direitos sociais, da mercadificação Tais mutações nas relações espaço-tempo levaram a dos serviços públicos, da privatização de empresas drásticas alterações nas formas do homem contem- estatais e da abertura dos mercados nacionais dos porâneo representar o mundo, a si mesmo e a sua países periféricos à movimentação de capitais e ser- inserção sócio-histórica. Ao lado disso, a cultura so- viços provenientes dos países capitalistas centrais. freu um processo de ampliação da sua ambiência, As mudanças não ficaram circunscritas às esfe- objetivando-se de fato como uma segunda natureza: ras política e socioeconômica. Poucas vezes em sua a tudo recobre e deixa a sua marca. história, as sociedades modernas sofreram transfor- A mundialização do capitalismo fez-se acom- mações tão rápidas e profundas. Em situações de panhar por forças antinômicas de largo espectro, normalidade histórica, geralmente os vetores da que se manifestam, simultaneamente, como ten- permanência sobrepõem-se aos vetores da mudança dências centrífugas e centrípetas em processos de ou há um relativo equilíbrio entre ambos. As trans- homogeneização e heterogeneização, de padroniza- formações em curso levaram a um brusco desequi- ção e segmentação, de globalismo e localismo, de líbrio em favor dos aspectos pertinentes à inovação desterritorialização e reterritorialização etc. A cultu- sociocultural. Não vivemos, todavia, um cenário de ra mundial apresenta-se como um grande e irrepre- revolução social. Muito pelo contrário. As mudan- sentável caleidoscópio (ORTIZ, 1996), ao mesmo ças que se processaram em lógica quase metastática, tempo, fascinante e aterrorizante. Se por um lado é atingindo todas as dimensões da vida social, ocor- evidente a imposição do estilo de vida e da cultura reram dentro de um ambiente político e ideológico americana aos povos de todos os recantos mundiais, profundamente conservador. Com o fim da experi- isso não significa a supressão das manifestações cul- ência do socialismo real, pareceu a muitos que não turais locais. É verdade que cada vez mais pesso- restaria alternativa ao capitalismo vitorioso. Não as ouvem, vêem, vestem, falam, usam e comem as haveria escapatória às idéias ultraliberais hegemôni- mesmas coisas em qualquer parte do mundo. Seria cas e à economia de mercado capitalista. ingenuidade não reconhecer os efeitos perversos da Aos quatro cantos, acumulavam-se também os massificação e padronização ideológica e cultural. indicadores de mudanças na política e na cultura. No entanto, em sentido dialético, vemos a multi- Ao longo da modernidade, as sociedades humanas plicação de novas formas de resistência cultural que foram organizadas em termos dos limites territo- enfatizam o local, o próximo, o tradicional, o eterno. riais do Estado nacional. Agora, essas estruturas so- São muitas também as demonstrações da capacida- ciais foram adquirindo uma nova morfologia social, de de ressignificação dos povos de diferentes matri- sendo recobertas por uma inusitada forma de rede zes étnico-culturais. Algumas modalidades culturais mundial, esboroando as antigas clivagens políticas e dominantes nos centros capitalistas adquirem um culturais1. O mundo assumiu, aos poucos, o formato sentido disruptivo e transgressor na periferia do de um sistema descentrado, através do qual circu- capitalismo. Abundam formas inusitadas de hibri- dização cultural (CANCLINI, 1998). Essa nova 1 Jameson (1996) e Castells (1999) apresentam enfoques diferen- heterogeneidade cultural, como é óbvio, processa- ciados na análise e nas implicações políticas da estrutura da so- se sob os influxos dos mecanismos tradicionais do ciedade contemporânea como uma rede mundial descentrada. Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006
