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Muito além 
Falar menos e ouvir mais. Ou reconhecer os pontos de vista alheios como 
válidos e expressar os próprios pontos de vista sem fazer provocações. 
Essa é a fórmula básica que o especialista de Harvard William Ury sugere 
a quem sentará a uma mesa de negociações. Ele divide com Roger Fisher 
o título de maior autoridade mundial em negociação e também a autoria 
do best seller Como Chegar ao Sim (ed. Imago) – o título do original é 
Getting to Yes. 
No presente artigo, escrito especialmente para a HSM Management, 
Ury conta uma história verídica de negociação conflituosa entre as empresas 
AT&T e Boeing e ensina como virar o jogo. Segundo ele, é preciso desarmar 
a outra parte com uma surpresa. “Você deve fazer o oposto do que é 
esperado. Se eles estão levantando muralhas, esperam que você os 
pressione; se atacam, esperam que você resista. Então não pressione; não 
resista. Passe para o lado deles.” As lições aqui não servem apenas para 
quem vende e compra alguma coisa; negociar também pode ser persuadir 
um chefe difícil a mudar de opinião sobre uma estratégia determinada. 
H S M M a n a g e m e n t 8 m a i o - j u n h o 1 9 9 8 
DOSSIÊ 
Como agir na negociação e, em especial, nas situações de 
conflito. Por William Ury 
A AT&T estava no meio de uma 
negociação para vender à Boeing 
um novo sistema de telecomunica-ções, 
avaliado em US$ 150 milhões. 
A equipe de vendas utilizara argu-mentos 
bastante persuasivos – com 
base no tipo de serviço a ser presta-do, 
na rapidez de atendimento e 
solução de problemas, e na velocida-de 
de execução de reparos – e espe-rava 
pela resposta. 
Nesse momento, o diretor de 
compras da Boeing disse: “Ótimo. 
Agora me dêem cada uma dessas 
promessas por escrito. E também 
quero garantias de que, se houver 
um problema com o sistema e não 
for sanado dentro do prazo, vocês 
nos indenizarão pelos prejuízos”. 
“Faremos o melhor dentro de nos-sas 
possibilidades”, respondeu o che-fe 
de vendas da AT&T. “Mas não po-demos 
nos responsabilizar por todas
➙ 
71 
do não 
certo. O que fazer quando depara-mos 
H S M M a n a g e m e n t 8 m a i o - j u n h o 1 9 9 8 
com uma pessoa insensata (em 
nossa opinião)? Ou com uma posi-ção 
insensata? Eu digo: surpreender, 
ouvir, reconhecer e não provocar. 
Passe para o lado deles 
O erro nesse caso, mais comum 
do que se imagina, está no fato de 
tentar chamar à razão alguém que 
não está disposto a “parar para pen-sar”. 
Suas palavras cairão no vazio 
ou serão mal-interpretadas. Você 
estará diante de uma barreira de 
emoções negativas. A outra parte 
pode ficar desconfiada, com raiva 
ou se sentir ameaçada. Convicta de 
que está certa, e você errado, não 
se disporá a ouvir. 
É tentador ignorar a emoção e 
se concentrar no problema, mas isso 
raramente funciona. As emoções 
negativas virão à tona na forma de 
posições inflexíveis. Antes de discutir 
o problema, é preciso dissipar essas 
emoções negativas. O desafio do 
negociador é criar um clima favorá-vel 
que permita a negociação. 
O segredo para desarmar a outra 
parte é a surpresa. Você deve fazer 
o oposto do que é esperado. Se eles 
estão levantando muralhas, esperam 
que você os pressione; se atacam, 
esperam que você resista. Então não 
pressione; não resista. Passe para 
o lado deles. 
Essa é a última coisa que esperam 
de você. Ao passar para o lado 
deles, você os desorienta e isso faz 
com que se abram e deixem de ser 
inimigos. Além disso, como os 
praticantes de artes marciais japo-nesas 
sabem há muito tempo, é 
difícil atacar alguém que, de repen-te, 
está do seu lado. E, o que é mais 
importante, isso coloca você e seu 
opositor juntos – exatamente onde 
você quer estar para iniciar uma 
negociação construtiva. 
as coisas que podem dar errado. 
Um raio pode cair…” 
“Vocês estão nos fazendo de bo-bos!”, 
interrompeu o negociador 
da Boeing, perdendo o controle. 
“Primeiro falam de seus serviços, e 
agora não estão dispostos a assu-mir 
um compromisso em relação 
ao que nos prometeram!” 
“Isso não é verdade!”, protestou 
o chefe de vendas da AT&T, surpre-so 
com o caminho que a negocia-ção 
estava tomando. “Deixe-me ver 
se consigo explicar…” Mas o execu-tivo 
da Boeing se recusou a conti-nuar 
ouvindo. “Vocês não estão de 
boa-fé”, reclamou. “Não há acordo 
com vocês.” 
O chefe de vendas da AT&T fez 
ainda uma última tentativa: “Vamos 
conversar. Talvez possamos pôr parte 
disso no papel”. Mas o diretor de 
compras da Boeing estava decidido; 
ele e toda a sua equipe se levantaram 
e deixaram a sala. O negócio de 
US$ 150 milhões fracassara. 
O que aconteceu aqui? Quando a 
AT&T se recusou a acatar as exigên-cias 
da Boeing, o negociador da em-presa 
se irritou e partiu para o ata-que. 
