Este relatório final apresenta os resultados da investigação do projeto "ADOPT-DTV: Barreiras à adoção da televisão digital no contexto da transição da televisão analógica para o digital em Portugal". O projeto analisou os fatores que influenciam a adoção e rejeição da TV digital através de estudos etnográficos, entrevistas e inquéritos. Os principais resultados apontam para a falta de conhecimento sobre a TV digital e a perceção do custo como principal desvantagem.
1.
“ADOPT_DTV: Barreiras à adopção da televisão digital no contexto da
transição da televisão analógica para o digital em Portugal”
( PTDC/CCI‐COM/102576/2008)
Relatório Final
Outubro de 2011
1
3.
ÍNDICE
0. Sumario Executivo .............................................................................................. 4
1. Descrição do Projecto ......................................................................................... 9
2. Execução Material ............................................................................................ 21
3. Resultados principais........................................................................................ 25
4. Recomendações ............................................................................................... 71
5. Bibliografia ....................................................................................................... 80
6. Anexos A – Publicações do projecto ADOPT‐DTV .............................................. 84
6. Anexos B – Relatórios do projecto ADOPT‐DTV................................................. 88
3
4.
0. Sumario Executivo
Introdução
Compreender quais são os factores mais significativos para a adopção e rejeição da TV
digital por parte da população Portuguesa é o principal objectivo do projecto “ADOPT‐DTV:
Barreiras à adopção da televisão digital no contexto da transição da televisão analógica para
o digital (PTDC/CCI‐COM/102576/2008)”. O segundo objectivo é propor às principais partes
interessadas neste processo em Portugal um conjunto de recomendações de ordem prática,
procurando contribuir efectivamente para uma televisão digital mais inclusiva, para a
promoção de uma comunicação mais eficiente, para a melhoria qualitativa do conteúdo da
TV digital e maior facilidade de uso da mesma. O foco deste projecto incide especialmente
nas pessoas que não têm intenção de adoptar TV digital. Mais concretamente, o objectivo é
compreender e identificar os principais factores que explicam esta intenção, bem como o
seu perfil demográfico e socioeconómico.
O projecto de investigação ADOPT‐DTV teve início em Abril de 2010, tendo a
duração de 18 meses. O projecto combina métodos quantitativos e qualitativos, de acordo
com as boas práticas de projectos de âmbito semelhante:
1) Estudo etnográfico junto de 30 famílias Portuguesas, com a finalidade de explorar em
contexto natural quais são suas atitudes e nível de conhecimento sobre a TV digital;
2) Entrevistas com partes interessadas, com a intenção de compreender as diferentes
perspectivas dos intervenientes centrais neste domínio específico;
3) Inquérito quantitativo, aplicado a uma amostra representativa da população Portuguesa,
com o objectivo principal de determinar os principais factores de adopção e rejeição
associados à TV digital;
4) Estudo de usabilidade, com uma amostra de 20 utilizadores com intuito de realizar uma
análise comparativa de alguns dos equipamentos descodificadores de TV digital terrestre em
Portugal, em termos de facilidade de utilização e satisfação geral.
A equipa de investigação visa assim contribuir para uma melhor compreensão dos
desafios enfrentados a curto e médio prazo durante o processo de transição da TV analógica
terrestre para a digital terrestre – também conhecido por switchover ‐ e em termos
práticos, contribuir tanto em Portugal como para outros países numa situação semelhante
para o desenvolvimento de uma TV digital mais inclusiva.
4
5.
Resultados principais
Os resultados principais serão detalhados no capítulo 3, sendo devidamente suportados nos
dados e achados dos estudos empíricos que integram o presente projecto de investigação.
1. Posse de TV em sinal aberto e de TV por subscrição
‐ A percentagem da população de Portugal Continental que recebe exclusivamente
televisão em sinal aberto deve situar‐se próximo dos 38%, em Setembro de 2011.
1.a. os indivíduos com TV paga em Portugal são sobretudo jovens adultos e adultos de meia
idade, mais propensos a ter níveis mais elevados de educação e a pertencer a grupos de
status mais alto (A/ B/ C)1 e menos propensos a ter algum tipo de deficiência (visual, auditiva
ou de mobilidade).
1.b. os indivíduos sem TV paga em Portugal são mais propensos a ter mais de 55 anos de
idade, a possuir baixos níveis de habilitações académicas e um baixo status (D/ E) e,
finalmente, a possuir algum nível de deficiência (auditiva, visual ou de mobilidade).
2. Tipo de acesso a TV em sinal aberto
‐ Verifica‐se que a recepção de TV analógica terrestre se mantém como largamente
dominante junto dos Portugueses sem TV paga, sendo o acesso à TDT pouco expressivo,
estimando‐se em Setembro de 2011 que 35% da população de Portugal Continental possa
ser afectada com o desligamento do sinal de TV analógico terrestre.
3. Conhecimento sobre a TV digital e TDT
‐ Estima‐se que a maioria dos Portugueses já tenha ouvido falar em TV digital e em TDT,
mas que na maior parte dos casos tenham dificuldades em definir ou caracterizar estas
tecnologias.
4. Vantagens e desvantagens associadas à TV digital
‐ A reduzida percepção das vantagens e desvantagens associadas à TV digital e à TDT é a
situação mais comum verificada, sendo o custo identificado como a principal desvantagem
1
O status é determinado pela empresa de estudos de mercado GfK com base no nível de escolaridade e na
ocupação do respondente: mais detalhes nos anexos a este relatório.
5
6. e a melhoria da qualidade de imagem e som percebida como a principal vantagem.
5. Conhecimento sobre o desligamento do sinal de TV analógica terrestre
‐ Estima‐se que a maioria da população Portuguesa desconheça qual a data prevista do
desligamento do sinal de TV analógica terrestre, a 3 meses do início do switch‐off.
6. Conhecimento do que deve ser feito para continuar a ter TV em sinal aberto
‐ Verifica‐se um baixo nível de conhecimento sobre as questões práticas relacionadas com
a recepção de TDT, sobretudo no caso dos Portugueses sem TV paga em casa.
7. Intenção de aquisição de equipamentos ou serviços de acesso a TV digital e TDT
‐ Estima‐se que perto de metade dos Portugueses sem TV paga estejam indecisos quanto à
obtenção de equipamentos ou serviços de TV digital, a 3 meses do início previsto do
desligamento da emissão de TV analógica terrestre.
8. Motivos para ter TDT
‐ Verifica‐se que os benefícios associados à presente oferta de TDT têm pouco peso na
respectiva intenção de adopção, sendo o corte da emissão de TV analógica terrestre
apontado como o principal motivo para ter TDT.
9. Barreiras à adopção de TV digital e TDT
‐ Os custos e as questões práticas são das principais barreiras à obtenção de TV digital ‐ e
TDT em particular – para os Portugueses sem TV paga em casa.
10. Adopção de TV digital – perfis
‐ Propõem‐se quatro perfis de adopters de TV digital em Portugal, considerando a posse
de TV paga e a intenção de uso de TV digital:
10.a. Grupo – “Já Adoptou” (espectadores com TV paga por cabo, DTH, IPTV, fibra‐óptica e
outras tecnologias) ‐ sobretudo jovens adultos e adultos de meia idade, mais propensos a ter
níveis mais elevados de educação e a pertencer a grupos de status mais alto e menos
propensos a ter algum tipo de deficiência (visual, auditiva ou de mobilidade);
10.b. Grupo – “Adopta” (espectadores de TV em sinal aberto que estão a considerar
comprar uma caixa descodificadora ou televisor com TDT integrado ou então subscrever um
serviço de TV paga para continuar a ver televisão em casa) ‐ são mais propensos a serem
6
7. homens, a terem idades compreendidas entre os 18 e os 44 anos, a possuírem habilitações
académicas elevadas e menos propensos a ter algum nível de deficiência (visual, auditiva ou
motora);
10.c. Grupo – “Em Dúvida” (espectadores de TV em sinal aberto que não sabem ou não
responderam qual a sua intenção de aquisição de TV digital) ‐ existe uma maior
probabilidade de serem mulheres, a terem baixas habilitações académicas e possuírem um
nível significativo de deficiência (visual, auditiva ou motora);
10.d. Grupo – “Não Adopta” (espectadores de TV em sinal aberto que alegam não ter
intenção em adoptar TV digital) ‐ são mais propensos a terem mais de 55 anos de idade, a
possuírem um baixo nível de habilitações académicas (instrução primária completa ou
menos) e a terem um nível significativo de deficiência (visual, auditiva ou motora).
