SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 5
Descargar para leer sin conexión
Texto ESQUERDA_DESALINHADA



Ensinamentos do Prof. Cavaco e de Dom Policarpo sobre divórcio e
casamento

As crises económicas geram dois efeitos. Por um lado, aguçam a
criatividade dos pobres e dos que trabalham para vencer as
dificuldades; em contrapartida, espevitam os neurónios e soltam o
verbo dos reaccionários mais convencidos e fossilizados. Neste último
contexto, ouvimos recentemente o bem casado Cavaco opinar sobre
divórcio e o celibatário Dom Policarpo a falar de casamento.

Cavaco e o divórcio

Cavaco, no seu linguajar rouco e titubeante que mais parece o de um
tatebitate, voltou a verberar contra a lei do divórcio que, no entanto
promulgou. E disse-o, calculista, perante uma audiência escolhida por
nela, eventualmente preponderarem elementos próximos do pacóvio
catolicismo luso.

Disse a veneranda figura do presidente da (cleptocrática) república
que a recente lei do divórcio, com o seu presumido facilitismo, está a
contribuir para o aumento da miséria, uma vez que fragiliza a situação
económica dos divorciados. À falta de outros dados, referimos que no
inventário dos superendividados da Deco só 15% corresponde a
divorciados.

Não nos comove a preocupação do mago das finanças pelos pobres,
porque nos lembramos da sua actuação como primeiro-ministro,
quando desbaratou os fundos comunitários, favoreceu os ricos com as
nacionalizações e como incentivou a escola dos novos-ricos que,
agora, vão saltitando, diariamente nas páginas dos jornais clamando
por uma honorabilidade em que só os tansos acreditam.

O brilhante economista dos mercados sabe que existe uma crise
económica e que esta gera desemprego, precariedade (ele até
conhece as estatísticas!) mas, talvez não saiba quantificar a
instabilidade emocional, o desgaste psicológico dos milhões de
portugueses que andam por aí, mesmo que empregados.

Como lhe ensinaram que o casamento é um sacramento, custa-lhe
perceber que, como todos os contratos, possa ser tão duradouro
quanto o queiram as partes; e talvez não compreenda que amar e
deixar de amar são inerências da natureza humana. Nos manuais de
economia não aprendeu que pode haver mais leviandade na
concretização de um casamento ou união de facto, (que hoje se
equiparam) do que no divórcio ou separação de um casal. Estas
separações, por serem normalmente marcadas por pesados custos
emocionais e materiais são objecto de uma ponderação muito maior
que a união de duas pessoas sob um mesmo tecto.

Por detrás do seu sorriso de benevolente superioridade, acreditará
Cavaco que uma família desconhece os impactos económicos
decorrentes de um divórcio, no seu tipo de vida e bem-estar? Qualquer
casal conhece esses impactos, independentemente da conjuntura
económica; e conhece-os muito melhor que o professor Aníbal que é
casado com a Dona Maria há décadas!

As pessoas quando decidem divorciar-se fazem aquilo que Cavaco
bem conhece, uma análise custo-benefício, ainda que sem o recurso a
modelos matemáticos ou programas informáticos. Entre esses custos
está, sem dúvida, uma perda de bem-estar e nível de vida, a alteração
de uma matriz de relações familiares e afectivas; e nos benefícios
englobam-se (e não é pouco) a finalização de uma vida de desgaste
psicológico ou violência, o poupar dos filhos a essa situação ou, o início
de uma nova vida com outro(a) parceiro(a).

Dificultar legalmente o divórcio, como defende o ilustre catedrático na
reforma, tem vários significados e consequências, que o magno lente,
do alto da sua suprema magistratura não quer atender, condicionado
pelo seu atávico conservadorismo:

•   É uma ingerência do Estado na vida particular das pessoas, como se
    estas fossem incompetentes para gerir a sua própria vida,
    necessitando de minuciosas leis ou, de uma obrigatória tutela judicial
    ou burocrática;
•   Representa uma dificuldade na reconstituição da vida afectiva de
    cada um;
•   Pode representar o arrastar de situações de extremo mau-estar para
    as famílias onde tenderão a verificar-se frequentes discussões,
    agressões e crimes, muitas vezes com impactos irreparáveis nos filhos;
•   Constituiria uma dificuldade acrescida às triviais situações de baixos
    salários, precariedade de emprego ou ausência do mesmo, quer do
    ponto de vista emocional, quer do ponto de vista material pois a
    burocracia e os advogados não são gratuitos.

