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Campos de saber em diálogos: algumas notas sobre a relação entre a Biblioteconomia e a
Educação
Alberto Calil Junior
1 - Boa tarde a todos. Em primeiro lugar gostaria de saudar à mesa e a todos os participantes
desse Fórum e em especial, agradecer as organizadoras pela oportunidade que nos oferecem
hoje. Oportunidade que a meu ver é ímpar. Primeiro, por tratar de um tema que nos é caro e em
segundo lugar por materializar diálogos possíveis entre as escolas de biblioteconomia de nosso
Estado, com representantes aqui da UNIRIO, da UFRJ e da UFF. E, nesse sentido, a iniciativa
deve ser parabenizada.
2 - Gostaria também de colocar que estou entendendo essa mesa como um espaço para a
construção de diálogos e que mais importante do que apresentar aqui para vocês, resultados de
investigações, soluções para possíveis problemas ou, verdades estabelecidas sobre o tema que é
alvo de nosso interesse hoje, a minha intenção é trazer problemas, compartilhar questões que nos
ajudem a pensar sobre essas possíveis verdades - até porque eu penso que as verdades são
construídas socialmente e por isso, conjunturais. Então, gostaria de iniciar minha reflexão
perguntando a vocês: É a Biblioteca um lugar de Educação? Ou melhor, é a biblioteca o locus da
Educação? Essa foi a questão que me acompanhou nas últimas semanas, quando me coloquei a
pensar na conversa que nós teríamos aqui hoje, nesse evento, cuja proposta é refletirmos sobre
questões relacionadas aos processos de construção de habilidades informacionais nos sujeitos. E
como decorrência dessa pergunta, outras questões surgiram, como por exemplo, seria um evento
como esse, um encontro cuja proposta é tematizar os processos de construção de habilidades
informacionais, o fórum adequado para promovermos essa conversa? E mais, seria possível falar
em uma função educativa do bibliotecário?
3 - Nos últimos meses, temos a impressão, de que a Educação está na moda. Com diversas
nuances, para sermos sinceros, mas, como dizem, na crista da onda. Está na moda, por exemplo,
por ter sido inserida, de forma prioritária, na narrativa, ou melhor na agenda dos atuais governos,
tanto federal quanto estadual. Apenas para lembrar, não faz muito tempo, a Biblioteca Parque
Estadual, foi inaugurada com pompa, pelo governo do Estado do Rio de Janeiro. Está na moda
também, pelos recentes acontecimentos envolvendo violência contra professores no Estado do
Paraná, por parte do Estado, ou ainda, pelos constantes episódios de violência em sala de aula.
No entanto, precisamos relativizar esse “está na moda”, pois é possível afirmar que a “Educação"
sempre esteve na moda, pelo menos desde a instauração daquilo que conhecemos como
modernidade, mais especificamente com as Revoluções Francesa e Americana. Para o caso
brasileiro, por exemplo, eu me recordo da propaganda eleitoral para as eleições majoritárias de
1989, em que a Educação era colocada como pauta prioritária e por todos os candidatos à época.
E, se olharmos um pouco mais para trás em nossa história, vamos perceber que a Educação, ou
melhor, a narrativa sobre a Educação nos tem sido apresentada, não somente como prioritária,
mas também como uma grande panacéia, que irá solucionar todos os nossos problemas. Se nós
parássemos para analisar as narrativas em torno da Educação, particularmente em épocas de
eleições, a impressão que temos é que essa tal de educação parece ser importante para nós.
Paradoxalmente, quando saímos do território dos discursos e vamos para o mundo das práticas,
por exemplo, para os investimentos públicos, notamos que essa prioridade e importância da
Educação, que aliás faz parte de nossa constituição, também precisa ser relativizada.
3 - Mas, qual a nossa relação com toda essa digressão sobre a educação, na condição de
bibliotecários ou de sujeitos de alguma forma ligados ao mundo das bibliotecas? Ao olharmos,
para a realidade educacional do país, para o lugar que a Educação ocupa em nosso imaginário e
no cotidiano de nossa sociedade, será que conseguiríamos responder, ou ao menos encontrarmos
pistas, para aquelas perguntas que me acompanharam nos últimos dias: é a biblioteca um locus
para a educação? Será que a emergência das reflexões sobre a construção de habilidades
informacionais nos sujeitos nos coloca como atores do campo da educação?