O chefe de vendas da AT&T se 
defendeu, mas isso só alimentou a 
ira do comprador. E, quando o re-presentante 
da AT&T tentou expli-car, 
o representante da Boeing não 
quis escutar. Nada mais parecia dar 
Máximo Campos Leyba
72 
H S M M a n a g e m e n t 8 m a i o - j u n h o 1 9 9 8 
Para se colocar “do outro lado” 
é preciso ouvir e reconhecer. 
Ouça com atenção 
Ouvir alguém é a concessão mais 
barata que há. Todos nós temos a 
profunda necessidade de ser com-preendidos. 
Ao satisfazer essa neces-sidade, 
você pode fazer com que a 
negociação tome outro rumo. 
Vejamos o exemplo de uma nego-ciação 
contratual entre um sindicato 
e a gerência de uma fábrica de con-têineres 
da Inland Steel. O negocia-dor 
da empresa começou assumindo 
uma posição inflexível em relação aos 
salários. Normalmente, o sindicato 
teria contra-atacado, a gerência de-fenderia 
sua posição com veemência 
e, após uma discussão inútil, a greve 
seria deflagrada. Mas, em vez de con-tra- 
atacar, o representante do sindica-to 
perguntou placidamente: “Por que 
isso é tão importante para vocês?” 
Diante da questão, que soou 
como um “convite” para falar, o ne-gociador 
da empresa passou a explicar 
em detalhe os motivos que levaram 
a gerência a assumir aquela posição 
em relação à questão salarial. Tendo 
a satisfação de ser ouvida até o fim 
em sua exposição de motivos, 
a gerência, por sua vez, dispôs-se a 
escutar as preocupações do sindica-to. 
A decisão do negociador do sin-dicato 
de pedir calmamente que a 
outra parte apresentasse seus pontos 
de vista abriu espaço para que o im-passe 
pudesse ser resolvido, e a greve 
que todos esperavam não aconteceu. 
Ouvir requer paciência e autodis-ciplina. 
Em vezes de reagir imediata-mente 
ou de ficar planejando o pró-ximo 
passo, é preciso se concentrar 
no que a outra parte está dizendo. 
Ouvir não é fácil, mas pode ser algo 
valioso. Proporciona uma janela 
para o pensamento da outra parte; 
permite que você envolva a outra par-te 
em uma tarefa conjunta – enten-der 
o problema dela; e faz com que 
a outra parte fique mais disposta a 
ouvir você. 
Se a outra parte estiver irritada ou 
perturbada, a melhor coisa para fazer 
é oferecer um “ouvido amigo”. Nun-ca 
interrompa os negociadores do 
outro lado da mesa – mesmo que 
você ache que eles estão errados ou 
for insultado. Para que percebam que 
você está prestando atenção, mante-nha 
contato com os olhos e balance 
a cabeça ocasionalmente. Quando 
acabarem, pergunte com tranquilida-de 
se existe algo que queiram acres-centar. 
Em seguida, faça um resumo 
do que os ouviu dizer. 
As pessoas têm grande prazer em 
poder expor seus sentimentos e res-sentimentos. 
Os gerentes que traba-lham 
com atendimento ao cliente 
sabem que, embora seja pouco o que 
podem fazer para ajudar um cliente 
insatisfeito, ouvi-lo com respeito é mui-tas 
vezes suficiente para que ele volte. 
Uma vez que você tenha ouvido 
a exposição dos outros, eles prova-velmente 
serão mais receptivos a 
uma negociação construtiva. Não é 
por acaso que, se você observar o 
comportamento dos mais bem-suce-didos 
negociadores, verá que escu-tam 
muito mais do que falam. 
Reconheça o ponto de vista e a pessoa 
O passo seguinte é reconhecer o 
ponto de vista da outra parte. Você 
pode relutar em fazer isso, até por dis-cordar 
radicalmente. Mas, ao ignorar 
esse passo, perderá uma grande opor-tunidade 
de facilitar a negociação. 
Todo ser humano tem uma gran-de 
necessidade de ser reconhecido. 
Ao satisfazer tal necessidade, você 
contribui para criar um clima de 
entendimento. Reconhecer o ponto 
de vista da outra pessoa não significa 
estar de acordo com ele. Significa 
apenas aceitá-lo como válido, entre 
outros tantos pontos de vista. 
Tal atitude transmite a seguinte 
mensagem: “Consigo entender seu 
ponto de vista”. E isso pode ser feito 
por meio de frases como “você está 
certo nesse aspecto”, ou “entendo 
exatamente o que está dizendo”, ou 
ainda “sei bem o que quer dizer”. 
Em geral, a mente do outro é 
como um porão repleto de velhos 
ressentimentos, desgostos e lamenta-ções. 
Discutir só fará manter isso tudo 
vivo. Mas, se você reconhecer a vali-dade 
do que o outro está dizendo, a 
carga emocional começará a se dissi-par. 
As velharias do porão começarão 
a desaparecer. Ao permitir que expo- 
Máximo Campos Leyba
➙ 
73 
COMO SE COMPORTAR À MESA DE NEGOCIAÇÕES 
H S M M a n a g e m e n t 8 m a i o - j u n h o 1 9 9 8 
nha sua versão, e ao reconhecê-la, 
você estará criando as condições psi-cológicas 
para que ele também aceite 
a possibilidade de um “outro lado”. 
O reconhecimento pode ser admi-tir 
a autoridade ou a competência da 
outra pessoa. Suponha que você este-ja 
tentando persuadir um chefe difícil 
a mudar de opinião sobre uma estra-tégia. 
