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CURSO : Interação dos Saberes sobre História e Culturas Africanas e

Afrobrasileiras

PROFESSOR: Valdilene de Assis Ferreira Gondim

TEMA: Literatura Afrobrasileira.

PÚBLICO ALVO: Comunidade dos terreiros de candomblé

DATA: 09/06/2011




   QUERO SER TAMBOR - JOSÉ CRAVEIRINHA
   Tambor está velho de gritar
   Oh velho Deus dos homens
   deixa-me ser tambor
   corpo e alma só tambor
   só tambor gritando na noite quente dos trópicos.
   Nem flor nascida no mato do desespero
   Nem rio correndo para o mar do desespero
   Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero
   Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.
   Nem nada!
   Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra
   Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra
   Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.
   Eu
   Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
   Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
   Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.
   Oh velho Deus dos homens
   eu quero ser tambor
   e nem rio
   e nem flor
   e nem zagaia por enquanto
   e nem mesmo poesia.
   Só tambor ecoando como a canção da força e da vida
   Só tambor noite e dia
   dia e noite só tambor
até à consumação da grande festa do batuque!
   Oh velho Deus dos homens
   deixa-me ser tambor
   só tambor!
   José Craveirinha




      A literatura brasileira, escrita maciçamente por escritores brancos,
imprime, historicamente, uma imagem pejorativa e destrutiva do negro, sempre
considerado inferior do ponto de vista cultural e, consequentemente, do ponto
de vista social. Deturpadas, as visões sobre o negro, invariavelmente foram
construídas de cima para baixo. Essa visão ideológica e equivocada do outro
criou os ―estereótipos sobre os negros: um clichê aviltado, simplificado
preconceituosamente‖. (LOBO, 1993, p. 171)
          O romance brasileiro funda sua análise na questão dos estereótipos. O
que se pode perceber é que, no Brasil, os intelectuais em sua maioria
estiveram atrelados a uma identidade cultural ocidental europeia e acabaram
compactuando com a política de exclusões. A literatura desempenha um papel
de suma importância na constituição da nacionalidade brasileira. Por seu
caráter didático-pedagógico estabelece modelos de heróis, perfis
comportamentais constroe idéias e valores que são tomados como ideais. Mas,
em seu contexto geralmente o negro está fora ou aparece em condições de
inferioridade. É preciso efetuar uma reconfiguração do imaginário negro
desconstruindo uma memória que foi forjada pela História dita oficial.
      Percebe-se que a literatura brasileira desenvolve-se fazendo contornos
altamente racistas o que torna problemático pensar na busca da identidade
nacional.
      O cânone literário reflete um sistema de valores instituído por grupos
detentores de poder, que legitimam decisões particulares com um discurso
globalizante.
          Os currículos das faculdades de Letras, no Brasil, em principio
marginalizaram grande parte da produção literária africana e afro-brasileira.
Jogada à margem do cânone ocidental e discriminada pela critica, esta
literatura foi reduzida e classificada como ―menor, daí a necessidade de ampliar
a reflexão brasileira a propósito das questões teóricas e teórico-práticas sobre
a produção cultural de afro-brasileiros e abreviar o caminho dessa
literatura,sobretudo no momento presente, que demanda a inclusão dos
estudos afro-brasileiros nos currículos escolares de    todo o país. O estudo
dessas questões nos mostra a urgência de se recontar a história e dar voz aos
cantos silenciados.


   O preconceito racial

   Foi da Bíblia que os europeus retiraram suas explicações para a
   inferioridade do negro. O Livro do Gênesis
                            - Maldito seja Canaã!
                        Que ele seja, para seus irmãos,
                         O último dos escravos.
E disse também:

                          - Bendito seja Iahweh, o Deus de Sem,
                           e que Canaã seja seu escravo!
                           Que Deus dilate a Jafé,
                           Que ele habite nas tendas de Sem,
                            E que Canaã seja teu escravo!
                                             (Gênesis, 9,18-27)


   A LITERATURA BRASILEIRA
          Quem são os nossos heróis. Descrições étnicas.
        * Iracema
     * Peri
     * A Moreninha
     * A escrava Isaura
     * Capitu
           * (...)