  • 4. João Emanuel Evangelista 274 poder político e da dominação de classe, vigentes Por fim, o pós-modernismo requer, como compo- historicamente nas sociedades burguesas modernas, nente político fundamental, um sentimento de de- que assumem novas e complexas mediações. salento, de impotência e de apatia coletivos, frutos em geral de uma derrota estratégica das forças po- O NOVO PARADIGMA PÓS-MODERNO líticas e ideológicas empenhadas em transformações Essas transformações incidiram diretamente sociais radicais. sobre as formas através das quais os homens sentiam O pós-modernismo pode se manifestar como e representavam para si mesmos o mundo existente. cultura pós-moderna e/ou como pensamento pós- Há uma sensação cada vez mais disseminada de ir- moderno. A cultura pós-moderna surge como uma realidade, de vazio e de confusão. A razão humana é reação crítica ao alto modernismo que, depois da desafiada pelo avanço de processos “imateriais” e pela II Guerra Mundial, tornara-se o cânone cultural e constituição de novas esferas de existência virtuais, passara a representar o establishment em termos de que se sobrepõem à realidade objetiva. A velocidade arte, literatura e arquitetura nas sociedades ociden- dos fluxos de imagens e informações e o processo de tais. Na efervescência dos anos 1960, a contracul- desterritorialização que lhes acompanham abalam tura criou o ambiente para a recusa dos valores da os mecanismos cognitivos, axiológicos e estéticos de- racionalidade técnico-burocrática e científica então senvolvidos pela modernidade no Ocidente. Houve hegemônica que inspiravam a crença no progresso uma alteração brusca nas relações espaço-temporais histórico linear, em verdades absolutas e nas poten- que sustentam as formas de representação estética cialidades do planejamento racional dos processos e apreensão lógica da realidade (HARVEY, 1992). sociais e da produção material. No primeiro mo- Tudo parece sofrer a influência da efemeridade, da mento, em meados da década de 70, o pós-moder- fragmentação, da indeterminação, da descontinui- nismo surgiu como uma contestação à monotonia dade, do ecletismo e da heterogeneidade. estilística predominante no International Style da ar- O pós-modernismo é a expressão mais típica quitetura moderna. dessa sensibilidade emergente e afirma-se como um A multiplicação de novas práticas culturais novo padrão cultural dominante nas sociedades do será, a posteriori, objeto de uma reflexão filosófica capitalismo tardio. Seu florescer exige a existência pouco sistemática que terá no ensaísmo o seu forma- de uma indústria cultural desenvolvida, tendo à to privilegiado. O questionamento do autoritarismo frente os meios eletrônicos audiovisuais, responsá- das estruturas hierárquicas e dos valores da cultura veis pela midiatização da cultura (THOMPSON, tradicional ensejou uma nova política de esquerda, 1995). Tem como sua base societária um significa- dirigida para a crítica das relações de dominação que tivo contingente de novos intermediários culturais, infestavam a vida cotidiana. A revolta artística, polí- dotados de formação cultural e / ou profissional tica e cultural voltou-se contra o modernismo estéti- universitária, que estejam inseridos no circuito da co e as formas dominantes do pensamento moderno. produção e consumo de bens culturais – como a mí- A contracultura e a contestação dos movimentos so- dia, a publicidade, a moda, o design, e profissões de ciais do final dos anos 1960 foram os precursores aconselhamento, terapêuticas e educacionais (FEA- políticos e culturais do pós-modernismo (HARVEY, THERSTONE, 1994). Depende também da difu- 1992). são de novas tecnologias de comunicação e novas Um impulso iconoclasta, talvez um último formas de produção cultural baseadas na simulação resquício vanguardista, anima o pensamento pós- de imagens e na telemática, que erodem o sentido moderno. Recusa as denominadas metanarrativas de orientação e localização e modificam a capacida- do pensamento moderno, que se afirmavam como de de representação e discernimento dos indivíduos. modelos explicativos totalizantes de aplicação e va- Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006
