SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 14
Descargar para leer sin conexión
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 1
O teatro eleitoral em Portugal – 2005/15
Sumário1
1 - Uma década em dez pontos perdida
2 - As eleições nos últimos dez anos e a estagnação política
2.1 - O desempenho do partido-estado (PSD/PS)
2.2 - Os comportamentos na esquerda
2.3 - A direita assumida
+++x+++
1 - Uma década em dez pontos perdida
Os últimos dez anos podem ser caraterizados por dez elementos que definem, muito
claramente, os processos de desestruturação económica, de empobrecimento coletivo e de
empenho da classe política naqueles processos.
• Dois governos (Sócrates e Passos) subservientes aos ditames de Bruxelas, Frankfurt e
Berlim, com oposições mansas e coniventes, em cumprimento das suas funções de
turno, sem outra estratégia que não a obediência e o assalto corrupto ao pote;
• Governos desastrosos devidamente acolitados pela tosca e fascizante figura de Cavaco
Silva, a mais nociva da história portuguesa do último século, depois de Salazar
evidenciam um bloqueio político a exigir mudança de regime e de reformas
constitucionais profundas;
• Intervenção da troika para monitorizar a austeridade conveniente à montagem da
acrescida dependência financeira do país, da sua periferização como reserva de mão
de obra menos qualificada e barata, bem como exportador de bens de consumo,
intermédios ou de gente jovem;
• Fim do ciclo especulativo do imobiliário alicerçado no crédito bancário facilitado, por
sua vez estribado em financiamento externo, com perdas médias de 14% desde 2008
no valor das habitações para além de aumentos no ilegítimo IMI;
• Desmoronamento do sistema financeiro português com burlas impunes e perdas nos
financiamentos estatais para o salvar, a agravar o deficit público que, por sua vez, é
indutor da austeridade paga pela multidão de trabalhadores e ex-trabalhadores;
• Desmantelamento do já de si desconexo sector público, com privatizações a preço de
saldo e parcerias que formalizam rendas parasitárias a favor de empresários próximos
dos partidos do “arco da governação”;
1
Este texto é a conclusão de outro, publicado recentemente “Sobrevoando 40 anos de eleições em
Portugal” http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/10/sobrevoando-40-anos-de-eleicoes-em.html
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 2
• Agravamentos brutais da carga fiscal e clara redução de direitos laborais e de
cidadania, num contexto de valorização do Estado como agente da espoliação da
população em favor do capital;
• Persistente continuidade dos desequilíbrios – deficits público e do comércio externo -
com um estéril investimento estrangeiro de permeio, baseado na compra de
participações em empresas e de imobiliário, acompanhado por forte fuga de capitais;
• Fragilização e desarticulação do tecido produtivo com a acentuação da posição de
Portugal como corredor secundário de atravessamento das redes transnacionais de
negócio;
• Ativo papel das “esquerdas” na manutenção da tradicional despolitização dos
portugueses e da ausência de contestação popular.
É neste cenário que se vem desenrolando, no último mês, uma peça de teatro sobre a luta
pelo poder entre o general Alcazar e o coronel Tapioca.
2 - As eleições nos últimos dez anos e a estagnação política
Pretende-se com este exercício observar, mais detalhadamente, um lapso de tempo de dez
anos, nos quais se verificaram quatro actos de eleições legislativas em Portugal; e, nessa
observação conter o modo como se revelaram as preferências dos votantes, num quadro
bastante conservador quanto aos protagonistas, o que facilita o cotejo.
No capítulo dos protagonistas e para além do habitual surgimento de pequenos partidos com
votações irrelevantes ou fugazes, observou-se em 2015 uma coligação PSD/CDS, apresentada
como PàF; neste último caso, procedemos, para efeitos de comparação com anos anteriores, a
uma desagregação dos votos colhidos por aquela coligação, entre PSD e CDS, reproduzindo as
proporções havidas entre ambos, registadas nas eleições de 2011. A evolução observada em
geral, permite ainda aquilatar diferenças regionais e a relevância da expressão eleitoral que se
não materializa por apoio aos partidos políticos.
Pretende-se, nomeadamente, a partir da análise deste período recente retirar elementos
adicionais de medida da saúde do regime político actual e, sobretudo, evidenciar as imensas
falhas no exercício da democracia, com a captura desta por organizações partidárias, fechadas,
estranhas à população, respaldadas numa Constituição2 que as elege em guias institucionais
2
Em outros textos, indicamos alguns onde temos vindo a refletir sobre uma outra organização política,
efetivamente democrática e um modelo de representação que dê a cada pessoa um direito, sem o qual não há
democracia – o igual direito de eleger e de se candidatar a uma eleição.
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/08/sobre-constituicao-crp-uma-assembleia.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/07/a-constituicao-crp-e-alguns-dos-seus.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/05/um-modelo-democratico-para-os-municipios.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/03/para-uma-constituicao-democratica-com_22.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/03/para-uma-constituicao-democratica-com.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/02/para-uma-constituicao-democratica-com.html
http://www.slideshare.net/durgarrai/para-um-novo-paradigma-poltico-a-re-criao-da-democracia
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 3
para a iluminação dos populares tomados implicitamente como indigentes culturais,
incapazes, por si só, de escolherem o que convém para as suas vidas e o seu futuro. Dessa
formulação constitucional resulta uma deliberada construção de despolitização3, nas famílias,
no trabalho e nas escolas, para justificar o monopólio do exercício de funções de decisão
coletiva a uma classe de iluminados que, como historicamente sucede com todas as classes de
ungidos, cuidam de se rodear de bem-estar, privilégios, direitos específicos e imunidades
exclusivas; e cuidam também dos instrumentos ideológicos, legislativos e repressivos
necessários à perpetuação da sua existência.
Para o efeito, torna-se necessário proceder a uma massiva e permanente ação de propaganda
do regime através dos media no sentido da despolitização, da apresentação da política como
um emaranhado necessariamente obscuro de jogos de poder; estes, constituem o tabuleiro
onde participam como jogadores, o sistema financeiro, as empresas do regime, as instituições
da UE e também, corporações tentaculares e poderosas, ciosas dos seus poderes e privilégios,
como são a Igreja Católica, os grupos maçónicos, as confederações patronais e sindicais, as
ordens profissionais, o sistema judiciário e suas confrarias da toga, o mandarinato
universitário, as polícias, os militares; mais ou menos entrelaçados com a classe política de
âmbito nacional, regional e autárquico que articula, unifica, expressa e zela pelos seus
interesses.
2.1 - O desempenho do partido-estado (PSD/PS)
Temos, desde há vários anos, considerado que o PSD e o PS, pelas suas escassas diferenças
programáticas e de atuação, como pelas suas filiações internacionais constituem uma frente
única destinada a gerir a criação de riqueza em Portugal, a sua apropriação pelas hierarquias
do capital global e pelas suas parcelas indígenas, num contexto de paz social, de aceitação
dessa subjugação por parte da população. Temos utilizado para acentuar essa caraterística
estratégica de frente única, a designação de partido-estado, dada a sua permanência
continuada no poder nacional, regional e autárquico nos últimos quarenta anos; pela
infestação dos aparelhos de estado central, regional ou autárquico, empresas, institutos e
órgãos da administração com gente deles emanada; pelo papel central que têm na
devastadora corrupção que carateriza a relação público-privada.
A não fusão do PSD e do PS tem razões que se prendem com a própria lógica da democracia de
mercado, assente na bipolarização e na alternância. Como se desenvolverá em seguida.
A ditadura fascista, depois de um período de listas únicas nas eleições, notou que seria
necessário apresentar uma ideia da existência expressa de alternativa ao poder; que
evidentemente não era de todo admissível. Essa encenação aconteceu em 1969 e foi tentada
em 1973 mas então, o encerramento do regime fascista nas suas próprias dificuldades era tal
que nem sequer a oposição se dignou a participar na farsa.
http://www.slideshare.net/durgarrai/sobre-a-democracia-a-democracia-e-a-sua-usurpao-1a-parte
3
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/10/a-uma-democracia-de-controlo-podera.html
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 4
Para que tudo se mantenha na mesma é preciso alterar alguma coisa, disse Giuseppe Tomasi
di Lampedusa no seu “Il gattopardo” para mostrar as capacidades de renovação das
oligarquias. Após o 25 de Abril, o livre despontar da diversidade de expressão e organização
política foi rapidamente afunilado no sentido da organização de partidos políticos, como
existia “lá fora” e isso foi contemplado de modo muito preciso e detalhado na Constituição.
Para que tudo se mantivesse consonante com os interesses dos poderes dentro da sociedade
portuguesa e de acordo com a tutela externa (a caminho da transição da esfera anglo-saxónica
para a alemã) seria necessário criar um sistema vocacionalmente bipartidário, para dar a ideia
da existência de alternativa e admitir que essa alternativa existia, sob a forma de alternância,
entre dois pelotões comandados pelo mesmo general. Nesse contexto, cada partido do alterne
gera a sua mafia própria, em concorrência com a do outro partido, gerando-se interesses e
solidariedades próprias em cada uma das seitas.
Se o PSD e o PS se fundissem, a plebe recordaria um PRI mexicano, autoritário e corrupto,
sentir-se-ia dominado por uma ditadura e certamente procuraria alternativas mais perigosas
para os poderes oligárquicos. Podem aparecer unidos, temporariamente, para o cumprimento
dos altos desígnios do capital, como na gestão da segunda intervenção do FMI e preparação da
entrada na CEE (1983/85), como poderão coligar-se proximamente para imporem as medidas
draconianas de “reformas estruturais” ditadas por Schauble. Para manterem o espírito da
alternância e, na falta de maioria absoluta, o CDS tem sido utilizado como contrapeso.
Nessa encenação convém também que haja mais figurantes no palco. Nada melhor do que
colocar o erário público a pagar perto de três euros por cada voto recolhido pelos partidos
com mais de 50000 votos, para a utilização desse incentivo na sua manutenção e para o
aliciamento de mais agremiações a participarem em romarias eleitorais. Assim se poderá dizer
que o sistema político é pluripartidário embora o poder não se afaste do controlo do partido-
estado. Como se costuma dizer em meios do futebol, são onze contra onze mas no final, ganha
a Alemanha.
Entre os membros do sistema partidário, em que cada um recolhe do pote o adequado às suas
possibilidades, ninguém levantará questões sobre a democraticidade de um regime político
que discrimina, segmenta, eleitos e eleitores, no qual estes votam em candidatos nomeados
por oligarquias, sem possibilidade de apearem os escolhidos, por mais patifarias que cometam.
Por estas e outras razões se pode e deve referir a existência de uma classe política, termo que
os membros daquela não usam e ouvem com incómodo.
Os resultados obtidos nos quatro últimos escrutínios pelo partido-estado (PSD/PS ou vice-
versa) - a que somamos alguns pequenos grupos de acólitos, com uma lógica equiparada e em
procura de migalhas que escorram do pote (PPM+PDR+Livre+MPT+PTP+NOS+Juntos pelo
Povo+PURP, em 2015) - são concludentes do esboroar das apostas neles feitas, expressas em
votos.
Variações de votos no partido-estado e seus próximos
Var 2009/05 Var 2011/09 Var 2015/11 Var 2015/05
(nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%)
TOTAL* -436.765 -10,3 -7.743 -0,2 -252.542 -6,7 -697.050 -16,5
AVEIRO -32.306 -10,6 2.714 1,0 -24.149 -8,8 -53.741 -17,6
BEJA -13.764 -24,9 -534 -1,3 -114 -0,3 -14.412 -26,1
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 5
BRAGA -12.009 -3,2 -6.029 -1,6 -27.168 -7,5 -45.206 -12,0
BRAGANÇA -4.414 -6,6 -2.386 -3,8 -6.681 -11,1 -13.481 -20,1
C BRANCO -18.276 -17,7 -3.245 -3,8 -8.842 -10,8 -30.363 -29,4
COIMBRA -24.313 -12,8 -5.397 -3,3 -8.940 -5,6 -38.650 -20,4
ÉVORA -14.038 -21,8 -673 -1,3 -825 -1,7 -15.536 -24,1
FARO -28.373 -19,1 4.291 3,6 -9.552 -7,7 -33.634 -22,6
GUARDA -8.067 -9,7 -4.516 -6,0 -7.785 -11,1 -20.368 -24,6
LEIRIA -23.381 -12,4 6.289 3,8 -12.025 -7,0 -29.117 -15,4
LISBOA -80.353 -9,9 12.086 1,7 -26.428 -3,6 -94.695 -11,7