   Humanidade branca cristã e a bestialidade preta pagã

― Em Deus você nunca teve crença
  Com Cristo você não tem parença
  Quando canta só solta termo imundo
  Maluco, visão de outro mundo
  Papa molho, cachorro da doença
  Negro não nasce, aparece!
  E não morre-bate o cabo!
  Branco dá a alma a Deus
  E negro dá a alma ao Diabo.‖
( Cascudo. Luis Câmara. Vaqueiros e Cantadores. Rio de Janeiro, 1968.p.115-
21)
Gregório de Matos

― Mulher branca para casar
  Mulata para fornicar
  Negra para trabalhar‖.


     Castro Alves


VOZES D’ÁFRICA (Castro Alves)

Deus! Ó Deus onde estás que não respondes?
Em que mundo, e, qu’estrela tu t’escondes
      Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
      Onde estás, Senhor Deus?...

..................................................................

Não basta inda de dor, ó Deus terrível.
É, pois, teu peito eterno, inexaurível.
       De vingança e rancor?...
E o que é que fiz, Senhor?que torno crime
Eu cometi jamais que assim me oprime
        Teu gládio vingador?...
Foi depois do dilúvio... Um viandante,
Negro, sombrio, pálido, arquejante,
       Descia do Arará...
E eu disse ao peregrino fulminado:
―Cam... serás meu esposo bem-amado...
       Serei tua Eloá...‖.

.......................................................................
 Cristo! Embalde morreste sobre um monte...
Teu sangue não lavou de minha fronte
           A mancha original.
Ainda hoje são, por fardo adverso,
Meus filhos – alimária do universo,
Eu – pasto universal
.......................................................

Basta, Senhor!De teu potente braço
Role através dos astros e do espaço
       Perdão p’ra os crimes meus!...
Há dois mil anos... eu soluço um grito...
Escuta o brado meu lá no infinito,
       Meu deus! Senhor, meu Deus!...
José de Alencar

   Til

―Não me torno (...) escravo de um homem, que nasceu rico, por causa das
sobras que me atirava como atiraria a qualquer outro, ou a seu negro.‖

          O demônio familiar

Gira em torno dos esforços de um crioulo negro para mudar os planos de
casamento de seu senhor em sua própria vantagem. O culpado é descoberto,
libertado por seu dono, mas expulso de casa comas palavras: ―Toma: é a carta
de liberdade, ela será a tua punição de hoje em diante, porque as tuas faltas
recairão unicamente sobre ti; porque a moral e a lei te pedirão uma conta
severa de tuas ações‖.


   Bernardo Guimarães

         A escrava Isaura)

 ―Acha-se ali sozinha e sentada ao piano uma bela e nobre figura de moça.
  As linhas do perfil desenham-se distintamente entre o ébano da caixa do
piano, e as bastas madeixas ainda mais negras do que ele. São tão puras e
suaves essas linhas, que facinam os olhos, enlevam a mente, e paralisam toda
análise. A tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra, embaçada
por uma nuança delicada, que não sabereis dizer se é leve palidez ou cor- de-
rosa desmaiada‖.

Rosa(personagem)
― Se não fossem os brinquinhos de ouro,que lhes tremiam nas pequenas e bem
molduradas orelhas, e os túrgidos e ofegantes seios que como dois trêfegos
cabritinhos lhe pulavam para baixo da transparente camisa,toma-la-íeis
 por um rapazote maroto e petulante.‖