Ele pode ter a impressão de 
que você está desafiando sua autori-dade. 
Será que você está inferindo, 
ele se pergunta, que, de alguma ma-neira, 
ele é incompetente ou está 
errado? Ele provavelmente reagirá 
tornando-se ainda mais refratário ao 
que você tem para dizer. Para tran-quilizá- 
lo quanto às suas intenções, é 
possível que você tenha de iniciar 
suas observações com frases tais 
como “o senhor é quem manda”, ou 
então “eu respeito sua autoridade”. 
Uma das melhores maneiras de 
reconhecer a outra pessoa é criar 
um relacionamento de trabalho. Um 
bom relacionamento de trabalho é 
como uma poupança da qual você 
pode efetuar saques em momentos 
difíceis. Portanto, se houver a possi-bilidade 
de conflito com a outra par-te, 
nutra uma boa relação com ela 
desde o início. Um gerente de pro-dução 
deve ter um relacionamento 
de trabalho saudável com o gerente 
de marketing; um empresário com o 
líder sindicalista e assim por diante. 
Assim, quando a outra pessoa está 
sendo difícil, você será capaz de di-zer: 
“Vamos lá, sempre nos demos 
bem. E há tanto tempo”. 
Exponha seu ponto de vista sem 
provocações 
Depois de você ter reconhecido a 
outra parte, ficará bem mais fácil fa-lar. 
Chegou o momento de mostrar 
seu ponto de vista, mas sem fazer 
com que os outros tapem os ouvidos. 
O segredo, agora, está na atitude. 
A atitude padrão nesses casos é “um 
ou outro”: ou você está certo ou a 
outra parte está certa. A atitude al-ternativa 
e recomedável é “ambos”: 
eles podem estar certos em função 
da experiência deles e você pode 
estar certo em função de sua experiên-cia. 
Você pode lhes dizer: “Entendo 
por que se sentem assim. É totalmen-te 
razoável dada a experiência que 
tiveram. A minha experiência, entre-tanto, 
foi diferente”. Você pode re-conhecer 
o ponto de vista da outra 
parte e, sem contestá-lo, expressar 
uma visão contrária. E, assim, criar 
um clima cordial, em que as diferen-ças 
podem conviver pacificamente 
enquanto você busca conciliá-las. 
Uma das formas mais comuns de 
expressar diferenças é iniciar a frase 
com a palavra “mas”. Quando seu 
cliente diz “Seu preço é muito alto”, 
você fica tentado a refutar a afirma-ção 
com outra afirmação: “Mas este 
produto é da melhor qualidade que 
existe!” Infelizmente, quando seu 
cliente ouvir a palavra “mas”, ele po-derá 
entender “eu acho que você 
está errado pelos seguintes motivos”. 
Não será nenhuma surpresa se ele 
deixar de ouvi-lo. 
A outra parte será mais receptiva 
se, antes, você reconhecer sua opi-nião 
com um “sim” e depois come-çar 
a colocar a sua opinião com “e”. 
Depois que seu cliente tiver reclama-do 
do preço elevado, você poderá 
dizer: “Sim, você está absolutamente 
certo, nosso preço é mais elevado. 
E isso significa que você estará com-prando 
um produto da mais alta 
qualidade, maior confiabilidade e 
melhor atendimento!” 
Mesmo um desacordo direto pode 
ser apresentado de maneira inclusiva: 
“Posso entender por que sua opinião 
em relação a isto é tão forte, e eu res-peito. 
Deixe-me explicar, porém, 
como vejo a situação”. Ou ainda: 
“Concordo plenamente com o que 
você está querendo dizer. O que você 
talvez não tenha levado em conside-ração 
é o seguinte…” Seja qual for a 
linguagem que você empregar, o se-gredo 
é apresentar sua opinião como 
um complemento e não como uma 
negação da opinião da outra pessoa. 
Não hesite em sustentar seu pon-to 
de vista. Isso não significa deixar 
de reconhecer a opinião da outra 
parte. O reconhecimento vindo de 
uma pessoa segura e confiante tem 
mais poder que o reconhecimento 
vindo de alguém que é visto como 
fraco. A combinação de reações apa- 
Faça os representantes da outra 
parte perceberem que você está 
prestando atenção no que dizem 
– mantenha contato visual e balance 
a cabeça ocasionalmente. Quando 
eles acabarem, pergunte com tran-quilidade 
se existe algo que queiram 
acrescentar. Em seguida, faça um 
resumo do que os ouviu dizer. 
Para mostrar que entende o ponto 
de vista deles, você pode soltar frases 
como “você está certo nesse aspecto”, 
ou “sei bem o que quer dizer”, ou 
ainda “eu respeito sua autoridade”. 
Crie um bom relacionamento de 
trabalho. Quando o outro está sendo 
difícil, você poderá dizer: “Sempre 
nos demos bem. E há tanto tempo”. 
Nunca pense “ou eu estou certo 
ou eles estão certos”. Sua atitude 
deve ser: “Ambas as partes estão cer-tas”. 
Para deixar isso claro, faça 
a seguinte observação: “Entendo 
por que se sentem assim, dada a ex-periência 
que tiveram. A minha expe-riência, 
entretanto, foi diferente”. 
Dê sua opinião como complemento 
e nunca como negação do que disse 
a outra pessoa. Para isso, substitua a 
palavra “mas” por “sim, e”. Quando o 
cliente reclamar que seu preço é 
muito alto, por exemplo, não diga 
“Mas o produto é da melhor qualida-de”. 
