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CAPITULO I - INTRODUÇÃO

1.1. Descrição da doença
A Cólera é uma infecção intestinal aguda, causada pela enterotoxina do Vibrio Cholerae, podendo apresentar-se
de 2 formas:
       (i)    Forma grave, com diarreia aquosa profusa (por vezes do tipo “água de arroz”), com ou sem
              vómitos, dor abdominal e cãibras. Este quadro, quando não tratado de imediato, pode evoluir para
              desidratação rápida, acidose, colapso circulatório, com choque hipovolémico, insuficiência renal e
              morte em 6 horas.




                          Figura 1: Centro de Tratamento de Cólera/Doenças Diarreicas

      (ii)      Forma leve ou oligossintomática, que se apresenta com diarreia leve, como acontece na
                maioria dos casos (>80%).
1.2. Agente etiológico e reservatório
O agente etiológico da doença é o Vibrio Cholerae, que se divide em 2 subgrupos (i) Vibrio Cholerae 01, com duas
espécies (Clássico e El Tor); a espécie El Tor subdivide-se em 3 serotipos (Inaba, Ogawa ou Hikogima) e (ii) Vibrio
Cholerae 0139. O vibrião é um bacilo Gram negativo, com flagelo bipolar, aérobico ou anaeróbico facultativo,
produtor de endotoxina.
O reservatório principal é o homem; porém estudos mais recentes sugerem também a existência de reservatórios
ambientais.
1.3. Modo de transmissão e transmissibilidade
A Cólera é transmitida através da ingestão de água ou alimentos contaminados por fezes ou vómitos, de um
doente ou portador. A variedade El Tor, persiste na água por muito tempo, aumentando a probabilidade de manter
a sua transmissão e circulação.
O período de transmissibilidade dura enquanto houver eliminação do vibrião nas fezes, que ocorre geralmente até
poucos dias após a cura. Porém, é cada vez mais frequente a existência de portadores sãos durante alguns meses
ou até anos. Estes são particularmente importantes, por serem os responsáveis pela introdução da doença em
áreas livres da doença.
1.4. Período de incubação
Manual de Prevenção e Controlo da Cólera e de outras Diarreias Agudas

O período de incubação varia de algumas horas a 5 dias, sendo na maioria dos casos de 2 a 3 dias.
1.5. Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico é:
    • clínico-epidemiológico, com base na definição de caso e nas características epidemiológicas capazes de
       definir o diagnóstico , sem a investigação laboratorial.
    • laboratorial, consiste no isolamento do vibrião a partir da cultura da amostra de fezes (zaragatoas), do
       doente ou portador.

O diagnóstico diferencial é feito com qualquer patologia que cursa todas as diarreias agudas. O tratamento varia
consoante a gravidade, devendo ser efectuado de acordo com os Planos “A”, “B” e “C” (Anexo I) e consiste em:
    (i) Forma grave, consiste na reposição de líquidos e sais, por via EV.
    (ii) Forma leve, consiste na reposição de líquidos e sais, por via oral (SRO).

                   Em Moçambique, a administração de antibióticos para os casos de Cólera
                                     é expressamente proibida pelo MISAU.
               Caso haja outras patologias associadas, o clínico deverá avaliar cada caso e decidir
                                sobre a necessidade de utilização de antibióticos.

1.6. O perfil epidemiológico da Cólera em Moçambique
1.6.1. Factores de risco para a Cólera e outras Diarreias Agudas
O perfil epidemiológico do país é caracterizado por um grande número de doenças de origem ambiental, sendo a
malária e as diarreias, em especial a Cólera, as mais preocupantes.
Embora este quadro seja profundamente influenciado pelo nível de subdesenvolvimento e pobreza do país,
enquanto persistirem os problemas associados ao saneamento do meio ambiente, abastecimento de água
(disponibilidade e qualidade - Figura 2), recolha e eliminação de resíduos sólidos (Figura 3) e dejectos humanos,
controlo efectivo dos alimentos, maus hábitos de higiene individual e colectiva dos cidadãos, falta de educação
sanitária, e outros do âmbito da Saúde Ambiental dificilmente se conseguirá redução o impacto da
morbimortalidade desta doença.




                           Figura 2: Abastecimento de água numa das cidades do País


                                    Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública                                    2
Manual de Prevenção e Controlo da Cólera e de outras Diarreias Agudas

A carência de infra-estruturas de saneamento e/ou em mau estado de funcionamento nas zonas urbanas, a gestão
dos resíduos sólidos pelos Munícipes tem sido inadequada. Embora, cobrindo apenas as zonas de cimento, resulta
da grande acumulação de lixos nas vias publicas (Figura 3) e locais de maior aglomeração populacional, como
mercados, propiciando a proliferação de vectores (moscas, baratas, ratos, etc.) que constituem um verdadeiro
atentado à saúde pública.