Hipótese principal do projecto de investigação
‐ Verificou‐se a validação da hipótese principal do projecto de investigação, em que no
contexto da transição da TV analógica‐digital, a adopção da TV digital está
significativamente condicionada por factores de expectativa de desempenho, expectativa
de esforço e influência social, com forte probabilidade de rejeição significativa por parte
de segmentos da população com idade mais avançada, com menores habilitações
académicas e com necessidades especiais.
Recomendações
As recomendações serão detalhadas no capítulo 4, sendo devidamente suportadas nos
dados e achados dos estudos empíricos que integram o presente projecto de investigação,
bem como na revisão de literatura realizada no âmbito do projecto.
1. Ponderar o adiamento das datas de desligamento do sinal analógico terrestre
‐ tendo sobretudo em consideração as pessoas que recebem em exclusivo as emissões de
TV analógica terrestre, estimando‐se haver um risco elevado de que parte substancial
desta população possa ficar sem acesso ao sinal de televisão, a manterem‐se as datas
previstas para o desligamento da TV analógica terrestre.
2. Tornar atractiva a oferta de TDT, com mais canais TV e serviços úteis
‐ as vantagens da TDT são praticamente inexpressivas para os espectadores Portugueses,
7
8. mantendo‐se a mesma oferta de canais da TV analógica terrestre: a melhoria da qualidade
de imagem e som não deve ser suficiente para motivar a mudança voluntária da grande
maioria da população a ser impactada pelo switch‐off.
3. Promover campanhas de comunicação mais informativas e esclarecedoras
‐ sobretudo ter em consideração as populações mais vulneráveis, como sejam os mais
idosos, as pessoas com status socioeconómico mais baixo e pessoas com necessidades
especiais, que correspondem à maioria das pessoas afectadas com o desligamento das
emissões de TV analógica terrestre.
4. Reforçar os apoios específicos dirigidos às populações mais vulneráveis
‐ os mais idosos, os mais carenciados e as pessoas com deficiências visuais, auditivas e
motoras devem merecer uma maior atenção da parte das entidades responsáveis nesta
matéria, nomeadamente com através do reforço dos apoios específicos disponíveis.
8
9.
1. Descrição do Projecto
1.1. Contextualização2
O tema da migração para a televisão digital está na ordem do dia em Portugal: em
2009 foram iniciadas as transmissões de televisão digital terrestre (TDT), em 2011 serão
realizados os primeiros desligamentos do sinal analógico, e em 2012 está previsto o
encerramento total das transmissões da radiodifusão analógica – processo também
conhecido por switchover. Assim, será necessário que até 2012 todos os lares que
actualmente recebem o sinal de televisão tradicional através de antena analógica (ou seja,
os que não têm televisão paga nem pré‐instalação de cabo) comprem um descodificador e
uma antena adaptada para que possam continuar a usufruir das emissões televisivas. Por
outro lado, será ainda necessário preparar a indústria e o mercado dos media para este
processo de migração, já que ele implica não só um processo de transição para o digital no
próprio operador, como também pelo facto de vir reconfigurar as fontes de criação de valor
no contexto do sector televisivo. Por fim, também as actuais políticas de media e mais
especificamente de televisão terão de ser enquadradas no contexto da migração para o
digital, por via por exemplo a repensar o papel do serviço público ou o destino das
frequências que ficarão livres no espectro radioeléctrico em consequência da migração para
o digital do sinal de televisão, e que poderão ser utilizadas para uma vasta gama de
aplicações tais como o desenvolvimento da alta definição, a criação de novos canais ou a
televisão móvel.
A partir da segunda metade dos anos noventa, assiste‐se na Europa à disseminação da
Televisão Digital, tendo este incremento por base a decisão da maioria dos países europeus
de realizar o encerramento das suas emissões analógicas nacionais (switch‐off) até 2012.
Assim, o desenvolvimento da televisão digital na Europa assenta, quase exclusivamente,
num processo político aliado a imperativos económicos e políticos (Papathanassopoulos,
2002), e não na exigência dos telespectadores suprirem uma necessidade social através da
inovação tecnológica. Em 24 de Maio de 2005, a Comissão Europeia adoptou uma
comunicação intitulada ''Acelerar a transição da radiodifusão analógica para a digital'', na
2 Sub‐capítulo de contextualização de autoria de Vera Araújo, retirado do relatório “Estado da Arte na Europa”,
em anexo ao relatório final ADOPT‐DTV.
9
10. qual fixa os objectivos da política comunitária para a referida transição, com base em
emissões digitais terrestres. Nesse contexto, defende‐se que a migração trará ganhos para
todas as partes envolvidas. Por um lado, o cidadão terá um maior acesso à Sociedade de
Informação, poderá usufruir de uma maior diversidade de conteúdos e serviços, acrescidas
capacidades de interacção, possibilidade de personalização da experiência televisiva, assim
como melhorias em termos e imagem e som. Por outro lado, as empresas de media terão
novas oportunidades em termos de oferta de serviços inovadores de valor acrescentado,
assim como a possibilidade de vender aos anunciantes espaços publicitários com maiores
recursos de segmentação. Por fim, o Estado poderá incrementar o pluralismo e a
diversidade graças ao aumento do número de canais, assim como criar novas
funcionalidades para incrementar a cidadania, tais como o T‐gov, ou seja, a utilização da
televisão como interface de comunicação entre a Administração Pública e os cidadãos,
permitindo aplicações tais como o pagamento de impostos através do televisor. Uma vez
que, ao contrário dos computadores, a penetração da televisão nos lares nas sociedades
ocidentais ronda os 100%, e que este meio é utilizado por mais de 95% dos indivíduos na
Europa (OEA, 2010), as potencialidades em termos de inclusão e cidadania merecem
destaque, oferecendo novas ferramentas para o empowerment dos cidadãos.
1.2. A transição da TV analógica terrestre para o digital em Portugal
Depois de uma falsa partida em 2001, a televisão digital terrestre (TDT) é finalmente
lançada em Portugal a 26 de Abril de 2009, que assim se torna um dos países com uma
agenda mais ambiciosa – ou arriscada, dependendo da perspectiva – para a transição
completa da televisão analógica terrestre para a digital terrestre ou como um risco elevado,
já que haverá menos tempo para realizar tudo o que é necessário de forma a garantir o
sucesso deste processo.
Deve ser notado que, em finais de 2011, o sistema de TDT oferece exactamente os
mesmos canais que o sistema de TV analógica terrestre – nem mais nem menos canais. Um
quinto canal gratuito poderá vir a ser lançado no futuro, mas a sua concessão tem sido
adiada sine die como resultado da exclusão dos dois únicos concorrentes ao concurso
público promovido pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social – ERC (2009).
Igualmente, o lançamento do serviço pago de TDT também foi adiado sem data definida, já
que o vencedor do respectivo concurso público acabou por desistir da sua licença ‐ mais
detalhes adiante. Além disso, deve ser referido que a primeira campanha de comunicação
10
11. nacional sobre o switch‐off analógico teve início em Março de 2011, a 10 meses da primeira
fase de desligamento dos retransmissores de TV analógica terrestre – definida para 12 de
Janeiro de 2012.
