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FILOSOFIA, CAPITALISMO E FORMAÇÃO SOCIAL.
                                                                                                               Texto descrito por Fernando Rasnheski1,
                                                                                                           Novembro de 2010, Cefapro de Matupá – MT.
                                                                                                                            (e-mail: filfrk@hotmail.com)

                                                                             “Quando se fala de ideias que revolucionam a sociedade inteira nada mais
                                                                             se expressa do que o simples fato de que se processa, no âmbito da velha
                                                                             sociedade, a gestão dos elementos de uma nova”.
                                                                                                                                              (Marx)


        Dialogando no contexto da atualidade, sinalizado por uma complexidade contraditória, onde a força que
predomina é da ínfima classe dominante. Neste padrão global, para início de conversa, Fiorelo Picoli, destaca que:
                                           “A fome reflete o nível de degradação de uma sociedade e transforma a humanidade em objeto de
                                       dominação global. Esta dá origem à marginalização social e econômica dos indivíduos através das
                                       imposições e do controle, também como leva a exclusão generalizada em cadeia das classes oprimidas e
                                       dependentes. Por meio das relações sociais, econômicas, ambientais e morais é possível separar as classes,
                                       porém é no dia-a-dia que se determinam as categorias sociais, e estas provocam os movimentos de poder e de
                                       domínio dos grupos coletivos.
                                           Nesse ínterim, é o adiantado processo de destruição das massas que demonstra as reais condições de um
                                       povo em dado momento evolutivo da história, também como identifica as consequências pela falta de
                                       sincronismo do modelo não igualitário. O sistema capitalista mundial dita e impõem à sociedade as formas de
                                       submissão, de controle e da violência contra a classe oprimida, bem como define as relações e os movimentos
                                       da força de trabalho, mas com o intento de buscar o lucro por meio da exploração”2.
           Feito esta internalização desafiadora, podemos reflexionar ancorado nos pilares filosóficos sobre nossa
pobreza humana de entendimento e reconhecimento enquanto classe ou sujeito de um determinado grupo social. Para
isso, partimos do questionamento filosófico e posteriormente seu envolvimento com a classe social menos favorecida
e expulsa do modelo capitalista predominante enquanto sistema atual.
           Sendo assim, o que é filosofia? Como é o ser humano na atualidade? Como foi sendo reproduzida a imagem
dos filósofos no percurso da história? Qual a formação que permeia o cotidiano dos sujeitos quando ancorados no
domínio do conhecimento vindo da esfera pública? Qual a relação do intelectual de hoje com as classes sociais
oprimidas/excluídas do sistema econômico, social, cultural e político?3
           Para entender pouco mais desse entrelaçamento entre formação filosófica e envolvimento social no contexto
da sociedade dita pós-moderna, o professor de filosofia Rodrigo Dantas4, membro efetivo da Unb, Distrito Federal,
aproximou esse debate a partir do encontro de formação dos movimentos sociais (MST, MPA e CPT) em outubro de
2003, mais especificamente, nos dias 16, 17 e 18, na cidade de Mirantes da Serra, RO, onde se faziam presentes
militantes desses movimentos composto pelos estados de DF, GO, MT, MS e RO 5. Esse texto passa a ser transcrito a
partir de alguns pontos convergentes com que o palestrante Rodrigo Dantas enfatizou. Ou seja, sua palestra está
servindo de base para esse pequeno texto que passo a descrever apesar dos sete anos percorridos depois do encontro.
           Sendo assim, o que é filosofia? Não existe uma única definição. A pergunta é o que nos faz interagir com o
mundo das crianças6 e infiltramos no contingente da filosofia. Tal questionamento que não se esgotou até hoje é o que

1 Professor efetivo na rede estadual de educação, com formação em Filosofia e especialização em “Didática do Ensino Superior”. Atualmente atua como professor
formador no Cefapro de Matupá, MT. O artigo tem grande contribuição daquilo que o palestrante trouxe para a discussão no momento.

2 PICOLI, Fiorelo. Amazônia e o capital: uma abordagem do pensamento hegemônico e do alargamento da fronteira. Sinop: Editora Fiorelo, 2005; p.127.

3 Para uma verificação do intelectual orgânico no contexto de Gramsci, é interessante observar o seguinte texto: SEMERARO, Giovanni. Intelectuais
“Orgânicos” em Tempos de Pós-Modernidade. Revista Cad. Cedes. Campinas: vol. 26, n. 70, pp.373-391, set./dez. 2006 (p.385). Disponível em:
http://www.cedes.unicamp.brn .

4 Rodrigo Dantas, em 2003 era professor de filosofia, membro do quadro de professores da Universidade de Brasília, e como o mesmo havia anunciado ser
simpatizante dos movimentos sociais e colaborador na formação. O grupo de militantes ultrapassava cinquenta pessoas participando da formação.

5 O curso de formação para militantes dos movimentos sociais teve duração de oitenta e sete dias, iniciado no mês de agosto de 2003. Dentre as várias formações,
uma delas estava voltada para o olhar filosófico com a participação do brilhante palestrante Rodrigo Dantas.

6 Indagado pela primeiridade da consciência em Peirce, enquanto consciência em sua totalidade numa ‘presentidade’, Santaella, faz o seguinte questionamento:
“O que é o mundo para uma criança em idade tenra, antes que ela tenha estabelecido quaisquer distinções, ou se tornado consciente de sua própria existência? Isso
é primeiro, presente, imediato, fresco, novo, iniciante, original, espontânea, livre, vívido e evanescente. Mas não se esqueça: qualquer descrição dele deve
necessariamente falseá-lo”. SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2004; p.45 (Coleção Primeiros Passos).

                                                                                                                                                               1
nos faz filósofos e nos diferencia de muitos estudiosos que permeiam os diversos campos do conhecimento
fragmentado no contexto vivencial. Nesse sentido podemos averiguar no percurso de mais de 2.600 anos de história,
desde as vivenciadas por parte dos povos gregos, quando são remetidas questões sobre o cotidiano social, politico,
cultural e econômico de sua comunidade.
          A definição de filosofia parece muito vaga quando partimos apenas das “perguntas”. É o questionar com
uma abrangência que necessariamente não tem uma única resposta conclusiva ou decisiva. Questionar é uma atividade
filosófica, aspirando uma vocação ou afinidade para ir avante onde se descobre novas respostas e surgem novas
perguntas. Num plano filosófico de recuperação da pergunta encontramos expresso no livro O mundo de Sofia:
romance da história da filosofia7, tal que permite uma viaje ao imaginário da indagação proposto pela descoberta das
aventuras juvenis. Claro que o mundo tragado pela proposta da mídia eletrônica televisionada não deixa margem para
questionamento, pois na maioria das vezes acabamos sendo “agentes imediatos” do poder, tal que, os intelectuais, em
sua maioria, “são incapazes de criar uma autocrítica do grupo que representam e de apresentar projeto de alcance
ético-político”, como bem afirma Giovanni Semeraro8, usando da fundamentação de Gramsci.
          Numa proposta filosófica, descreve Aranha, que a filosofia “é mais a atitude de colocar em questão o que
parece para muito indiscutível, seja porque eles têm ‘certeza’, seja porque estão acostumados com aquilo que lhes
parece ‘banal’”9. Problematizar dentro de um processo crítico é o que pretendemos com o conhecimento filosófico
nesse texto, concomitante com uma proposta reflexiva. Isto significa dizer que o papel da filosofia não é querer
explicar a realidade porque compete à ciência, mas buscar compreendê-la. E como reforça a autora, “a compreensão
supõe a busca do sentido das coisas e da vida”10. Num plano mais audacioso, filosofar é desconfiar das próprias
respostas, é pôr-se a pensar.
          Podemos refletir que enquanto a ciência ficou esmiuçando/dividindo11 o conhecimento, no contexto da
modernidade, a filosofia tenta compreender a totalidade. Porém, não podemos acreditar ingenuamente que a filosofia
sempre tivera o papel de libertar o homem enquanto sujeito de determinado contexto, visto que há consentimento de
que muitas vezes se apropriou (e continua) de discursos que satisfaz apenas grupos dominantes. A filosofia é a
vocação da pergunta que não se cala. Sendo assim, é permeada por uma pergunta certa que visualiza o problema de
determinada situação para poder melhor compreender. A totalidade do universo é que faz com que esgotamos algumas
indagações e camuflamos situações indesejáveis e talvez corruptíveis.
          É na brutalidade da vida (da criança com a sociedade ou família) que as perguntas vão se calando. A vocação
da pergunta é uma vocação do saber. E saber, que do grego advinda do sabor, não temos mais tanta certeza na
atualidade por que o ensino é organizado de tal modo que não tem nada de saboroso – não é articulado com a vida que
as pessoas se enturmam e vivenciam. Nas estruturas escolares o saber se resume a conteúdos, mas as crianças nos
mostram que o saber é saboroso a partir das descobertas feitas – o saber se torna sabor com a descoberta. Nas
descobertas as coisas vão se tornando compreensivas e adquirindo mais sabor, quando desvendado, clareado. Assim, o
mundo só pode ser pensado ou visto quando tem alguém para ver, pensar. O mundo nem sempre foi pensado do
mesmo tamanho e até hoje nem todos cabem dentro do projeto de melhoria de vida. Ou seja, para quem está de fato
melhorando?
          A verdade12 é um processo de descobertas para os gregos e outros povos – é ir descobrindo. E vai se
revelando como produção social da humanidade quando houver maior comprometimento daqueles que fazem parte da
classe letrada, visto ser um desafio para a maioria aceitar determinado papel social e de libertação dos oprimidos,
como bem relata Freire em sua vasta bibliografia. É dessa produção social que depende a humanidade, intervém
Marx em seus escritos e atitudes quando organiza o manifesto enquanto luta dos trabalhadores. O que diferencia o ser
humano é a produção da própria vida, é uma produção constante dela mesma e feita de forma social. O conhecimento
é uma produção social, dominado pelo homem. Daí vem o sujeito antropológico13.

7 GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia: romance da história da filosofia. Trad. João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
8 SEMERARO: 2006.

9 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 3 ed. São Paulo: Moderna, 2004; p.20.

10 Ibidem; p.21.

11 Uma proposta audaciosa vem de: ALVES, Rubens. Filosofia da Ciência: Introdução ao jogo e as suas regras. 12ª ed. São Paulo: Loyola, 2007.

12  Do grego: verdade quer dizer alétheia, palavra composta por “a” (do grego, negação) e léthe (do grego, esquecimento). Alétheia significa “o não
esquecimento”; do latim: “verdade se diz veritas e se refere à precisão, ao rigor e à exatidão de um relato, no qual se diz com detalhe, pormenores e fidelidade o
que realmente aconteceu; do hebraico: “verdade se diz emunah e significa ‘confiança’”; CHAUI, Marilena. Filosofia: série Brasil. Volume único. São Paulo:
Ática, 2005 (p.93).

13 Para uma história do ser antropológico, com fundamentação filosófica, dentro do mundo ocidental, ver: LIMA VAZ, Henrique C. de. Antropologia filosófica I.
4ª ed. São Paulo: Loyola, 1991.
                                                                                                                                                                2
Em nossa sociedade costumamos dizer que uma descoberta específica foi de determinado sujeito – a dita
propriedade intelectual14. Na verdade este sujeito só foi o mediador, mas acabou se apropriando do que é de direito da
humanidade15. Então, como defender a ideia de que o produto do conhecimento não é privado? É possível essa
reflexão na atualidade? Quem não permite que façamos essa leitura e o por quê? Destaca Santaella que “se você
receber uma ordem de alguém que tem autoridade sobre você, por respeito ou temor, essa ordem produzirá um
interpretante dinâmico energético, isto é, uma ação concreta e real de obediência, no caso, como resposta ao signo”16.
          Todo conhecimento faz parte de uma produção social porque o mesmo depende do outro. Porém, a estrutura
da sociedade em que vivemos permite a individualização (consciência produzida). A relação, maior ou menor, que
temos com as coisas é a capacidade que temos de transformar. Assim, conhecer é: co-nascer ou nascer com as coisas,
reforça Rodrigo Dantas.

Filosofia e o conhecimento

          Para Platão, o papel da filosofia é problematizar o conhecimento, ou seja, acima de tudo está o
conhecimento perfeito. Claro que o viés platônico ancorado nas bases essencialistas da dualidade existencial do
conhecimento, separando-o em conhecimento ideal (mundo das ideias) e conhecimento sensível (mundo das
sombras)17 na construção da história do conhecimento, busca reforçar alguns enlaces propositais da dupla intenção do
ato de conhecer, separando e conspirando para a dupla intenção, quando caracteriza no aparente, ou seja, o mundo das
sombras, aqui presente e, no verdadeiro, o mundo ideal – dividindo em mundo material e mundo espiritual.
          Mas é com Bacon que fazemos uma crítica mais contundente sobre os ídolos petrificados socialmente. O
mesmo classifica os ídolos em: 1- ídolo da caverna (referencia à caverna descrita por Platão): resulta das opiniões que
se formam em nós em decorrência dos erros e defeitos entendidos a partir dos nossos órgãos dos sentidos; 2- ídolo do
fórum (lugar de discussão pública na antiga Roma): resulta nas opiniões que temos por intermédio da linguagem que
usamos e da relação com os outros; 3- ídolos do teatro (onde somos apenas espectadores): resultado das opiniões
formadas em nós imposta por autoridades e seus poderes através de leis e decretos inquestionáveis; 4- ídolos da tribo
(agrupamento de humanos com a mesma origem, destino, características e comportamentos): o resultado disso são as
opiniões que formam em nós em decorrência da natureza humana. Tais ídolos impedem muitas vezes de conhecermos
a verdade18.
          Para os dois primeiros ídolos serem superados, necessitamos apenas de corrigir nossa proposta intelectual
(corrigir o intelecto). Já para o terceiro ídolo, o do teatro, requer mudança social e política e o quarto, o da tribo,
provoca mudança na própria natureza humana.
          Em Hegel19, na dialética da compreensão, passamos a entender a partir da perfeição das coisas e que existe
um conhecimento por traz de tudo isso (panteísmo ou saber absoluto). Marx20 aborda que o sentido do conhecimento

14 Marx e Engels destacam que “a divisão do trabalho, (...) como uma das principais forças históricas até aqui, expressa-se também no seio da classe dominante
como divisão do trabalho espiritual e material, de tal modo que, no interior dessa classe, uma parte aparece como os pensadores dessa classe (seus ideólogos
ativos, que teorizam e fazem da formação de ilusões que essa classe tem a respeito de si mesma sua principal substância), enquanto os demais se relacionam com
essas ideias e ilusões de forma mais passiva e receptiva, já que são, na realidade, os membros ativos dessa classe e possuem menos tempo para produzir ideias e
ilusões acerca de si. Dentro dessa classe, essa divisão pode mesmo conduzir até certa oposição e hostilidade entre ambas as partes, mas essa hostilidade, entretanto,
desaparece por si mesma logo que surge algum conflito prático capaz de pôr em risco a própria classe, ocasião em que desaparece também a impressão de que as
ideias dominantes não seriam as ideias da classe dominante e possuiriam um poder distinto do poder dessa classe. A existência da ideia revolucionária em um
determinado tempo já supõe a existência de uma classe revolucionária”. MARX & ENGELS. A ideologia alemã. Trad. Frank Müller. São Paulo: Martin Claret,
2007; p.79.