4 - Poderíamos trilhar inúmeros percursos para tentar responder a esses questionamentos. Vou
optar na tarde de hoje, por uma reflexão em torno das relações que são estabelecidas pelos
atores que orbitam no entorno das bibliotecas, faço uma opção por convidar vocês a olharem para
os diálogos. Penso que os campos de saber - no nosso caso aqui, a Biblioteconomia - e os modos
de fazer - no caso, as práticas dos sujeitos ligados às bibliotecas (bibliotecários, usuários, outros
profissionais que pelas bibliotecas circulam) se constroem a partir de interlocuções com outros
campos de saber e com outros modos de fazer. Nesse sentido, eu trago outra questão: quais são
os diálogos que estamos optando por realizar? Quais os diálogos que a Biblioteconomia,
enquanto campo de saber, vem estabelecendo? Quais interlocutores, que os bibliotecários, vêm
elegendo em suas práticas?
5 - Vamos tirar alguns retratos do nosso cotidiano para tentarmos pensar sobre esses diálogos.
Primeiro retrato: já que estamos em uma mesa que trata da formação, vamos fotografar os
currículos dos cursos de biblioteconomia. Como toda e qualquer prática social, o currículo é o
resultado de processos sócio-históricos, ou seja, fruto de determinadas construções sociais. E
como o resultado de um processo, em que um conjunto específico de atores atua, aliado a um
determinado caldo cultural, cada currículo espelha os diálogos estabelecidos, tanto do ponto de
vista macro, quanto micro, ou seja, diálogos realizados pelo campo de saber como um todo e
diálogos realizados pelos atores daquela Escola / Faculdade / Universidade específica. Não vou
aqui realizar uma análise pormenorizada dos currículos das Escolas de Biblioteconomia do país,
mas apenas trazer alguns dados para colaborar com a nossa reflexão. Em um TCC que tive a
oportunidade de orientar no ano de 2013, a autora, Caroline Ribeiro, realizou um estudo sobre a
incidência de disciplinas voltadas para a construção de habilidades informacionais nos currículos
das EB do Estado do RJ, a saber: UNIRIO, UFRJ e UFF. E, o estudo dela, traz alguns dados
interessantes para a nossa conversa, particularmente a quantidade total de disciplinas e a
quantidade disciplinas voltadas para o nosso tema. Começando pela UFF, à época da pesquisa o
currículo era constituído por 39 disciplinas obrigatórias e 28 optativas. Desse universo, apenas 5
disciplinas abordavam temas correlacionados à construção de habilidades informacionais, mas
nenhum tratando direta e especificamente sobre o assunto. Olhando agora para o currículo da
escola da UFRJ, tínhamos um universo de 51 obrigatórias e 46 optativas, dessas novamente
apenas 5 disciplinas abordavam temas relacionados, e no caso, 1 especificamente sobre o tema,
como já mencionado aqui pela manhã. Já na Escola de Biblioteconomia da UNIRIO, no curso de
bacharelado - a época a pesquisa não analisou o currículo da licenciatura - tínhamos um universo
de 49 obrigatórias e 83 optativas desse universo, tal qual ocorre nas outras escolas, tínhamos
apenas 5 disciplinas que abordavam temas correlatos, e no caso nenhuma específica sobre o
tema, no entanto, vale ressaltar que nesse retrato não estou olhando para o curso de Licenciatura
em Biblioteconomia, cuja análise, provavelmente, nos apresentaria outras possibilidades. Não sei
se 5 é algum número especial ou se tem algum sentido místico, mas me parece que esse baixo
número de disciplinas voltadas para o tema, nos mostra muito dos diálogos que estão sendo feitos
no que concerne à formação dos bibliotecários no Estado do Rio de Janeiro. Aliando os dados
desse retrato, aos dados de duas outras pesquisas, uma coordenada pela Profa. Lídia Freitas e
outra, por mim coordenada. Na Pesquisa de Freitas, ela mostra como a partir da década de 1980
e da década de 1990 houve um decréscimo acentuado da produção sobre temáticas culturais no
campo informacional brasileiro. Já, em projeto de pesquisa que coordeno, no qual busco entender
a construção da noção de Bibliotecas Públicas em nossa sociedade, ao investigar a incidência da
temática Bibliotecas Públicas no nosso campo, mostro que a presença de temas relacionados
