1. Expansão
Marítima
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: “Navegar é preciso; viver não é
preciso”.
Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o
que eu sou: “Viver não é necessário; o que é necessário é criar”.
Fernado Pessoa. Obra Poética
O
início dos tempos modernos foi mar O estrago só
cado pelo encontro de dois não foi maior, porque
mundos que se ligariam de forma defi- os francos impediram
nitiva na História. De um lado, o mundo europeu po- a expansão islâmica
deroso e cruel no tratamento com os povos conquista- pelo resto do conti-
dos. De outro, as regiões descobertas da África, Ásia nente, na batalha de
e América, que os europeus passaram a chamar de Poitiers, em 721. Po-
Novo Mundo. rém a península qua-
A conquista dessas áreas inaugurou um longo se que inteira foi ocu-
tempo de domínio, destruição e grandes mudanças para pada pelos árabes
ambas as partes, deixando uma herança que até hoje durante várias déca-
marca a história desses povos. O ponto de partida foi das.
o despertar de duas nações - Portugal e Espanha, que A partir do
tomaram a dianteira na aventura das Grandes século XII, na mesma
navegações. Para compreender essa história devemos época das Cruzadas,
retroceder um pouco no tempo, escolhendo como juntaram-se vários
ponto de partida, a ocupação da península ibérica pelos nobres católicos, sob
árabes no século VIII. Nessa época, as tropas mouras o comando dos su-
atravessaram o estreito de Gibraltar, derrotando os seranos de Leão,
cavaleiros cristãos. Castela, Navarra e
Aragão. A empreita-
da cruzadista reuniu
combatentes ávidos
O ALTO-MAR ERA PARA pela conquista de novas terras. Dentre esses, destacou- Uma vez que
se o duque de Borgonha, famoso pelas suas vitórias. um navio
OS NAVEGADORES DO Como prêmio o duque de Borgonha recebeu as entrava nas
vastidões não
SÉCULO XV O QUE O ESPAÇO terras do Condado Portucalense, que se tornaria o cartografadas
embrião de Portugal. A região embora interligada geo- do oceano,
É PARA OS ATUAIS ASTRO- graficamente, desde cedo, apresentou características ficava sujeito
NAUTAS - COM A DIFERENÇA autonomistas. Enquanto isso, os reinos cristãos ibéricos a todos os
caprichos
DE QUE O NAVEGADOR que se formavam continuavam sua luta contra os extremos do
mouros. Muitas vezes lutavam entre si o que facilitava tempo
SABIA MENOS PARA ONDE IA o separatismo do Condado Portucalense em relação ao
E TINHA MENOS ESPERANÇA restante. Daí foi uma passo para a formação do Estado
português.
DE VOLTAR. 1
2. Expansão Marítima
Com efeito, a Guerra de Reconquista, como é “A formação de uma burguesia mercantil nos portos
chamada, influiu decisivamente na organização do jo- lusitanos foi facilitada, sob certos aspectos, pela pró-
vem Estado. Diferente de outras monarquias onde a pria crise do século. As rotas terrestres que ligavam
A reconquista da autoridade real era tolhida por uma série de limites. Por- os dois pólos de comércio do baixo medievo, Itália e
península Ibérica tugal desde o início teve o rei congregando apoio nos Flandres, haviam-se tornado perigosas pelas revol-
foi empreendida
pelos reinos
diferentes segmentos da sociedade. Na época feudal a tas camponesas, pela guerra e pela violência da
cristãos do norte região não teve vínculos fortes de ordem pessoal. fome”.
a partir do século Eduardo Oliveira, historiador, caracteriza como feuda- Como na época das Cruzadas, a geografia de
XI. Pode se lismo frustrado, onde a terra conquistada não trazia Portugal beneficiou-o: os mercadores flamengos e ita-
observar no
mapa: à medida
delegações de poder hereditário. As instituições lianos passaram a dar preferência à rota marítima de
que as vitórias municipais eram vinculadas ao rei que tinha amplos cabotagem que, ultrapassando Gibraltar, fazia esca-
sobre os poderes. Além disso, o conflito com os árabes refoçou la nos portos lusos. Évora, Lisboa, Porto e outras ci-
muçulmanos se a liderança real, com apoio dos nobres, burguesia, clero dades puderam participar de grandes negócios mer-
sucediam, os
reinos cristãos,
e do povo em geral. cantis. Para fortalecer a burguesia nascente e apro-
cada vez mais veitar-se do comércio intermediário, muitos genoveses,
extensos, se florentinos, flamengos e judeus se estabeleceram de-
uniam. Fonte:
História Moderna
PORTUGAL E A CRISE DO SÉCULO finitivamente nos principais portos do reino”. 2
e Contemporânea. XIV
Leonel Itaussu e
Luís César Costa.
pág 23
O Estado português era no início do
século XIV, uma economia predominantemen-
te agrária. Porém aos poucos se desenvolveu
no litoral uma atividade pesqueira bastante ren-
tável. Com a pesca de sardinha os portugue-
ses progrediram rapidinho para espécies maio-
res, como o atum e a baleia. Muitas cidades
cresceram em decorrência do mercado pesquei-
ro. A rota de comércio que ligava o sul ao norte
da Europa incluía Portugal como parada obri-
gatória dos navios que se dirigiam para a prós-
pera região de Flandres, no norte do continente.