E se as pessoas se separarem, de facto, sem a formalização de um
divórcio a situação não ficará obrigatoriamente mais facilitada. Mesmo
uma acção subsequente do divórcio, como a partilha de bens, pode
arrastar-se indefinidamente nas mãos de um tribunal sonolento ou de
juizes insensíveis, para além de que em nada a lei garante uma
igualdade de direitos aos divorciados, permitindo, objectivamente, uma
posição dominante a um deles, mormente a quem detiver maior poder
económico ou tiver ficado a viver na habitação do casal. Aí, sim,
Cavaco poderia pressionar os legisladores.

Aliás, o fecundo pensamento cavaquiano não terá alcançado que
uma complicação na potencial obtenção de divórcio constituirá um
incentivo para as uniões de facto, cuja figura não colherá, decerto, o
agrado do PR e do estagnado pensamento emanado da multinacional
vaticana.


Ainda dentro da lógica cavaquiana, se o divórcio deve ser combatido
para obviar a situações de miséria, a actuação pro-activa consistirá em
fomentar os casamentos. No âmbito dessa vulgata economicista o
casamento seria uma forma de, através da união de rendimentos e
bens, serem aproveitadas as sinergias e ser aumentada a produtividade
de casas, fogões e camas, com o aumento dos seus utilizadores. Melhor
ainda até seria estimular casamentos colectivos, adoptar a poligamia
ou a poliandria para que a produtividade dos equipamentos
habitacionais explodisse e colocasse Portugal em lugares de vanguarda
nas estatísticas do Eurostat!

Como Cavaco se escusa a falar sobre o caso Freeport porque é um
“assunto de Estado” (que será essa coisa, para além de uma defesa
para os negócios dos poderosos?) melhor seria entreter-se com esses
assuntos e deixar a vida das pessoas reais em paz, sem emitir opiniões
que ninguém lhe encomendou.

Dom Policarpo e o casamento

A Dom Policarpo, alto quadro do “offshore” Vaticano, aconteceu-lhe
num jantar de tertulianos o mesmo que ao Mário Lino no almoço da
Ordem dos Economistas: um acesso de incontinência verbal.

O prelado virou-se “prolado” para que estava virado e lá disse o
politicamente incorrecto, mais ou menos nestes termos: “Meninas,
quando pensarem em casar com um muçulmano pensem bem no que
vão fazer pois podem arranjar sarilhos que nem Allah as salva”. A coisa
parece descabida pois o número de muçulmanos em Portugal não é
grande (30/35000, 0,3% da população) e depois, porque o cardeal teria
em mente situações reais mas, muito pontuais.

Todos sabemos que nas sociedades maioritariamente muçulmanas (e
não é preciso que vigore a “sharia”) a situação das mulheres não lhes é
nada favorável e é equivalente aquela que as mulheres europeias
viveram durante muitos séculos sob o patrocínio da Igreja Católica e da
sua concorrência de raiz cristã. E para que a situação mude, as
mulheres muçulmanas precisam de um desenvolvimento económico
que lhes abra as portas ao trabalho fora de casa e de um menor apoio
ocidental aos regimes autoritários que as regem.

Só que Dom Policarpo não tem autoridade moral para falar dos direitos
das mulheres. As liberdades individuais que as mulheres europeias, por
exemplo, hoje detêm, foram objecto de uma luta secular que se
acelerou depois da Segunda Guerra, com o emprego generalizado fora
de casa, a pílula e o acesso à educação. E nessa luta, a Igreja Católica,
em geral e a portuguesa em particular, só estiveram presentes do outro
lado da barricada, contra todas as manifestações de emancipação
das mulheres. E ainda hoje, a Igraja Católica não aceita o divórcio (que
existe legalmente nos países islâmicos), a contracepção, a IVG, as
relações pré-matrimoniais, a masturbação, o sacerdócio das mulheres…

Aliás, o Cristianismo na sua base mais profunda que é a Bíblia considera
a mulher como uma emanação de uma costela do homem, frisando
assim o seu papel subalterno e, (apetece parodiar) fruto da
benevolência divina perante um reivindicativo Adão, cansado de
perseguir as peludas macacas… Se Dom Policarpo tivesse vivido antes
do século XVIII defenderia afincadamente que a mulher não tinha alma
(o que quer que isso seja, para homens ou mulheres) e enviaria para a
fogueira quem o contrariasse.

Recordemo-nos que em Pequim, na Conferência Mundial sobre a
Mulher (1995) se assistiu a uma clara convergência do Vaticano com os
ayatollas, contra os direitos das mulheres. Até por isso, Dom Policarpo
mais valia ter ficado calado quanto a opiniões sobre os islâmicos,
sobretudo quando o Vaticano sempre ambicionou ser reconhecido
como o grande líder nas conferências ecuménicas.

Bem, voltando atrás, o papel das mulheres nas sociedades islâmicas
não é invejável. E na maioria dos outros países? Na África não islâmica
as mulheres são também objecto de um machismo exacerbado, como
na América Latina, na Índia, na Ásia oriental. O problema é que Dom
Policarpo se inscreve na histeria anti-islâmica alimentada pela
administração Bush e na senda estratégica definida por Huntington.