   Joaquim Manuel de Macedo

   AS VÍTIMAS ALGOZES


   Pai Raiol ―Era um negro africano de trinta a trinta e seis anos de idade, um
   dos últimos importados da África pelo tráfico nefando: homem de baixa
   estatura, tinha o corpo exageradamente maior que as pernas; a cabeça
   grande, os olhos vesgos, mas brilhantes e impossíveis de se resistir à
   fixidade do seu olhar pela impressão incômoda do estrabismo duplo, e por
   não sabermos que fluição de magnetismo infernal; quanto ao mais,
   mostrava os caracteres físicos da sua raça; trazia porém nas faces
   cicatrizes vultuosas de sarjaduras recebidas na infância: um golpe de
azorrague lhe partira pelo meio o lábio superior, e a fenda resultante deixara
   a descoberto dois dentes brancos, alvejantes,pontudos, dentes caninos que
   pareciam ostentar-se ameaçadores; sua boca era pois como mal fechada
   por três lábios; dois superiores e completamente separados, e um inferior
   perfeito: o rir aliás muito raro desse negro era hediondo por semelhante
   deformidade; a barda retorcida e pobre que ele tinha mal crescida no
   queixo, como erva mesquinha em solo árido, em vez de ornar afeiava-lhe o
   semblante; uma de suas orelhas perdera o terço da concha na parte
   superior cortada irregularmente em violência de castigo ou em furor de
   desordem; e finalmente braços longos prendendo-se a mãos descomunais
   que desciam à altura dos joelhos completavam-lhe o aspecto repugnante da
   figura mais antipática. (Macedo 1988: 88).

   Aluísio Azevedo

O Mulato

“Raimundo (...) seria um tipo bem acabado de brasileiro, se não foram os
grandes olhos azuis, que puxara do pai. Cabelos muito pretos, lustrosos e
crespos; tez morena e amulatada, mas fina; dentes claros que reluziam sob a
negrura do bigode; estatura alta e elegante; pescoço largo, nariz direito e fronte
espaçosa. A parte mais característica de sua fisionomia eram os olhos –
grandes, ramalhudos, cheio de sombras azuis; (...) a frescura da epiderme
lembrava os tons suaves e transparentes de uma aquarela sob papel de arroz‖.



   Monteiro Lobato

Histórias de Tia Nastácia
  ―Só aturo estas histórias como estudo da ignorância e burrice do povo. Prazer
não sinto nenhum. Não são engraçadas. Não têm humorismo. Parecem-me
muito grosseiras e bárbaras – coisa mesmo de negra beiçuda, como Tia
Nastácia. Não gosto. Não gosto e não gosto‖ (LOBATO, 1937, p. 31).

   O escritor negro

   Machado de Assis
   Lima Barreto
   Cruz e Souza
   Domingos Caldas Barbosa
   Luiz Gama
   Lino Guedes
   Solano Trindade
Machado de Assis             Lima Barreto              Cruz e Sousa


Emparedado ( Cruz e Souza)

       ―Se caminhares para a direita baterás e esbarrarás ansioso, aflito, numa
parede horrendamente incomensurável de Egoísmos e Preconceitos! Se
caminhares para a esquerda, outra parede, de Ciências e Críticas, mais alta do
que a primeira, te mergulhará profundamente no espanto! Se caminhares para
a frente, ainda nova parede, feita de Despeitos e Impotências, tremenda, de
granito, broncamente se elevará ao alto! Se caminhares, enfim, para trás, ah!
ainda, uma derradeira parede, fechando tudo, fechando tudo — horrível! —
parede de Imbecilidade e Ignorância, te deixará num frio espasmo de terror
absoluto...




   Domingos C Barbosa            Luiz Gama                   Lino Guedes


   Domingos Caldas Barbosa


   ― Não tens nas faces
       jasmins e rosas.
       Cor mais graciosa
       Nas faces tens
      Todas t’a invejam
      E há quem ser queira
      Assim trigueira
      Como tu és‖.
   ( Retrato de Lucinda)
Luiz Gama ( Quem sou eu)