No entanto, em 2001 foi lançado o primeiro concurso público para a atribuição de
uma licença de estabelecimento e exploração de uma plataforma de TDT (Anacom, 2001). O
vencedor deste concurso foi o consórcio PTDP ‐ Plataforma de Televisão Digital Portuguesa ‐,
constituído pelo Grupo Pereira Coutinho, recém‐chegado ao sector de telecomunicações,
RTP e SIC. Após vários atrasos por parte do consórcio para o lançamento da operação, em
Março 2003 a Anacom propôs a revogação da licença anteriormente concedida
considerando, entre outros aspectos, “as dificuldades objectivas da oferta massificada dos
equipamentos terminais necessários ao início da exploração comercial da referida
plataforma” (Anacom, 2003).
Seria necessário esperar por 2008 para que fossem lançados novos concursos
públicos neste âmbito. A PT Comunicações da Portugal Telecom concorreu ao multiplexer A,
destinado à TDT em sinal aberto, bem como aos multiplexers B a F, destinados à TDT paga,
aos quais também concorreu a empresa Airplus TV. Em Outubro de 2008, a Anacom e ERC
homologaram os direitos para a utilização do multiplexer A à PT Comunicações (Anacom,
2008). Em Novembro de 2008, a Anacom atribuiu à mesma PT Comunicações os direitos de
utilização de frequências associados aos multiplexers B a F (Anacom, 2009) – o que foi alvo
de contestação do concorrente Airplus TV (TekSapo, 2008).
Porém, nos inícios de 2010, a PT solicitou à Anacom a revogação das licenças dos
multiplexers de TDT paga, apresentando como justificação as mudanças significativas no
mercado da TV por assinatura, como seja o aumento da concorrência, o que reduziria a
importância competitiva da plataforma terrestre. A Anacom – sem o apoio da ERC – aceitou
o pedido da PT (Anacom, 2010). A transmissão de TDT gratuita viria a começar em 29 Abril
de 2009, atingindo algumas regiões do País e cerca de 30% da população. Em finais de 2011,
Portugal continua sem planos no que respeita ao serviço de TV digital terrestre por
assinatura.
1.3. Objectivos
O enfoque deste projecto de investigação está nas pessoas que não têm a intenção de
adoptar TV digital, nomeadamente, na compreensão dos principais factores que explicam
esta intenção, bem como na determinação do seu perfil demográfico e socioeconómico.
11
12. Com base nestes dados será possível delinear recomendações que contribuam para que a
transição bem sucedida da TV analógica terrestre para o digital seja uma realidade para
todos os Portugueses.
Esta transição apresenta desafios que ultrapassam o âmbito estritamente
tecnológico, com sérias implicações económicas e sociais. A investigação pode contribuir
com soluções inovadoras para superar os obstáculos inerentes a este processo (Candel,
2007). De igual modo, a investigação permite reflectir sobre o que foi realizado, de modo a
evitar repetir erros do passado, como observa Roberto Suárez Candel (2007), para quem a
monitorização da migração para a televisão digital é necessária para que possam ser
introduzidas medidas correctivas a tempo. Deste modo, somente compreendendo as
atitudes das pessoas em relação à TV digital, os seus receios e preocupações, será possível
difundir as mensagens certas e assegurar que ninguém “fica para trás” neste processo de
transição.
Este princípio de investigação e monitorização do processo de transição para o
digital tem vindo a ser aplicado um pouco por toda a Europa, com destaque para os
trabalhos produzidos no Reino Unido. Em primeiro lugar, há a referir os estudos realizados
para o Digital Television Project (DTI), estabelecido em 2001 em parceria pelo Department
for Culture, Media and Sport e o Department of Trade and Industry, tais como o estudo Easy
TV 2002 Research Report (Freeman, Lessiter, Williams & Harrison, 2003) e os estudos
compilados no relatório Digital Television for All ‐ a report on usability and accessible design
(Klein, Karger & Sinclair, 2003), que teve por objectivo abordar as questões humanas
relativas à adopção de equipamentos e serviços de televisão digital por espectadores com
diferentes tipos de necessidades O trabalho desenvolvido na compilação deste relatório
incluiu uma série de consultas às principais partes interessadas, um inquérito quantitativo a
cerca de 4.000 espectadores, oito focus groups para cobrir assuntos relacionados com
usabilidade, uma auditoria de especialistas com três modelos típicos de caixas
descodificadoras de TV digital, uma previsão do efeito de exclusão de três modelos típicos
de caixas descodificadoras de TV digital, uma série de treze testes de usabilidade de dois
sistemas de TV digital com utilizadores com diferentes capacidades.
Por outro lado, a entidade que no Reino Unido tem por missão regular a actividade
das indústrias da comunicação e media – a Ofcom (e antes o ITC) – também tem vindo a
realizar uma série de estudos relacionados com a adopção da TV digital, com destaque para
um estudo específico para compreender como as populações seniores, com necessidades
12
13. especiais, isoladas e com baixos rendimentos vão ser afectadas pelo switch‐off da TV
analógica terrestre (Freeman, Lessiter & Beattie, 2007).
Em relação à literatura em Portugal sobre o tema, há que referir o conjunto de
trabalhos do Observatório da Comunicação – Obercom, que ao longo de 2008 publicou um
conjunto de quatro breves relatórios sobre TV digital, com base nos resultados de um
inquérito quantitativo, obtidos através de entrevista directa a uma amostra constituída por
1.041 inquiridos, representativa da população portuguesa residente em Portugal
continental, com idade igual ou superior a 15 anos de idade (Araújo, Cardoso & Espanha,
2008a). O trabalho de campo decorreu em Fevereiro de 2008 e as entrevistas foram
realizadas pela Metris GfK. Em primeiro lugar, de destacar a baixa percentagem de
inquiridos que afirmou ter conhecimento do processo de switchover ‐ 3,2% da amostra total
‐ enquanto que 16,2% afirmaram já ter ouvido falar da televisão digital terrestre. Já os
inquiridos que afirmaram possuir TV digital em sua casa, destes 11,2% referiram já ter
ouvido falar do switchover e destes 46,1% já ouviu falar da TDT este processo (Araújo,
Cardoso & Espanha, 2008c). Já em relação ao grau de conhecimento sobre TV digital, de
acordo com este estudo, 72% dos inquiridos com TV por cabo afirmou já ter ouvido falar
desta plataforma, contra 44,8% dos inquiridos com acesso a televisão analógica através de
antena convencional (Araújo, Cardoso & Espanha, 2008b). Sobre se já ouviu falar de TDT, a
distribuição foi a seguinte: responderam afirmativamente 22,4% dos inquiridos com TV por
cabo e 11% dos inquiridos com acesso a televisão analógica terrestre (Araújo, Cardoso &
Espanha, 2008b).
1.4. Enquadramento Teórico e Hipóteses
A adopção da TV digital em Portugal é o problema a ser investigado, nomeadamente,
determinar quais são os factores de adopção e rejeição de uso de televisão digital por parte
dos Portugueses, bem como identificar oportunidades para que esta nova plataforma de
distribuição de televisão possa chegar a todas as pessoas interessadas. A importância social,
económica e política da televisão faz com que o processo de transição da TV analógica para
o digital deva ser alvo da maior atenção e cautela, para que ninguém deixe de ter acesso a
este meio de comunicação.
A transição da televisão analógica terrestre para televisão digital terrestre é um caso
particular de difusão de uma inovação em que a adopção é simultaneamente voluntária e
involuntária, dado que há uma data obrigatória para encerrar a transmissão analógica.