  • 5. Teoria social e pós-modernismo: a resposta do marxismo aos enigmas teóricos contemporâneos 275 lidade universais. Insurge-se contra o que chamam rentes e implicariam alteridade em termos políticos, os valores absolutos e os fundamentos metafísicos da étnicos e sexuais (EVANGELISTA, 2001b). modernidade. Relativiza a razão moderna em suas promessas emancipatórias e desconstrói as suas an- A REVIVESCÊNCIA DA CRÍTICA MARXISTA2 tinomias, relevando-lhe suas limitações e cegueiras Apesar da algaravia em torno do pós-moderno, positivistas, deterministas e etnocêntricas. A ciên- é possível detectar algo em comum aos seus maio- cia é tida como uma simples narrativa entre outras res expoentes na literatura, na arquitetura e na filo- tantas igualmente legítimas, num cenário em que sofia. A recusa genérica da metanarrativas esconde predomina a agonística dos jogos de linguagem. Põe o real adversário dos pensadores pós-modernos. O à prova categorias, até então universalmente acei- alvo da crítica pós-moderna é, em última análise, tas, que são distintivas do pensamento moderno e o marxismo e a esquerda socialista (ANDERSON, dariam suporte às pretensões cognitivas de uma ra- 1999). Por exemplo, Ihab Hassan insurge-se con- zão onipotente. Subverte as certezas que embalam a tra a “raiva ideológica” e a “prepotência dos dog- ciência moderna e afirma o relativismo como valor máticos” dos críticos marxistas em sua submissão ao cultural e epistemologia. A busca de causas explica- “jugo de ferro da ideologia”, ao “determinismo so- tivas é substituída pela descrição tópica feita através cial” e ao preconceito e desconfiança em relação ao de relatos de fenômenos particulares. A intuição ga- “prazer estético”. Advoga, ainda, que termos como nha primazia sobre a racionalidade, atribuindo-se à esquerda e direita, base e superestrutura, produção arte o estatuto de paradigma de representação do e reprodução, materialismo e idealismo, perderam real. Difunde suspeitas sobre a existência de iden- qualquer significação e são “quase inúteis”. Por sua tidades fixas e de sujeitos monádicos, portadores vez, Robert Venturi e Charles Jencks irão recusar o de alguma vocação redentora previamente definida caráter progressista, revolucionário, utópico e pu- (LYOTARD, 1993; EVANGELISTA, 2001b). rista da “arquitetura ortodoxa moderna”, em seu O pós-modernismo busca legitimar-se através questionamento das condições vigentes na socieda- da rejeição das formas intelectuais modernas, em de capitalista. De modo mais direto, Jencks festeja o que algumas categorias – tais como sujeito, razão, pós-moderno em sua tolerância pluralística e abun- ciência, verdade, história, etc. – ocupam uma posi- dante num contexto sócio-histórico em que perdera ção axial. O impulso contestador pós-moderno põe sentido polaridades como “esquerda e direita”, “ca- na berlinda a razão e a ciência modernas, em suas pitalista e classe operária”, pois não mais havia “ini- pretensões de produzir um conhecimento verdadei- migo a derrotar”. ro sobre a realidade que poderia ser apropriado pelo Essas tendências ganharão nitidez paradigmá- homem, como sujeito individual e/ou coletivo, e diri- tica em Lyotard (1993). A sua trajetória política e gido contra todas as modalidades de exploração, do- intelectual é marcada por um anticomunismo persis- minação e tutela que impedem a sua emancipação, tente. Lyotard está convencido que o pós-moderno abrindo a possibilidade de objetivação de uma orga- é a expressão cultural do surgimento da sociedade nização social racional na história. A desconstrução pós-industrial, na qual o conhecimento tornou-se a do pensamento moderno revela que tais categorias principal força produtiva. O proletariado integrou- não passariam de construtos sociais. A ciência cons- se ao capitalismo e perdeu a condição de agente re- tituiria apenas uma narrativa, entre tantas outras volucionário. A economia política deveria dar lugar existentes e igualmente legítimas, que está subordi- à economia libidinal, que explicaria porque a própria nada a uma lógica de dominação ocidental, elidindo modos e práticas socioculturais que lhes são concor- 2 As idéias aqui apresentadas são uma síntese da análise desen- volvida em Evangelista (2000). Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006