Você pode evitar a negação com 
esta frase: “Sim, você está certo, e isso 
significa que você estará comprando 
um produto da mais alta qualidade”. 
Não hesite em sustentar seu ponto 
de vista, porque isso mostra que você 
é uma pessoa segura. A outra parte, 
que se sentiu reconhecida por você, 
gostará disso, pois o reconhecimento 
vindo de uma pessoa segura tem 
mais poder do que o reconhecimen-to 
vindo de alguém visto como fraco.
74 
Em geral, a mente 
do outro é como um 
porão repleto de 
velhos ressentimentos, 
desgostos e 
lamentações. 
Discutir só irá manter 
isso tudo vivo 
Saiba mais sobre William Ury 
H S M M a n a g e m e n t 8 m a i o - j u n h o 1 9 9 8 
rentemente opostas – o reconheci-mento 
à opinião da outra pessoa e a 
expressão de sua própria – pode ser 
mais eficaz do que cada uma dessas 
duas coisas separadamente. 
Desfecho favorável 
Voltemos agora à negociação en-tre 
a AT&T e a Boeing. Diante do 
impasse, o chefe de vendas da AT&T 
marcou uma nova reunião com o 
diretor de compras da Boeing. E 
começou a conversa assim: “Venho 
tentando entender suas preocupa-ções. 
Corrija-me se eu estiver errado, 
mas o senhor e seus colegas da 
Boeing tinham razão em que nós os 
estávamos enganando ao prometer 
ótimos serviços, uma vez que não 
nos dispusemos a aceitar plena res-ponsabilidade 
por isso. Isso deve ter 
lhes parecido má-fé de nossa parte. 
Naturalmente vocês ficaram irritados 
e não vêem por que continuar as 
negociações. É isso mesmo?” 
“É isso!”, exclamou o comprador 
da Boeing. “Como confiar no que 
dizem? Se estivéssemos negociando a 
venda de uma de nossas aeronaves e 
informássemos ao comprador sobre 
as especificações de segurança sem 
nos responsabilizarmos por elas por 
escrito, o comprador sairia porta 
afora e estaria coberto de razão. Se 
não quisermos assumir responsabili-dade, 
devemos sair do ramo da en-genharia 
aeronáutica. Se vocês não 
querem assumir suas promessas, de-vem 
sair do setor das comunicações.” 
“O senhor tem toda a razão”, reco-nheceu 
o chefe de vendas da AT&T. 
“Eu também me sentiria assim no seu 
lugar.” Surpreso, o negociador da 
Boeing perguntou: “Então, por que 
vocês não estão dispostos a pôr todas 
as promessas no papel e assumir a res-ponsabilidade 
pelo ressarcimento de 
danos no caso de não-cumprimento?” 
“É claro que colocaremos nossas 
promessas no papel. O ressarcimento 
de danos é uma questão delicada, 
mas estamos dispostos a conversar”, 
respondeu o representante da AT&T. 
“Primeiro, quero ver se esclareço o 
que nos levou ao impasse. Eu mesmo 
só estou começando a entender ago-ra. 
Ouvi você dizer que a Boeing pos-sui 
o que pode ser chamado de ‘cul-tura 
de engenharia’. Não há tolerân-cia 
para erros quando a vida de seres 
humanos está em jogo. Logo, se pro-meter 
uma certa especificação de 
segurança, é bom que esteja certa. E 
obviamente tudo isso deve ser coloca-do 
por escrito. Estou certo até agora?” 
“Sim, o que você está dizendo está 
certo, mas não vejo aonde quer che-gar”, 
disse o comprador da Boeing. 
“Se me permitir, explicarei”, pros-seguiu 
o representante da AT&T. 
“Veja, na AT&T também temos nos-sos 
engenheiros, mas estamos primei-ramente 
no ramo de prestação de 
serviços. Somos mais o que chama-mos 
de uma ‘cultura de relaciona-mento’. 
Damos grande importância à 
relação com nossos clientes – se o 
cliente não estiver satisfeito, nós tam-bém 
não estamos. É por isso que nos 
chamam de ‘Ma Bell’ (Mãe Bell). Ago-ra, 
quando sua mãe lhe diz que vai 
fazer o almoço todos os dias, você 
não vira para ela e observa: ‘Mãe, 
quero que ponha essa promessa no 
papel e eu a responsabilizarei por 
quaisquer danos causados’, certo?” 
“É claro que não”, respondeu o 
representante da Boeing. 
“Você simplesmente espera que 
ela faça o melhor possível”, comple-tou 
o chefe de vendas da AT&T. “Ló-gico 
que existe uma grande diferen-ça 
entre uma casa e uma empresa, 
mas isso é para lhe dar uma idéia de 
como funcionamos. Fazemos pro-messas 
verbais e pretendemos cum-pri- 
las plenamente. O nosso históri-co, 
como o senhor há de concordar, 
é muito bom. Para nós, é uma situa-ção 
nova estar diante de tanta des-confiança. 
É por isso que entramos 
em atrito na reunião passada; o se-nhor 
tinha uma posição, que estava 
absolutamente certa do seu ponto 
de vista, e nós tínhamos outra. 
O senhor compreende?” 
“Começo a entender”, disse o 
comprador da Boeing. “Posso fazer 
uma pergunta?” 
Assim as negociações recomeça-ram. 