                                Figura 3 : Acumulação de lixo nas vias publicas

Apesar dos esforços empreendidos pelo Governos central e municipais, estima-se que apenas 25% da população
moçambicana tenha acesso a adequadas condições de eliminação de excreta. A prática do fecalismo a céu aberto,
apesar de ser um verdadeiro atentado à saúde pública e ao pudor, é comum em vários locais do país, sendo mais
evidente nos espaços “livres” das zonas peri-urbanas de algumas cidades do país como a Beira, Quelimane, Ilha
de Moçambique e Pemba (Figura 4).




                                        Figura 4: Fecalismo a céu aberto
                                  Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública                                    3
Manual de Prevenção e Controlo da Cólera e de outras Diarreias Agudas

1.6.2. Breve descrição das epidemias de Cólera em Moçambique

A primeira epidemia pós independência ocorreu em 1983 (Figura 5) e o número de casos ultrapassou os 10.000,
seguindo-se um período de silêncio de 4 anos (85 a 88).

            4500
                            Figura 5: Sasonalidade/período endémico-epidémico, 1981-1983
            4000

            3500

            3000

            2500

            2000

            1500
     Casos




            1000

             500

              0
                       j         f        m         a          m               j         j             a           s        o           n         d

                                                                          81            82         83

Fonte: Unidade de Epidemiologia/MISAU




Período epidémico 1989 a 1994:
Durante os três primeiros anos assistiu-se a um crescente aumento do número de casos e em 1993, surgiu a
primeira grande epidemia da década de 90, com mais de 20.000 casos (Figura 6).

                                          Figura 6: Casos e taxa de letalidade, 1981-2000
              60000                                                                                                                                          9

                                                                                                                                                             8
              50000
                                                                                                                                                             7
                                                                                                                                                                 Taxa de Letalidade




              40000                                                                                                                                          6
    Casos




                                                                                                                                                             5
              30000
                                                                                                                                                             4

              20000                                                                                                                                          3

                                                                                                                                                             2
              10000
                                                                                                                                                             1

                   0                                                                                                                                         0
                           81

                                82

                                     83

                                          84

                                               85

                                                        86

                                                             87

                                                                     88

                                                                           89

                                                                                   90

                                                                                             91

                                                                                                  92

                                                                                                           93

                                                                                                                94

                                                                                                                       95

                                                                                                                            96

                                                                                                                                   97

                                                                                                                                            98

                                                                                                                                                 99

                                                                                                                                                      2000




                                                             Casos                 TL                  Log. (TL)                Log. (Casos)

Fonte: Unidade de Epidemiologia/MISAU




                                                    Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública                                                                           4
Manual de Prevenção e Controlo da Cólera e de outras Diarreias Agudas

Aspectos como (a) o facto de que em cada surto epidémico, 75% dos casos de infecção serem assintomáticos, (b)
a variabilidade do período de eliminação do Vibrião (de dias até um período máximo de 1 ano), (c) a proporção
entre a infecção e casos clínicos ser maior quando as epidemias são causadas pelo biotipo El Tor, poderão ter
feito com que, nessa altura (1992-1993), os picos epidémicos passassem a ser de magnitude superior.

A mudança do perfil epidemiológico da Cólera, de “doença epidémica” para “doença endémica, com picos
epidémicos”, deve-se, não só ao número de cumulativo de portadores assintomáticos no final de cada pico, mas
também, à recomendação de mudança do esquema terapêutico proposta pela OMS, em virtude da resistência do
vibrião aos antibióticos.

Nos anos seguintes (89-90, 90-91 e 91-92), o padrão manteve-se, alterando-se apenas os meses em que se
registou o maior número de casos. Este facto poderá estar ligado à mudança de comportamento da epidemia, uma
vez que esta passa a atingir igualmente a zona rural, (i) dada a escassez de água (final da época seca e fria), (ii)
fecalismo a céu aberto, (iii) construção de latrinas nas proximidades das precárias fontes de água.

Entre 92-93 (Figura 7), verificou-se que a epidemia atingiu a maior magnitude (34 casos por 10.000 habitantes),
quando comparada com os outros períodos epidémicos até 94. O seu padrão epidemiológico começa a modificar-
se, com um início lento, mas progressivo com linha epidémica abrangendo mais de 25.000 casos, atingindo o pico
em Dezembro de 92, com mais de 35.000 casos notificados.

Em Janeiro do ano seguinte, o número de casos começa a diminuir lentamente até Março, caindo bruscamente em
Abril para 20.000, mantendo-se, de certo modo, estável durante os dois meses seguintes, tendo se manifestado
com uma tendência ascendente, o que sugere que as dificuldades na resposta tiveram influência na magnitude da
epidemia. Outros factores como a (a) seca, (b) escassez de água potável, (c) maior mobilidade da população após
os acordos de paz, ou seja, aumento do risco e (d) debilidade do Serviço Nacional de Saúde poderão ter
contribuído para a propagação da doença.