15 Pode ser consultada nesta perspectiva de assumir o patrimônio comum, dentro da agricultura camponesa, a proposta de: GÖRGEN, Frei Sérgio Antônio (ofm).
Os novos desafios da agricultura camponesa. 2ª ed. Caderno da Via Campesina Brasil: 2004. Nesta mesma linha pode ser verificado: GUZMÁN, Eduardo Sevilla
& MOLINA, Manuel G. Sobre a evolução do conceito de campesinato. Trad. Ênio Guterres e Horácio Martins de Carvalho. 3ª ed. São Paulo: Expressão Popular,
2005.

16 SANTAELLA: 2004; p.61.

17 A Teoria do conhecimento clássica de Platão se resume a: 1- mundo das ideias: como imaterial, eterno e imutável, onde estão as ideias verdadeiras que
existem por si só, independentes do pensamento e de todas as coisas materiais, onde estaria a realidade de tudo (mundo das ideias ou luzes narrado no mito da
caverna); O mundo das ideias temos acesso apenas por meio da razão, inspirada na doutrina de Parmênides, onde se encontra o verdadeiro e; 2- mundo sensível:
seria o mundo material que percebemos através dos cinco sentidos (tato, olfato, paladar, audição e visão), sendo um fluxo eterno semelhante à ideia de Heráclito,
em que são meras aparências sempre se transformando, não permitindo chegar ao verdadeiro.

18 Ver em: CHAUI: 2005; p.105.

19 Como destaca FREIRE: “Por que não fenecem as elites dominadoras ao não pensarem com as massas? Exatamente porque estas são o seu contrário
antagônico, a sua ‘razão’, na afirmação de Hegel. Pensar com elas seria a superação de sua contradição. Pensar com elas significaria já não dominar” (p.128). Ver:
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 36ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.

20 MARX & ENGELS. O Manifesto do Partido Comunista. 2ª ed. Trad. de Antônio Carlos Braga. São Paulo: Escala, 2009 (pp.63-69).
                                                                                                                                                                   3
é tornar consciente os sujeitos enquanto seres viventes. É descrever os segredos da vida do proletariado no mundo em
que habita. É tornar consciente o mundo em que as pessoas vivem, é ter poder para transformar. O proletariado
incumbir-se-á de tomar consciência do seu mundo e de transformar em sujeito da história, superando o dogmatismo
alienante. É uma atitude de ação/reflexão/ação, isto é, a verdadeira práxis.21
          A maioria do conhecimento produzido22 acaba sendo uma constante mentira que não permite olhar a si
mesmo no espelho. A verdade só virá quando nos virmos livres da contraditória exploração – ex.: pobre feito para
trabalhar e vendados para não conhecer a verdadeira origem da pobreza. E acabamos compreendendo que na maioria
das vezes nós somos o que nós fazemos. Na conspiração pós-moderna é o espelho de narciso23 olhando para seu
próprio problema sem se dar conta dos outros que estão à mercê padecendo de fome.
          E assim, o que incomoda a maioria dos filósofos não é Deus24, mas as decisões que vão sendo esculpidas
através da definição de Deus: que oprime, mata, reina... São razões que permitem definir de forma que este oprime e
controla a sociedade. Definir Deus no mundo capitalista é colocar num campo de controle da sociedade. Por isso
qualquer definição filosófica de Deus é conspirar contra a própria natureza divina, se é que podemos definir tal
natureza. Este acaba sendo um dos grandes gargalos para construirmos conhecimentos mais sólidos e com relevância
social. Até os sujeitos que dominam o conhecimento do ponto de vista do domínio universitário, acabam na maioria
das vezes reforçando as ideologias, só porque a sociedade em que está situados, o ter está além de o próprio ser. Então,
podemos pensar uma sociedade, no vigente sistema capitalista, que possa reinar o ser 25 em lugar do ter, ou seja, o eu
como parte do outro26?
          Paralelo a isso, a proposta audaciosa da sociologia no mundo europeu em pleno século XIX, com a
efervescência da revolução industrial, vem fortalecer quando entendemos o porquê tanto Durkheim quanto Weber
obtiveram e ainda obtém tanto respaldo com suas teorias, juntamente com o espírito do momento movido pela
estruturação industrial e a concentração das pessoas nas fábricas.

O mundo do trabalho.

         O mundo em que habitamos toda a energia foi organizada para trabalhar e acumular dinheiro, no sistema em
que se encontra a presente sociedade – o capitalismo pós-moderno, se é que assim podemos definir. Assim, a
burguesia valida e sustenta a prática do implante da propriedade privada – intocável por aqueles que só têm apenas a
força de trabalho e validada juridicamente e defendida pela ala militar armado da força estatal – sempre pronta a
defender a propriedade privada, juntamente com decisões jurídicas27. A ideia do capitalista é explorar cada vez mais
com menos gastos para acumular mais28. E acabamos não tendo uma política que governe, mas o dinheiro é que

21 Para uma maior abordagem sobre a práxis, ver: VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Filosofia da práxis. Trad. Maria E. Moya. São Paulo: Expressão Popular, 2007.

22 Destaca Giovanni Semeraro que a maioria dos intelectuais da atualidade está mais para “fiéis cães de guarda” da classe dominante, do que sujeitos com
compromisso ético-político vinculados à classe popular. Ver: SEMERARO (2006).

23 Para uma análise do sujeito individualizado (observe o trocadilho) no contexto da modernidade, ver: SODRÉ, Muniz. Televisão e Psicanálise. São Paulo:
Ática, 1987 (Col. Série Princípio).

24 Interessante destacar a clareza do conceito sobre Deus, quando Freire, em Pedagogia do Oprimido, remete com propriedade destacando da seguinte forma:
“Dentro de um mundo mágico ou místico em que se encontra a consciência oprimida, sobretudo camponesa, quase imersa na natureza, encontra no sofrimento,
produto da exploração em que está, a vontade de Deus, como se Ele fosse o fazedor desta ‘desordem organizada’” (pp.48-49). FREIRE, (2003).


25 “O eu dialógico, pelo contrário, sabe que é exatamente o tu que o constitui. Sabe também que, constituído por um tu – um não-eu –, esse tu que o constitui se
constitui, por sua vez, com eu, ao ter no eu um tu. Desta forma, o eu e o tu passam a ser, na dialética destas relações constitutivas, dois tu que se fazem dois eu”
(pp.165-166) define Paulo Freire, em Pedagogia do Oprimido, ancorado em Martin Buber.

26 Serve de base o seguinte livro: DUSSEL, Enrique. Ética da libertação: na idade da globalização e da exclusão. Trad. de Ephraim F. Alves, Jaime A. Clasen e
Lúcia M. E. Orth. Petrópolis: Vozes, 2000. O autor argumenta da seguinte maneira: “desejo também precisar claramente que, quando me referir nesta obra ao
‘Outro’, sempre e exclusivamente me situarei no nível antropológico” (p.16). E logo em seguida define que “o Outro não será denominado metafórica e
economicamente sob o nome de ‘pobre’. Agora, inspirado e W. Benjamin, o denominarei ‘a vítima’ – noção mais ampla e exata” (p.17). É de grande valia a
indagação de Dussel para entendermos a proposta filosófica da situação de submissão dos países latino-americanos enquanto sujeitos da negação do pensar
centralizado pelos países do centro dominador – europeus e estadunidenses.

27 Dom Tomás Balduíno, com propriedade, luta dentro da Comissão Pastoral da Terra, para divulgar essas forças do estado federativo que estão a serviço da
propriedade privada, constituída pela classe dominante. Um de seus gritos que quase lhe custou à vida e encontra-se relatado na entrevista concedia à Revista
Caros Amigos (ano VIII, n. 96, março de 2005; pp.30-35), onde menciona o preço que custa um defensor da classe oprimida, principalmente os sem terras, custo
este bancado pelo agronegócio e seus aliados. Ver também: POLETTO, Ivo (org.). Uma vida a serviço da humanidade: diálogo com Dom Tomás Balduíno. São
Paulo: Loyola, 2002.

28 Destaca Marx que “o capital nada mais é do que trabalho acumulado ” (p.28) em que o trabalhador “tem de vender-se a si próprio e a sua humanidade” (idem.).
E complementa que “a divisão do trabalho mantém o trabalhador sempre mais dependente do capitalista” (p.29). In: MARX. Manuscritos econômicos-filosóficos.
1ª ed. 3ª reimpressão. Trad. de Jesus Ranieri. São Paulo: Boitempo, 2009.
                                                                                                                                                                  4
governa, principalmente quando a classe política é definida como direita ou centro direita. Entendemos que o sistema
criado pelo capitalismo é insustentável e vai se esgotando no tempo e é incontrolável porque explora ao máximo. O
mesmo desenvolve técnicas para explorar mais com menos custo e elevada extinção do emprego das pessoas.
           Podemos fazer uma reflexão rapidamente sobre dois assuntos que intercalam o poder público. Assim, numa
primeira constatação, verifica-se que tanto os senadores quanto os deputados federais, e assim os demais políticos do
alto escalão, estão ocupando cargos eletivos lá para defender a educação pública. Porém, o que se constata é que os
filhos da maioria deste estudam em escolas particulares. Cabe questionar: será que tais políticos acreditam no que
estão defendendo? Por que seus filhos não estudam em escolas públicas? Outro fator relevante, que podemos nos
questionar é quanto à saúde pública, tal que o próprio governo do estado de MT institui aos funcionários da educação
o pagamento de um plano de saúde, claro que ainda em caráter optativo para tais funcionários. Por que um funcionário
público, para ter garantia de uma saúde de qualidade, deverá pagar um plano particular? É nessa dialética do contrário
divulgada nos escritos de Hegel que não fazemos menção em relatar ou refletir. Para isso se manter, o Estado acaba
controlando as lutas de classes, com o poder bélico militar e ficamos horrorizados com tantos presídios sendo
construídos para prender muitas vezes os trabalhadores que lutam por dias melhores (contra a fome dos filhos,
especialmente). Ou seja, “as cadeias são uma consequência da falta de oportunidade”, argumenta Picoli29.
           Atualmente os cientistas dizem que estamos retirando da natureza 20% a mais todos os dias do que ela é
capar de recuperar. Mas que ideologia está impregnada nesse discurso? De quem é a responsabilidade maior? Ou é
melhor definir que individualmente somos responsáveis e a atitude sempre fica por conta do outro para melhorar? O
que este em jogo mesmo? Porém, o comando do capitalismo continua a oferecer produtos todos os dias e não descreve
tarja de intoxicação contra a devastação da natureza.
           Se fossem apenas cinco ou seis capitalistas que manipulassem o sistema, seria bem mais fácil de substituir. A
lógica que se constrói é a do acesso livre no acúmulo de dinheiro e quem tem um pouco fica pensando o dia todo em
que (ou onde) vai gastar. Fica difícil de dizer que é apenas o capital que controla, mas é a lógica do acúmulo de capital
– é a lógica do egoísmo universal implícita também. Então, destruir o sistema capitalista não é só extirpar com a classe
dominante capitalistas da sociedade. Ou como relata Picoli que “os ricos passam a viver à custa do trabalho dos
pobres, pois estes são as maiorias e estão disponíveis no mercado de trabalho à procura de um burguês que esteja
disponível a explorá-lo e superexplorá-lo”30. E complementa dizendo que “os pobres são uma criatura consciente do
capital”.
           Em pleno século XXI o capitalismo está entrando em um declínio porque não tem mais nada a oferecer31. No
começo do sec. XX e mais da metade, o capitalismo tinha como oferecer melhoria de acordo com as reivindicações
dos grupos organizados – melhores salários, direitos, lazer. Agora o capitalismo começa a expelir e os grupos vão se
organizando contra o sistema – MST, sem teto, sem escola, sem emprego etc. Antes o capitalismo conseguia
incorporar as lutas de classe (melhores salários, maiores direitos, garantias) e agora joga fora seus trabalhadores. É
nesses últimos 20 ou 30 anos que acabou mudando esse quadro – se distanciou a massa dos ideais do socialismo e tal
ideologia que foi sepultada com a queda da Rússia (1989). Com a queda do socialismo ocorreu uma distribuição da
competição dos trabalhadores com os capitalistas. Nem os países ricos de dinheiro tem uma organização que dê conta
de sustentar a maioria da classe trabalhadora. Assim, podemos entender mais claramente o porquê das lutas dos
trabalhadores na maioria dos países europeus e os constantes conflitos nas ruas, as paralizações e outras manifestações
mais cruéis que a mídia eletrônica acaba não veiculando porque não tem interesse.
           O capitalismo ao mesmo tempo em que chegou ao máximo também chegou ao seu limite. E é interessante
observar que os movimentos sociais organizados e alguns partidos de esquerda (MST, MPA, PT, CPT) surgem quando
já não tem mais perspectiva de reavivar o socialismo constituído no leste europeu.
           O capitalismo se tornou exaustivo porque ocupou (e continua) quase todos os pontos do mundo. As
multinacionais só ficam esperando onde as leis trabalhistas são fracas e o Estado coopera em troca de alguns miseres
empregos32. As coisas se tornam evidentes quando as pessoas começam a perceber e isso está cada vez mais claro. O

29 Alerta Fiorelo Picoli que o crime organizado permeia na trama do envolvimento de parte da própria justiça e de algumas instancias do Estado, formando a
estrutura criminal e o envolvimento com os fabricantes de armas e fornecedores de drogas e dos próprios grupos econômicos. A saída da delinquência e da
marginalização, ou seja, para não ser objeto do presídio enquanto carcerário, está na educação de qualidade e oportunidade de melhores empregos aos
trabalhadores. Consultar o livro do autor, já citado, especificamente as pp.137-142.

