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“Notícias para ver”
          (Uma introdução ao estudo morfológico dos projetos gráficos de jornais)




Palavras chaves: comunicação visual, jornalismo, sintaxe e semântica gráfica, projeto
                    gráfico, infográficos.


                                                          Norah Shallymar Gamboa Vela
                                                               Mestranda pela ECA- USP
                                               Linha de pesquisa: jornalismo comparado
                                                                      Bolsista da FAPESP




                                        RESUMO
     O desenvolvimento das novas tecnologias de informação e as novas tendências de
edição têm tido um impacto significativo na conquista e manutenção de leitores de meios
impressos, especialmente nos jornais dos países latino-americanos. Uma revolução
tecnológica que hoje acontece nos diários mais importantes do mundo tem mudado a forma
de fazer jornais.
     Novas tecnologias de edição têm permitido que a informação quot;entre em cenaquot;. A
partir do redesenho ou remodelação dos jornais nascem novos projetos jornalísticos que se
expressam graficamente. Estes projetos privilegiam a imagem, como elemento primário.
Elementos visuais tais como fotografias a cor, gráficos, desenhos, selos e retículas
adquirem cada vez maior importância. Contudo, o elemento privilegiado nestas novas
semântica e sintaxe gráfica é a infografia, considerada como um gênero jornalístico visual.
INTRODUÇÃO
       Os dados dos fatos noticiosos chegam à redação dos jornais nas anotações, nas
gravações, nos filmes fotográficos e nas experiências dos jornalistas. Já colocados na
quot;fábrica de informaçõesquot; começa um verdadeiro processo de produção técnica e intelectual.
As versões jornalísticas dos fatos, segundo sua redação, estrutura e conteúdo,
transformam-se em notícias, resenhas, entrevistas e reportagens.
       O processo acontece nesse espaço importante e pequeno conhecido pelos jornalistas
como a Secretaria de Redação. Ali o material informativo toma forma gráfica e sua
qualidade é otimizada. O objetivo desse departamento é determinar os títulos certos,
corrigir estilos e dar sentido visual à informação.
       A organização das unidades informativas numa página de jornal não pode ser uma
tarefa ao acaso. Essa deve responder a uma pauta de edição jornalística baseada nos
princípios de legibilidade e visibilidade, de acordo com o manual de estilo do jornal.
       Os elementos básicos deste desenho são critérios em relação ao formato (tamanho
da página), mancha (margens laterais, inferior e superior), colunas (medidas do texto), fio
(espaço entre colunas), tipografia (fontes ou famílias de tipos), cores, diagramação
(retangular ou em bloco, e irregular) e elementos iconográficos.
       O Projeto Gráfico é uma questão conceptual que tem um embasamento teórico.
Quando enfrentamos um diagrama em branco se faz presente um acumulado de
conhecimentos que nos permite hierarquizar e colocar adequadamente cada unidade
informativa, aproveitar ao máximo todos os elementos que a compõem (texto, título, olhos,
intertítulos, gráficos e legendas, entre outros). Falamos de sintaxe e semântica gráfica.
       Já os gregos, no século V antes de nossa era, preocupavam-se com os problemas da
forma. Seu desenvolvimento arquitetônico e a contribuição de Proclo sobre retângulos e
quadrados dão conta do fato. Em nosso tempo podemos assinalar os estudos feitos pelos
especialistas da Psicologia da Forma (Gestalt) que afirmam que é precisamente a quot;boa
formaquot; que se percebe com agrado.
       Este conceito se expressa nas tendências atuais -em nível internacional- que
privilegiam a diagramação em bloco em detrimento do tradicional estilo assimétrico.
       A combinação de uma formação jornalística, que desperta e internaliza o sentido do
quot;noticiosoquot;, com os elementos básicos da expressão plástica, como a tensão ótica, o
equilíbrio, a cor, o contraste e a harmonia é a base fundamental para um adequado trabalho
de diagramação jornalística.
       Estamos no tempo das imagens. A revolução da cibernética e dos satélites têm dado
um impulso realmente significativo aos processos de difusão massiva. Os meios eletrônicos,
e particularmente a TV, estão no primeiro lugar nesse processo. Mas, os outros meios
continuam cumprindo um papel importante. No caso da imprensa escrita é preciso assinalar
que ela tem um desafio de competir no conteúdo e na forma com esses meios que estão na
vanguarda tecnológica. Impõe-se, enquanto conteúdo, um jornalismo aprofundado, de
interpretação, que entre no contexto e nos antecedentes dos fatos. Na forma, precisa-se de
uma capacidade para fazer quot;notícias para verquot;. Trata-se do aproveitamento de todos os
recursos gráficos, dentro de uma pauta de edição feita com sentido informativo.
       Esse complexo processo que implica o uso de tecnologias recentes e a aplicação de
novos conceitos na elaboração dos jornais, deu passo ao que podemos considerar um novo
gênero jornalístico: as infografias, onde o visual é o primordial.
       As mudanças verificadas nos jornais paulistas mais importantes reflete que estes
meios de comunicação impressos têm percorrido, há algum tempo, o caminho da
modernização e, de alguma maneira, é um reflexo do que acontece, nesta disciplina, nas
cidades mais importantes da América Latina.


            A COMUNICAÇÃO VISUAL: DA GESTALT À SINTAXE VISUAL
      Tudo o que se relaciona com o ato de ver é parte do processo da comunicação visual.
As pessoas recebem continuamente comunicações visuais, das quais podem extrair
informações, conhecimentos, sem utilizar palavras.
      A comunicação visual se produz por meio de mensagens visuais, cujo suporte principal
é a imagem. Essas mensagens formam parte de todas as informações que atuam sobre
nossos sentidos. Isto supõe que existe um emissor de mensagens, que são recebidas por um
receptor.
      Segundo explica Rafael Souza Silva (1985), “Tudo aquilo que podemos captar através
da visão acaba constituindo uma comunicação visual. Um cartaz, um edifício, um jornal,
uma flor, isto é, uma série de elementos visuais inseridos numa paisagem onde o fenômeno
espaço-tempo completa essa significação” (p.26). Mas são muitos os fatores que podem
modificar e inclusive anular a percepção da mensagem.
Toda composição ou desenho, por exemplo, constitui, por si mesmo, uma mensagem
destinada a destacar cada uma de suas partes, dando-lhe um sentido global e vários sentidos
secundários.
      O receptor de mensagens visuais observa inicialmente os fatos gráficos extraídos de
seu entorno ou os símbolos susceptíveis de definição. Depois, analisa o conteúdo
compositivo, os elementos básicos e as técnicas da mensagem visual. No caso do jornalismo
impresso, o texto transmite uma informação através de signos compreensíveis, por ser parte
de sua cultura. Mas os elementos gráficos presentes nas páginas (ilustrações, janelas,
legendas, espaços em branco, o próprio texto, títulos etc.) produzem uma informação visual
que coexiste junto do sentido semântico do próprio texto. Primeiro vemos o jornal, olhamos
sua apresentação, e depois, em um segundo momento, começamos sua decodificação.
      Diferentemente de outras, a mensagem visual dos jornais é intencional, tanto na sua
forma de apresentação como no seu conteúdo, e atende a fundamentos teóricos, culturais e
operacionais. Ela deveria ser recebida na plenitude do significado desejado pelo emissor.
      Para que a comunicação seja efetiva o receptor deve captar o exato significado da
mensagem enviada pelo emissor, que neste caso é o diagramador, o jornalista gráfico, o
editor gráfico. Para isso tanto emissor como receptor devem utilizar códigos conhecidos.
      Nesse sentido, a mensagem gráfica dos jornais possui códigos específicos, que formam
uma linguagem também específica. Estes códigos são utilizados pelos planejadores gráficos,
ou diagramadores, na ordenação e disposição dos elementos na página do jornal ou
diagramação.
      Como expressa Silva (1985), “a diagramação é o projeto, a configuração gráfica de
uma mensagem colocada em determinado campo (página, livro, revista, cartaz), que serve
de modelo para a sua produção em série. A preocupação do programador visual, e,
consequentemente, sua tarefa específica, é dar a tais mensagens a devida estrutura visual a
fim de que o leitor possa discernir, rápida e confortavelmente, aquilo que para ele representa
algum interesse” (p. 43).
      É através do layout (composição de uma página impressa) que o diagramador revela a
sua intencionalidade, onde a disposição dos elementos funciona como uma linguagem, onde
forma e conteúdo permitem uma sintaxe da página.
      Para poder determinar esse layout precisa-se de um projeto gráfico. É dizer, de um
documento que estabeleça, em linhas gerais, o conjunto de dados elaborados como fase
preliminar de organização e execução dos elementos que formam parte da página impressa.
Além dos conhecimentos das técnicas e dos instrumentos de reprodução gráfica, esse
projeto gráfico deve ter em conta como se produz o processo de percepção visual e quais
são os elementos que entram em jogo na sintaxe visual.
      Nesse sentido, afirma Allen Hurlburt (1980) que a escola da Gestalt continua ainda
hoje a ser a principal fonte de informação científica sobre a percepção. A capacidade que
temos de reunir e de agrupar padrões visuais, de perceber unidades de uma maneira global,
nos permite “aceitar” uma página impressa como um todo. Esta capacidade constitui a base
do processo de design e proporciona o princípio que torna possível o layout de uma página.


