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21.05.2006 00:00
Impresso do site do jornal Correio da Manhã, em www.cmjornal.pt
Estados têm de pagar a factura
No passado domingo a Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA) fez trinta anos. Formada por iniciativa
espontânea dos militares deficientados, a esmagadora maioria deles grandes deficientes, durante o período da Guerra
Colonial. Esta associação não governamental tem um intuito de que não prescinde: defender os direitos dos
combatentes que voltam das contendas com máculas irreversíveis.
Foto Tiago Sousa Dias
Com 12 delegações e vários núcleos, a ADFA encontra­se implantada em
todo o território nacional, e também em Moçambique.
Artur Vilares, vice­presidente, homem frontal que não poupa a gramática
para glorificar a memória dos semideuses da pátria. Filho de
transmontanos, nascido, em 1958, na sua inesquecível Angola, seria
gravemente ferido em Tancos, em 1979, durante um exercício. Uma
granada arrancou­lhe um terço da perna direita. O estilhaço, não contente
com a bruta pontaria, ainda lhe causou fracturas múltiplas na perna
esquerda e deixou­o com audição reduzida.
Começou por fazer uma pequena reabilitação no Hospital da Força Aérea,
mas a regeneração física, à séria, fê­la no Hospital Militar em Hamburgo,
cuja fama soberba, pela vasta experiência em traumatismo de guerra, data
da II Guerra Mundial. Em 1981 entrou nessa unidade hospitalar de cadeira
de rodas e, passados sete meses, saiu a andar.A moderna oficina de
próteses fez, em sete meses, o milagre.Ainda, no ano seguinte, voltou à
Alemanha por mais três meses, para sarar uma inflamação grave na perna.
Foi nesses corredores de vida nova que encontrou Jorge Maurício, o
segundo Presidente da ADFA.
É nessa altura que Artur Vilares começa a colaborar e a participar nas
actividades da associação. Em 1989, ingressa na direcção da ADFA, que, na
altura, ainda era sediada no Palácio da Independência. Em 1993, a sede
muda­se para a Avenida Padre Cruz, em Lisboa – um edifício construído e
preparado para receber, tratar e melhorar o quotidiano de quem deu a
alma por um País e ficou com o corpo magoado.
­ Ainda só duas semanas tinham passado do 25 de Abril de 1974, e já a
ADFA estava instituída. Desde essa altura até hoje, mantiveram os vossos
objectivos?
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Estomatologia.Também dispomos de actividades culturais, desportivas. O
nosso jornal,‘Elo’, é um excelente meio para nos mantermos próximos e
actuais.Ainda recentemente, fizemos um acordo com a Galp – um serviço
que veio melhorar a condição do deficiente automobilista. Um condutor,
por exemplo, que seja paraplégico, pode ir a uma bomba e usufruir desta
facilidade: acciona um botão, e, automaticamente, um alarme avisará o
funcionário que deverá abastecer­lhe gasolina e/ou outros artigos.
­ O Estado português subsidia de alguma forma a ADFA?
­ Recebemos um subsídio anual do Ministério da Defesa Nacional, que só
nos é dado em função do relatório de contas. Esta contribuição tem como
base os serviços que prestamos aos deficientes e que mais nenhuma
estrutura nacional pode fazer.
­ Existe alguma razão para que nem todos os deficientes da Guerra
Colonial sejam vossos associados?
­ Há pessoas que acham que somos uma associação demasiado
reivindicativa. E quem reivindica, infelizmente, tem tendência a ser
“bombardeado”.
­ Não será por razões políticas?
­ Afirmo, categoricamente, que a política e a religião nunca entraram pela
nossa porta e nunca foram causas para existirem quezílias. Somos 14 mil e
800 sócios com várias militâncias e credos religiosos, e, sem qualquer
excepção, convivemos em absoluta harmonia.
­ Colaboram com organizações congéneres dos Países Africanos de Língua
Oficial Portuguesa (PALOP)?
­ Não só cooperamos activamente, como apoiamos o seu de­
senvolvimento, disponibilizando apoio técnico para implementação de
projectos de reabilitação e reintegração social de deficientes. Para
exemplo da colaboração, realço a realização, em 1990, da 1.ª conferência
de Antigos Combatentes de Portugal,Angola, Moçambique e Guiné­
Bissau, que abriu os novos caminhos da solidariedade, da paz e da
cooperação entre os nossos países.