Que um casamento é acto que merece ponderação, qualquer que
seja a convicção religiosa dos pretendentes a esse acto, toda a gente
sabe. Até a ancestral sabedoria popular sintetizou esse concelho de
prudência com um “antes que cases, vê o que fazes”. Dispensam-se,
pois os conselhos de Dom Policarpo e da instituição em que se
enquadra.

WWW.ESQUERDA_DESALINHADA.BLOGS.SAPO.PT
4/2/2009
Ensinamentos do prof. cavaco e de dom policarpo sobre divórcio e casamento

Más contenido relacionado

Destacado

Dp privatização
Dp   privatizaçãoDp   privatização
Dp privatizaçãoCaso Celpe
 
A obra suja do passos
A obra suja do passosA obra suja do passos
A obra suja do passosGRAZIA TANTA
 
Capitalismo hoje. caracterização, crises e eixos estratégicos
Capitalismo hoje. caracterização, crises e eixos estratégicosCapitalismo hoje. caracterização, crises e eixos estratégicos
Capitalismo hoje. caracterização, crises e eixos estratégicosGRAZIA TANTA
 
A N I M A L E S E N V I A D E E X T I N C I O N
A N I M A L E S  E N  V I A  D E  E X T I N C I O NA N I M A L E S  E N  V I A  D E  E X T I N C I O N
A N I M A L E S E N V I A D E E X T I N C I O Nalvarojmazorra
 
O pequeno principe_antoine_de_saint_exupery_ebookswide
O pequeno principe_antoine_de_saint_exupery_ebookswideO pequeno principe_antoine_de_saint_exupery_ebookswide
O pequeno principe_antoine_de_saint_exupery_ebookswidesilvinha331
 

Destacado (6)

Dp privatização
Dp   privatizaçãoDp   privatização
Dp privatização
 
A obra suja do passos
A obra suja do passosA obra suja do passos
A obra suja do passos
 
Capitalismo hoje. caracterização, crises e eixos estratégicos
Capitalismo hoje. caracterização, crises e eixos estratégicosCapitalismo hoje. caracterização, crises e eixos estratégicos
Capitalismo hoje. caracterização, crises e eixos estratégicos
 
Cas2 Pesquera Gil
Cas2 Pesquera GilCas2 Pesquera Gil
Cas2 Pesquera Gil
 
A N I M A L E S E N V I A D E E X T I N C I O N
A N I M A L E S  E N  V I A  D E  E X T I N C I O NA N I M A L E S  E N  V I A  D E  E X T I N C I O N
A N I M A L E S E N V I A D E E X T I N C I O N
 
O pequeno principe_antoine_de_saint_exupery_ebookswide
O pequeno principe_antoine_de_saint_exupery_ebookswideO pequeno principe_antoine_de_saint_exupery_ebookswide
O pequeno principe_antoine_de_saint_exupery_ebookswide
 

Similar a Ensinamentos do prof. cavaco e de dom policarpo sobre divórcio e casamento

Inevitabilidade e necessidade de um governo mundial
Inevitabilidade e necessidade de um governo mundialInevitabilidade e necessidade de um governo mundial
Inevitabilidade e necessidade de um governo mundialPr. Jorge Braz
 
Desencarnes coletivos
Desencarnes coletivosDesencarnes coletivos
Desencarnes coletivosHelio Cruz
 
Carta para joseph bloch engels
Carta para joseph bloch   engelsCarta para joseph bloch   engels
Carta para joseph bloch engelsUJS_Maringa
 
Carta a Salazar, por D. António Ferreira Gomes
Carta a Salazar, por D. António Ferreira GomesCarta a Salazar, por D. António Ferreira Gomes
Carta a Salazar, por D. António Ferreira GomesFada Luna
 
A ascensão economica
A ascensão economicaA ascensão economica
A ascensão economicaboasnovassena
 
Onipresente do estado-O Império Onipresente do Estado – CÆSAR REDIVIVUS – Car...
Onipresente do estado-O Império Onipresente do Estado – CÆSAR REDIVIVUS – Car...Onipresente do estado-O Império Onipresente do Estado – CÆSAR REDIVIVUS – Car...
Onipresente do estado-O Império Onipresente do Estado – CÆSAR REDIVIVUS – Car...ELIAS OMEGA
 
A pulsão genocida da burguesia portuguesa. a actuação da máfia socratóide
A pulsão genocida da burguesia portuguesa. a actuação da máfia socratóideA pulsão genocida da burguesia portuguesa. a actuação da máfia socratóide
A pulsão genocida da burguesia portuguesa. a actuação da máfia socratóideGRAZIA TANTA
 