  • 6. João Emanuel Evangelista 276 exploração era desejada e sofrida com gozo erótico passou a ser uma referência obrigatória na aborda- pelos operários industriais. Não é possível superar gem do pós-modernismo. Favorecido pelo distan- o capitalismo, resultado de um processo de seleção ciamento temporal, Harvey (1992) coligiu a análise natural de comutação de formas de energia, que an- mais sistemática das mutações em curso nas socieda- tecede a própria vida humana. Diante das denúncias des capitalistas desenvolvidas, articulando os novos sobre o Gulag, ficaria evidente que o socialismo é arranjos socioculturais às transformações tecnológi- idêntico ao capitalismo. Revela-se a verdadeira “me- cas que sustentam um novo padrão de acumulação tanarrativa” que cabe recusar: o marxismo e o socia- na história do capitalismo. E, por fim, as análises lismo clássico (ANDERSON, 1999). do crítico inglês Eagleton (1998) sobre as ambi- O campo pós-moderno demonstra, assim, uma güidades do pós-modernismo são de grande valia inusitada coerência ideológica: “Não podia haver na apreensão desse fenômeno – ao mesmo tempo, nada mais que o capitalismo. O pós-moderno foi transgressor em termos culturais e conservador em uma sentença contra as ilusões alternativas” (AN- termos econômicos – em todas as suas complexas DERSON, 1999, p. 54). Oblitera-se que o triun- dimensões. De alvo preferencial das críticas teóricas fo neoliberal nos anos 1980, longe de destruir as do pós-modernismo, o marxismo demonstrou vita- “grandes narrativas”, significou que “pela primeira lidade intelectual suficiente para virar a mesa. Assu- vez na história o mundo caía sob o domínio da mais miu o pós-modernismo como objeto da sua reflexão grandiosa de todas” (ANDERSON, 1999, p. 39) – a crítica, tomando-o como o ponto arquimediano para grande narrativa do pensamento único e da vitória pensar a contemporaneidade capitalista. global do mercado. Em instigante abordagem teórica que supera Como objeto implícito das críticas pós-moder- certos limites da análise frankfurtiana da indústria nas, o marxismo abandonou a posição inicial de saco cultural, mesmo tendo-a como premissa, Jame- de pancadas teóricas e ideológicas e retomou a sua son (1996) destaca-se intelectualmente no cenário tradição crítica. Em chave interpretativa radicalmen- contemporâneo por considerar o pós-modernismo te diversa, o marxismo revelou-se um instrumental como a lógica cultural do capitalismo avançado heurístico altamente percuciente das transforma- ou tardio. A produção cultural foi assimilada pela ções societárias contemporâneas. Surpreendendo produção de mercadorias em geral, na qual a ino- aos obituaristas ideológicos de plantão, o marxismo vação e a experimentação estéticas passaram a ter mostrou que ainda é capaz de propiciar, a despeito uma função estrutural essencial diante da necessi- das inelutáveis tendências fragmentadoras do capi- dade frenética de produzir uma infinidade de no- talismo tardio, uma análise teórica abrangente das vos bens com uma aparência cada vez mais nova. A mudanças socioculturais que dominaram o cenário cultura, mais do que nunca, passou a ser uma esfera mundial nas duas últimas décadas, ao mesmo tem- central do processo de reprodução social, invadin- po em que municia as armas da crítica política e cul- do e recobrindo todos os espaços da sociabilidade. tural da ordem capitalista triunfante. Tal é o que se Na condição pós-moderna, houve a transformação pode depreender da produção teórica de intelectuais da cultura em economia e da economia em cultu- marxistas3 como o crítico norte-americano Jameson ra. As antigas fronteiras existentes entre a produção (1996), cuja intervenção no debate internacional econômica e a vida cultural desapareceram (EVAN- GELISTA, 2001a). 3 Cabe registrar a contribuição de outros autores para a crítica A expansão do capital não somente “atingiu” do pós-modernismo, em particular ver os lúcidos argumentos de Callinicos (1995) quanto à avaliação hiperbólica dos traços a dimensão cultural, mas as imagens, as represen- definidores da contemporaneidade e ao contexto de decadên- tações e as formas culturais se tornaram uma área cia ideológica experimentados pelos próceres da contracultura e de atuação fundamental do mercado capitalista. Os dos movimentos de contestação do final dos anos 1960. Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006
