1) José Saramago veio de uma família humilde e teve uma vida repleta de obstáculos, mas destacou-se como um dos maiores escritores portugueses. 2) Ele escreveu diversos gêneros literários ao longo de sua carreira, incluindo romances, peças de teatro e contos. 3) Saramago foi um crítico ferrenho da Igreja Católica e do sistema capitalista, o que gerou muita polêmica, principalmente após a publicação do livro O Evangelho segundo Jesus Cristo.
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Introdução
José de Sousa Saramago veio de uma família humilde de camponeses com falta de
recursos económicos, o que não facilitou a sua vida mas não o impediu de realizar os
seus sonhos. Provocador tanto na escrita como na militância política, Saramago foi um
homem que não falava para colher simpatias e, portanto, não temia a controvérsia.
Exerceu, durante 87 anos, diversas profissões como: romancista, dramaturgo,
poeta, tradutor, diretor literário e de jornais. Publicou 46 livros, sendo 16 desses
romances, além de poesia, teatro, contos, crónicas, viagens e diários. A sua maior
obra, o Memorial do Convento, foi traduzida em 42 línguas e foram vendidos mais de
10 milhões de exemplares.
São vários os temas presentes nas suas obras, pois é possível deparamo-nos com
um homem moderno e as suas tensões, angústias e dúvidas ou viajar ao interior de um
homem na procura da experiência mágica de se conhecer.
À parte das desavenças políticas e religiosas, o trabalho como romancista valeu a
Saramago vários prêmios. Em 1998, recebeu a honra de ser o primeiro e único escritor
português premiado com um Nobel da Literatura, para além do prémio Camões
recebido três anos antes.
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Vida e obra de José Saramago
Perfil biográfico
Filho e neto de camponeses, José Saramago nasceu
na Aldeia de Azinhaga, província do Ribatejo, no dia
16 de novembro de 1922, se bem que o registo
oficial mencione como data de nascimento o dia 18
(foi graças a esta pequena fraude que a sua família
escapou ao pagamento da multa por falta de
declaração do nascimento no prazo legal). Os seus
pais foram: José de Sousa, que era jornaleiro, e
Maria da Piedade, doméstica. O seu nome teria
sido, à semelhança do de seu pai, José de Sousa, se
o funcionário do Registo Civil, por iniciativa própria,
não lhe tivesse acrescentado a alcunha pela qual a
família de seu pai era conhecida na aldeia:
Saramago - “saramago” é uma pequena planta
herbácea, cujas folhas, naquele tempo, em épocas
de carência, serviam de alimento aos pobres. Só
aos seus sete anos, quando teve de apresentar na escola primária um documento de
identificação, se viria a saber que o seu nome completo era então José de Sousa
Saramago.
Oriundo de uma família humilde, José Saramago teve um percurso biográfico
pejado de obstáculos. Em 1924, a sua família instalou-se em Lisboa, onde morreria o
seu irmão, Francisco. José Saramago foi um excelente aluno na escola primária,
transitando depois para o liceu, onde foi eleito tesoureiro da associação académica aos
12 anos. No entanto, após dois anos, por falta de recursos económicos, teve de
abandonar os seus estudos liceais, surgindo como alternativa o ensino profissional no
curso de serralheiro mecânico. Como não tinha livros em casa, Saramago afirmou, na
sua autobiografia, que foram os livros escolares de Português que, pelo seu carácter
“antológico”1, lhe abriram as portas para a fruição literária.
Após terminar o curso, o seu primeiro emprego foi como serralheiro mecânico
numa oficina de reparação de automóveis. Nessa altura, José Saramago já começara a
frequentar, em horário pós-laboral, uma biblioteca pública de Lisboa - Palácio Galveias.
E foi aí, sem qualquer ajuda ou indicação, apenas guiado pela curiosidade e pela
vontade de aprender, que o seu gosto pela leitura se desenvolveu e apurou. Por razões
económicas e/ou por gosto, desempenhou ao longo da sua vida diversas profissões
como: desenhador, funcionário administrativo da saúde e da previdência social (de
1944 a 1949), tradutor (de 1955 a 1981), outra ocupação paralela foi a de crítico
literário na revista Seara Nova, em 1967, durante 18 meses. Em 1959, foi editor
literário na Editorial Estúdios Cor e comentador político no Diário de Lisboa de 1972 a
1973.
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Numa época de divisões ideológicas, Saramago opôs-se ao salazarismo e aderiu ao
Partido Comunista Português em 1969. Autointitulando-se “comunista hormonal”
considerava o partido da esquerda “o espaço ideológico e político onde podia esperar”
a mudança a este mundo injusto.
Na sequência do 25 de Abril, tornou-se diretor-adjunto do jornal Diário de
Notícias. Tornou então pública a intenção de fazer do jornal uma ferramenta ao
serviço do comunismo e não se inibiu de despedir 22 jornalistas que considerava
contrarrevolucionários. No dia 25 de novembro do mesmo ano, quando os sonhos da
extrema-esquerda caíram por terra, Saramago foi destituído do cargo.