30 PICOLI: 2005; p.131.

31 O tempo de trabalho para construir socialmente está cada vez mais diminuindo e com isso diminui a força de trabalho. Onde antes tinha 400 empregados, hoje
já não passa de 100. Uma massa de gente está cada vez mais expelida do mundo do trabalho. É o “exército industrial de reserva” no dizer de Marx. Hoje três
homens sozinhos detêm mais que 200 bilhões de dólares (estadunidense), o equivalente ao pib de 48 países mais pobres ou de 600 milhões de pessoas. Assim,
entende-se que os três têm o mesmo valor que as outras seiscentas milhões de pessoas juntas, claro dentro do sistema capitalista que leva simplesmente em
consideração o valor em dinheiro que cada um possui, reforça Dantas.

32 Interessante observar o porquê de alguns frigoríficos estarem fechando em alguns estados brasileiros. É só uma questão de crise financeira ou é porque está
esgotando o tempo de isenção de imposto concedido pela classe política daquele município ou estado??? O que alegam os donos dos frigoríficos na imprensa
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retorno só será possível quando a sociedade e não um “grupinho” de burgueses tomarem as rédeas das decisões
políticas do país, dos Estados e dos municípios33.
           Vivemos sob um único senhor – o capital – e tudo age de acordo com essa lógica (a lógica do dinheiro).
Destrói o mundo – o único poder de contrapor a destruição do planeta é o poder popular com consciência crítica
reflexiva. O capitalismo tem pouca resposta a dar; – as pessoas estão cada vez mais nas ruas através das intervenções
de destruição do planeta. Quantas pessoas foram às ruas só com o ataque dos EUA contra o Iraque? As pessoas estão
cada vez mais conscientes da mudança, mas se não tomar cuidado e atitude, acaba sendo ludibriada novamente e em
nome de um emprego ou contas a pagar, coloca toda sua força do lado da classe dominante, novamente.
           O maior obstáculo que é encontrado nas cidades é que as pessoas não veem outro caminho para a melhoria.
Tornam-se pessimistas e não veem outra saída a não ser a já existente. É o momento de nos indignarmos com a
realidade apresentada. Agora a questão não é se Deus existe ou não, mas se o ser humano existe ou não – a
humanidade acaba sendo um mero suporte do capitalismo. Simplesmente estar aos cuidados da natureza é negação do
que é humanidade e de que forma nós podemos romper com uma força suprema criada: o sistema econômico e
representado pela política atual.
           Somos desafiados a romper com a história que negou e nega a humanidade. E há mais ou menos 150 anos é
que se percebe uma sociedade de classes e passa-se a observar outra história porque a humanidade teria chegado ao
limite. Somos levados a construir uma nova sociedade – a socialista34 – e no passo seguinte – o comunismo35. Aí quem
sabe construiremos a verdadeira história da humanidade. Só que até as bases do socialismo já implantado em alguns
países devem ser repensadas para uma melhor governabilidade do e com o povo. Este é o grande sonho da maioria dos
movimentos sociais de base, pensada enquanto proposta, desde a eclosão da consciência da existência de classes
distintas no interior da organização social.
           A filosofia da classe burguesa36 se estrutura a partir de conceitos como: nação, povo, universo, liberdade de
competir, direito adquirido; enquanto que a filosofia dos movimentos sociais brota das ações humanas, da luta dos
trabalhadores, do embate contra o antagonismo das classes, como caracteriza Rodrigo Dantas.
           Por fim, filosofar é se indignar e pôr-se a caminho da libertação dos oprimidos que muitas vezes não se
reconhecem porque alguns dominadores não permitem e os que têm condições não querem se comprometer em nome
de seu bem estar social. E acentua Marx e Engels que “a existência da ideia revolucionária em um determinado
tempo já supõe a existência de uma classe revolucionária”.

Os movimentos sociais e a construção do conhecimento.

          Dentro dos movimentos sociais37 vai sendo construído valores, jeito, cultura, poesia, literatura que identifica
o grupo que o compõe, aonde as pessoas vão se formando e construindo um novo jeito, o sujeito da transformação38. E
aí acabamos nos perguntando: quem são os heróis? Os símbolos o que trazem? É um herói de novela, exterminador do
futuro, que passa por cima de todos e de tudo, ou não? E na vertente da semiótica (ciência da linguagem, signo),
Santaella nos alerte que “no sistema social em que vivemos estamos fadados a apenas receber linguagens que não
divulgada e o que não está sendo dito verdadeiramente? Para um maior esclarecimento, consultar a lei de isenção fiscal para firmas de deu Município e o que
garante a do Estado.

     33     Para uma maior contribuição, ler: DEMO, Pedro. Pesquisa participante: saber pensar e intervir juntos. 2ª ed. Brasília: Liber Livro, 2008. DEMO,
           Pedro. Participar é conquista. São Paulo: Cortez, 1999.

34 Paulo Freire prescreve essa possível mudança a partir da conscientização e da problematização dentro da educação oferecida para a classe excluída ou menos
favorecida. Na ideia de transformação social também contamos com a proposta de Florestan Fernandes – “feita à revolução nas escolas, acontecerá naturalmente
nas ruas” (ver em: PRADO JUNIOR, Caio & FERNANDES, Florestan. Clássicos sobre a revolução brasileira. São Paulo: Expressão Popular, 2007).

35 De acordo com Feracine, “O comunismo luta independente de qualquer objetivo ‘nacional’. O comunista não tem às cores da nacionalidade. O comunismo
não tem pátria.” (p.32) E continua, “Concretamente a plataforma do P.C. inclui quatro pontos: erigir todo o proletariado em classe única; derrubar o domínio
econômico, social e político da burguesia; colocar no poder o proletariado e abolição da propriedade privada” (p.33). FERACINE, Luiz. A sociologia do
marxismo. São Paulo: Convívio, 1966.

36 Podemos distinguir dois seguintes termos: a) idealismo: conceito usado na filosofia da classe dominante, prescreve que existe uma ideia ou verdade universal
independente das nossas ideias. A burguesia faz valer seus ideais a partir do idealismo porque nega que outras classes existem – empregado, luta de classe... O
idealismo é apenas uma filosofia da classe dominante; b) materialismo: do nosso ponto de vista significa construir uma história tal qual é. Isto implica em construir
um conhecimento onde a sociedade perpetua. Para a burguesia é construir requisitos que os conforte, tenha uma condição natural e usar da seguinte afirmativa: por
que Deus quis assim, sustenta o palestrante Rodrigo Dantas.

37 Para entender um pouco da origem da história dos movimentos sociais no contexto brasileiro, ler: STEDILE, João Pedro (org.). História e natureza das ligas
camponesas. São Paulo: Expressão Popular, 2002.

38 Sobre esses novos valores, ver: BOGO, Ademar. O vigor da mística. São Paulo: Anca, 2002; BOGO, Ademar. Lições de luta pela terra. Salvador: Memorial
das Letras, 1999.

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ajudamos a produzir, que somos bombardeados por mensagens que servem à inculcação de valores que se prestam ao
jogo de interesse dos proprietários dos meios de produção de linguagem e não aos usuários”39.
          A afirmação dos movimentos sociais requer trazer a dimensão do mundo dos trabalhadores sem terra, sem
teto, sem voz, sem expectativa de emprego, sem direito à saúde pública de qualidade... Isto vai se materializando entre
nós. Por tudo isso é que os movimentos sociais acabam tendo uma filosofia 40 – organizações, símbolos, valores... É
uma história sempre em construção.
          O conhecimento com caráter libertador e fortalecido pela problematização gera os sujeitos, as ações e um
determinado panorama da realidade. Então, como se dá a produção do conhecimento aqui dentro e como está sendo o
embate com o conhecimento já tido como sagrado? Pensar a ideologia 41 de cada um e como ela se reproduz na
sociedade – burgueses: um grupo ínfimo de patrões passa a se apropriar do trabalho dos outros e acumular cada vez
mais, pagando mísero salário. A liberdade de uns nesse sistema é a opressão de muitos outros. Através do
conhecimento imposto se nega as potencialidades da maioria. É a reconhecida e incorporada sociedade de classe 42.
Aqui se figura os que vão apenas trabalhar, os que vão organizar ou garantir a ordem, os que trabalham de forma
braçal e os que trabalham intelectualmente. Os sacerdotes vão criar os sentimentos, mas não mudam de situação, salvo
alguns que se solidarizam ou se comprometem com a causa dos trabalhadores. Diante de tudo isso há uma formulação
clara da figura do estado de classe: os que apenas trabalham e os que se apropriam desse trabalho. Diante do
conhecimento, as classes trabalhadoras não são nem reconhecidas como intelectuais.
          O que os trabalhadores recebem até hoje de conhecimento acaba sendo o que não foi pensado por eles, mas
imposto por um ínfimo grupo comandado pela classe dominante – os intelectuais, sacerdotes, artistas, em sua maioria,
sempre fizeram bem isso em nome da elite dominante43. E a religião acaba sendo o reconforto44 do mundo em que os
trabalhadores se encontram. Muitas religiões criadas na atualidade vêm de encontro com o conformismo da situação
deprimente de seus seguidores, pondo um projeto divino que consiste na maior exploração e a perpetuação da classe
dominante, ao passo que internaliza a divisão feita entre igreja e política, mas que os mesmos dirigentes acabem
disputando cargos políticos (deputados, senadores, vereadores...). Essa constante contradição não será alvo de reflexão
no interior das mesmas estruturas sociais (política, econômica, de poder, religiosa, cultural...).
          Muito recentemente aparece a educação como conquista da classe trabalhadora, mas com um blá-blá-blá de
democracia, cidadania, todos iguais45... É interessante observar que a mão-de-obra atual também precisa ser educada
para trabalhar46, então, montam-se as ideologias, e dentre elas, a ideologia da competição. Assim, temos que entender
que filosofia que liberta é filosofia da práxis e filosofia que domina é filosofia a mercê da continuidade do sistema
atual – explora, recrimina, massifica, ideologiza e oprime.
          Temos que entender que filosofar é a capacidade de organizar perguntas que aos poucos problematizam a
realidade, tal que quando alguns oprimidos adquirirem maiores condições financeiras não ocupem o lugar dos




39 SANTAELLA: 2004; p.12. E mais a frente à autora complementará com a seguinte descrição: “Eis aí, num mesmo nó, aquilo que funda a miséria e a grandeza
de nossa condição como seres simbólicos. Somos no mundo, estamos no mundo, mas nosso acesso sensível ao mundo é sempre como que vedado por essa crosta
sínica que, embora nos forneça o meio de compreender, transformar, programar o mundo, ao mesmo tempo usurpa de nós uma existência direta, imediata,
palpável, corpo a corpo e sensual com o sensível” (p.52).

40 O trabalhador do campo tem mais vantagens que o da cidade. No campo o que cerca é a natureza enquanto que na cidade por onde se olha é cultura dominante.
A cidade tende a não reproduzir o mundo de onde viemos. Caracteriza sempre o pequeno burguês. Construir referencial para não ficar patinando. Para sair do
mundo que aos poucos herdamos, o domínio do capital, temos que construir novos valores e aí está o novo homem a nova mulher. Trocar a filosofia do domínio
pela filosofia do povo, eis uma das grandes contribuições do professor Rodrigo Dantas. Claro que a cultura dominante tenta mostras só as vantagens do homem da
cidade e convencer para quem produz o alimento que está na roça, sair dela e ir para a cidade, perdendo com isso a autonomia e ficando refém de um emprego e
com contas todos os meses para pagar – tirando a autonomia, tira-se a liberdade e com mais facilidade será manipulada essa pessoa.

41 Numa perspectiva marxista da ideologia, ver: MARX & ENGELS: 2007; numa dimensão da atualidade, ver: BRANDÃO, Helena H. Nagamine, introdução à
análise do discurso. 7ª ed. Campinas: Unicamp (sem ano de publicação); também ARANHA: 2004 (cap. 5).

42 FERACINE: 1966.

43     Para uma discussão mais abrangente, ver: Subcomandante Marcos. Nosso próximo programa:                                      Oxímoro!     Disponível     em:
http://www.galizacig.com/actualidade/200103/lemonde_nosso_proximo_programa_oximoro.htm (acessado em 15/09/2010).

44 ALVES, Rubem. O suspiro dos oprimidos. 4ª ed. São Paulo: Paulus, 1999.

45 Vários autores com uma construção mais conscientizadora e crítica reportam a um novo modelo de democracia, liberdade, igualdade que a estrutura atual não
consegue inserir todos os sujeitos a partir de uma construção mais horizontal. Nessa esfera pode ser consultada a vasta bibliografia de Pedro Demo, outras obras de
Paulo Freire além das já citadas, também Henrique D. Dussel, Saviani, Gadotti, entre outros – num processo contínuo de libertação.

46Ver, SAVIANI, Dermeval. PDE – plano de desenvolvimento da educação: análise crítica da política do MEC. Campinas: Autores Associados, 2009.

