1. A VISÃO DO IDOSO SOBRE SUA SEXUALIDADE: uma contribuição da Enfermagem
ELDERLY ON THE VISION OF HIS SEXUALITY: a contribution of nursing
ANCIANO EN LA VISIÓN DE SU SEXUALIDAD: una contribución de la enfermería
Fernando José Guedes da Silva Júnior 1
Ana Cléia de Sousa Marques2
Lorena Magalhães Macedo3
Taís Dantas Nogueira Barbosa4
Francisca Cecília Viana Rocha5
RESUMO
Este estudo objetivou: descrever a visão do idoso sobre sua sexualidade; identificar como
o idoso vivencia sua sexualidade; e, analisar os fatores que interferem na sua
sexualidade. Trata-se de um estudo tem uma abordagem qualitativa, descritiva e
exploratória. Realizada na Praça Rio Branco, em Teresina (PI), os sujeitos foram 20
idosos entre 60 a 85 anos e a produção dos dados realizada através de um roteiro semi-estruturado.
A sexualidade é um assunto delicado e difícil de falar à vontade em uma
consulta, porém é evidente que este problema faz parte da vida de todos. Sendo
preocupante os tabus e idéias sobre a sexualidade nos idosos, bem como a falta de
preparo dos profissionais em lhe dá com esse tema.
Palavras chave: Enfermagem. Idoso. Saúde sexual e reprodutiva.
ABSTRACT
This study aimed to: describe the vision of the elderly about their sexuality, identifying how
the elderly experience their sexuality, and analyze the factors that interfere with their
sexuality. This is a study is a qualitative, descriptive and exploratory. Held in the Plaza Rio
Branco, in Teresina (PI), the subjects were 20 elderly patients between 60 to 85 years and
production of data held by a semi-structured script. Sexuality is a delicate subject and
difficult to talk at ease in a query, but it is clear that this problem is part of life for all. As
concern the taboos and ideas about sexuality in the elderly and the lack of preparation of
professionals with him on that subject.
Keywords: Nursing. Elderly. Sexual and reproductive health.
RESUMÉN
Este estudio tuvo como objetivo: describir la visión de las personas de edad acerca de su
sexualidad, para determinar cómo las personas mayores disfrutar de su sexualidad, y
analizar los factores que interfieren con su sexualidad. Este es un estudio cualitativo,
descriptivo y exploratorio. Celebrada en la Plaza de Río Branco, en Teresina (PI), los
sujetos fueron 20 pacientes de edad avanzada entre 60 a 85 años y la producción de
datos en poder de una entrevista semi-estructurada secuencia de comandos. La
sexualidad es un tema delicado y difícil de hablar a gusto en una consulta, pero es
evidente que este problema es parte de la vida para todos. Como preocupación de los
tabúes e ideas acerca de la sexualidad en los ancianos y la falta de preparación de
profesionales con él sobre ese tema.
Palabras clave: Enfermería. Anciano. Salud sexual y reproductiva.
1 Graduando em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Email: fernandoguedes123@hotmail.com
Endereço: Rua Alcides Freitas, 648, Matinha. CEP: 64003-150.
2 Enfermeira pela Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI).
3 Enfermeira pela Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI).
4 Enfermeira pela Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI).
5 Enfermeira, Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Professora da Faculdade de Saúde,
Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI).
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2. 1 INTRODUÇÃO
O envelhecimento, antes considerado um fenômeno, hoje, faz parte da realidade
da maioria das sociedades. Este é definido como um processo seqüencial individual,
acumulativo, irreversível, universal, não patológico de deterioração de um organismo
maduro, próprio a todos os membros de uma espécie (1).
É considerado idoso, nos países em desenvolvimento, toda pessoa com 60 anos
ou mais, e em países desenvolvidos com 65 anos. Em todo mundo essa situação gera
demanda de cunha político, social, educacional, e da saúde, motivo pelo qual qualquer
reflexão sobre os idosos deve abranger diversas áreas do conhecimento. Devemos ter em
mente que envelhecemos de diferentes maneiras e que nem todas as pessoas da mesma
faixa etária apresentam características semelhantes (2).