                   A PERCEPÇÃO VISUAL ATRAVÉS DA GESTALT
      Qualquer projeto gráfico, e especificamente o projeto gráfico de jornal, vai encontrar
recursos para um tratamento mais objetivo nos estudos realizados pela chamada psicologia
da Gestalt, ou psicologia da Forma.1 Esta é uma escola alemã de psicologia experimental,
que teve seu origem em 1910.
      O estudo da percepção tornou-se o ponto de partida histórico e teórico do
gestaltismo, possibilitando a Max Wertheimer, fundador da escola da Gestalt, formular a sua
tese fundamental, segundo a qual há contextos em que o que acontece no todo não pode ser
deduzido das características das partes separadas, mas, inversamente, o que acontece a uma
parte do todo é determinado, em casos bem nítidos, pelas leis da estrutura intrínseca do seu
todo. A unidade, a harmonia e o equilíbrio são os pilares da noção de “Boa Gestalt” no
campo da percepção. (FRACCAROLI, 1982, p. 6)
      Para a Gestalt, nossa percepção está estreitamente relacionada com as forças
integradoras do processo fisiológico cerebral. Para justificar tais forças, atribui ao sistema
nervoso central um dinamismo auto-regulador que, ao procurar sua própria estabilidade,
tende a organizar as formas em “todos” coerentes e unificados. Essas organizações são
independentes de qualquer aprendizado. Para provar a sua hipótese os estudiosos da Gestalt
desenvolveram suas pesquisas, sobretudo, no campo da percepção visual. É nesse sentido
que nos interessa, pois constitui problema vital na área gráfica.




1
 . A palavra “Gestalt”, que dá o nome à escola, não tem em português uma tradução precisa, ainda que de
maneira geral seja traduzida como forma. No seu sentido mais amplo significa uma integração de partes em
oposição à soma de partes. (FRACCAROLI, 1982, p. 7)
Através de suas pesquisas sobre a percepção, os psicólogos da Gestalt precisaram
certas constantes, quanto à maneira de como se ordenam ou se estruturam as formas
psicologicamente percebidas.
      Os principais fatores ou leis consideradas são proximidade, semelhança, boa
continuidade, do destino comum ou direcionalidade e orientação, fechamento e pregnância
ou boa Gestalt. Alguns autores consideram que o princípio da pregnância abrange os da boa
continuidade e do destino comum e fechamento, e ainda incluem dentro desta lei outras
variantes como a lei da simetria ou regularidade e coerência estrutural.
      A lei da “boa forma” ou princípio da pregnância é o mais geral e expressa a tendência
que cada estrutura possui de se organizar psicologicamente segundo uma forma tão
completa ou perfeita quanto as condições do momento o permitam. Quer dizer que a
organização psicológica tenderá a ser sempre a melhor possível do ponto de vista estrutural.
      No caso da percepção visual, explica Rudolf Arnheim (1980), os psicólogos da Gestalt
com suas pesquisas lograram estabelecer uma lei básica: “qualquer padrão de estímulo tende
a ser visto de tal modo que a estrutura resultante é tão simples quanto as condições dadas
permitem” (p. 47). É dizer que as interações dentro do campo visual são controladas pela lei
da simplicidade, segundo a qual as forças perceptivas que constituem tal campo organizam-
se nos padrões mais simples, mais regulares e mais simétricos possíveis.


      Experiência passada
      Todos estes fatores são considerados fatores autônomos, não apreendidos, expressão
dos princípios estruturais relacionados ao sistema perceptivo. Mas, a Gestalt também
estudou o que se relaciona ao fator empírico. Segundo explica Kanizsa, Wertheimer
demonstrou, com as suas experiências, que em igualdade de condições a percepção do
espaço se dará também em função de nossas experiências passadas. Desta maneira, será
favorecida a constituição de objetos com os quais temos familiaridade, que já tivermos visto,
antes que formas desconhecidas ou pouco familiares.
      No caso dos jornais é de grande significação esses cuidados no que se refere na
identidade gráfica. Os leitores tendem a reconhecer com maior facilidade aqueles jornais que
mantém uma estrutura gráfica padrão. Alguns autores, como Mario García (1984), definem
esse fato como personalidade gráfica, é dizer, o jornal se parece com ele mesmo. Nesta
padronização a primeira página é a que tem maior peso, para que o leitor identifique
imediatamente o jornal. A continuidade e ilação da primeira página derivam-se de elementos
gráficos, como o cabeçalho e outros elementos fixos como o sumário (p. 50). A primeira
página não só indica o estilo do jornal. É sua apresentação. Esse mesmo princípio de
continuidade, aplica-se a elementos como filetes, legendas, tipos, formato de colunas, etc.
(p. 74).


                                      SINTAXE VISUAL
      Se existe uma comunicação visual, onde códigos ou elementos visuais podem ser
organizados para levar uma determinada mensagem compreensível para todos os membros
de um grupo, pode-se assegurar que existe uma alfabetidade visual, que implica em
semântica e sintaxe visuais.
      No estudo da linguagem escrita, a semântica refere-se à “ciência da linguagem que tem
por objeto o estudo do sentido de que são portadoras as formas lingüísticas. (...) ao estudo
da significação das palavras se junta a preocupação com a análise da interação de
significados no plano sintagmático ou combinatório, e não só se tenta explicitar o
mecanismo de interpretação de frases, como estabelecer as suas relações com a realidade ou
coisas da realidade que significam” (Enciclopédia Mirador Internacional, 1975, p. 10312).
      Por sua vez, a sintaxe tem relação com limites construtivos, a ordem que devem ter
estas formas lingüísticas, para que tenham um significado para uma determinada estrutura
social. Em outras palavras, é “a parte da gramática que ensina a dispor as palavras para
formar as orações, as orações para formar os períodos e parágrafos, e estes para formar o
discurso” ( Dicionário Melhoramentos, 1992, p. 480).
      Na comunicação visual também existem elementos, básicos como o ponto, a linha, a
cor, ou mais complexos como formas diversas, textos, ilustrações, títulos, etc. que são
organizados de acordo com determinados parâmetros, que podem ser apreendidos, e que
têm significados para o grupo social onde são desenvolvidos.
      Nesse sentido, fundamentando-se nos estudos científicos da Gestalt sobre a percepção
visual e nos trabalhos de alguns estudiosos como o psicólogo Rudolf Arnheim, Donis
Dondis tenta elaborar uma teoria geral, que explique a elaboração de uma sintaxe visual da
forma.
      Para Dondis, (1995, pp. 24-29) há uma sintaxe visual, já que existem:
      - linhas gerais para a criação de composições, que têm seu embasamento nos
princípios perceptivos,
- elementos visuais básicos que podem ser aprendidos e compreendidos
      - técnicas visuais, para a criação de mensagem claras e que podem ser usados, em
conjunto com os elementos visuais.
      Estas três áreas são as que fundamentam a busca da alfabetidade visual.


