O documento discute a importância da comunicação e da governança corporativa nas organizações modernas. A disseminação de informações e a conectividade trouxeram maior cobrança por transparência das organizações. A governança corporativa e a prestação de contas ("accountability") surgiram para institucionalizar a divulgação de informações e a prestação de contas às partes interessadas. No entanto, a aplicação desses conceitos no Brasil ainda carece de maturidade.
1. A governança corporativa e a comunicação
Hoje emDia
6. 11/07/14 - Receitasde governança
Ao ler este artigo no Hoje em Dia fiquei refletindo sobre a importância da
comunicação em relação a Governança Corporativa na contemporaneidade.
Para muitos estudiosos, vivemos na sociedade da informação, ou seria sociedade
da comunicação? No século 20, os defensores desta teoria já preconizavam ser o
conhecimento e a informação, a fonte de crescimento, o motor propulsor da
sociedade do futuro. A tecnologia capitaneada pelo computador, em conjunto com o
desenvolvimento das telecomunicações, foi decisiva para concretizar de vez esta
perspectiva. Esse acesso às informações, pela combinação de diversos dispositivos
como satélites, televisão, telefones celulares, computadores e internet, produziu o
aumento da conexão entre sujeitos individuais ou coletivos como as organizações,
quebrando barreiras como a distância e a língua, e diminuindo fronteiras geográficas,
sociais e humanas.
O acesso veloz e abrangente às informações, a comunicação de massa, a
tecnologia que gera o encurtamento do tempo e espaço são alterações que
influenciaram o modo de o homem estar no mundo e, consequentemente, trouxeram
novas implicações éticas e morais para a sociedade.
Assim, a abrangência desses fenômenos e seu poder de transformação geraram
uma reestruturação dentro do contexto organizacional, por meio da mudança de
comportamento das pessoas.
Mas, se por um lado as organizações dispõem de muito mais informações para
alavancar os seus negócios, por outro esse fenômeno implicou mais cobrança da
sociedade por transparência, por fornecer e compartilhar essas informações.
As próprias organizações, na década de 1990, procurando institucionalizar
maneiras de prestar contas à sociedade inauguraram o sistema de “governança
corporativa” e “accountability”, a fim de dar uma resposta ao clamor da sociedade
por informação e ética na conduta dos seus negócios. Mas quais significados esses
termos carregam? E como a sua chegada impactou a comunicação entre organizações
e seus interlocutores? Tentando jogar luz a essa reflexão que propõe o artigo,
2. explicamos que um sistema de governança corporativa1 é um conjunto de
regulamentos e convenções culturais que vão reger justamente a relação entre a
empresa, os acionistas e os diversos atores sociais, que, de alguma maneira, estão
conectados a ela.
Oito princípios sustentam a governança corporativa, sendo eles: estado de
direito, transparência, responsabilidade, orientação por consenso, igualdade e
inclusividade, efetividade e eficiência e prestação de conta (accountability). Fazendo
parte desse sistema, a accountability fornece importante aparato para o controle das
ações das organizações e sua divulgação para a sociedade. O termo vem da língua
inglesa e não tem tradução exata para o português, já que o seu sentido mais comum
nos remete à obrigação de membros de uma organização pública ou privada prestar
contas de suas ações a instâncias controladoras ou a seus representantes. Na ausência
de tal tradução, outro termo usado numa possível versão portuguesa é
responsabilização, que é frequentemente usado em circunstâncias que denotam
responsabilidade social, imputabilidade, obrigações e prestação de contas.
No entanto, essa questão não é meramente linguística; a nosso ver, traz em si
outro sentido, o de que no Brasil as organizações não se preocupavam em prestar
contas de seus atos à sociedade, e mesmo hoje muitas transformam isso em um
instrumento de marketing em busca de aceitação social. Em consonância com essa
premissa, Campos (1990, p. 1), autora do emblemático artigo intitulado
“Accountability. Quando poderemos traduzi-la para o português?”, diz que: “[...] Ao
longo dos anos foi entendido que faltava aos brasileiros não precisamente a palavra,
ausente tanto na linguagem comum como nos dicionários. Na verdade, o que nos falta
é o próprio conceito, razão pela qual não dispomos da palavra em nosso vocabulário”.
A autora nos fornece a noção de que a accountability envolve três dimensões –
informação, justificação e punição –, podendo ou não essas estar juntas para que
existam os atos de accountability. Sendo um sistema de informação e controle das
ações de organizações, pode ser implantadas em políticas públicas, em questões
administrativas, profissionais, financeiras, morais, legais e constitucionais em esferas
públicas e privadas.
1 Governança corporativa – Disponível em:< http://www.ibgc.org.br/Secao.aspx?CodSecao=17 >. Acesso
em: 28 maio 2009.
3. Cada um desses três campos da accountability apresenta diferentes mecanismos
e objetivos específicos para o controle, a vigilância e a busca de transparência das
ações das organizações. Apesar da recente presença do conceito da accountability no
Brasil, ela representa importante mudança de paradigmas na relação comunicativa
entre as organizações e a sociedade.