O processo de envelhecimento delimita mudanças expressivas de ordem individual,
familiar e social, cada uma com seus significados e relevâncias. Ao envelhecer, o idoso e
sua família mudam, adquirindo determinados direitos legais e perdendo outros pelas
dificuldades orgânicas e mentais trazidas pelo envelhecimento (3).
O envelhecimento é um processo indutivo de varias mudanças no individuo,
nomeadamente ao nível físico, mental e social. Essas mudanças tendem a afetar a
expressão da sexualidade na medida em que se torna necessário para a pessoa idosa
redefinir objetivos, ou seja, reconhecer que está numa nova fase do ciclo vital, e que tal
como as anteriores, está associada a determinados “acontecimentos padrão”, crises de
desenvolvimentos próprias da fase em questão (4).
O processo de envelhecer está associado a uma maior suscetibilidade física e
emocional. É certo que a expressão dessas suscetibilidades encontra-se na dependência
da complexa interação de fatores físicos, psicológicos, sociais, econômicos e culturais,
tornando o envelhecer, por um lado, um processo extremamente individualizado, e por
outro, marcado pelos padrões sócio-culturais de uma época (5).
A sexualidade tem sofrido mudanças profundas desde os anos 1960. Mas do que
uma revolução sexual trata-se de uma individualização de comportamentos e de normas,
paralelamente a outras transformações da sociedade e da família, em um contexto de
dissociação radical entre a procriação e a sexualidade. As trajetórias e experiências
sexuais diversificam-se intensamente no decorrer da vida e torna-se um dos elementos
principais da construção dos indivíduos, inscrito em relacionamento cada vez, mas
mutáveis (6).
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3. Cumpre referir que a sexualidade é enquadrada em uma esfera especifica, mas
não autônoma do comportamento humano, que compreende atos, relacionamentos e
significados (6). É o não sexual que confere significado ao sexual nunca o inverso. O
prolongamento da vida sexual ate idades mais avançadas corresponde a uma mudança
marcante das ultimas décadas do século 20. Está ligada a ampliação da expectativa de
vida em boa saúde, a melhoria da condição social das pessoas idosas, a difusão do ideal
de juventude e á possibilidade de os mais velhos aproveitarem tanto a sociabilidade
quanto os lazeres autônomos, não se limitando mais a freqüentar a própria família. Essa
autonomia maior da terceira idade provocou recuo dos preconceitos tradicionais contra a
sexualidade na velhice.
A sexualidade é uma característica humana que não se perde com o tempo, mas
vai se desenhando, conforme a historia vivenciada pelo corpo vivente em sua trajetória
existencial (4). Fica explicito pelo exposto que a sexualidade não se limita apenas à reação
aos estímulos eróticos; ela ultrapassa o ato sexual, uma vez que inclui o amor, o carinho,
a troca de palavra, o toque, o compartilhar entre as pessoas que se expressam e se
percebem como homens ou mulheres, independente da imagem apresentada, da
tatuagem feita pela postura, pelo tempo e apresentada pelo cabelo grisalho, pelas rugas,
e outras alterações decorrentes do processo de envelhecimento.
Assim compreende-se que a sexualidade é dimensão humana que está presente
em toda a trajetória existencial, podendo ser vivenciada de diferentes maneiras em cada
momento, manifestando-se mediante a expressão do corpo, ou seja, da corporeidade.
Quando falamos de nossas emoções, afetos, pensamentos, projetos, valores e
julgamentos, estamos falando de um mundo singular, de um mundo de registros a partir
de vivencias, do mundo psicológicos de cada sujeito (8). O sentido subjetivo da
sexualidade na terceira idade é um tema complexo, que envolve valores humanos,
filosóficos, sociais e religiosos, e é constituído simultaneamente pela subjetividade
individual e social, em uma visão que permite enxergar, de maneira distinta, profunda,
recursiva, contraditória e multidimensional o caráter de sua constituição.