PORTALEGRE -11.529 -21,7 -953 -2,3 -2.144 -5,3 -14.626 -27,5
PORTO -41.348 -5,4 -7.224 -1,0 -74.277 -10,3 -122.849 -16,0
SANTARÉM -31.911 -17,3 1.843 1,2 -11.288 -7,3 -41.356 -22,4
SETÚBAL -39.213 -15,3 8.711 4,0 -848 -0,4 -31.350 -12,2
V CASTELO -10.859 -10,1 -1.635 -1,7 -7.139 -7,5 -19.633 -18,2
VILA REAL - 7.321 -6,9 -1.221 -1,2 -10.791 -11,1 -19.333 -18,2
VISEU -16.890 -9,7 -1.993 -1,3 -15.449 -10,0 -34.332 -19,8
AÇORES -6.954 -8,7 -5.933 -8,1 6.913 10,3 -5.974 -7,5
MADEIRA -16.039 -14,1 -1.938 -2,0 -5.010 -5,2 -22.987 -20,2
* Exclui votos da emigração
Podem extrair-se algumas notas dos dados acima expostos:
• Relativamente a 2005, o partido-estado e os seus próximos recolheram menos 697000
votos, recebendo recentemente pouco mais de 3.5 M de apoios entre a população
devendo ter-se em conta que os inscritos para votar, por seu turno, aumentaram em
cerca de 640000, com todas as reservas que se possam colocar ao recenseamento
eleitoral, objeto de uma incúria interessada por parte do partido-estado4
, no poder há
quarenta anos;
• Há grande desigualdade na evolução dessas perdas, mais acentuadas em 2009 e pouco
relevantes em 2011; o susto da troika e o descontentamento face a Sócrates contiveram
essas perdas em números reduzidos, uma vez que houve grandes trocas de votos no
seio do próprio partido-estado, do PS para o PSD e que veio a permitir a este, constituir
uma maioria absoluta com o apêndice Portas.
• Em 2009, o partido-estado perde, percentualmente, votos em todos os distritos, com
particular relevo no Alentejo e, numa segunda linha, em Faro, Castelo Branco, Santarém,
Setúbal e Madeira. Uma maior fidelidade eleitoral destaca-se em Braga, Bragança e Vila
Real. Em 2011, há seis distritos com aumentos de votação no partido-estado, com maior
significado em Setúbal, Leiria e Faro, com as maiores penalizações a observarem-se nos
Açores e na Guarda. Este ano, 2015, há quebras no apoio ao PSD/PS em todos os
distritos, com excepção dos Açores; registam-se valores absolutos muito significativos
no Porto e reduções percentuais equiparadas, naquele distrito e ainda no interior Norte
e Centro (Bragança, Castelo Branco, Guarda, Vila Real e Viseu).
• Em números absolutos, nos dez anos agora findos, o partido-estado tem destacáveis
perdas de votos no Porto e em Lisboa embora neste último distrito os valores relativos
4
http://www.slideshare.net/durgarrai/um-sistema-eleitoral-falsificado-e-enganador
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 6
sejam os mais baixos do país, só ultrapassados pelos Açores. Não é difícil apontar razões
para essa situação; Lisboa, sobretudo a cidade, é o local de concentração da riqueza, do
poder de estado, do poder económico, com relevo para a área financeira e ainda, da
classe política. À influência da socio-economia será necessário acrescentar a influência
política e ideológica sobre a população, num contexto mais geral de abandono do
interior, da sua desertificação e do aprofundamento das desigualdades regionais. A
interpenetração entre a população de ambas as margens do troço final do Tejo justifica
que em Setúbal - tradicionalmente apontado como um distrito de “esquerda” - a erosão
do partido-estado seja das menos penalizadoras. Em todos os distritos que se encostam
à fronteira leste e ainda em Santarém e na Madeira, as perdas de apoio ao partido-
estado são superiores a 20% entre 2005 e 2015.
• A distribuição de ganhos e perdas no âmbito do partido-estado, do bloco central e da
paleta dos seus próximos revela que nos últimos dez anos, a já referida perda de votos
entre 2005 e 2015 (697000) tem como principal contribuinte o PS, uma vez que a
redução de apoios do PSD é pequena, observando-se, pelo contrário, um aumento das
votações no variável grupo de pequenos partidos que incluímos como próximos do
partido-estado.
Votos no partido-estado e seus próximos
Var 2009/05 Var 2011/09 Var 2015/11 Var 2015/05
(nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%)
Total -436.765 -10,3 -7.743 -0,2 -252.542 -6,7 -697.050 -16,5
PS -503.472 -19.6 -510.310 -24.7 183.762 11.8 -830.020 -32.3
PSD 6.795 0.4 500.037 30.4 -542.471 -25.3 -35.639 -2.2
Outros* 59.912 351.3 2.530 3.3 106.167 133.5 168.609 9.9
* 2005 – PH; 2009 – PPM, MEP, MMS, MPT/PH, PTP, MPT; 2011 – PPM, MEP, PH, PTP, MPT; 2015 – PPM, PDR, Livre,
MPT, PTP, NOS, JpP, PURP
• O PS sofre perdas massivas de votos em 2009 e 2011, recuperando recentemente o
correspondente a 11.8% dos que manifestaram preferência pelo partido em 2011. Em
2009, as perdas do PS representam a fuga de votos para fora da área do partido-estado,
pesem embora as subidas registadas entre os “outros” (o aparecimento do MEP e do
MMS) e muito marginalmente pelo PSD;
• Em 2011 há uma forte subida dos votos no PSD, como produto do rol de falsidades e
promessas que convenceram parte importante de um povo muito despolitizado e, com
uma variação quase simétrica do PS, castigado pela crise da dívida e pela austeridade
decretada pela troika. Uma vez que pouco cresce o voto nos “outros”, esta área política,
no seu conjunto tem uma perda limitada de votos;
• 2015 é o tempo do castigo eleitoral do PSD que perde mais de um quarto dos seus
apoiantes de quatro anos antes e que, se não tivesse cooptado o CDS (dependente de
uma coligação para evitar a marginalização política e eleitoral) teria ficado aquém do PS
na ordem dos 140000 votos; ao contrário do observado em 2011, a transferência de
votos para o PS é limitada, correspondendo apenas a um terço das perdas do PSD. O
crescimento dos votos nos “outros” deve-se particularmente a duas novidades – PDR e
Livre – que em conjunto recolheram uns 100000 votos e que provavelmente
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 7
constituirão epifenómenos de moda. Esta evolução contudo, não evita que a área
política do partido-estado tenha perdido um quarto de milhão de votos relativamente a
2011;
2.2 - Os comportamentos na esquerda
Os principais partidos colocados na esquerda do sistema partidário são o BE e o PCP, ambos
com vocação para uma oposição ao partido-estado, acompanhando, com uma postura
essencialmente reativa e conjunturalista, as derivas e as malfeitorias emanadas dos governos,
qualquer que seja a ala do partido-estado que as protagonize; e geralmente, com uma
concertação entre ambos.
Como não apresentam visões sistémicas para uma alternativa ao poder instituído constituem
apenas uma consciência crítica para quem aceita o conservadorismo imanente à procura de
um mal menor, numa lógica de corrida de fundo atrás do prejuízo, de gradualismo quantitativo
que um dia… desembocará numa alteração qualitativa, na concepção mecanicista cara a
Engels.
Esse conformismo retrata, de algum modo, as lógicas dos aparelhos que, para garantir a
perpetuidade, se mostram desejosos de recolher o apoio popular mas, como algo exterior de
que se desconfia. Jamais procuram o incentivo de uma movimentação social para a criação de
uma miscigenação libertadora das potencialidades da multidão. Aplicam, na realidade, o
paradigma leninista das vanguardas de condutores das massas que, por axioma, são dadas por
incapazes de gerar no seu seio ideias ou movimento social e político; e que, por essa razão,
terão o dever de reconhecer na esquerda, representada por partidos concorrentes, essa
ontológica capacidade de liderança.
Para além dos interesses próprios de cada aparelho, há diferenças essenciais entre BE e PCP. O
primeiro é europeísta e o segundo nacionalista. O último necessita de garantir o seu papel
numas quantas autarquias e o domínio das estruturas sindicais para poder participar na
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 8
Concertação Social e colocar um numeroso funcionalismo partidário, enquanto o BE não
desenvolve reais estruturas partidárias, nem detém a pluralidade de órgãos de “massas” que o
PCP anima (comissões de utentes, centros de idosos, grupos de jovens, por exemplo, para
além do partido ecologista “Os Verdes”).
Nas negociações com António Costa – depois de uma campanha eleitoral onde o PS foi
bastante atacado – ambos os partidos mostram-se dispostos a viabilizar um governo PS que
procurará protocolar um frágil apoio externo na AR. Resta saber se esse governo, a existir5,
não
conterá apenas o programa do PS adornado aqui e ali com alguns alívios conjunturais e jamais
com medidas estruturais; para desgosto de um eleitorado despolitizado que acredita na fábula
redentora da unidade da esquerda.
Não nos parece que possa vir a ser incluída nesse programa qualquer referência séria de alívio
da dívida e dos seus juros; de revisão constitucional para a formulação de uma organização
política democrática com alteração do modelo de representação; de revisão das mordomias e
imunidades da classe política; de desgovernamentalização da administração pública; de
revogação do financiamento público de entidades privadas que parasitam os sistemas de
saúde, de educação e ação social; de colocação da Segurança Social, enquanto fundo dos
trabalhadores portugueses, fora da intervenção governamental; de redistribuição do
rendimento, com um plano agressivo de recuperação de dívidas fiscais e à Segurança Social; de
concretização da regionalização como apontada na Constituição; de funda revisão da
legislação laboral, a favor dos trabalhadores, de apoio a uma concertação dos países
periféricos da UE para a alteração dos elementos de imposição empobrecedora constantes nos
tratados, para a aplicação democrática do princípio da subsidiariedade, etc.
Recordamos a experiência do PCF como parceiro minoritário num governo de Mitterrand nos
anos 80 que contribuiu para o declínio do primeiro; não escrutinamos o que resultou de
positivo nas alianças com o PS na câmara de Lisboa e conhece-se a recente experiência do
Syriza, que propunha um programa bem mais avançado que os partidos da esquerda do
hemiciclo luso. Será que uma experiência de comprometimento governamental com o PS por
parte do BE e do PCP lhes trará uma engorda de votos? E, como procederão quando ao PS
forem colocadas as medidas favoráveis aos desejos dos “mercados”, com pesados custos para
a multidão?
Como evidenciámos acima para o partido-estado, observamos as variações nos quatro pleitos
legislativos realizados na última década, para a esquerda parlamentar, incluindo no que
concerne a 2015, os pequenos partidos lhe serão próximos (PCTP/MRPP + AGIR/MAS) ou aqui
incluídos por comodidade (PAN).
Variações de votos no esquerda parlamentar e seus próximos
Var 2009/05 Var 2011/09 Var 2015/11 Var 2015/05
(nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%)
TOTAL* 210.069 24,7 -206.327 -19,5 296.244 34,7 299.986 35,3
5
Mantemos uma expectativa céptica sobre a concretização dessa “maioria de esquerda” e menos ainda que dela
resultem ações sérias de alteração da correlação de forças entre o capital e o trabalho ou de resistência face às
exigências vindas de Bruxelas, Berlim ou Frankfurt
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/10/depois-da-romaria-eleitoral-o-programa.html
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 9
AVEIRO 16.503 45,1 -11.745 -22,1 18.097 43,7 22.855 62,4
BEJA 6.424 23,8 -8.034 -24,0 2.029 8,0 419 1,6
BRAGA 16.390 33,0 -14.197 -21,5 25.202 48,5 27.395 55,1
BRAGANÇA 3.568 85,4 -3.631 -46,9 3.085 75,0 3.022 72,3
C BRANCO 7.460 72,5 -5.527 -31,1 6.832 55,9 8.765 85,2
COIMBRA 11.060 35,9 -10.188 -24,3 10.701 33,8 11.573 37,6
ÉVORA 6.366 24,4 -6.818 -21,0 2.401 9,4 1.949 7,5
FARO 18.974 61,5 -9.465 -19,0 11.096 27,5 20.605 66,7
GUARDA 5.089 71,7 -4.576 -37,6 3.804 50,0 4.317 60,9
LEIRIA 11.252 41,3 -6.863 -17,8 9.899 31,3 14.288 52,4
LISBOA 17.151 7,4 -37.496 -15,0 65.864 31,1 45.519 19,6
PORTALEGRE 4.629 37,4 -4.911 -28,9 2.176 18,0 1.894 15,3
PORTO 28.430 21,8 -26.876 -16,9 68.864 52,2 70.418 54,0
SANTARÉM 14.644 35,6 -14.589 -26,1 11.890 28,8 11.945 29,0
SETÚBAL 13.673 10,1 -23.868 -16,0 26.531 21,2 16.336 12,1
V CASTELO 6.287 48,6 -4.257 -22,1 5.142 34,4 7.172 55,4
VILA REAL 4.497 65,6 -3.587 -31,6 3.383 43,6 4.293 62,6
VISEU 8.447 65,1 -7.138 -33,3 8.956 62,7 10.265 79,1
AÇORES 4.909 103,4 -1.972 -20,4 3.700 48,1 6.637 139,8
MADEIRA 3.725 31,4 -589 -3,8 6.592 43,9 9.728 81,9
* Exclui votos da emigração
Reunimos de seguida os aspetos mais relevantes retirados do quadro anterior:
• Em 2009 a esquerda parlamentar e seus próximos aumentou em 210000 o número de
apoios recolhidos - que se cifraram um pouco acima de um milhão (1060 milhares) –
materializando um acréscimo de 24.7% face a 2005. Em 2011 regista-se uma quebra na
votação com dimensão equivalente aos ganhos contabilizados em 2009; essas perdas,
por sua vez, foram superadas nitidamente no dia 4 de outubro. Assim, as votações
apresentam um ciclo; baixas em 2005 e 2011 (em torno dos 850000) e elevadas,
superiores a um milhão, em 2009 e 2015;
• Há ganhos de votos em 2009 e 2015 em todos os distritos tal como é em todos que se
