17. Ingrid Betancourt
nasceu no dia de Natal,
em dezembro de 1961.
Como todos os pais,
sua mãe e seu pai
desejam à filha
recém-nascida todo
o bem do mundo.
18. “Que encontre na felicidade
uma constante companheira,
filha amada.
Saiba que se
te machucares,
Nós também
iremos
nos ferir...”
19. Diante do oceano de
possibilidades da vida,
cabe aos pais conduzir os
passos dos filhos pelo
melhor dos caminhos.
20. E Ingrid teve nos
seus pais um vivo exemplo
de generosidade,
de integridade,
e de amoroso serviço ao
próximo necessitado.
21. A mãe de Ingrid, dona
Yolanda Pulecio, sempre
esteve envolvida em
causas sociais.
Ainda no ano de
1958, criou o Albergue
Infantil de Bogotá,
instituição destinada a
acolher menores carentes
em situação de risco social.
23. Ao longo de mais
de cinco décadas
de existência,
aproximadamente
12.000 crianças
encontraram abrigo
na instituição.
24. Hoje, ao caminhar pela
capital colombiana, dona
Yolanda não raramente
se depara com algum
ex-aluno da instituição,
já adulto, que a abraça e
agradece todo o carinho
e cuidado recebidos,
tratando-a carinhosamente
por “Máma Yolanda”.
25. E, no exemplo da
sua querida mãe,
encontrou Ingrid a
lição da importância
do cuidado e
da compaixão.
26. O olhar da mãe
e o olhar da filha.
Missão, dever,
destino.
O que é que torna
plena uma vida?
27. A Caridade,
a Compaixão e a Justiça.
Os movimentos da alma.
A leveza proporcionada
pela conscientização
do dever a ser cumprido,
– a promoção da
dignidade humana.
28. “A vida, para ser bela,
deve estar cercada
de verdade, de bondade,
de liberdade.
Essas são as coisas
pelas quais vale
a pena morrer.”
Rubem Alves
29. O pai de Ingrid,
Gabriel Betancourt,
dedicou a sua vida a
outra causa igualmente
nobre, – a promoção
da educação e da cultura.
30. Atuou, inicialmente,
como ministro da Educação,
na Colômbia, sendo
posteriormente
designado embaixador
colombiano na Unesco,
o que motivou a mudança
da família para a França,
quando Ingrid ainda
era pequena.
31. A residência da família
era um local de encontro
para renomados pensadores
e artistas latino-americanos,
como Pablo Neruda,
Fernando Botero e
Gabriel García Márquez.
32. Dentre as recordações
de Ingrid desta época
figuram as tardes que
ela, adolescente, passava
lendo poesia ao lado
de Pablo Neruda.
33. Certa vez, perguntaram
ao poeta qual a coisa
mais importante
do mundo, ao que
ele respondeu:
“Tratar de que
o mundo seja digno
para todas as vidas
humanas, não só
para algumas.”
34. E Ingrid cresce ouvindo
os conselhos de seu pai:
“Foi graças à Colômbia
que você conheceu
a Europa, frequentou as
melhores escolas e viveu
um esplendor cultural
que colombiano algum
dificilmente conhecerá...”
35. “Todas essas possibilidades
de que você se beneficia
fazem com que hoje
você tenha uma dívida
com o país.
Não se esqueça disso.”
36. E com tais palavras em
mente, Ingrid se forma
em Ciências Sociais, pelo
Instituto de Estudos
Políticos de Paris.
Em 1983, casa-se com
o diplomata francês
Fabrice Delloye, com quem
tem dois filhos, Mélanie,
nascida em 1985, e
Lorenzo, nascido em 1988.
37. Aos 29 anos de idade,
depois de conhecer
as vantagens de uma
vida confortável
e privilegiada na
capital francesa,
Ingrid Betancourt resolve
fazer o inimaginável.
38. Lança-se de corpo e alma,
disposta a contribuir
na plena medida de suas
forças para o resgate
de seu país de origem,
a Colômbia.