Um estudo (8) mostra que 74% dos homens e 56% das mulheres casadas mantêm
vida sexual ativa após os 60 anos. A identificação de disfunção nessa área pode ser
indicativa de problemas psicológicos, fisiológicos ou ambos. Muitas das alterações
sexuais que ocorrem com o avançar da idade podem ser resolvidas com orientação e
educação. Alguns problemas comuns também podem afetar o desempenho sexual:
artrites, diabetes, fadiga, medo de infarto, efeitos colaterais de fármacos e álcool. Embora
a freqüência e a intensidade da atividade sexual possam mudar ao longo da vida,
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4. problemas na capacidade de desfrutar prazer nas relações sexuais não devem ser
considerados como parte normal do envelhecimento e deve-se fazer a investigação de
doenças sexualmente transmissíveis/AIDS em pessoas idosas sexualmente ativas.
Nascemos como sujeitos sexuados e desfrutamos do sexo/sexualidade de maneira
diferente de acordo com a etapa de nossa vida, mas infelizmente a sociedade como um
todo, e as pessoas de modo individual, tendem a pensar que o sexo/sexualidade
pertencem ao mundo dos jovens, relegando os indivíduos da terceira idade ao amor
platônico ou a abstinência sexual. Este tipo de preconceito cumpre a função de freio à
sexualidade, estabelece um tabu e ignora o fato de que podemos ser sexualmente ativos,
dando e recebendo prazer durante toda nossa vida, de maneira diferenciada sim, mas
não menos prazerosa. É fato que a maioria das pessoas apresenta uma diminuição das
atividades sexuais, o que não significa um decaimento da capacidade de amar, de ter, dar
e receber prazer (9).
Nos idosos a função sexual está comprometida, em primeiro lugar, pelas mudanças
fisiológicas e anatômicas do organismo produzidas pelo envelhecimento. São mudanças
fisiológicas que devemos distinguir das alterações patológicas na atividade sexual
causadas pelas diferentes doenças e/ou por seus tratamentos. Os estudos médicos
demonstram que a maior parte das pessoas de idade avançada é perfeitamente capaz de
ter relações sexuais e de sentir prazer nas mesmas atividades que se entregam as
pessoas mais jovens (10).
Este trabalho justifica-se pelo fato de a sexualidade ser um tema comumente
negligenciado, pouco conhecido e menos entendido pela sociedade, pelos próprios idosos
e pelos profissionais da saúde. O interesse em desenvolver esta pesquisa surgiu devido a
curiosidade em conhecer como o idoso vive sua sexualidade, além dos preconceitos e
tabus que recaem sobre os idosos quando este tema é abordado, bem como pelo pouco
interesse dos profissionais de saúde pelo tema e da pouca realização de trabalhos ainda
com esta temática.
A atividade sexual nos idosos tem sido considerada inapropriada por largos
segmentos de nossa sociedade, desde a família até a mídia. Alguns entendem a atividade
sexual nos idosos até mesmo como imoral. Nossa cultura aceita mal a existência de
sexualidade nos idosos, e quando eles apresentam qualquer manifestação de interesse
sexual, são freqüentemente discriminados.
Nesse sentido é importante destacar que durante o processo de envelhecimento
há uma diminuição das atividades, sobretudo aquelas relacionadas à profissão, motivo
pelo qual devemos como profissionais da área de saúde, ampliar a possibilidade de
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5. realização de atividades lúdicas, de lazer, que contribuam com os idosos na manutenção
da saúde, e, conseqüentemente, na melhora da qualidade de vida. A ampliação das
atividades de lazer cria a possibilidade para que o idoso faça escolhas prazerosas que
propiciem a manifestação da sexualidade, e ocupe seu tempo de maneira criativa, de
forma a mantê-lo ativo. Esta situação de mudança de rotina e ocupação do tempo parece
ser um grande desafio para os idosos.
O cuidado é o fundamento da ciência e da arte da Enfermagem. Este cuidar é
uma atividade que vai além do atendimento às necessidades básicas do ser humano no
momento em que ele está fragilizado, é o compromisso com o cuidado existencial que
envolve também o auto-cuidado, a auto-estima, a auto-valorização, a cidadania do outro e
da própria pessoa que cuida.