E, logo depois, a AT&T e a 
Boeing chegaram a um acordo quan-to 
ao negócio de US$ 150 milhões. 
© William Ury 
William Ury é considerado uma 
das maiores autoridades mundiais 
em negociação, ao lado de Roger 
Fisher (veja HSM Management número 
5, página 24). Ele está ligado à 
Harvard University, onde atua como 
diretor-adjunto do Harvard Negotia-tion 
Project, organização dedicada 
a aperfeiçoar a teoria e a prática da 
resolução de conflitos, e como 
diretor da Negotiation Network da 
faculdade de Direito. Possui vasta 
experiência internacional como 
consultor e mediador. No âmbito 
empresarial, trabalhou para AT&T, 
IBM e American Express, entre 
outras companhias, e, no governa-mental, 
para o Departamento de 
Estado dos EUA e o Pentágono. 
Além disso, assessorou a Casa Branca 
nas negociações para a criação de 
centros de redução de risco nuclear. 
Ury escreveu, junto com Roger 
Fisher, o best seller Como Chegar ao 
Sim (ed. Imago), que já foi traduzido 
para 22 idiomas e vendeu mais de 
3 milhões de exemplares. Também é 
autor do best seller Getting Past No. 
O especialista estará em São 
Paulo em junho para um seminário 
organizado pela HSM Cultura & 
Desenvolvimento.

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Negociação muito além do não william ury mai jun 98

  • 1. 70 Muito além Falar menos e ouvir mais. Ou reconhecer os pontos de vista alheios como válidos e expressar os próprios pontos de vista sem fazer provocações. Essa é a fórmula básica que o especialista de Harvard William Ury sugere a quem sentará a uma mesa de negociações. Ele divide com Roger Fisher o título de maior autoridade mundial em negociação e também a autoria do best seller Como Chegar ao Sim (ed. Imago) – o título do original é Getting to Yes. No presente artigo, escrito especialmente para a HSM Management, Ury conta uma história verídica de negociação conflituosa entre as empresas AT&T e Boeing e ensina como virar o jogo. Segundo ele, é preciso desarmar a outra parte com uma surpresa. “Você deve fazer o oposto do que é esperado. Se eles estão levantando muralhas, esperam que você os pressione; se atacam, esperam que você resista. Então não pressione; não resista. Passe para o lado deles.” As lições aqui não servem apenas para quem vende e compra alguma coisa; negociar também pode ser persuadir um chefe difícil a mudar de opinião sobre uma estratégia determinada. H S M M a n a g e m e n t 8 m a i o - j u n h o 1 9 9 8 DOSSIÊ Como agir na negociação e, em especial, nas situações de conflito. Por William Ury A AT&T estava no meio de uma negociação para vender à Boeing um novo sistema de telecomunica-ções, avaliado em US$ 150 milhões. A equipe de vendas utilizara argu-mentos bastante persuasivos – com base no tipo de serviço a ser presta-do, na rapidez de atendimento e solução de problemas, e na velocida-de de execução de reparos – e espe-rava pela resposta. Nesse momento, o diretor de compras da Boeing disse: “Ótimo. Agora me dêem cada uma dessas promessas por escrito. E também quero garantias de que, se houver um problema com o sistema e não for sanado dentro do prazo, vocês nos indenizarão pelos prejuízos”. “Faremos o melhor dentro de nos-sas possibilidades”, respondeu o che-fe de vendas da AT&T. “Mas não po-demos nos responsabilizar por todas
  • 2. ➙ 71 do não certo. O que fazer quando depara-mos H S M M a n a g e m e n t 8 m a i o - j u n h o 1 9 9 8 com uma pessoa insensata (em nossa opinião)? Ou com uma posi-ção insensata? Eu digo: surpreender, ouvir, reconhecer e não provocar. Passe para o lado deles O erro nesse caso, mais comum do que se imagina, está no fato de tentar chamar à razão alguém que não está disposto a “parar para pen-sar”. Suas palavras cairão no vazio ou serão mal-interpretadas. Você estará diante de uma barreira de emoções negativas. A outra parte pode ficar desconfiada, com raiva ou se sentir ameaçada. Convicta de que está certa, e você errado, não se disporá a ouvir. É tentador ignorar a emoção e se concentrar no problema, mas isso raramente funciona. As emoções negativas virão à tona na forma de posições inflexíveis. Antes de discutir o problema, é preciso dissipar essas emoções negativas. O desafio do negociador é criar um clima favorá-vel que permita a negociação. O segredo para desarmar a outra parte é a surpresa. Você deve fazer o oposto do que é esperado. Se eles estão levantando muralhas, esperam que você os pressione; se atacam, esperam que você resista. Então não pressione; não resista. Passe para o lado deles. Essa é a última coisa que esperam de você. Ao passar para o lado deles, você os desorienta e isso faz com que se abram e deixem de ser inimigos. Além disso, como os praticantes de artes marciais japo-nesas sabem há muito tempo, é difícil atacar alguém que, de repen-te, está do seu lado. E, o que é mais importante, isso coloca você e seu opositor juntos – exatamente onde você quer estar para iniciar uma negociação construtiva. as coisas que podem dar errado. Um raio pode cair…” “Vocês estão nos fazendo de bo-bos!”, interrompeu o negociador da Boeing, perdendo o controle. “Primeiro falam de seus serviços, e agora não estão dispostos a assu-mir um compromisso em relação ao que nos prometeram!” “Isso