O documento descreve o método construtivo de pontes e viadutos por balanços sucessivos, no qual as estruturas são erguidas segmento a segmento a partir de um pilar de apoio. Os principais pontos são: 1) as peças denominadas aduelas avançam em balanços até fechar o vão; 2) as aduelas podem ser moldadas no local ou pré-moldadas; 3) o método permite vencer grandes vãos e obstáculos sem escoramentos diretos.
2. Desenvolvido no Brasil e de uso consagrado em vários
lugares do mundo, o método de construção de pontes e
viadutos por balanços sucessivos consiste na execução
da estrutura em segmentos denominados aduelas, com
comprimento variável de 3 m a 10 m. A partir de um
pilar de suporte, as peças avançam em balanços, uma a
uma, até a totalidade da execução do vão, com o apoio
de treliças metálicas.
Introdução
3. Os segmentos podem ser concretados no local ou pré-
moldados. No primeiro caso, a concretagem é executada
por meio de fôrmas deslocáveis em balanço, suportadas
pelos trechos já concluídos. Ao atingirem a idade
apropriada, as aduelas são então protendidas. Já no caso
de aduelas pré-moldadas, a ligação entre as peças é feita
por meio de cabos de protensão, que podem ou não
fazer parte da cablagem definitiva do trecho, e com o
auxílio de cola polimerizável à base de resina epóxi,
aplicada às juntas dos elementos a serem ligados.
4.
Além da protensão, com o passar do tempo, o método
aproveitou-se de avanços tecnológicos. "Os progressos
vão desde os materiais aplicados, como concretos de alto
desempenho, aços de baixa relaxação e grande potência,
até as poderosas ferramentas computacionais que nos
permitem avaliar com bastante precisão o
comportamento e o desempenho dessas estruturas", cita
o engenheiro Júlio Timerman.
5.
Ponte sobre o Rio Claro em Mangaratiba (RJ)
concluída em 2011 e construída pela técnica de
balanços sucessivos
6.
Com tudo isso, as pontes construídas por balanço
sucessivo tornaram-se mais seguras, adquiriram
maior capacidade de suporte de carga admissível e
menor peso próprio, além de maior versatilidade.
7.
O grande ganho proporcionado pelo método dos
balanços sucessivos para a construção de pontes e
viadutos foi o de permitir a transposição de rios de
grande profundidade e largura, de acidentes
topográficos de grande magnitude ou qualquer
obstáculo sem a necessidade de escoramentos
diretos.
Indicações
8.
De forma geral, a técnica é aplicada para vencer
vãos em locais em que há dificuldades na
implantação de cimbramentos e escoramentos,
como sobre rodovias de grande tráfego, por
exemplo. O processo também é indicado quando
a altura da ponte em relação ao terreno é
grande, e quando é preciso transpor rios e canais
que devem obedecer a gabaritos de navegação
durante a construção.
9. De acordo com os engenheiros do departamento
técnico do Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (Dnit), o método
se mostra viável economicamente para vãos
livres entre 60 m e 240 m. "Para vãos menores,
devem ser estudados outros sistemas, como
vigas pré-moldadas protendidas, vigas mistas,
seções celulares, etc. Para vãos maiores, a
solução recomendada é a ponte estaiada",
recomendam os técnicos do órgão federal.
10.
De acordo com Júlio Timerman, não há
nenhuma contra indicação específica
para o uso desse sistema estrutural. "O
que não dispensa um estudo técnico-
econômico prévio, que sempre deve ser
realizado para otimização e obtenção da
melhor solução", recomenda o
engenheiro de estruturas.
11.
Normalmente, a execução é processada
simetricamente em relação ao apoio até metade dos
vãos adjacentes a ele, e o vão é fechado, evitando-se
articulações centrais. O mesmo processo é, então,
concluído para os vãos vizinhos. Dessa forma, os
momentos de desequilíbrio são relativamente
pequenos e os dispositivos de engastamento no
apoio podem ser projetados de maneira mais
econômica.