                               Figura 7: Sasonalidade/período endémico-epidémico, 1990-1993

                       40000


                       35000


                       30000


                       25000
         nº de casos




                                                                                                                             89-90
                                                                                                                             90-91
                       20000                                                                                                 91-92
                                                                                                                             92-93
                                                                                                                             93-94
                       15000


                       10000


                       5000


                          0
                                set     out    nov       dez        jan         fev     mar       abr   mai      jun
                                                                          mês

Fonte: Unidade de Epidemiologia/MISAU




                                              Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública                                    5
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O pico epidémico 93-94, teve início em Setembro (cerca de 3 meses antes da anterior), com um número inferior de
casos (cerca de 25.000), atingindo pico em Março de 94; a linha endémica foi superior a da epidemia anterior. Em
94, registou-se um pequeno surto com apenas 701 casos, em Cabo Delgado, Sofala e Cidade de Maputo.

Até esta altura, na região norte, em especial em Cabo Delgado, a epidemia era manifestamente rural,
provavelmente devido ao facto de a população se encontrar concentrada em aldeias, enquanto nas regiões centro
e sul, foi essencialmente urbana.

Períodos epidémicos 1997-98, 1998-99, 1999-2000:
Este período foi precedido por um período de silêncio de cerca de 2 anos, em que não foram reportados casos de
Cólera em todo o país. Com início em Setembro de 97 (23.000 casos), a epidemia evoluiu progressivamente,
atingindo o pico em Dezembro (50.000 casos), passando apresentar um comportamento irregular. De notar que a
partir de Fevereiro de 2000 (Figura 8), a epidemia acompanha a curva anterior, mantendo o número de casos
entre os 20.000 e 30.000, com tendência crescente.

                       70000     Figura 8: Sasonalidade/período endémico-epidémico, 1997-2000

                       60000




                       50000
         Nº de casos




                       40000
                                                                                                                                  97-98

                                                                                                                                  98-99
                       30000
                                                                                                                                  99-2000



                       20000




                       10000




                           0
                                  ago     set     out      nov     dez      jan      fev     mar     abr     mai    jun
                                                                            Mês

                               Fonte: Unidade de Epidemiologia/MISAU


O período epidémico 1998-1999, inicia-se igualmente em Setembro de 98, com mais de 30.000 casos, seguindo o
mesmo padrão e tendência da epidemia anterior, embora com menor número de casos e maior amplitude. A
primeira fase da epidemia ocorreu entre Outubro 98 e Fevereiro 99, sendo mais prolongada do que a de 97-98; a
segunda fase da epidemia evoluiu de forma diferente, sugerindo a existência de uma epidemia generalizada, onde
em algumas zonas, a fonte de contaminação terá sido a comum e noutras a propagada. A última epidemia da
década de 90, registou-se no período epidémico 1999-2000, com o mesmo número de casos da epidemia anterior,
com aumento do número de casos em Novembro de 99. Na primeira fase, o aumento do número de casos foi lento
(cerca de 5.000), sugerindo uma detecção precoce e acções atempadas, mantendo-se estável nos dois meses
seguintes.

Este aspecto reveste-se de particular importância, pois mostra que se acções de controlo e prevenção a todos os
níveis, tiveram início atempado, é possível diminuir a magnitude da epidemia, baixar a taxa de letalidade,
minimizando os efeitos nefastos de um impacto negativo na saúde da população. Além disso, o Sector da Saúde e
não só, se beneficiarão na redução dos custos da epidemia e, consequente, realocação dos fundos para outras
actividades prioritárias.


                                                        Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública                                      6
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De Fevereiro a Abril de 2000, o número de casos subiu bruscamente atingindo em Março o número mais elevado
de casos (cerca de 54.000).

Comparando a taxa de letalidade ao longo do tempo, é possível verificar-se que esta apresenta uma tendência
decrescente. Sendo esta um indicador da qualidade dos serviços de saúde e sabendo-se que a taxa admissível
para esta doença é de 1%, só no último período epidémico é que o País conseguiu uma taxa média de 0,6%. Isto
reflecte um aumento na qualidade e prontidão de resposta dos trabalhadores de Saúde, não querendo com isso
dizer que esta situação seja extensiva a todas as províncias.

É de frisar que factores como (a) deficientes condições de higiene e saneamento do meio, (b) a escassez e o difícil
acesso a água potável, (c) conspurcação dos poços, (d) degradação progressiva da rede de esgotos, (e)
incapacidade de remoção e tratamento dos lixos, (f) o baixo nível económico das populações, (g) movimentos
populacionais desordenados, (h) urbanização desordenada e densidade populacional elevada, (i) calamidades
naturais são apontados como causas das diarreias em geral e das frequentes epidemias de Cólera que têm
assolado o país nos últimos anos.