39. Um país mergulhado
num cenário explosivo,
caracterizado pelo
poder dos narcotraficantes,
a corrupção de autoridades,
e o terror dos paramilitares
de extrema direita.
40. Uma jovem mulher,
com os seus sonhos
e as suas esperanças.
O que seria de nós,
se não sonhássemos?...
41. Em 1994, aos 33 anos,
é eleita Deputada,
com a maior votação
registrada no país.
Incansável militante,
torna-se uma árdua
promotora da justiça
social e da educação,
elegendo-se posteriormente
Senadora, outra vez com a
maior votação já registrada para o cargo no país.
42. Uma vez que a causa
que abraça,
– o combate à corja de
políticos corruptos
e ao narcotráfico –,
defronta muitos
interesses escusos,
não tarda até que comece
a receber seguidas
ameaças de morte.
43. Tais ameaças, no entanto,
apenas reforçam a sua
convicção da necessidade
de seus esforços e da validade
da causa pela qual luta.
Ingrid mantém a sua agenda,
sendo que a única mudança
na sua rotina é o colete à
prova de balas, que passa
a usar constantemente.
45. oragem significa arriscar
o conhecido em nome
do desconhecido,
o familiar pelo não familiar,
o que é confortável
pela peregrinação
desconfortável e árdua
rumo a outro destino.
46. Não é possível saber se
conseguiremos fazer
a travessia ou não.
É uma aposta.
Mas apenas os que
apostam sabem
o que é a vida.
47. E em 2002, aos 40 anos
de idade, Ingrid Betancourt
resolve se candidatar à
presidência da Colômbia.
48. 23 de fevereiro de 2002
Foto tirada minutos antes de seu sequestro.
49. Em plena campanha presidencial,
vestindo uma camiseta que leva o slogan
da sua campanha – “Colombia Nueva”.
50. Durante o deslocamento para o vilarejo de San Vicente,
a emboscada, o sequestro, a violência.
51. Uma guerrilha tão sangrenta,
quanto imprevisível.
Ingrid é arrancada
do veículo, e
levada prisioneira
para o desconhecido.
O cruel cativeiro
nas densas florestas
colombianas.
52. A fragilidade feminina
diante do cruel
encarceramento.
A sua fragilidade,
e a sua força...
53. Um cativeiro localizado em meio à densa
vegetação, sob várias camadas de sombras
formadas pela copa das árvores,
tornando praticamente
impossível a sua
localização por aeronaves
que porventura
sobrevoassem a área.
55. E apenas um mês após o
sequestro, o pai de Ingrid, em meio
ao desespero, vem a falecer
em decorrência
de problemas
cardio-respiratórios.
56. A família lança um apelo humanitário,
para que Ingrid seja liberta, de modo a poder
participar do enterro do pai.
O pedido é ignorado.
57. As durezas da rotina nos acampamentos,
as longas marchas mata adentro,
todas as privações, humilhações, torturas.
Os constantes deslocamentos,
visando dificultar possíveis
operações de localização
e resgate.
58. Num vídeo gravado como
prova de vida, Ingrid afirma:
“Estou bem, estou viva.
Só peço a Deus que
me ajude a colocar
um pé na frente do
outro para poder
andar dia após dia.”
59. Numa entrevista concedida após
a sua libertação, Ingrid recorda:
“Nós (os sequestrados)
levávamos a dor
do mundo em todas
as suas dimensões.
Em todas as
suas expressões”.
60. “A floresta é um lugar hostil. Tudo dói nela.
A pele não é um espaço de proteção, mas de dor.
Comer dói,
ir ao banheiro dói,
tomar banho dói,
viver dói, respirar dói.
Não ver o céu dói.
Não ver as pessoas
que a gente ama dói”.
61. “Os incessantes sons macabros dos animais,
e, à noite, o som dos gemidos
dos companheiros que choravam dormindo
e gritavam seus pesadelos”.