13
14. Considerando a literatura sobre difusão de inovações é imperativo mencionar o livro
Diffusion of Innovations de Everett Rogers (1962), no qual o autor explica que a difusão de
novas ideias – mesmo depois de provadas como benéficas e positivas – é uma tarefa difícil
que deve ser planeada para ser bem sucedida. Rogers apresenta neste livro vários exemplos
de inovações que não foram aceites ou adoptadas, apesar de serem benéficas. Entre as
razões que o autor apresenta para tal contam‐se as crenças culturais de determinadas
comunidades, tradições e hábitos antigos, a falha na divulgação de ideias na comunidade
local e entre os indivíduos que são socialmente melhor aceites na comunidade, falha na
inclusão da opinião de indivíduos considerados líderes, percepções do público‐alvo sobre o
agente de mudança, uso de mensagens não adequadas às necessidades e competências do
público‐alvo.
Analisando os primeiros autores a investigarem sobre a difusão de inovações,
Rogers menciona o sociólogo e criminologista Francês, Gabriel Tarde. Particularmente, no
seu trabalho Les Lois de l’Imitation (1890), Tarde expõe uma teoria de inovação baseada na
imitação e invenção, actos que ele considerava como actos sociais elementares. No entanto,
as propostas do autor não foram imediatamente seguidas por estudos empíricos na área da
difusão de inovações, algo que veio a acontecer décadas mais tarde, refere Rogers. Uma das
referências mais importantes neste campo, observou Rogers, foi o estudo de difusão do
milho híbrido no estado do Iowa, nos Estados Unidos da América, por Bruce Ryan e Neal
Gross (1943), que vieram a estabelecer uma nova abordagem ao estudo da difusão das
inovações.
Antes da publicação do livro de Rogers, George Beal e Joel Bohlen sintetizaram os
resultados de 35 estudos sobre como os agricultores adoptaram novas ideias no artigo The
Diffusion Process (1957), propondo um referencial teórico para todos os que enfrentam o
desafio de difundir ideias e práticas. Nestes estudos, realizados ao longo de duas décadas, os
agricultores foram questionados sobre as suas práticas agrícolas e domésticas, uso de
pesticidas, fertilizantes e outras técnicas agrícolas. Após análise destes estudos, Beal e
Bohlen sugeriram que os indivíduos aceitam novas ideias seguindo um processo mental
composto, pelo menos, por cinco fases: fase de consciencialização (awareness), fase de
interesse, fase de avaliação, fase de experimentação e fase de adopção. Ainda significativo,
estes autores propuseram cinco categorias de indivíduos, com base no tempo que os
mesmos necessitam para adoptar novas ideias, possuindo diferentes características
individuais e sociais: inovators/ os inovadores, the early adopters/ os adoptantes iniciais, the
14
15. early majority/ a maioria inicial, the majority/ a maioria, the non‐adopters/ os não‐
adoptantes. Mais tarde, Rogers viria a propor categorias semelhantes, que acabaram por se
tornar o padrão para os estudos nesta área: the inovators, the early adopters, the early
majority, the late majority, the laggards.
Estudos mais recentes neste âmbito apresentam outros modelos explicativos da
difusão e adopção de inovações. Venkatesh, Morris, Davis & Davis (2003) propõem um
modelo unificado com base nos vários dos modelos mais significativos desenvolvidos neste
campo – a Teoria Unificada de Aceitação e Uso de Tecnologia (Unified Theory of Acceptance
and Use of Technology ‐ UTAUT). Estes autores defendem que a expectativa de
performance, expectativa de esforço, influência social e condições facilitadoras são
determinantes directos da intenção de uso e comportamentos de adopção de inovações. O
impacto destes quatro factores é mediado pela idade, género, experiência e voluntariedade
de uso.
No modelo UTAUT, a expectativa de desempenho é definida como o grau em que
um indivíduo acredita que o uso de um sistema o irá ajudar a atingir melhorias de
desempenho no trabalho: os cinco constructos relacionados com esta variável são a
percepção de utilidade, motivação extrínseca, adequação do trabalho/ emprego, vantagem
relativa e expectativas de resultado. Por outro lado, a expectativa de esforço é definida
como o grau de facilidade associado ao uso do sistema: o reconhecimento da facilidade de
uso, a complexidade e facilidade de utilização são os conceitos relacionados com esta
variável. Influência social, outra variável do modelo UTAUT, é o grau através do qual o
sujeito percebe que outros sujeitos, considerados importantes na área, acreditam que ele
deve usar o novo sistema: os constructos relacionados são norma subjectiva, factores sociais
e de imagem. Por último, as condições facilitadoras são definidas como o grau em que um
indivíduo acredita que uma infra‐estrutura organizacional e técnica existe para apoiar o uso
do sistema: percepção de controlo comportamental, condições de facilidade e
compatibilidade são os constructos relacionados com esta variável. Além destes conceitos, o
estudo pretende ainda avaliar os constructos de auto‐eficácia, ansiedade e atitudes em
relação a técnicas, as quais Venkatesh et al. (2003) consideram como não sendo
directamente determinantes da intenção de uso. O impacto destes quatro constructos é
ainda mediado pela idade, género, experiência e voluntariedade de uso. O modelo UTAUT
foi desenvolvido através da revisão e consolidação de oito teorias na área da difusão e
adopção de inovações, nomeadamente: teoria da acção racional, modelo de aceitação de
15
16. tecnologia, modelo motivacional, modelo de difusão de inovações e a teoria cognitiva social,
entre outras. Na área específica da adopção da TV digital, o modelo UTAUT tem sido
aplicado em vários projectos de investigação, como as investigações de campo
desenvolvidas na Itália, no âmbito dos projectos de T‐government (Papa, Nicoló, Cornacchia,
Sapio, Livi & Turk, 2009).
Seguindo a teoria unificada da aceitação e uso de tecnologias, as principais
hipóteses de investigação são as seguintes:
H1. As expectativas de desempenho têm um efeito na intenção de uso de TV digital
e o seu efeito é maior nos jovens e nos homens.
H2. As expectativas de esforço têm um efeito na intenção de uso de TV digital e o
seu efeito é maior para os mais velhos, com habilitações académicas mais baixas e
para as mulheres.
H3. A influência social tem um efeito na intenção de uso de TV digital e o seu efeito
é maior para os mais velhos, com um nível mais baixo de habilitações académicas e
para as mulheres.
H4. As condições facilitadoras não têm um efeito significativo na intenção de uso de
TV digital na maioria da população, mas têm um efeito significativo nos mais velhos.
H5. a) A auto‐eficácia no uso de tecnologias não tem influência significativa na
intenção de uso de TV digital
H5.b) A ansiedade em relação ao uso de tecnologias não tem influência significativa
na intenção de uso de TV digital
H5.c) As atitudes em relação ao uso de tecnologias não têm influência significativa
na intenção de uso de TV digital.
Deste modo, a hipótese principal do projecto de investigação é a seguinte:
HP: no contexto da transição da TV analógica‐digital, a adopção da TV digital está
significativamente condicionada por factores de expectativa de desempenho, expectativa de
esforço e influência social, com forte probabilidade de rejeição significativa por parte de
segmentos da população com idade mais avançada, com menores habilitações académicas3
e com necessidades especiais. Todos estes factores constituem barreiras para adopção da
3
Nota: optou‐se por substituir a variável “habilitações académicas” pela “experiência de uso de tecnologias”, por
ser um indicador mais objectivo e concreto
16
17. TV digital.
1.5. Metodologia
O desenho de investigação combina métodos quantitativos e qualitativos, de acordo com as
boas práticas de projectos com âmbito semelhante, nomeadamente:
‐ Klein, J. Karger, S. & Sinclair, K. (2004a) Attitudes to digital television: preliminary findings
on consumer adoption of digital television;
‐ Klein, J. Karger, S. & Sinclair, K. (2004b) Attitudes to switchover: the impact of digital
switchover on consumer adoption of digital television;
‐ Clarkson, J. & Keates, S. (2003) Digital TV For All: a report on usability and accessible
design.