Períodos epidémicos 2000-03, 2003-05, 2005-07:
De 2000 a 2003 iniciou-se um período epidémico de três anos caracterizado por um crescente aumento do número
de casos, com o pico em 2002 com mais de 32.000 casos (Figura 9). Após uma ligeira redução em 2003, o
período de 2003-05 teve o seu pico em 2004 com mais de 20.000 casos. O último período em análise foi
caracterizado por uma redução na magnitude da epidemia, comparativamente aos dois períodos epidémicos
anteriores.

                              Figura 9: Distribuicao de casos de colera por provincia por ano 2000-07
                                        Sasonalidade/período endémico-epidémico,

      36 000                    32645
      34 000
      32 000
      30 000
      28 000
      26 000
      24 000                                                     20779
      22 000
      20 000
      18 000                                                                                                                   Casos
                                                 14476
      16 000                                                                                                                   Obito
                 12 288
      14 000
      12 000
      10 000
       8 000                                                                                     5845
       6 000
                                                                                   2171                        2502
       4 000
                  164            458              112             114                             21
       2 000                                                                      23                            22

                 2001           2002             2003            2004             2005           2006          2007




    Fonte: Unidade de Epidemiologia/MISAU




A distribuição dos casos por Província entre 1997— 2007, mostrou que a Cidade (1997, 2007) e a Província (2000)
de Maputo, Sofala (1998) e Nampula (1999, 2002) foram as que registaram epidemias com a maior proporção de
casos (Figuras 10-11).


                                            Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública                                        7
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                                Figura 10: Proporção de Casos de Cólera por Província, 1997-2000

            Inhambane 0 10,9

                 Gaza 2,8 0,8
                        2,8        16,1

             Map. Prov          19,7          2,5
                                              0                 33,6

        Map.Cidade *                                           77,4                                      15,1        7,1        16,7

             Zambezia 0         20,9                  16        0

                  Tete 0
                       3,9 9,6 1,4

               Manica 1,1
                      00,7
                       0,8
                                                                                                         97     98      99    2000

                Sofala 0               32,4                    8,2          19,1

            C. Delgado 0 8,8              23,6             0

                Niassa 0,7 0,3
                       0 5,5

              Nampula 0 12,4                     27,8                1,2


    Fonte: Unidade de Epidemiologia/MISAU




                                Figura 11: Proporção de casos de Cólera por Província, 2001-2007

                                   2001              2002             2003         2004       2005       2006           2007
    Casos




             NIASSA     CABO      NAMPULA        ZAMBEZIA            TETE     MANICA      SOFALA   INHAMBANE     GAZA         MAPUTO     MAPUTO
                      DELGADO                                                                                                PROVINCIA   CIDADE

Fonte: Unidade de Epidemiologia/MISAU



Durante o ano de 2008, foram notificados diariamente através do Sistema de Vigilância Epidemiológica para
epidemias, um cumulativo total de 12.306 casos, 157 óbitos (Taxa de Letalidade de 1,5%), registados em todas as
Províncias do País. As províncias mais afectadas foram as de Nampula, Tete, Maputo Cidade e Sofala (Tabela 1 e
Figura 12).




                                                    Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública                                       8
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Tabela 1: Nº total cumulativo de casos e óbitos de Cólera notificados por província em 2008
                                                Cumulativos
 Províncias                                   Casos         Óbitos           Taxa de Letalidade
 Cidade de Maputo                              1038           6                     0,6%
 Província de Maputo                            806          13                     1,6%
 Gaza                                           842          19                     2,3%
 Inhambane                                      87            3                     3,4%
 Manica                                         910          11                     1,2%
 Sofala                                        1035           0                     0,0%
 Tete                                          1411          24                     1,7%
 Zambézia                                       750           8                     1,1%
 Nampula                                       4151          54                     1,3%
 Niassa                                         892          18                     2,0%
 Cabo Delgado                                   384           1                     0,3%
 Total do País                                12.306         157                    1,3%


              Figura 12: Casos de Cólera notificados em Moçambique em 2008




                                                                        Distrito afectado
                                                                        Distrito livre




                        Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública                                    9
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1.6.3. Distritos de maior risco para a epidemia de Cólera

Com base nos dados de Vigilância Epidemiológica dos BES de 2000 a 2007, foram mapeados (Figura 13)os
distritos de maior risco para a Cólera. Os critérios usados foram: (i) Distritos de altos risco – com 4 epidemias,
sendo duas consecutivas; (ii) Distritos com risco moderado: duas epidemias consecutivas; (iii) Distritos de baixo
risco: nenhum de critérios acima referidos, mas com uma ou mais epidemias de Cólera não consecutivas durante o
período em análise.