  • 7. Teoria social e pós-modernismo: a resposta do marxismo aos enigmas teóricos contemporâneos 277 componentes da esfera cultural foram convertidos perspectiva de crítica radical e de transformação da plenamente em mercadorias. Com a expansão das ordem societária (JAMESON, 1996; EVANGELIS- novas tecnologias informacionais, a produção e a TA, 2001a). circulação de informação passaram a ser uma das Por sua vez, Harvey (1992) encara as mudan- mercadorias mais importantes no capitalismo tardio ças culturais contemporâneas como o resultado de ou multinacional. Assim, os conflitos e as contradi- um complexo processo de transformações na estru- ções, antes relacionados principalmente à produção turação das sociedades capitalistas. As crises cícli- material, espalham-se e invadem também a produ- cas do modo de produção capitalista desencadeiam ção cultural. E tudo isso se faz acompanhar de uma revoluções científico-tecnológicas que ensejam mo- profunda mudança nos hábitos e atitudes de con- dificações fundamentais no sistema produtivo e per- sumo e nas relações intersubjetivas que ocorrem no mitem a retomada em novas bases da acumulação mundo cotidiano (JAMESON, 1996; EVANGELIS- de capital. A incorporação dessas inovações tecnoló- TA, 2001a). gicas ao sistema de produção de mercadorias acar- Jameson (1996) define alguns traços constitu- reta uma redução do tempo de rotação do capital e tivos que são peculiares à cultura pós-moderna. O a necessidade de expansão geográfica da lógica ca- pós-modernismo inaugura uma nova superficiali- pitalista. Disso resulta a compressão na relação es- dade, na qual o mundo objetivo é convertido em paço-tempo, proveniente da simultânea aceleração um conjunto de textos e simulacros e as coisas são do tempo e redução do espaço nas novas condições reduzidas à imagem de suas superfícies externas. criadas pela reestruturação sistêmica do capitalismo. Há, também, um enfraquecimento da historici- Surgem, então, novas formas de sensibilidade e de dade, em que o passado é tomado como uma vasta representação do mundo que incidem diretamente coleção de imagens aleatórias, que são combinadas sobre a cultura e as múltiplas formas de consciên- de múltiplas formas a partir do presente. Essa pre- cia social, com o esgotamento de cânones até então sentificação do passado e do futuro funda um discur- estabelecidos e a transição para novas modalidades so “esquizofrênico” sobre a história. Assim, não por de racionalidade e novos padrões artístico-culturais acaso, no pós-modernismo, as categorias espaciais e ideológicos. Essas são as matrizes a partir das quais substituem as categorias temporais, cuja dominân- pode ser pensada criticamente a modernidade e a cia são uma das maiores características do moder- atual condição pós-moderna. nismo. Surge, também, uma nova experiência do As ambigüidades características do pós-mo- espaço, em que a configuração de um hiperespaço, dernismo derivam, em larga medida, da semelhan- com a constituição de redes mundiais de comuni- ça com que reproduz o movimento social da forma cação, possibilitadas pela descoberta e difusão das mercadoria. A lógica mercantil é “transgressiva, novas tecnologias informacionais, transcende a an- promíscua, polimorfa” em sua “paixão niveladora” terior capacidade de localização pelo indivíduo e tor- pela troca entre mercadorias. A forma mercadoria nam evidentes as dificuldades de representação do “continuamente nivela e iguala identidades para po- real pelas atuais categorias mentais. Isso terá como der permutá-las de novos fantasticamente novos”. rebatimento estético, o desaparecimento do sujeito A forma mercadoria tende a destruir as identida- como produtor artístico-cultural autêntico e origi- des distintivas, pois “transforma a realidade social nal e o fim da busca por um estilo pessoal. Emer- numa selva de espelhos, cada objeto contemplando ge, enfim, uma nova sensibilidade, marcada pela especularmente no outro a essência abstrata de si intensidade emocional, que celebra o advento do mesmo”. Com indiferença olímpica, são esmaecidas pastiche – colagem de estilos passados – como nova as divisões de classe, sexo, raça, alto e baixo, passado solução estética descompromissada com qualquer e presente. A mercadoria “aparece como uma força Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006