      Linhas gerais de composição
      O processo de composição é o passo mais importante na solução dos problemas
visuais. A disposição ordenada de partes dentro da área gráfica, em nosso caso a página
impressa, é o que podemos chamar de sintaxe visual. Ainda que não existam regras absolutas
para abordar o processo de composição, há certo grau de compreensão do que acontecerá
em termos de significados se colocamos as partes de determinada maneira, segundo algumas
técnicas, que podem ser apreendidas e aplicadas com certa criatividade. Muitos dos critérios
que permitem a compreensão do potencial sintático da estrutura na alfabetidade visual são
dados pelos estudos da percepção.
      No caso dos fatores que afetam a percepção visual, além dos estudados pela Gestalt,
(pregnância, atração e agrupamento), poder-se-ia falar da predileção pelo equilíbrio e as
tensões que gera a falta deste, como fatores compositivos que podemos utilizar
sintaticamente na busca da alfabetidade visual.
      Segundo Dondis o equilíbrio é a referência visual mais forte e firme do homem, sua
base consciente e inconsciente para fazer avaliações visuais. Ao lado desta opção visual,
onde prevalece a regularidade        e a simplicidade, encontra-se outra, a tensão, cuja
característica principal é a variação complexa e inesperada. O fator de tensão se apresenta
ante o irregular, o complexo, o instável. Tanto para o emissor quanto para o receptor a falta
de equilíbrio e regularidade é um fator de desorientação. A tensão gerada pelo desequilíbrio
é o meio visual mais efetivo para criar um efeito em resposta ao objetivo da mensagem.
Dito efeito tem a capacidade de transmitir a informação visual.


      Elementos básicos da sintaxe gráfica
      Na busca da alfabetidade visual, além das linhas gerais para a criação de composições,
Donis Dondis (1995) afirma que é preciso conhecer quais são os elementos básicos que
podem ser utilizados para criar mensagens visuais. O ponto, a linha, o contorno, a direção, o
tom, a cor, a textura, a dimensão a escala e o movimento constituem a matéria-prima de
toda informação visual.
Outro elemento a levar em conta, refere-se ao que Germani-Fabris (1973) chama de
espaço-formato. O espaço é o marco no que se objetivam os signos, por cuja razão possui a
capacidade de contê-los. Quando o espaço se limita se converte em formato. Trata-se de um
espaço determinado por medidas, que é o suporte onde serão distribuídos os demais
elementos gráficos. No caso dos jornais, este espaço seria a página impressa (pp. 60-62).
      O espaço-formato possui várias zonas úteis para a composição, e que estão
relacionadas com os hábitos de leitura, no caso da civilização ocidental, da esquerda à direita
e de cima para baixo.
      Outros autores, como Silva (1985), indicam que o método de leitura aprendido no
ocidente obriga, além dos dois movimentos anteriormente mencionados, a um terceiro
movimento, que é resultante dos outros dois. A vista vai da parte superior esquerda à parte
inferior direita.


      Técnicas gráficas
      Junto aos elementos visuais existem técnicas que permitem a criação de uma
mensagem visual clara. As técnicas da comunicação visual manipulam os elementos visuais e
dão forma à mensagem. A técnica visual mais dinâmica é o contraste, que se contrapõe à
técnica oposta, a harmonia. Estas técnicas não só se aplicam nos extremos, pelo contrário,
seu uso se expande em sutil gradação entre ambos pontos.
      Referindo-se aos jornais, Mario García (1984), indica que o mais importante, além de
conhecer e aplicar as técnicas gráficas no desenho das páginas, é ter uma idéia previa de
como irá cada um dos elementos, onde se vai colocar e que efeito terá no aspeto geral da
página. O desenho da página significa a harmonização dos seus elementos para lograr um
impacto gráfico e uma leitura fácil. Isto requer uma combinação adequada de tipografia,
fotografia e espaços brancos. (p. 57). É nesse ponto que temos de levar em conta algumas
noções sobre visibilidade e legibilidade nos jornais.


                    SEMÂNTICA E SINTAXE GRÁFICA NOS JORNAIS
      A organização das unidades informativas em uma página de jornal, ou layout, não
pode ser uma tarefa deixada ao acaso. Ela deve responder a uma pauta de edição jornalística
baseada nos princípios de visibilidade e legibilidade, de acordo com o manual de estilo do
jornal.
Os elementos básicos deste desenho são critérios em relação ao espaço-formato,
número e tamanho das colunas, fio, tipografia, cor, diagramação e elementos iconográficos
(semântica gráfica).
      O Projeto Gráfico é uma questão conceptual que tem um embasamento teórico.
Quando enfrentamos um diagrama em branco se faz presente um acumulado de
conhecimentos que nos permite hierarquizar e colocar adequadamente cada unidade
informativa (sintaxe gráfica) e aproveitar ao máximo todos os elementos que a compõem
(texto, título, olhos, intertítulos, fotografias, gráficas e infográficas, entre outros).
      Em linhas gerais, na parte gráfica todas as regras gerais de composição, elementos e
técnicas gráficas podem ser aplicadas. A combinação de uma formação jornalística, que
desperta e internaliza o sentido do “noticioso”, juntamente com a aplicação das técnicas
gráficas, como contraste e harmonia, o equilíbrio e a tensão ótica, é a base fundamental para
um adequado trabalho de diagramação jornalística, não obstante a existência de outros
elementos e técnicas mais diretamente relacionadas com o projeto gráfico do jornal, que
devem ser observadas.
      Entre eles os tipos de formato (número de colunas, retrancas gráficas, tipos de
diagramação, alinhamento dos textos, tipologia), os chamados elementos morfológicos
(primários e secundários), e os gêneros jornalísticos, cujas caraterísticas têm grande
influência na apresentação gráfica.
      A utilização de novos formatos e mais especificamente de novos elementos gráficos
está intimamente relacionado com o desenvolvimento tecnológico. Além dos elementos
tradicionalmente considerados, como texto, títulos e ilustrações, o desenvolvimento de
novas tecnologias de edição e produção têm facilitado a utilização de novos elementos que
anteriormente eram quase impossíveis de serem usados, como retículas, janelas, cor e
infografias.
      A valorização da imagem é cada vez maior, não só porque ela permite a transmissão
de algumas informações com maior facilidade que o texto só, mas também pela facilidade de
produção, através dos modernos programas de editoração. As técnicas informatizadas
tornam possível a produção potencial quase infinita de imagens, sem que nenhuma delas
exista como tal. E aqui onde reside a novidade. Dentro desta realidade se começa a falar de
jornalismo iconográfico. Um exemplo são os infográficos coloridos, do tamanho da página
do jornal.
Para o especialista Gonzalo Peltzer (1992) as mensagens jornalísticas visuais não são
novas. Sempre existiu uma quantidade de notícias, histórias e artigos que precisaram ser
publicadas de um modo visual. A informação gráfica apareceu na imprensa praticamente
com os primeiros jornais, mas sempre foi considerada como simples complemento da
informação textual, do que como informação em si mesma. É a partir da utilização dos
computadores nos mídia, nos anos 80, que se pode falar de uma verdadeira revolução
gráfica nos meios de comunicação.
         As imagens (fotográficas ou desenhos) adquirem no jornalismo da atualidade cada vez
maior importância, e ganham cada dia maior espaço nos jornais. Junto a elas, os textos e
títulos constituem os elementos principais que dão forma á página. São os chamados
elementos morfológicos principais. Além destes devem ser considerados outros, presentes
nas páginas dos jornais brasileiros, alguns tradicionalmente utilizados e outros gerados a
partir da utilização de novos recursos gráficos, tais como as janelas. Entre eles: chapéu,
sobretítulo, créditos, olho, fios, box, logotipos, vinhetas, epígrafe, selos, selo-texto, arte-
texto.
         Por outro lado, Peltzer (1992) como mencionamos anteriormente, diferencia as
fotografias das imagens ou desenhos realizados pelo homem, o que chamou de
iconográficas. A fotografia representa a realidade, em contrapartida, a linguagem
iconografica tende a abstração, já que busca a realidade em códigos universais.
         Ele divide o que chama de gêneros ou códigos visuais jornalísticos em sete grupos:
gráficos, infográficos, mapas, símbolos, ilustrações, comics e iconografia animada (p. 125).
         Dentro deles vamos dar especial importância ao que pode ser considerado um gênero
jornalístico visual, devido a suas caraterísticas: os chamados infográficos ou infografias.