 O que sou, e como penso,                Tinha pêlo e má catinga;
 Aqui vai com todo o senso,              O deus Mendes, pelas costas,
 Posto que já veja irados                Na cabeça tinha pontas;
 Muitos lorpas enfurnados                Jove, quando foi menino,
 Vomitando maldições,                    Chupitou leite caprino;
 Contra as minhas reflexões.             E segundo o antigo mito
 Eu bem sei que sou qual Grilo,          Também Fauno foi cabrito.
 De maçante e mau estilo;                Nos domínios de Plutão,
 E que os homens poderosos               Guarda um bode o Alcorão;
 Desta arenga receosos                   Nos lundus e nas modinhas
 Hão de chamar-me Tarelo                 São cantadas as bodinhas:
 Bode, negro, Mongibelo;                 Pois se todos têm rabicho,
 Porém eu que não me abalo               Para que tanto capricho?
 Vou tangendo o meu badalo               Haja paz, haja alegria,
 Com repique impertinente,               Folgue e brinque a bodaria;
 Pondo a trote muita gente.              Cesse pois a matinada,
 Se negro sou, ou sou bode               Porque tudo é bodarrada!
 Pouco importa. O que isto pode?
 Bodes há de toda casta
 Pois que a espécie é muito vasta…
 Há cinzentos, há rajados,
 Baios, pampas e malhados,
 Bodes negros, bodes brancos,
 E, sejamos todos francos,           Lino Guedes
 Uns plebeus e outros nobres.
 Bodes ricos, bodes pobres,
 Bodes sábios importantes,
 E também alguns tratantes…            Negro preto cor da noite, nunca
 Aqui, nesta boa terra,                te esqueças do açoite que
 Marram todos, tudo berra;             cruciou tua raça em nome dela
 Nobres, Condes e Duquesas,            somente faze com que a nossa
 Ricas Damas e Marquesas
 Deputados, senadores,
                                       gente um dia gente se faça!.
 Gentis-homens, vereadores;
 Belas damas emproadas
 De nobreza empantufadas;
 Repimpados principotes,
 Orgulhosos fidalgotes,
 Frades, Bispos, Cardeais,
 Fanfarrões imperiais,
 Gentes pobres, nobres gentes
 Em todos há meus parentes.
 Entre a brava militança
 Fulge e brilha alta bodança;
 Guardas, Cabos, Furriéis
 Brigadeiros, Coronéis
 Destemidos Marechais,
 Rutilantes Generais,
 Capitães de mar-e-guerra
 - Tudo marra, tudo berra –
 Na suprema eternidade,
 Onde habita a Divindade,
 Bodes há santificados,
 Que por nós são adorados.
 Entre o coro dos Anjinhos
 Também há muitos bodinhos.
 O amante de Syringa
Piiiiii
                            Estação de Caxias
                            de novo a dizer
                            de novo a correr
                            tem gente com fome
                            tem gente com fome
                            tem gente com fome
                            Vigário Geral
                            Lucas
                            Cordovil
                            Brás de Pina
                            Penha Circular
                            Estação da Penha
                            Olaria
                            Ramos
                            Bom Sucesso
                            Carlos Chagas
                            Triagem, Mauá
                            trem sujo da Leopoldina
                            correndo correndo
                            parece dzier
                            tem gente com fome
                            tem gente com fome
                            tem gente com fome
                            Tantas caras tristes
                            querendo chegar
                            em algum destino
                            em algum lugar
                            Trem sujo da Leopoldina
                            correndo correndo




Solano Trindade




  Trem sujo da Leopoldina
  correndo correndo
  parece dizer
  tem gente com fome
  tem gente com fome        parece dizer
  tem gente com fome
em gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
Mas o freio de ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuuu
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS           Culturais. Belo Horizonte:
                                     Editora     UFMG; Brasília:
                                     Representação da UNESCO
    BERND, Zilá. Introdução à
                                     no Brasil, 2003.
    literatura negra. São Paulo:
    Brasiliense,1988.
                                     LEITE, Sebastião Uchoa.
    Bosi, Alfredo. Sob o signo de
                                     Presença negra na literatura
    Cam. In: Dialética da
                                     brasileira moderna. In: Negro
    Colonização.São         Paulo:
                                     brasileiro negro. Revista do
    Companhia das Letras, 1992.
                                     Patrimônio     Histórico    e
                                     Artístico Nacional. Brasília:
    BROOKSHAW, David. Raça           IPHAN, 1997.
    e    cor    na     literatura
    Brasileira. Porto Alegre:
                                     PROENÇA FILHO, Domício.
    Mercado         Aberto,1983.
                                     A trajetória do negro na
    (Novas Perspectivas)
                                     literatura brasileira. In: Negro
                                     brasileiro negro. Revista do
    Cadernos Negros                  Patrimônio       Histórico     e
                                     Artístico           Nacional,25.
    DAMASCENO,Benedita               Brasília: IPHAN, 1997.
    Gouveia.Características da
    poesia negra brasileira. In:      SANTIAGO, Silviano. A cor
    Poesia        negra        no    da pele.In: Vale quanto
    Modernismo         brasileiro.   pesa.:    ensaios       sobre
    Campinas: Pontes, 1988.          questões político-sociais. Rio
    FONSECA.Maria                    de Janeiro: Paz e Terra,
    Nazareth.(org)Brasil     afro-   1982.
    brasileiro.Belo
    Horizonte:Autêntica, 2000.       SANSONE, Lívio. Negritude
                                     sem etnicidade: O local e o
    HALL, Stuart. Da Diáspora:       global nas relações raciais e
    Identidades e Mediações          na produção cultural negra
                                     do Brasil.Salvador: Edufba;
                                     Pallas,2003.