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opressores como vem acontecendo. Organizar perguntas é o que caracteriza o papel da filosofia. Filosofia é
desmaterializar a lógica onde o sujeito se encontra vedado47.
           Temos que estar atentos para o seguinte fator: a história das classes dominantes é um filtro na história da
filosofia e da humanidade, sempre escolhendo e pondo em destaque aquilo que serve para os mesmos. Houve o filtro
no mundo grego, no império romano, também no mundo árabe, o mesmo aconteceu dentro da estrutura da igreja e
ainda está bem presente no mundo moderno, com a internalização do conhecimento científico e a fragmentação do
mesmo dentro da proposta de Descartes48. Na maioria dos casos só temos acesso àquilo que interessa ao
fortalecimento do grupo dominante49 que, no mundo atual, controla os meios de comunicação, reforça Rodrigo
Dantas.
           Na atualidade também temos que entender que os próprios partidos de esquerda deixam de ser socialista e
passam a pregar o capitalismo e aí afunila cada vez mais as lutas de classes. Aqui também aconteceu um filtro para a
imagem atual. A luta de classe serve para colocar certo equilíbrio. O socialismo perde forças quando imita a lógica do
capitalismo em produzir cada vez mais. Então o capitalismo vence no século XX porque estava em expansão. Nos
anos 1970 é articulada uma derrota nas lutas de classes e o neoliberalismo assume o comando: fim das lutas de
classes, derrota do socialismo, fábricas computadorizadas, tal que desestrutura o mundo do trabalho e que elimina a
capacidade de se organizar. Assim, podemos destacar a proposta de Fukuyama50, indagado pela vertente hegeliana,
que descreve o fim da história, a pedido da burguesia e em nome dos intelectuais onde é determinante a proposta do
neoliberalismo como modelo de mercado a ser seguido e que os governos da década de 1990 implantaram de forma
escancarada nos países mais pobres – alguns asiáticos, africanos e latino-americanos.
           Desta forma, descreve Picoli, que “o atual sistema imposto de forma débil agoniza pelas contradições, mas o
cidadão é vítima deste processo, e os que ainda estão incluídos passarão a serem possíveis excluídos. Além disso, o
processo torna as pessoas marginalizadas e são consideradas estorvos dos ainda incluídos, pois estes passam a
produzir o medo pela capacidade de rebelar-se contra o sistema criador, e pode ser observado por meio da
criminalidade, e pelos registros dos atentados da atualidade. Ao mesmo tempo em que o sistema cria seus monstros e
estorvo, também repele e condena sua própria criação, no entanto perde o controle de seu engenho através da
barbárie”51.
           Recentemente houve um grande rearranjo da luta de classe, feito a observação que o capitalismo começa a
excluir, lógica adotada diferente do início que ia incorporando. Hoje é mais difícil de organizar uma classe de
trabalhadores. O mst e os sem-teto começaram a organizar os grupos dispersos. Antigamente era mais fácil organizar
porque todos se encontravam na fábrica. Hoje tem os empregos, subempregos, terceirizados, autônomos, alguns sendo
empregado e patrão ao mesmo tempo – é a lógica do moderno capitalismo. É o aprofundamento cada vez maior no
chamado barbarismo, descrito por Picoli da seguinte forma: “Os atores sociais privados dos mecanismos de inclusão
passam a produzir a barbárie, e essa trajetória é difícil ou impossível de ser revertida por meio dos meandros da
concentração, e o capitalismo é incapaz de produzir a solidariedade, e dessa maneira ele não dá conta de reverter esse
quadro por ele produzido”52. E continua descrevendo que “o que determina a marginalização, a exclusão e a
delinquência social do povo, são as formas estabelecidas no seio dos interesses da concentração da riqueza, bem como
do poder excludente e da não representação social e econômica, e formando assim, os extremos entre ter e não ter
acesso às oportunidades individuais e coletivas”53.
           Temos que entender que a classe média atual quer que a classe rica faça o que está fazendo com o “Fome
Zero” enquanto programa do Governo Federal, onde aparecem donos de grandes empresas dando um cheque e


47 Essa é a grande proposta de Paulo Freire em seu livro Pedagogia do Oprimido e também de Henrique Dussel em Ética da libertação: na idade da
globalização e da exclusão. Trad. de Ephraim F. Alves, Jaime A. Clasen e Lúcia M. E. Orth. Petrópolis: Vozes, 2000.

48 O livro de Descartes que prescreve o enredo da divisão do conhecimento é Discurso do Método, editado por várias editoras e em quase todos os países do
mundo ocidental.

49 Para a garantia do negro nos livros enquanto personagens da construção da história brasileira e não apenas como escravo, teve-se a necessidade de criar uma lei
federa, a Lei no 10.639, em pleno século XXI.

50  Para uma maior complementação, ver o artigo de Luiz Marcos Gomes: O "Fim da História" ou A Ideologia Imperialista da “Nova Ordem Mundial”
disponível em: http://www.culturabrasil.pro.br/fukuyama.htm acessado em 13/08/2010. E dentro do conceito histórico podemos destacar a leitura do livro:
ANDRSON, Perry. O fim da história: de Hegel a Fukuyama. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.

51 PICOLI: 2005; p.136.

52 Ibidem; pp.129-130.

53 Ibidem; p.130.

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sorrindo54. Tais medidas paliativas faz perpetuar a falsa generosidade, como alerta Paulo Freire e não traz a
solidariedade, como destaca Fiorelo Picoli.
          Muitos intelectuais dizem que não tem mais luta de classe: criou-se a modalidade de que cada um seja seu
empresário (o empreendedor). Isto reforça no imaginário coletivo com o seguinte slogan: lutar pelo coletivo para
que?
          Existe uma compreensão geral de que a sociedade não pode ficar assim por mais de 50 ou 100 anos por
causa dos seguintes fatores experimentados até então: 1- a destruição do planeta; 2- a experiência do socialismo vem
de uma vivência sinalizada por um fracasso no século XX; 3- que o capitalismo chegou ao seu esgotamento; 4- a
massa de exclusão construída começa a se organizar; 5- o perigo da destruição da guerra e por isso não deve ser
repetido, fundamenta Dantas. Na Bolívia a luta já está em busca desse novo e a Venezuela tem dado passos
significantes por uma maior autonomia de seu território, só para sinalizar dois exemplos dentro da América Latina.
          E assim podemos reforçar novamente qual o papel da filosofia: a questão da filosofia não é se perguntar se
Deus existe ou não, mas se a humanidade existe ou não. A pergunta filosófica é pela transformação – existir para
transformar: é o tempero da indignação com a amorosidade como retrata bem Paulo Freire. Temos que entender o
questionamento posto de forma antagônica e que ideologicamente é assumido como normal, só porque os mesmos
sempre permanecem no comando da sociedade.
          A ideologia antiga da pobreza descreve que é assim porque Deus quis. Agora é pobre porque é burro,
vagabundo, não trabalha. Mudou de Deus para a própria pessoa e sempre continua para justificar a opressão e não
para mudar. Então temos que entender que existe uma ideologia burguesa e por traz disso uma filosofia da mesma
classe. A “esperteza” está com quem sai da pobreza, não importa como, e isto está fluente até nas novelas dos meios
de comunicação dominantes55. Nosso papel central está em desfazer essas ideologias e filosofias dominantes, reforça
Dantas.
          Por outro lado, temos que entender que o governo brasileiro atual da esquerda política não está em disputa,
mas em contradição. Da mesma forma que se comprometeu com a “reforma agrária”, também se comprometeu com a
burguesia, FMI... E assim, o PT está deixando de ser um partido de luta56. Temos que entender que não existe
revolução através da política57 conforme está representada até hoje. A mídia está mostrando que existe uma vontade do
atual governo federal e assim vai tecendo a teia para continuar dividida a sociedade entre os que trabalham e os que
ficam com o lucro e pagam para manter a maquiagem ideológica. Nossa resposta está em buscar defender o acordo
que o governo atual fez com a classe trabalhadora. Outro problema é que muitos intelectuais não se enquadram mais
na categoria de trabalhadores e que de fato o são.
          Assim temos que exigir/reivindicar todos os acordos firmados com o povo. Não é um governo em disputa,
mas um governo em contradição: aliança com a burguesia e compromisso com os trabalhadores. Diante desse governo
temos um grande risco e uma oportunidade gigantesca. A nossa força está quando os movimentos vão à luta nas ruas e
reivindicam o que foi compromissado. Por isso podemos dar um salto ou viver um retrocesso, ressalta Dantas.

Então, qual o sentido da vida humana?
         Uma vez que o ser humano existe e tem consciência de sua existência, qual o seu verdadeiro sentido? (quem
somos, quais os valores da vida). Isso vai além de perguntarmos por algo que não tem resposta igualmente. De onde
vem o ser humano? Temos que entender que o conhecimento tem limites e que é nesse limite que concretizamos
nossas experiências. Se formos responder de onde vem à humanidade, se Deus existe ou não, o que é a morte, para se
ter uma resposta temos que investigar e quase sempre acabamos no mesmo círculo vicioso das respostas ludibriosas e
que não leva a lugar nenhum. Temos que ter a capacidade de experimentar os limites do conhecimento. Temos que
entender que vamos até certo ponto e de lá para frente é investigação. O conhecimento pode ser formulado e
respondido dentro de nossas experiências e limites que temos.
         A invenção de muitas respostas é para convencer ou manipular as pessoas. Temos que entender que a vida só
tem sentido a partir do momento que nós dermos a ela. A própria vida não tem sentido em si mesma. Ela pode ser
vivida em vão ou em construção. Um exemplo de vida em construção para o bem da humanidade pode ser expressa
pelos seguintes exemplos: Dom Tomás Balduíno, Mahatma Gandhi, Chico Mendes, Dom Pedro Casaldáliga, Che
54 Outro exemplo claro está no programa do PDE – todos pela educação – quando a maior acionista do banco Itaú, Milú Villela acaba sendo responsável para que
o programa de resultados. Em, SAVIANI: 2009.

55 Basta ver o programa BBB da Rede Globo de Televisão para compreender que vale tudo, até matar o irmão ou os pais para se sair melhor e ficar rico, e sempre
reforçando que não existem mais amigos, por isso não pode ter mais ninguém de confiança. Até onde esses meios continuarão dominando dessa maneira –
ideologicamente manipulável e em nome do beneficio do mesmo grupo???

56 SAVIANI (2009) destaca que “com a ascensão do PT ao poder federal, sua tendência majoritária realizou um movimento de aproximação com o empresariado,
ocorrendo certo distanciamento de suas bases originárias” (p.32)

57 Esse é um dos posicionamentos mais defendidos pelo palestrante Rodrigo Dantas.

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Guevara, e tantos outros latinos, asiáticos e africanos. A vida não se estabelece só por um acontecimento
transcendental. Tem sentido constituído pela liberdade e o que construímos. Aqui podemos reforçar que a luta pelo
socialismo não é individual. É nas condições da produção existencial que dá sentido a vida.
           A burguesia trata de assuntos como a Alca afirmando que não tem nenhuma ideologia, só porque menciona
apenas do ponto de vista do lucro. Sem ideologia é discutir apenas do ponto de vista do acúmulo de capital. Temos que
entender que toda e qualquer pesquisa é a partir de quem tem recurso e disso a maioria fica privado. Um dos pilares
sustentando no artigo A manipulação neoliberal do conhecimento58 está em acreditar na utopia e na mudança para
podermos avançar. Caso não acreditarmos não é possível lutar e é isso que bem quer a classe dominante. O
proeminente cuidado dentro da educação, ressalta o artigo, é com a demagogia voltada para teses como a sociedade
do conhecimento e a qualidade total, com promessas de progressos e do bem estar dos indivíduos, mas que na verdade
gera em seu interior pessoas com caráter de maior competitividade, tal qual exige o mercado. Assim, sujeita os
indivíduos em busca da qualidade total para servir como reserva de mão-de-obra qualifica e alienada, “ideal para a
voracidade da elite dominante”59.
           O ponto de vista de nós trabalhadores é o de que onde tem vida tem ideologia: que tipo de vida humana é
produzido? Assim, os testemunhos contraditórios da humanidade na atualidade acabam sendo: gente é quem tem
dinheiro e quem não tem fica a mercê. Consternado pela presença constante da fome no convívio dos trabalhadores
braçais, a maioria desses padecem de dois tipos de fome, como descreve Santaella: “Há duas espécies de fome: a da
miséria do corpo, esta, mais fundamental e determinante, visto que interceptadora de quaisquer outras funções,
necessidades e realizações humanas; mas há também a carência de conhecimento, este outro tipo de fome”60.
           Temos que entender que onde termina certas ideologias, poderá começa a filosofia – desnudar, desmascarar.
Claro que existem muitas filosofias que sustente a ideologia dominante 61. Racionalizar (racionalizar a existência) a
ideologia dominante sempre teve o papel de tornar uma filosofia dominante.
           Por fim, acreditar na vivencia das etapas da vida, quando abre portas diferentes, é refletido de três maneiras
distintas. O primeiro passo é a interiorização e aceitação com facilidade. O segundo é o de fácil exclusão do caminho
traçado. E no terceiro passo vem do ouvir, refletir, questionar e se posicionar ou contra ou a favor. Quando ainda
estamos imaturos, ou aceitamos ou ignoramos com maior facilidade os fatos, os grupos, os movimentos e outras
categorias, é porque não conseguimos trazer para o consciente de forma conscientizada/politizada/problematizada.
           E fica o desafio para cada leitor: qual sua fundamentação para discutir a filosofia se é boa ou má? De onde
vem suas leituras para questionar ou ideologizar o sistema capitalista? Se for a favor dos movimentos sociais, o que
lhe fortalece para ter esse posicionamento? Se for contra, o que o levou a essa decisão? Como suporte é necessário ter
grande cuidado com algumas fontes de informações e investigações. Já se questionou sobre as certezas e verdades
produzidas e veiculadas? Se nos questionarmos, politizarmos, refletirmos, problematizarmos e defendermos o que é
justo para a maioria, especialmente para os excluídos, ai quem sabe estaremos filosofando. Mão a obra por que não
podemos perder tempo – quem tem fome ou sede não pode mais esperar.