                   Figura 13: Mapeamento dos distritos de risco à eclosão de epidemias de Cólera em 2008



                                                                                                    Alto risco


                                                                                                    Risco médio


                                                                                                    Baixo risco




1.6.4. Perfil das doenças diarreicas em Moçambique no período 2000-2008

À semelhança da Cólera é também notória a tendência crescente do nº de casos de Diarreias no País nos últimos
anos (Figura 14), nos três grupos etários. Os factores de risco foram discutidos anteriormente no ponto 1.6.1.

              500.000

              400.000                                                                                             0-4 anos
                                                                                                                  5-15 anos
   Nº Casos




              300.000
                                                                                                                  > 15 anos
                                                                                                                  Log. (0-4 anos)
              200.000
                                                                                                                  Log. (> 15 anos)
                                                                                                                  Log. (5-15 anos)
              100.000
                          20


                                  20


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                          Figura 14: Tendência dos casos de Diarreias em Moçambique, 2000-2008



                                         Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública                                   10

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Manual de prevenção e controlo da colera e outras diarreias agudas capitulo i

  • 1. CAPITULO I - INTRODUÇÃO 1.1. Descrição da doença A Cólera é uma infecção intestinal aguda, causada pela enterotoxina do Vibrio Cholerae, podendo apresentar-se de 2 formas: (i) Forma grave, com diarreia aquosa profusa (por vezes do tipo “água de arroz”), com ou sem vómitos, dor abdominal e cãibras. Este quadro, quando não tratado de imediato, pode evoluir para desidratação rápida, acidose, colapso circulatório, com choque hipovolémico, insuficiência renal e morte em 6 horas. Figura 1: Centro de Tratamento de Cólera/Doenças Diarreicas (ii) Forma leve ou oligossintomática, que se apresenta com diarreia leve, como acontece na maioria dos casos (>80%). 1.2. Agente etiológico e reservatório O agente etiológico da doença é o Vibrio Cholerae, que se divide em 2 subgrupos (i) Vibrio Cholerae 01, com duas espécies (Clássico e El Tor); a espécie El Tor subdivide-se em 3 serotipos (Inaba, Ogawa ou Hikogima) e (ii) Vibrio Cholerae 0139. O vibrião é um bacilo Gram negativo, com flagelo bipolar, aérobico ou anaeróbico facultativo, produtor de endotoxina. O reservatório principal é o homem; porém estudos mais recentes sugerem também a existência de reservatórios ambientais. 1.3. Modo de transmissão e transmissibilidade A Cólera é transmitida através da ingestão de água ou alimentos contaminados por fezes ou vómitos, de um doente ou portador. A variedade El Tor, persiste na água por muito tempo, aumentando a probabilidade de manter a sua transmissão e circulação. O período de transmissibilidade dura enquanto houver eliminação do vibrião nas fezes, que ocorre geralmente até poucos dias após a cura. Porém, é cada vez mais frequente a existência de portadores sãos durante alguns meses ou até anos. Estes são particularmente importantes, por serem os responsáveis pela introdução da doença em áreas livres da doença. 1.4. Período de incubação
  • 2. Manual de Prevenção e Controlo da Cólera e de outras Diarreias Agudas O período de incubação varia de algumas horas a 5 dias, sendo na maioria dos casos de 2 a 3 dias. 1.5. Diagnóstico e tratamento O diagnóstico é: • clínico-epidemiológico, com base na definição de caso e nas características epidemiológicas capazes de definir o diagnóstico , sem a investigação laboratorial. • laboratorial, consiste no isolamento do vibrião a partir da cultura da amostra de fezes (zaragatoas), do doente ou portador. O diagnóstico diferencial é feito com qualquer patologia que cursa todas as diarreias agudas. O tratamento varia consoante a gravidade, devendo ser efectuado de acordo com os Planos “A”, “B” e “C” (Anexo I) e consiste em: (i) Forma grave, consiste na reposição de líquidos e sais, por via EV. (ii) Forma leve, consiste na reposição de líquidos e sais, por via oral (SRO). Em Moçambique, a administração de antibióticos para os casos de Cólera é expressamente proibida pelo MISAU. Caso haja outras patologias associadas, o clínico deverá avaliar cada caso e decidir sobre a necessidade de utilização de antibióticos. 