  • 8. João Emanuel Evangelista 278 anárquica e iconoclasta, que zomba das classifica- [espírito do tempo] correspondente à chamada glo- ções obsessivas da cultura tradicional, mesmo que balização. O pós-modernismo opera como uma in- [...] dependa delas para assegurar condições estáveis terface cultural que possui uma afinidade estrutural para suas próprias operações” (EAGLETON, 1993, com a hegemonia neoliberal na economia e na polí- p. 270). tica do capitalismo mundializado (EVANGELISTA, Para Eagleton, um dos traços mais marcantes 2001b; HARVEY, 1993). das sociedades capitalistas avançadas estaria no fato de serem “tanto libertárias como autoritárias, tanto CONCLUSÃO hedonistas como repressoras, tanto múltiplas como A análise das transformações sistêmicas ocor- monolíticas”. A lógica do mercado e do consumismo ridas nas sociedades contemporâneas exige uma necessita “de prazer e pluralidade, do efêmero e des- abordagem analítica que vá além das aparências contínuo, de uma grande rede descentrada de desejo imediatas. A magnitude das mudanças societárias, da qual os indivíduos surgem como meros reflexos expressas nos múltiplos fenômenos emergentes já passageiros” (EAGLETON, 1998, p.127-128). Não referidos, não caracterizam, contudo, uma ruptura pode prescindir da coexistência de duas formas dis- histórica radical com a modernidade capitalista e a tintas de subjetivação. De um lado, o sujeito centra- instauração de uma nova lógica de estruturação e do e autônomo significa uma necessidade ideológica reprodução social. Essas mudanças sociais, que se em termos éticos, jurídicos e políticos na cultura tra- desdobram nos interstícios da cotidianidade con- dicional, representando o “ideal oficial do sistema”. temporânea, são o resultado da generalização e do Por outro, o império da mídia e dos shoppings centers aprofundamento da lógica de produção de merca- criam um modo de vida baseado na pluralidade, no dorias e de acumulação de capital que adquiriu uma desejo, na fragmentação. A vigência do capitalismo inédita dimensão mundializada. A reestruturação tardio supõe a proliferação de um sujeito pós-mo- produtiva e o padrão flexível de acumulação capi- derno, constituído como uma “rede difusa de laços talista encontraram sua mimese superestrutural no libidinais passageiros”, dotado de uma subjetivida- pós-modernismo e no neoliberalismo. Essas rede- de fugidia e polissêmica o suficiente para atender finições estruturais são os elementos constitutivos aos chamamentos do hedonismo e do consumo (EA- de um novo bloco histórico mundial (GRAMSCI, GLETON, 1993, p. 272). 2000), com implicações na economia, na política e O reconhecimento da mediação necessária do na cultura das sociedades contemporâneas. mercado é o ponto de convergência mais evidente No capitalismo contemporâneo, a cultura é entre o pós-modernismo e outras modalidades do submetida plenamente ao movimento do capital e pensamento conservador contemporâneo. Suas rela- à reprodução capitalista, constituindo-se em lugar ções não são fortuitas. O pós-modernismo mantém estratégico de expansão da produção de mercadorias uma relação ontológica com o mercado, constituin- e de acumulação capitalista, com a hipostasia das do uma forma de consciência social que lhe é perfei- repercussões do fenômeno da reificação, que tam- tamente funcional. Corresponde à lógica cultural do bém ocupa a esfera da cultura e generaliza os seus sistema capitalista contemporâneo cuja objetivação efeitos sobre os signos e as imagens que se objetivam assumiu as feições de uma rede mundialmente des- na nossa vida cotidiana. O pós-modernismo, assim, centrada e fragmentada que dificulta a sua adequa- não pode ser adequadamente analisado se aborda- da representação mental. A aceitação celebratória do como simples epifenômeno passageiro ou como da lógica do mercado e dos seus efeitos sociocultu- mero modismo intelectual com farta difusão midiá- rais indica que o pós-modernismo e o neoliberalismo tica. O pós-modernismo, nunca é demais reafirmar, são componentes importantes do mesmo Zeitgeist Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006