                                     SANTILLI, Maria Aparecida.
                                     Africanidade. São Paulo:
                                     Ática, 1985.

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Literatura afrobrasileira.

  • 1. CURSO : Interação dos Saberes sobre História e Culturas Africanas e Afrobrasileiras PROFESSOR: Valdilene de Assis Ferreira Gondim TEMA: Literatura Afrobrasileira. PÚBLICO ALVO: Comunidade dos terreiros de candomblé DATA: 09/06/2011 QUERO SER TAMBOR - JOSÉ CRAVEIRINHA Tambor está velho de gritar Oh velho Deus dos homens deixa-me ser tambor corpo e alma só tambor só tambor gritando na noite quente dos trópicos. Nem flor nascida no mato do desespero Nem rio correndo para o mar do desespero Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero. Nem nada! Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra. Eu Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra Só tambor perdido na escuridão da noite perdida. Oh velho Deus dos homens eu quero ser tambor e nem rio e nem flor e nem zagaia por enquanto e nem mesmo poesia. Só tambor ecoando como a canção da força e da vida Só tambor noite e dia dia e noite só tambor
  • 2. até à consumação da grande festa do batuque! Oh velho Deus dos homens deixa-me ser tambor só tambor! José Craveirinha A literatura brasileira, escrita maciçamente por escritores brancos, imprime, historicamente, uma imagem pejorativa e destrutiva do negro, sempre considerado inferior do ponto de vista cultural e, consequentemente, do ponto de vista social. Deturpadas, as visões sobre o negro, invariavelmente foram construídas de cima para baixo. Essa visão ideológica e equivocada do outro criou os ―estereótipos sobre os negros: um clichê aviltado, simplificado preconceituosamente‖. (LOBO, 1993, p. 171) O romance brasileiro funda sua análise na questão dos estereótipos. O que se pode perceber é que, no Brasil, os intelectuais em sua maioria estiveram atrelados a uma identidade cultural ocidental europeia e acabaram compactuando com a política de exclusões. A literatura desempenha um papel de suma importância na constituição da nacionalidade brasileira. Por seu caráter didático-pedagógico estabelece modelos de heróis, perfis comportamentais constroe idéias e valores que são tomados como ideais. Mas, em seu contexto geralmente o negro está fora ou aparece em condições de inferioridade. É preciso efetuar uma reconfiguração do imaginário negro desconstruindo uma memória que foi forjada pela História dita oficial. Percebe-se que a literatura brasileira desenvolve-se fazendo contornos altamente racistas o que torna problemático pensar na busca da identidade nacional. O cânone literário reflete um sistema de valores instituído por grupos detentores de poder, que legitimam decisões particulares com um discurso globalizante. Os currículos das faculdades de Letras, no Brasil, em principio marginalizaram grande parte da produção literária africana e afro-brasileira. Jogada à margem do cânone ocidental e discriminada pela critica, esta literatura foi reduzida e classificada como ―menor, daí a necessidade de ampliar
  • 3. a reflexão brasileira a propósito das questões teóricas e teórico-práticas sobre a produção cultural de afro-brasileiros e abreviar o caminho dessa literatura,sobretudo no momento presente, que demanda a inclusão dos estudos afro-brasileiros nos currículos escolares de todo o país. O estudo dessas questões nos mostra a urgência de se recontar a história e dar voz aos cantos silenciados. O preconceito racial Foi da Bíblia que os europeus retiraram suas explicações para a inferioridade do negro. O Livro do Gênesis - Maldito seja Canaã! Que ele seja, para seus irmãos, O último dos