Em particular, no estudo Attitudes to switchover (Klein, Karger, & Sinclair, 2004a)
foram identificadas três novas formas de pensar sobre os consumidores do Reino Unido em
relação à sua adopção voluntária da TV digital: 1) a caracterização das diferentes fases de
transição da televisão analógica para a digital; 2) uma nova segmentação de mercado para a
fase voluntária de adopção, partindo da anterior segmentação proposta pelo projecto Go
Digital (2003)4; 3) um modelo do processo de decisão dos consumidores que combina os
critérios de simbolismo da plataforma, com atractividade dos conteúdos e facilidade de uso
dos equipamentos (Klein, Karger & Sinclair, 2004a). Neste relatório, os autores propuseram
um modelo do processo de decisão dos consumidores de TV digital em que os consumidores
decidem o que pensar sobre a TV digital ao olhar para três níveis diferentes: simbolismo da
plataforma, grau de atractividade dos conteúdos e facilidade de uso do equipamento.
Em relação ao projecto Attitudes to digital television (Klein, Karger & Sinclair,
2004b), o enfoque foi nos non‐adopters, ou seja, nas pessoas que afirmaram não ter a
intenção de adoptar TV digital, um grupo que constitui uma barreira ao objectivo do
governo em conseguir uma transição rápida e essencialmente voluntária para a TV digital:
“deste modo há uma necessidade particularmente forte em compreender porque é que os
non‐adopters tomaram essa posição. Assim, ao se compreender melhor as barreiras à
adopção será possível recomendar formas de as ultrapassar, convertendo efectivamente os
sub‐grupos de non‐adopters”.
4 De notar que na segmentação proposta pelo projecto Go Digital (2003) foi identificado um grupo de
consumidores que afirmaram que não seriam persuadidos a adoptar/ comprar TV digital. O projecto estabeleceu
que este segmento corresponderia a aproximadamente 13% dos lares no Reino Unido, ou seja, a 3,2 milhões de
domicílios.
17
18. A metodologia do projecto de investigação combinou os seguintes métodos
quantitativos e qualitativos:
1) Estudo etnográfico – realizado junto de uma amostra de 20 famílias de perfis
diferenciados, com o objectivo de explorar em contexto quais as suas atitudes em
relação à TV digital e quais os usos dados à televisão. Ainda, houve a intenção de
compreender como estas famílias adoptam novas tecnologias de comunicação e de
informação ou novos equipamentos de entretenimento doméstico e/ ou pessoal,
bem como quais são os seus estilos de aprendizagem (por exemplo, se são auto‐
eficazes, recorrem à sua rede social para obter aconselhamento ou ajuda no uso de
novos equipamentos ou novos serviços, etc). O trabalho de campo entre Setembro
de 2010 e Março de 2011, e o recrutamento da amostra foi feito através do contacto
com as câmaras municipais de Alenquer e da Nazaré, bem como com as juntas de
freguesia de Agualva, Cacém, Mira‐Sintra e São Marcos, na tentativa de encontrar
famílias com os perfis adequados aos objectivos do projecto. Mais detalhes no
relatório “ADOPT‐DTV: Estudo Etnográfico” (Veríssimo, Henriques & Quico, 2011),
em anexo a este relatório final.
2) Entrevistas com stakeholders ‐ o principal objectivo destas entrevistas foi o de obter
as diferentes perspectivas das partes interessadas neste processo de transição, ou
seja, canais de televisão em sinal aberto, operadores de TV paga, operador de TDT,
reguladores, representantes de consumidores, representantes de pessoas com
necessidades especiais, entre outros. O instrumento da entrevista foi composto por
13 perguntas abertas. Os participantes foram contactados via e‐mail, telefone e
carta durante Outubro e Novembro de 2010. A maioria das respostas foi obtida em
Novembro e Dezembro de 2010. Um total de 16 entrevistas foram realizadas até
final de Janeiro de 2011. A maioria dos participantes preferiu responder por e‐mail,
tendo os representantes da SIC/ Impresa, ERC e RTP optado pela entrevista
presencial: deste modo, procedeu‐se à transcrição da entrevista, que foi
posteriormente validada pelo respectivo entrevistado. Mais detalhes no relatório
“ADOPT‐DTV: Entrevistas com Stakeholders” (Sequeira, Veríssimo & Quico, 2011),
em anexo a este relatório final.
3) Inquérito quantitativo ‐ aplicado junto de uma amostra representativa da
população portuguesa, tendo sido baseado no instrumento anteriormente
elaborado pelo Obercom (Araújo, Cardoso & Espanha, 2008), com as necessárias
18
19. adaptações para o presente projecto. O inquérito foi aperfeiçoado com os
contributos de todos os parceiros do projecto, ou seja, do Obercom e da Anacom.
Ainda, foi realizado um pré‐teste envolvendo 14 indivíduos em Outubro de 2010, de
acordo com as mesmas condições que seriam posteriormente seguidas no estudo. O
inquérito final foi aplicado a uma amostra de 1.205 indivíduos com mais de 18 anos
de idade, sendo realizado em casa dos entrevistados por uma equipa de
entrevistadores da GfK, a empresa de estudos de mercado recrutada para o efeito.
No total, o instrumento compreende 33 questões e 22 itens de caracterização. Mais
detalhes no relatório “ADOPT‐DTV: Inquérito Quantitativo” (Henriques & Quico,
2011), em anexo a este relatório final.
4) Estudo de usabilidade, com uma amostra de 20 participantes, para proceder à
análise comparativa da eficácia e satisfação de alguns dos equipamentos
descodificadores de TV digital terrestre disponíveis no mercado português. Na
constituição da amostra foi dada particular atenção ao recrutamento de pessoas
com idade igual ou superior a 65 anos e a pessoas com necessidades especiais. Os
testes de usabilidade decorreram Universidade Lusófona, onde anteriormente já
foram efectuados diversos estudos com um âmbito semelhante a este (Conceição,
Quico e Damásio, 2005). Mais detalhes no relatório “ADOPT‐DTV: Estudo de
Usabilidade” (Henriques & Veríssimo, 2011), em anexo a este relatório final.
Ao longo do projecto houve a preocupação de publicar e divulgar os resultados de
cada um dos estudos que integram o projecto de investigação logo após a sua conclusão,
com o objectivo de contribuir activamente para a transição bem sucedida da TV analógica
para o digital. Em Janeiro e em Março de 2011, a equipa de investigação lançou press‐
releases com alguns dos principais do inquérito quantitativo do presente estudo, disponíveis
no web site do projecto http://adoptdtv.ulusofona.pt/.
Ainda, como os responsáveis pelo projecto ADOPT‐DTV também são responsáveis
pelo projecto de investigação e desenvolvimento “iDTV‐Health: Inclusive services to
promote health and wellness via digital interactive television” (UTA‐Est/MAI/0012/2009)
optou‐se por aproveitar sinergias entre os projectos. Assim, no âmbito do projecto IDTV‐
Health foi realizado um inquérito quantitativo sobre saúde e media em Setembro de 2011,
tendo sido aproveitada esta oportunidade para voltar a colocar algumas das questões que
faziam parte do inquérito ADOPT‐DTV, dada a importância de fazer um acompanhamento da
evolução dos indicadores‐chave do inquérito. O inquérito de Setembro de 2011 seguiu os
19
20. mesmos moldes do inquérito de Novembro de 2010: trata‐se também de uma amostra
representativa da população Portuguesa com mais de 18 anos, também com cerca de 1.200
inquiridos, também aplicado presencialmente na casa dos participantes e cujo trabalho de
campo e recolha de dados foi também da responsabilidade da empresa de estudos de
mercado GfK.
20
21.
2. Execução Material
O projecto ADOPT‐DTV teve início em Abril de 2010, com um ligeiro atraso em
relação à data inicialmente prevista (Janeiro de 2010), devido a atrasos no processo de
contratualização inicial e transferência de verbas por parte da FCT. Após essa fase,
procedeu‐se ao acerto e homologação de um novo cronograma e iniciaram‐se os trabalhos
em ritmo normal.