­ AADFA já por diversas vezes demonstrou a sua discordância pelo facto
de o Lar Militar estar sob a administração da Cruz Vermelha Portuguesa.
Porquê?
­ Sempre nos pareceu que o Lar Militar (que é uma das infra­estruturas
das Forças Armadas) devia ser gerido por uma instituição militar. E
continuamos a pensar que seria melhor que ele fosse administrado por
forças militares e não pela Cruz Vermelha Portuguesa (CVP). Para além de
outras razões, parece­nos sensato que, quando um país como o nosso tem
actividade militar no exterior, como por exemplo na Bósnia,Timor e Iraque,
que haja um lugar que possa servir de retaguarda, no caso de acontecer
uma catástrofe, e uma casa que seja capaz de receber e cuidar de homens
que combateram e ficaram deficientes por uma causa: Portugal.
­ Quer dizer que, em vosso entender, o referido lar não corresponde às
expectativas?
­ O Lar Militar é exactamente o oposto do projecto que em 1989/1990 a
ADFA apresentou ao Ministério da Defesa. Logo para começar, não devia
ter a administração exclusiva da CVP.Achamos que a ADFA devia
participar dessa gestão.
­ E porquê?
­ Nós temos uma grande experiência na área da reabilitação física e, até,
vocacional. Não conhecemos nenhuma infra­estrutura deste tipo que seja
gerida pela Cruz Vermelha e, neste caso, mal gerida. Estou convencido,
embora possa existir boa vontade de o fazer, que a CVP não tem‘know
how’para dirigir um estabelecimento militar. E, como em tudo na vida,
deve­se perguntar às pessoas que conhecem os problemas. E nós
conhecemos.AADFA está cá para ajudar e sempre que a CVP nos solicitou,
a nossa ajuda nunca falhou.Aliás, desde os finais de 2000, três camaradas
da ADFA fazem voluntariado no Lar Militar e apontam coisas incorrectas.
­ Quer ser mais explícito?
­ O facto de não existir apoio médico/psicológico, da inexistência de um
Urologista – especialidade essencial aos paraplégicos, de não haver um
médico psiquiatra. São coisas fundamentais! Quando entro no lar tenho
dificuldade em permanecer no local, porque a camaradagem que temos
com aqueles homens toca­me ao sentimento. Não sou capaz de explicar o
que sinto quando lá vou. Há quem ainda diga: mas ninguém se suicidou.
Mas a deficiência vai­nos matando.Vamos perdendo a nossa auto­estima
e ficamos sozinhos. Só se apercebe desta tragédia quem conhece.
­ Quem e porquê recusa a vossa participação?
­ Não tenho dúvida que a Cruz Vermelha não quer partilhar a gerência com
outros parceiros. Desconheço o motivo. Enquanto ela não tiver a
sensibilidade mais apurada para estes casos de reabilitação, enquanto o
Ministério da Defesa não resolver este problema, será difícil sairmos daqui.
Mas, estamos convencidos que o actual ministro da Defesa, Dr. Luís
Amado, que tem uma humanidade extraordinária, resolverá da melhor
maneira este caso.
­ Ainda não nos disse qual é a vossa alternativa.
­ Pretendemos que o Lar Militar seja uma residência permanente para os
grandes deficientes das Forças Armadas, mas que tenha condições para
receber pessoas com necessidades especiais e que precisam de
acompanhamento contínuo. E sem excepções: tetraplégicos, paraplégicos,
cegos, amputados, etc. Ofertar­lhes actividades de carácter social,
desportivo e um acompanhamento médico mais pormenorizado. Criar
uma oficina de próteses e dar a devida assistência de treino, tal como
existe no Centro de Reabilitação Profissional de Gaia, que a ADFA criou,
juntamente com o Instituto de Emprego e Formação Profissional e a Cerci­
Gaia. É um local extraordinário para apoiar e fortalecer os deficientes.
­ O País está preparado para cadeiras de rodas ou para cegos?