58 SILVA FILHO, Berilo da Paz Carvalho e BLANCO, Marcos Luengo. A manipulação neoliberal do conhecimento. São Paulo: Universidade São Judas Tadeu.
In: Revista Integração: ensino, pesquisa e extensão, Ano IX, Novembro de 2003, nº 35 (p.293). Disponível em: < http://www.usjt.br/prppg/revista/numeros.php >
(acessado em 15/09/2010).

59 Ibidem; p.3.

60 SANTAELLA: 2004; p.9.

61 As várias formas de ideologia pode ser verificada em: ARANHA: 2004.

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Filosofia, capitalismo e formaçao social

  • 1. FILOSOFIA, CAPITALISMO E FORMAÇÃO SOCIAL. Texto descrito por Fernando Rasnheski1, Novembro de 2010, Cefapro de Matupá – MT. (e-mail: filfrk@hotmail.com) “Quando se fala de ideias que revolucionam a sociedade inteira nada mais se expressa do que o simples fato de que se processa, no âmbito da velha sociedade, a gestão dos elementos de uma nova”. (Marx) Dialogando no contexto da atualidade, sinalizado por uma complexidade contraditória, onde a força que predomina é da ínfima classe dominante. Neste padrão global, para início de conversa, Fiorelo Picoli, destaca que: “A fome reflete o nível de degradação de uma sociedade e transforma a humanidade em objeto de dominação global. Esta dá origem à marginalização social e econômica dos indivíduos através das imposições e do controle, também como leva a exclusão generalizada em cadeia das classes oprimidas e dependentes. Por meio das relações sociais, econômicas, ambientais e morais é possível separar as classes, porém é no dia-a-dia que se determinam as categorias sociais, e estas provocam os movimentos de poder e de domínio dos grupos coletivos. Nesse ínterim, é o adiantado processo de destruição das massas que demonstra as reais condições de um povo em dado momento evolutivo da história, também como identifica as consequências pela falta de sincronismo do modelo não igualitário. O sistema capitalista mundial dita e impõem à sociedade as formas de submissão, de controle e da violência contra a classe oprimida, bem como define as relações e os movimentos da força de trabalho, mas com o intento de buscar o lucro por meio da exploração”2. Feito esta internalização desafiadora, podemos reflexionar ancorado nos pilares filosóficos sobre nossa pobreza humana de entendimento e reconhecimento enquanto classe ou sujeito de um determinado grupo social. Para isso, partimos do questionamento filosófico e posteriormente seu envolvimento com a classe social menos favorecida e expulsa do modelo capitalista predominante enquanto sistema atual. Sendo assim, o que é filosofia? Como é o ser humano na atualidade? Como foi sendo reproduzida a imagem dos filósofos no percurso da história? Qual a formação que permeia o cotidiano dos sujeitos quando ancorados no domínio do conhecimento vindo da esfera pública? Qual a relação do intelectual de hoje com as classes sociais oprimidas/excluídas do sistema econômico, social, cultural e político?3 Para entender pouco mais desse entrelaçamento entre formação filosófica e envolvimento social no contexto da sociedade dita pós-moderna, o professor de filosofia Rodrigo Dantas4, membro efetivo da Unb, Distrito Federal, aproximou esse debate a partir do encontro de formação dos movimentos sociais (MST, MPA e CPT) em outubro de 2003, mais especificamente, nos dias 16, 17 e 18, na cidade de Mirantes da Serra, RO, onde se faziam presentes militantes desses movimentos composto pelos estados de DF, GO, MT, MS e RO 5. Esse texto passa a ser transcrito a partir de alguns pontos convergentes com que o palestrante Rodrigo Dantas enfatizou. Ou seja, sua palestra está servindo de base para esse pequeno texto que passo a descrever apesar dos sete anos percorridos depois do encontro. Sendo assim, o que é filosofia? Não existe uma única definição. A pergunta é o que nos faz interagir com o mundo das crianças6 e infiltramos no contingente da filosofia. Tal questionamento que não se esgotou até hoje é o que 1 Professor efetivo na rede estadual de educação, com formação em Filosofia e especialização em “Didática do Ensino Superior”. Atualmente atua como professor formador no Cefapro de Matupá, MT. O artigo tem grande contribuição daquilo que o palestrante trouxe para a discussão no momento. 2 PICOLI, Fiorelo. Amazônia e o capital: uma abordagem do pensamento hegemônico e do alargamento da fronteira. Sinop: Editora Fiorelo, 2005; p.127. 3 Para uma verificação do intelectual orgânico no contexto de Gramsci, é interessante observar o seguinte texto: SEMERARO, Giovanni. Intelectuais “Orgânicos” em Tempos de Pós-Modernidade. Revista Cad. Cedes. Campinas: vol. 26, n. 70, pp.373-391, set./dez. 2006 (p.385). Disponível em: http://www.cedes.unicamp.brn . 4 Rodrigo Dantas, em 2003 era professor de filosofia, membro do quadro de professores da Universidade de Brasília, e como o mesmo havia anunciado ser simpatizante dos movimentos sociais e colaborador na formação. O grupo de militantes ultrapassava cinquenta pessoas participando da formação. 5 O curso de formação para militantes dos movimentos sociais teve duração de oitenta e sete dias, iniciado no mês de agosto de 2003. Dentre as várias formações, uma delas estava voltada para o olhar filosófico com a participação do brilhante palestrante Rodrigo Dantas. 6 Indagado pela primeiridade da consciência em Peirce, enquanto consciência em sua totalidade numa ‘presentidade’, Santaella, faz o seguinte questionamento: “O que é o mundo para uma criança em idade tenra, antes que ela tenha estabelecido quaisquer distinções, ou se tornado consciente de sua própria existência? Isso é primeiro, presente, imediato, fresco, novo, iniciante, original, espontânea, livre, vívido e evanescente. Mas não se esqueça: qualquer descrição dele deve necessariamente falseá-lo”. SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2004; p.45 (Coleção Primeiros Passos). 1
  • 2. nos faz filósofos e nos diferencia de muitos estudiosos que permeiam os diversos campos do conhecimento fragmentado no contexto vivencial. Nesse sentido podemos averiguar no percurso de mais de 2.600 anos de história, desde as vivenciadas por parte dos povos gregos, quando são remetidas questões sobre o cotidiano social, politico, cultural e econômico de sua comunidade. A definição de filosofia parece muito vaga quando partimos apenas das “perguntas”. É o questionar com uma abrangência que necessariamente não tem uma única resposta conclusiva ou decisiva. Questionar é uma atividade filosófica, aspirando uma vocação ou afinidade para ir avante onde se descobre novas respostas e surgem novas perguntas. Num plano filosófico de recuperação da pergunta encontramos expresso no livro O mundo de Sofia: romance da história da filosofia7, tal que permite uma viaje ao imaginário da indagação proposto pela descoberta das aventuras juvenis. Claro que o mundo tragado pela proposta da mídia eletrônica televisionada não deixa margem para questionamento, pois na maioria das vezes acabamos sendo “agentes imediatos” do poder, tal que, os intelectuais, em sua maioria, “são incapazes de criar uma autocrítica do grupo que representam e de apresentar projeto de alcance ético-político”, como bem afirma Giovanni Semeraro8, usando da fundamentação de Gramsci. Numa proposta filosófica, descreve Aranha, que a filosofia “é mais a atitude de colocar em questão o que parece para muito indiscutível, seja porque eles têm ‘certeza’, seja porque estão acostumados com aquilo que lhes parece ‘banal’”9. Problematizar dentro de um processo crítico é o que pretendemos com o conhecimento filosófico nesse texto, concomitante com uma proposta reflexiva. Isto significa dizer que o papel da filosofia não é querer explicar a realidade porque compete à ciência, mas buscar compreendê-la. E como reforça a autora, “a compreensão supõe a busca do sentido das coisas e da vida”10. Num plano mais audacioso, filosofar é desconfiar das próprias respostas, é pôr-se a pensar. Podemos refletir que enquanto a ciência ficou esmiuçando/dividindo11 o conhecimento, no contexto da modernidade, a filosofia tenta compreender a totalidade. Porém, não podemos acreditar ingenuamente que a filosofia sempre tivera o papel de libertar o homem enquanto sujeito de determinado contexto, visto que há consentimento de que muitas vezes se apropriou (e continua) de discursos que satisfaz apenas grupos dominantes. A filosofia é a vocação da pergunta que não se cala. Sendo assim, é permeada por uma pergunta certa que visualiza o problema de determinada situação para poder melhor compreender. A totalidade do universo é que faz com que esgotamos algumas indagações e camuflamos situações indesejáveis e talvez corruptíveis. É na brutalidade da vida (da criança com a sociedade ou família) que as perguntas vão se calando. A vocação da pergunta é uma vocação do saber. E saber, que do grego advinda do sabor, não temos mais tanta certeza na atualidade por que o ensino é organizado de tal modo que não tem nada de saboroso – não é articulado com a vida que as pessoas se enturmam e vivenciam. Nas estruturas escolares o saber se resume a conteúdos, mas as crianças nos mostram que o saber é saboroso a partir das descobertas feitas – o saber se torna sabor com a descoberta. Nas descobertas as coisas vão se tornando compreensivas e adquirindo mais sabor, quando desvendado, clareado. Assim, o mundo só pode ser pensado ou visto quando tem alguém para ver, pensar. O mundo nem sempre foi pensado do mesmo tamanho e até hoje nem todos cabem dentro do projeto de melhoria de vida. Ou seja, para quem está de fato melhorando? A verdade12 é um processo de descobertas para os gregos e outros povos – é ir descobrindo. E vai se revelando como produção social da humanidade quando houver maior comprometimento daqueles que fazem parte da classe letrada, visto ser um desafio para a maioria aceitar determinado papel social e de libertação dos oprimidos, como bem relata Freire em sua vasta bibliografia. É dessa produção social que depende a humanidade, intervém Marx em seus escritos e atitudes quando organiza o manifesto enquanto luta dos trabalhadores. O que diferencia o ser humano é a produção da própria vida, é uma produção constante dela mesma e feita de forma social. O conhecimento é uma produção social, dominado pelo homem. Daí vem o sujeito antropológico13. 7 GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia: romance da história da filosofia. Trad. João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 8 SEMERARO: 2006. 9 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 3 ed. São Paulo: Moderna, 2004; p.20. 10 Ibidem; p.21. 11 Uma proposta audaciosa vem de: ALVES, Rubens. Filosofia da Ciência: Introdução ao jogo e as suas regras. 12ª ed. São Paulo: Loyola, 2007. 12 Do grego: verdade quer dizer alétheia, palavra composta por “a” (do grego, negação) e léthe (do grego, esquecimento). Alétheia significa “o não esquecimento”; do latim: “verdade se diz veritas e se refere à precisão, ao rigor e à exatidão de um relato, no qual se diz com detalhe, pormenores e fidelidade o que realmente aconteceu; do hebraico: “verdade se diz emunah e significa ‘confiança’”; CHAUI, Marilena. Filosofia: série Brasil. Volume único. São Paulo: Ática, 2005 (p.93). 13 Para uma história do ser antropológico, com fundamentação filosófica, dentro do mundo ocidental, ver: LIMA VAZ, Henrique C. de. Antropologia filosófica I. 4ª ed. São Paulo: Loyola, 1991. 2
  • 3. Em nossa sociedade costumamos dizer que uma descoberta específica foi de determinado sujeito – a dita propriedade intelectual14. Na verdade este sujeito só foi o mediador, mas acabou se apropriando do que é de direito da humanidade15. Então, como defender a ideia de que o produto do conhecimento não é privado? É possível essa reflexão na atualidade? Quem não permite que façamos essa leitura e o por quê? Destaca Santaella que “se você receber uma ordem de alguém que tem autoridade sobre você, por respeito ou temor, essa ordem produzirá um interpretante dinâmico energético, isto é, uma ação concreta e real de obediência, no caso, como resposta ao signo”16. Todo conhecimento faz parte de uma produção social porque o mesmo depende do outro. Porém, a estrutura da sociedade em que vivemos permite a individualização (consciência produzida). A relação, maior ou menor, que temos com as coisas é a capacidade que temos de transformar. Assim, conhecer é: co-nascer ou nascer com as coisas, reforça Rodrigo Dantas. Filosofia e o conhecimento Para Platão, o papel da filosofia é problematizar o conhecimento, ou seja, acima de tudo está o conhecimento perfeito. Claro que o viés platônico ancorado nas bases essencialistas da dualidade existencial do conhecimento, separando-o em conhecimento ideal (mundo das ideias) e conhecimento sensível (mundo das sombras)17 na construção da história do conhecimento, busca reforçar alguns enlaces propositais da dupla intenção do ato de conhecer, separando e conspirando para a dupla intenção, quando caracteriza no aparente, ou seja, o mundo das sombras, aqui presente e, no verdadeiro, o mundo ideal – dividindo em mundo material e mundo espiritual. Mas é com Bacon que fazemos uma crítica mais contundente sobre os ídolos petrificados socialmente. O mesmo classifica os ídolos em: 1- ídolo da caverna (referencia à caverna descrita por Platão): resulta das opiniões que se formam em nós em decorrência dos erros e defeitos entendidos a partir dos nossos órgãos dos sentidos; 2- ídolo do fórum (lugar de discussão pública na antiga Roma): resulta nas opiniões que temos por intermédio da linguagem que usamos e da relação com os outros; 3- ídolos do teatro (onde somos apenas espectadores): resultado das opiniões formadas em nós imposta por autoridades e seus poderes através de leis e decretos inquestionáveis; 4- ídolos da tribo (agrupamento de humanos com a mesma origem, destino, características e comportamentos): o resultado disso são as opiniões que formam em nós em decorrência da natureza humana. Tais ídolos impedem muitas vezes de conhecermos a verdade18. Para os dois primeiros ídolos serem superados, necessitamos apenas de corrigir nossa proposta intelectual (corrigir o intelecto). Já para o terceiro ídolo, o do teatro, requer mudança social e política e o quarto, o da tribo, provoca mudança na própria natureza humana. Em Hegel19, na dialética da compreensão, passamos a entender a partir da perfeição das coisas e que existe um conhecimento por traz de tudo isso (panteísmo ou saber absoluto). Marx20 aborda que o sentido do conhecimento 14 Marx e Engels destacam que “a divisão do trabalho, (...) como uma das principais forças históricas até aqui, expressa-se também no seio da classe dominante como divisão do trabalho espiritual e material, de tal modo que, no interior dessa classe, uma parte aparece como os pensadores dessa classe (seus ideólogos ativos, que teorizam e fazem da formação de ilusões que essa classe tem a respeito de si mesma sua principal substância), enquanto os demais se relacionam com essas ideias e ilusões de forma mais passiva e receptiva, já que são, na realidade, os membros ativos dessa classe e possuem menos tempo para produzir ideias e ilusões acerca de si. Dentro dessa classe, essa divisão pode mesmo conduzir até certa oposição e hostilidade entre ambas as partes, mas essa hostilidade, entretanto, desaparece por si mesma logo que surge algum conflito prático capaz de pôr em risco a própria classe, ocasião em que desaparece também a impressão de que as ideias dominantes não seriam as ideias da classe dominante e possuiriam um poder distinto do poder dessa classe. A existência da ideia revolucionária em um determinado tempo já supõe a existência de uma classe revolucionária”. MARX & ENGELS. A ideologia alemã. Trad. Frank Müller. São Paulo: Martin Claret, 2007; p.79. 