1.6. O perfil epidemiológico da Cólera em Moçambique 1.6.1. Factores de risco para a Cólera e outras Diarreias Agudas O perfil epidemiológico do país é caracterizado por um grande número de doenças de origem ambiental, sendo a malária e as diarreias, em especial a Cólera, as mais preocupantes. Embora este quadro seja profundamente influenciado pelo nível de subdesenvolvimento e pobreza do país, enquanto persistirem os problemas associados ao saneamento do meio ambiente, abastecimento de água (disponibilidade e qualidade - Figura 2), recolha e eliminação de resíduos sólidos (Figura 3) e dejectos humanos, controlo efectivo dos alimentos, maus hábitos de higiene individual e colectiva dos cidadãos, falta de educação sanitária, e outros do âmbito da Saúde Ambiental dificilmente se conseguirá redução o impacto da morbimortalidade desta doença. Figura 2: Abastecimento de água numa das cidades do País Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública 2
  • 3. Manual de Prevenção e Controlo da Cólera e de outras Diarreias Agudas A carência de infra-estruturas de saneamento e/ou em mau estado de funcionamento nas zonas urbanas, a gestão dos resíduos sólidos pelos Munícipes tem sido inadequada. Embora, cobrindo apenas as zonas de cimento, resulta da grande acumulação de lixos nas vias publicas (Figura 3) e locais de maior aglomeração populacional, como mercados, propiciando a proliferação de vectores (moscas, baratas, ratos, etc.) que constituem um verdadeiro atentado à saúde pública. Figura 3 : Acumulação de lixo nas vias publicas Apesar dos esforços empreendidos pelo Governos central e municipais, estima-se que apenas 25% da população moçambicana tenha acesso a adequadas condições de eliminação de excreta. A prática do fecalismo a céu aberto, apesar de ser um verdadeiro atentado à saúde pública e ao pudor, é comum em vários locais do país, sendo mais evidente nos espaços “livres” das zonas peri-urbanas de algumas cidades do país como a Beira, Quelimane, Ilha de Moçambique e Pemba (Figura 4). Figura 4: Fecalismo a céu aberto Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública 3
  • 4. Manual de Prevenção e Controlo da Cólera e de outras Diarreias Agudas 1.6.2. Breve descrição das epidemias de Cólera em Moçambique A primeira epidemia pós independência ocorreu em 1983 (Figura 5) e o número de casos ultrapassou os 10.000, seguindo-se um período de silêncio de 4 anos (85 a 88). 4500 Figura 5: Sasonalidade/período endémico-epidémico, 1981-1983 4000 3500 3000 2500 2000 1500 Casos 1000 500 0 j f m a m j j a s o n d 81 82 83 Fonte: Unidade de Epidemiologia/MISAU Período epidémico 1989 a 1994: Durante os três primeiros anos assistiu-se a um crescente aumento do número de casos e em 1993, surgiu a primeira grande epidemia da década de 90, com mais de 20.000 casos (Figura 6). Figura 6: Casos e taxa de letalidade, 1981-2000 60000 9 8 50000 7 Taxa de Letalidade 40000 6 Casos 5 30000 4 20000 3 2 10000 1 0 0 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 2000 Casos TL Log. (TL) Log. (Casos) Fonte: Unidade de Epidemiologia/MISAU Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública 4
  • 5. Manual de Prevenção e Controlo da Cólera e de outras Diarreias Agudas Aspectos como (a) o facto de que em cada surto epidémico, 75% dos casos de infecção serem assintomáticos, (b) a variabilidade do período de eliminação do Vibrião (de dias até um período máximo de 1 ano), (c) a proporção entre a infecção e casos clínicos ser maior quando as epidemias são causadas pelo biotipo El Tor, poderão ter feito com que, nessa altura (1992-1993), os picos epidémicos passassem a ser de magnitude superior. A mudança do perfil epidemiológico da Cólera, de “doença epidémica” para “doença endémica, com picos epidémicos”, deve-se, não só ao número de cumulativo de portadores assintomáticos no final de cada pico, mas também, à recomendação de mudança do esquema terapêutico proposta pela OMS, em virtude da resistência do vibrião aos antibióticos. Nos anos seguintes (89-90, 90-91 e 91-92), o padrão manteve-se, alterando-se apenas os meses em que se registou o maior número de casos. Este facto poderá estar ligado à mudança de comportamento da epidemia, uma vez que esta passa a atingir igualmente a zona rural, (i) dada a escassez de água (final da época seca e fria), (ii) fecalismo a céu aberto, (iii) construção de latrinas nas proximidades das precárias fontes de água. Entre 92-93 (Figura 7), verificou-se que a