especificamente à biblioteca pública, é muito baixa, desde a década de 1970. Colocando em
diálogo esses 3 retratos, temos alguns indícios de que os diálogos com os campos da educação e
da cultura vêm sendo esquecidos no que se refere à nossa formação. Digo indícios, pois peguei
aqui apenas um retrato e de uma temática, e por mais que queiramos enxergar o potencial de
diálogos com o campo da educação nas noções de construção de habilidades informacionais,
esse diálogo não se resume a essa temática
6- Um segundo retrato, está baseado em pesquisas que venho realizando sobre o uso de mídias
sociais por bibliotecas. Tal qual no desenho anterior, vou retirar apenas um retrato dessa
pesquisa. A investigação aponta que no que se refere ao uso das mídias sociais, tanto bibliotecas
universitárias, quanto bibliotecas públicas, têm deixado a desejar no que se refere as
possibilidades de interlocução com a sociedade. Em sua maioria, tanto bibliotecas universitárias,
quanto bibliotecas públicas vêm utilizando essas mídias mais como “mural de informação” do que
como espaço de diálogos. Por exemplo, eu sempre conto que em alguns eventos da área, quando
eu vejo algum trabalho sobre uso de mídias em bibliotecas e unidades de informação eu procuro
assistir e sempre ao final da apresentação eu costumo perguntar: há interlocução com os usuários
através das mídias? Em um blog, existem comentários? E se existem, a biblioteca responde?
Outro aspecto que emerge da pesquisa está relacionado ao uso ou, mais especificamente ao não
uso, dessas mídias no que se refere aos processos de construção de habilidades informacionais
nos usuários dessas biblioteca, que é quase inexistente. Esse uso particular das mídias aponta, a
meu ver, alguns outros diálogos que estão sendo feitos e que estão sendo silenciados. Utilizar as
mídias como espaço de divulgação de informações não é excluir totalmente um diálogo com o
campo da educação, mas nos mostra com qual noção de educação estamos conversando. Eu
diria, com uma noção que encara os processos educacionais como um processo de transmissão,
em detrimento de uma leitura da educação como parte de um processo.
7 - Um terceiro retrato, é um caso que vivenciei na universidade, enquanto participante de um
projeto de extensão, em conjunto com a Profa. Simone Weitzel e outros professores, em que
tínhamos por objetivo capacitar os usuários da terceira idade do ambulatório do Hospital Grafée
Guinle no uso da internet. Inicialmente, o projeto visava essa capacitação e claramente,
estávamos dialogando com determinados campos de saber que visavam mais o “treinamento”, a
“capacitação" ou, por que não dizer a conformação dos sujeitos à um conjunto de tecnologias.
Com o desenrolar do projeto, fomos percebendo que a “capacitação" proposta nos objetivos
iniciais estava fora de lugar. Fomos percebendo que mais do que treinar aqueles sujeitos no uso
da ferramenta A ou da mídia B, estávamos ali construindo saberes com aqueles sujeitos, que
possuíam suas histórias de vidas e que se apropriavam de formas diferenciadas das mídias
sociais. Nesse sentido, na prática da docência, em que aliávamos o ensino, a pesquisa e a
extensão, foi possível construir diálogos múltiplos com outros campos de saber.
7- Chegamos ao último retrato. O que nos fala do debate em torno do uso do termo. Como foi
falado aqui pela manhã, todo conteúdo de informação é ideológico, portanto, a escolha de um
termo não é aleatória. No entanto, não vou me prender aqui na defesa do termo A, B ou C, até
porque penso que a co-existência desses termos é salutar para o desenvolvimento de diálogos no
campo. No entanto, a escolha majoritária de um dos termos por parte dos profissionais do campo,
escolha que por vezes se coloca como alheia a outras vozes, nos dá pistas dos diálogos que
estão sendo estabelecidos. Quais serão os diálogos que estão sendo conformados com o uso do
termo competência em informação? Com quais campos de saberes estamos dialogando? Será
que ao usar o termo letramento informacional, estamos chamando para conversa outros atores?