15 Pode ser consultada nesta perspectiva de assumir o patrimônio comum, dentro da agricultura camponesa, a proposta de: GÖRGEN, Frei Sérgio Antônio (ofm). Os novos desafios da agricultura camponesa. 2ª ed. Caderno da Via Campesina Brasil: 2004. Nesta mesma linha pode ser verificado: GUZMÁN, Eduardo Sevilla & MOLINA, Manuel G. Sobre a evolução do conceito de campesinato. Trad. Ênio Guterres e Horácio Martins de Carvalho. 3ª ed. São Paulo: Expressão Popular, 2005. 16 SANTAELLA: 2004; p.61. 17 A Teoria do conhecimento clássica de Platão se resume a: 1- mundo das ideias: como imaterial, eterno e imutável, onde estão as ideias verdadeiras que existem por si só, independentes do pensamento e de todas as coisas materiais, onde estaria a realidade de tudo (mundo das ideias ou luzes narrado no mito da caverna); O mundo das ideias temos acesso apenas por meio da razão, inspirada na doutrina de Parmênides, onde se encontra o verdadeiro e; 2- mundo sensível: seria o mundo material que percebemos através dos cinco sentidos (tato, olfato, paladar, audição e visão), sendo um fluxo eterno semelhante à ideia de Heráclito, em que são meras aparências sempre se transformando, não permitindo chegar ao verdadeiro. 18 Ver em: CHAUI: 2005; p.105. 19 Como destaca FREIRE: “Por que não fenecem as elites dominadoras ao não pensarem com as massas? Exatamente porque estas são o seu contrário antagônico, a sua ‘razão’, na afirmação de Hegel. Pensar com elas seria a superação de sua contradição. Pensar com elas significaria já não dominar” (p.128). Ver: FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 36ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. 20 MARX & ENGELS. O Manifesto do Partido Comunista. 2ª ed. Trad. de Antônio Carlos Braga. São Paulo: Escala, 2009 (pp.63-69). 3
  • 4. é tornar consciente os sujeitos enquanto seres viventes. É descrever os segredos da vida do proletariado no mundo em que habita. É tornar consciente o mundo em que as pessoas vivem, é ter poder para transformar. O proletariado incumbir-se-á de tomar consciência do seu mundo e de transformar em sujeito da história, superando o dogmatismo alienante. É uma atitude de ação/reflexão/ação, isto é, a verdadeira práxis.21 A maioria do conhecimento produzido22 acaba sendo uma constante mentira que não permite olhar a si mesmo no espelho. A verdade só virá quando nos virmos livres da contraditória exploração – ex.: pobre feito para trabalhar e vendados para não conhecer a verdadeira origem da pobreza. E acabamos compreendendo que na maioria das vezes nós somos o que nós fazemos. Na conspiração pós-moderna é o espelho de narciso23 olhando para seu próprio problema sem se dar conta dos outros que estão à mercê padecendo de fome. E assim, o que incomoda a maioria dos filósofos não é Deus24, mas as decisões que vão sendo esculpidas através da definição de Deus: que oprime, mata, reina... São razões que permitem definir de forma que este oprime e controla a sociedade. Definir Deus no mundo capitalista é colocar num campo de controle da sociedade. Por isso qualquer definição filosófica de Deus é conspirar contra a própria natureza divina, se é que podemos definir tal natureza. Este acaba sendo um dos grandes gargalos para construirmos conhecimentos mais sólidos e com relevância social. Até os sujeitos que dominam o conhecimento do ponto de vista do domínio universitário, acabam na maioria das vezes reforçando as ideologias, só porque a sociedade em que está situados, o ter está além de o próprio ser. Então, podemos pensar uma sociedade, no vigente sistema capitalista, que possa reinar o ser 25 em lugar do ter, ou seja, o eu como parte do outro26? Paralelo a isso, a proposta audaciosa da sociologia no mundo europeu em pleno século XIX, com a efervescência da revolução industrial, vem fortalecer quando entendemos o porquê tanto Durkheim quanto Weber obtiveram e ainda obtém tanto respaldo com suas teorias, juntamente com o espírito do momento movido pela estruturação industrial e a concentração das pessoas nas fábricas. O mundo do trabalho. O mundo em que habitamos toda a energia foi organizada para trabalhar e acumular dinheiro, no sistema em que se encontra a presente sociedade – o capitalismo pós-moderno, se é que assim podemos definir. Assim, a burguesia valida e sustenta a prática do implante da propriedade privada – intocável por aqueles que só têm apenas a força de trabalho e validada juridicamente e defendida pela ala militar armado da força estatal – sempre pronta a defender a propriedade privada, juntamente com decisões jurídicas27. A ideia do capitalista é explorar cada vez mais com menos gastos para acumular mais28. E acabamos não tendo uma política que governe, mas o dinheiro é que 21 Para uma maior abordagem sobre a práxis, ver: VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Filosofia da práxis. Trad. Maria E. Moya. São Paulo: Expressão Popular, 2007. 22 Destaca Giovanni Semeraro que a maioria dos intelectuais da atualidade está mais para “fiéis cães de guarda” da classe dominante, do que sujeitos com compromisso ético-político vinculados à classe popular. Ver: SEMERARO (2006). 23 Para uma análise do sujeito individualizado (observe o trocadilho) no contexto da modernidade, ver: SODRÉ, Muniz. Televisão e Psicanálise. São Paulo: Ática, 1987 (Col. Série Princípio). 24 Interessante destacar a clareza do conceito sobre Deus, quando Freire, em Pedagogia do Oprimido, remete com propriedade destacando da seguinte forma: “Dentro de um mundo mágico ou místico em que se encontra a consciência oprimida, sobretudo camponesa, quase imersa na natureza, encontra no sofrimento, produto da exploração em que está, a vontade de Deus, como se Ele fosse o fazedor desta ‘desordem organizada’” (pp.48-49). FREIRE, (2003). 25 “O eu dialógico, pelo contrário, sabe que é exatamente o tu que o constitui. Sabe também que, constituído por um tu – um não-eu –, esse tu que o constitui se constitui, por sua vez, com eu, ao ter no eu um tu. Desta forma, o eu e o tu passam a ser, na dialética destas relações constitutivas, dois tu que se fazem dois eu” (pp.165-166) define Paulo Freire, em Pedagogia do Oprimido, ancorado em Martin Buber. 26 Serve de base o seguinte livro: DUSSEL, Enrique. Ética da libertação: na idade da globalização e da exclusão. Trad. de Ephraim F. Alves, Jaime A. Clasen e Lúcia M. E. Orth. Petrópolis: Vozes, 2000. O autor argumenta da seguinte maneira: “desejo também precisar claramente que, quando me referir nesta obra ao ‘Outro’, sempre e exclusivamente me situarei no nível antropológico” (p.16). E logo em seguida define que “o Outro não será denominado metafórica e economicamente sob o nome de ‘pobre’. Agora, inspirado e W. Benjamin, o denominarei ‘a vítima’ – noção mais ampla e exata” (p.17). É de grande valia a indagação de Dussel para entendermos a proposta filosófica da situação de submissão dos países latino-americanos enquanto sujeitos da negação do pensar centralizado pelos países do centro dominador – europeus e estadunidenses. 27 Dom Tomás Balduíno, com propriedade, luta dentro da Comissão Pastoral da Terra, para divulgar essas forças do estado federativo que estão a serviço da propriedade privada, constituída pela classe dominante. Um de seus gritos que quase lhe custou à vida e encontra-se relatado na entrevista concedia à Revista Caros Amigos (ano VIII, n. 96, março de 2005; pp.30-35), onde menciona o preço que custa um defensor da classe oprimida, principalmente os sem terras, custo este bancado pelo agronegócio e seus aliados. Ver também: POLETTO, Ivo (org.). Uma vida a serviço da humanidade: diálogo com Dom Tomás Balduíno. São Paulo: Loyola, 2002. 28 Destaca Marx que “o capital nada mais é do que trabalho acumulado ” (p.28) em que o trabalhador “tem de vender-se a si próprio e a sua humanidade” (idem.). E complementa que “a divisão do trabalho mantém o trabalhador sempre mais dependente do capitalista” (p.29). In: MARX. Manuscritos econômicos-filosóficos. 1ª ed. 3ª reimpressão. Trad. de Jesus Ranieri. São Paulo: Boitempo, 2009. 4
  • 5. governa, principalmente quando a classe política é definida como direita ou centro direita. Entendemos que o sistema criado pelo capitalismo é insustentável e vai se esgotando no tempo e é incontrolável porque explora ao máximo. O mesmo desenvolve técnicas para explorar mais com menos custo e elevada extinção do emprego das pessoas. Podemos fazer uma reflexão rapidamente sobre dois assuntos que intercalam o poder público. Assim, numa primeira constatação, verifica-se que tanto os senadores quanto os deputados federais, e assim os demais políticos do alto escalão, estão ocupando cargos eletivos lá para defender a educação pública. Porém, o que se constata é que os filhos da maioria deste estudam em escolas particulares. Cabe questionar: será que tais políticos acreditam no que estão defendendo? Por que seus filhos não estudam em escolas públicas? Outro fator relevante, que podemos nos questionar é quanto à saúde pública, tal que o próprio governo do estado de MT institui aos funcionários da educação o pagamento de um plano de saúde, claro que ainda em caráter optativo para tais funcionários. Por que um funcionário público, para ter garantia de uma saúde de qualidade, deverá pagar um plano particular? É nessa dialética do contrário divulgada nos escritos de Hegel que não fazemos menção em relatar ou refletir. Para isso se manter, o Estado acaba controlando as lutas de classes, com o poder bélico militar e ficamos horrorizados com tantos presídios sendo construídos para prender muitas vezes os trabalhadores que lutam por dias melhores (contra a fome dos filhos, especialmente). Ou seja, “as cadeias são uma consequência da falta de oportunidade”, argumenta Picoli29. Atualmente os cientistas dizem que estamos retirando da natureza 20% a mais todos os dias do que ela é capar de recuperar. Mas que ideologia está impregnada nesse discurso? De quem é a responsabilidade maior? Ou é melhor definir que individualmente somos responsáveis e a atitude sempre fica por conta do outro para melhorar? O que este em jogo mesmo? Porém, o comando do capitalismo continua a oferecer produtos todos os dias e não descreve tarja de intoxicação contra a devastação da natureza. Se fossem apenas cinco ou seis capitalistas que manipulassem o sistema, seria bem mais fácil de substituir. A lógica que se constrói é a do acesso livre no acúmulo de dinheiro e quem tem um pouco fica pensando o dia todo em que (ou onde) vai gastar. Fica difícil de dizer que é apenas o capital que controla, mas é a lógica do acúmulo de capital – é a lógica do egoísmo universal implícita também. Então, destruir o sistema capitalista não é só extirpar com a classe dominante capitalistas da sociedade. Ou como relata Picoli que “os ricos passam a viver à custa do trabalho dos pobres, pois estes são as maiorias e estão disponíveis no mercado de trabalho à procura de um burguês que esteja disponível a explorá-lo e superexplorá-lo”30. E complementa dizendo que “os pobres são uma criatura consciente do capital”. Em pleno século XXI o capitalismo está entrando em um declínio porque não tem mais nada a oferecer31. No começo do sec. XX e mais da metade, o capitalismo tinha como oferecer melhoria de acordo com as reivindicações dos grupos organizados – melhores salários, direitos, lazer. Agora o capitalismo começa a expelir e os grupos vão se organizando contra o sistema – MST, sem teto, sem escola, sem emprego etc. Antes o capitalismo conseguia incorporar as lutas de classe (melhores salários, maiores direitos, garantias) e agora joga fora seus trabalhadores. É nesses últimos 20 ou 30 anos que acabou mudando esse quadro – se distanciou a massa dos ideais do socialismo e tal ideologia que foi sepultada com a queda da Rússia (1989). Com a queda do socialismo ocorreu uma distribuição da competição dos trabalhadores com os capitalistas. Nem os países ricos de dinheiro tem uma organização que dê conta de sustentar a maioria da classe trabalhadora. Assim, podemos entender mais claramente o porquê das lutas dos trabalhadores na maioria dos países europeus e os constantes conflitos nas ruas, as paralizações e outras manifestações mais cruéis que a mídia eletrônica acaba não veiculando porque não tem interesse. O capitalismo ao mesmo tempo em que chegou ao máximo também chegou ao seu limite. E é interessante observar que os movimentos sociais organizados e alguns partidos de esquerda (MST, MPA, PT, CPT) surgem quando já não tem mais perspectiva de reavivar o socialismo constituído no leste europeu. O capitalismo se tornou exaustivo porque ocupou (e continua) quase todos os pontos do mundo. As multinacionais só ficam esperando onde as leis trabalhistas são fracas e o Estado coopera em troca de alguns miseres empregos32. As coisas se tornam evidentes quando as pessoas começam a perceber e isso está cada vez mais claro. O 29 Alerta Fiorelo Picoli que o crime organizado permeia na trama do envolvimento de parte da própria justiça e de algumas instancias do Estado, formando a estrutura criminal e o envolvimento com os fabricantes de armas e fornecedores de drogas e dos próprios grupos econômicos. A saída da delinquência e da marginalização, ou seja, para não ser objeto do presídio enquanto carcerário, está na educação de qualidade e oportunidade de melhores empregos aos trabalhadores. Consultar o livro do autor, já citado, especificamente as pp.137-142. 30 PICOLI: 2005; p.131. 31 O tempo de trabalho para construir socialmente está cada vez mais diminuindo e com isso diminui a força de trabalho. Onde antes tinha 400 empregados, hoje já não passa de 100. Uma massa de gente está cada vez mais expelida do mundo do trabalho. É o “exército industrial de reserva” no dizer de Marx. Hoje três homens sozinhos detêm mais que 200 bilhões de dólares (estadunidense), o equivalente ao pib de 48 países mais pobres ou de 600 milhões de pessoas. Assim, entende-se que os três têm o mesmo valor que as outras seiscentas milhões de pessoas juntas, claro dentro do sistema capitalista que leva simplesmente em consideração o valor em dinheiro que cada um possui, reforça Dantas. 32 Interessante observar o porquê de alguns frigoríficos estarem fechando em alguns estados brasileiros. É só uma questão de crise financeira ou é porque está esgotando o tempo de isenção de imposto concedido pela classe política daquele município ou estado??? O que alegam os donos dos frigoríficos na imprensa 5