Ai módulo .5 estrutura_familiar_dinâmica_social
Ai  módulo .5 estrutura_familiar_dinâmica_socialAi  módulo .5 estrutura_familiar_dinâmica_social
Ai módulo .5 estrutura_familiar_dinâmica_socialteresagoncalves
 
Babilônia a urgência de desvencilhar-nos das amarras do sistema capitalista
Babilônia    a urgência de desvencilhar-nos das amarras do sistema capitalistaBabilônia    a urgência de desvencilhar-nos das amarras do sistema capitalista
Babilônia a urgência de desvencilhar-nos das amarras do sistema capitalistapoeta2014
 
Lembras-te de Mohammed Bouazizi ?
Lembras-te de Mohammed Bouazizi ?Lembras-te de Mohammed Bouazizi ?
Lembras-te de Mohammed Bouazizi ?GRAZIA TANTA
 
Novo_Livro_Prof_Sousa_Lara-63555972 (1).docx
Novo_Livro_Prof_Sousa_Lara-63555972 (1).docxNovo_Livro_Prof_Sousa_Lara-63555972 (1).docx
Novo_Livro_Prof_Sousa_Lara-63555972 (1).docxEduardoNeto70
 
Contributo dia mundial da paz 2014 reflexão conjunta
Contributo dia mundial da paz 2014   reflexão conjuntaContributo dia mundial da paz 2014   reflexão conjunta
Contributo dia mundial da paz 2014 reflexão conjuntaCdjp Aveiro
 
Jb news informativo nr. 0375
Jb news   informativo nr. 0375Jb news   informativo nr. 0375
Jb news informativo nr. 0375JB News
 
Discurso de Filinto Bastos no Clube Abolicionista de Recife
Discurso de Filinto Bastos no Clube Abolicionista de RecifeDiscurso de Filinto Bastos no Clube Abolicionista de Recife
Discurso de Filinto Bastos no Clube Abolicionista de RecifeFeirenses
 

Similar a Ensinamentos do prof. cavaco e de dom policarpo sobre divórcio e casamento (20)

Inevitabilidade e necessidade de um governo mundial
Inevitabilidade e necessidade de um governo mundialInevitabilidade e necessidade de um governo mundial
Inevitabilidade e necessidade de um governo mundial
 
Desencarnes coletivos
Desencarnes coletivosDesencarnes coletivos
Desencarnes coletivos
 
Carta para joseph bloch engels
Carta para joseph bloch   engelsCarta para joseph bloch   engels
Carta para joseph bloch engels
 
Carta a Salazar, por D. António Ferreira Gomes
Carta a Salazar, por D. António Ferreira GomesCarta a Salazar, por D. António Ferreira Gomes
Carta a Salazar, por D. António Ferreira Gomes
 
A ascensão economica
A ascensão economicaA ascensão economica
A ascensão economica
 
Onipresente do estado-O Império Onipresente do Estado – CÆSAR REDIVIVUS – Car...
Onipresente do estado-O Império Onipresente do Estado – CÆSAR REDIVIVUS – Car...Onipresente do estado-O Império Onipresente do Estado – CÆSAR REDIVIVUS – Car...
Onipresente do estado-O Império Onipresente do Estado – CÆSAR REDIVIVUS – Car...
 
A pulsão genocida da burguesia portuguesa. a actuação da máfia socratóide
A pulsão genocida da burguesia portuguesa. a actuação da máfia socratóideA pulsão genocida da burguesia portuguesa. a actuação da máfia socratóide
A pulsão genocida da burguesia portuguesa. a actuação da máfia socratóide
 
Ai módulo .5 estrutura_familiar_dinâmica_social
Ai  módulo .5 estrutura_familiar_dinâmica_socialAi  módulo .5 estrutura_familiar_dinâmica_social
Ai módulo .5 estrutura_familiar_dinâmica_social
 
Babilônia a urgência de desvencilhar-nos das amarras do sistema capitalista
Babilônia    a urgência de desvencilhar-nos das amarras do sistema capitalistaBabilônia    a urgência de desvencilhar-nos das amarras do sistema capitalista
Babilônia a urgência de desvencilhar-nos das amarras do sistema capitalista
 
O eclipse da razão no brasil
O eclipse da razão no brasilO eclipse da razão no brasil
O eclipse da razão no brasil
 
Lembras-te de Mohammed Bouazizi ?
Lembras-te de Mohammed Bouazizi ?Lembras-te de Mohammed Bouazizi ?
Lembras-te de Mohammed Bouazizi ?
 