registam as reduções em 2011. Em 2009 as maiores subidas percentuais registam-se nos
Açores, no Algarve e ainda no interior Norte e Centro, sendo aqui que se verifica a maior
volatilidade desses votos, perdidos em 2011. Em 2009 destaca-se o baixo crescimento
registado em Lisboa e, em 2011, no contexto de perda generalizada, observa-se na
Madeira perdas muito inferiores às registadas no resto do país;
• A comparação, em números absolutos dos votos em 2005 e 2015 revela um crescimento
global de 35.3%, com indicadores superiores a 50% na maioria dos distritos, com um
relevo muito notório nos Açores. As taxas de aumento dos votantes na esquerda
parlamentar e seus próximos mostram-se particularmente baixas no Alentejo e em
Setúbal, onde a margem de progressão é menor;
• Observe-se, em detalhe pelos principais partidos e para o conjunto dos restantes a
distribuição de ganhos e perdas que, na década considerada fornece um quantitativo
global, positivo, de quase 300000 votos;
Votos na esquerda parlamentar e seus próximos
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 10
Var 2009/05 Var 2011/09 Var 2015/11 Var 2015/05
(nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%)
Total 210.069 24.7 -206.327 -19.5 296.244 34.7 299.986 35.3
BE 192.747 52.9 -268.113 -48.1 260.900 90.3 185.534 50.9
PCP/CDU 13.913 3.2 -6.022 -1.3 4.805 1.1 12.696 2.9
Outros* 3.409 6.4 67.808 119.1 30.539 24.5 101.756 190.0
* 2005 e 2009 - PCTP/MRPP, POUS; 2011 - PCTP/MRPP, POUS, PAN; 2015 - PCTP/MRPP, AGIR/MAS, PAN
• O BE, depois de elevados ganhos de votos em 2009 apresenta em 2011 perdas
claramente superiores aqueles ganhos que foram quase na totalidade recuperados
recentemente. Na década, o partido aumenta em 36.3% os seus apoios eleitorais. Estas
flutuações conjunturais são o fruto das atitudes taticamente desastrosas de encosto ao
PSD em 2011, para o derrube de Sócrates, em consonância com uma estrutura
organizativa frágil, um eleitorado volúvel e a aposta na polarização personalista num
líder com grande visibilidade;
• Quanto ao PCP, carateriza-se por uma grande estabilidade, com ganhos pouco
significativos (2.9% numa década), sofrendo mesmo um ligeiro retrocesso em 2011. Isso
revela uma grande fidelidade dos seus apoiantes, imunes a conjunturas e
procedimentos táticos do partido e também uma escassa capacidade de atrair pessoas
provenientes de outras opções de voto ou novos votantes. Uma tradicional cultura de
resistência, de desvalorização de maus resultados perante males piores dos adversários,
promove essa cultura de fidelidade, alicerce de uma esperança sempre renovada;
• Os elementos atrás apontados revelam que entre os dois partidos da esquerda
parlamentar não há transferências significativas de votos. As variações extremas das
votações no BE não engrossam nem esvaem a PCP. Sociologicamente e do ponto de
vista social os respetivos apoios partem de faixas populacionais distintas, embora as
posições políticas de ambos não se afastem substancialmente, sendo isso percebido
pela grande maioria da população.
Os media mostram os deputados e os dirigentes de ambas as formações, votarem ou
manifestarem-se quase sempre no mesmo sentido; e mesmo que sublinhassem as
distintas posições face à China, à Coreia do Norte ou ao regime angolano, isso seriam
temas pouco interessantes para o eleitor médio, para quem a política internacional
termina onde Badajoz ficar à vista.
Por outro lado, a posição nacionalista do PCP face ao euro e à UE não atrairá a maioria
do eleitorado do BE, europeísta e pouco convencido das vantagens do retorno a uma
moeda própria. Mais recentemente, o BE tem aproveitado as ligações que gerou face ao
Podemos ou ao Syriza, a Iglésias ou Tsipras (alargando os seus horizontes para além do
Die Linke) enquanto nada de equiparado se conhece das relações internacionais do PCP,
excepto quando se coloca como defensor da dinastia norte-coreana. O PCP marcou a
sua singularidade logo após a invasão da Checoslováquia em 1968, é um genuíno
produto nacional, de um país periférico, que ficou imune ao desarmamento ideológico
que transformou os camaradas de outras paragens em ferozes neoliberais.
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 11
• Existe uma velha ideia nas bases eleitorais dos dois partidos e não só – a de uma
unidade da esquerda – e que nunca se concretizou. Numa primeira fase, quando o PCP
era francamente hegemónico, este partido nunca admitiu outra coisa que não uma
assimilação dos outros grupos. Mais tarde, com o relevo eleitoral e mediático obtido
pelo BE, essa plataforma comum também não é viável uma vez que ninguém iria
prescindir da liderança dessa união, com o consequente apagamento do parceiro.
• Essa unidade dificilmente acontecerá, por dois motivos principais. Primeiro, porque não
há uma verdadeira movimentação social que gere na base uma verdadeira unidade de
ação e que obrigue os chefes a corresponder aos impulsos da multidão ou a
desaparecerem afogados no seu reacionarismo. Não havendo essa movimentação, os
chefes e os burocratas monopolizam a ação partidária a favor dos seus interesses
próprios, corporativos (veja-se que cada um apresenta candidato próprio às
presidenciais próximas) incorporando-se ambos num campeonato eleitoral de segunda
divisão. Vivemos tempos diferentes em que anarquistas, comunistas e socialistas
partilharam organizações e a luta contra os fascistas espanhóis, até que Stalin ordenou o
controlo da situação pelo PCE, o que Franco deverá ter agradecido. Em segundo lugar,
na esquerda do hemiciclo, nunca foi apontado o caráter de direita do PS, vastamente
conhecido desde o tempo da ditadura, empurrando para as direções do PS a
responsabilidade pela inexistência da tal “unidade da esquerda”, justificando assim a sua
própria inércia ou desinteresse em avançar com essa unidade;
• Finalmente, uma referência aos “outros”. Entre 2005 e 2009 há um aumento reduzido,
resultante do crescimento do PCTP/MRPP, afetado por uma quebra no parco pecúlio do
POUS, sendo estes dois os únicos partidos acoplados, neste texto, à esquerda
parlamentar. Em 2011 o PCTP/MRPP cresce uns 20% mas o aumento do desempenho
desta área política deve-se particularmente ao surgimento do PAN que se estreia com
quase 58000 votos. Finalmente, em 2015, o PAN afirmou-se como o elemento
dominante nesta área, conquistando mesmo um lugar na AR, enquanto o PCTP/MRPP
regrediu e o AGIR/MAS falhou redondamente no seu pretenso mimetismo do Podemos,
pouco passando dos 20000 votos;
• A distribuição detalhada dos ganhos e perdas eleitorais entre 2005 e 2015 revelam
ganhos do BE em todos os distritos com particular realce para o Porto e também em
Lisboa, Braga e Aveiro. As subidas de votação da CDU têm maior relevo no Porto,
mostrando-se bastante modestas nos outros distritos onde houve aumentos de votação,
embora haja algumas perdas com relevo, em valor absoluto (Setúbal e Lisboa) ou
relativo (distritos alentejanos), revelando alguma erosão da CDU nas suas áreas de
tradicional maior implantação. As subidas do BE na capital, em Setúbal e na Madeira se
situam muito para além das perdas da CDU. Entre os “outros” sobressaem as subidas em
Lisboa, Porto e Setúbal no contexto de um geral paralelismo com a evolução do apoio ao
BE.
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 12
2.3 - A direita assumida
Sem poder de captação de um eleitorado, mais facilmente atraído pelo PSD, com maior
implantação local, nas autarquias, na Madeira, o CDS não tem margem para crescer e por isso
a sua sobrevivência depende da utilidade que possa ter para uma das alas do partido-estado se
impor à outra. O pior cenário de governação para o CDS é um bloco central, um entendimento
entre o PSD e o PS que, em princípio é susceptível de dominar a AR, dispensando o apêndice
Portas que deixará de ser veículo para a infestação de cargos públicos, abandonado por gente
que, com melhores resultados, se dirigirá ao PSD para fazer carreira.
Dentro dessa direita assumida, o CDS tem um peso significativo e, em contrapartida as outras
formações que se têm podido inscrever nesta área, têm uma presença precária ou de reduzida
expressão nas romarias eleitorais. Referimos o PDA, que em 2015 se incluiu, estranhamente,
no AGIR/MAS; o PCDC, ex-PPV que se destaca na sua luta contra o aborto; o PND, entretanto
extinto pelo Tribunal Constitucional. Mais duração, notoriedade e expressão tem o PNR,
fascista e xenófobo. Como o CDS surgiu coligado com o PSD nas últimas eleições, repartimos
os votos da coligação PàF, entre os dois partidos, de acordo com o peso eleitoral de ambos em
2011.
Var 2009/05 Var 2011/09 Var 2015/11 Var 2015/05
(nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%)
TOTAL 167.220 35,9 60.958 9,6 -194.509 -28,0 33.669 7,2
AVEIRO 10.697 25,3 -997 -1,9 -9.713 -18,7 -13 0,0
BEJA 1.849 59,5 808 16,3 -1.960 -34,0 697 22,4
BRAGA 10.861 25,4 1.643 3,1 -7.878 -14,3 4.626 10,8
BRAGANÇA 2.235 25,3 -2.394 -21,6 -2.450 -28,2 -2.609 -29,5
C BRANCO 2.875 38,5 831 8,0 -3.261 -29,2 445 5,9
COIMBRA 6.165 41,1 2.678 12,7 -6.587 -27,6 2.256 15,1
ÉVORA 2.042 49,6 1.682 27,3 -2.672 -34,1 1.052 25,6
FARO 10.610 78,0 3.064 12,7 -10.622 -38,9 3.052 22,4
GUARDA 4.214 52,5 -1.147 -9,4 -3.104 -28,0 -37 -0,5
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 13
LEIRIA 8.712 35,7 -121 -0,4 -7.188 -21,8 1.403 5,8
LISBOA 25.923 23,8 36.726 27,3 -49.310 -28,8 13.339 12,3
PORTALEGRE 2.218 66,1 826 14,8 -2.299 -35,9 745 22,2
PORTO 22.670 29,6 6.582 6,6 -23.637 -22,4 5.615 7,3
SANTARÉM 9.493 48,0 1.322 4,5 -8.861 -28,9 1.954 9,9
SETÚBAL 15.496 62,7 13.877 34,5 -20.454 -37,8 8.919 36,1
V CASTELO 3.583 20,3 -2.432 -11,5 -4.042 -21,5 -2.891 -16,4
VILA REAL 3.454 36,3 -2.329 -18,0 -2.233 -21,0 -1.108 -11,6
VISEU 9.647 47,2 -4.444 -14,8 -5.213 -20,3 -10 0,0
AÇORES 5.107 105,7 1.527 15,4 -7.625 -66,5 -991 -20,5
MADEIRA 9.369 84,4 3.256 15,9 -15.400 -64,9 -2.775 -25,0
* Exclui votos da emigração
Ocorrem-nos os seguintes comentários:
• Desde 2005 até este ano, esta área da direita partidária mostra um crescimento
estimado de uns 33700 votos. Esse saldo positivo deve-se ao crescimento registado em
2009 (35.9%), mais comedido em 2011, seguido de elevadas perdas em 2015, no âmbito
da coligação PàF, com o parceiro PSD;
• Devido à sua dimensão eleitoral - em torno de meio milhão de votos - e pelo seu escasso
enraizamento, a conjuntura provoca variações muito acentuadas, neste tipo de
formações, incapazes de promover uma erosão significativa no PSD, muito mais
alicerçado no poder e na sociedade. Tomando a variação nos dez anos em análise
observam-se perdas em Trás-os-Montes, no Alto Minho e nas Regiões Autónomas e
crescimento muito concentrado em Lisboa, Setúbal e Porto;
• Esta área política corresponde quase na íntegra ao CDS cujo volume de votos, no lapso
de dez anos, cresce razoavelmente enquanto o conjunto das outras formações reduz a
sua importância que, aliás nunca foi elevada.
Var 2009/05 Var 2011/09 Var 2015/11 Var 2015/05
(nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%)
TOTAL 167.220 35,9 60.958 9,6 -194.509 -28,0 33.669 7,2
CDS 176.787 42.6 60.441 10.2 -182.313 -27.9 54.915 13.2
Outros* -9.567 -18.7 517 1.2 -12.196 -29.0 -21.248 -41.6
* 2005 - PND+PNR+PDA; 2009 - PND+PNR+PPV; 2011 - PND+PNR+PPV+PDA; 2015 - PNR+PCDC
As votações no CDS nos dez anos terminados em 2015 revelam subidas modestas de votação
na maioria dos distritos, com mais de metade desses acréscimos a ocorrerem em Lisboa
Setúbal, Porto e Braga, por eventual abrigo procurado por ex-apoiantes do PND. As perdas de
votantes observam-se em Trás os Montes, no Alto Minho e nas Regiões Autónomas.
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 14
O conjunto dos outros partidos assumidos como de direita reduz o seu eleitorado, já de si
escasso, em todos os distritos, com relevo para Lisboa, Porto, Braga e Aveiro.
Até hoje não tèm vingado em Portugal projetos do tipo Front Nationale de Marine Le Pen
ou criminosos como a Aurora Dourada embora deva ser relevado o crescimento este ano,
em perto de 10000 votos (para um total de uns 27000) da marca do fascista PNR cuja
campanha procurou amplificar os ecos de grupos e governos xenófobos que empestam a
Europa, comunitária e não só. Recorde-se que não há muitos refugiados interessados em
vir para Portugal – de onde sairam muitos imigrantes, nos últimos anos – esperando-se
apenas, como produto de rateio no seio da Comissão Europeia, uns escassos 4500.
Para além do PNR que se tornou em 2011 o partido com mais votação nesta área,
ultrapassando o PND, comparece na parada o PPV/PCDC com uma votação residual no
último acto eleitoral, eventualmente porque na sua última sessão da AR o governo Passos
aprovou uma lei que agradou a quantos se acham com o direito de controlar os úteros
femininos.
Este e outros textos em:
http://grazia-tanta.blogspot.com/
http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
https://pt.scribd.com/uploads