                          INFOGRÁFICOS: O GÊNERO VISUAL
         Apesar de a força dos fatos estar a impor em todo o mundo o nome genérico de
infografia a toda mensagem iconografica, parece mais adequado utilizar este para designar
formas concretas de veicular a mensagem visual. Assim só pode-se considerar infográficos a
quot;expressões gráficas, mais ou menos complexas, de informações cujo conteúdo são fatos
ou acontecimentos, a explicação de como algo funciona, ou a informação de como é uma
coisaquot;. Os infográficos podem ser um desenho essencialmente explicito, em que todos os
elementos reais estão postos exatamente         no seu sitio, acompanhado por legendas e
números explicativos. Mas também pode ser a representação gráfica de uma superfície de
um terreno ou da planta de um campamento ou praça, a vista do interior de um corpo, a
representação dos objetos em três dimensões, vista de um panorama, etc. (Peltzer , p. 125-
133). Os mais utilizados nos jornais brasileiros, e de América Latina em geral, são os
chamados gráficos informativos, onde fotografia, desenhos, tabelas, gráficos e cor junto a
título e legendas misturam-se para dar passo ao novo elemento jornalístico.
      Ao conceito utilizado por Peltzer é preciso agregar o uso dos programas de edição
gráfica e o fato de ser informação jornalística, com o que poderíamos chegar a uma outra
noção de infográficos: informação jornalística traduzida a uma linguagem gráfica, mediante a
utilização de programas de edição e tratamento de imagens, que permite ao receptor captar
visualmente a essência de cada mensagem.
      É importante ressaltar que os infográficos não nasceram a partir do uso de
computadores nas redações. Eles existem praticamente desde que o homem começou a
comunicar-se a través de desenhos, junto com a escritura. Nos jornais ele também não é um
elemento novo. Mas, é só a partir da informatização das empresas jornalísticas que os
infográficos lograram o desenvolvimento que têm atualmente. Foi a partir dos anos 90 que
os infográficos começaram ocupar um lugar importante dentro das páginas de jornais e
começou-se falar da existência de um novo gênero jornalístico.
      O que nos faz pensar nos infográficos como um gênero visual é o fato de que a
informação literária por eles contida permite localizar o acontecimento no tempo e no
espaço, assim como responder as clássicas perguntas que, como, onde, quem, quando e
por quê. Por isso, a diferencia de qualquer outra ilustração, eles são uma unidade
informativa total e independente. Eles devem ter a suficiente informação que permita
compreender um fato, por ele mesmo, sem necessitar de outros suportes literários ou
textuais, fora de seus limites gráficos.
      Contudo, estas características têm que estar acompanhadas de simplicidade, sem
perder a qualidade. Os infográficos devem ser claros, simples de entender e rápidos de ler.
Do contrário eles perdem sua principal função: informar visualmente.
      Em geral, os infográficos, além de ser a parte visual das matérias jornalísticas,
expressam o que muitas vezes não podem mostrar as fotografias e o próprio texto. Temas
como globalização, clonagem, bolsa de valores e copa do mundo são a principal inspiração
para a criação de infográficos nas redações dos jornais.
       A informatização dos jornais, a utilização de infográficos, junto com outros
elementos tais como selos, retículas, gráficos e desenhos em geral, têm tido uma influência
decisiva no surgimento de equipes de especialistas gráficos, dentro das redações. Jornais
como O Dia, do Brasil e El Clarín, da Argentina contam com um editor de infografia e
ilustração, que acompanha repórteres e fotógrafos no seu trabalho diário, assim como um
arquivo de infográficos.
      Outros, como a Folha de São Paulo, encontram-se formando e treinando na sua
redação uma equipe de design, para melhorar a apresentação gráfica do jornal.
      Poder-se-ia falar de uma revolução tecnológica e conceptual que está acontecendo
nas redações dos principais jornais do mundo, e da América Latina em particular, onde a
partir do uso de novas tecnologias e do desenvolvimento de conceitos gráficos, ligados ao
jornalismo, tem mudado não só a apresentação, mas a estrutura e funcionamento dos
jornais. A existência de diretorias gráficas ou infográficas, arquivos de infografias e imagens
e assessores gráficos internacionais são um reflexo direto desse fenômeno.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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     Paulo, Pionera, 1980.

- BRAJNOVIC, Luka. Tecnología de la información. Pamplona, Universidade de Navarra,
     1979.

- COLLARO, Antônio Celso. Projeto gráfico. Teoria e prática da doagramação. São
     Paulo, Summus, 1987.

- DICIONÁRIO MELHORAMENTOS. São Paulo, Melhoramentos de São Paulo, 1992.

- DINES, Alberto. O papel do jornal. Rio de Janeiro, Artenova, 1974.

- DONDIS, Donis. La sintaxis de la imagen: introducción al alfabeto visual. Barcelona,
     Gustavo Gili, 1995.

- ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. São Paulo, Encyclopaedia
     Britannica do Brasil, 1975.

- ERBOLATO, Mário. Dicionário de propaganda e jornalismo. Campinas, Papirus, 1985.

- ERBOLATO, Mário. Jornalismo gráfico: técnicas de produção. São Paulo, Loyola,
     1981.

- FABRIS, Germani. Fundamentos del proyecto gráfico. Barcelona, Don Bosco, 1973.

- FOLHA DE S. PAULO. Manual de uso do projeto gráfico. São Paulo, Folha de S.
     Paulo, 1996.

- FONSECA, Joaquim de. Comunicação visual. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio
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- FRACCAROLI, Caetano. A percepção da forma e sua relação com o fenômeno
     artístico. São Paulo, FAU-USP, 1982.
- GARCÍA, Mario. Diseño y remodelación de periódicos, nuevas fórmulas para las
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- GARGUREVICH, Juan. Géneros periodísticos. Quito, Belén, 1982.

- GIBSON, James J. La percepción del mundo visual. Buenos Aires, Infinito, 1974.

- KANIZSA, Caetano. Gramática de la visión, percepción y pensamiento. Barcelona,
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- KAYSER, Jacques. El periódico: estudios de morfología, de metodología y de prensa
     comparada. Quito, CIESPAL, 1966.

- LOPES, Marcelo J. Abreu. Paradigmas da edição gráfica no Brasil. Trabalho de
     conclusão de curso-TCC, São Paulo, ECA-USP, 1995.

- MARQUES DE MELO, José. Gêneros jornalísticos na Folha de S. Paulo. São Paulo,
     FTD, 1992.

- MENGARDO, Valdir. O olhar domesticado: um estudo sobre o discurso gráfico da
     imprensa. Dissertação de mestrado. São Paulo, ECA-USP, 1988.

