(1) O documento discute estratégias para tornar líderes comuns em discipuladores autênticos, focando nas características de um verdadeiro discípulo e discipulador e no que fazer para se tornar um.
(2) As características incluem ser semelhante a Cristo, estar insatisfeito com coisas erradas no mundo, e depender das pessoas.
(3) Para se tornar um discípulo e discipulador é necessário cultivar práticas espirituais pessoais, se engajar em atividades
1. DISCIPULANDO LÍDERES ESPIRITUAIS – LIÇÃO 11
Pr. Adolfo S. Suárez1
INTRODUÇÃO
A lição desta semana enfatiza o desafio de Cristo de preparar seus discípulos
para a obra que deveriam continuar após Sua ascensão. E que desafio! O Mestre
deveria tomar esses homens simples, e moldá-los de tal maneira que fossem capazes
de espalhar pelo mundo as Boas Novas da Salvação. Assim como Cristo, a Igreja de
hoje tem o desafio de preparar a liderança a fim de atender à Grande Comissão. Só
pela graça de Cristo podemos fazer isso!
No comentário desta semana vamos focar nossa reflexão em estratégias para
tornar um líder comum num autêntico discipulador; tentaremos responder a duas
perguntas: (1) Quais as características do verdade discípulo/discipulador? (2) O que
fazer para tornar-se discípulo e discipulador?
1. AS CARACTERÍSTICAS DO VERDADEIRO DISCÍPULO E DISCIPULADOR2
A semelhança com Cristo é o traço característico mais esperado de um
discípulo e de um discipulador. Em Romanos 8:29 lemos: “Porquanto aos que de
antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. Nesse verso, o
apóstolo Paulo está afirmando que o propósito eterno de Deus para nós – estabelecido
no passado – é que sejamos à semelhança de Cristo. O texto de 2 Coríntios 3:18
acrescenta a dimensão presente a este assunto: “E todos nós, com o rosto
desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos
transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o
Espírito”. Por outro lado, 1 João 3:2 estabelece a dimensão futura ao tema: “Amados,
agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser.
Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque
haveremos de vê-lo como ele é”.
As três dimensões apresentadas enfatizam o mesmo desafio: a necessidade de
sermos semelhantes a Cristo; esse é o propósito eterno, presente e escatológico de
Deus. Que maravilha! Tudo o que o discípulo e o discipulador pensam e fazem é com
vistas a alcançar o mais alto padrão de universo no que diz respeito ao caráter. Cristo é
nosso padrão, nossa referência, nosso modelo. E isso torna o discípulo e o
discipulador plenamente diferenciados de um mero seguidor de Cristo.
Se o discípulo é semelhante a Cristo, então quer dizer que outra característica
marcante dele é seu insatisfação em relação às coisas erradas que há no mundo, pois
ser semelhante a Cristo implica em não conformar-se com nenhum tipo de postura ou
comportamento que destoe daquilo que Cristo faria em nosso lugar. De fato, Deus
convoca Seu povo para “ser diferente de todos”.3
Em Levíticos 11:45 lemos: “Portanto,
vós sereis santos, porque Eu Sou santo”. No Novo Testamento, o apóstolo Paulo nos
desafia a não nos conformarmos com este século, mas transformar-nos pela
renovação de nossa mente (Romanos 12:2).
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• Devemos estar insatisfeitos com o pluralismo, que motiva uma religião e
espiritualidade para o bem de todos, mas que se distancia da vontade de
Deus; ao buscar o bem e consenso geral, o pluralismo torna Jesus e Sua
Palavra mais uma dentre as tantas vozes religiosas deste mundo, ignorando
a verdade de João 14:6: “Respondeu-lhe Jesus: Eu Sou o caminho, e a
verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim”.
• Devemos estar insatisfeitos com o materialismo, que “coisifica” tudo e todos,
diminuindo a importância da espiritualidade, e ignorando ensinamentos
claros como o de Mateus 6:25 e 33: “Não andeis ansiosos pela vossa vida;
quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao
que haveis de vestir […] Buscai, pois, em primeiro lugar, o Seu reino e a Sua
justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”.
• Devemos estar insatisfeitos com o relativismo ético, que é capaz de negociar
todo e qualquer mandamento e orientação da Bíblia a fim de satisfazer as
pessoas, objetivando não incomodar ninguém. Isso não significa “ser
totalmente inflexíveis em nosss decisões éticas, mas devemos procurar, com
sensibilidade, aplicar princípios bíblicos em cada situação”.4
O inconformismo do discípulo é uma demonstração de sua maturidade: ele não
aceita uma vida superficial; quer, sim, uma vida enraizada em Cristo e em Sua Palavra.