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Manifestações nas ruas, as eleições em 2014 e a política do Bem X Mal
Manifestações nas ruas, as eleições em 2014 e a política do Bem X Mal Manifestações nas ruas, as eleições em 2014 e a política do Bem X Mal
Manifestações nas ruas, as eleições em 2014 e a política do Bem X Mal UFPB
 
Social democracia. afunda-se ou renova-se (concl.)
Social democracia. afunda-se ou renova-se (concl.)Social democracia. afunda-se ou renova-se (concl.)
Social democracia. afunda-se ou renova-se (concl.)GRAZIA TANTA
 
A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesa
A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesaA Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesa
A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesaGRAZIA TANTA
 
Manifesto do PT da periferia
Manifesto do PT da periferia Manifesto do PT da periferia
Manifesto do PT da periferia Miguel Rosario
 
O inevitável fim do governo dilma rousseff no brasil
O inevitável fim do governo dilma rousseff no brasilO inevitável fim do governo dilma rousseff no brasil
O inevitável fim do governo dilma rousseff no brasilFernando Alcoforado
 
Democratização do estado e participação popular
Democratização do estado e participação popularDemocratização do estado e participação popular
Democratização do estado e participação popularMarcelo Monti Bica
 
Conciliação política ou confronto político no brasil atual
Conciliação política ou confronto político no brasil atualConciliação política ou confronto político no brasil atual
Conciliação política ou confronto político no brasil atualFernando Alcoforado
 
Cenários do futuro político do brasil
Cenários do futuro político do brasilCenários do futuro político do brasil
Cenários do futuro político do brasilFernando Alcoforado
 
Coronelismo eletrônico de novo tipo
Coronelismo eletrônico de novo tipoCoronelismo eletrônico de novo tipo
Coronelismo eletrônico de novo tipoMatheus Sampaio
 
Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014
Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014
Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014Elisio Estanque
 
Sobrevoando 40 anos de eleições em Portugal
Sobrevoando 40 anos de eleições em PortugalSobrevoando 40 anos de eleições em Portugal
Sobrevoando 40 anos de eleições em PortugalGRAZIA TANTA
 
Caros amigos - entrevista Rui Falcão
Caros amigos - entrevista Rui FalcãoCaros amigos - entrevista Rui Falcão
Caros amigos - entrevista Rui FalcãoRui Falcão
 
Crises de governabilidade e de governança ameaçam a legitimidade do governo d...
Crises de governabilidade e de governança ameaçam a legitimidade do governo d...Crises de governabilidade e de governança ameaçam a legitimidade do governo d...
Crises de governabilidade e de governança ameaçam a legitimidade do governo d...Fernando Alcoforado
 
Cenários da crise política no brasil
Cenários da crise política no brasilCenários da crise política no brasil
Cenários da crise política no brasilFernando Alcoforado
 
Sallum metamorfoses do estado
Sallum metamorfoses do estadoSallum metamorfoses do estado
Sallum metamorfoses do estadoPains Lúcia
 
PT e a "síndrome do Flamengo", mito de origem e dilemas do presente
PT e a "síndrome do Flamengo", mito de origem e dilemas do presentePT e a "síndrome do Flamengo", mito de origem e dilemas do presente
PT e a "síndrome do Flamengo", mito de origem e dilemas do presenteTiago de Andrade
 
Em busca de uma nova esquerda
Em busca de uma nova esquerdaEm busca de uma nova esquerda
Em busca de uma nova esquerdaRoque Ronald Jr.
 
Como superar os atuais problemas econômicos e político institucionais do brasil
Como superar os atuais problemas econômicos e político institucionais do brasilComo superar os atuais problemas econômicos e político institucionais do brasil
Como superar os atuais problemas econômicos e político institucionais do brasilFernando Alcoforado
 

La actualidad más candente (20)

Manifestações nas ruas, as eleições em 2014 e a política do Bem X Mal
Manifestações nas ruas, as eleições em 2014 e a política do Bem X Mal Manifestações nas ruas, as eleições em 2014 e a política do Bem X Mal
Manifestações nas ruas, as eleições em 2014 e a política do Bem X Mal
 
Social democracia. afunda-se ou renova-se (concl.)
Social democracia. afunda-se ou renova-se (concl.)Social democracia. afunda-se ou renova-se (concl.)
Social democracia. afunda-se ou renova-se (concl.)
 
A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesa
A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesaA Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesa
A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesa
 
Manifesto do PT da periferia
Manifesto do PT da periferia Manifesto do PT da periferia
Manifesto do PT da periferia
 
O inevitável fim do governo dilma rousseff no brasil
O inevitável fim do governo dilma rousseff no brasilO inevitável fim do governo dilma rousseff no brasil
O inevitável fim do governo dilma rousseff no brasil
 
Democratização do estado e participação popular
Democratização do estado e participação popularDemocratização do estado e participação popular
Democratização do estado e participação popular
 
Conciliação política ou confronto político no brasil atual
Conciliação política ou confronto político no brasil atualConciliação política ou confronto político no brasil atual
Conciliação política ou confronto político no brasil atual
 
Cenários do futuro político do brasil
Cenários do futuro político do brasilCenários do futuro político do brasil
Cenários do futuro político do brasil
 
Coronelismo eletrônico de novo tipo
Coronelismo eletrônico de novo tipoCoronelismo eletrônico de novo tipo
Coronelismo eletrônico de novo tipo
 
trabalhadores partidos
trabalhadores partidostrabalhadores partidos
trabalhadores partidos
 
Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014
Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014
Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014
 
Sobrevoando 40 anos de eleições em Portugal
Sobrevoando 40 anos de eleições em PortugalSobrevoando 40 anos de eleições em Portugal
Sobrevoando 40 anos de eleições em Portugal
 
Caros amigos - entrevista Rui Falcão
Caros amigos - entrevista Rui FalcãoCaros amigos - entrevista Rui Falcão
Caros amigos - entrevista Rui Falcão
 
Crises de governabilidade e de governança ameaçam a legitimidade do governo d...
Crises de governabilidade e de governança ameaçam a legitimidade do governo d...Crises de governabilidade e de governança ameaçam a legitimidade do governo d...
Crises de governabilidade e de governança ameaçam a legitimidade do governo d...
 
Cenários da crise política no brasil
Cenários da crise política no brasilCenários da crise política no brasil
Cenários da crise política no brasil
 
Sallum metamorfoses do estado
Sallum metamorfoses do estadoSallum metamorfoses do estado
Sallum metamorfoses do estado
 
PT e a "síndrome do Flamengo", mito de origem e dilemas do presente
PT e a "síndrome do Flamengo", mito de origem e dilemas do presentePT e a "síndrome do Flamengo", mito de origem e dilemas do presente
PT e a "síndrome do Flamengo", mito de origem e dilemas do presente
 
Em busca de uma nova esquerda
Em busca de uma nova esquerdaEm busca de uma nova esquerda
Em busca de uma nova esquerda
 
514 an 10_março_2015.ok
514 an 10_março_2015.ok514 an 10_março_2015.ok
514 an 10_março_2015.ok
 
Como superar os atuais problemas econômicos e político institucionais do brasil
Como superar os atuais problemas econômicos e político institucionais do brasilComo superar os atuais problemas econômicos e político institucionais do brasil
Como superar os atuais problemas econômicos e político institucionais do brasil
 

Similar a Teatro eleitoral em Portugal 2005-15: análise da estagnação política na última década

A Constituição (CRP) e alguns dos seus princípios oligárquicos
A Constituição (CRP)  e alguns dos seus princípios oligárquicosA Constituição (CRP)  e alguns dos seus princípios oligárquicos
A Constituição (CRP) e alguns dos seus princípios oligárquicosGRAZIA TANTA
 
O Estado e a mediação política
O Estado e a mediação política O Estado e a mediação política
O Estado e a mediação política GRAZIA TANTA
 
As últimas eleições autárquicas. observações e comparações
As últimas eleições autárquicas. observações e comparaçõesAs últimas eleições autárquicas. observações e comparações
As últimas eleições autárquicas. observações e comparaçõesGRAZIA TANTA
 
Eleições autárquicas – questões para incomodar mandarins
Eleições autárquicas – questões para incomodar mandarinsEleições autárquicas – questões para incomodar mandarins
Eleições autárquicas – questões para incomodar mandarinsGRAZIA TANTA
 
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe 1-
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe  1-Quando a dívida aumenta a democracia encolhe  1-
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe 1-GRAZIA TANTA
 