- PELTZER, Gonzalo. Jornalismo iconográfico. Lisboa, Planeta, 1992.

- SILVA, Rafael. Diagramação: o planejamento visual gráfico na comunicação
     impressa. São Paulo, Summus, 1985.

- SILVER, Gerald A. graphic layout and design. Nova Iorque, Litton Educational, 1981.

- SOBRINHO, José Coelho. Legibilidade dos tipos na comunicação impressa. São
     Paulo, IPCJE-ECA-USP, 1987.

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Morfologia dos projetos gráficos de jornais

  • 1. “Notícias para ver” (Uma introdução ao estudo morfológico dos projetos gráficos de jornais) Palavras chaves: comunicação visual, jornalismo, sintaxe e semântica gráfica, projeto gráfico, infográficos. Norah Shallymar Gamboa Vela Mestranda pela ECA- USP Linha de pesquisa: jornalismo comparado Bolsista da FAPESP RESUMO O desenvolvimento das novas tecnologias de informação e as novas tendências de edição têm tido um impacto significativo na conquista e manutenção de leitores de meios impressos, especialmente nos jornais dos países latino-americanos. Uma revolução tecnológica que hoje acontece nos diários mais importantes do mundo tem mudado a forma de fazer jornais. Novas tecnologias de edição têm permitido que a informação quot;entre em cenaquot;. A partir do redesenho ou remodelação dos jornais nascem novos projetos jornalísticos que se expressam graficamente. Estes projetos privilegiam a imagem, como elemento primário. Elementos visuais tais como fotografias a cor, gráficos, desenhos, selos e retículas adquirem cada vez maior importância. Contudo, o elemento privilegiado nestas novas semântica e sintaxe gráfica é a infografia, considerada como um gênero jornalístico visual.
  • 2. INTRODUÇÃO Os dados dos fatos noticiosos chegam à redação dos jornais nas anotações, nas gravações, nos filmes fotográficos e nas experiências dos jornalistas. Já colocados na quot;fábrica de informaçõesquot; começa um verdadeiro processo de produção técnica e intelectual. As versões jornalísticas dos fatos, segundo sua redação, estrutura e conteúdo, transformam-se em notícias, resenhas, entrevistas e reportagens. O processo acontece nesse espaço importante e pequeno conhecido pelos jornalistas como a Secretaria de Redação. Ali o material informativo toma forma gráfica e sua qualidade é otimizada. O objetivo desse departamento é determinar os títulos certos, corrigir estilos e dar sentido visual à informação. A organização das unidades informativas numa página de jornal não pode ser uma tarefa ao acaso. Essa deve responder a uma pauta de edição jornalística baseada nos princípios de legibilidade e visibilidade, de acordo com o manual de estilo do jornal. Os elementos básicos deste desenho são critérios em relação ao formato (tamanho da página), mancha (margens laterais, inferior e superior), colunas (medidas do texto), fio (espaço entre colunas), tipografia (fontes ou famílias de tipos), cores, diagramação (retangular ou em bloco, e irregular) e elementos iconográficos. O Projeto Gráfico é uma questão conceptual que tem um embasamento teórico. Quando enfrentamos um diagrama em branco se faz presente um acumulado de conhecimentos que nos permite hierarquizar e colocar adequadamente cada unidade informativa, aproveitar ao máximo todos os elementos que a compõem (texto, título, olhos, intertítulos, gráficos e legendas, entre outros). Falamos de sintaxe e semântica gráfica. Já os gregos, no século V antes de nossa era, preocupavam-se com os problemas da forma. Seu desenvolvimento arquitetônico e a contribuição de Proclo sobre retângulos e quadrados dão conta do fato. Em nosso tempo podemos assinalar os estudos feitos pelos especialistas da Psicologia da Forma (Gestalt) que afirmam que é precisamente a quot;boa formaquot; que se percebe com agrado. Este conceito se expressa nas tendências atuais -em nível internacional- que privilegiam a diagramação em bloco em detrimento do tradicional estilo assimétrico. A combinação de uma formação jornalística, que desperta e internaliza o sentido do quot;noticiosoquot;, com os elementos básicos da expressão plástica, como a tensão ótica, o
  • 3. equilíbrio, a cor, o contraste e a harmonia é a base fundamental para um adequado trabalho de diagramação jornalística. Estamos no tempo das imagens. A revolução da cibernética e dos satélites têm dado um impulso realmente significativo aos processos de difusão massiva. Os meios eletrônicos, e particularmente a TV, estão no primeiro lugar nesse processo. Mas, os outros meios continuam cumprindo um papel importante. No caso da imprensa escrita é preciso assinalar que ela tem um desafio de competir no conteúdo e na forma com esses meios que estão na vanguarda tecnológica. Impõe-se, enquanto conteúdo, um jornalismo aprofundado, de interpretação, que entre no contexto e nos antecedentes dos fatos. Na forma, precisa-se de uma capacidade para fazer quot;notícias para verquot;. Trata-se do aproveitamento de todos os recursos gráficos, dentro de uma pauta de edição feita com sentido informativo. Esse complexo processo que implica o uso de tecnologias recentes e a aplicação de novos conceitos na elaboração dos jornais, deu passo ao que podemos considerar um novo gênero jornalístico: as infografias, onde o visual é o primordial. As mudanças verificadas nos jornais paulistas mais importantes reflete que estes meios de comunicação impressos têm percorrido, há algum tempo, o caminho da modernização e, de alguma maneira, é um reflexo do que acontece, nesta disciplina, nas cidades mais importantes da América Latina. A COMUNICAÇÃO VISUAL: DA GESTALT À SINTAXE VISUAL Tudo o que se relaciona com o ato de ver é parte do processo da comunicação visual. As pessoas recebem continuamente comunicações visuais, das quais podem extrair informações, conhecimentos, sem utilizar palavras. A comunicação visual se produz por meio de mensagens visuais, cujo suporte principal é a imagem. Essas mensagens formam parte de todas as informações que atuam sobre nossos sentidos. Isto supõe que existe um emissor de mensagens, que são recebidas por um receptor. Segundo explica Rafael Souza Silva (1985), “Tudo aquilo que podemos captar através da visão acaba constituindo uma comunicação visual. Um cartaz, um edifício, um jornal, uma flor, isto é, uma série de elementos visuais inseridos numa paisagem onde o fenômeno espaço-tempo completa essa significação” (p.26). Mas são muitos os fatores que podem modificar e inclusive anular a percepção da mensagem.
  • 4. Toda composição ou desenho, por exemplo, constitui, por si mesmo, uma mensagem destinada a destacar cada uma de suas partes, dando-lhe um sentido global e vários sentidos secundários. O receptor de mensagens visuais observa inicialmente os fatos gráficos extraídos de seu entorno ou os símbolos susceptíveis de definição. Depois, analisa o conteúdo compositivo, os elementos básicos e as técnicas da mensagem visual. No caso do jornalismo impresso, o texto transmite uma informação através de signos compreensíveis, por ser parte de sua cultura. Mas os elementos gráficos presentes nas páginas (ilustrações, janelas, legendas, espaços em branco, o próprio texto, títulos etc.) produzem uma informação visual que coexiste junto do sentido semântico do próprio texto. Primeiro vemos o jornal, olhamos sua apresentação, e depois, em um segundo momento, começamos sua decodificação. Diferentemente de outras, a mensagem visual dos jornais é intencional, tanto na sua forma de apresentação como no seu conteúdo, e atende a fundamentos teóricos, culturais e operacionais. Ela deveria ser recebida na plenitude do significado desejado pelo emissor. Para que a comunicação seja efetiva o receptor deve captar o exato significado da mensagem enviada pelo emissor, que neste caso é o diagramador, o jornalista gráfico, o editor gráfico. Para isso tanto emissor como receptor devem utilizar códigos conhecidos. Nesse sentido, a mensagem gráfica dos jornais possui códigos específicos, que formam uma linguagem também específica. Estes códigos são utilizados pelos planejadores gráficos, ou diagramadores, na ordenação e disposição dos elementos na página do jornal ou diagramação. Como expressa Silva (1985), “a diagramação é o projeto, a configuração gráfica de uma mensagem colocada em determinado campo (página, livro, revista, cartaz), que serve de modelo para a sua produção em série. A preocupação do programador visual, e, consequentemente, sua tarefa específica, é dar a tais mensagens a devida estrutura visual a fim de que o leitor possa discernir, rápida e confortavelmente, aquilo que para ele representa algum interesse” (p. 43). É através do layout (composição de uma página impressa) que o diagramador revela a sua intencionalidade, onde a disposição dos elementos funciona como uma linguagem, onde forma e conteúdo permitem uma sintaxe da página. Para poder determinar esse layout precisa-se de um projeto gráfico. É dizer, de um documento que estabeleça, em linhas gerais, o conjunto de dados elaborados como fase preliminar de organização e execução dos elementos que formam parte da página impressa.