No primeiro ano de actividade, tal como definido no plano de trabalho, realizou‐se a
revisão de literatura relativa aos estudos e relatórios sobre a migração da TV analógica
terrestre para o digital no contexto Europeu, da responsabilidade de Vera Araújo (Obercom).
O relatório “ADOPT‐DTV: Estado da Arte” (Araújo, 2011) consta dos anexos a este
documento, encontrando‐se publicado no web site do projecto. De modo a se aprofundar
um caso de um processo de switch‐off já concluído, solicitou‐se a Peter Olaf Looms a
elaboração de um relatório de análise da experiência da Dinamarca, com o título ‐ “A
transição para a televisão digital terrestre: experiências da Dinamarca” que também
engloba um relatório sobre TV digital e acessibilidade ‐ “Digital TV and access services ”.
Em paralelo com a elaboração destes relatórios, a equipa de investigação avançou a
partir de Julho de 2010 com os trabalhos preparatórios de três dos quatro estudos empíricos
que integram o presente projecto de investigação, nomeadamente, o estudo etnográfico,
entrevistas com os stakeholders e inquérito quantitativo. Em particular, o inquérito
quantitativo arrancou mais cedo do que o programado, a pedido da Anacom, já que
manifestou interesse em obter resultados mais cedo do que o definido no plano de trabalho.
Desta forma, o instrumento foi desenvolvido e re‐trabalhado em Setembro 2010, seguindo‐
se o pré‐teste do instrumento, que decorreu até 23 de Outubro. Em simultâneo, procedeu‐
se ao envio de pedido de propostas de orçamento e plano a quatro empresas de estudos de
mercado (GfK, Eurosondagem, IMR, Intercampus), tendo sido recebidas as propostas até 15
de Outubro de 2010. A escolha recaiu na empresa GfK, que já antes tinha sido responsável
pela aplicação do inquérito do Obercom sobre TV digital em 2008. A reunião com empresa
seleccionada decorreu a 25 de Outubro, na qual ficou acordado o calendário de aplicação do
inquérito e de entrega dos resultados. Assim, o trabalho de campo teve lugar em meados de
Novembro e a base de dados com os resultados foram entregues no início de Dezembro.
No âmbito das entrevistas com os stakeholders, a equipa começou por elaborar o
guião de entrevistas de Julho a Setembro de 2010, bem como a lista de entidades, empresas
ou especialistas a contactar para o efeito. O trabalho de campo estendeu‐se para além do
21
22. intervalo de tempo primeiro definido, já que alguns dos participantes tardaram em dar
resposta ao pedido de entrevista: a equipa contactou mais de 30 stakeholders e obteve 16
entrevistas. A codificação das entrevistas foi efectuada posteriormente à recepção da quase
totalidade das entrevistas, ao longo do primeiro semestre de 2011, com recurso ao software
de análise qualitativa NVivo. O relatório final relativo às entrevistas com os stakeholders foi
concluído em Setembro de 2011.
Para o estudo etnográfico optou‐se por circunscrever o trabalho de campo às três
zonas‐piloto do desligamento da emissão de TV analógica terrestre – a saber: Alenquer,
Cacém e Nazaré. Em Julho de 2010, a equipa elaborou o guião e definiu os procedimentos
para a realização das sessões de observação, bem como teve formação em NVivo. Em
Setembro, efectuou‐se o pré‐teste do guião em casa de três famílias. A partir de finais de
Setembro, a equipa de investigação procedeu ao contacto com as respectivas câmaras ou
juntas de freguesia das zonas‐piloto, de forma a obter apoio no recrutamento das famílias,
tarefa que acabou por ser mais morosa do que o inicialmente previsto, tendo o
recrutamento e trabalho de campo acabado por se estender até Março de 2011. Em paralelo
com o trabalho de campo, a equipa procedeu à digitalização dos vídeos, análise dos vídeos e
das notas de campo, transcrição de entrevistas semi‐estruturadas e finalmente, codificação
dos conteúdos, com apoio do software NVivo. A elaboração dos relatórios individuais foi
sendo efectuada ao longo do primeiro semestre de 2011, tendo sido entregue o relatório
final deste estudo em Setembro de 2011.
O quarto e último estudo empírico – estudo de usabilidade – arrancou em Maio de
2011, já que foi necessário mais tempo do que o previsto para a realização dos outros
estudo empíricos que integram o projecto, bem como foi necessário o empenho da equipa
de investigação na organização e logística associada à conferência internacional EuroITV
2011. Ainda, como o laboratório de usabilidade da Universidade Lusófona estava em obras
foi necessário encontrar uma solução de recurso. A primeira opção acabou por ser
descartada, devido a problemas técnicos na instalação de uma antena de televisão digital
terrestre. Assim, o recrutamento da amostra e respectivo trabalho de campo acabou por se
atrasar, tendo coincidido com Julho e Agosto. Em Setembro, o trabalho de campo foi dado
por concluído. O relatório do estudo e usabilidade foi finalizado em meados de Outubro de
2011.
Relativamente às acções de divulgação dos resultados do projecto, em finais de
Dezembro de 2010, a equipa de investigação da ULHT convocou os representantes dos
parceiros Obercom e Anacom para uma reunião de divulgação dos primeiros resultados do
22
23. inquérito quantitativo. A esta reunião seguiu‐se o envio de um press‐release no início de
Janeiro de 2011, bem como publicação no web site do projecto, com a informação
considerada como mais relevante.
A 2 Março de 2011, a equipa de investigação da ULHT organizou um workshop
restrito aos parceiros no projecto, para apresentação detalhada de processo de switchover
na Dinamarca e da importância da acessibilidade universal em TV digital, com a presença de
Peter Olaf Looms.
De notar que no âmbito do projecto ADOPT‐TV, a equipa de investigação da ULHT
foi responsável pela organização do importante evento na área da TV digital interactiva
“EuroITV 2011” ‐ http://www.euroitv2011.org/ ‐, que teve lugar de 29 de Junho a 1 de Julho
de 2011 – cujo o relatório final se encontra anexado a este documento – Relatório “EuroITV
2011”. A conferência “EuroITV” é um fórum para profissionais e académicos da Europa e de
todo o mundo que trabalham ou têm interesse no campo televisão interactiva e vídeo na
web. Esta conferência anual apresenta o estado‐da‐arte na academia e na indústria no
campo da TV interactiva, tais como IPTV, mobile TV, produção de conteúdos digitais,
usabilidade e avaliação da experiência dos utilizadores, requisitos técnicos, infra‐estruturas
e tecnologias futuras. O “EuroITV2011” teve como entidades organizadoras e de
acolhimento a Universidade Lusófona Tecnologias e Humanidades (ULHT) e o Instituto
Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). Esta foi a nona edição da série de
conferências EuroITV, que teve início em 2003 e que desde então tem vindo
progressivamente a crescer. A conferência teve lugar por duas vezes em Brighton (UK), em
Aalborg (Dinamarca), Atenas (Grécia), Amesterdão (Holanda), Salzburgo (Áustria), Lovaina
(Bélgica) e Tampere (Finlândia). A próxima edição decorre em Berlim (Alemanha), de 4 a 6
de Julho de 2012, sendo organizada pelo Fraunhofer Institute.
Ainda, a equipa de investigação esteve activamente envolvida na organização do
colóquio “Media e Deficiência”, que decorreu a 28 de Setembro de 2011 na Universidade
Lusófona, com organização conjunta entre a universidade e o Gabinete para os Meios de
Comunicação Social (GMCS). No web site do colóquio serão publicados os vídeos das
sessões, bem como outra documentação relacionada com a temática da deficiência e os
media: http://www.mediaedeficiencia.com/ . Finalmente, o workshop final de divulgação e
disseminação dos resultados do projecto deve decorrer até ao final de 2011, em data a fixar.
