O documento fornece um resumo sobre o Transtorno de Conduta na infância e adolescência. Ele discute a definição, epidemiologia, critérios diagnósticos, fatores associados e manejo do transtorno. Fatores como alterações cerebrais, cognitivas, familiares e ambientais estão associados ao desenvolvimento do transtorno. O tratamento envolve avaliação da gravidade do caso, acolhimento da família e planejamento terapêutico individualizado.
2. Transtorno de Conduta na infância e adolescência
Possível definição: “Conjunto de sintomas centrais
caracterizados pelo fracasso consistente em controlar
adequadamente o comportamento dentro de regras
socialmente definidas.”
Epidemiologia: Prevalência entre 5% e 10%, ou seja,
problema psiquiátrico infantil mais comum, praticamente
responsável pela inclusão da Psiquiatria Infantil nas
práticas intervencionistas da Psiquiatria a partir dos anos
30, na Europa e Estados Unidos.
Dr. Cláudio Costa - Belo Horizonte-MG
3. Transtorno de Conduta na infância e adolescência:
Breve revisão
Critérios diagnósticos: DSM-IV-TR (312.8) – Bastam 3 dos 15 sintomas abaixo.
A. Um padrão repetitivo e persistente de comportamento no qual são violados os direitos básicos dos outros ou
normas ou regras sociais importantes apropriadas à idade, manifestado pela presença de três (ou mais) dos seguintes
critérios nos últimos 12 meses, com pelo menos um critério presente nos últimos 6 meses:
Agressão a pessoas e animais
(1) frequentemente provoca, ameaça ou intimida outros
(2) frequentemente inicia lutas corporais
(3) utilizou uma arma capaz de causar sério dano físico a outros (por ex., bastão, tijolo, garrafa quebrada, faca, arma
de fogo)
(4) foi fisicamente cruel com pessoas
(5) foi fisicamente cruel com animais
(6) roubou com confronto com a vítima (por ex., bater carteira, arrancar bolsa, extorsão, assalto à mão armada)
(7) forçou alguém a ter atividade sexual consigo
Destruição de propriedade
(8) envolveu-se deliberadamente na provocação de incêndio com a intenção de causar sérios danos
(9) destruiu deliberadamente a propriedade alheia (diferente de provocação de incêndio)
Defraudação ou furto
(10) arrombou residência, prédio ou automóvel alheios
(11) mente com freqüência para obter bens ou favores ou para evitar obrigações legais (isto é, ludibria outras pessoas)
(12) roubou objetos de valor sem confronto com a vítima (por ex., furto em lojas, mas sem arrombar e invadir;
falsificação)
Sérias violações de regras
(13) frequentemente permanece na rua à noite, apesar de proibições dos pais, iniciando antes dos 13 anos de idade
(14) fugiu de casa à noite pelo menos duas vezes, enquanto vivia na casa dos pais ou lar adotivo (ou uma vez, sem
retornar por um extenso período)
(15) frequentemente gazeteia à escola, iniciando antes dos 13 anos de idade
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4. Transtorno de Conduta na infância e adolescência:
Breve revisão
Continuação: Critérios para diagnóstico de TC de acordo com DSM-IV-TR :
B. A perturbação no comportamento causa prejuízo clinicamente significativo no
funcionamento social, acadêmico ou ocupacional.
C. Se o indivíduo tem 18 anos ou mais, não são satisfeitos os critérios para o Transtorno da
Personalidade Anti-Social.
De acordo com a idade de início:
- Tipo com Início na Infância: Início de pelo menos um critério característico de
Transtorno da Conduta antes dos 10 anos de idade.
- Tipo com Início na Adolescência: ausência de quaisquer critérios característicos de
Transtorno da Conduta antes dos 10 anos de idade.
De acordo com a gravidade:
Leve: poucos problemas de conduta, se existem, além daqueles exigidos para fazer o
diagnóstico e os problemas de conduta causam apenas um dano pequeno a outros.
Moderado: número de problemas de conduta e efeito sobre outros são intermediários,
entre "leve" e "severo".
Severo: muitos problemas de conduta além daqueles exigidos para fazer o diagnóstico
ou problemas de conduta que causam dano considerável a outros.
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5. Transtorno de Conduta na infância e adolescência:
Breve revisão
Critérios para Transtorno Desafiador Opositivo DSM-IV-TR 313.81 - (4 ou mais):
A. Um padrão de comportamento negativista, hostil e desafiador durando pelo menos 6
meses, durante os quais quatro (ou mais) das seguintes características estão presentes:
(1) frequentemente perde a paciência, (2) frequentemente discute com adultos
(3) com frequência desafia ou se recusa ativamente a obedecer a solicitações ou regras
dos adultos
(4) frequentemente perturba as pessoas de forma deliberada
(5) frequentemente responsabiliza os outros por seus erros ou mau comportamento
(6) mostra-se frequentemente suscetível ou é aborrecido com facilidade pelos outros
(7) frequentemente enraivecido e ressentido, (8) frequentemente rancoroso ou
vingativo
Obs: O comportamento deve ocorrer com maior frequência do que se observa
tipicamente em indivíduos de idade e nível de desenvolvimento comparáveis.
B. A perturbação do comportamento causa prejuízo clinicamente significativo no
funcionamento social, acadêmico ou ocupacional.
C. Os comportamentos não ocorrem exclusivamente durante o curso de um Transtorno
Psicótico ou Transtorno do Humor.
D. Não são satisfeitos os critérios para Transtorno da Conduta e, se o indivíduo tem 18
anos ou mais, não são satisfeitos os critérios para Transtorno da Personalidade
Antisocial.