Como diz o apóstolo Paulo, precisamos apresentar-nos perfeitos em Cristo
(Colossenses 1:28-29). O adjetivo grego teleios, traduzido como “perfeito”, significa
“completo”, “maduro”, 5
compreendendo que maturidade é aquilo que distingue o
homem adulto da criança.6
Ser maduro implica, então, num relacionamento sólido e
pessoal com Cristo, que nos leva a amá-Lo e obedecer Sua Palavra. Discípulos e
discipuladores maduros têm plenas condições de testemunhar eficazmente do amor de
Cristo, proclamando ao mundo Sua graça transformadora.
Finalmente, o discípulo e o discipulador se caracterizam pela dependência, não
apenas de Cristo (como já enfatizado), mas das pessoas. Em Gálatas 6:2 lemos o
seguinte: “Levai as cargas uns dos outros”. Constantemente aprendemos e ouvimos
que a nossa sociedade e a Igreja necessitam de pessoas que sejam competentes em
sua área de trabalho, naquilo que fazem; isso é verdade, mas não é suficiente. A Igreja
também necessita de pessoas que valorizem os seus relacionamentos, que aprendam
a trabalhar em equipe; enfim, que dependam uma das outras.
Certa vez perguntaram a John D. Rockefeller – investidor e homem de negócios
– qual era a qualidade que mais apreciava encontrar nos líderes de seu complexo de
empresas; sua clássica resposta permanece viva até hoje: “Pagarei mais pela
habilidade do relacionamento com pessoas do que por qualquer outra habilidade que
possa haver debaixo do sol”.7
2. O QUE FAZER PARA TORNAR-SE DISCÍPULO E DISCIPULADOR?
Uma pergunta chave na lição desta semana é: Como podemos sair da condição
de crentes seguidores de Cristo, para nos tornarmos discípulos equipados, verdadeiros
discipuladores?
Para início de conversa, devemos entender que o processo da formação de um
discípulo e de um discipulador é lento; não ocorre por decreto e nem por imposição de
alguém. Também não nos tornamos discípulos e discipuladores porque fizemos um
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seminário ou lemos um par de livros sobre o assunto. E a lentidão não se deve a que
Deus dificultas as coisas. Não. A lentidão muitas vezes ocorre pela própria dificuldade
humana em engajar-se nesse processo. Por outro lado, a demora tem seu aspecto
positivo: provê tempo de reflexão ao cristão, permitindo-lhe encarar as mudanças com
maturidade, entendendo com propriedade os planos de Deus para sua vida.
De acordo com a Bíblia, temos o desafio de “fazer discípulos de todas as
nações” (Mateus 28:19). Ou seja, o cristão não deve conformar-se em assumir a
postura de discípulo; é necessário tornar-se um discipulador, fazer discípulos. Como
explica Bill Bright, isso significa “equipar os crentes não apenas para testemunhar, mas
também para treinar outros novos crentes com a finalidade de se tornarem
multiplicadores espirituais”.8
Para cumprir este alvo, é fundamental que todo cristão
operacionalize em sua vida alguns princípios e ações; dentre eles, os três comentados
a seguir são realmente prioritários.9
1. Cultivar práticas espirituais pessoais
Somos desafiados por Cristo a permanecer com Ele em comunhão (João 15:4).
Se o amor de Deus está presente em nossa vida, então nossa primeira reação é de
uma vida devocional intensa e constante. Como discípulos e discipuladores, oramos,
refletimos na Palavra, praticamos a solitude. Sim: estas são prioridades de autênticos
discipuladores. Afinal, nosso amor a Deus e por Deus não é algo etéreo, abstrato.
Nosso amor a Deus e por Deus se manifesta, primeiramente, na prática de disciplinas
espirituais pessoais.
Uma das principais disciplinas espirituais é a oração. Todo discípulo e
discipulador ora constantemente, ora sem cessar (1 Tessalonicense 5:17); ou seja,
mantem-se sensível à voz de Deus o tempo todo. Faz isso em seus momentos
devocionais, pela manhã (Salmo 5:3), mas também o faz durante o dia a dia, seja
antes de uma refeição, antes de tomar uma decisão, ou mesmo em gratidão a Deus
antes e após uma negociação comercial bem sucedida, ou antes e depois de um
atendimento médico.