não é verdade!”, protestou o chefe de vendas da AT&T, surpre-so com o caminho que a negocia-ção estava tomando. “Deixe-me ver se consigo explicar…” Mas o execu-tivo da Boeing se recusou a conti-nuar ouvindo. “Vocês não estão de boa-fé”, reclamou. “Não há acordo com vocês.” O chefe de vendas da AT&T fez ainda uma última tentativa: “Vamos conversar. Talvez possamos pôr parte disso no papel”. Mas o diretor de compras da Boeing estava decidido; ele e toda a sua equipe se levantaram e deixaram a sala. O negócio de US$ 150 milhões fracassara. O que aconteceu aqui? Quando a AT&T se recusou a acatar as exigên-cias da Boeing, o negociador da em-presa se irritou e partiu para o ata-que. O chefe de vendas da AT&T se defendeu, mas isso só alimentou a ira do comprador. E, quando o re-presentante da AT&T tentou expli-car, o representante da Boeing não quis escutar. Nada mais parecia dar Máximo Campos Leyba
  • 3. 72 H S M M a n a g e m e n t 8 m a i o - j u n h o 1 9 9 8 Para se colocar “do outro lado” é preciso ouvir e reconhecer. Ouça com atenção Ouvir alguém é a concessão mais barata que há. Todos nós temos a profunda necessidade de ser com-preendidos. Ao satisfazer essa neces-sidade, você pode fazer com que a negociação tome outro rumo. Vejamos o exemplo de uma nego-ciação contratual entre um sindicato e a gerência de uma fábrica de con-têineres da Inland Steel. O negocia-dor da empresa começou assumindo uma posição inflexível em relação aos salários. Normalmente, o sindicato teria contra-atacado, a gerência de-fenderia sua posição com veemência e, após uma discussão inútil, a greve seria deflagrada. Mas, em vez de con-tra- atacar, o representante do sindica-to perguntou placidamente: “Por que isso é tão importante para vocês?” Diante da questão, que soou como um “convite” para falar, o ne-gociador da empresa passou a explicar em detalhe os motivos que levaram a gerência a assumir aquela posição em relação à questão salarial. Tendo a satisfação de ser ouvida até o fim em sua exposição de motivos, a gerência, por sua vez, dispôs-se a escutar as preocupações do sindica-to. A decisão do negociador do sin-dicato de pedir calmamente que a outra parte apresentasse seus pontos de vista abriu espaço para que o im-passe pudesse ser resolvido, e a greve que todos esperavam não aconteceu. Ouvir requer paciência e autodis-ciplina. Em vezes de reagir imediata-mente ou de ficar planejando o pró-ximo passo, é preciso se concentrar no que a outra parte está dizendo. Ouvir não é fácil, mas pode ser algo valioso. Proporciona uma janela para o pensamento da outra parte; permite que você envolva a outra par-te em uma tarefa conjunta – enten-der o problema dela; e faz com que a outra parte fique mais disposta a ouvir você. Se a outra parte estiver irritada ou perturbada, a melhor coisa para fazer é oferecer um “ouvido amigo”. Nun-ca interrompa os negociadores do outro lado da mesa – mesmo que você ache que eles estão errados ou for insultado. Para que percebam que você está prestando atenção, mante-nha contato com os olhos e balance a cabeça ocasionalmente. Quando acabarem, pergunte com tranquilida-de se existe algo que queiram acres-centar. Em seguida, faça um resumo do que os ouviu dizer. As pessoas têm grande prazer em poder expor seus sentimentos e res-sentimentos. Os gerentes que traba-lham com atendimento ao cliente sabem que, embora seja pouco o que podem fazer para ajudar um cliente insatisfeito, ouvi-lo com respeito é mui-tas vezes suficiente para que ele volte. Uma vez que você tenha ouvido a exposição dos outros, eles prova-velmente serão mais receptivos a uma negociação construtiva. Não é por acaso que, se você observar o comportamento dos mais bem-suce-didos negociadores, verá que escu-tam muito mais do que falam. Reconheça o ponto de vista e a pessoa O passo seguinte é reconhecer o ponto de vista da outra parte. Você pode relutar em fazer isso, até por dis-cordar radicalmente. Mas, ao ignorar esse passo, perderá uma grande opor-tunidade de facilitar a negociação. Todo ser humano tem uma gran-de necessidade de ser reconhecido. Ao satisfazer tal necessidade, você contribui para criar um clima de entendimento. Reconhecer o ponto de vista da outra pessoa não significa estar de acordo com ele. Significa apenas aceitá-lo como válido, entre outros tantos pontos de vista. Tal atitude transmite a seguinte mensagem: “Consigo entender seu ponto de vista”. E isso pode ser feito por meio de frases como “você está certo nesse aspecto”, ou “entendo exatamente o que está dizendo”, ou ainda “sei bem o que quer dizer”. Em geral, a mente do outro é como um porão repleto de velhos ressentimentos, desgostos e lamenta-ções. Discutir só fará manter isso tudo vivo. Mas, se você reconhecer a vali-dade do que o outro está dizendo, a carga emocional começará a se dissi-par. As velharias do porão começarão a desaparecer. Ao permitir que expo- Máximo Campos Leyba