Presidente da república – figura dispensável num regime democrático
Presidente da república – figura dispensável num regime democráticoPresidente da república – figura dispensável num regime democrático
Presidente da república – figura dispensável num regime democráticoGRAZIA TANTA
 
O que é uma esquerda. Pilares para a sua construção
O que é uma esquerda. Pilares para a sua construçãoO que é uma esquerda. Pilares para a sua construção
O que é uma esquerda. Pilares para a sua construçãoGRAZIA TANTA
 
A democracia de mercado e a actuação da esquerda
A democracia de mercado e a actuação da esquerdaA democracia de mercado e a actuação da esquerda
A democracia de mercado e a actuação da esquerdaGRAZIA TANTA
 
Para uma constituição democrática com caráter de urgência – 1
Para uma constituição democrática com caráter de urgência – 1Para uma constituição democrática com caráter de urgência – 1
Para uma constituição democrática com caráter de urgência – 1GRAZIA TANTA
 
Sobre a Constituição (CRP) – uma Assembleia da República democrática
Sobre a Constituição (CRP)  – uma Assembleia da República democráticaSobre a Constituição (CRP)  – uma Assembleia da República democrática
Sobre a Constituição (CRP) – uma Assembleia da República democráticaGRAZIA TANTA
 
Social democracia. afunda-se ou renova-se (1ª parte)
Social democracia. afunda-se ou renova-se (1ª parte)Social democracia. afunda-se ou renova-se (1ª parte)
Social democracia. afunda-se ou renova-se (1ª parte)GRAZIA TANTA
 
Para uma Constituição Democrática com Caráter de Urgência – 3
Para uma Constituição Democrática com Caráter de Urgência – 3Para uma Constituição Democrática com Caráter de Urgência – 3
Para uma Constituição Democrática com Caráter de Urgência – 3GRAZIA TANTA
 
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxiGRAZIA TANTA
 
A uma democracia de controlo poderá suceder uma democracia de liberdade
A uma democracia de controlo poderá suceder uma democracia de liberdadeA uma democracia de controlo poderá suceder uma democracia de liberdade
A uma democracia de controlo poderá suceder uma democracia de liberdadeGRAZIA TANTA
 
Esta 'esquerda' é a tranquilidade da direita
Esta 'esquerda' é a tranquilidade da direitaEsta 'esquerda' é a tranquilidade da direita
Esta 'esquerda' é a tranquilidade da direitaGRAZIA TANTA
 
Paródia na paróquia – a eleição presidencial
Paródia na paróquia – a eleição presidencial Paródia na paróquia – a eleição presidencial
Paródia na paróquia – a eleição presidencial GRAZIA TANTA
 
Para um novo paradigma político; a re criação da democracia
Para um novo paradigma político; a re criação da democraciaPara um novo paradigma político; a re criação da democracia
Para um novo paradigma político; a re criação da democraciaGRAZIA TANTA
 
Refundar a república no brasil para superar a crise atual
Refundar a república no brasil para superar a crise atualRefundar a república no brasil para superar a crise atual
Refundar a república no brasil para superar a crise atualFernando Alcoforado
 
Arthur Chioro: O que será do Brasil e do SUS
Arthur Chioro: O que será do Brasil e do SUSArthur Chioro: O que será do Brasil e do SUS
Arthur Chioro: O que será do Brasil e do SUSConceição Lemes
 

Similar a Teatro eleitoral em Portugal 2005-15: análise da estagnação política na última década (20)

A Constituição (CRP) e alguns dos seus princípios oligárquicos
A Constituição (CRP)  e alguns dos seus princípios oligárquicosA Constituição (CRP)  e alguns dos seus princípios oligárquicos
A Constituição (CRP) e alguns dos seus princípios oligárquicos
 
O Estado e a mediação política
O Estado e a mediação política O Estado e a mediação política
O Estado e a mediação política
 
As últimas eleições autárquicas. observações e comparações
As últimas eleições autárquicas. observações e comparaçõesAs últimas eleições autárquicas. observações e comparações
As últimas eleições autárquicas. observações e comparações
 
Eleições autárquicas – questões para incomodar mandarins
Eleições autárquicas – questões para incomodar mandarinsEleições autárquicas – questões para incomodar mandarins
Eleições autárquicas – questões para incomodar mandarins
 
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe 1-
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe  1-Quando a dívida aumenta a democracia encolhe  1-
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe 1-
 
Presidente da república – figura dispensável num regime democrático
Presidente da república – figura dispensável num regime democráticoPresidente da república – figura dispensável num regime democrático
Presidente da república – figura dispensável num regime democrático
 
O que é uma esquerda. Pilares para a sua construção
O que é uma esquerda. Pilares para a sua construçãoO que é uma esquerda. Pilares para a sua construção
O que é uma esquerda. Pilares para a sua construção
 
A democracia de mercado e a actuação da esquerda
A democracia de mercado e a actuação da esquerdaA democracia de mercado e a actuação da esquerda
A democracia de mercado e a actuação da esquerda
 
Para uma constituição democrática com caráter de urgência – 1
Para uma constituição democrática com caráter de urgência – 1Para uma constituição democrática com caráter de urgência – 1
Para uma constituição democrática com caráter de urgência – 1
 
Sobre a Constituição (CRP) – uma Assembleia da República democrática
Sobre a Constituição (CRP)  – uma Assembleia da República democráticaSobre a Constituição (CRP)  – uma Assembleia da República democrática
Sobre a Constituição (CRP) – uma Assembleia da República democrática
 
Social democracia. afunda-se ou renova-se (1ª parte)
Social democracia. afunda-se ou renova-se (1ª parte)Social democracia. afunda-se ou renova-se (1ª parte)
Social democracia. afunda-se ou renova-se (1ª parte)
 
Para uma Constituição Democrática com Caráter de Urgência – 3
Para uma Constituição Democrática com Caráter de Urgência – 3Para uma Constituição Democrática com Caráter de Urgência – 3
Para uma Constituição Democrática com Caráter de Urgência – 3
 
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
 
A uma democracia de controlo poderá suceder uma democracia de liberdade
A uma democracia de controlo poderá suceder uma democracia de liberdadeA uma democracia de controlo poderá suceder uma democracia de liberdade
A uma democracia de controlo poderá suceder uma democracia de liberdade
 
Esta 'esquerda' é a tranquilidade da direita
Esta 'esquerda' é a tranquilidade da direitaEsta 'esquerda' é a tranquilidade da direita
Esta 'esquerda' é a tranquilidade da direita
 
Paródia na paróquia – a eleição presidencial
Paródia na paróquia – a eleição presidencial Paródia na paróquia – a eleição presidencial
Paródia na paróquia – a eleição presidencial
 
Para um novo paradigma político; a re criação da democracia
Para um novo paradigma político; a re criação da democraciaPara um novo paradigma político; a re criação da democracia
Para um novo paradigma político; a re criação da democracia
 
Refundar a república no brasil para superar a crise atual
Refundar a república no brasil para superar a crise atualRefundar a república no brasil para superar a crise atual
Refundar a república no brasil para superar a crise atual
 
Arthur Chioro: O que será do Brasil e do SUS
Arthur Chioro: O que será do Brasil e do SUSArthur Chioro: O que será do Brasil e do SUS
Arthur Chioro: O que será do Brasil e do SUS
 
Igor grabois
Igor graboisIgor grabois
Igor grabois
 

Más de GRAZIA TANTA

Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfUcrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfGRAZIA TANTA
 
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docAs desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docGRAZIA TANTA
 
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfBalofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfGRAZIA TANTA
 
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfAs balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfGRAZIA TANTA
 
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfUnião Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfGRAZIA TANTA
 
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaAs desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaGRAZIA TANTA
 
A BideNato flight over
A BideNato flight overA BideNato flight over
A BideNato flight overGRAZIA TANTA
 
Um sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfUm sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfGRAZIA TANTA
 
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfNATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfGRAZIA TANTA
 
USA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfUSA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfGRAZIA TANTA
 
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfEUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfGRAZIA TANTA
 
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfA NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfGRAZIA TANTA
 
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UENato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UEGRAZIA TANTA
 
Speculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUSpeculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUGRAZIA TANTA
 
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueOs especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueGRAZIA TANTA
 
Human beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemHuman beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemGRAZIA TANTA
 
Seres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroSeres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroGRAZIA TANTA
 
Textos de circunstância - 10
Textos de circunstância  - 10Textos de circunstância  - 10
Textos de circunstância - 10GRAZIA TANTA
 
Glasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGlasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGRAZIA TANTA
 
As canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à soltaAs canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à soltaGRAZIA TANTA
 

Más de GRAZIA TANTA (20)

Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfUcrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
 
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docAs desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
 
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfBalofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
 
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfAs balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
 
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfUnião Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
 
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaAs desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
 
A BideNato flight over
A BideNato flight overA BideNato flight over
A BideNato flight over
 
Um sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfUm sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdf
 
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfNATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
 
USA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfUSA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdf
 
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfEUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
 
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfA NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
 
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UENato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
 
Speculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUSpeculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EU
 
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueOs especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
 
Human beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemHuman beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial system
 
Seres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroSeres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiro
 
Textos de circunstância - 10
Textos de circunstância  - 10Textos de circunstância  - 10
Textos de circunstância - 10
 
Glasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGlasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the loose
 
As canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à soltaAs canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à solta
 

Teatro eleitoral em Portugal 2005-15: análise da estagnação política na última década