Na situação de desemprego, toma uma das maiores decisões da sua vida: dedicar-
se inteiramente à escrita, passando a viver, a partir de 1976, exclusivamente do seu
trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como autor.
Além de escritor, José Saramago foi uma das
vozes mais críticas do sistema capitalista e apoiou
regimes comunistas, como o cubano. Ateu e
comunista até ao fim da sua vida, não deixou,
porém, de expressar uma visão quase mística em
alguns dos seus livros e de apontar as mazelas do
próprio PCP.
Em 1944, José Saramago casou a primeira vez
com Ilda Reis com quem teve a sua única filha, a
Violante. Divorciou-se em 1970, iniciando uma
relação de conveniência com a escritora Isabel da
Nóbrega, de 1970 a 1986. Passados dois anos,
casou-se com a jornalista e tradutora María del Pilar
del Río Sánchez, que conheceu em 1986 e ao lado
da qual viveu até à morte (foto à direita).
Em 1992, Sousa Lara, secretário de Estado da cultura, vetou a apresentação do
romance que humaniza a figura de Jesus, O Evangelho segundo Jesus Cristo, ao Prémio
Literário Europeu por entender ser um fator de desunião dos portugueses e ser um
livro ofensivo para os católicos. Saramago, magoado com a censura, troca, um ano
depois, Portugal pela ilha de Lanzarote, no arquipélago de Canárias.
Um articulista do Los Angeles Times viu-o “como um homem modesto e franzino”
e “que mais parecia um velho empregado de escritório do que um gigante literário”.
Saramago faleceu no dia 18 de junho de 2010, aos 87 anos de idade, vítima de
leucemia crónica, na sua casa, na ilha espanhola, onde residia com a mulher. O seu
funeral teve honras do Governo Português, tendo o seu corpo sido cremado no
Cemitério do Alto de São João, em Lisboa. A pátria, enfim, acolheu o seu mais célebre
escritor desde Fernando Pessoa.
1seleção de textos em prosa e/ou verso de um (ou mais) autor(es)
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Fundação José Saramago
Em 2007, criou-se em Lisboa uma fundação com o seu nome, que assume como
objetivos principais: a defesa e a divulgação da literatura contemporânea, a defesa e a
exigência do cumprimento da Carta dos Direitos Humanos e ainda o cuidado do meio
ambiente. Em julho de 2008, esta fundação foi sediada na Casa dos Bicos, abrindo
portas a projetos vivos de agitação cultural e a propostas transformadoras da
sociedade.
Obra
Saramago foi um escritor multifacetado que escreveu obras de diferentes géneros
literários como:
Romances
A Terra do Pecado em 1947, Manual de Pintura e Caligrafia em 1977, Levantado do
Chão em 1980, Memorial do Convento em 1982, O ano da morte de Ricardo Reis2 em
1984, A Jangada de Pedra em 1986, O Evangelho Segundo Jesus Cristo em 1991 e
Todos os Nomes em 1997.
Peças teatrais
A Noite em 1979, Que Farei com Este Livro? em 1980 e A Segunda Vida de Francisco de
Assis em 1987.
Contos
O Objeto Quase em 1978, Poética dos Cinco Sentidos - O Ouvido em 1979 e O Conto da
Ilha Desconhecida em 1997.
2 Considerado por muitos críticos (e, ao que parece, pelo próprio autor) como o seu
melhor livro
Em 1947, a Terra do Pecado, que o autor intitulou A Viúva mas que, por
conveniências editoriais, se chamou assim, foi o seu primeiro livro publicado e passou
tão despercebido como ele próprio. Ninguém diria que aquele cidadão anónimo
haveria de tornar-se o mais premiado romancista português. Embora o autor se tenha
estreado muito cedo (apenas com 25 anos) na publicação de obras, este esteve
bastante tempo sem publicar, retomando só em 1966. O escritor justificou esta
ausência do mundo das letras por, nas suas palavras, “não ter algo para dizer que
valesse a pena”. O seu último livro foi publicado em 2014, já quatro anos após a sua
morte - Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas.
Em 2008, a obra Ensaio sobre a Cegueira, publicada em 1995, foi adaptada ao
cinema pelo diretor brasileiro Fernando Meirelles. Apesar de, ao longo da sua vida,
Saramago resistir em ceder os direitos sobre os seus livros para o cinema, este filme
agradou-lhe imenso, dizendo mesmo a Meirelles "estar tão feliz de ter visto o filme
como estava quando acabou de escrever o livro”.
Escreveu ainda outros géneros literários como: poesia, livros infantis e crónicas.
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Estilo da escrita do autor
O mundo literário de José Saramago é fundamentado por quatro elementos:
A dúvida do homem moderno numa dupla lógica de assumir uma posição
crítica sobre o passado e aprender com ele;
A introdução de elementos sobrenaturais (fantásticos), não se distanciando
contudo do mundo real;
A tentativa de uma nova linguagem que altera a sua expressão gráfica e
pontual, respeitando a sintaxe da narrativa comum;
A viagem no mundo real e no interior do Homem através da imaginação.