Portanto, como enfermeiro inserido no cenário da saúde, precisamos conhecer as
peculiaridades dos corpos idosos viventes, para a partir daí podermos contribuir, ajudar e
orientar essa clientela, a conviver com a sexualidade nesta fase da vida. Para tanto faz-se
necessário respeitar suas singularidades e limitações, sem esquecer de reconhecer e
incentivar as possibilidades de cada um durante o processo de envelhecimento, e
contemplar ações de cuidados direcionadas à promoção de saúde e bem estar, e não
apenas um procedimento técnico voltado para as doenças e medicações.
Nesse contexto a pesquisa tem como objeto de estudo: A Visão do idoso sobre sua
sexualidade. Para nortear essa pesquisa elaborou-se a seguinte questão norteadora:
Qual a visão do idoso sobre sua sexualidade? Para responder a estes questionamentos
elaborou-se os seguintes objetivos: Descrever a visão do idoso sobre sua sexualidade;
Identificar como o idoso vivencia sua sexualidade; Analisar os fatores que interferem na
sua sexualidade.
2 METODOLOGIA
O presente estudo tem uma abordagem qualitativa, caráter descritivo e
exploratório. Foi realizada na Praça Rio Branco, localizada no centro da cidade de
Teresina – PI, a qual foi fundada em 1910, atualmente é frequentada por idosos,
aposentados de diversas repartições públicas e privadas, para momentos de
descontração com os colegas, sendo esta atividade considerada por eles como um lazer,
onde os mesmos relembram suas histórias e momentos vividos, mantém-se informados
sobre as atualidades, através de jornais, revistas, livros e periódicos, sendo que alguns
vão no sentido se estabelecer vínculos interpessoais afetivos.
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6. Os sujeitos da pesquisa foram 20 idosos (homens) entre 60 a 85 anos de idade que
foram entrevistados de forma aleatória, ou seja, de acordo com a demanda da população
alvo e que aceitaram participar, mediante Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
conforme preconiza a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
A produção dos dados foi realizada através após aprovação no Comitê de Ética
em Pesquisa da Faculdade de Saúde Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí
(NOVAFAPI) através do Parecer Nº 0114.0.043.000-08. Utilizou-se de um roteiro semi-estruturado
e um gravador MP3 para registro das falas dos entrevistados e
posteriormente transcritas integralmente. A análise dos dados ocorreu de forma em que
foram categorizadas as falas dos entrevistados, conforme os pressupostos metodológicos
explicitados por Minayo (11).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS
Através dos relatos dos idosos que freqüentam a Praça Rio Branco em Teresina-Pi,
os relatados mostram que estes ao serem questionados sobre a sua visão em relação a
sexualidade, o que pensam e como estão agindo e vivendo a sua sexualidade, sendo
possível obter uma visão geral em relação ao seu entendimento
Após a análise, emergiram-se as seguintes categorias: Entendimento da
sexualidade como o ato sexual “sexo”; Sexualidade vivida pelo contato com mulher jovem;
Preocupação quanto à escolha da parceira e; Decréscimo e/ou Ausência na potencia
sexual.
Entendimento da sexualidade como o ato sexual “sexo”.
Pelo que pôde ser observado nas entrevistas realizadas, a sexualidade é entendida
pelos idosos como o puro ato sexual “sexo”. Isso demonstra a pouca compreensão pelos
idosos sobre o que venha a ser a sexualidade como está demonstrado nas falas que se
seguem:
[...] Sexualidade é uma vida para as pessoas de idade, quem não possui uma vida
sexual fica esmorecido, sem animo. É muito bom é vida, já pensou; uma pessoa que
sempre andou de bicicleta e de repente não poder mais andar, uma pessoa que
costuma a caminhar 2000 metros e de repente não conseguir mais, o cara fica
desagradável (D 2).
[...] Sexualidade pra mim é o ato sexual, é o prazer que agente sente, é o toque que
nos leva ao prazer, ao orgasmo (D 17).
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Trabalho 1332 - 6/13
7. [...] É, sexualidade é uma brincadeira né, você tem um relacionamento né, de fantasia,
dentro do sexo, porque o sexo em seguir é o órgão genital pra as pessoas e já a
sexualidade é uma brincadeira dentro do amor, o que o amor nos permite. Acho
importante, saudável e é o começo da vida (D 6).