A leitura da Bíblia é também outra disciplina espiritual. Todo discipulador lê e
medita na Palavra de Deus. Já tratamos desse tópico no capítulo anterior, mas é
importante enfatizar que “a Bíblia contém todos os princípios que os homens
necessitam compreender a fim de se habilitarem tanto para esta vida como para a
futura. E tais princípios podem ser compreendidos por todos. Quem quer que possua
espírito capaz de apreciar seus ensinos, não poderia ler uma simples passagem da
Bíblia sem adquirir dela algum conceito auxiliador. Todavia, os mais valiosos ensinos
da Bíblia não serão obtidos com um estudo ocasional ou fragmentado. Seu grande
conjunto de verdades não é apresentado de modo a ser descoberto pelo leitor
apressado ou descuidoso. Muitos de seus tesouros jazem muito abaixo da superfície, e
só se podem obter por uma pesquisa diligente e contínuo esforço. As verdades que
irão perfazer o grande todo, devem ser pesquisadas e reunidas "um pouco aqui, um
pouco ali”.10
Além de orar e ler a Bíblia, o verdadeiro discípulo pratica a meditação cristã e a
solitude. O Salmo 119:48 registra: “Os meus olhos antecipam-se às vigílias noturnas,
para que eu medite nas tuas palavras”. O salmista nos conclama à meditação, e
sabemos que isso só é possível quando praticamos e valorizamos a solitude, que é o
momento sublime quando arrancamos o fone dos ouvidos, quando nos desconectamos
do bate-papo virtual, quando ficamos quietos e entramos em sintonia com Deus: com
calma, com paciência, como quem espera um encontro especial. Isso implica em ficar
a sós conosco mesmos, para então estarmos prontos para ficar a sós com Deus a fim
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de poder pensar, refletir, criar, meditar nas coisas eternas, naquilo que é essencial na
vida.
O que dá real sentido à nossa vida é saber estar a sós com Deus. É isso que
nos tira da superficialidade de centenas de contatos passageiros, e nos leva à
autenticidade de bons relacionamentos face a face. Quando ficamos distantes de
Deus, ficamos também – como consequência final – sozinhos em meio à multidão. A
respeito da importância da meditação, reflexão e contemplação, Ellen White afirma:
“Far-nos-ia bem passar diariamente uma hora a refletir sobre a vida de Jesus.
Deveremos tomá-la ponto por ponto, e deixar que a imaginação se apodere de cada
cena, especialmente as finais. Ao meditar assim em Seu grande sacrifício por nós,
nossa confiança nEle será mais constante, nosso amor vivificado, e seremos mais
profundamente imbuídos de Seu espírito. Se queremos ser salvos afinal, teremos de
aprender aos pés da cruz a lição de arrependimento e humilhação”.11
2. Executar atividades eclesiásticas e sociais organizadas
Estando plenamente convictos do amor de Deus por nós, e tendo o hábito de
uma vida devocional centralizada em Cristo, estamos prontos para nos engajarmos em
todo tipo de atividades, as quais não são meros projetos, e sim o estilo de vida de
quem ama a Jesus Cristo:
• Participamos do culto de Sábado,
• Participamos do J.A.,
• Participamos do culto de domingo e de quarta-feira,
• Organizamos pequenos grupos durante a semana,
• Somos ativos na Escola Sabatina,
• Estudamos a Bíblia com pessoas interessadas,
• Temos o hábito de interceder em oração pelos necessitados,
• Prestamos assistência social aos interessados,
• Colaboramos com as campanhas sociais da Igreja, etc.
Para os autênticos discípulos e discipuladores, essas atividades espirituais e
sociais não são feitas apenas como resultado dos apelos dos pregadores, da
convocação do distrito, Associação ou União. Essas atividades são o estilo de vida de
quem saiu do estágio de “crente comum” e se transformou num discipulador de Cristo.
3. Fazer atividades espirituais com outras pessoas
Não basta cultuar com os irmãos da fé; é necessário que o discipulador saia a
campo a fim de encontrar interessados para, junto com eles, desfrutar das bênçãos de
pertencer ao povo de Deus. Assim fazendo, estamos imitando, por exemplo, a mulher
samaritana, a qual, tendo encontrado Jesus Cristo, partilhou com os outros suas
descobertas e suas convicções (João 4:28-30). Como resultado, houve um despertar
espiritual entre os samaritanos (verso 39-42).
A experiência da mulher samaritana nos leva a entender que o crescimento é o
resultado natural de alguém que deixou de ser apenas um seguidor de Cristo, e se
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tornou discípulo e discipulador. Podemos inferior, então, que uma Igreja formada por
discípulos e discipuladores busca o crescimento de seu número de membros, bem
como a implantação de novas congregações, pois crescer é o resultado esperado e
natural de quem se alimenta da Palavra, cultiva a fé e mantém comunhão com Cristo.