epidemia atingiu a maior magnitude (34 casos por 10.000 habitantes), quando comparada com os outros períodos epidémicos até 94. O seu padrão epidemiológico começa a modificar- se, com um início lento, mas progressivo com linha epidémica abrangendo mais de 25.000 casos, atingindo o pico em Dezembro de 92, com mais de 35.000 casos notificados. Em Janeiro do ano seguinte, o número de casos começa a diminuir lentamente até Março, caindo bruscamente em Abril para 20.000, mantendo-se, de certo modo, estável durante os dois meses seguintes, tendo se manifestado com uma tendência ascendente, o que sugere que as dificuldades na resposta tiveram influência na magnitude da epidemia. Outros factores como a (a) seca, (b) escassez de água potável, (c) maior mobilidade da população após os acordos de paz, ou seja, aumento do risco e (d) debilidade do Serviço Nacional de Saúde poderão ter contribuído para a propagação da doença. Figura 7: Sasonalidade/período endémico-epidémico, 1990-1993 40000 35000 30000 25000 nº de casos 89-90 90-91 20000 91-92 92-93 93-94 15000 10000 5000 0 set out nov dez jan fev mar abr mai jun mês Fonte: Unidade de Epidemiologia/MISAU Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública 5
  • 6. Manual de Prevenção e Controlo da Cólera e de outras Diarreias Agudas O pico epidémico 93-94, teve início em Setembro (cerca de 3 meses antes da anterior), com um número inferior de casos (cerca de 25.000), atingindo pico em Março de 94; a linha endémica foi superior a da epidemia anterior. Em 94, registou-se um pequeno surto com apenas 701 casos, em Cabo Delgado, Sofala e Cidade de Maputo. Até esta altura, na região norte, em especial em Cabo Delgado, a epidemia era manifestamente rural, provavelmente devido ao facto de a população se encontrar concentrada em aldeias, enquanto nas regiões centro e sul, foi essencialmente urbana. Períodos epidémicos 1997-98, 1998-99, 1999-2000: Este período foi precedido por um período de silêncio de cerca de 2 anos, em que não foram reportados casos de Cólera em todo o país. Com início em Setembro de 97 (23.000 casos), a epidemia evoluiu progressivamente, atingindo o pico em Dezembro (50.000 casos), passando apresentar um comportamento irregular. De notar que a partir de Fevereiro de 2000 (Figura 8), a epidemia acompanha a curva anterior, mantendo o número de casos entre os 20.000 e 30.000, com tendência crescente. 70000 Figura 8: Sasonalidade/período endémico-epidémico, 1997-2000 60000 50000 Nº de casos 40000 97-98 98-99 30000 99-2000 20000 10000 0 ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun Mês Fonte: Unidade de Epidemiologia/MISAU O período epidémico 1998-1999, inicia-se igualmente em Setembro de 98, com mais de 30.000 casos, seguindo o mesmo padrão e tendência da epidemia anterior, embora com menor número de casos e maior amplitude. A primeira fase da epidemia ocorreu entre Outubro 98 e Fevereiro 99, sendo mais prolongada do que a de 97-98; a segunda fase da epidemia evoluiu de forma diferente, sugerindo a existência de uma epidemia generalizada, onde em algumas zonas, a fonte de contaminação terá sido a comum e noutras a propagada. A última epidemia da década de 90, registou-se no período epidémico 1999-2000, com o mesmo número de casos da epidemia anterior, com aumento do número de casos em Novembro de 99. Na primeira fase, o aumento do número de casos foi lento (cerca de 5.000), sugerindo uma detecção precoce e acções atempadas, mantendo-se estável nos dois meses seguintes. Este aspecto reveste-se de particular importância, pois mostra que se acções de controlo e prevenção a todos os níveis, tiveram início atempado, é possível diminuir a magnitude da epidemia, baixar a taxa de letalidade, minimizando os efeitos nefastos de um impacto negativo na saúde da população. Além disso, o Sector da Saúde e não só, se beneficiarão na redução dos custos da epidemia e, consequente, realocação dos fundos para outras actividades prioritárias. Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública 6
  • 7. Manual de Prevenção e Controlo da Cólera e de outras Diarreias Agudas De Fevereiro a Abril de 2000, o número de casos subiu bruscamente atingindo em Março o número mais elevado de casos (cerca de 54.000). Comparando a taxa de letalidade ao longo do tempo, é possível verificar-se que esta apresenta uma tendência decrescente. Sendo esta um indicador da qualidade dos serviços de saúde e sabendo-se que a taxa admissível para esta doença é de 1%, só no último período epidémico é que o País conseguiu uma taxa média de 0,6%. Isto reflecte um aumento na qualidade e prontidão de resposta dos trabalhadores de Saúde, não querendo com isso dizer que esta situação seja extensiva a todas as províncias. É de frisar que factores como (a) deficientes condições