Outros campos de saber? Por fim, volto a questão que trouxe inicialmente, será que a Biblioteca é
um locus de educação? Mas do que trazer respostas para esses questionamentos, espero que
tenha trazido mais perguntas e que possamos construir novos diálogos

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Palestra no I Seminário Diálogos Biblioo‬ 24 junho 2015
 

Diálogos entre Biblioteconomia, Educação e a construção de habilidades informacionais

  • 1. Campos de saber em diálogos: algumas notas sobre a relação entre a Biblioteconomia e a Educação Alberto Calil Junior 1 - Boa tarde a todos. Em primeiro lugar gostaria de saudar à mesa e a todos os participantes desse Fórum e em especial, agradecer as organizadoras pela oportunidade que nos oferecem hoje. Oportunidade que a meu ver é ímpar. Primeiro, por tratar de um tema que nos é caro e em segundo lugar por materializar diálogos possíveis entre as escolas de biblioteconomia de nosso Estado, com representantes aqui da UNIRIO, da UFRJ e da UFF. E, nesse sentido, a iniciativa deve ser parabenizada. 2 - Gostaria também de colocar que estou entendendo essa mesa como um espaço para a construção de diálogos e que mais importante do que apresentar aqui para vocês, resultados de investigações, soluções para possíveis problemas ou, verdades estabelecidas sobre o tema que é alvo de nosso interesse hoje, a minha intenção é trazer problemas, compartilhar questões que nos ajudem a pensar sobre essas possíveis verdades - até porque eu penso que as verdades são construídas socialmente e por isso, conjunturais. Então, gostaria de iniciar minha reflexão perguntando a vocês: É a Biblioteca um lugar de Educação? Ou melhor, é a biblioteca o locus da Educação? Essa foi a questão que me acompanhou nas últimas semanas, quando me coloquei a pensar na conversa que nós teríamos aqui hoje, nesse evento, cuja proposta é refletirmos sobre questões relacionadas aos processos de construção de habilidades informacionais nos sujeitos. E como decorrência dessa pergunta, outras questões surgiram, como por exemplo, seria um evento como esse, um encontro cuja proposta é tematizar os processos de construção de habilidades informacionais, o fórum adequado para promovermos essa conversa? E mais, seria possível falar em uma função educativa do bibliotecário? 3 - Nos últimos meses, temos a impressão, de que a Educação está na moda. Com diversas nuances, para sermos sinceros, mas, como dizem, na crista da onda. Está na moda, por exemplo, por ter sido inserida, de forma prioritária, na narrativa, ou melhor na agenda dos atuais governos, tanto federal quanto estadual. Apenas para lembrar, não faz muito tempo, a Biblioteca Parque Estadual, foi inaugurada com pompa, pelo governo do Estado do Rio de Janeiro. Está na moda também, pelos recentes acontecimentos envolvendo violência contra professores no Estado do Paraná, por parte do Estado, ou ainda, pelos constantes episódios de violência em sala de aula. No entanto, precisamos relativizar esse “está na moda”, pois é possível afirmar que a “Educação" sempre esteve na moda, pelo menos desde a instauração daquilo que conhecemos como modernidade, mais especificamente com as Revoluções Francesa e Americana. Para o caso brasileiro, por exemplo, eu me recordo da propaganda eleitoral para as eleições majoritárias de 1989, em que a Educação era colocada como pauta prioritária e por todos os candidatos à época. E, se olharmos um pouco mais para trás em nossa história, vamos perceber que a Educação, ou melhor, a narrativa sobre a Educação nos tem sido apresentada, não somente como prioritária, mas também como uma grande panacéia, que irá solucionar todos os nossos problemas. Se nós parássemos para analisar as narrativas em torno da Educação, particularmente em épocas de eleições, a impressão que temos é que essa tal de educação parece ser importante para nós. Paradoxalmente, quando saímos do território dos discursos e vamos para o mundo das práticas, por exemplo, para os investimentos públicos, notamos que essa prioridade e importância da Educação, que aliás faz parte de nossa constituição, também precisa ser relativizada. 3 - Mas, qual a nossa relação com toda essa digressão sobre a educação, na condição de bibliotecários ou de sujeitos de alguma forma ligados ao mundo das bibliotecas? Ao olharmos, para a realidade educacional do país, para o lugar que a Educação ocupa em nosso imaginário e no cotidiano de nossa sociedade, será que conseguiríamos responder, ou ao menos encontrarmos pistas, para aquelas perguntas que me acompanharam nos últimos dias: é a biblioteca um locus para a educação? Será que a emergência das reflexões sobre a construção de habilidades informacionais nos sujeitos nos coloca como atores do campo da educação?
