Crianças com dificuldades de aprendizagem devem ser encaminhadas a profissionais como psicopedagogos para avaliação e intervenção precoce, que pode levar ao sucesso na aprendizagem escolar. Dificuldades de aprendizagem podem ser causadas por fatores isolados ou associados e exigem abordagem interdisciplinar para diagnóstico e tratamento.
1. Crianças com Dificuldade de Aprendizagem
dezembro 10, 2013 admin Matérias 8 comentários
Sobre o encaminhamento ao Psicopedagogo….
Muito discutida e ainda não totalmente resolvida é a questão do encaminhamento de
crianças com problemas escolares a profissionais especializados em dificuldades de
aprendizagem, os psicopedagogos. Quer por haver diferentes profissionais com
múltiplas especialidades, quer pela dificuldade da escola em avaliar a quem encaminhar
cada caso, o que se vê é que existe uma certa dúvida nessas conduções, o que em nada
beneficia a criança e a sua família.
Apesar de toda controvérsia quando o assunto se refere às dificuldades de
aprendizagem de nossas crianças, a prática nos aponta para dois fatos inegáveis: esses
problemas devem-se a diferentes fatores isolados ou associados entre si, e somente a
avaliação e a intervenção precoce das dificuldades, pode levar ao sucesso na
aprendizagem escolar. O papel da escola nesse em muitos outros sentidos na vida das
crianças, ultrapassa o âmbito pessoal e se reflete no crescimento da sociedade como
um todo.
Escola, família e sociedade são responsáveis não só pela transmissão de conhecimentos,
valores, cultura e mas também pela formação da personalidade social dos indivíduos.
As dificuldades e os transtornos de aprendizagem que se apresentam na infância tem
sempre forte impacto sobre a vida da criança, de sua família e sobre o seu entorno, pelos
prejuízos que acarretam em todas as áreas do desenvolvimento pessoal, assim como de
sua aceitação e participação social.
A Aprendizagem é um processo que se realiza no interior do indivíduo e se manifesta
por uma mudança de comportamento relativamente permanente.
Segundo Silvia Ciasca, a Dificuldade de Aprendizagem é compreendida como uma
“forma peculiar e complexa de comportamentos que não se deve necessariamente a
fatores orgânicos e que são por isso, mais facilmente removíveis”. Ela ocorre em razão
da presença de situações negativas de interação social. Caracteriza-se
fundamentalmente pela presença de dificuldades no aprender, maiores do que as
naturalmente esperadas para a maioria das crianças e por seus pares de turma e é em
boa parte das vezes, resistente ao esforço pessoal e ao de seus professores, gerando um
aproveitamento pedagógico insuficiente e auto estima negativa.
2. Essa dificuldade é relacionada a questões psicopedagógicas e/ou sócio-culturais, ou
seja, não é centrada exclusivamente no aluno e somente pode ser diagnosticada em
crianças cujos déficits na aprendizagem não se devam a problemas cognitivos.
A dificuldade de aprendizagem, DA, não tem causa única que a determine, mas há uma
conjugação de fatores que agem frente a uma predisposição momentânea da criança.
Alguns estudiosos enfatizam os aspectos afetivos, outros preferem apontar os aspectos
perceptivos, muitos justificam esse quadro alegando existir uma imaturidade funcional
do sistema nervoso. Ainda há os que sustentam que essas crianças apresentam atrasos
no desempenho escolar por fatores como a falta de interesse, perturbação emocional
ou inadequação metodológica.
De modo mais pontual, acredita-se que as dificuldades de aprendizagem surgem por
exemplo a partir de:
- Mudanças repentinas de escola, de cidade, de separações;
- Problemas sócio culturais e emocionais;
- Desorganização na rotina familiar, excesso de atividades extra curriculares, pais muito
ou pouco exigentes);
- Envolvimento com drogas, separações;
- Efeitos colaterais de medicações que causam hiperatividade ou sonolência, diminuindo
a atenção da criança;
- encontramos assim crianças com baixo rendimento em decorrência de fatores isolados
ou em interação.
Pode ser percebida pela professora e diagnosticada por profissionais especializados já
na pré-escola. Pode ser evitada tomando-se cuidado em respeitar o nível cognitivo da
criança e permitindo que esta possa interagir com o conhecimento: observar,
compreender, classificar, analisar, etc.
O diagnóstico e a intervenção das dificuldades de aprendizagem envolvem
interdisciplinaridade em pelo menos três áreas: neurologia, psicopedagogia e psicologia,
para possibilitar a eliminação de fatores que não são relevantes e a identificação da
causa real do problema.