de higiene e saneamento do meio, (b) a escassez e o difícil acesso a água potável, (c) conspurcação dos poços, (d) degradação progressiva da rede de esgotos, (e) incapacidade de remoção e tratamento dos lixos, (f) o baixo nível económico das populações, (g) movimentos populacionais desordenados, (h) urbanização desordenada e densidade populacional elevada, (i) calamidades naturais são apontados como causas das diarreias em geral e das frequentes epidemias de Cólera que têm assolado o país nos últimos anos. Períodos epidémicos 2000-03, 2003-05, 2005-07: De 2000 a 2003 iniciou-se um período epidémico de três anos caracterizado por um crescente aumento do número de casos, com o pico em 2002 com mais de 32.000 casos (Figura 9). Após uma ligeira redução em 2003, o período de 2003-05 teve o seu pico em 2004 com mais de 20.000 casos. O último período em análise foi caracterizado por uma redução na magnitude da epidemia, comparativamente aos dois períodos epidémicos anteriores. Figura 9: Distribuicao de casos de colera por provincia por ano 2000-07 Sasonalidade/período endémico-epidémico, 36 000 32645 34 000 32 000 30 000 28 000 26 000 24 000 20779 22 000 20 000 18 000 Casos 14476 16 000 Obito 12 288 14 000 12 000 10 000 8 000 5845 6 000 2171 2502 4 000 164 458 112 114 21 2 000 23 22 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Fonte: Unidade de Epidemiologia/MISAU A distribuição dos casos por Província entre 1997— 2007, mostrou que a Cidade (1997, 2007) e a Província (2000) de Maputo, Sofala (1998) e Nampula (1999, 2002) foram as que registaram epidemias com a maior proporção de casos (Figuras 10-11). Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública 7
  • 8. Manual de Prevenção e Controlo da Cólera e de outras Diarreias Agudas Figura 10: Proporção de Casos de Cólera por Província, 1997-2000 Inhambane 0 10,9 Gaza 2,8 0,8 2,8 16,1 Map. Prov 19,7 2,5 0 33,6 Map.Cidade * 77,4 15,1 7,1 16,7 Zambezia 0 20,9 16 0 Tete 0 3,9 9,6 1,4 Manica 1,1 00,7 0,8 97 98 99 2000 Sofala 0 32,4 8,2 19,1 C. Delgado 0 8,8 23,6 0 Niassa 0,7 0,3 0 5,5 Nampula 0 12,4 27,8 1,2 Fonte: Unidade de Epidemiologia/MISAU Figura 11: Proporção de casos de Cólera por Província, 2001-2007 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Casos NIASSA CABO NAMPULA ZAMBEZIA TETE MANICA SOFALA INHAMBANE GAZA MAPUTO MAPUTO DELGADO PROVINCIA CIDADE Fonte: Unidade de Epidemiologia/MISAU Durante o ano de 2008, foram notificados diariamente através do Sistema de Vigilância Epidemiológica para epidemias, um cumulativo total de 12.306 casos, 157 óbitos (Taxa de Letalidade de 1,5%), registados em todas as Províncias do País. As províncias mais afectadas foram as de Nampula, Tete, Maputo Cidade e Sofala (Tabela 1 e Figura 12). Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública 8
  • 9. Manual de Prevenção e Controlo da Cólera e de outras Diarreias Agudas Tabela 1: Nº total cumulativo de casos e óbitos de Cólera notificados por província em 2008 Cumulativos Províncias Casos Óbitos Taxa de Letalidade Cidade de Maputo 1038 6 0,6% Província de Maputo 806 13 1,6% Gaza 842 19 2,3% Inhambane 87 3 3,4% Manica 910 11 1,2% Sofala 1035 0 0,0% Tete 1411 24 1,7% Zambézia 750 8 1,1% Nampula 4151 54 1,3% Niassa 892 18 2,0% Cabo Delgado 384 1 0,3% Total do País 12.306 157 1,3% Figura 12: Casos de Cólera notificados em Moçambique em 2008 Distrito afectado Distrito livre Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública 9
  • 10. Manual de Prevenção e Controlo da Cólera e de outras Diarreias Agudas 1.6.3. Distritos de maior risco para a epidemia de Cólera Com base nos dados de Vigilância Epidemiológica dos BES de 2000 a 2007, foram mapeados (Figura 13)os distritos de maior risco para a Cólera. Os critérios usados foram: (i) Distritos de altos risco – com 4 epidemias, sendo duas consecutivas; (ii) Distritos com risco moderado: duas epidemias consecutivas; (iii) Distritos de baixo risco: nenhum de critérios acima referidos, mas com uma ou mais epidemias de Cólera não consecutivas durante o período em análise. Figura 13: Mapeamento dos distritos de risco à eclosão de epidemias de Cólera em 2008 Alto risco Risco médio Baixo risco 1.6.4. Perfil das doenças diarreicas em Moçambique no período 2000-2008 À semelhança da Cólera é também notória a tendência crescente do nº de casos de Diarreias no País nos últimos anos (Figura 14), nos três grupos etários. Os factores de risco foram discutidos anteriormente no ponto 1.6.1. 500.000 400.000 0-4 anos 5-15 anos Nº Casos 300.000 > 15 anos Log. (0-4 anos) 200.000 Log. (> 15 anos) Log. (5-15 anos) 100.000 20 20 20 20 20 20 20 20 20 00 01 02 03 04 05 06 07 08 Ano Figura 14: Tendência dos casos de Diarreias em Moçambique, 2000-2008 Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública 10