escravos. E disse também: - Bendito seja Iahweh, o Deus de Sem, e que Canaã seja seu escravo! Que Deus dilate a Jafé, Que ele habite nas tendas de Sem, E que Canaã seja teu escravo! (Gênesis, 9,18-27) A LITERATURA BRASILEIRA  Quem são os nossos heróis. Descrições étnicas. * Iracema * Peri * A Moreninha * A escrava Isaura * Capitu * (...) Humanidade branca cristã e a bestialidade preta pagã ― Em Deus você nunca teve crença Com Cristo você não tem parença Quando canta só solta termo imundo Maluco, visão de outro mundo Papa molho, cachorro da doença Negro não nasce, aparece! E não morre-bate o cabo! Branco dá a alma a Deus E negro dá a alma ao Diabo.‖ ( Cascudo. Luis Câmara. Vaqueiros e Cantadores. Rio de Janeiro, 1968.p.115- 21)
  • 4. Gregório de Matos ― Mulher branca para casar Mulata para fornicar Negra para trabalhar‖. Castro Alves VOZES D’ÁFRICA (Castro Alves) Deus! Ó Deus onde estás que não respondes? Em que mundo, e, qu’estrela tu t’escondes Embuçado nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito, Que embalde desde então corre o infinito... Onde estás, Senhor Deus?... .................................................................. Não basta inda de dor, ó Deus terrível. É, pois, teu peito eterno, inexaurível. De vingança e rancor?... E o que é que fiz, Senhor?que torno crime Eu cometi jamais que assim me oprime Teu gládio vingador?... Foi depois do dilúvio... Um viandante, Negro, sombrio, pálido, arquejante, Descia do Arará... E eu disse ao peregrino fulminado: ―Cam... serás meu esposo bem-amado... Serei tua Eloá...‖. ....................................................................... Cristo! Embalde morreste sobre um monte... Teu sangue não lavou de minha fronte A mancha original. Ainda hoje são, por fardo adverso, Meus filhos – alimária do universo, Eu – pasto universal ....................................................... Basta, Senhor!De teu potente braço Role através dos astros e do espaço Perdão p’ra os crimes meus!... Há dois mil anos... eu soluço um grito... Escuta o brado meu lá no infinito, Meu deus! Senhor, meu Deus!...
  • 5. José de Alencar Til ―Não me torno (...) escravo de um homem, que nasceu rico, por causa das sobras que me atirava como atiraria a qualquer outro, ou a seu negro.‖ O demônio familiar Gira em torno dos esforços de um crioulo negro para mudar os planos de casamento de seu senhor em sua própria vantagem. O culpado é descoberto, libertado por seu dono, mas expulso de casa comas palavras: ―Toma: é a carta de liberdade, ela será a tua punição de hoje em diante, porque as tuas faltas recairão unicamente sobre ti; porque a moral e a lei te pedirão uma conta severa de tuas ações‖. Bernardo Guimarães A escrava Isaura) ―Acha-se ali sozinha e sentada ao piano uma bela e nobre figura de moça. As linhas do perfil desenham-se distintamente entre o ébano da caixa do piano, e as bastas madeixas ainda mais negras do que ele. São tão puras e suaves essas linhas, que facinam os olhos, enlevam a mente, e paralisam toda análise. A tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra, embaçada por uma nuança delicada, que não sabereis dizer se é leve palidez ou cor- de- rosa desmaiada‖. Rosa(personagem) ― Se não fossem os brinquinhos de ouro,que lhes tremiam nas pequenas e bem molduradas orelhas, e os túrgidos e ofegantes seios que como dois trêfegos cabritinhos lhe pulavam para baixo da transparente camisa,toma-la-íeis por um rapazote maroto e petulante.‖ Joaquim Manuel de Macedo AS VÍTIMAS ALGOZES Pai Raiol ―Era um negro africano de trinta a trinta e seis anos de idade, um dos últimos importados da África pelo tráfico nefando: homem de baixa estatura, tinha o corpo exageradamente maior que as pernas; a cabeça grande, os olhos vesgos, mas brilhantes e impossíveis de se resistir à fixidade do seu olhar pela impressão incômoda do estrabismo duplo, e por não sabermos que fluição de magnetismo infernal; quanto ao mais, mostrava os caracteres físicos da sua raça; trazia porém nas faces cicatrizes vultuosas de sarjaduras recebidas na infância: um golpe de