  • 6. retorno só será possível quando a sociedade e não um “grupinho” de burgueses tomarem as rédeas das decisões políticas do país, dos Estados e dos municípios33. Vivemos sob um único senhor – o capital – e tudo age de acordo com essa lógica (a lógica do dinheiro). Destrói o mundo – o único poder de contrapor a destruição do planeta é o poder popular com consciência crítica reflexiva. O capitalismo tem pouca resposta a dar; – as pessoas estão cada vez mais nas ruas através das intervenções de destruição do planeta. Quantas pessoas foram às ruas só com o ataque dos EUA contra o Iraque? As pessoas estão cada vez mais conscientes da mudança, mas se não tomar cuidado e atitude, acaba sendo ludibriada novamente e em nome de um emprego ou contas a pagar, coloca toda sua força do lado da classe dominante, novamente. O maior obstáculo que é encontrado nas cidades é que as pessoas não veem outro caminho para a melhoria. Tornam-se pessimistas e não veem outra saída a não ser a já existente. É o momento de nos indignarmos com a realidade apresentada. Agora a questão não é se Deus existe ou não, mas se o ser humano existe ou não – a humanidade acaba sendo um mero suporte do capitalismo. Simplesmente estar aos cuidados da natureza é negação do que é humanidade e de que forma nós podemos romper com uma força suprema criada: o sistema econômico e representado pela política atual. Somos desafiados a romper com a história que negou e nega a humanidade. E há mais ou menos 150 anos é que se percebe uma sociedade de classes e passa-se a observar outra história porque a humanidade teria chegado ao limite. Somos levados a construir uma nova sociedade – a socialista34 – e no passo seguinte – o comunismo35. Aí quem sabe construiremos a verdadeira história da humanidade. Só que até as bases do socialismo já implantado em alguns países devem ser repensadas para uma melhor governabilidade do e com o povo. Este é o grande sonho da maioria dos movimentos sociais de base, pensada enquanto proposta, desde a eclosão da consciência da existência de classes distintas no interior da organização social. A filosofia da classe burguesa36 se estrutura a partir de conceitos como: nação, povo, universo, liberdade de competir, direito adquirido; enquanto que a filosofia dos movimentos sociais brota das ações humanas, da luta dos trabalhadores, do embate contra o antagonismo das classes, como caracteriza Rodrigo Dantas. Por fim, filosofar é se indignar e pôr-se a caminho da libertação dos oprimidos que muitas vezes não se reconhecem porque alguns dominadores não permitem e os que têm condições não querem se comprometer em nome de seu bem estar social. E acentua Marx e Engels que “a existência da ideia revolucionária em um determinado tempo já supõe a existência de uma classe revolucionária”. Os movimentos sociais e a construção do conhecimento. Dentro dos movimentos sociais37 vai sendo construído valores, jeito, cultura, poesia, literatura que identifica o grupo que o compõe, aonde as pessoas vão se formando e construindo um novo jeito, o sujeito da transformação38. E aí acabamos nos perguntando: quem são os heróis? Os símbolos o que trazem? É um herói de novela, exterminador do futuro, que passa por cima de todos e de tudo, ou não? E na vertente da semiótica (ciência da linguagem, signo), Santaella nos alerte que “no sistema social em que vivemos estamos fadados a apenas receber linguagens que não divulgada e o que não está sendo dito verdadeiramente? Para um maior esclarecimento, consultar a lei de isenção fiscal para firmas de deu Município e o que garante a do Estado. 33 Para uma maior contribuição, ler: DEMO, Pedro. Pesquisa participante: saber pensar e intervir juntos. 2ª ed. Brasília: Liber Livro, 2008. DEMO, Pedro. Participar é conquista. São Paulo: Cortez, 1999. 34 Paulo Freire prescreve essa possível mudança a partir da conscientização e da problematização dentro da educação oferecida para a classe excluída ou menos favorecida. Na ideia de transformação social também contamos com a proposta de Florestan Fernandes – “feita à revolução nas escolas, acontecerá naturalmente nas ruas” (ver em: PRADO JUNIOR, Caio & FERNANDES, Florestan. Clássicos sobre a revolução brasileira. São Paulo: Expressão Popular, 2007). 35 De acordo com Feracine, “O comunismo luta independente de qualquer objetivo ‘nacional’. O comunista não tem às cores da nacionalidade. O comunismo não tem pátria.” (p.32) E continua, “Concretamente a plataforma do P.C. inclui quatro pontos: erigir todo o proletariado em classe única; derrubar o domínio econômico, social e político da burguesia; colocar no poder o proletariado e abolição da propriedade privada” (p.33). FERACINE, Luiz. A sociologia do marxismo. São Paulo: Convívio, 1966. 36 Podemos distinguir dois seguintes termos: a) idealismo: conceito usado na filosofia da classe dominante, prescreve que existe uma ideia ou verdade universal independente das nossas ideias. A burguesia faz valer seus ideais a partir do idealismo porque nega que outras classes existem – empregado, luta de classe... O idealismo é apenas uma filosofia da classe dominante; b) materialismo: do nosso ponto de vista significa construir uma história tal qual é. Isto implica em construir um conhecimento onde a sociedade perpetua. Para a burguesia é construir requisitos que os conforte, tenha uma condição natural e usar da seguinte afirmativa: por que Deus quis assim, sustenta o palestrante Rodrigo Dantas. 37 Para entender um pouco da origem da história dos movimentos sociais no contexto brasileiro, ler: STEDILE, João Pedro (org.). História e natureza das ligas camponesas. São Paulo: Expressão Popular, 2002. 38 Sobre esses novos valores, ver: BOGO, Ademar. O vigor da mística. São Paulo: Anca, 2002; BOGO, Ademar. Lições de luta pela terra. Salvador: Memorial das Letras, 1999. 6
  • 7. ajudamos a produzir, que somos bombardeados por mensagens que servem à inculcação de valores que se prestam ao jogo de interesse dos proprietários dos meios de produção de linguagem e não aos usuários”39. A afirmação dos movimentos sociais requer trazer a dimensão do mundo dos trabalhadores sem terra, sem teto, sem voz, sem expectativa de emprego, sem direito à saúde pública de qualidade... Isto vai se materializando entre nós. Por tudo isso é que os movimentos sociais acabam tendo uma filosofia 40 – organizações, símbolos, valores... É uma história sempre em construção. O conhecimento com caráter libertador e fortalecido pela problematização gera os sujeitos, as ações e um determinado panorama da realidade. Então, como se dá a produção do conhecimento aqui dentro e como está sendo o embate com o conhecimento já tido como sagrado? Pensar a ideologia 41 de cada um e como ela se reproduz na sociedade – burgueses: um grupo ínfimo de patrões passa a se apropriar do trabalho dos outros e acumular cada vez mais, pagando mísero salário. A liberdade de uns nesse sistema é a opressão de muitos outros. Através do conhecimento imposto se nega as potencialidades da maioria. É a reconhecida e incorporada sociedade de classe 42. Aqui se figura os que vão apenas trabalhar, os que vão organizar ou garantir a ordem, os que trabalham de forma braçal e os que trabalham intelectualmente. Os sacerdotes vão criar os sentimentos, mas não mudam de situação, salvo alguns que se solidarizam ou se comprometem com a causa dos trabalhadores. Diante de tudo isso há uma formulação clara da figura do estado de classe: os que apenas trabalham e os que se apropriam desse trabalho. Diante do conhecimento, as classes trabalhadoras não são nem reconhecidas como intelectuais. O que os trabalhadores recebem até hoje de conhecimento acaba sendo o que não foi pensado por eles, mas imposto por um ínfimo grupo comandado pela classe dominante – os intelectuais, sacerdotes, artistas, em sua maioria, sempre fizeram bem isso em nome da elite dominante43. E a religião acaba sendo o reconforto44 do mundo em que os trabalhadores se encontram. Muitas religiões criadas na atualidade vêm de encontro com o conformismo da situação deprimente de seus seguidores, pondo um projeto divino que consiste na maior exploração e a perpetuação da classe dominante, ao passo que internaliza a divisão feita entre igreja e política, mas que os mesmos dirigentes acabem disputando cargos políticos (deputados, senadores, vereadores...). Essa constante contradição não será alvo de reflexão no interior das mesmas estruturas sociais (política, econômica, de poder, religiosa, cultural...). Muito recentemente aparece a educação como conquista da classe trabalhadora, mas com um blá-blá-blá de democracia, cidadania, todos iguais45... É interessante observar que a mão-de-obra atual também precisa ser educada para trabalhar46, então, montam-se as ideologias, e dentre elas, a ideologia da competição. Assim, temos que entender que filosofia que liberta é filosofia da práxis e filosofia que domina é filosofia a mercê da continuidade do sistema atual – explora, recrimina, massifica, ideologiza e oprime. Temos que entender que filosofar é a capacidade de organizar perguntas que aos poucos problematizam a realidade, tal que quando alguns oprimidos adquirirem maiores condições financeiras não ocupem o lugar dos 39 SANTAELLA: 2004; p.12. E mais a frente à autora complementará com a seguinte descrição: “Eis aí, num mesmo nó, aquilo que funda a miséria e a grandeza de nossa condição como seres simbólicos. Somos no mundo, estamos no mundo, mas nosso acesso sensível ao mundo é sempre como que vedado por essa crosta sínica que, embora nos forneça o meio de compreender, transformar, programar o mundo, ao mesmo tempo usurpa de nós uma existência direta, imediata, palpável, corpo a corpo e sensual com o sensível” (p.52). 40 O trabalhador do campo tem mais vantagens que o da cidade. No campo o que cerca é a natureza enquanto que na cidade por onde se olha é cultura dominante. A cidade tende a não reproduzir o mundo de onde viemos. Caracteriza sempre o pequeno burguês. Construir referencial para não ficar patinando. Para sair do mundo que aos poucos herdamos, o domínio do capital, temos que construir novos valores e aí está o novo homem a nova mulher. Trocar a filosofia do domínio pela filosofia do povo, eis uma das grandes contribuições do professor Rodrigo Dantas. Claro que a cultura dominante tenta mostras só as vantagens do homem da cidade e convencer para quem produz o alimento que está na roça, sair dela e ir para a cidade, perdendo com isso a autonomia e ficando refém de um emprego e com contas todos os meses para pagar – tirando a autonomia, tira-se a liberdade e com mais facilidade será manipulada essa pessoa. 41 Numa perspectiva marxista da ideologia, ver: MARX & ENGELS: 2007; numa dimensão da atualidade, ver: BRANDÃO, Helena H. Nagamine, introdução à análise do discurso. 7ª ed. Campinas: Unicamp (sem ano de publicação); também ARANHA: 2004 (cap. 5). 42 FERACINE: 1966. 43 Para uma discussão mais abrangente, ver: Subcomandante Marcos. Nosso próximo programa: Oxímoro! Disponível em: http://www.galizacig.com/actualidade/200103/lemonde_nosso_proximo_programa_oximoro.htm (acessado em 15/09/2010). 44 ALVES, Rubem. O suspiro dos oprimidos. 4ª ed. São Paulo: Paulus, 1999. 45 Vários autores com uma construção mais conscientizadora e crítica reportam a um novo modelo de democracia, liberdade, igualdade que a estrutura atual não consegue inserir todos os sujeitos a partir de uma construção mais horizontal. Nessa esfera pode ser consultada a vasta bibliografia de Pedro Demo, outras obras de Paulo Freire além das já citadas, também Henrique D. Dussel, Saviani, Gadotti, entre outros – num processo contínuo de libertação. 46Ver, SAVIANI, Dermeval. PDE – plano de desenvolvimento da educação: análise crítica da política do MEC. Campinas: Autores Associados, 2009. 7