Novo_Livro_Prof_Sousa_Lara-63555972 (1).docx
Novo_Livro_Prof_Sousa_Lara-63555972 (1).docxNovo_Livro_Prof_Sousa_Lara-63555972 (1).docx
Novo_Livro_Prof_Sousa_Lara-63555972 (1).docx
 
605 an 31 janeiro_2017.ok
605 an 31 janeiro_2017.ok605 an 31 janeiro_2017.ok
605 an 31 janeiro_2017.ok
 
Contributo dia mundial da paz 2014 reflexão conjunta
Contributo dia mundial da paz 2014   reflexão conjuntaContributo dia mundial da paz 2014   reflexão conjunta
Contributo dia mundial da paz 2014 reflexão conjunta
 
Pertença à OFS
Pertença à OFSPertença à OFS
Pertença à OFS
 
Pertença à OFS
Pertença à OFSPertença à OFS
Pertença à OFS
 
Jornal 2-
Jornal  2-Jornal  2-
Jornal 2-
 
Jb news informativo nr. 0375
Jb news   informativo nr. 0375Jb news   informativo nr. 0375
Jb news informativo nr. 0375
 
Discurso de Filinto Bastos no Clube Abolicionista de Recife
Discurso de Filinto Bastos no Clube Abolicionista de RecifeDiscurso de Filinto Bastos no Clube Abolicionista de Recife
Discurso de Filinto Bastos no Clube Abolicionista de Recife
 
Protesto1911
Protesto1911Protesto1911
Protesto1911
 

Más de GRAZIA TANTA

Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfUcrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfGRAZIA TANTA
 
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docAs desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docGRAZIA TANTA
 
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfBalofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfGRAZIA TANTA
 
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfAs balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfGRAZIA TANTA
 
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfUnião Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfGRAZIA TANTA
 
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaAs desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaGRAZIA TANTA
 
A BideNato flight over
A BideNato flight overA BideNato flight over
A BideNato flight overGRAZIA TANTA
 
Um sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfUm sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfGRAZIA TANTA
 
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfNATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfGRAZIA TANTA
 
USA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfUSA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfGRAZIA TANTA
 
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfEUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfGRAZIA TANTA
 
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfA NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfGRAZIA TANTA
 
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UENato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UEGRAZIA TANTA
 
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxiGRAZIA TANTA
 
Speculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUSpeculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUGRAZIA TANTA
 
Eleições em portugal o assalto à marmita
Eleições em portugal   o assalto à marmitaEleições em portugal   o assalto à marmita
Eleições em portugal o assalto à marmitaGRAZIA TANTA
 
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueOs especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueGRAZIA TANTA
 
Human beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemHuman beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemGRAZIA TANTA
 
Seres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroSeres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroGRAZIA TANTA
 
Textos de circunstância - 10
Textos de circunstância  - 10Textos de circunstância  - 10
Textos de circunstância - 10GRAZIA TANTA
 

Más de GRAZIA TANTA (20)

Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfUcrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
 
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docAs desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
 
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfBalofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
 
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfAs balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
 
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfUnião Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
 
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaAs desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
 
A BideNato flight over
A BideNato flight overA BideNato flight over
A BideNato flight over
 
Um sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfUm sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdf
 
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfNATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
 
USA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfUSA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdf
 
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfEUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
 
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfA NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
 
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UENato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
 
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
 
Speculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUSpeculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EU
 
Eleições em portugal o assalto à marmita
Eleições em portugal   o assalto à marmitaEleições em portugal   o assalto à marmita
Eleições em portugal o assalto à marmita
 
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueOs especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
 
Human beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemHuman beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial system
 
Seres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroSeres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiro
 
Textos de circunstância - 10
Textos de circunstância  - 10Textos de circunstância  - 10
Textos de circunstância - 10
 

Último

EM DEFESA DO USO RACIONAL DA ÁGUA, FONTE DE VIDA, NO DIA MUNDIAL DA ÁGUA.pdf
EM DEFESA DO USO RACIONAL DA ÁGUA, FONTE DE VIDA, NO DIA MUNDIAL DA ÁGUA.pdfEM DEFESA DO USO RACIONAL DA ÁGUA, FONTE DE VIDA, NO DIA MUNDIAL DA ÁGUA.pdf
EM DEFESA DO USO RACIONAL DA ÁGUA, FONTE DE VIDA, NO DIA MUNDIAL DA ÁGUA.pdfFaga1939
 
Decisão de Alexandre de Moraes sobre caso Marielle: prisão dos irmãos Brazão
Decisão de Alexandre de Moraes sobre caso Marielle: prisão dos irmãos BrazãoDecisão de Alexandre de Moraes sobre caso Marielle: prisão dos irmãos Brazão
Decisão de Alexandre de Moraes sobre caso Marielle: prisão dos irmãos BrazãoJoaquim de Carvalho
 
Relatório Final da PF sobre o caso Marielle
Relatório Final da PF sobre o caso MarielleRelatório Final da PF sobre o caso Marielle
Relatório Final da PF sobre o caso MarielleJoaquim de Carvalho
 