No web site ADOPT‐DTV ‐ http://adoptdtv.ulusofona.pt/ ‐ lançado em Novembro de
2010 ‐ encontra‐se toda a documentação essencial relativa ao presente projecto de
investigação, tais como os artigos científicos aceites em conferências e em publicações
23
24. científicas, relatórios dos estudos empíricos e de revisão de bibliografia, bem como outras
informações de interesse relacionados com a transição da TV analógica terrestre para o
digital. Já em Outubro de 2011, a equipa de investigação criou uma página do Facebook,
para divulgação e disseminação dos principais resultados do projecto, disponível no
endereço: http://www.facebook.com/pages/TDT‐Adopt‐DTV/248275598555929
Relativamente à apresentação de artigos em conferências e à publicação de artigos
em revistas científicas, até 30 de Outubro de 2011 estes são os artigos e relatórios já
apresentados e publicados, bem como os artigos já com publicação garantida.
Indicadores de realização do projecto – ver 6. Anexos para lista completa
(* até final de 2011 e ao longo de 2012, a equipa de investigação vai continuar a submeter artigos a
conferências e revistas nacionais e internacionais)
P R
A – Publicações
Livros 2 6*
Artigos em revistas internacionais 5 5*
Artigos em revistas nacionais 6 3*
B – Comunicações
Em congressos científicos internacionais 6 6*
Em congressos científicos nacionais 4 2*
C‐ Relatórios 4 8
D‐ Organização de seminários e conferências 2 4
E‐ Formação Avançada
Teses de Doutoramento 1 1
Teses de Mestrado 1 1
Outra 0 1
F‐ Modelos 1 1
24
25.
3. Resultados principais
1. Posse de TV em sinal aberto e de TV por subscrição: taxa de penetração e perfis
‐ A percentagem da população de Portugal Continental que recebe exclusivamente
televisão em sinal aberto deve situar‐se próximo dos 38%, em Setembro de 2011.
No último inquérito sobre TV digital da Universidade Lusófona realizado em Setembro de
20115, 61.7% afirmaram ter TV paga em casa (n=742), o que implica que 38.3% dos
inquiridos não possuem TV paga (n=460). Estes dados coincidem os valores do Barómetro
de Telecomunicações da Marktest, que estimou em 61.9% a penetração de TV paga em
Portugal Continental, em Junho de 2011 (Anacom, 2011). Já os valores avançados pela
Anacom variam consoante o denominador considerado: 49.5 assinantes por cada 100
alojamentos, caso se considere o total de alojamentos familiares clássicos (o que inclui
alojamentos de residência habitual e de uso sazonal ou residências secundárias), enquanto
que considerando o total de famílias clássicas, a Anacom (2011) estimou que 72.2% são
assinantes de TV por subscrição no segundo trimestre de 2011. Considerando que a
população residente em Portugal Continental6 é de 10.041.813 indivíduos (população total:
10.555.853 indivíduos), de acordo com últimos dados apurados pelo Instituto Nacional de
Estatística (2011), podemos estimar que cerca de 3,8 milhões de Portugueses usufruem
exclusivamente dos canais de televisão em sinal aberto em sua casa.
Em relação aos resultados apurados no primeiro inquérito quantitativo realizado no
âmbito do projecto ADOPT‐DTV, 54,7% usufruíam de um serviço de TV paga em casa
(n=655), o que significa que 45,3% do total dos participantes recebiam somente televisão
em sinal aberto (n=543). O trabalho de campo deste inquérito decorreu em Novembro de
2010, junto de uma amostra de 1.205 participantes, dos quais 99.4% possuíam pelo menos
um televisor em casa (n=1198).
5
Inquérito realizado no âmbito do projecto de investigação “iDTV‐Health: Inclusive services to promote health
and wellness via digital interactive television” (UTA‐Est/MAI/0012/2009), cujo trabalho de campo decorreu de 16
a 27 de Setembro de 2011, junto de uma amostra representativa da população Portuguesa com mais de 18 anos,
constituída por 1.207 inquiridos, dos quais 1.202 participantes afirmaram ter TV em casa.
6
De notar que a Região Autónoma dos Açores e Região Autónoma da Madeira tem uma taxa de penetração de
TV paga muito superior à de Portugal Continental, respectivamente com 95 assinantes por 100 alojamentos e 81
assinantes por 100 alojamentos. Fonte – Anacom (2011) “Serviço de Televisão por Subscrição ‐ 2º trimestre de
2011” http://www.anacom.pt/render.jsp?contentId=1096827
25
26. Tabela 1: Posse de TV paga (ADOPT‐DTV e IDTV Health ‐ ULHT, 2011)
Novembro 2010 Janeiro 2011 Setembro 2011
(n=1198) (n=1198) (n=1202)
% % %
Sim 54.7 59.5 61.7
Não 45.3 40.5 38.3
De modo a compreender melhor quais os perfis dos espectadores com TV por
subscrição e sem TV por subscrição, a seguir se apresenta a análise estatística descritiva e
inferencial de algumas variáveis, tendo por base o inquérito principal do ADOPT‐DTV, cujo
trabalho de campo decorreu em Novembro de 2010. As análises realizadas respeitam um
nível de confiança de 95% (α = 0,05) tendo sido usado o teste do Qui‐Quadrado, uma vez
que se evidenciou como o mais adequado e potente. Quando os pressupostos do Qui‐
Quadrado não foram verificados recorreu‐se ao uso do Teste Exacto de Fisher.
No que respeita ao perfil socioeconómico dos assinantes de TV paga, os dados
indicam que as variáveis sexo e TV por assinatura não são independentes, verificando‐se a
existência de diferenças estatisticamente significativas entre género masculino e feminino
quanto à posse de TV paga (χ2 (1) =0,185, p = 0,667, n = 1.198; α = 0,05). Os dados indicam
que existe uma percentagem maior de participantes do sexo feminino que têm TV paga em
casa, quando comparado com os participantes do sexo masculino. Encontramos também
uma diferença estatisticamente significativa entre a idade e a TV paga, indicando que os
participantes mais velhos são menos propensos a ter TV paga nas suas próprias casas (χ2 (5)
= 73,879, p <0,001, n = 1198; α = 0,05). Verificou‐se ainda uma correlação negativa razoável
e significativa entre a idade e posse de TV por assinatura (P =‐ 0,25, p <0,001).
Tabela 2: TV paga e TV em sinal aberto vs. idade (ADOPT‐DTV, Novembro de 2010)
Amostra total TV paga TV em sinal aberto
% % %
18‐24 anos 12 14.2 7.2
25‐34 anos 21 24 17.5
35‐44 anos 19.1 20.8 17
45‐54 anos 18.2 19.2 16.6
55‐64 anos 13.3 11.3 15.8
+ 65 anos 16.4 8.2 23
26
27. Em relação ao status dos participantes com TV paga, foi encontrada uma correlação
positiva (V = 0,244; p <0,001) e diferenças estatisticamente significativas. Estes dados
indicam que os participantes com um nível de status mais elevado (A, B) têm maior
probabilidade de ter TV paga em casa do que indivíduos nos grupos menos favorecidos (D,
E), estando consideravelmente abaixo da média na subscrição de serviços de TV paga (χ2(4)
= 71,093; p <0,001; n = 1.198; α = 0,05).
Tabela 3: TV paga e TV em sinal aberto vs. Status (ADOPT‐DTV, Novembro de 2010)
Amostra total TV paga TV em sinal aberto
% % %
A 2.7 4 0.7
B 13.9 19 8.5
C 19.6 24 14.9
D 48.8 40 59.1
E 15 13 16.8
Em relação às pessoas com necessidades especiais, nomeadamente aos indivíduos com
deficiências visuais, auditivas e de mobilidade, mais uma vez encontramos uma correlação
positiva entre a deficiência e a posse de TV em sinal aberto. Os resultados indicam ainda a
existência de diferenças significativas entre essas variáveis, revelando que os participantes
com deficiência auditiva, visual ou de mobilidade são mais propensos a ter TV em sinal
aberto nas suas casas (deficiência visual χ2 (4) = 21,422, p <0,001, n = 1.198; α = 0,05; V =
0,134, p <0,001; deficiência auditiva χ2 (4) = 42,303, p <0,001, n = 1.198; α = 0,05; V = 0,188,
p <0,001; mobilidade reduzidaχ2 (4) = 66,131; p <0,001, n = 1.198; V = 0,235, p <0,001; α =
0,05).