­ A nível físico persistem muitas barreiras. E culturais também. Se
houvesse uma catástrofe, imagina­se o pandemónio que seria a falta de
solidariedade entre as pessoas! Nós, como associação, travamos uma
batalha para que tudo isto, no mínimo, melhore.
­ Portugal podia fazer mais pelos deficientes das Forças Armadas?
­ Os políticos podiam ter feito muito mais. Mas ainda vão a tempo. Os
Estados têm que perceber que quando se metem numa guerra têm que
pagar.A Guerra Colonial não bombardeou nenhum edifício em Portugal,
mas deixou marcas muito profundas nos homens.
­ O Museu da Guerra Colonial, na vossa delegação de Famalicão, é uma
forma de não pôr a história na gaveta?
­ Sem dúvida. Uma das nossas finalidades é perpetuar e honrar todos
aqueles soldados que perderam parte de si em defesa de Portugal.
QUESTIONÁRIO DE DOMINGO
Um País... Portugal
Uma pessoa... Mário Soares
Um livro...‘O Quinto Cavaleiro do Apocalipse’
Uma música...Todas as de Martinho da Vila
Um lema... Honra­se a Pátria de tal gente
Um clube... Futebol Clube do Porto
Um prato... Cozido à Portuguesa
Um filme...‘Casablanca’
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  • 2. podem usufruir dos nossos serviços. ­ Que são quais? ­ Consultadoria jurídica.Temos uma clínica médica que engloba várias especialidades: Psiquiatria, Psicologia, Clínica Geral, Urologia, Fisiatria, Estomatologia.Também dispomos de actividades culturais, desportivas. O nosso jornal,‘Elo’, é um excelente meio para nos mantermos próximos e actuais.Ainda recentemente, fizemos um acordo com a Galp – um serviço que veio melhorar a condição do deficiente automobilista. Um condutor, por exemplo, que seja paraplégico, pode ir a uma bomba e usufruir desta facilidade: acciona um botão, e, automaticamente, um alarme avisará o funcionário que deverá abastecer­lhe gasolina e/ou outros artigos. ­ O Estado português subsidia de alguma forma a ADFA? ­ Recebemos um subsídio anual do Ministério da Defesa Nacional, que só nos é dado em função do relatório de contas. Esta contribuição tem como base os serviços que prestamos aos deficientes e que mais nenhuma estrutura nacional pode fazer. ­ Existe alguma razão para que nem todos os deficientes da Guerra Colonial sejam vossos associados? ­ Há pessoas que acham que somos uma associação demasiado reivindicativa. E quem reivindica, infelizmente, tem tendência a ser “bombardeado”. ­ Não será por razões políticas? ­ Afirmo, categoricamente, que a política e a religião nunca entraram pela nossa porta e nunca foram causas para existirem quezílias. Somos 14 mil e 800 sócios com várias militâncias e credos religiosos, e, sem qualquer excepção, convivemos em absoluta harmonia. ­ Colaboram com organizações congéneres dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP)? ­ Não só cooperamos activamente, como apoiamos o seu de­ senvolvimento, disponibilizando apoio técnico para implementação de projectos de reabilitação e reintegração social de deficientes. Para exemplo da colaboração, realço a realização, em 1990, da 1.ª conferência de Antigos Combatentes de Portugal,Angola, Moçambique e Guiné­ Bissau, que abriu os novos caminhos da solidariedade, da paz e da cooperação entre os nossos países. ­ AADFA já por diversas vezes demonstrou a sua discordância pelo facto de o Lar Militar estar sob a administração da Cruz Vermelha Portuguesa. Porquê? ­ Sempre nos pareceu que o Lar Militar (que é uma das infra­estruturas das Forças Armadas) devia ser gerido por uma instituição militar. E continuamos a pensar que seria melhor que ele fosse administrado por forças militares e não pela Cruz Vermelha Portuguesa (CVP). Para além de outras razões, parece­nos sensato que, quando um país como o nosso tem actividade militar no exterior, como por exemplo na Bósnia,Timor e Iraque, que haja um lugar que possa servir de retaguarda, no caso de acontecer uma catástrofe, e uma casa que seja capaz de receber e cuidar de homens que combateram e ficaram deficientes por uma causa: Portugal. ­ Quer dizer que, em vosso entender, o referido lar não corresponde às expectativas? ­ O Lar Militar é exactamente o oposto do projecto que em 1989/1990 a ADFA apresentou ao Ministério da Defesa. Logo para começar, não devia ter a administração exclusiva da CVP.Achamos que a ADFA devia