  • 8. opressores como vem acontecendo. Organizar perguntas é o que caracteriza o papel da filosofia. Filosofia é desmaterializar a lógica onde o sujeito se encontra vedado47. Temos que estar atentos para o seguinte fator: a história das classes dominantes é um filtro na história da filosofia e da humanidade, sempre escolhendo e pondo em destaque aquilo que serve para os mesmos. Houve o filtro no mundo grego, no império romano, também no mundo árabe, o mesmo aconteceu dentro da estrutura da igreja e ainda está bem presente no mundo moderno, com a internalização do conhecimento científico e a fragmentação do mesmo dentro da proposta de Descartes48. Na maioria dos casos só temos acesso àquilo que interessa ao fortalecimento do grupo dominante49 que, no mundo atual, controla os meios de comunicação, reforça Rodrigo Dantas. Na atualidade também temos que entender que os próprios partidos de esquerda deixam de ser socialista e passam a pregar o capitalismo e aí afunila cada vez mais as lutas de classes. Aqui também aconteceu um filtro para a imagem atual. A luta de classe serve para colocar certo equilíbrio. O socialismo perde forças quando imita a lógica do capitalismo em produzir cada vez mais. Então o capitalismo vence no século XX porque estava em expansão. Nos anos 1970 é articulada uma derrota nas lutas de classes e o neoliberalismo assume o comando: fim das lutas de classes, derrota do socialismo, fábricas computadorizadas, tal que desestrutura o mundo do trabalho e que elimina a capacidade de se organizar. Assim, podemos destacar a proposta de Fukuyama50, indagado pela vertente hegeliana, que descreve o fim da história, a pedido da burguesia e em nome dos intelectuais onde é determinante a proposta do neoliberalismo como modelo de mercado a ser seguido e que os governos da década de 1990 implantaram de forma escancarada nos países mais pobres – alguns asiáticos, africanos e latino-americanos. Desta forma, descreve Picoli, que “o atual sistema imposto de forma débil agoniza pelas contradições, mas o cidadão é vítima deste processo, e os que ainda estão incluídos passarão a serem possíveis excluídos. Além disso, o processo torna as pessoas marginalizadas e são consideradas estorvos dos ainda incluídos, pois estes passam a produzir o medo pela capacidade de rebelar-se contra o sistema criador, e pode ser observado por meio da criminalidade, e pelos registros dos atentados da atualidade. Ao mesmo tempo em que o sistema cria seus monstros e estorvo, também repele e condena sua própria criação, no entanto perde o controle de seu engenho através da barbárie”51. Recentemente houve um grande rearranjo da luta de classe, feito a observação que o capitalismo começa a excluir, lógica adotada diferente do início que ia incorporando. Hoje é mais difícil de organizar uma classe de trabalhadores. O mst e os sem-teto começaram a organizar os grupos dispersos. Antigamente era mais fácil organizar porque todos se encontravam na fábrica. Hoje tem os empregos, subempregos, terceirizados, autônomos, alguns sendo empregado e patrão ao mesmo tempo – é a lógica do moderno capitalismo. É o aprofundamento cada vez maior no chamado barbarismo, descrito por Picoli da seguinte forma: “Os atores sociais privados dos mecanismos de inclusão passam a produzir a barbárie, e essa trajetória é difícil ou impossível de ser revertida por meio dos meandros da concentração, e o capitalismo é incapaz de produzir a solidariedade, e dessa maneira ele não dá conta de reverter esse quadro por ele produzido”52. E continua descrevendo que “o que determina a marginalização, a exclusão e a delinquência social do povo, são as formas estabelecidas no seio dos interesses da concentração da riqueza, bem como do poder excludente e da não representação social e econômica, e formando assim, os extremos entre ter e não ter acesso às oportunidades individuais e coletivas”53. Temos que entender que a classe média atual quer que a classe rica faça o que está fazendo com o “Fome Zero” enquanto programa do Governo Federal, onde aparecem donos de grandes empresas dando um cheque e 47 Essa é a grande proposta de Paulo Freire em seu livro Pedagogia do Oprimido e também de Henrique Dussel em Ética da libertação: na idade da globalização e da exclusão. Trad. de Ephraim F. Alves, Jaime A. Clasen e Lúcia M. E. Orth. Petrópolis: Vozes, 2000. 48 O livro de Descartes que prescreve o enredo da divisão do conhecimento é Discurso do Método, editado por várias editoras e em quase todos os países do mundo ocidental. 49 Para a garantia do negro nos livros enquanto personagens da construção da história brasileira e não apenas como escravo, teve-se a necessidade de criar uma lei federa, a Lei no 10.639, em pleno século XXI. 50 Para uma maior complementação, ver o artigo de Luiz Marcos Gomes: O "Fim da História" ou A Ideologia Imperialista da “Nova Ordem Mundial” disponível em: http://www.culturabrasil.pro.br/fukuyama.htm acessado em 13/08/2010. E dentro do conceito histórico podemos destacar a leitura do livro: ANDRSON, Perry. O fim da história: de Hegel a Fukuyama. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992. 51 PICOLI: 2005; p.136. 52 Ibidem; pp.129-130. 53 Ibidem; p.130. 8
  • 9. sorrindo54. Tais medidas paliativas faz perpetuar a falsa generosidade, como alerta Paulo Freire e não traz a solidariedade, como destaca Fiorelo Picoli. Muitos intelectuais dizem que não tem mais luta de classe: criou-se a modalidade de que cada um seja seu empresário (o empreendedor). Isto reforça no imaginário coletivo com o seguinte slogan: lutar pelo coletivo para que? Existe uma compreensão geral de que a sociedade não pode ficar assim por mais de 50 ou 100 anos por causa dos seguintes fatores experimentados até então: 1- a destruição do planeta; 2- a experiência do socialismo vem de uma vivência sinalizada por um fracasso no século XX; 3- que o capitalismo chegou ao seu esgotamento; 4- a massa de exclusão construída começa a se organizar; 5- o perigo da destruição da guerra e por isso não deve ser repetido, fundamenta Dantas. Na Bolívia a luta já está em busca desse novo e a Venezuela tem dado passos significantes por uma maior autonomia de seu território, só para sinalizar dois exemplos dentro da América Latina. E assim podemos reforçar novamente qual o papel da filosofia: a questão da filosofia não é se perguntar se Deus existe ou não, mas se a humanidade existe ou não. A pergunta filosófica é pela transformação – existir para transformar: é o tempero da indignação com a amorosidade como retrata bem Paulo Freire. Temos que entender o questionamento posto de forma antagônica e que ideologicamente é assumido como normal, só porque os mesmos sempre permanecem no comando da sociedade. A ideologia antiga da pobreza descreve que é assim porque Deus quis. Agora é pobre porque é burro, vagabundo, não trabalha. Mudou de Deus para a própria pessoa e sempre continua para justificar a opressão e não para mudar. Então temos que entender que existe uma ideologia burguesa e por traz disso uma filosofia da mesma classe. A “esperteza” está com quem sai da pobreza, não importa como, e isto está fluente até nas novelas dos meios de comunicação dominantes55. Nosso papel central está em desfazer essas ideologias e filosofias dominantes, reforça Dantas. Por outro lado, temos que entender que o governo brasileiro atual da esquerda política não está em disputa, mas em contradição. Da mesma forma que se comprometeu com a “reforma agrária”, também se comprometeu com a burguesia, FMI... E assim, o PT está deixando de ser um partido de luta56. Temos que entender que não existe revolução através da política57 conforme está representada até hoje. A mídia está mostrando que existe uma vontade do atual governo federal e assim vai tecendo a teia para continuar dividida a sociedade entre os que trabalham e os que ficam com o lucro e pagam para manter a maquiagem ideológica. Nossa resposta está em buscar defender o acordo que o governo atual fez com a classe trabalhadora. Outro problema é que muitos intelectuais não se enquadram mais na categoria de trabalhadores e que de fato o são. Assim temos que exigir/reivindicar todos os acordos firmados com o povo. Não é um governo em disputa, mas um governo em contradição: aliança com a burguesia e compromisso com os trabalhadores. Diante desse governo temos um grande risco e uma oportunidade gigantesca. A nossa força está quando os movimentos vão à luta nas ruas e reivindicam o que foi compromissado. Por isso podemos dar um salto ou viver um retrocesso, ressalta Dantas. Então, qual o sentido da vida humana? Uma vez que o ser humano existe e tem consciência de sua existência, qual o seu verdadeiro sentido? (quem somos, quais os valores da vida). Isso vai além de perguntarmos por algo que não tem resposta igualmente. De onde vem o ser humano? Temos que entender que o conhecimento tem limites e que é nesse limite que concretizamos nossas experiências. Se formos responder de onde vem à humanidade, se Deus existe ou não, o que é a morte, para se ter uma resposta temos que investigar e quase sempre acabamos no mesmo círculo vicioso das respostas ludibriosas e que não leva a lugar nenhum. Temos que ter a capacidade de experimentar os limites do conhecimento. Temos que entender que vamos até certo ponto e de lá para frente é investigação. O conhecimento pode ser formulado e respondido dentro de nossas experiências e limites que temos. A invenção de muitas respostas é para convencer ou manipular as pessoas. Temos que entender que a vida só tem sentido a partir do momento que nós dermos a ela. A própria vida não tem sentido em si mesma. Ela pode ser vivida em vão ou em construção. Um exemplo de vida em construção para o bem da humanidade pode ser expressa pelos seguintes exemplos: Dom Tomás Balduíno, Mahatma Gandhi, Chico Mendes, Dom Pedro Casaldáliga, Che 54 Outro exemplo claro está no programa do PDE – todos pela educação – quando a maior acionista do banco Itaú, Milú Villela acaba sendo responsável para que o programa de resultados. Em, SAVIANI: 2009. 55 Basta ver o programa BBB da Rede Globo de Televisão para compreender que vale tudo, até matar o irmão ou os pais para se sair melhor e ficar rico, e sempre reforçando que não existem mais amigos, por isso não pode ter mais ninguém de confiança. Até onde esses meios continuarão dominando dessa maneira – ideologicamente manipulável e em nome do beneficio do mesmo grupo??? 56 SAVIANI (2009) destaca que “com a ascensão do PT ao poder federal, sua tendência majoritária realizou um movimento de aproximação com o empresariado, ocorrendo certo distanciamento de suas bases originárias” (p.32) 57 Esse é um dos posicionamentos mais defendidos pelo palestrante Rodrigo Dantas. 9
  • 10. Guevara, e tantos outros latinos, asiáticos e africanos. A vida não se estabelece só por um acontecimento transcendental. Tem sentido constituído pela liberdade e o que construímos. Aqui podemos reforçar que a luta pelo socialismo não é individual. É nas condições da produção existencial que dá sentido a vida. A burguesia trata de assuntos como a Alca afirmando que não tem nenhuma ideologia, só porque menciona apenas do ponto de vista do lucro. Sem ideologia é discutir apenas do ponto de vista do acúmulo de capital. Temos que entender que toda e qualquer pesquisa é a partir de quem tem recurso e disso a maioria fica privado. Um dos pilares sustentando no artigo A manipulação neoliberal do conhecimento58 está em acreditar na utopia e na mudança para podermos avançar. Caso não acreditarmos não é possível lutar e é isso que bem quer a classe dominante. O proeminente cuidado dentro da educação, ressalta o artigo, é com a demagogia voltada para teses como a sociedade do conhecimento e a qualidade total, com promessas de progressos e do bem estar dos indivíduos, mas que na verdade gera em seu interior pessoas com caráter de maior competitividade, tal qual exige o mercado. Assim, sujeita os indivíduos em busca da qualidade total para servir como reserva de mão-de-obra qualifica e alienada, “ideal para a voracidade da elite dominante”59. O ponto de vista de nós trabalhadores é o de que onde tem vida tem ideologia: que tipo de vida humana é produzido? Assim, os testemunhos contraditórios da humanidade na atualidade acabam sendo: gente é quem tem dinheiro e quem não tem fica a mercê. Consternado pela presença constante da fome no convívio dos trabalhadores braçais, a maioria desses padecem de dois tipos de fome, como descreve Santaella: “Há duas espécies de fome: a da miséria do corpo, esta, mais fundamental e determinante, visto que interceptadora de quaisquer outras funções, necessidades e realizações humanas; mas há também a carência de conhecimento, este outro tipo de fome”60. Temos que entender que onde termina certas ideologias, poderá começa a filosofia – desnudar, desmascarar. Claro que existem muitas filosofias que sustente a ideologia dominante 61. Racionalizar (racionalizar a existência) a ideologia dominante sempre teve o papel de tornar uma filosofia dominante. Por fim, acreditar na vivencia das etapas da vida, quando abre portas diferentes, é refletido de três maneiras distintas. O primeiro passo é a interiorização e aceitação com facilidade. O segundo é o de fácil exclusão do caminho traçado. E no terceiro passo vem do ouvir, refletir, questionar e se posicionar ou contra ou a favor. Quando ainda estamos imaturos, ou aceitamos ou ignoramos com maior facilidade os fatos, os grupos, os movimentos e outras categorias, é porque não conseguimos trazer para o consciente de forma conscientizada/politizada/problematizada. E fica o desafio para cada leitor: qual sua fundamentação para discutir a filosofia se é boa ou má? De onde vem suas leituras para questionar ou ideologizar o sistema capitalista? Se for a favor dos movimentos sociais, o que lhe fortalece para ter esse posicionamento? Se for contra, o que o levou a essa decisão? Como suporte é necessário ter grande cuidado com algumas fontes de informações e investigações. Já se questionou sobre as certezas e verdades produzidas e veiculadas? Se nos questionarmos, politizarmos, refletirmos, problematizarmos e defendermos o que é justo para a maioria, especialmente para os excluídos, ai quem sabe estaremos filosofando. Mão a obra por que não podemos perder tempo – quem tem fome ou sede não pode mais esperar. 58 SILVA FILHO, Berilo da Paz Carvalho e BLANCO, Marcos Luengo. A manipulação neoliberal do conhecimento. São Paulo: Universidade São Judas Tadeu. In: Revista Integração: ensino, pesquisa e extensão, Ano IX, Novembro de 2003, nº 35 (p.293). Disponível em: < http://www.usjt.br/prppg/revista/numeros.php > (acessado em 15/09/2010). 59 Ibidem; p.3. 60 SANTAELLA: 2004; p.9. 61 As várias formas de ideologia pode ser verificada em: ARANHA: 2004. 10