  • 9. Teoria social e pós-modernismo: a resposta do marxismo aos enigmas teóricos contemporâneos 279 exprime a lógica cultural adquirida pelo capitalismo A postura celebratória e/ou apologética do ad- contemporâneo (JAMESON, 1996). vento da pós-modernidade apenas torna-se possí- O pós-modernismo é a expressão cultural de vel se forem ignorados os fenômenos sociais, com uma nova sensibilidade que produziu uma nova suas respectivas categorias intelectivas, derivados agenda intelectual, que não pode ser ignorada. O e distintivos do sistema capitalista de produção de moderno pensamento crítico-radical tematizou e mercadorias, tais como a valorização do capital, a denunciou muitas formas de dominação e de explo- exploração capitalista do trabalho, a reprodução ca- ração trazidas com o desenvolvimento da sociedade pitalista ampliada, o fetichismo da mercadoria e rei- capitalista. Todavia, o pós-modernismo, apesar de ficação. Essa é a condição para não compreender e todos os impasses políticos e ideológicos derivados decifrar a cultura e a sociabilidade contemporânea, de sua transgressão de caráter conformista, pode ser em que efetivamente ocorre a inversão nas relações um excelente ponto de partida para se pensar os li- e nas conexões entre o signo e o referente e entre o mites e as insuficiências do pensamento tradicional significante e o significado, produzindo a autono- da esquerda socialista e revolucionária. Os proble- mização dos signos e, posteriormente, dos signifi- mas relacionados às diferenças e/ou aos modos de cantes. Só assim a realidade pode ser subsumida à opressão de gênero, sexo e raça, além das questões imagem, que aparentemente assume o estatuto de ambientais, não podem mais ser ignorados. Essas elemento fundante de todo o real. Tal prestidigi- novas problemáticas podem e devem ser incorpora- tação intelectual explica a representação teórica da das à crítica da exploração e da dominação capita- vida social, da cultura e da política como um mun- lista, propiciando uma oportunidade histórica para do governado por simulacros que instauram a pura catalizar e impulsionar as novas formas de contes- especularidade e espectralidade (BAUDRILLARD, tação e protesto social numa perspectiva emancipa- 1996; HARVEY, 1992). tória e igualitária (EAGLETON, 1998; WOOD; O confronto teórico com o pensamento pós- FOSTER, 1999; WOOD, 2003). moderno propiciou ao marxismo pensar a realidade A fragmentação, a efemeridade e a indeter- contemporânea a partir de uma perspectiva inte- minação, propostas e/ou aceitas como premissas lectual que combina a análise crítica da cultura e teóricas pelo pensamento pós-moderno, são a ma- a crítica da economia política. Para refletir sobre a nifestação fenomênica da aparência necessária do ser desafiadora centralidade da cultura nas sociedades social do capitalismo mundializado contemporâneo. capitalistas desenvolvidas e no sistema capitalista Com a mundialização do capitalismo, a forma mer- globalizado, foi imprescindível a recuperação inova- cadoria e a lógica capitalista ganharam uma univer- dora das idéias formuladas por Marx que rompes- salidade nunca vista. Esse desenvolvimento recente se com o reducionismo e com o economicismo. As do capitalismo contemporâneo acarreta a radicaliza- novas problemáticas que emergiram socialmente ção dos efeitos da reificação sobre as relações sociais fizeram despertar o interesse por autores marxis- entre os seres humanos, nas suas instituições sociais tas, como Lukács e Gramsci, que sempre fizeram e nas suas experiências cotidianas, com óbvias impli- da cultura uma temática fundamental no conjun- cações e conseqüências em suas formas de represen- to das suas principais preocupações teóricas e polí- tação social. Assim, a compreensão da natureza dos ticas. Esses rearranjos societários estão também na fenômenos socioculturais contemporâneos não pode origem da revitalização do prestígio dos mais desta- prescindir do aporte marxista que reitera uma angu- cados intelectuais da chamada Escola de Frankfurt, lação teórica assentada na ontologia materialista do como Adorno, Horkheimer e Marcuse, que tiveram ser social e na perspectiva da totalidade (LUKÁCS, nas idéias marxianas uma das suas motivações semi- 1974; KOSIK, 1976; EVANGELISTA, 2002). Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006