“Um deserto
de afeição,
de solidariedade,
de afeto.”
62. “Como reféns, passávamos por
uma humilhação constante.
Éramos vítimas de total arbitrariedade.
Você passa a conhecer
o pior que pode existir
numa alma humana.”
63. “O que me permitiu passar por
tamanho sofrimento foi o sentimento
de que Deus estava ao nosso lado.
Não fosse por este
sentimento, dificilmente
conseguiria suportar
as penas impostas
no cativeiro.”
64. Desce a tarde.
No céu, luz sutilíssima,
quase invisível, está
o primeiro sinal da lua.
65. E por cinco
vezes, Ingrid tenta fugir
do cruel cativeiro.
Em uma das ocasiões,
passa três dias perdida
na selva antes de ser
recapturada.
66. Ela conta que durante
os dias que passou
perdida na selva,
apesar de todos os
riscos e das incertezas
a que estava exposta,
era motivo de alívio
e tranquilidade sentir-se
livre, a salvo dos olhares
vigilantes dos guardas, das
armas e das correntes.
67. Acrescenta que parte
da noite buscava
uma clareira em meio
à densa vegetação,
e ao se deitar contemplava,
em liberdade, a lua e
as estrelas antes de dormir.
68. E, em meio ao desconhecido,
não sabia para que lado ir,
se encontraria algo com
que pudesse se alimentar,
ou mesmo se sairia viva
daquela situação.
Sabia, porém, que estava
livre, e isto lhe bastava.
69. “Durante os anos de
cativeiro, descobri que
a liberdade é tão vital
quanto o oxigênio.
Ela é a principal chave
para a dignidade humana.”
Ingrid Betancourt
70. “Liberdade,
essa palavra que o sonho
humano alimenta,
que não há ninguém
que explique
e ninguém que
não entenda...”
Cecília Meireles
71. O alvorecer de mais um dia, recebido na
frágil liberdade que a fuga concedera.
73. O côncavo do céu,
e a interrogação
das estrelas.
A serena beleza
do horizonte
só encontra sentido
quando se está livre.
74. E após cada captura, o castigo redobrado.
A fragilidade de um corpo,
diante das garras do agressor.
As correntes cada vez
mais pesadas,
as privações e
humilhações
cada vez mais severas.
75. Não raro, os carcereiros executam os fugitivos
que são recapturados, de modo a servir
de lição, e desencorajar os demais reféns.
Ingrid Betancourt, no
entanto, é considerada
uma moeda de troca de
alto valor, o que faz com
que sua vida seja poupada.
76. Embora lhe poupem
a vida, não lhe
aliviam os castigos,
cada vez mais severos
após cada tentativa de fuga.
77. Numa ocasião,
ela é acorrentada pelo
pescoço a uma árvore.
Por três dias é forçada
a permanecer em pé,
sob o jugo do cruel castigo,
até que resolvam lhe
abrandar a pena.
79. Outra punição para
os fugitivos capturados
é atormentá-los durante
o sono com tarântulas
e cobras.
Lembrando-lhes que a selva
que os cerca está infestada
destes e outros perigos.
80. A fragilidade de
uma mulher
e a sua fortaleza.
A sua fé, e
o seu calvário...
81. Certa vez, determinaram
que Ingrid deveria reparar
e costurar os uniformes
gastos e rasgados.
Além da pilha de uniformes velhos,
entregaram-lhe também
material de costura.
82. Foi nessa ocasião
que ela confeccionou,
com linhas, botões
e alguns gravetos,
o rosário que viria a
acompanhá-la durante
as duras penas
do cativeiro.
112. E ao ser questionada
sobre a carreira
política interrompida,
ela responde que
a sua experiência
político-partidária
a fez perder as
esperanças de que as
mudanças necessárias
possam advir da
arena política.
113. Acrescenta
que abandona
a política partidária,
mas não a Política.