GESTÃO FISCAL PREFEITURA DE SÃO PAULO DE RICARDO NUNES
GESTÃO FISCAL PREFEITURA DE SÃO PAULO DE RICARDO NUNESGESTÃO FISCAL PREFEITURA DE SÃO PAULO DE RICARDO NUNES
GESTÃO FISCAL PREFEITURA DE SÃO PAULO DE RICARDO NUNESPedro Zambarda de Araújo
 
Importante documento histórico que também explica vários motivos da deflagra...
Importante documento histórico que também explica  vários motivos da deflagra...Importante documento histórico que também explica  vários motivos da deflagra...
Importante documento histórico que também explica vários motivos da deflagra...Lucio Borges
 
Parece da PGR sobre o caso Marielle Franco
Parece da PGR sobre o caso Marielle FrancoParece da PGR sobre o caso Marielle Franco
Parece da PGR sobre o caso Marielle FrancoJoaquim de Carvalho
 
Depoimento de Mauro Cid sobre áudios vazados
Depoimento de Mauro Cid sobre áudios vazadosDepoimento de Mauro Cid sobre áudios vazados
Depoimento de Mauro Cid sobre áudios vazadosIvanLongo3
 
BNDES Periferias Território: favelas e comunidades periféricas - Programa Per...
BNDES Periferias Território: favelas e comunidades periféricas - Programa Per...BNDES Periferias Território: favelas e comunidades periféricas - Programa Per...
BNDES Periferias Território: favelas e comunidades periféricas - Programa Per...Editora 247
 

Último (9)

EM DEFESA DO USO RACIONAL DA ÁGUA, FONTE DE VIDA, NO DIA MUNDIAL DA ÁGUA.pdf
EM DEFESA DO USO RACIONAL DA ÁGUA, FONTE DE VIDA, NO DIA MUNDIAL DA ÁGUA.pdfEM DEFESA DO USO RACIONAL DA ÁGUA, FONTE DE VIDA, NO DIA MUNDIAL DA ÁGUA.pdf
EM DEFESA DO USO RACIONAL DA ÁGUA, FONTE DE VIDA, NO DIA MUNDIAL DA ÁGUA.pdf
 
Decisão de Alexandre de Moraes sobre caso Marielle: prisão dos irmãos Brazão
Decisão de Alexandre de Moraes sobre caso Marielle: prisão dos irmãos BrazãoDecisão de Alexandre de Moraes sobre caso Marielle: prisão dos irmãos Brazão
Decisão de Alexandre de Moraes sobre caso Marielle: prisão dos irmãos Brazão
 
Relatório Final da PF sobre o caso Marielle
Relatório Final da PF sobre o caso MarielleRelatório Final da PF sobre o caso Marielle
Relatório Final da PF sobre o caso Marielle
 
GESTÃO FISCAL PREFEITURA DE SÃO PAULO DE RICARDO NUNES
GESTÃO FISCAL PREFEITURA DE SÃO PAULO DE RICARDO NUNESGESTÃO FISCAL PREFEITURA DE SÃO PAULO DE RICARDO NUNES
GESTÃO FISCAL PREFEITURA DE SÃO PAULO DE RICARDO NUNES
 
Sentença Prefeitura Urupá 7000515-69.2015.8.22.0011
Sentença Prefeitura Urupá 7000515-69.2015.8.22.0011Sentença Prefeitura Urupá 7000515-69.2015.8.22.0011
Sentença Prefeitura Urupá 7000515-69.2015.8.22.0011
 
Importante documento histórico que também explica vários motivos da deflagra...
Importante documento histórico que também explica  vários motivos da deflagra...Importante documento histórico que também explica  vários motivos da deflagra...
Importante documento histórico que também explica vários motivos da deflagra...
 
Parece da PGR sobre o caso Marielle Franco
Parece da PGR sobre o caso Marielle FrancoParece da PGR sobre o caso Marielle Franco
Parece da PGR sobre o caso Marielle Franco
 
Depoimento de Mauro Cid sobre áudios vazados
Depoimento de Mauro Cid sobre áudios vazadosDepoimento de Mauro Cid sobre áudios vazados
Depoimento de Mauro Cid sobre áudios vazados
 
BNDES Periferias Território: favelas e comunidades periféricas - Programa Per...
BNDES Periferias Território: favelas e comunidades periféricas - Programa Per...BNDES Periferias Território: favelas e comunidades periféricas - Programa Per...
BNDES Periferias Território: favelas e comunidades periféricas - Programa Per...
 