Em contrapartida, uma Igreja formada por meros seguidores de Cristo conforma-se
com assistir às programações, e, vez por outra, fazer algo que não exija compromisso.
Para quem está ligado à Raiz, ao Tronco, crescer é algo natural. Isso equivale a
dizer que discipuladores priorizam trazer novos interessados para participar das
atividades espirituais da Igreja. Fortalecimento da fé e crescimento da Igreja é o que se
espera naturalmente de uma congregação formada por pessoas que cultivam
corretamente as práticas espirituais pessoais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Certamente já ficou clara a diferença entre um mero seguidor de Cristo e alguém
que é, de fato, discípulo e discipulador. Todavia, para que essa diferença fique ainda
mais evidente, pensemos em cada uma das afirmações descritas abaixo.12
Atenção: o
discípulo e o discipulador fazem o que o seguidor faz, mas vão além. Ou seja, não é
uma questão de fazer ou isto ou aquilo, e sim fazer isto e aquilo.
• O seguidor espera os pães e os peixes; o discipulador é pescador.
• O seguidor preocupa-se em crescer; o discipulador quer reproduzir-se.
• O crente devolve dízimos e dá ofertas; o discipulador entrega sua vida em
sacrifício vivo.
• O crente precisa ser sempre estimulado e motivado; o discipulador estimula
e motiva os outros.
• O crente espera receber ordens para fazer algo; o discipulador tem iniciativa
em assumir responsabilidades.
• O crente é prisioneiro das circunstâncias; o discipulador aproveita as
circunstâncias para testemunhar.
• O crente espera a visita do pastor; o discipulador é um visitador.
• O crente vai aos cultos para adorar; o discipulador vive adorando.
• O crente sonha com a igreja ideal; o discipulador dá a sua vida pela Igreja,
por Cristo, e pela instauração do Reino de Deus.
• O crente quer ir para o Céu; o discipulador luta para – junto com ele – levar
pessoas aos pés de Cristo e ao Reino do Céu.
• O crente espera um despertar religioso; o discipulador é parte desse
despertar.
• O crente considera-se uma espécie de sócio da Igreja; o discipulador
assume o papel de servo de Cristo.
• O crente responde: “Deus, eu vou pensar”; o discipulador responde: “Deus,
eis-me aqui”.
• O crente se reúne com outros para buscar a presença de Deus; o
discipulador está constantemente na presença de Deus, mediante o Espírito
6. 6
Santo.
• O crente espera que professores, pastores e teólogos lhe interpretem a
Palavra de Deus; o discipulador escuta com atenção o ensino e a pregação,
mas – acima de tudo – busca o auxílio do Espírito Santo para compreender e
aplicar as Escrituras à sua vida.
1
Professor de Teologia no UNASP, Campus Engenheiro Coelho, na Graduação e na Pós-
Graduação, na área de Teologia Sistemática. É Mestre em Teologia, e Mestre e Doutor em Ciências da
Religião. Atualmente faz Pós-Doutorado em Teologia Sistemática na Escola Superior de Teologia, São
Leopoldo RS.
2
Esta seção é uma adaptação das principais ideias encontradas em John Stott. O Discípulo
Radical. Viçosa, MG: Ultimato, 2011.
3
John Stott. O Discípulo Radical, p. 13.
4
John Stott. O Discípulo Radical, p. 18.
5
Lothar Coenen e Colin Brown. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. 2
a
edição. São Paulo: Vida Nova, 2000, p. 94.
6
Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, p. 984.
7
Citado em Frank Viana Carvalho. Pedagogia da cooperação: uma introdução à metodologia da
Aprendizagem Cooperativa. Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista, 2000. p. v.
8
Adaptado de Bill Bright. 5 Steps to Making Disciples, p. 91.
9
Adaptado de Greg L. Hawkins e Cally Parkinson. Siga-me: O Que Vem a Seguir? São Paulo:
Vida, 2009, p. 36 a 54.
10
Ellen G. White. Educação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003, p. 123.
11
Ellen G. White. O Desejado de Todas as Nações. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
1990, p. 83.
12
Essa lista foi adaptada de duas fontes: “A Diferença entre o Crente e o Discípulo”, disponível
em www.evangelica.com.br/Artigos/artigos (acesso em 3 de outubro de 2012) e Josué Campanhã.
Discipulado que Transforma: Princípios e Passos para Revigorar a Igreja. São Paulo: Hagnos, 2012, p.
169-173.