  • 3. participar dessa gestão. ­ E porquê? ­ Nós temos uma grande experiência na área da reabilitação física e, até, vocacional. Não conhecemos nenhuma infra­estrutura deste tipo que seja gerida pela Cruz Vermelha e, neste caso, mal gerida. Estou convencido, embora possa existir boa vontade de o fazer, que a CVP não tem‘know how’para dirigir um estabelecimento militar. E, como em tudo na vida, deve­se perguntar às pessoas que conhecem os problemas. E nós conhecemos.AADFA está cá para ajudar e sempre que a CVP nos solicitou, a nossa ajuda nunca falhou.Aliás, desde os finais de 2000, três camaradas da ADFA fazem voluntariado no Lar Militar e apontam coisas incorrectas. ­ Quer ser mais explícito? ­ O facto de não existir apoio médico/psicológico, da inexistência de um Urologista – especialidade essencial aos paraplégicos, de não haver um médico psiquiatra. São coisas fundamentais! Quando entro no lar tenho dificuldade em permanecer no local, porque a camaradagem que temos com aqueles homens toca­me ao sentimento. Não sou capaz de explicar o que sinto quando lá vou. Há quem ainda diga: mas ninguém se suicidou. Mas a deficiência vai­nos matando.Vamos perdendo a nossa auto­estima e ficamos sozinhos. Só se apercebe desta tragédia quem conhece. ­ Quem e porquê recusa a vossa participação? ­ Não tenho dúvida que a Cruz Vermelha não quer partilhar a gerência com outros parceiros. Desconheço o motivo. Enquanto ela não tiver a sensibilidade mais apurada para estes casos de reabilitação, enquanto o Ministério da Defesa não resolver este problema, será difícil sairmos daqui. Mas, estamos convencidos que o actual ministro da Defesa, Dr. Luís Amado, que tem uma humanidade extraordinária, resolverá da melhor maneira este caso. ­ Ainda não nos disse qual é a vossa alternativa. ­ Pretendemos que o Lar Militar seja uma residência permanente para os grandes deficientes das Forças Armadas, mas que tenha condições para receber pessoas com necessidades especiais e que precisam de acompanhamento contínuo. E sem excepções: tetraplégicos, paraplégicos, cegos, amputados, etc. Ofertar­lhes actividades de carácter social, desportivo e um acompanhamento médico mais pormenorizado. Criar uma oficina de próteses e dar a devida assistência de treino, tal como existe no Centro de Reabilitação Profissional de Gaia, que a ADFA criou, juntamente com o Instituto de Emprego e Formação Profissional e a Cerci­ Gaia. É um local extraordinário para apoiar e fortalecer os deficientes. ­ O País está preparado para cadeiras de rodas ou para cegos? ­ A nível físico persistem muitas barreiras. E culturais também. Se houvesse uma catástrofe, imagina­se o pandemónio que seria a falta de solidariedade entre as pessoas! Nós, como associação, travamos uma batalha para que tudo isto, no mínimo, melhore. ­ Portugal podia fazer mais pelos deficientes das Forças Armadas? ­ Os políticos podiam ter feito muito mais. Mas ainda vão a tempo. Os Estados têm que perceber que quando se metem numa guerra têm que pagar.A Guerra Colonial não bombardeou nenhum edifício em Portugal, mas deixou marcas muito profundas nos homens. ­ O Museu da Guerra Colonial, na vossa delegação de Famalicão, é uma forma de não pôr a história na gaveta? ­ Sem dúvida. Uma das nossas finalidades é perpetuar e honrar todos
  • 4. aqueles soldados que perderam parte de si em defesa de Portugal. QUESTIONÁRIO DE DOMINGO Um País... Portugal Uma pessoa... Mário Soares Um livro...‘O Quinto Cavaleiro do Apocalipse’ Uma música...Todas as de Martinho da Vila Um lema... Honra­se a Pátria de tal gente Um clube... Futebol Clube do Porto Um prato... Cozido à Portuguesa Um filme...‘Casablanca’ Não deixe de nos seguir no Facebook.