Técnicas e
equipamentos
12.
Quando os balanços são desiguais ou se pretende partir de
um apoio para os seguintes em execução contínua, é usual
a utilização de apoios provisórios intermediários ou estais
ajustáveis ao desenvolvimento do vão, suportados por
torres provisórias e ancorados no apoio anterior.
13.
De acordo com o Manual de Projeto de Obras de Arte
Especiais do Dnit, estruturalmente, a diferença entre os
processos em aduelas pré-moldadas e aduelas
concretadas no local reside na grande dificuldade de, no
primeiro caso, prover as juntas de armadura passiva,
destinada a manter a homogeneidade da seção
transversal no controle da fissuração da peça.
14.
Daí resulta a necessidade de serem projetadas seções
com protensão completa, aumentando o consumo de
materiais. Por outro lado, a possibilidade de
execução simultânea da infraestrutura e da
mesoestrutura com a fabricação das aduelas permite
reduzir o prazo final da obra no caso da solução pré-
moldada.
15.
Cuidados imprescindíveis durante a execução são
necessários para garantir o devido desempenho da ponte
ou do viaduto construído por balanço sucessivo. O
primeiro deles diz respeito ao criterioso controle dos
materiais, sobretudo concreto, aço e fôrmas.
A execução também precisa ser muito bem monitorada,
sobretudo em relação às deformações. Do contrário, os
trechos não chegarão ao centro do vão de forma
coincidente. Isso pode ser feito, por exemplo, por meio de
modelos numéricos computacionais que simulam o
comportamento da estrutura conforme as obras avançam.
Controles sobre a
execução
16.
Segundo equipe técnica do Dnit, após a concretagem da
primeira aduela (aduela de disparo), forma-se um
sistema isostático (que possui vínculos estritamente
necessários para garantir a sua total imobilidade). Esse
sistema só se transforma em hiperestático (com vínculos
abundantes para garantir a sua total imobilidade) com a
concretagem da aduela de fechamento
17.
É recomendável, ainda, que além do projeto da ponte,
seja realizado um projeto mecânico anterior à obra para
prever, por exemplo, as condições de montagem e
desmontagem da treliça metálica. Segundo informações
de fornecedores, é importante que esse tipo de obra seja
discutido e decidido com uma antecedência mínima de
seis meses, de forma a permitir o desenvolvimento em
conjunto de todas as etapas.
18.
Construção passo a passo
Sequência executiva típica de ponte com balanço
sucessivo feita com aduelas moldadas no local
1 Após a fundação estar pronta, são construídos os
pilares de concreto que darão sustentação às
aduelas.
2 Em seguida, constrói-se a aduela de disparo. Isso
pode ser feito com o uso de fôrmas trepantes,
concretagem e posterior protensão.
19.
3 As treliças metálicas são, então, montadas, içadas e
posicionadas sobre a aduela disparo.
4 Sobre as treliças são fixadas fôrmas planas.
5 A etapa seguinte é o avanço da treliça de escoramento em
balanço.
6 Antes da concretagem, as fôrmas são devidamente limpas
e ajustadas.
7 Posicionam-se as armaduras de aço e os cabos nas
fôrmas.
8 Executa-se a concretagem da aduela.
20.
9 Após a concretagem, aguarda-se a cura do concreto.
10 Só então a peça pode ser protendida.
11 Uma vez liberada a protensão por meio da verificação
dos alongamentos, a treliça poderá ser novamente
movimentada para dar sequência à execução de nova
aduela.
12 Após a conclusão de todas as aduelas, executa-se a
aduela de fechamento. Seu escoramento normalmente é
executado por meio da pendura de tirantes nas pontas das
últimas aduelas. Assim fecha-se o vão.
21.
Parte do trecho sul do Rodoanel em São Paulo, a ponte
sobre a represa Billings tem superestrutura formada por
aduelas do tipo caixão moldadas no local e executadas por
balanço sucessivo