Ensinamentos do prof. cavaco e de dom policarpo sobre divórcio e casamento

  • 1. Texto ESQUERDA_DESALINHADA Ensinamentos do Prof. Cavaco e de Dom Policarpo sobre divórcio e casamento As crises económicas geram dois efeitos. Por um lado, aguçam a criatividade dos pobres e dos que trabalham para vencer as dificuldades; em contrapartida, espevitam os neurónios e soltam o verbo dos reaccionários mais convencidos e fossilizados. Neste último contexto, ouvimos recentemente o bem casado Cavaco opinar sobre divórcio e o celibatário Dom Policarpo a falar de casamento. Cavaco e o divórcio Cavaco, no seu linguajar rouco e titubeante que mais parece o de um tatebitate, voltou a verberar contra a lei do divórcio que, no entanto promulgou. E disse-o, calculista, perante uma audiência escolhida por nela, eventualmente preponderarem elementos próximos do pacóvio catolicismo luso. Disse a veneranda figura do presidente da (cleptocrática) república que a recente lei do divórcio, com o seu presumido facilitismo, está a contribuir para o aumento da miséria, uma vez que fragiliza a situação económica dos divorciados. À falta de outros dados, referimos que no inventário dos superendividados da Deco só 15% corresponde a divorciados. Não nos comove a preocupação do mago das finanças pelos pobres, porque nos lembramos da sua actuação como primeiro-ministro, quando desbaratou os fundos comunitários, favoreceu os ricos com as nacionalizações e como incentivou a escola dos novos-ricos que, agora, vão saltitando, diariamente nas páginas dos jornais clamando por uma honorabilidade em que só os tansos acreditam. O brilhante economista dos mercados sabe que existe uma crise económica e que esta gera desemprego, precariedade (ele até conhece as estatísticas!) mas, talvez não saiba quantificar a instabilidade emocional, o desgaste psicológico dos milhões de portugueses que andam por aí, mesmo que empregados. Como lhe ensinaram que o casamento é um sacramento, custa-lhe perceber que, como todos os contratos, possa ser tão duradouro quanto o queiram as partes; e talvez não compreenda que amar e deixar de amar são inerências da natureza humana. Nos manuais de economia não aprendeu que pode haver mais leviandade na
  • 2. concretização de um casamento ou união de facto, (que hoje se equiparam) do que no divórcio ou separação de um casal. Estas separações, por serem normalmente marcadas por pesados custos emocionais e materiais são objecto de uma ponderação muito maior que a união de duas pessoas sob um mesmo tecto. Por detrás do seu sorriso de benevolente superioridade, acreditará Cavaco que uma família desconhece os impactos económicos decorrentes de um divórcio, no seu tipo de vida e bem-estar? Qualquer casal conhece esses impactos, independentemente da conjuntura económica; e conhece-os muito melhor que o professor Aníbal que é casado com a Dona Maria há décadas! As pessoas quando decidem divorciar-se fazem aquilo que Cavaco bem conhece, uma análise custo-benefício, ainda que sem o recurso a modelos matemáticos ou programas informáticos. Entre esses custos está, sem dúvida, uma perda de bem-estar e nível de vida, a alteração de uma matriz de relações familiares e afectivas; e nos benefícios englobam-se (e não é pouco) a finalização de uma vida de desgaste psicológico ou violência, o poupar dos filhos a essa situação ou, o início de uma nova vida com outro(a) parceiro(a). Dificultar legalmente o divórcio, como defende o ilustre catedrático na reforma, tem vários significados e consequências, que o magno lente, do alto da sua suprema magistratura não quer atender, condicionado pelo seu atávico conservadorismo: • É uma ingerência do Estado na vida particular das pessoas, como se estas fossem incompetentes para gerir a sua própria vida, necessitando de minuciosas leis ou, de uma obrigatória tutela judicial ou burocrática; • Representa uma dificuldade na reconstituição da vida afectiva de cada um; • Pode representar o arrastar de situações de extremo mau-estar para as famílias onde tenderão a verificar-se frequentes discussões, agressões e crimes, muitas vezes com impactos irreparáveis nos filhos; • Constituiria uma dificuldade acrescida às triviais situações de baixos salários, precariedade de emprego ou ausência do mesmo, quer do ponto de vista emocional, quer do ponto de vista material pois a burocracia e os advogados não são gratuitos. E se as pessoas se separarem, de facto, sem a formalização de um divórcio a situação não ficará obrigatoriamente mais facilitada. Mesmo uma acção subsequente do divórcio, como a partilha de bens, pode arrastar-se indefinidamente nas mãos de um tribunal sonolento ou de juizes insensíveis, para além de que em nada a lei garante uma igualdade de direitos aos divorciados, permitindo, objectivamente, uma