  • 4. ➙ 73 COMO SE COMPORTAR À MESA DE NEGOCIAÇÕES H S M M a n a g e m e n t 8 m a i o - j u n h o 1 9 9 8 nha sua versão, e ao reconhecê-la, você estará criando as condições psi-cológicas para que ele também aceite a possibilidade de um “outro lado”. O reconhecimento pode ser admi-tir a autoridade ou a competência da outra pessoa. Suponha que você este-ja tentando persuadir um chefe difícil a mudar de opinião sobre uma estra-tégia. Ele pode ter a impressão de que você está desafiando sua autori-dade. Será que você está inferindo, ele se pergunta, que, de alguma ma-neira, ele é incompetente ou está errado? Ele provavelmente reagirá tornando-se ainda mais refratário ao que você tem para dizer. Para tran-quilizá- lo quanto às suas intenções, é possível que você tenha de iniciar suas observações com frases tais como “o senhor é quem manda”, ou então “eu respeito sua autoridade”. Uma das melhores maneiras de reconhecer a outra pessoa é criar um relacionamento de trabalho. Um bom relacionamento de trabalho é como uma poupança da qual você pode efetuar saques em momentos difíceis. Portanto, se houver a possi-bilidade de conflito com a outra par-te, nutra uma boa relação com ela desde o início. Um gerente de pro-dução deve ter um relacionamento de trabalho saudável com o gerente de marketing; um empresário com o líder sindicalista e assim por diante. Assim, quando a outra pessoa está sendo difícil, você será capaz de di-zer: “Vamos lá, sempre nos demos bem. E há tanto tempo”. Exponha seu ponto de vista sem provocações Depois de você ter reconhecido a outra parte, ficará bem mais fácil fa-lar. Chegou o momento de mostrar seu ponto de vista, mas sem fazer com que os outros tapem os ouvidos. O segredo, agora, está na atitude. A atitude padrão nesses casos é “um ou outro”: ou você está certo ou a outra parte está certa. A atitude al-ternativa e recomedável é “ambos”: eles podem estar certos em função da experiência deles e você pode estar certo em função de sua experiên-cia. Você pode lhes dizer: “Entendo por que se sentem assim. É totalmen-te razoável dada a experiência que tiveram. A minha experiência, entre-tanto, foi diferente”. Você pode re-conhecer o ponto de vista da outra parte e, sem contestá-lo, expressar uma visão contrária. E, assim, criar um clima cordial, em que as diferen-ças podem conviver pacificamente enquanto você busca conciliá-las. Uma das formas mais comuns de expressar diferenças é iniciar a frase com a palavra “mas”. Quando seu cliente diz “Seu preço é muito alto”, você fica tentado a refutar a afirma-ção com outra afirmação: “Mas este produto é da melhor qualidade que existe!” Infelizmente, quando seu cliente ouvir a palavra “mas”, ele po-derá entender “eu acho que você está errado pelos seguintes motivos”. Não será nenhuma surpresa se ele deixar de ouvi-lo. A outra parte será mais receptiva se, antes, você reconhecer sua opi-nião com um “sim” e depois come-çar a colocar a sua opinião com “e”. Depois que seu cliente tiver reclama-do do preço elevado, você poderá dizer: “Sim, você está absolutamente certo, nosso preço é mais elevado. E isso significa que você estará com-prando um produto da mais alta qualidade, maior confiabilidade e melhor atendimento!” Mesmo um desacordo direto pode ser apresentado de maneira inclusiva: “Posso entender por que sua opinião em relação a isto é tão forte, e eu res-peito. Deixe-me explicar, porém, como vejo a situação”. Ou ainda: “Concordo plenamente com o que você está querendo dizer. O que você talvez não tenha levado em conside-ração é o seguinte…” Seja qual for a linguagem que você empregar, o se-gredo é apresentar sua opinião como um complemento e não como uma negação da opinião da outra pessoa. Não hesite em sustentar seu pon-to de vista. Isso não significa deixar de reconhecer a opinião da outra parte. O reconhecimento vindo de uma pessoa segura e confiante tem mais poder que o reconhecimento vindo de alguém que é visto como fraco. A combinação de reações apa- Faça os representantes da outra parte perceberem que você está prestando atenção no que dizem – mantenha contato visual e balance a cabeça ocasionalmente. Quando eles acabarem, pergunte com tran-quilidade se existe algo que queiram acrescentar. Em seguida, faça um resumo do que os ouviu dizer. Para mostrar que entende o ponto de vista deles, você pode soltar frases como “você está certo nesse aspecto”, ou “sei bem o que quer dizer”, ou ainda “eu respeito sua autoridade”. Crie um bom relacionamento de trabalho. Quando o outro está sendo difícil, você poderá dizer: “Sempre nos demos bem. E há tanto tempo”. Nunca pense “ou eu estou certo ou eles estão certos”. Sua atitude deve ser: “Ambas as partes estão cer-tas”. Para deixar isso claro, faça a seguinte observação: “Entendo por que se sentem assim, dada a ex-periência que tiveram. A minha expe-riência, entretanto, foi diferente”. Dê sua opinião como complemento e nunca como negação do que disse a outra pessoa. Para isso, substitua a palavra “mas” por “sim, e”. Quando o cliente reclamar que seu preço é muito alto, por exemplo, não diga “Mas o produto é da melhor qualida-de”. Você pode evitar a negação com esta frase: “Sim, você está certo, e isso significa que você estará comprando um produto da mais alta qualidade”. Não hesite em sustentar seu ponto de vista, porque isso mostra que você é uma pessoa segura. A outra parte, que se sentiu reconhecida por você, gostará disso, pois o reconhecimento vindo de uma pessoa segura tem mais poder do que o reconhecimen-to vindo de alguém visto como fraco.