Alguns sintomas podem ajudar os profissionais da escola a perceberem os sinais da
Dificuldade de Aprendizagem, a partir da pré escola e durante todo trajeto escolar da
criança:
- Persistentes problemas na área da Linguagem: de articulação, aquisição lenta de
vocabulário, restrito interesse em ouvir histórias ,dificuldade em seguir instruções orais,
soletração empobrecida,dificuldade em argumentar,problemas em redigir e
resumir,etc;
3. - Problemas com a Memória: dificuldades na aprendizagem de números, dos dias da
semana,em recordar fatos, em adquirir novas habilidades,em recordar conceitos, na
memória imediata e de longo tempo, etc;
- Atenção: dificuldade em concentrar-se em algo que não seja de seu interesse pessoal,
de planejar, de autocontrole, impulsividade, atenção inconstante, etc;
- Problemas com a Motricidade: problemas na aquisição de comportamentos de
autonomia (ex. amarrar os cordões do tênis); relutância para desenhar; problemas
grafo-motores da escrita (forma da letra, pressão do traço, etc); escrita ilegível, lenta ou
inconsistente; relutância em escrever;
- Lentidão na aquisição das noções de espaço e tempo, domínio pobre de conceitos
abstratos; dificuldade na planificação de tarefas; dificuldades na realização de tarefas
acadêmicas, provas, etc; dificuldade de aquisição de novas aprendizagens cognitivas;
problemas sociais.
TRANSTORNO OU DISTÚRBIO DE APRENDIZAGEM
DIS + TURBARE = alteração violenta da ordem natural da aprendizagem
No Transtorno de aprendizagem, há a presença de uma disfunção neurológica, que
pode envolver imaturidade,lesões específicas do cérebro, fatores hereditários e ou
disfunções químicas. Devido à forma irregular que as habilidades mentais se
desenvolvem, aparecem discrepâncias marcantes entre a capacidade e a execução nas
tarefas acadêmicas.
São características marcantes dos Distúrbios de Aprendizagem:
- início do comportamento ou atraso sempre na infância;
- o transtorno está sempre ligado à maturação biológica do sistema nervoso central;
- curso estável;
- as funções afetadas incluem geralmente a linguagem, habilidades viso-espaciais e/ou
condições motora;
- há uma história familiar de transtornos similares e fatores genéticos têm importância
na etiologia (conjunto de possíveis causas) em muitos casos.
Segundo estimativas da Organização Psiquiátrica Americana, a prevalência dos
Transtornos da Aprendizagem, variam entre 2 a 10% na população, dependendo da
natureza da averiguação e das definições aplicadas e estes podem persistir até a idade
adulta.
Os principais Transtornos de Aprendizagem são os de Leitura e Escrita, de Cálculo, o
Transtorno do Déficit de Atenção e/ou Hiperatividade e o Transtorno não Verbal de
Aprendizagem.
4. O diagnóstico desses Transtornos deve ser realizado por profissionais especializados e
experientes, em uma equipe multiprofissional que garanta também o planejamento e a
intervenção objetivando minimizar os efeitos de tais distúrbios sobre a vida da criança.
Essa equipe deve ter necessariamente a presença de um psicopedagogo, profissional
habilitado em trabalhar com as questões da Aprendizagem e que partirá de seus
conhecimentos transdisciplinares, para trabalhar e promover o desenvolvimento de
estratégias cognitivas de aprendizagem, de estudo, as operações mentais para a
realização das tarefas de cunho pedagógico, aumentar a auto estima e a motivação
intrínseca da criança, etc.
É possível encontrarmos crianças cujo rendimento escolar apresenta-se empobrecido
frente aquele esperado por seus pais e professores e que não apresentam transtornos
de aprendizagem, porém o fraco desempenho na aprendizagem nunca deve ser
desconsiderado ou minimizado pois representa o ponto de partida para o diagnóstico
da dificuldade e do transtorno no aprender.
Se uma criança chama a atenção de seu professor pela problemática que apresenta para
aprender e se esta dificuldade não demonstrou ter ligação com a prática pedagógica
usada, a avaliação desse profissional deve necessariamente ser levada aos pais, no
sentido de os alertar a procurarem um trabalho especializado na área da aprendizagem.
O psicopedagogo tem formação multidisciplinar e informação suficiente, para após
avaliar a criança, a encaminhar para outra especialidade se assim for necessário. E, no
mínimo, no final da avaliação psicopedagógico, os pais já terão afastado a maior parte
das possibilidades de diagnósticos prováveis em dificuldades e transtornos de
aprendizagem.
Por Maria Irene Maluf
(Especialista em Psicopedagogia e em Educação Especial / Editora da revista
Psicopedagogia da ABPp /Profª convidada do Instituto Sedes Sapientiae /
Coordenadora/SP do Curso de Especialização em Neuropedagogia do Instituto
SaberCultura - www.irenemaluf.com.br)