O envelhecimento não compromete necessariamente a sexualidade e não está de
modo algum comprovado que esta termine na terceira idade. O termo sexualidade não é
sinônimo de ato sexual. A sexualidade envolve muito mais, ela pressupõe amor, carinho,
sensualidade, fantasia e inteligência (4).
Deve-se considerar que a estrutura e função do sistema reprodutor sofrem
modificações, devido a mudanças hormonais, tanto no homem quanto na mulher, no
decorrer da vida. Mas o ancião, saudável, ativo ou debilitado, possui necessidade de
expressar sua sexualidade, pois esta é intrínseca do ser humano. A sexualidade
compreende amor, calor, partilha e o toque entre as pessoas, não apenas o ato físico da
relação sexual. A libido não diminui, mas a freqüência da atividade sexual pode ser
reduzida. A mulher idosa que não compreende as alterações físicas que afetam a
atividade sexual pode pensar que sua vida sexual está chegando a um fim natural com o
início da menopausa, “por outro lado, o homem idoso descobre alterações na firmeza da
ereção, tem menor necessidade de ejaculação em cada orgasmo ou maior período de
recuperação entre cada intercurso sexual” (12).
Sexualidade vivida pelo contato com mulher jovem.
Apesar da existência de medicamentos que podem ser utilizados para o estímulo
da sexualidade, os idosos entrevistados, afirmaram que o importante para os mesmo é o
contato com a mulher jovem e carinhosa, identificados nos discursos que seguem:
[...] É mais agradável minha filha quando a pessoa tem um contato com uma mulher
nova, bonita, educada, carinhosa, qualquer pessoa sente prazer muito embora não
tenha mas a atuação constante, difícil, mas lá um dia acontece (D 1).
[...] Me perguntam: rapaz você só quer conviver com menina nova? Rapaz é porque
com elas é que me sinto bem, e se diz o seguinte: capim novo é quem levanta burro
velho! - Eu ouvi um cientista dizer, não existe Viagra, mulher jovem é quem faz o
homem velho ficar jovem (D 3).
[...] O que me chama atenção mesmo é a mulher nova e bonita. Pois a mulher nova
leva agente a loucura, faz o que a mulher de casa não faz (D 18)
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8. Principalmente por parte do homem idoso, o processo de envelhecimento tende a
ser mais depressivo, pois ele tem maior dificuldade para conviver com limitações da
idade, entre elas as sexuais. Nesse sentido, o uso do medicamento abre uma nova
perspectiva ao fazer o indivíduo recuperar a confiança que tinha na capacidade sexual em
etapas passadas da sua vida (13).
É freqüente que os homens idosos procurem mulheres mais jovens como parceiras
sexuais, porém considera-se ridículo quando mulheres idosas se envolvem, sexualmente,
com homens mais jovens. Na realidade, o idoso continua tendo impulso e atividade
sexual, embora haja alterações, devido às mudanças fisiológicas, expectativas
socioculturais, problemas de saúde e medicações (12).
Algumas percepções da sexualidade no idoso: para os homens idosos, a relação
com mulheres mais jovens representava um aumento da virilidade ou um prolongamento
da vida; os homens idosos sexualmente ativos, eram vistos praticando auto-ilusão, devido
à sua inabilidade em atrair mulheres e ter uma relação sexual; o homem idoso só possuía
acesso ao sexo através do seu poder de compra e status social; homens idosos que
tentavam manter uma vida sexualmente ativa eram considerados engraçados e objetos
de humor e ainda, homens idosos eram tolos (14).
Preocupação quanto à escolha da parceira
Os idosos participantes da pesquisa demonstraram preocupação quanto à
escolha da parceira, devido às doenças sexualmente transmissíveis e aos golpes
financeiros que alguns idosos já sofreram.
[...] Não tenho namorada e deixei pelo seguinte, porque aqui é o seguinte o mundo
está cheio de gente ruim, e uma vez fui roubado no motel e é muito desagradável né e
agente não vai chamar a polícia para não escandalizar e então num caso desse é
calar e abandonar.. É muito importante pra gente, porque o que aparece de piranha
por aqui, principalmente para pegar os cartões dos velhos (D 1).