A Política com
“p” maiúsculo, que
move, que mobiliza,
que impulsiona
rumo ao Amor,
à Justiça, e
à Solidariedade.
114. A Política
do Amor.
A Política
da Compaixão.
A Política
da Fraternidade.
115. E apenas poucas semanas após a
sua libertação, Ingrid inicia uma série
de visitas a presidentes e autoridades,
com o intuito de
agradecer o apoio
que resultou na
sua soltura,...
116. ...e, principalmente, de mobilizar as lideranças
para a urgente necessidade de se buscar saídas
para o impasse dos tantos que ainda
se encontram
sequestrados e
mantidos cativos nas
selvas colombianas.
129. Na cerimônia de encerramento da conferência
“A Civilização da Paz: Diálogo entre Culturas
e Religiões”, Ingrid dirigiu-se aos participantes:
130. “É preciso acreditar num mundo melhor,
que o bem sempre vence o mal, e que nos próximos dias
haveremos de testemunhar o início do tempo do espírito,
tão esperado por nós.”
131. “Os valores da nossa civilização devem mudar,
com a sede de poder e a ganância dando lugar
ao serviço e à doação.”
132. “A verdadeira mudança deve começar
em cada um de nós. É a partir do somatório
das mudanças individuais que poderemos
construir um mundo melhor.”
133. “Nós somos os construtores de um tempo novo,
aqueles que inauguram um tempo novo do espírito,
um tempo oportuno para que os sonhos
se tornem realidade.”
138. Depois de oito anos no cativeiro, Pinchao conseguiu fugir,
em 2007, do acampamento onde era mantido refém,
deixando-se levar, durante uma tempestade,
para a liberdade pela correnteza de um rio,
seguido de dezoito dias de caminhada pela selva.
139. Recordando os tempos difíceis de cativeiro,
e o apoio recebido em tais horas, ele afirma:
“Ingrid foi minha luz, meu caminho, meu guia
nos momentos em que estava na escuridão”.
142. Ao lado de Luis Eladio Pérez, ex-congressista
colombiano, que aborda em seu livro, intitulado
“Inferno Verde”, os sete anos em que
permaneceu confinado no cárcere das Farc.
143. Durante o lançamento
do livro de seu ex-
colega de cativeiro,
Ingrid, com a voz
embargada e chorando
em alguns momentos,
lembrou os reféns que
ainda permanecem
cativos na selva,
à espera de resgate:
152. Segundo o júri, ela
personifica todos
aqueles no mundo
que estão privados
de liberdade
devido à “defesa
dos direitos humanos
e luta contra
a violência,
a corrupção e
o narcotráfico”.
153. Ingrid, após afirmar que não merece
“semelhante distinção”, aceita receber o prêmio,
com “imensa emoção, muito respeito e humildade”
em nome de seus antigos colegas de cativeiro,
vivos e mortos.
154. Dedica o prêmio à sua “amada Pátria, a Colômbia,
sedenta de concórdia e paz”.
E, agradecendo a Deus, pede para que Ele a guie para
“poder responder com altura e sabedoria às oportunidades
que se abrem para servir aos que sofrem,
e ser a voz dos que não podem se expressar”.
155. “Atrevo-me a receber o prêmio em nome
de meus companheiros sequestrados,
aqueles que estão esperando sua vez para a liberdade,
e, com muito amor, em nome dos meus companheiros
que não voltarão, aqueles que morreram na selva”.
156.
157. Cerimônia de entrega
da medalha da
“Legião da Honra”,
a mais alta condecoração
da França.
160. A fragilidade e a força,
a fé e a coragem
de uma mulher.
A fragilidade e a força,
a fé e a coragem
de todas as mulheres.
161. A fragilidade e a força,
a fé e a coragem
de uma mulher.
A fragilidade e a força,
a fé e a coragem
de todas as mulheres.
Tema musical: Formatação:
La Vie Continue (Andre Rieu) um_peregrino@hotmail.com