  • 6. azorrague lhe partira pelo meio o lábio superior, e a fenda resultante deixara a descoberto dois dentes brancos, alvejantes,pontudos, dentes caninos que pareciam ostentar-se ameaçadores; sua boca era pois como mal fechada por três lábios; dois superiores e completamente separados, e um inferior perfeito: o rir aliás muito raro desse negro era hediondo por semelhante deformidade; a barda retorcida e pobre que ele tinha mal crescida no queixo, como erva mesquinha em solo árido, em vez de ornar afeiava-lhe o semblante; uma de suas orelhas perdera o terço da concha na parte superior cortada irregularmente em violência de castigo ou em furor de desordem; e finalmente braços longos prendendo-se a mãos descomunais que desciam à altura dos joelhos completavam-lhe o aspecto repugnante da figura mais antipática. (Macedo 1988: 88). Aluísio Azevedo O Mulato “Raimundo (...) seria um tipo bem acabado de brasileiro, se não foram os grandes olhos azuis, que puxara do pai. Cabelos muito pretos, lustrosos e crespos; tez morena e amulatada, mas fina; dentes claros que reluziam sob a negrura do bigode; estatura alta e elegante; pescoço largo, nariz direito e fronte espaçosa. A parte mais característica de sua fisionomia eram os olhos – grandes, ramalhudos, cheio de sombras azuis; (...) a frescura da epiderme lembrava os tons suaves e transparentes de uma aquarela sob papel de arroz‖. Monteiro Lobato Histórias de Tia Nastácia ―Só aturo estas histórias como estudo da ignorância e burrice do povo. Prazer não sinto nenhum. Não são engraçadas. Não têm humorismo. Parecem-me muito grosseiras e bárbaras – coisa mesmo de negra beiçuda, como Tia Nastácia. Não gosto. Não gosto e não gosto‖ (LOBATO, 1937, p. 31). O escritor negro Machado de Assis Lima Barreto Cruz e Souza Domingos Caldas Barbosa Luiz Gama Lino Guedes Solano Trindade
  • 7. Machado de Assis Lima Barreto Cruz e Sousa Emparedado ( Cruz e Souza) ―Se caminhares para a direita baterás e esbarrarás ansioso, aflito, numa parede horrendamente incomensurável de Egoísmos e Preconceitos! Se caminhares para a esquerda, outra parede, de Ciências e Críticas, mais alta do que a primeira, te mergulhará profundamente no espanto! Se caminhares para a frente, ainda nova parede, feita de Despeitos e Impotências, tremenda, de granito, broncamente se elevará ao alto! Se caminhares, enfim, para trás, ah! ainda, uma derradeira parede, fechando tudo, fechando tudo — horrível! — parede de Imbecilidade e Ignorância, te deixará num frio espasmo de terror absoluto... Domingos C Barbosa Luiz Gama Lino Guedes Domingos Caldas Barbosa ― Não tens nas faces jasmins e rosas. Cor mais graciosa Nas faces tens Todas t’a invejam E há quem ser queira Assim trigueira Como tu és‖. ( Retrato de Lucinda)
  • 8. Luiz Gama ( Quem sou eu) O que sou, e como penso, Tinha pêlo e má catinga; Aqui vai com todo o senso, O deus Mendes, pelas costas, Posto que já veja irados Na cabeça tinha pontas; Muitos lorpas enfurnados Jove, quando foi menino, Vomitando maldições, Chupitou leite caprino; Contra as minhas reflexões. E segundo o antigo mito Eu bem sei que sou qual Grilo, Também Fauno foi cabrito. De maçante e mau estilo; Nos domínios de Plutão, E que os homens poderosos Guarda um bode o Alcorão; Desta arenga receosos Nos lundus e nas modinhas Hão de chamar-me Tarelo São cantadas as bodinhas: Bode, negro, Mongibelo; Pois se todos têm rabicho, Porém eu que