Tabela 4: TV paga e TV em sinal aberto vs. Deficiências visuais (ADOPT‐DTV, 2011)
Dificuldades em ver Amostra total TV paga TV em sinal aberto
% % %
Nenhuma 62.3 68.8 56
Um pouco 13.9 12.7 15.5
Alguma 18 14.8 22.1
Muita 5.1 4.1 6.4
Não vejo 0.1 0.2 0
27
28.
Tabela 5: TV paga e TV em sinal aberto vs. Deficiências auditivas (ADOPT‐DTV, 2011)
Dificuldades em ouvir Amostra total TV paga TV em sinal aberto
% % %
Nenhuma 80 86.7 71.8
Um pouco 9.4 6.4 13
Alguma 8.5 5.8 11.8
Muita 1.9 0.9 3.1
Não ouço 0.2 0.3 0.2
Tabela 6: TV paga e TV em sinal aberto vs. Deficiências motoras (ADOPT‐DTV, 2011)
Dificuldades em andar Amostra total TV paga TV em sinal aberto
% % %
Nenhuma 77.1 85.5 67
Um pouco 10 7.6 12.9
Alguma 8.8 5.6 12.7
Muita 3.7 1.1 6.8
Não ando 0.3 0.2 0.6
Em resumo, com base nos resultados do primeiro inquérito quantitativo aplicado a
uma amostra representativa da população Portuguesa no âmbito do projecto ADOPT‐DTV,
podemos afirmar que os indivíduos com TV paga em Portugal são sobretudo jovens adultos
e adultos de meia idade, mais propensos a ter níveis mais elevados de educação e a
pertencer a grupos de status mais alto (A / B / C)7 e menos propensos a ter algum tipo de
deficiência (visual, auditiva ou de mobilidade). Por outro lado, os indivíduos sem TV paga
em Portugal são mais propensos a ter uma idade elevada, a ter mais de 55 anos de idade,
a possuir baixos níveis de habilitações académicas e um baixo status (D / E) e, finalmente,
a possuir algum nível de deficiência (auditiva, visual ou de mobilidade)8.
7
O status é determinado pela empresa de estudos de mercado GfK com base no nível de escolaridade e na
ocupação do respondente: mais detalhes nos anexos a este relatório.
8 Mais detalhes sobre este tópico no artigo: Quico, Célia; Damásio, Manuel José; Henriques, Sara & Veríssimo,
Iolanda (2011). “Perfis de adopters de TV digital no contexto do processo de transição da televisão analógica
terrestre para a televisão digital terrestre em Portugal”. In Proc. of SOPCOM 2011. Universidade do Porto, Porto/
Portugal. 15 ‐ 17 Dezembro 2011.
28
29. 2. Tipo de acesso a TV em sinal aberto
‐ Verifica‐se que a recepção de TV analógica terrestre se mantém como largamente
dominante junto dos Portugueses sem TV paga, sendo o acesso à TDT pouco
expressivo, estimando‐se que 35% da população de Portugal Continental possa ser
afectada com o desligamento do sinal.
No último inquérito sobre TV digital realizado em Setembro de 2011, dos 460 inquiridos que
responderam negativamente à questão “tem TV paga” (total inquiridos com TV =1.202),
92.4% afirmaram receber TV analógica através da antena tradicional (n=425) e 3%
indicaram ter TDT (n=14), enquanto que 2.6% referiram receber TV gratuitamente através
de parabólica e 2.6% não sabem ou não responderam a esta questão. De notar que no
inquérito anterior, realizado em Novembro de 2010, do conjunto de inquiridos que
indicaram não ter TV paga, 96.7% afirmaram ter TV analógica terrestre, enquanto que 1.8%
afirmaram receber o sinal de TV por uma parabólica e 1.1% afirmaram receber TDT, com
0.7% a optarem por não responder e 0.2% dos inquiridos a identificarem outro tipo de
acesso. Deste modo, verificou‐se uma ligeira subida da percentagem dos que afirmam ter
TDT, que passou de 1.1% para 3% dos inquiridos sem TV paga.
Tabela 7: Tipo de acesso à televisão gratuita no agregado familiar (ADOPT‐DTV e IDTV Health, 2011)
Novembro 2010 Setembro 2011
(n=543) (n=460)
% %
Antena tradicional (analógica, sem TV por 96.7 92.4
subscrição)
Televisão digital Terrestre (TDT= 1.1 3
Por satélite/ com parabólica (gratuita) 1.8 2.6
Outro tipo de acesso 0.2 0.2
Não sabe/ não responde 0.7 2.6
(nota: havia a possibilidade de escolher mais do que uma opção)
No estudo etnográfico, realizado junto de 30 famílias das 3 zonas‐piloto do
desligamento da emissão analógica terrestre de televisão, 5 das famílias entrevistadas não
eram assinantes de serviços de televisão (famílias 5, 8, 9, 17 e 23). Já no caso do estudo de
usabilidade, dos 20 participantes que colaboraram na avaliação dos equipamentos de TDT, 4
não eram subscritores de um serviço de TV paga.
29
30. 3. Conhecimento sobre a TV digital e TDT
‐ Estima‐se que a maioria dos Portugueses já tenha ouvido falar em TV digital e em
TDT, mas que na maior parte dos casos tenham dificuldades em definir ou
caracterizar estas tecnologias.
Em relação à familiaridade com os termos e expressões‐chave associadas à TV digital , em
primeiro lugar, 78.2% dos participantes no inquérito realizado em Setembro de 2011
conhecem ou já ouviram falar de TV digital. Num segundo inquérito no âmbito do projecto
ADOPT‐DTV realizado em Janeiro de 2011 e divulgado em Março, 75.5% responderam
afirmativamente a esta questão, pelo que se verifica um ligeiro acréscimo neste indicador.
Já sobre o termo “televisão digital terrestre”, em Janeiro de 2011, 46.1% dos
inquiridos afirmaram já ter ouvido falar desta plataforma de distribuição de sinal de TV
digital, enquanto que no inquérito de Setembro de 2011, 72% dos inquiridos responderam
já ter ouvido falar de TDT, o que representa uma subida assinalável num intervalo de 8
meses. Ainda de referir que 14.3% dos inquiridos responderam conhecer a expressão
“switchover digital” neste último estudo, enquanto que em Janeiro de 2011, 11%
responderam já ter ouvido falar desta expressão.
Tabela 8: Conhecimento de expressões associadas à TV digital (ADOPT‐DTV e IDTV Health, 2011)
Janeiro 2011 Setembro 2011
(n=1198) (n=1202)
% %
Sim, já ouvi falar de... Sim, já ouvi falar de...
TV Digital 75.5 78.2
TV de alta definição (HD 69.4 69.8
Switchover digital 11 14.3
Televisão Digital Terrestre (TDT) 46.1 72
BOX/Caixa descodificadora (STB) 61.8 70.6
O estudo etnográfico é esclarecedor quanto à diferença entre já ter ouvido falar
sobre TV digital e saber definir ou caracterizar TV digital. Assim, verifica‐se um
desconhecimento generalizado sobre as características da TV digital: das 30 famílias que
integraram o estudo, em 26 famílias pelo menos um dos seus membros afirmou já ter
ouvido falar no tema, mas apenas 3 participantes do total de 63 entrevistados neste estudo
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