  • 1. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 1 O teatro eleitoral em Portugal – 2005/15 Sumário1 1 - Uma década em dez pontos perdida 2 - As eleições nos últimos dez anos e a estagnação política 2.1 - O desempenho do partido-estado (PSD/PS) 2.2 - Os comportamentos na esquerda 2.3 - A direita assumida +++x+++ 1 - Uma década em dez pontos perdida Os últimos dez anos podem ser caraterizados por dez elementos que definem, muito claramente, os processos de desestruturação económica, de empobrecimento coletivo e de empenho da classe política naqueles processos. • Dois governos (Sócrates e Passos) subservientes aos ditames de Bruxelas, Frankfurt e Berlim, com oposições mansas e coniventes, em cumprimento das suas funções de turno, sem outra estratégia que não a obediência e o assalto corrupto ao pote; • Governos desastrosos devidamente acolitados pela tosca e fascizante figura de Cavaco Silva, a mais nociva da história portuguesa do último século, depois de Salazar evidenciam um bloqueio político a exigir mudança de regime e de reformas constitucionais profundas; • Intervenção da troika para monitorizar a austeridade conveniente à montagem da acrescida dependência financeira do país, da sua periferização como reserva de mão de obra menos qualificada e barata, bem como exportador de bens de consumo, intermédios ou de gente jovem; • Fim do ciclo especulativo do imobiliário alicerçado no crédito bancário facilitado, por sua vez estribado em financiamento externo, com perdas médias de 14% desde 2008 no valor das habitações para além de aumentos no ilegítimo IMI; • Desmoronamento do sistema financeiro português com burlas impunes e perdas nos financiamentos estatais para o salvar, a agravar o deficit público que, por sua vez, é indutor da austeridade paga pela multidão de trabalhadores e ex-trabalhadores; • Desmantelamento do já de si desconexo sector público, com privatizações a preço de saldo e parcerias que formalizam rendas parasitárias a favor de empresários próximos dos partidos do “arco da governação”; 1 Este texto é a conclusão de outro, publicado recentemente “Sobrevoando 40 anos de eleições em Portugal” http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/10/sobrevoando-40-anos-de-eleicoes-em.html
  • 2. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 2 • Agravamentos brutais da carga fiscal e clara redução de direitos laborais e de cidadania, num contexto de valorização do Estado como agente da espoliação da população em favor do capital; • Persistente continuidade dos desequilíbrios – deficits público e do comércio externo - com um estéril investimento estrangeiro de permeio, baseado na compra de participações em empresas e de imobiliário, acompanhado por forte fuga de capitais; • Fragilização e desarticulação do tecido produtivo com a acentuação da posição de Portugal como corredor secundário de atravessamento das redes transnacionais de negócio; • Ativo papel das “esquerdas” na manutenção da tradicional despolitização dos portugueses e da ausência de contestação popular. É neste cenário que se vem desenrolando, no último mês, uma peça de teatro sobre a luta pelo poder entre o general Alcazar e o coronel Tapioca. 2 - As eleições nos últimos dez anos e a estagnação política Pretende-se com este exercício observar, mais detalhadamente, um lapso de tempo de dez anos, nos quais se verificaram quatro actos de eleições legislativas em Portugal; e, nessa observação conter o modo como se revelaram as preferências dos votantes, num quadro bastante conservador quanto aos protagonistas, o que facilita o cotejo. No capítulo dos protagonistas e para além do habitual surgimento de pequenos partidos com votações irrelevantes ou fugazes, observou-se em 2015 uma coligação PSD/CDS, apresentada como PàF; neste último caso, procedemos, para efeitos de comparação com anos anteriores, a uma desagregação dos votos colhidos por aquela coligação, entre PSD e CDS, reproduzindo as proporções havidas entre ambos, registadas nas eleições de 2011. A evolução observada em geral, permite ainda aquilatar diferenças regionais e a relevância da expressão eleitoral que se não materializa por apoio aos partidos políticos. Pretende-se, nomeadamente, a partir da análise deste período recente retirar elementos adicionais de medida da saúde do regime político actual e, sobretudo, evidenciar as imensas falhas no exercício da democracia, com a captura desta por organizações partidárias, fechadas, estranhas à população, respaldadas numa Constituição2 que as elege em guias institucionais 2 Em outros textos, indicamos alguns onde temos vindo a refletir sobre uma outra organização política, efetivamente democrática e um modelo de representação que dê a cada pessoa um direito, sem o qual não há democracia – o igual direito de eleger e de se candidatar a uma eleição. http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/08/sobre-constituicao-crp-uma-assembleia.html http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/07/a-constituicao-crp-e-alguns-dos-seus.html http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/05/um-modelo-democratico-para-os-municipios.html http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/03/para-uma-constituicao-democratica-com_22.html http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/03/para-uma-constituicao-democratica-com.html http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/02/para-uma-constituicao-democratica-com.html http://www.slideshare.net/durgarrai/para-um-novo-paradigma-poltico-a-re-criao-da-democracia
  • 3. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 3 para a iluminação dos populares tomados implicitamente como indigentes culturais, incapazes, por si só, de escolherem o que convém para as suas vidas e o seu futuro. Dessa formulação constitucional resulta uma deliberada construção de despolitização3, nas famílias, no trabalho e nas escolas, para justificar o monopólio do exercício de funções de decisão coletiva a uma classe de iluminados que, como historicamente sucede com todas as classes de ungidos, cuidam de se rodear de bem-estar, privilégios, direitos específicos e imunidades exclusivas; e cuidam também dos instrumentos ideológicos, legislativos e repressivos necessários à perpetuação da sua existência. Para o efeito, torna-se necessário proceder a uma massiva e permanente ação de propaganda do regime através dos media no sentido da despolitização, da apresentação da política como um emaranhado necessariamente obscuro de jogos de poder; estes, constituem o tabuleiro onde participam como jogadores, o sistema financeiro, as empresas do regime, as instituições da UE e também, corporações tentaculares e poderosas, ciosas dos seus poderes e privilégios, como são a Igreja Católica, os grupos maçónicos, as confederações patronais e sindicais, as ordens profissionais, o sistema judiciário e suas confrarias da toga, o mandarinato universitário, as polícias, os militares; mais ou menos entrelaçados com a classe política de âmbito nacional, regional e autárquico que articula, unifica, expressa e zela pelos seus interesses. 2.1 - O desempenho do partido-estado (PSD/PS) Temos, desde há vários anos, considerado que o PSD e o PS, pelas suas escassas diferenças programáticas e de atuação, como pelas suas filiações internacionais constituem uma frente única destinada a gerir a criação de riqueza em Portugal, a sua apropriação pelas hierarquias do capital global e pelas suas parcelas indígenas, num contexto de paz social, de aceitação dessa subjugação por parte da população. Temos utilizado para acentuar essa caraterística estratégica de frente única, a designação de partido-estado, dada a sua permanência continuada no poder nacional, regional e autárquico nos últimos quarenta anos; pela infestação dos aparelhos de estado central, regional ou autárquico, empresas, institutos e órgãos da administração com gente deles emanada; pelo papel central que têm na devastadora corrupção que carateriza a relação público-privada. A não fusão do PSD e do PS tem razões que se prendem com a própria lógica da democracia de mercado, assente na bipolarização e na alternância. Como se desenvolverá em seguida. A ditadura fascista, depois de um período de listas únicas nas eleições, notou que seria necessário apresentar uma ideia da existência expressa de alternativa ao poder; que evidentemente não era de todo admissível. Essa encenação aconteceu em 1969 e foi tentada em 1973 mas então, o encerramento do regime fascista nas suas próprias dificuldades era tal que nem sequer a oposição se dignou a participar na farsa. http://www.slideshare.net/durgarrai/sobre-a-democracia-a-democracia-e-a-sua-usurpao-1a-parte 3 http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/10/a-uma-democracia-de-controlo-podera.html
  • 4. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 4 Para que tudo se mantenha na mesma é preciso alterar alguma coisa, disse Giuseppe Tomasi di Lampedusa no seu “Il gattopardo” para mostrar as capacidades de renovação das oligarquias. Após o 25 de Abril, o livre despontar da diversidade de expressão e organização política foi rapidamente afunilado no sentido da organização de partidos políticos, como existia “lá fora” e isso foi contemplado de modo muito preciso e detalhado na Constituição. Para que tudo se mantivesse consonante com os interesses dos poderes dentro da sociedade portuguesa e de acordo com a tutela externa (a caminho da transição da esfera anglo-saxónica para a alemã) seria necessário criar um sistema vocacionalmente bipartidário, para dar a ideia da existência de alternativa e admitir que essa alternativa existia, sob a forma de alternância, entre dois pelotões comandados pelo mesmo general. Nesse contexto, cada partido do alterne gera a sua mafia própria, em concorrência com a do outro partido, gerando-se interesses e solidariedades próprias em cada uma das seitas. Se o PSD e o PS se fundissem, a plebe recordaria um PRI mexicano, autoritário e corrupto, sentir-se-ia dominado por uma ditadura e certamente procuraria alternativas mais perigosas para os poderes oligárquicos. Podem aparecer unidos, temporariamente, para o cumprimento dos altos desígnios do capital, como na gestão da segunda intervenção do FMI e preparação da entrada na CEE (1983/85), como poderão coligar-se proximamente para imporem as medidas draconianas de “reformas estruturais” ditadas por Schauble. Para manterem o espírito da alternância e, na falta de maioria absoluta, o CDS tem sido utilizado como contrapeso. Nessa encenação convém também que haja mais figurantes no palco. Nada melhor do que colocar o erário público a pagar perto de três euros por cada voto recolhido pelos partidos com mais de 50000 votos, para a utilização desse incentivo na sua manutenção e para o aliciamento de mais agremiações a participarem em romarias eleitorais. Assim se poderá dizer que o sistema político é pluripartidário embora o poder não se afaste do controlo do partido- estado. Como se costuma dizer em meios do futebol, são onze contra onze mas no final, ganha a Alemanha. Entre os membros do sistema partidário, em que cada um recolhe do pote o adequado às suas possibilidades, ninguém levantará questões sobre a democraticidade de um regime político que discrimina, segmenta, eleitos e eleitores, no qual estes votam em candidatos nomeados por oligarquias, sem possibilidade de apearem os escolhidos, por mais patifarias que cometam. Por estas e outras razões se pode e deve referir a existência de uma classe política, termo que os membros daquela não usam e ouvem com incómodo. Os resultados obtidos nos quatro últimos escrutínios pelo partido-estado (PSD/PS ou vice- versa) - a que somamos alguns pequenos grupos de acólitos, com uma lógica equiparada e em procura de migalhas que escorram do pote (PPM+PDR+Livre+MPT+PTP+NOS+Juntos pelo Povo+PURP, em 2015) - são concludentes do esboroar das apostas neles feitas, expressas em votos. Variações de votos no partido-estado e seus próximos Var 2009/05 Var 2011/09 Var 2015/11 Var 2015/05 (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) TOTAL* -436.765 -10,3 -7.743 -0,2 -252.542 -6,7 -697.050 -16,5 AVEIRO -32.306 -10,6 2.714 1,0 -24.149 -8,8 -53.741 -17,6 BEJA -13.764 -24,9 -534 -1,3 -114 -0,3 -14.412 -26,1