  • 3. posição dominante a um deles, mormente a quem detiver maior poder económico ou tiver ficado a viver na habitação do casal. Aí, sim, Cavaco poderia pressionar os legisladores. Aliás, o fecundo pensamento cavaquiano não terá alcançado que uma complicação na potencial obtenção de divórcio constituirá um incentivo para as uniões de facto, cuja figura não colherá, decerto, o agrado do PR e do estagnado pensamento emanado da multinacional vaticana. Ainda dentro da lógica cavaquiana, se o divórcio deve ser combatido para obviar a situações de miséria, a actuação pro-activa consistirá em fomentar os casamentos. No âmbito dessa vulgata economicista o casamento seria uma forma de, através da união de rendimentos e bens, serem aproveitadas as sinergias e ser aumentada a produtividade de casas, fogões e camas, com o aumento dos seus utilizadores. Melhor ainda até seria estimular casamentos colectivos, adoptar a poligamia ou a poliandria para que a produtividade dos equipamentos habitacionais explodisse e colocasse Portugal em lugares de vanguarda nas estatísticas do Eurostat! Como Cavaco se escusa a falar sobre o caso Freeport porque é um “assunto de Estado” (que será essa coisa, para além de uma defesa para os negócios dos poderosos?) melhor seria entreter-se com esses assuntos e deixar a vida das pessoas reais em paz, sem emitir opiniões que ninguém lhe encomendou. Dom Policarpo e o casamento A Dom Policarpo, alto quadro do “offshore” Vaticano, aconteceu-lhe num jantar de tertulianos o mesmo que ao Mário Lino no almoço da Ordem dos Economistas: um acesso de incontinência verbal. O prelado virou-se “prolado” para que estava virado e lá disse o politicamente incorrecto, mais ou menos nestes termos: “Meninas, quando pensarem em casar com um muçulmano pensem bem no que vão fazer pois podem arranjar sarilhos que nem Allah as salva”. A coisa parece descabida pois o número de muçulmanos em Portugal não é grande (30/35000, 0,3% da população) e depois, porque o cardeal teria em mente situações reais mas, muito pontuais. Todos sabemos que nas sociedades maioritariamente muçulmanas (e não é preciso que vigore a “sharia”) a situação das mulheres não lhes é nada favorável e é equivalente aquela que as mulheres europeias viveram durante muitos séculos sob o patrocínio da Igreja Católica e da sua concorrência de raiz cristã. E para que a situação mude, as
  • 4. mulheres muçulmanas precisam de um desenvolvimento económico que lhes abra as portas ao trabalho fora de casa e de um menor apoio ocidental aos regimes autoritários que as regem. Só que Dom Policarpo não tem autoridade moral para falar dos direitos das mulheres. As liberdades individuais que as mulheres europeias, por exemplo, hoje detêm, foram objecto de uma luta secular que se acelerou depois da Segunda Guerra, com o emprego generalizado fora de casa, a pílula e o acesso à educação. E nessa luta, a Igreja Católica, em geral e a portuguesa em particular, só estiveram presentes do outro lado da barricada, contra todas as manifestações de emancipação das mulheres. E ainda hoje, a Igraja Católica não aceita o divórcio (que existe legalmente nos países islâmicos), a contracepção, a IVG, as relações pré-matrimoniais, a masturbação, o sacerdócio das mulheres… Aliás, o Cristianismo na sua base mais profunda que é a Bíblia considera a mulher como uma emanação de uma costela do homem, frisando assim o seu papel subalterno e, (apetece parodiar) fruto da benevolência divina perante um reivindicativo Adão, cansado de perseguir as peludas macacas… Se Dom Policarpo tivesse vivido antes do século XVIII defenderia afincadamente que a mulher não tinha alma (o que quer que isso seja, para homens ou mulheres) e enviaria para a fogueira quem o contrariasse. Recordemo-nos que em Pequim, na Conferência Mundial sobre a Mulher (1995) se assistiu a uma clara convergência do Vaticano com os ayatollas, contra os direitos das mulheres. Até por isso, Dom Policarpo mais valia ter ficado calado quanto a opiniões sobre os islâmicos, sobretudo quando o Vaticano sempre ambicionou ser reconhecido como o grande líder nas conferências ecuménicas. Bem, voltando atrás, o papel das mulheres nas sociedades islâmicas não é invejável. E na maioria dos outros países? Na África não islâmica as mulheres são também objecto de um machismo exacerbado, como na América Latina, na Índia, na Ásia oriental. O problema é que Dom Policarpo se inscreve na histeria anti-islâmica alimentada pela administração Bush e na senda estratégica definida por Huntington. Que um casamento é acto que merece ponderação, qualquer que seja a convicção religiosa dos pretendentes a esse acto, toda a gente sabe. Até a ancestral sabedoria popular sintetizou esse concelho de prudência com um “antes que cases, vê o que fazes”. Dispensam-se, pois os conselhos de Dom Policarpo e da instituição em que se enquadra. WWW.ESQUERDA_DESALINHADA.BLOGS.SAPO.PT 4/2/2009