  • 2. 4 - Poderíamos trilhar inúmeros percursos para tentar responder a esses questionamentos. Vou optar na tarde de hoje, por uma reflexão em torno das relações que são estabelecidas pelos atores que orbitam no entorno das bibliotecas, faço uma opção por convidar vocês a olharem para os diálogos. Penso que os campos de saber - no nosso caso aqui, a Biblioteconomia - e os modos de fazer - no caso, as práticas dos sujeitos ligados às bibliotecas (bibliotecários, usuários, outros profissionais que pelas bibliotecas circulam) se constroem a partir de interlocuções com outros campos de saber e com outros modos de fazer. Nesse sentido, eu trago outra questão: quais são os diálogos que estamos optando por realizar? Quais os diálogos que a Biblioteconomia, enquanto campo de saber, vem estabelecendo? Quais interlocutores, que os bibliotecários, vêm elegendo em suas práticas? 5 - Vamos tirar alguns retratos do nosso cotidiano para tentarmos pensar sobre esses diálogos. Primeiro retrato: já que estamos em uma mesa que trata da formação, vamos fotografar os currículos dos cursos de biblioteconomia. Como toda e qualquer prática social, o currículo é o resultado de processos sócio-históricos, ou seja, fruto de determinadas construções sociais. E como o resultado de um processo, em que um conjunto específico de atores atua, aliado a um determinado caldo cultural, cada currículo espelha os diálogos estabelecidos, tanto do ponto de vista macro, quanto micro, ou seja, diálogos realizados pelo campo de saber como um todo e diálogos realizados pelos atores daquela Escola / Faculdade / Universidade específica. Não vou aqui realizar uma análise pormenorizada dos currículos das Escolas de Biblioteconomia do país, mas apenas trazer alguns dados para colaborar com a nossa reflexão. Em um TCC que tive a oportunidade de orientar no ano de 2013, a autora, Caroline Ribeiro, realizou um estudo sobre a incidência de disciplinas voltadas para a construção de habilidades informacionais nos currículos das EB do Estado do RJ, a saber: UNIRIO, UFRJ e UFF. E, o estudo dela, traz alguns dados interessantes para a nossa conversa, particularmente a quantidade total de disciplinas e a quantidade disciplinas voltadas para o nosso tema. Começando pela UFF, à época da pesquisa o currículo era constituído por 39 disciplinas obrigatórias e 28 optativas. Desse universo, apenas 5 disciplinas abordavam temas correlacionados à construção de habilidades informacionais, mas nenhum tratando direta e especificamente sobre o assunto. Olhando agora para o currículo da escola da UFRJ, tínhamos um universo de 51 obrigatórias e 46 optativas, dessas novamente apenas 5 disciplinas abordavam temas relacionados, e no caso, 1 especificamente sobre o tema, como já mencionado aqui pela manhã. Já na Escola de Biblioteconomia da UNIRIO, no curso de bacharelado - a época a pesquisa não analisou o currículo da licenciatura - tínhamos um universo de 49 obrigatórias e 83 optativas desse universo, tal qual ocorre nas outras escolas, tínhamos apenas 5 disciplinas que abordavam temas correlatos, e no caso nenhuma específica sobre o tema, no entanto, vale ressaltar que nesse retrato não estou olhando para o curso de Licenciatura em Biblioteconomia, cuja análise, provavelmente, nos apresentaria outras possibilidades. Não sei se 5 é algum número especial ou se tem algum sentido místico, mas me parece que esse baixo número de disciplinas voltadas para o tema, nos mostra muito dos diálogos que estão sendo feitos no que concerne à formação dos bibliotecários no Estado do Rio de Janeiro. Aliando os dados desse retrato, aos dados de duas outras pesquisas, uma coordenada pela Profa. Lídia Freitas e outra, por mim coordenada. Na Pesquisa de Freitas, ela mostra como a partir da década de 1980 e da década de 1990 houve um decréscimo acentuado da produção sobre temáticas culturais no campo informacional brasileiro. Já, em projeto de pesquisa que coordeno, no qual busco entender a construção da noção de Bibliotecas Públicas em nossa sociedade, ao investigar a incidência da temática Bibliotecas Públicas no nosso campo, mostro que a presença de temas relacionados especificamente à biblioteca pública, é muito baixa, desde a década de 1970. Colocando