  • 5. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 5 BRAGA -12.009 -3,2 -6.029 -1,6 -27.168 -7,5 -45.206 -12,0 BRAGANÇA -4.414 -6,6 -2.386 -3,8 -6.681 -11,1 -13.481 -20,1 C BRANCO -18.276 -17,7 -3.245 -3,8 -8.842 -10,8 -30.363 -29,4 COIMBRA -24.313 -12,8 -5.397 -3,3 -8.940 -5,6 -38.650 -20,4 ÉVORA -14.038 -21,8 -673 -1,3 -825 -1,7 -15.536 -24,1 FARO -28.373 -19,1 4.291 3,6 -9.552 -7,7 -33.634 -22,6 GUARDA -8.067 -9,7 -4.516 -6,0 -7.785 -11,1 -20.368 -24,6 LEIRIA -23.381 -12,4 6.289 3,8 -12.025 -7,0 -29.117 -15,4 LISBOA -80.353 -9,9 12.086 1,7 -26.428 -3,6 -94.695 -11,7 PORTALEGRE -11.529 -21,7 -953 -2,3 -2.144 -5,3 -14.626 -27,5 PORTO -41.348 -5,4 -7.224 -1,0 -74.277 -10,3 -122.849 -16,0 SANTARÉM -31.911 -17,3 1.843 1,2 -11.288 -7,3 -41.356 -22,4 SETÚBAL -39.213 -15,3 8.711 4,0 -848 -0,4 -31.350 -12,2 V CASTELO -10.859 -10,1 -1.635 -1,7 -7.139 -7,5 -19.633 -18,2 VILA REAL - 7.321 -6,9 -1.221 -1,2 -10.791 -11,1 -19.333 -18,2 VISEU -16.890 -9,7 -1.993 -1,3 -15.449 -10,0 -34.332 -19,8 AÇORES -6.954 -8,7 -5.933 -8,1 6.913 10,3 -5.974 -7,5 MADEIRA -16.039 -14,1 -1.938 -2,0 -5.010 -5,2 -22.987 -20,2 * Exclui votos da emigração Podem extrair-se algumas notas dos dados acima expostos: • Relativamente a 2005, o partido-estado e os seus próximos recolheram menos 697000 votos, recebendo recentemente pouco mais de 3.5 M de apoios entre a população devendo ter-se em conta que os inscritos para votar, por seu turno, aumentaram em cerca de 640000, com todas as reservas que se possam colocar ao recenseamento eleitoral, objeto de uma incúria interessada por parte do partido-estado4 , no poder há quarenta anos; • Há grande desigualdade na evolução dessas perdas, mais acentuadas em 2009 e pouco relevantes em 2011; o susto da troika e o descontentamento face a Sócrates contiveram essas perdas em números reduzidos, uma vez que houve grandes trocas de votos no seio do próprio partido-estado, do PS para o PSD e que veio a permitir a este, constituir uma maioria absoluta com o apêndice Portas. • Em 2009, o partido-estado perde, percentualmente, votos em todos os distritos, com particular relevo no Alentejo e, numa segunda linha, em Faro, Castelo Branco, Santarém, Setúbal e Madeira. Uma maior fidelidade eleitoral destaca-se em Braga, Bragança e Vila Real. Em 2011, há seis distritos com aumentos de votação no partido-estado, com maior significado em Setúbal, Leiria e Faro, com as maiores penalizações a observarem-se nos Açores e na Guarda. Este ano, 2015, há quebras no apoio ao PSD/PS em todos os distritos, com excepção dos Açores; registam-se valores absolutos muito significativos no Porto e reduções percentuais equiparadas, naquele distrito e ainda no interior Norte e Centro (Bragança, Castelo Branco, Guarda, Vila Real e Viseu). • Em números absolutos, nos dez anos agora findos, o partido-estado tem destacáveis perdas de votos no Porto e em Lisboa embora neste último distrito os valores relativos 4 http://www.slideshare.net/durgarrai/um-sistema-eleitoral-falsificado-e-enganador
  • 6. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 6 sejam os mais baixos do país, só ultrapassados pelos Açores. Não é difícil apontar razões para essa situação; Lisboa, sobretudo a cidade, é o local de concentração da riqueza, do poder de estado, do poder económico, com relevo para a área financeira e ainda, da classe política. À influência da socio-economia será necessário acrescentar a influência política e ideológica sobre a população, num contexto mais geral de abandono do interior, da sua desertificação e do aprofundamento das desigualdades regionais. A interpenetração entre a população de ambas as margens do troço final do Tejo justifica que em Setúbal - tradicionalmente apontado como um distrito de “esquerda” - a erosão do partido-estado seja das menos penalizadoras. Em todos os distritos que se encostam à fronteira leste e ainda em Santarém e na Madeira, as perdas de apoio ao partido- estado são superiores a 20% entre 2005 e 2015. • A distribuição de ganhos e perdas no âmbito do partido-estado, do bloco central e da paleta dos seus próximos revela que nos últimos dez anos, a já referida perda de votos entre 2005 e 2015 (697000) tem como principal contribuinte o PS, uma vez que a redução de apoios do PSD é pequena, observando-se, pelo contrário, um aumento das votações no variável grupo de pequenos partidos que incluímos como próximos do partido-estado. Votos no partido-estado e seus próximos Var 2009/05 Var 2011/09 Var 2015/11 Var 2015/05 (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) Total -436.765 -10,3 -7.743 -0,2 -252.542 -6,7 -697.050 -16,5 PS -503.472 -19.6 -510.310 -24.7 183.762 11.8 -830.020 -32.3 PSD 6.795 0.4 500.037 30.4 -542.471 -25.3 -35.639 -2.2 Outros* 59.912 351.3 2.530 3.3 106.167 133.5 168.609 9.9 * 2005 – PH; 2009 – PPM, MEP, MMS, MPT/PH, PTP, MPT; 2011 – PPM, MEP, PH, PTP, MPT; 2015 – PPM, PDR, Livre, MPT, PTP, NOS, JpP, PURP • O PS sofre perdas massivas de votos em 2009 e 2011, recuperando recentemente o correspondente a 11.8% dos que manifestaram preferência pelo partido em 2011. Em 2009, as perdas do PS representam a fuga de votos para fora da área do partido-estado, pesem embora as subidas registadas entre os “outros” (o aparecimento do MEP e do MMS) e muito marginalmente pelo PSD; • Em 2011 há uma forte subida dos votos no PSD, como produto do rol de falsidades e promessas que convenceram parte importante de um povo muito despolitizado e, com uma variação quase simétrica do PS, castigado pela crise da dívida e pela austeridade decretada pela troika. Uma vez que pouco cresce o voto nos “outros”, esta área política, no seu conjunto tem uma perda limitada de votos; • 2015 é o tempo do castigo eleitoral do PSD que perde mais de um quarto dos seus apoiantes de quatro anos antes e que, se não tivesse cooptado o CDS (dependente de uma coligação para evitar a marginalização política e eleitoral) teria ficado aquém do PS na ordem dos 140000 votos; ao contrário do observado em 2011, a transferência de votos para o PS é limitada, correspondendo apenas a um terço das perdas do PSD. O crescimento dos votos nos “outros” deve-se particularmente a duas novidades – PDR e Livre – que em conjunto recolheram uns 100000 votos e que provavelmente
  • 7. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 7 constituirão epifenómenos de moda. Esta evolução contudo, não evita que a área política do partido-estado tenha perdido um quarto de milhão de votos relativamente a 2011; 2.2 - Os comportamentos na esquerda Os principais partidos colocados na esquerda do sistema partidário são o BE e o PCP, ambos com vocação para uma oposição ao partido-estado, acompanhando, com uma postura essencialmente reativa e conjunturalista, as derivas e as malfeitorias emanadas dos governos, qualquer que seja a ala do partido-estado que as protagonize; e geralmente, com uma concertação entre ambos. Como não apresentam visões sistémicas para uma alternativa ao poder instituído constituem apenas uma consciência crítica para quem aceita o conservadorismo imanente à procura de um mal menor, numa lógica de corrida de fundo atrás do prejuízo, de gradualismo quantitativo que um dia… desembocará numa alteração qualitativa, na concepção mecanicista cara a Engels. Esse conformismo retrata, de algum modo, as lógicas dos aparelhos que, para garantir a perpetuidade, se mostram desejosos de recolher o apoio popular mas, como algo exterior de que se desconfia. Jamais procuram o incentivo de uma movimentação social para a criação de uma miscigenação libertadora das potencialidades da multidão. Aplicam, na realidade, o paradigma leninista das vanguardas de condutores das massas que, por axioma, são dadas por incapazes de gerar no seu seio ideias ou movimento social e político; e que, por essa razão, terão o dever de reconhecer na esquerda, representada por partidos concorrentes, essa ontológica capacidade de liderança. Para além dos interesses próprios de cada aparelho, há diferenças essenciais entre BE e PCP. O primeiro é europeísta e o segundo nacionalista. O último necessita de garantir o seu papel numas quantas autarquias e o domínio das estruturas sindicais para poder participar na
  • 8. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 8 Concertação Social e colocar um numeroso funcionalismo partidário, enquanto o BE não desenvolve reais estruturas partidárias, nem detém a pluralidade de órgãos de “massas” que o PCP anima (comissões de utentes, centros de idosos, grupos de jovens, por exemplo, para além do partido ecologista “Os Verdes”). Nas negociações com António Costa – depois de uma campanha eleitoral onde o PS foi bastante atacado – ambos os partidos mostram-se dispostos a viabilizar um governo PS que procurará protocolar um frágil apoio externo na AR. Resta saber se esse governo, a existir5, não conterá apenas o programa do PS adornado aqui e ali com alguns alívios conjunturais e jamais com medidas estruturais; para desgosto de um eleitorado despolitizado que acredita na fábula redentora da unidade da esquerda. Não nos parece que possa vir a ser incluída nesse programa qualquer referência séria de alívio da dívida e dos seus juros; de revisão constitucional para a formulação de uma organização política democrática com alteração do modelo de representação; de revisão das mordomias e imunidades da classe política; de desgovernamentalização da administração pública; de revogação do financiamento público de entidades privadas que parasitam os sistemas de saúde, de educação e ação social; de colocação da Segurança Social, enquanto fundo dos trabalhadores portugueses, fora da intervenção governamental; de redistribuição do rendimento, com um plano agressivo de recuperação de dívidas fiscais e à Segurança Social; de concretização da regionalização como apontada na Constituição; de funda revisão da legislação laboral, a favor dos trabalhadores, de apoio a uma concertação dos países periféricos da UE para a alteração dos elementos de imposição empobrecedora constantes nos tratados, para a aplicação democrática do princípio da subsidiariedade, etc. Recordamos a experiência do PCF como parceiro minoritário num governo de Mitterrand nos anos 80 que contribuiu para o declínio do primeiro; não escrutinamos o que resultou de positivo nas alianças com o PS na câmara de Lisboa e conhece-se a recente experiência do Syriza, que propunha um programa bem mais avançado que os partidos da esquerda do hemiciclo luso. Será que uma experiência de comprometimento governamental com o PS por parte do BE e do PCP lhes trará uma engorda de votos? E, como procederão quando ao PS forem colocadas as medidas favoráveis aos desejos dos “mercados”, com pesados custos para a multidão? Como evidenciámos acima para o partido-estado, observamos as variações nos quatro pleitos legislativos realizados na última década, para a esquerda parlamentar, incluindo no que concerne a 2015, os pequenos partidos lhe serão próximos (PCTP/MRPP + AGIR/MAS) ou aqui incluídos por comodidade (PAN). Variações de votos no esquerda parlamentar e seus próximos Var 2009/05 Var 2011/09 Var 2015/11 Var 2015/05 (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) TOTAL* 210.069 24,7 -206.327 -19,5 296.244 34,7 299.986 35,3 5 Mantemos uma expectativa céptica sobre a concretização dessa “maioria de esquerda” e menos ainda que dela resultem ações sérias de alteração da correlação de forças entre o capital e o trabalho ou de resistência face às exigências vindas de Bruxelas, Berlim ou Frankfurt http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/10/depois-da-romaria-eleitoral-o-programa.html
  • 9. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 9 AVEIRO 16.503 45,1 -11.745 -22,1 18.097 43,7 22.855 62,4 BEJA 6.424 23,8 -8.034 -24,0 2.029 8,0 419 1,6 BRAGA 16.390 33,0 -14.197 -21,5 25.202 48,5 27.395 55,1 BRAGANÇA 3.568 85,4 -3.631 -46,9 3.085 75,0 3.022 72,3 C BRANCO 7.460 72,5 -5.527 -31,1 6.832 55,9 8.765 85,2 COIMBRA 11.060 35,9 -10.188 -24,3 10.701 33,8 11.573 37,6 ÉVORA 6.366 24,4 -6.818 -21,0 2.401 9,4 1.949 7,5 FARO 18.974 61,5 -9.465 -19,0 11.096 27,5 20.605 66,7 GUARDA 5.089 71,7 -4.576 -37,6 3.804 50,0 4.317 60,9 LEIRIA 11.252 41,3 -6.863 -17,8 9.899 31,3 14.288 52,4 LISBOA 17.151 7,4 -37.496 -15,0 65.864 31,1 45.519 19,6 PORTALEGRE 4.629 37,4 -4.911 -28,9 2.176 18,0 1.894 15,3 PORTO 28.430 21,8 -26.876 -16,9 68.864 52,2 70.418 54,0 SANTARÉM 14.644 35,6 -14.589 -26,1 11.890 28,8 11.945 29,0 SETÚBAL 13.673 10,1 -23.868 -16,0 26.531 21,2 16.336 12,1 V CASTELO 6.287 48,6 -4.257 -22,1 5.142 34,4 7.172 55,4 VILA REAL 4.497 65,6 -3.587 -31,6 3.383 43,6 4.293 62,6 VISEU 8.447 65,1 -7.138 -33,3 8.956 62,7 10.265 79,1 AÇORES 4.909 103,4 -1.972 -20,4 3.700 48,1 6.637 139,8 MADEIRA 3.725 31,4 -589 -3,8 6.592 43,9 9.728 81,9 * Exclui votos da emigração Reunimos de seguida os aspetos mais relevantes retirados do quadro anterior: • Em 2009 a esquerda parlamentar e seus próximos aumentou em 210000 o número de apoios recolhidos - que se cifraram um pouco acima de um milhão (1060 milhares) – materializando um acréscimo de 24.7% face a 2005. Em 2011 regista-se uma quebra na votação com dimensão equivalente aos ganhos contabilizados em 2009; essas perdas, por sua vez, foram superadas nitidamente no dia 4 de outubro. Assim, as votações apresentam um ciclo; baixas em 2005 e 2011 (em torno dos 850000) e elevadas, superiores a um milhão, em 2009 e 2015; • Há ganhos de votos em 2009 e 2015 em todos os distritos tal como é em todos que se registam as reduções em 2011. Em 2009 as maiores subidas percentuais registam-se nos Açores, no Algarve e ainda no interior Norte e Centro, sendo aqui que se verifica a maior volatilidade desses votos, perdidos em 2011. Em 2009 destaca-se o baixo crescimento registado em Lisboa e, em 2011, no contexto de perda generalizada, observa-se na Madeira perdas muito inferiores às registadas no resto do país; • A comparação, em números absolutos dos votos em 2005 e 2015 revela um crescimento global de 35.3%, com indicadores superiores a 50% na maioria dos distritos, com um relevo muito notório nos Açores. As taxas de aumento dos votantes na esquerda parlamentar e seus próximos mostram-se particularmente baixas no Alentejo e em Setúbal, onde a margem de progressão é menor; • Observe-se, em detalhe pelos principais partidos e para o conjunto dos restantes a distribuição de ganhos e perdas que, na década considerada fornece um quantitativo global, positivo, de quase 300000 votos; Votos na esquerda parlamentar e seus próximos