  • 5. Além dos conhecimentos das técnicas e dos instrumentos de reprodução gráfica, esse projeto gráfico deve ter em conta como se produz o processo de percepção visual e quais são os elementos que entram em jogo na sintaxe visual. Nesse sentido, afirma Allen Hurlburt (1980) que a escola da Gestalt continua ainda hoje a ser a principal fonte de informação científica sobre a percepção. A capacidade que temos de reunir e de agrupar padrões visuais, de perceber unidades de uma maneira global, nos permite “aceitar” uma página impressa como um todo. Esta capacidade constitui a base do processo de design e proporciona o princípio que torna possível o layout de uma página. A PERCEPÇÃO VISUAL ATRAVÉS DA GESTALT Qualquer projeto gráfico, e especificamente o projeto gráfico de jornal, vai encontrar recursos para um tratamento mais objetivo nos estudos realizados pela chamada psicologia da Gestalt, ou psicologia da Forma.1 Esta é uma escola alemã de psicologia experimental, que teve seu origem em 1910. O estudo da percepção tornou-se o ponto de partida histórico e teórico do gestaltismo, possibilitando a Max Wertheimer, fundador da escola da Gestalt, formular a sua tese fundamental, segundo a qual há contextos em que o que acontece no todo não pode ser deduzido das características das partes separadas, mas, inversamente, o que acontece a uma parte do todo é determinado, em casos bem nítidos, pelas leis da estrutura intrínseca do seu todo. A unidade, a harmonia e o equilíbrio são os pilares da noção de “Boa Gestalt” no campo da percepção. (FRACCAROLI, 1982, p. 6) Para a Gestalt, nossa percepção está estreitamente relacionada com as forças integradoras do processo fisiológico cerebral. Para justificar tais forças, atribui ao sistema nervoso central um dinamismo auto-regulador que, ao procurar sua própria estabilidade, tende a organizar as formas em “todos” coerentes e unificados. Essas organizações são independentes de qualquer aprendizado. Para provar a sua hipótese os estudiosos da Gestalt desenvolveram suas pesquisas, sobretudo, no campo da percepção visual. É nesse sentido que nos interessa, pois constitui problema vital na área gráfica. 1 . A palavra “Gestalt”, que dá o nome à escola, não tem em português uma tradução precisa, ainda que de maneira geral seja traduzida como forma. No seu sentido mais amplo significa uma integração de partes em oposição à soma de partes. (FRACCAROLI, 1982, p. 7)
  • 6. Através de suas pesquisas sobre a percepção, os psicólogos da Gestalt precisaram certas constantes, quanto à maneira de como se ordenam ou se estruturam as formas psicologicamente percebidas. Os principais fatores ou leis consideradas são proximidade, semelhança, boa continuidade, do destino comum ou direcionalidade e orientação, fechamento e pregnância ou boa Gestalt. Alguns autores consideram que o princípio da pregnância abrange os da boa continuidade e do destino comum e fechamento, e ainda incluem dentro desta lei outras variantes como a lei da simetria ou regularidade e coerência estrutural. A lei da “boa forma” ou princípio da pregnância é o mais geral e expressa a tendência que cada estrutura possui de se organizar psicologicamente segundo uma forma tão completa ou perfeita quanto as condições do momento o permitam. Quer dizer que a organização psicológica tenderá a ser sempre a melhor possível do ponto de vista estrutural. No caso da percepção visual, explica Rudolf Arnheim (1980), os psicólogos da Gestalt com suas pesquisas lograram estabelecer uma lei básica: “qualquer padrão de estímulo tende a ser visto de tal modo que a estrutura resultante é tão simples quanto as condições dadas permitem” (p. 47). É dizer que as interações dentro do campo visual são controladas pela lei da simplicidade, segundo a qual as forças perceptivas que constituem tal campo organizam- se nos padrões mais simples, mais regulares e mais simétricos possíveis. Experiência passada Todos estes fatores são considerados fatores autônomos, não apreendidos, expressão dos princípios estruturais relacionados ao sistema perceptivo. Mas, a Gestalt também estudou o que se relaciona ao fator empírico. Segundo explica Kanizsa, Wertheimer demonstrou, com as suas experiências, que em igualdade de condições a percepção do espaço se dará também em função de nossas experiências passadas. Desta maneira, será favorecida a constituição de objetos com os quais temos familiaridade, que já tivermos visto, antes que formas desconhecidas ou pouco familiares. No caso dos jornais é de grande significação esses cuidados no que se refere na identidade gráfica. Os leitores tendem a reconhecer com maior facilidade aqueles jornais que mantém uma estrutura gráfica padrão. Alguns autores, como Mario García (1984), definem esse fato como personalidade gráfica, é dizer, o jornal se parece com ele mesmo. Nesta padronização a primeira página é a que tem maior peso, para que o leitor identifique imediatamente o jornal. A continuidade e ilação da primeira página derivam-se de elementos
  • 7. gráficos, como o cabeçalho e outros elementos fixos como o sumário (p. 50). A primeira página não só indica o estilo do jornal. É sua apresentação. Esse mesmo princípio de continuidade, aplica-se a elementos como filetes, legendas, tipos, formato de colunas, etc. (p. 74). SINTAXE VISUAL Se existe uma comunicação visual, onde códigos ou elementos visuais podem ser organizados para levar uma determinada mensagem compreensível para todos os membros de um grupo, pode-se assegurar que existe uma alfabetidade visual, que implica em semântica e sintaxe visuais. No estudo da linguagem escrita, a semântica refere-se à “ciência da linguagem que tem por objeto o estudo do sentido de que são portadoras as formas lingüísticas. (...) ao estudo da significação das palavras se junta a preocupação com a análise da interação de significados no plano sintagmático ou combinatório, e não só se tenta explicitar o mecanismo de interpretação de frases, como estabelecer as suas relações com a realidade ou coisas da realidade que significam” (Enciclopédia Mirador Internacional, 1975, p. 10312). Por sua vez, a sintaxe tem relação com limites construtivos, a ordem que devem ter estas formas lingüísticas, para que tenham um significado para uma determinada estrutura social. Em outras palavras, é “a parte da gramática que ensina a dispor as palavras para formar as orações, as orações para formar os períodos e parágrafos, e estes para formar o discurso” ( Dicionário Melhoramentos, 1992, p. 480). Na comunicação visual também existem elementos, básicos como o ponto, a linha, a cor, ou mais complexos como formas diversas, textos, ilustrações, títulos, etc. que são organizados de acordo com determinados parâmetros, que podem ser apreendidos, e que têm significados para o grupo social onde são desenvolvidos. Nesse sentido, fundamentando-se nos estudos científicos da Gestalt sobre a percepção visual e nos trabalhos de alguns estudiosos como o psicólogo Rudolf Arnheim, Donis Dondis tenta elaborar uma teoria geral, que explique a elaboração de uma sintaxe visual da forma. Para Dondis, (1995, pp. 24-29) há uma sintaxe visual, já que existem: - linhas gerais para a criação de composições, que têm seu embasamento nos princípios perceptivos,