  • 5. 74 Em geral, a mente do outro é como um porão repleto de velhos ressentimentos, desgostos e lamentações. Discutir só irá manter isso tudo vivo Saiba mais sobre William Ury H S M M a n a g e m e n t 8 m a i o - j u n h o 1 9 9 8 rentemente opostas – o reconheci-mento à opinião da outra pessoa e a expressão de sua própria – pode ser mais eficaz do que cada uma dessas duas coisas separadamente. Desfecho favorável Voltemos agora à negociação en-tre a AT&T e a Boeing. Diante do impasse, o chefe de vendas da AT&T marcou uma nova reunião com o diretor de compras da Boeing. E começou a conversa assim: “Venho tentando entender suas preocupa-ções. Corrija-me se eu estiver errado, mas o senhor e seus colegas da Boeing tinham razão em que nós os estávamos enganando ao prometer ótimos serviços, uma vez que não nos dispusemos a aceitar plena res-ponsabilidade por isso. Isso deve ter lhes parecido má-fé de nossa parte. Naturalmente vocês ficaram irritados e não vêem por que continuar as negociações. É isso mesmo?” “É isso!”, exclamou o comprador da Boeing. “Como confiar no que dizem? Se estivéssemos negociando a venda de uma de nossas aeronaves e informássemos ao comprador sobre as especificações de segurança sem nos responsabilizarmos por elas por escrito, o comprador sairia porta afora e estaria coberto de razão. Se não quisermos assumir responsabili-dade, devemos sair do ramo da en-genharia aeronáutica. Se vocês não querem assumir suas promessas, de-vem sair do setor das comunicações.” “O senhor tem toda a razão”, reco-nheceu o chefe de vendas da AT&T. “Eu também me sentiria assim no seu lugar.” Surpreso, o negociador da Boeing perguntou: “Então, por que vocês não estão dispostos a pôr todas as promessas no papel e assumir a res-ponsabilidade pelo ressarcimento de danos no caso de não-cumprimento?” “É claro que colocaremos nossas promessas no papel. O ressarcimento de danos é uma questão delicada, mas estamos dispostos a conversar”, respondeu o representante da AT&T. “Primeiro, quero ver se esclareço o que nos levou ao impasse. Eu mesmo só estou começando a entender ago-ra. Ouvi você dizer que a Boeing pos-sui o que pode ser chamado de ‘cul-tura de engenharia’. Não há tolerân-cia para erros quando a vida de seres humanos está em jogo. Logo, se pro-meter uma certa especificação de segurança, é bom que esteja certa. E obviamente tudo isso deve ser coloca-do por escrito. Estou certo até agora?” “Sim, o que você está dizendo está certo, mas não vejo aonde quer che-gar”, disse o comprador da Boeing. “Se me permitir, explicarei”, pros-seguiu o representante da AT&T. “Veja, na AT&T também temos nos-sos engenheiros, mas estamos primei-ramente no ramo de prestação de serviços. Somos mais o que chama-mos de uma ‘cultura de relaciona-mento’. Damos grande importância à relação com nossos clientes – se o cliente não estiver satisfeito, nós tam-bém não estamos. É por isso que nos chamam de ‘Ma Bell’ (Mãe Bell). Ago-ra, quando sua mãe lhe diz que vai fazer o almoço todos os dias, você não vira para ela e observa: ‘Mãe, quero que ponha essa promessa no papel e eu a responsabilizarei por quaisquer danos causados’, certo?” “É claro que não”, respondeu o representante da Boeing. “Você simplesmente espera que ela faça o melhor possível”, comple-tou o chefe de vendas da AT&T. “Ló-gico que existe uma grande diferen-ça entre uma casa e uma empresa, mas isso é para lhe dar uma idéia de como funcionamos. Fazemos pro-messas verbais e pretendemos cum-pri- las plenamente. O nosso históri-co, como o senhor há de concordar, é muito bom. Para nós, é uma situa-ção nova estar diante de tanta des-confiança. É por isso que entramos em atrito na reunião passada; o se-nhor tinha uma posição, que estava absolutamente certa do seu ponto de vista, e nós tínhamos outra. O senhor compreende?” “Começo a entender”, disse o comprador da Boeing. “Posso fazer uma pergunta?” Assim as negociações recomeça-ram. E, logo depois, a AT&T e a Boeing chegaram a um acordo quan-to ao negócio de US$ 150 milhões. © William Ury William Ury é considerado uma das maiores autoridades mundiais em negociação, ao lado de Roger Fisher (veja HSM Management número 5, página 24). Ele está ligado à Harvard University, onde atua como diretor-adjunto do Harvard Negotia-tion Project, organização dedicada a aperfeiçoar a teoria e a prática da resolução de conflitos, e como diretor da Negotiation Network da faculdade de Direito. Possui vasta experiência internacional como consultor e mediador. No âmbito empresarial, trabalhou para AT&T, IBM e American Express, entre outras companhias, e, no governa-mental, para o Departamento de Estado dos EUA e o Pentágono. Além disso, assessorou a Casa Branca nas negociações para a criação de centros de redução de risco nuclear. Ury escreveu, junto com Roger Fisher, o best seller Como Chegar ao Sim (ed. Imago), que já foi traduzido para 22 idiomas e vendeu mais de 3 milhões de exemplares. Também é autor do best seller Getting Past No. O especialista estará em São Paulo em junho para um seminário organizado pela HSM Cultura & Desenvolvimento.