  • 10. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 10 Var 2009/05 Var 2011/09 Var 2015/11 Var 2015/05 (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) Total 210.069 24.7 -206.327 -19.5 296.244 34.7 299.986 35.3 BE 192.747 52.9 -268.113 -48.1 260.900 90.3 185.534 50.9 PCP/CDU 13.913 3.2 -6.022 -1.3 4.805 1.1 12.696 2.9 Outros* 3.409 6.4 67.808 119.1 30.539 24.5 101.756 190.0 * 2005 e 2009 - PCTP/MRPP, POUS; 2011 - PCTP/MRPP, POUS, PAN; 2015 - PCTP/MRPP, AGIR/MAS, PAN • O BE, depois de elevados ganhos de votos em 2009 apresenta em 2011 perdas claramente superiores aqueles ganhos que foram quase na totalidade recuperados recentemente. Na década, o partido aumenta em 36.3% os seus apoios eleitorais. Estas flutuações conjunturais são o fruto das atitudes taticamente desastrosas de encosto ao PSD em 2011, para o derrube de Sócrates, em consonância com uma estrutura organizativa frágil, um eleitorado volúvel e a aposta na polarização personalista num líder com grande visibilidade; • Quanto ao PCP, carateriza-se por uma grande estabilidade, com ganhos pouco significativos (2.9% numa década), sofrendo mesmo um ligeiro retrocesso em 2011. Isso revela uma grande fidelidade dos seus apoiantes, imunes a conjunturas e procedimentos táticos do partido e também uma escassa capacidade de atrair pessoas provenientes de outras opções de voto ou novos votantes. Uma tradicional cultura de resistência, de desvalorização de maus resultados perante males piores dos adversários, promove essa cultura de fidelidade, alicerce de uma esperança sempre renovada; • Os elementos atrás apontados revelam que entre os dois partidos da esquerda parlamentar não há transferências significativas de votos. As variações extremas das votações no BE não engrossam nem esvaem a PCP. Sociologicamente e do ponto de vista social os respetivos apoios partem de faixas populacionais distintas, embora as posições políticas de ambos não se afastem substancialmente, sendo isso percebido pela grande maioria da população. Os media mostram os deputados e os dirigentes de ambas as formações, votarem ou manifestarem-se quase sempre no mesmo sentido; e mesmo que sublinhassem as distintas posições face à China, à Coreia do Norte ou ao regime angolano, isso seriam temas pouco interessantes para o eleitor médio, para quem a política internacional termina onde Badajoz ficar à vista. Por outro lado, a posição nacionalista do PCP face ao euro e à UE não atrairá a maioria do eleitorado do BE, europeísta e pouco convencido das vantagens do retorno a uma moeda própria. Mais recentemente, o BE tem aproveitado as ligações que gerou face ao Podemos ou ao Syriza, a Iglésias ou Tsipras (alargando os seus horizontes para além do Die Linke) enquanto nada de equiparado se conhece das relações internacionais do PCP, excepto quando se coloca como defensor da dinastia norte-coreana. O PCP marcou a sua singularidade logo após a invasão da Checoslováquia em 1968, é um genuíno produto nacional, de um país periférico, que ficou imune ao desarmamento ideológico que transformou os camaradas de outras paragens em ferozes neoliberais.
  • 11. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 11 • Existe uma velha ideia nas bases eleitorais dos dois partidos e não só – a de uma unidade da esquerda – e que nunca se concretizou. Numa primeira fase, quando o PCP era francamente hegemónico, este partido nunca admitiu outra coisa que não uma assimilação dos outros grupos. Mais tarde, com o relevo eleitoral e mediático obtido pelo BE, essa plataforma comum também não é viável uma vez que ninguém iria prescindir da liderança dessa união, com o consequente apagamento do parceiro. • Essa unidade dificilmente acontecerá, por dois motivos principais. Primeiro, porque não há uma verdadeira movimentação social que gere na base uma verdadeira unidade de ação e que obrigue os chefes a corresponder aos impulsos da multidão ou a desaparecerem afogados no seu reacionarismo. Não havendo essa movimentação, os chefes e os burocratas monopolizam a ação partidária a favor dos seus interesses próprios, corporativos (veja-se que cada um apresenta candidato próprio às presidenciais próximas) incorporando-se ambos num campeonato eleitoral de segunda divisão. Vivemos tempos diferentes em que anarquistas, comunistas e socialistas partilharam organizações e a luta contra os fascistas espanhóis, até que Stalin ordenou o controlo da situação pelo PCE, o que Franco deverá ter agradecido. Em segundo lugar, na esquerda do hemiciclo, nunca foi apontado o caráter de direita do PS, vastamente conhecido desde o tempo da ditadura, empurrando para as direções do PS a responsabilidade pela inexistência da tal “unidade da esquerda”, justificando assim a sua própria inércia ou desinteresse em avançar com essa unidade; • Finalmente, uma referência aos “outros”. Entre 2005 e 2009 há um aumento reduzido, resultante do crescimento do PCTP/MRPP, afetado por uma quebra no parco pecúlio do POUS, sendo estes dois os únicos partidos acoplados, neste texto, à esquerda parlamentar. Em 2011 o PCTP/MRPP cresce uns 20% mas o aumento do desempenho desta área política deve-se particularmente ao surgimento do PAN que se estreia com quase 58000 votos. Finalmente, em 2015, o PAN afirmou-se como o elemento dominante nesta área, conquistando mesmo um lugar na AR, enquanto o PCTP/MRPP regrediu e o AGIR/MAS falhou redondamente no seu pretenso mimetismo do Podemos, pouco passando dos 20000 votos; • A distribuição detalhada dos ganhos e perdas eleitorais entre 2005 e 2015 revelam ganhos do BE em todos os distritos com particular realce para o Porto e também em Lisboa, Braga e Aveiro. As subidas de votação da CDU têm maior relevo no Porto, mostrando-se bastante modestas nos outros distritos onde houve aumentos de votação, embora haja algumas perdas com relevo, em valor absoluto (Setúbal e Lisboa) ou relativo (distritos alentejanos), revelando alguma erosão da CDU nas suas áreas de tradicional maior implantação. As subidas do BE na capital, em Setúbal e na Madeira se situam muito para além das perdas da CDU. Entre os “outros” sobressaem as subidas em Lisboa, Porto e Setúbal no contexto de um geral paralelismo com a evolução do apoio ao BE.
  • 12. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 12 2.3 - A direita assumida Sem poder de captação de um eleitorado, mais facilmente atraído pelo PSD, com maior implantação local, nas autarquias, na Madeira, o CDS não tem margem para crescer e por isso a sua sobrevivência depende da utilidade que possa ter para uma das alas do partido-estado se impor à outra. O pior cenário de governação para o CDS é um bloco central, um entendimento entre o PSD e o PS que, em princípio é susceptível de dominar a AR, dispensando o apêndice Portas que deixará de ser veículo para a infestação de cargos públicos, abandonado por gente que, com melhores resultados, se dirigirá ao PSD para fazer carreira. Dentro dessa direita assumida, o CDS tem um peso significativo e, em contrapartida as outras formações que se têm podido inscrever nesta área, têm uma presença precária ou de reduzida expressão nas romarias eleitorais. Referimos o PDA, que em 2015 se incluiu, estranhamente, no AGIR/MAS; o PCDC, ex-PPV que se destaca na sua luta contra o aborto; o PND, entretanto extinto pelo Tribunal Constitucional. Mais duração, notoriedade e expressão tem o PNR, fascista e xenófobo. Como o CDS surgiu coligado com o PSD nas últimas eleições, repartimos os votos da coligação PàF, entre os dois partidos, de acordo com o peso eleitoral de ambos em 2011. Var 2009/05 Var 2011/09 Var 2015/11 Var 2015/05 (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) TOTAL 167.220 35,9 60.958 9,6 -194.509 -28,0 33.669 7,2 AVEIRO 10.697 25,3 -997 -1,9 -9.713 -18,7 -13 0,0 BEJA 1.849 59,5 808 16,3 -1.960 -34,0 697 22,4 BRAGA 10.861 25,4 1.643 3,1 -7.878 -14,3 4.626 10,8 BRAGANÇA 2.235 25,3 -2.394 -21,6 -2.450 -28,2 -2.609 -29,5 C BRANCO 2.875 38,5 831 8,0 -3.261 -29,2 445 5,9 COIMBRA 6.165 41,1 2.678 12,7 -6.587 -27,6 2.256 15,1 ÉVORA 2.042 49,6 1.682 27,3 -2.672 -34,1 1.052 25,6 FARO 10.610 78,0 3.064 12,7 -10.622 -38,9 3.052 22,4 GUARDA 4.214 52,5 -1.147 -9,4 -3.104 -28,0 -37 -0,5
  • 13. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 13 LEIRIA 8.712 35,7 -121 -0,4 -7.188 -21,8 1.403 5,8 LISBOA 25.923 23,8 36.726 27,3 -49.310 -28,8 13.339 12,3 PORTALEGRE 2.218 66,1 826 14,8 -2.299 -35,9 745 22,2 PORTO 22.670 29,6 6.582 6,6 -23.637 -22,4 5.615 7,3 SANTARÉM 9.493 48,0 1.322 4,5 -8.861 -28,9 1.954 9,9 SETÚBAL 15.496 62,7 13.877 34,5 -20.454 -37,8 8.919 36,1 V CASTELO 3.583 20,3 -2.432 -11,5 -4.042 -21,5 -2.891 -16,4 VILA REAL 3.454 36,3 -2.329 -18,0 -2.233 -21,0 -1.108 -11,6 VISEU 9.647 47,2 -4.444 -14,8 -5.213 -20,3 -10 0,0 AÇORES 5.107 105,7 1.527 15,4 -7.625 -66,5 -991 -20,5 MADEIRA 9.369 84,4 3.256 15,9 -15.400 -64,9 -2.775 -25,0 * Exclui votos da emigração Ocorrem-nos os seguintes comentários: • Desde 2005 até este ano, esta área da direita partidária mostra um crescimento estimado de uns 33700 votos. Esse saldo positivo deve-se ao crescimento registado em 2009 (35.9%), mais comedido em 2011, seguido de elevadas perdas em 2015, no âmbito da coligação PàF, com o parceiro PSD; • Devido à sua dimensão eleitoral - em torno de meio milhão de votos - e pelo seu escasso enraizamento, a conjuntura provoca variações muito acentuadas, neste tipo de formações, incapazes de promover uma erosão significativa no PSD, muito mais alicerçado no poder e na sociedade. Tomando a variação nos dez anos em análise observam-se perdas em Trás-os-Montes, no Alto Minho e nas Regiões Autónomas e crescimento muito concentrado em Lisboa, Setúbal e Porto; • Esta área política corresponde quase na íntegra ao CDS cujo volume de votos, no lapso de dez anos, cresce razoavelmente enquanto o conjunto das outras formações reduz a sua importância que, aliás nunca foi elevada. Var 2009/05 Var 2011/09 Var 2015/11 Var 2015/05 (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) TOTAL 167.220 35,9 60.958 9,6 -194.509 -28,0 33.669 7,2 CDS 176.787 42.6 60.441 10.2 -182.313 -27.9 54.915 13.2 Outros* -9.567 -18.7 517 1.2 -12.196 -29.0 -21.248 -41.6 * 2005 - PND+PNR+PDA; 2009 - PND+PNR+PPV; 2011 - PND+PNR+PPV+PDA; 2015 - PNR+PCDC As votações no CDS nos dez anos terminados em 2015 revelam subidas modestas de votação na maioria dos distritos, com mais de metade desses acréscimos a ocorrerem em Lisboa Setúbal, Porto e Braga, por eventual abrigo procurado por ex-apoiantes do PND. As perdas de votantes observam-se em Trás os Montes, no Alto Minho e nas Regiões Autónomas.
  • 14. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 4/11/2015 14 O conjunto dos outros partidos assumidos como de direita reduz o seu eleitorado, já de si escasso, em todos os distritos, com relevo para Lisboa, Porto, Braga e Aveiro. Até hoje não tèm vingado em Portugal projetos do tipo Front Nationale de Marine Le Pen ou criminosos como a Aurora Dourada embora deva ser relevado o crescimento este ano, em perto de 10000 votos (para um total de uns 27000) da marca do fascista PNR cuja campanha procurou amplificar os ecos de grupos e governos xenófobos que empestam a Europa, comunitária e não só. Recorde-se que não há muitos refugiados interessados em vir para Portugal – de onde sairam muitos imigrantes, nos últimos anos – esperando-se apenas, como produto de rateio no seio da Comissão Europeia, uns escassos 4500. Para além do PNR que se tornou em 2011 o partido com mais votação nesta área, ultrapassando o PND, comparece na parada o PPV/PCDC com uma votação residual no último acto eleitoral, eventualmente porque na sua última sessão da AR o governo Passos aprovou uma lei que agradou a quantos se acham com o direito de controlar os úteros femininos. Este e outros textos em: http://grazia-tanta.blogspot.com/ http://www.slideshare.net/durgarrai/documents https://pt.scribd.com/uploads