  • 8. - elementos visuais básicos que podem ser aprendidos e compreendidos - técnicas visuais, para a criação de mensagem claras e que podem ser usados, em conjunto com os elementos visuais. Estas três áreas são as que fundamentam a busca da alfabetidade visual. Linhas gerais de composição O processo de composição é o passo mais importante na solução dos problemas visuais. A disposição ordenada de partes dentro da área gráfica, em nosso caso a página impressa, é o que podemos chamar de sintaxe visual. Ainda que não existam regras absolutas para abordar o processo de composição, há certo grau de compreensão do que acontecerá em termos de significados se colocamos as partes de determinada maneira, segundo algumas técnicas, que podem ser apreendidas e aplicadas com certa criatividade. Muitos dos critérios que permitem a compreensão do potencial sintático da estrutura na alfabetidade visual são dados pelos estudos da percepção. No caso dos fatores que afetam a percepção visual, além dos estudados pela Gestalt, (pregnância, atração e agrupamento), poder-se-ia falar da predileção pelo equilíbrio e as tensões que gera a falta deste, como fatores compositivos que podemos utilizar sintaticamente na busca da alfabetidade visual. Segundo Dondis o equilíbrio é a referência visual mais forte e firme do homem, sua base consciente e inconsciente para fazer avaliações visuais. Ao lado desta opção visual, onde prevalece a regularidade e a simplicidade, encontra-se outra, a tensão, cuja característica principal é a variação complexa e inesperada. O fator de tensão se apresenta ante o irregular, o complexo, o instável. Tanto para o emissor quanto para o receptor a falta de equilíbrio e regularidade é um fator de desorientação. A tensão gerada pelo desequilíbrio é o meio visual mais efetivo para criar um efeito em resposta ao objetivo da mensagem. Dito efeito tem a capacidade de transmitir a informação visual. Elementos básicos da sintaxe gráfica Na busca da alfabetidade visual, além das linhas gerais para a criação de composições, Donis Dondis (1995) afirma que é preciso conhecer quais são os elementos básicos que podem ser utilizados para criar mensagens visuais. O ponto, a linha, o contorno, a direção, o tom, a cor, a textura, a dimensão a escala e o movimento constituem a matéria-prima de toda informação visual.
  • 9. Outro elemento a levar em conta, refere-se ao que Germani-Fabris (1973) chama de espaço-formato. O espaço é o marco no que se objetivam os signos, por cuja razão possui a capacidade de contê-los. Quando o espaço se limita se converte em formato. Trata-se de um espaço determinado por medidas, que é o suporte onde serão distribuídos os demais elementos gráficos. No caso dos jornais, este espaço seria a página impressa (pp. 60-62). O espaço-formato possui várias zonas úteis para a composição, e que estão relacionadas com os hábitos de leitura, no caso da civilização ocidental, da esquerda à direita e de cima para baixo. Outros autores, como Silva (1985), indicam que o método de leitura aprendido no ocidente obriga, além dos dois movimentos anteriormente mencionados, a um terceiro movimento, que é resultante dos outros dois. A vista vai da parte superior esquerda à parte inferior direita. Técnicas gráficas Junto aos elementos visuais existem técnicas que permitem a criação de uma mensagem visual clara. As técnicas da comunicação visual manipulam os elementos visuais e dão forma à mensagem. A técnica visual mais dinâmica é o contraste, que se contrapõe à técnica oposta, a harmonia. Estas técnicas não só se aplicam nos extremos, pelo contrário, seu uso se expande em sutil gradação entre ambos pontos. Referindo-se aos jornais, Mario García (1984), indica que o mais importante, além de conhecer e aplicar as técnicas gráficas no desenho das páginas, é ter uma idéia previa de como irá cada um dos elementos, onde se vai colocar e que efeito terá no aspeto geral da página. O desenho da página significa a harmonização dos seus elementos para lograr um impacto gráfico e uma leitura fácil. Isto requer uma combinação adequada de tipografia, fotografia e espaços brancos. (p. 57). É nesse ponto que temos de levar em conta algumas noções sobre visibilidade e legibilidade nos jornais. SEMÂNTICA E SINTAXE GRÁFICA NOS JORNAIS A organização das unidades informativas em uma página de jornal, ou layout, não pode ser uma tarefa deixada ao acaso. Ela deve responder a uma pauta de edição jornalística baseada nos princípios de visibilidade e legibilidade, de acordo com o manual de estilo do jornal.
  • 10. Os elementos básicos deste desenho são critérios em relação ao espaço-formato, número e tamanho das colunas, fio, tipografia, cor, diagramação e elementos iconográficos (semântica gráfica). O Projeto Gráfico é uma questão conceptual que tem um embasamento teórico. Quando enfrentamos um diagrama em branco se faz presente um acumulado de conhecimentos que nos permite hierarquizar e colocar adequadamente cada unidade informativa (sintaxe gráfica) e aproveitar ao máximo todos os elementos que a compõem (texto, título, olhos, intertítulos, fotografias, gráficas e infográficas, entre outros). Em linhas gerais, na parte gráfica todas as regras gerais de composição, elementos e técnicas gráficas podem ser aplicadas. A combinação de uma formação jornalística, que desperta e internaliza o sentido do “noticioso”, juntamente com a aplicação das técnicas gráficas, como contraste e harmonia, o equilíbrio e a tensão ótica, é a base fundamental para um adequado trabalho de diagramação jornalística, não obstante a existência de outros elementos e técnicas mais diretamente relacionadas com o projeto gráfico do jornal, que devem ser observadas. Entre eles os tipos de formato (número de colunas, retrancas gráficas, tipos de diagramação, alinhamento dos textos, tipologia), os chamados elementos morfológicos (primários e secundários), e os gêneros jornalísticos, cujas caraterísticas têm grande influência na apresentação gráfica. A utilização de novos formatos e mais especificamente de novos elementos gráficos está intimamente relacionado com o desenvolvimento tecnológico. Além dos elementos tradicionalmente considerados, como texto, títulos e ilustrações, o desenvolvimento de novas tecnologias de edição e produção têm facilitado a utilização de novos elementos que anteriormente eram quase impossíveis de serem usados, como retículas, janelas, cor e infografias. A valorização da imagem é cada vez maior, não só porque ela permite a transmissão de algumas informações com maior facilidade que o texto só, mas também pela facilidade de produção, através dos modernos programas de editoração. As técnicas informatizadas tornam possível a produção potencial quase infinita de imagens, sem que nenhuma delas exista como tal. E aqui onde reside a novidade. Dentro desta realidade se começa a falar de jornalismo iconográfico. Um exemplo são os infográficos coloridos, do tamanho da página do jornal.