Saramago é distinto por recorrer a frases compridas e por adotar uma pontuação de
modo não tradicional. Os diálogos das personagens são colocados nos próprios
parágrafos que os precedem, não havendo assim travessões nos seus livros que são
substituídos por uma letra maiúscula. Desta forma, proporciona uma forte sensação de
consciência, uma vez que confunde no leitor se um certo diálogo é real ou se é um
pensamento.
As suas "deliberações" ocupam várias páginas, aplicando vírgulas onde escritores
aplicariam pontos finais e parágrafos, onde outros autores ocupariam capítulos
inteiros. Este tipo de marcação não dificulta a leitura para os leitores de Saramago,
porque estes já se encontram acostumados ao seu ritmo e estilo. Tais características
tornam-se únicas na literatura contemporânea, sendo Saramago estimado por muitos
críticos como um mestre na abordagem da língua portuguesa.
Críticas ao autor
A enorme carreira de Saramago foi acompanhada por diversas controvérsias,
principalmente em relação às suas opiniões pessoais sobre a religião ou sobre a luta
internacional contra o terrorismo, que são muito discutidas e algumas resultam
mesmo em acusações a José Saramago.
Os casos que tiveram maior repercussão relacionaram-se com a opinião crítica do
escritor em relação à posição de Israel no conflito contra os palestinianos, onde o
autor afirmou diversas vezes que os judeus não mereciam a simpatia pelo sofrimento
que passaram durante o Holocausto, acusando-os mesmo de serem iguais aos nazis.
Os outros casos importantes relacionavam-se com a oposição do autor em relação á
igreja católica, algo muito presente em certas obras do autor como O Evangelho
Segundo Jesus Cristo e o Memorial do Convento. Outra declaração importante que José
Saramago teceu e que gerou muita polémica foi a da fusão de Portugal com Espanha.
Oposição à Igreja Católica
Ateu convicto, Saramago opunha-se à Igreja Católica e criticava-a fortemente, à
qual se referia com frequência como "fascista".
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Esta relação de tensão com a Igreja Católica foi agravada pela origem de
Saramago, Portugal - local onde o catolicismo é dominante e discuti-lo é ainda um
tabu. Alguns protestantes já declararam, publicamente, apoiar a liberdade de
expressão do autor.
Devido à sua origem portuguesa e a toda a influência cultural exercida pelo
catolicismo, Saramago sentia a necessidade de abordar a Bíblia no seu trabalho de
escritor.
Saramago interpretava a Bíblia como um "manual de maus costumes", "um
catálogo de crueldade e do pior da natureza humana" e, para uma pessoa comum a
decifrar, precisaria de ter "um teólogo ao lado". Para sustentar a sua opinião, citou,
numa entrevista, os episódios de violência relatados na Bíblia que, para ele, revelam
que "Deus não é de fiar". Saramago chegou mesmo a dizer: "Sobre o livro sagrado, eu
costumo dizer: lê a Bíblia e perde a fé!". Ele era fortemente criticado devido aos
diversos comentários e opiniões que tecia sobre a Igreja Católica e a bíblia. Esta
relação de tensão aumentou após a publicação do livro O Evangelho Segundo Jesus
Cristo, em 1991. O livro foi motivo de graves críticas por parte de católicos, que se
consideraram ofendidos pela leitura secular que Saramago fez da personagem Jesus. O
Evangelho Segundo Jesus Cristo é um romance que conta a história da vida de Jesus de
uma maneira moderna e crítica da religião. Em 1980, o Levantado do Chão causou
polémica com a Igreja Católica assim como com o poder político. Outro livro que
causou controvérsia por parte dos católicos foi o Caim, em 1993.
Prémios
José Saramago ganhou inúmeros prémios na sua carreira
de escritor entre os quais se destacam o Prémio Camões, em
1995 - distinção máxima oferecida aos escritores de língua
portuguesa - e o Nobel de Literatura, em 1998 - distinção
máxima oferecida aos escritores a nível mundial - sendo José
saramago o primeiro português a receber tal prémio.
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Conclusão
Com a realização deste trabalho pudemos concluir que Saramago se destacou de
todos os outros escritores portugueses pelo seu elevado talento, pela sua ironia e
desinibição, por ter sido um homem civicamente e politicamente ativo, não temendo
as críticas e as opiniões dos outros. Saramago não tinha “papas na língua” e, por isso,
não teve um percurso recheado apenas de simpatizantes e admiradores. Ateu convicto
e militante comunista, apresentava dois traços caracterizadores muito sensíveis no
país e na época em que nasceu.
Pudemos concluir que por não vir de um “berço de ouro”, não teve uma vida
propriamente fácil; no entanto, a sua condição social não constituiu um entrave à sua
paixão pela literatura.
Além de ser romancista, escreveu obras de outros géneros literários, incluindo
poesia. Assim como ele próprio, os seus livros geraram bastantes controvérsias, na
medida em que várias deles abordam temas como a ordem religiosa, a Bíblia e a
política.
Saramago foi galardoado com vários prémios, representantes da grandiosidade da
sua escrita.
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Bibliografia
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