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  “Não viverei para ver, mas semeei para crescer” são as palavras com que Margarida Ranecrouy concluiu a sua palestra no Congresso  “Palavras d’ escritas”, no passado dia 20 de Novembro, em Évora.       A escritora, filóloga, antropóloga, psicóloga e filósofa comemorou, nesse mesmo dia, junto de amigos e admiradores o seu 92º aniversário, com o entusiasmo e alegria que a caracterizam.    Recebeu, ainda nesta data, da Academia de Letras Luso-Brasileira, o prémio “Camões” pela sua vasta obra, compilada ao longo de quase oito décadas.     Filha de pais judeus provenientes da Áustria ( Vienna) e residentes, em Portugal (Ofar) , à data do seu nascimento (20 de Novembro 1917) Margarida Anna Hart   Ranecrouy acabaria por viver a sua adolescência no Brasil onde desenvolveu a sua força, curiosidade e sensibilidade face à vida e aos outros.        Em 1921, um ano antes da Independência do Brasil, a família Ranecrouy decide instalar-se em São Paulo como muitos portugueses da época.       ( Margarida com 4 anos à espera do navio para o Brasil)      A família começa novamente a prosperar ligada ao comércio da cana-de-açúcar. Nesse meio, Margarida aprofunda a sua relação com a terra e mostra deste cedo apetência para a escrita e leitura.    Começa a escrever aos 3 anos e publica o seu primeiro livro, “A Pedra de Toque”  (romance ficcionado), aos 12 anos, na editora do seu tio paterno “ Centrarlivros”.     Com o incentivo da sua única irmã mais nova (Cristina Ranecrouy) e da Bibliotecária da sua cidade  ( grande amiga da família), escreve contos, poesias  e fábulas que se tornaram motivo de encontros de colegas e professoras no recreio do Liceu Almeida Garrett  e ,mais tarde, nos serrões literários da Academia de São Paulo.      Em 1946, regressa sozinha à Europa e, depois de breves meses em Viena (Áustria), inicia um longo período de aprofundamento científico na Universidade de Oxford e Cambridge.    Doutorada em Filologia germânica e Antropologia Aplicada orientou teses de mestrado a convite da Universidade de Heidelberg (Alemanha), entre os anos de 1951 a 1958.      Nesse período, dá azo à sua veia de poetisa e publica as “ Odes temporais”.      O tema central da sua poesia é a figuração do Homem, não apenas do eu individual, integrado num colectivo, com o qual se harmoniza (terra, campo, natureza - lugar de encontro) ou luta (cidade - lugar de opressão, de conflito, de morte, contra os quais se levanta a escrita combativa).     Em todos os seus textos verifica-se uma presença permanente de Luz e de Luminosidade.      Em 1967, numa de suas viagens pela Turquia, conhece, em Istambul, o seu companheiro de investigação, Ludovic Breyer,  antropólogo mundialmente famoso, com quem viveria pouco mais de duas década, e inicia o primeiro caderno de notas para o livro “Memórias de Kam pó “ (1971), até hoje sua obra mais conhecida.    O casal instala-se em Paris e a 21 de Abril de 1972 nasce David Meyer.      A criança revela problemas respiratórios graves, mas sobrevive.       Morrem, nesse mesmo ano, os pais e irmã de Margarida Ranecrouy num grave acidente rodoviário, perto de Angra do Heroísmo.     Abalada pelos acontecimentos Margarida R. reflecte no valor da vida e da morte.     Auto-forma-se em psicologia e filosofia, sendo reconhecida a sua licenciatura na Universidade de Paris 1.    Revela-se como escritora  de textos filosóficos com o livro “Tanta Gente” (1979).      O livro é considerado pela crítica como “estreia notabilíssima, talvez sem precedentes na história da filosofia das últimas décadas”      Em 1982 , edita uma colectânea sobre “Psicologia e desenvolvimento da linguagem”, para além de sete contos de viagem que dedica ao filho que, por razões de saúde, vê-se impedido de continuar a escolaridade normal.           Desenvolve forte laços de amizade com Agnés Varda de quem se torna uma grande admiradora.    Decidem apresentar um filme em colaboração sobre os grupos de emigrantes a trabalharem  em França.     Após um estrondoso sucesso, retomam os trabalhos. Desta vez, percorrendo o mundo.     Em 1992, falece Ludovic Mayer, companheiro com quem nunca chegou a casar.    Os problemas respiratórios do filho teimam em manter-se apesar dos prolongados tratamentos e, a conselho de uma equipa de médicos, decide voltar a viver em Portugal.     Mãe e filho instalam-se em Castelo Branco, na Primavera de 1993, mas  rapidamente decidem viver na cidade de Ofar, pela beleza e remotas origens.    Hoje, Margarida R. deixou de escrever e editar, mas decidiu espalhar o seu inesgotável conhecimento através da palavra participando em acções sociais, palestras e congressos.     Em 2010, será a convidada de honra nas Palavras Andarilhas a decorrer em Beja, no final de Setembro.     Como referiu, recentemente,  o  nosso Primeiro ministro  Margarida Ranecrouy representa um 
símbolo da força, da doçura e da perseverança da mulher”.     Todos concordamos que Margarida R. honra o nosso país em ter optado por “ se despedir sem pressas”, segundo as suas palavras.  ( Recepção na Embaixada Francesa em Lisboa 3 de Maio de 1993)
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