[...] sou preocupado com as pessoas que me relaciono, tenho medo dessas doenças
feias e também dos golpes que essas bichinhas aqui da praça ficam tentando passar
na gente. Confesso, uma vez uma arrasou comigo, me iludiu e ainda me roubou,olha
só a vergonha, pois tive que ligar para o meu filho e me buscar e pagar a conta no
motel. Pode? Logo eu (D 16).
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Trabalho 1332 - 8/13
9. [...] Vivo bem, inclusive eu como viúvo tenho uma parceira, uma namorada né, quer
dizer eu tenho um relacionamento saudável com ela viu. Apesar que eu não tenho
nada contra a mulher prostituta, mais eu acho que é uma coisa que não é sadia (D 6).
O aumento progressivo das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e do vírus
da imunodeficiência adquirida (HIV/Aids) na população idosa, revela que essa morbidade
constitui um dos novos problemas de saúde pública. Em termos de Brasil, verifica-se que
há progressiva elevação no número de casos notificados de Aids, havendo aumento
significativo, nas últimas décadas, entre a população que se encontra na faixa etária
superior a 60 anos, se comparada aos mais jovens, na qual há inclusive redução em
algumas faixas etárias. As questões relativas aos conhecimentos que idosos possuem
acerca das DSTs e HIV/Aids apresenta relevância, tendo em vista a progressiva elevação
no número de idosos em nosso país (12).
A prevenção às DST/AIDS entre os idosos é algo muito complexo. Primeiro porque
os idosos não são assexuados, como muitos pensam. Depois, os profissionais que lidam
com este público têm muita dificuldade em abordar a sexualidade. E por último, o
preservativo não faz parte da realidade deles e as campanhas realizadas pelo governo
são voltadas aos jovens.
Decréscimo e ou ausência na potência sexual
Através das entrevistas realizadas, puderam-se identificar pela análise das falas,
que o decréscimo e/oi ausência da potência sexual é o fator que mais interfere na
sexualidade do idoso.
[...] A falta do principal, que é a ereção é o que mais interfere na minha sexualidade,
porque o resto agente consegue, o carinho essa coisa toda, mais a ereção é um
negócio meio complicada, acabou, acabou, é a natureza e tem que se conformar. (D
1).
[...] Pois é, meu principal problema é esse, pois não consigo mais com tanta
facilidade, pois com o passar dos anos vocês sabem o organismo vai ficando lento,
lento e esse órgão é o primeiro que esmolece, mais eu consigo ainda, com muita luta
e pois não é que funciona (D 19).
[...] Pois você deve saber que não funciona como antigamente, procuro não tomar
remédio, pois tenho medo de morrer. Tento, tento, é uma luta mais consigo. Mais tem
uma coisa, o carinho, o estímulo é muito importante, a mulher é essencial, ela precisa
estimular pois, o fator natural, a dificuldade da ereção atrapalha, interfere muito , além
dos problemas de saúde que tenho (D 14).
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10. Com a idade há uma diminuição progressiva da atividade sexual no indivíduo são,
causadas pela intervenção das mudanças fisiológicas normais devidas ao envelhecimento
em inter-relação com os fatores psicossociais. Por outro lado, também se produz um
aumento da prevalência de disfunções sexuais devidas a causas médicas, psicológicas
e/ou como efeito secundário da medicação administrada. Nessa situação pode ser difícil
diferenciar as mudanças normais relacionados com a idade dos sintomas devidos a
alguma patologia.