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6. Transtorno de Conduta na infância e adolescência
Fatores associados aos Transtornos de Conduta:
A) Fatores constitucionais:
Índices mais altas de testosterona;
Índices mais baixos de cortisol;
Comorbidade com TDA/H = 43%
Comorbidade com Transtornos de Ansiedade e Depressão = 33%
Maior concordância em gêmeos homozigóticos
Alterações anatômicas no sistema paralímbico (influenciando nas
funções cognitivas e emocionais)
Rev. Bras. Psiquiatr. vol.22 s.2 São Paulo Dec. 2000
BMJ 2011; 342:d2132 (4.abril.2011 ) = Diferenças anatômicas entre cérebros de
adolescentes com e sem TC
AJP vol 116 – Janeiro.2009 = Imagens das regiões órbito-frontais nos
portadores de TC são diferentes de quem tem TDA/H
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7. Alterações na estrutura cerebral de adolescentes com Transtorno
de Conduta: anormalidades nas áreas fronto-límbicas
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8. Transtorno de Conduta na infância e adolescência
Fatores associados aos Transtornos de Conduta:
B) Aspectos cognitivos e psicológicos:
menos tolerância à frustração;
interpretação negativa das intenções do outro;
menos sensíveis à possibilidade de punição;
demora em se acalmar diante das frustrações;
Baixa auto-estima;
Melancolia.
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9. Transtorno de Conduta na infância e adolescência
C) Fatores ambientais
Família:
Transtornos psiquiátricos dos pais desarmonias conjugais;
Falta de limites, hostilidade contra a criança;
Reforço parental nos comportamentos disruptivos;
Abuso sexual.
Escola:
Ambiente desorganizado e inamistoso, pouco contato com os pais;
Ambiente social amplo
Meio social com baixo índice de desenvolvimento;
Risco na vizinhança;
Influência dos ‘amigos’
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10. Transtorno de Conduta na infância e adolescência
Evolução do TC ao longo do tempo
Extraído de Louzã, Cordás & cols: Transtornos de Personalidade. Artmed, Porto Alegre, 2011
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11. Manejo do Transtorno de Conduta na adolescência
Considerações sobre o Tratamento
Antes de tudo: um desafio
Expectativas realistas
Mil e uma possibilidades e um milhão de desafios
Resistência familiar
Foco ampliado:
Adolescente
Família
Escola
Vida social/esporte/clube/amigos
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12. Manejo do Transtorno de Conduta na adolescência
Considerar diagnósticos diferenciais:
Transtorno de ajustamento: verificar ocorrência de estressor social, como
divórcio dos pais, adoção, trauma, abuso (média de 3 meses antes dos
sintomas);
TDA/H tipo hiperativo-impulsivo: geralmente, destrutividade e
comportamentos antissociais intencionais indicam TC;
Desvio subcultural: comportamentos antissociais mas não especialmente
agressivos ou rebeldes;
Transtornos autísticos: crises de acessos de raiva;
Transtornos maníacos (THB): surtos de raiva, agressividade, exaltação
irritável;
Adolescentes “normais”, sobre os quais pesam expectativas ou exigências
indevidamente altas
(*) Goodman e Scott - Psiquiatria Infantil, SP, Editora Roca, 2004.
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13. Manejo do adolescente com Transtorno de Conduta
Considerar a gravidade do caso:
A gravidade do TC varia de acordo com os três campos sobrepostos
de comportamento:
Rebeldia, desobediência, comportamentos desafiadores;
Agressividade, irritabilidade, impulsividade;
Comportamentos antissociais: destrutividade, violação dos direitos,
roubos, ferimentos em outros.
Não considerar comportamentos ocasionais nem os atribuíveis ao
nível de desenvolvimento.
Considerar o conceito dimensional do transtorno: o ponto de
corte entre patológico e normal não é fácil de ser estabelecido.
(*) Goodman e Scott - Psiquiatria Infantil, SP, Editora Roca, 2004.
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14. Manejo do Transtorno de Conduta na adolescência
Acolhimento da família e do adolescente
Estabelecimento do diagnóstico
Planejamento terapêutico:
Definição de objetivos
Terapia Familiar ou Orientação Familiar?
Adesão ao tratamento
Psicofarmacologia?
Psicoterapia com o adolescente?
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15. Manejo do adolescente com Transtorno de Conduta
Caso 1:
Guilherme, 16 anos, afrodescente.
Adotado aos 4 anos
AF: pai usuário e traficante de substância, assassinado; mãe:
“da vida”, 4 filhos, “cada um de um homem”.
Adotado por casal mais velho (acima de 50a) de vida conjugal
conflituosa, brancos, educação superior, classe média alta, já
com 2 filhos adultos (ambos desadaptados,
semidependentes)
QP: envolvimento com colegas de baixo nível social,
ressentido com “sociedade injusta”, gazeteando aulas, baixo
rendimento escolar, comportamento desafiador. Inicio dos
sintomas: há mais ou menos 01 ano.
Dr. Cláudio Costa - Belo Horizonte-MG
16. Manejo do adolescente com Transtorno de Conduta
Caso 2:
Maria: 11 anos.
Família: Pai e mãe médicos. 1 irmão de 4 anos.
Queixas: irritabilidade, relacionamento conflituoso
com irmão e colegas, ótimo rendimento escolar,
comportamento opositor, birras, brigas, impulsividade.
HP: já em tratamento com Ritalina e Risperidona
(TDAH)
Padrão familiar de educação: exigências e expectativas
acima das apropriadas; frustração com consequente
hostilidade e rejeição. Não se escuta a criança.
Dr. Cláudio Costa - Belo Horizonte-MG