  • 11. Para o especialista Gonzalo Peltzer (1992) as mensagens jornalísticas visuais não são novas. Sempre existiu uma quantidade de notícias, histórias e artigos que precisaram ser publicadas de um modo visual. A informação gráfica apareceu na imprensa praticamente com os primeiros jornais, mas sempre foi considerada como simples complemento da informação textual, do que como informação em si mesma. É a partir da utilização dos computadores nos mídia, nos anos 80, que se pode falar de uma verdadeira revolução gráfica nos meios de comunicação. As imagens (fotográficas ou desenhos) adquirem no jornalismo da atualidade cada vez maior importância, e ganham cada dia maior espaço nos jornais. Junto a elas, os textos e títulos constituem os elementos principais que dão forma á página. São os chamados elementos morfológicos principais. Além destes devem ser considerados outros, presentes nas páginas dos jornais brasileiros, alguns tradicionalmente utilizados e outros gerados a partir da utilização de novos recursos gráficos, tais como as janelas. Entre eles: chapéu, sobretítulo, créditos, olho, fios, box, logotipos, vinhetas, epígrafe, selos, selo-texto, arte- texto. Por outro lado, Peltzer (1992) como mencionamos anteriormente, diferencia as fotografias das imagens ou desenhos realizados pelo homem, o que chamou de iconográficas. A fotografia representa a realidade, em contrapartida, a linguagem iconografica tende a abstração, já que busca a realidade em códigos universais. Ele divide o que chama de gêneros ou códigos visuais jornalísticos em sete grupos: gráficos, infográficos, mapas, símbolos, ilustrações, comics e iconografia animada (p. 125). Dentro deles vamos dar especial importância ao que pode ser considerado um gênero jornalístico visual, devido a suas caraterísticas: os chamados infográficos ou infografias. INFOGRÁFICOS: O GÊNERO VISUAL Apesar de a força dos fatos estar a impor em todo o mundo o nome genérico de infografia a toda mensagem iconografica, parece mais adequado utilizar este para designar formas concretas de veicular a mensagem visual. Assim só pode-se considerar infográficos a quot;expressões gráficas, mais ou menos complexas, de informações cujo conteúdo são fatos ou acontecimentos, a explicação de como algo funciona, ou a informação de como é uma coisaquot;. Os infográficos podem ser um desenho essencialmente explicito, em que todos os elementos reais estão postos exatamente no seu sitio, acompanhado por legendas e números explicativos. Mas também pode ser a representação gráfica de uma superfície de
  • 12. um terreno ou da planta de um campamento ou praça, a vista do interior de um corpo, a representação dos objetos em três dimensões, vista de um panorama, etc. (Peltzer , p. 125- 133). Os mais utilizados nos jornais brasileiros, e de América Latina em geral, são os chamados gráficos informativos, onde fotografia, desenhos, tabelas, gráficos e cor junto a título e legendas misturam-se para dar passo ao novo elemento jornalístico. Ao conceito utilizado por Peltzer é preciso agregar o uso dos programas de edição gráfica e o fato de ser informação jornalística, com o que poderíamos chegar a uma outra noção de infográficos: informação jornalística traduzida a uma linguagem gráfica, mediante a utilização de programas de edição e tratamento de imagens, que permite ao receptor captar visualmente a essência de cada mensagem. É importante ressaltar que os infográficos não nasceram a partir do uso de computadores nas redações. Eles existem praticamente desde que o homem começou a comunicar-se a través de desenhos, junto com a escritura. Nos jornais ele também não é um elemento novo. Mas, é só a partir da informatização das empresas jornalísticas que os infográficos lograram o desenvolvimento que têm atualmente. Foi a partir dos anos 90 que os infográficos começaram ocupar um lugar importante dentro das páginas de jornais e começou-se falar da existência de um novo gênero jornalístico. O que nos faz pensar nos infográficos como um gênero visual é o fato de que a informação literária por eles contida permite localizar o acontecimento no tempo e no espaço, assim como responder as clássicas perguntas que, como, onde, quem, quando e por quê. Por isso, a diferencia de qualquer outra ilustração, eles são uma unidade informativa total e independente. Eles devem ter a suficiente informação que permita compreender um fato, por ele mesmo, sem necessitar de outros suportes literários ou textuais, fora de seus limites gráficos. Contudo, estas características têm que estar acompanhadas de simplicidade, sem perder a qualidade. Os infográficos devem ser claros, simples de entender e rápidos de ler. Do contrário eles perdem sua principal função: informar visualmente. Em geral, os infográficos, além de ser a parte visual das matérias jornalísticas, expressam o que muitas vezes não podem mostrar as fotografias e o próprio texto. Temas como globalização, clonagem, bolsa de valores e copa do mundo são a principal inspiração para a criação de infográficos nas redações dos jornais. A informatização dos jornais, a utilização de infográficos, junto com outros elementos tais como selos, retículas, gráficos e desenhos em geral, têm tido uma influência
  • 13. decisiva no surgimento de equipes de especialistas gráficos, dentro das redações. Jornais como O Dia, do Brasil e El Clarín, da Argentina contam com um editor de infografia e ilustração, que acompanha repórteres e fotógrafos no seu trabalho diário, assim como um arquivo de infográficos. Outros, como a Folha de São Paulo, encontram-se formando e treinando na sua redação uma equipe de design, para melhorar a apresentação gráfica do jornal. Poder-se-ia falar de uma revolução tecnológica e conceptual que está acontecendo nas redações dos principais jornais do mundo, e da América Latina em particular, onde a partir do uso de novas tecnologias e do desenvolvimento de conceitos gráficos, ligados ao jornalismo, tem mudado não só a apresentação, mas a estrutura e funcionamento dos jornais. A existência de diretorias gráficas ou infográficas, arquivos de infografias e imagens e assessores gráficos internacionais são um reflexo direto desse fenômeno.
  • 14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - ARNHEIM, Rudolf. Arte & percepção visual. Uma psicologia da visão criadora. São Paulo, Pionera, 1980. - BRAJNOVIC, Luka. Tecnología de la información. Pamplona, Universidade de Navarra, 1979. - COLLARO, Antônio Celso. Projeto gráfico. Teoria e prática da doagramação. São Paulo, Summus, 1987. - DICIONÁRIO MELHORAMENTOS. São Paulo, Melhoramentos de São Paulo, 1992. - DINES, Alberto. O papel do jornal. Rio de Janeiro, Artenova, 1974. - DONDIS, Donis. La sintaxis de la imagen: introducción al alfabeto visual. Barcelona, Gustavo Gili, 1995. - ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. São Paulo, Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1975. - ERBOLATO, Mário. Dicionário de propaganda e jornalismo. Campinas, Papirus, 1985. - ERBOLATO, Mário. Jornalismo gráfico: técnicas de produção. São Paulo, Loyola, 1981. - FABRIS, Germani. Fundamentos del proyecto gráfico. Barcelona, Don Bosco, 1973. - FOLHA DE S. PAULO. Manual de uso do projeto gráfico. São Paulo, Folha de S. Paulo, 1996. - FONSECA, Joaquim de. Comunicação visual. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1990. - FRACCAROLI, Caetano. A percepção da forma e sua relação com o fenômeno artístico. São Paulo, FAU-USP, 1982.
  • 15. - GARCÍA, Mario. Diseño y remodelación de periódicos, nuevas fórmulas para las nuevas técnicas. Pamplona, Universidade de Navarra, 1984. - GARGUREVICH, Juan. Géneros periodísticos. Quito, Belén, 1982. - GIBSON, James J. La percepción del mundo visual. Buenos Aires, Infinito, 1974. - KANIZSA, Caetano. Gramática de la visión, percepción y pensamiento. Barcelona, Paidós, 1986. - KAYSER, Jacques. El periódico: estudios de morfología, de metodología y de prensa comparada. Quito, CIESPAL, 1966. - LOPES, Marcelo J. Abreu. Paradigmas da edição gráfica no Brasil. Trabalho de conclusão de curso-TCC, São Paulo, ECA-USP, 1995. - MARQUES DE MELO, José. Gêneros jornalísticos na Folha de S. Paulo. São Paulo, FTD, 1992. - MENGARDO, Valdir. O olhar domesticado: um estudo sobre o discurso gráfico da imprensa. Dissertação de mestrado. São Paulo, ECA-USP, 1988. - PELTZER, Gonzalo. Jornalismo iconográfico. Lisboa, Planeta, 1992. - SILVA, Rafael. Diagramação: o planejamento visual gráfico na comunicação impressa. São Paulo, Summus, 1985. - SILVER, Gerald A. graphic layout and design. Nova Iorque, Litton Educational, 1981. - SOBRINHO, José Coelho. Legibilidade dos tipos na comunicação impressa. São Paulo, IPCJE-ECA-USP, 1987.