não me abalo Para que tanto capricho? Vou tangendo o meu badalo Haja paz, haja alegria, Com repique impertinente, Folgue e brinque a bodaria; Pondo a trote muita gente. Cesse pois a matinada, Se negro sou, ou sou bode Porque tudo é bodarrada! Pouco importa. O que isto pode? Bodes há de toda casta Pois que a espécie é muito vasta… Há cinzentos, há rajados, Baios, pampas e malhados, Bodes negros, bodes brancos, E, sejamos todos francos, Lino Guedes Uns plebeus e outros nobres. Bodes ricos, bodes pobres, Bodes sábios importantes, E também alguns tratantes… Negro preto cor da noite, nunca Aqui, nesta boa terra, te esqueças do açoite que Marram todos, tudo berra; cruciou tua raça em nome dela Nobres, Condes e Duquesas, somente faze com que a nossa Ricas Damas e Marquesas Deputados, senadores, gente um dia gente se faça!. Gentis-homens, vereadores; Belas damas emproadas De nobreza empantufadas; Repimpados principotes, Orgulhosos fidalgotes, Frades, Bispos, Cardeais, Fanfarrões imperiais, Gentes pobres, nobres gentes Em todos há meus parentes. Entre a brava militança Fulge e brilha alta bodança; Guardas, Cabos, Furriéis Brigadeiros, Coronéis Destemidos Marechais, Rutilantes Generais, Capitães de mar-e-guerra - Tudo marra, tudo berra – Na suprema eternidade, Onde habita a Divindade, Bodes há santificados, Que por nós são adorados. Entre o coro dos Anjinhos Também há muitos bodinhos. O amante de Syringa
  • 9. Piiiiii Estação de Caxias de novo a dizer de novo a correr tem gente com fome tem gente com fome tem gente com fome Vigário Geral Lucas Cordovil Brás de Pina Penha Circular Estação da Penha Olaria Ramos Bom Sucesso Carlos Chagas Triagem, Mauá trem sujo da Leopoldina correndo correndo parece dzier tem gente com fome tem gente com fome tem gente com fome Tantas caras tristes querendo chegar em algum destino em algum lugar Trem sujo da Leopoldina correndo correndo Solano Trindade Trem sujo da Leopoldina correndo correndo parece dizer tem gente com fome tem gente com fome parece dizer tem gente com fome
  • 10. em gente com fome tem gente com fome tem gente com fome Só nas estações quando vai parando lentamente começa a dizer se tem gente com fome dá de comer se tem gente com fome dá de comer se tem gente com fome dá de comer Mas o freio de ar todo autoritário manda o trem calar Psiuuuuuuuuuuu
  • 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: Representação da UNESCO BERND, Zilá. Introdução à no Brasil, 2003. literatura negra. São Paulo: Brasiliense,1988. LEITE, Sebastião Uchoa. Bosi, Alfredo. Sob o signo de Presença negra na literatura Cam. In: Dialética da brasileira moderna. In: Negro Colonização.São Paulo: brasileiro negro. Revista do Companhia das Letras, 1992. Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Brasília: BROOKSHAW, David. Raça IPHAN, 1997. e cor na literatura Brasileira. Porto Alegre: PROENÇA FILHO, Domício. Mercado Aberto,1983. A trajetória do negro na (Novas Perspectivas) literatura brasileira. In: Negro brasileiro negro. Revista do Cadernos Negros Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,25. DAMASCENO,Benedita Brasília: IPHAN, 1997. Gouveia.Características da poesia negra brasileira. In: SANTIAGO, Silviano. A cor Poesia negra no da pele.In: Vale quanto Modernismo brasileiro. pesa.: ensaios sobre Campinas: Pontes, 1988. questões político-sociais. Rio FONSECA.Maria de Janeiro: Paz e Terra, Nazareth.(org)Brasil afro- 1982. brasileiro.Belo Horizonte:Autêntica, 2000. SANSONE, Lívio. Negritude sem etnicidade: O local e o HALL, Stuart. Da Diáspora: global nas relações raciais e Identidades e Mediações na produção cultural negra do Brasil.Salvador: Edufba; Pallas,2003. SANTILLI, Maria Aparecida. Africanidade. São Paulo: Ática, 1985.