em diálogo esses 3 retratos, temos alguns indícios de que os diálogos com os campos da educação e da cultura vêm sendo esquecidos no que se refere à nossa formação. Digo indícios, pois peguei aqui apenas um retrato e de uma temática, e por mais que queiramos enxergar o potencial de diálogos com o campo da educação nas noções de construção de habilidades informacionais, esse diálogo não se resume a essa temática 6- Um segundo retrato, está baseado em pesquisas que venho realizando sobre o uso de mídias sociais por bibliotecas. Tal qual no desenho anterior, vou retirar apenas um retrato dessa pesquisa. A investigação aponta que no que se refere ao uso das mídias sociais, tanto bibliotecas
  • 3. universitárias, quanto bibliotecas públicas, têm deixado a desejar no que se refere as possibilidades de interlocução com a sociedade. Em sua maioria, tanto bibliotecas universitárias, quanto bibliotecas públicas vêm utilizando essas mídias mais como “mural de informação” do que como espaço de diálogos. Por exemplo, eu sempre conto que em alguns eventos da área, quando eu vejo algum trabalho sobre uso de mídias em bibliotecas e unidades de informação eu procuro assistir e sempre ao final da apresentação eu costumo perguntar: há interlocução com os usuários através das mídias? Em um blog, existem comentários? E se existem, a biblioteca responde? Outro aspecto que emerge da pesquisa está relacionado ao uso ou, mais especificamente ao não uso, dessas mídias no que se refere aos processos de construção de habilidades informacionais nos usuários dessas biblioteca, que é quase inexistente. Esse uso particular das mídias aponta, a meu ver, alguns outros diálogos que estão sendo feitos e que estão sendo silenciados. Utilizar as mídias como espaço de divulgação de informações não é excluir totalmente um diálogo com o campo da educação, mas nos mostra com qual noção de educação estamos conversando. Eu diria, com uma noção que encara os processos educacionais como um processo de transmissão, em detrimento de uma leitura da educação como parte de um processo. 7 - Um terceiro retrato, é um caso que vivenciei na universidade, enquanto participante de um projeto de extensão, em conjunto com a Profa. Simone Weitzel e outros professores, em que tínhamos por objetivo capacitar os usuários da terceira idade do ambulatório do Hospital Grafée Guinle no uso da internet. Inicialmente, o projeto visava essa capacitação e claramente, estávamos dialogando com determinados campos de saber que visavam mais o “treinamento”, a “capacitação" ou, por que não dizer a conformação dos sujeitos à um conjunto de tecnologias. Com o desenrolar do projeto, fomos percebendo que a “capacitação" proposta nos objetivos iniciais estava fora de lugar. Fomos percebendo que mais do que treinar aqueles sujeitos no uso da ferramenta A ou da mídia B, estávamos ali construindo saberes com aqueles sujeitos, que possuíam suas histórias de vidas e que se apropriavam de formas diferenciadas das mídias sociais. Nesse sentido, na prática da docência, em que aliávamos o ensino, a pesquisa e a extensão, foi possível construir diálogos múltiplos com outros campos de saber. 7- Chegamos ao último retrato. O que nos fala do debate em torno do uso do termo. Como foi falado aqui pela manhã, todo conteúdo de informação é ideológico, portanto, a escolha de um termo não é aleatória. No entanto, não vou me prender aqui na defesa do termo A, B ou C, até porque penso que a co-existência desses termos é salutar para o desenvolvimento de diálogos no campo. No entanto, a escolha majoritária de um dos termos por parte dos profissionais do campo, escolha que por vezes se coloca como alheia a outras vozes, nos dá pistas dos diálogos que estão sendo estabelecidos. Quais serão os diálogos que estão sendo conformados com o uso do termo competência em informação? Com quais campos de saberes estamos dialogando? Será que ao usar o termo letramento informacional, estamos chamando para conversa outros atores? Outros campos de saber? Por fim, volto a questão que trouxe inicialmente, será que a Biblioteca é um locus de educação? Mas do que trazer respostas para esses questionamentos, espero que tenha trazido mais perguntas e que possamos construir novos diálogos