  • 10. João Emanuel Evangelista 280 nais para a renovação teórica do pensamento crítico EVANGELISTA, João E. Política e cultura pós-moderna: ocidental. um estudo dos cadernos culturais do Jornal Folha de São Paulo. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) – Universidade Numa angulação teórica similar, as reflexões de São Paulo. Programa de Pós-Graduação da Escola de de autores marxistas contemporâneas, tais como, Comunicações e Artes, São Paulo, 2000. dentre outros, Jameson, Harvey, Eagleton e Wood, devolveram ao marxismo a condição de fonte inspi- ______. Elementos para uma Crítica da Cultura Pós-moderna. radora, entre vertentes políticas e ideológicas diver- Revista Novos Rumos, São Paulo, ano 15, n. 34, 2001. sas, para as forças sociais e políticas empenhadas na ______. Neoliberalismo e pós-modernismo: algumas rela- luta contra a exploração capitalista e pela emancipa- ções nem sempre óbvias. In: GICO, Vania de Vasconcelos; ção humana. Apesar de ainda vivermos sob os efeitos LINDOSO, José Antonio Spinelli; COSTA SOBRINHO, da última longa hegemonia conservadora, o marxis- Pedro Vicente (Org.). As ciências sociais: desafios do milê- mo apresenta-se como um incontornável e necessá- nio. Natal: EDUFRN, 2001. p. 718-733. rio ponto de partida para a realização de uma crítica FEATHERSTONE, Mike. Para uma sociologia da cultura pós- teórica da cultura pós-moderna e da emergência da moderna. Revista Brasileira de Ciências Sociais, ano 9, n. “pós-modernidade” nas sociedades contemporâneas, 25, p.12, jun. 1994. recuperando sua potencialidade heurística de expli- car criticamente e propor caminhos de superação HARVEY, David. A condição pós-moderna: uma pesqui- das atuais formas de manifestação e estruturação do sa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Edições Loyola, 1992. sistema capitalista mundial. ______. Reestruturação capitalista e socialismo. Revista REFERÊNCIAS Novos Rumos, São Paulo, ano 8, n. 21, p. 9, 1993. ANDERSON, Perry. As origens da pós-modernidade. Rio GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere: Maquiavel. de Janeiro: J. Zahar , 1999. Notas sobre o Estado e a Política. Volume 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. BAUDRILLARD, Jean. A troca simbólica e a morte. São Paulo: Edições Loyola, 1996. JAMESON, Fredric. Periodizando os Anos 60. In: HOLANDA, Heloísa B. de (Org.). Pós-modernismo e política. 2. ed. Rio CALLINICOS, Alex. Contra o post-modernismo: uma críti- de Janeiro: Rocco, 1992. ca marxista. Santiago de Compostela: Laiovento, 1995. JAMESON, Fredric. Pós-modernismo: a lógica cultural do CANCLINI, Nestor García. Culturas híbridas: estratégias capitalismo tardio. São Paulo: Ática, 1996. para entrar e sair da modernidade. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 1998. (Ensaios Latino-americanos). KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em rede. In: ______. A era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz LUKÁCS, G. História e consciência de classe: estudos de e Terra, 1999. v.1. dialéctica marxista. Porto: Publicação Escorpião, 1974. EAGLETON, Terry. A ideologia da estética. Rio de Janeiro: LYOTARD, Jean-François. O Pós-moderno. 4. ed. Rio de J. Zahar, 1993. Janeiro: J. Olympio, 1993. ______. As ilusões do pós-modernismo. Rio de Janeiro: J. ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. 2. ed. São Paulo: Zahar, 1998. Brasiliense, 1996. EVANGELISTA, João E. Crise do marxismo e irracionalis- mo pós-moderno. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2002. Cronos, Natal-RN, v. 7, n. 2, p. 271-281, jul./dez. 2006