Qualquer sinal de impotência provoca grande preocupação nos homens em geral e
no idoso em particular se esta alteração for erroneamente tida como um caminho
inexorável da senilidade fará com que o idoso não consulte os especialistas. Entretanto,
depois dos importantes avanços médicos com respeito à sexualidade na última década,
tem aumentado consideravelmente o número de idosos que buscam ajuda especializada
para o tratamento das disfunções eréteis (10).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A falta de informação sobre o processo de envelhecimento, assim como das
mudanças na sexualidade, em diferentes faixas etárias e especialmente na velhice, têm
auxiliado a manutenção de preconceitos que, conseqüentemente, trouxeram muitas
estagnações das atividades sexuais das pessoas com mais idade. Mesmo ocorrendo
mudanças nas áreas sociais, política e médica, os preconceitos em relação à atividade
sexual precisam ser discutidos e analisados, visando uma melhor explicação e orientação
das verdadeiras mudanças existentes no comportamento sexual do idoso, para que este
grupo possa não se sentir culpado pelos seus desejos sexuais, independentemente da
forma de sua manifestação.
Durante anos, a discussão e educação sobre a sexualidade eram evitadas e a
bibliografia e informação sobre o assunto era mínima e geralmente mantida a sete
chaves, uma vez que o interesse sobre sexo era considerado pecaminoso e altamente
impróprio. Esta pesquisa nos fez compreender que as expressões de afeto, carinho,
sensação de aconchego, capacidade de amar e o desejo por intimidade não acabam em
nenhuma idade, e que podem ser realizados por toda a vida e sua manifestação é vital
para o desenvolvimento das pessoas de mais idade, proporcionando-lhes auto-estima e
realização pessoal.
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11. Quanto aos sentidos da sexualidade: afetividade, auto-estima e companheirismo,
concluímos que podem fazer parte desta etapa de vida, dependendo do próprio sujeito, de
sua subjetivação ao longo de suas experiências. Entendemos que esses elementos
constitutivos de uma sexualidade saudável devem ser valorizados e desenvolvidos por
todos.
Na velhice, é fundamental que exista uma boa perspectiva relacionada com a
sexualidade e que se tenha a consciência de que esta é muito mais do que um ato físico.
A sexualidade não deve, portanto, ser confundida com relação sexual, que é apenas uma
das componentes da sexualidade. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, “o
amor, o calor, o carinho e o compartilhar entre as pessoas” são exemplos claros da
complexidade da sexualidade.
A pesquisa apresentada permitiu alcançar os objetivos propostos, pois os idosos
pesquisados, mostraram seu entendimento relacionado a sexualidade nesta nova etapa
da vida, expondo assim, a sua intimidade e experiência sexual, visto que quando os
temas sexo e idosos são confrontados, reaparece a ignorância e o preconceito.
Ressaltamos ainda, a grande dificuldade que tivemos durante a pesquisa, de
abordar o tema em questão, devido aos tabus, aos preconceitos, e à cultura que os
idosos trazem consigo. Percebeu-se que, quando um homem e uma mulher idosos
estabelecem qualquer tipo de conduta sexual e a mantêm em idades avançadas sofrem
uma pressão social negativa, uma vez que a maioria da população considera que as suas
funções sexuais não deveriam simplesmente existir, chegando mesmo a ridicularizá-los
quando estes demonstram qualquer interesse pela sexualidade.
A realização deste trabalho trouxe-nos muito prazer e gratificação, pois o contato
com os sujeitos participantes gerou-nos novos conhecimentos sobre a sexualidade, de
que é um crescimento contínuo e que pode ser realizada sempre, já que estudar aspectos
relacionados à sexualidade na terceira idade é sem dúvida estudar o nosso futuro e abrir
possibilidades e perspectivas para um novo modo de ser, pois sabemos e temos
consciência da importância que a sexualidade exerce sobre nossas vidas e nossos
relacionamentos.
Deste modo, é importante frisar que a sexualidade é um assunto delicado e difícil
de falar à vontade em uma consulta, porém é evidente que este problema faz parte da
vida de todos. Sendo preocupante os tabus e idéias sobre a sexualidade nos idosos, bem
como a falta de preparo dos profissionais em lhe dá com esse tema.
Conclui-se que a enfermagem tem plena capacidade de trabalhar este assunto,
fazendo um bem enorme para essa clientela, ouvindo-os, aconselhando-os a se
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12. motivarem para terem uma vida saudável, expressando sua sexualidade da melhor forma
possível e, vendo-os como seres completos em todos os aspectos.
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Trabalho 1332 - 13/13