No século XIV houve a Peste Negra.
Como a península Ibérica foi menos atingida,
houve um benefício comercial e a regão se
torrnou um porto mais ou menos seguro, ao
contrário de outros lugares, onde ocorreu o declínio da A batalha de Aljubarrota, em abril de 1385, foi
decisiva para a coroação de D.João de Avis
atividade comercial. Como afirma Ricardo Maranhão:
3. No fim desse mesmo século morreu o último
descendente da dinastia Borgonha, sem deixar um
herdeiro varão. Como a herdeira do trono era casada
com o rei de Castela, havia o perigo da anexação de
Portugal. Os portugues se rebelaram e após dois anos
de lutas sangrentas venceram os ibéricos e
empossaram o duque de Avis com apoio da burguesia
e a nobreza. A “Revolução de Avis” embora não tenha
levado a burguesia ao poder, deixou-a na confortável
situação de interferir mais diretamente nos negócios
Expansão Marítima
do Estado.
Essa relação essencial entre centralização
política e início da expansão possibilita o chamado
pioneirismo português, ou seja, a expansão ultra-
marina explicita o capitalismo comercial português
que só é possível graças ao Estado centralizado.
Por sua vez, a Revolução de Avis é o momento de sua
partida para a modernidade. A base social da revo-
lução (grupos mercantis) imprime forma, auxiliada
pelos interesses reais, promovendo o alargamento
do comércio português. Dessa maneira, Portugal
reúne condições propícias para a expansão: cen-
tralização política, acumulação prévia de capital,
grupo mercantil forte e com influência junto aos
interesses mercantis reais.” 3 Além disso a conquista de Ceuta tinha o
incentivo da Igreja queapoiava qualquer empreitada que Um
cartógrafo
resultasse em prejuízo para os mouros islâmicos. O norte holandês
RUMO À EXPANSÃO MARÍTIMA da África ainda estava entulhado de guerreiros de Alá, trabalha
que ameaçavam a península Ibérica. A Igreja Católica entre
apoiou a expansão portuguesa, dando-lhe um caráter mapas; um
Depois da consolidada a centralização política globo e
com a dinastia de Avis, a monarquia portuguesa deu cruzadista retomando o espírito cristão das cruzadas de outros
início a conquista de regiões próximas ao território Jerusalém. Na dobradinha com a Igreja, as expedições acessórios
portguês. Nessa perspectiva se enquadravam as passaram a ter um verniz cristão, o que encobria o caráter do seu ofício
regiões do norte da África, produtoras de trigo, bem comercial do empreendimento.
como rotas de ouro no Saara. No estreito de Gibraltar As novidades tecnológicas do Renascimento
estava a cidade de Ceuta que era um grande entreposto Cultural também favoreceram os portugueses. No sé-
de comércio. Com a conquista da cidade os culo XIV propagou-se o uso da pólvora, além da bússola
portugueses pretendiam diminuir a dependência dos e o astrolábio. Utilizadas em conjunto essas invenções
mercadores de Veneza, que tinham o monopólio de deram supremacia aos lusitanos, impossibilitando uma
comércio no Mediterrâneo. reação mais eficaz dos povos conquistados.
O Tempo da História
1280 1385 1415 1488 1498
FORMAÇÃO DE REVOLUÇÃO CONQUISTA CABO DAS VASCO DA
PORTUGAL DE AVIS DE CEUTA TORMENTAS GAMA NAS
1453 1492 ÍNDIAS
TOMADA DE CONSOLIDAÇÃO
CONSTANTINOPLA DA ESPANHA
4. Expansão Marítima
Outra novidade foi o costa visível, voltar-se para a direção certa. Os pro-
navio à vela, de manejo fácil permitindo cessos permaneciam empíricos, de valor exclusiva-
suportar distâncias mais longas. A vela era usada em mente local, incertos e dificilmente transmissíveis”.
4
navios antigos, mas o novo formato triangular e o teci-
do mais resistente permitiam a navegação com vento A CONQUISTA DA ÁFRICA
contrário, o que representava uma revolução na arte de
navegar. Começando as grandes conquistas os portu-
“Só o navio europeu podia ir a toda parte. O gueses ocuparam a rica cidade de Ceuta, no norte da
leme axial com charneira de cadaste, inventado no África.Além do mais, a região se adequava ao plantio
século XIII, possuía uma forte ação sobre a água, gra- de algodão, trigo e cevada, sua localização era exces-
ças ao longo safrão. O grande braço de alavanca ao sivamente privilegiada, situada no ponto mais extremo
lado do timoneiro multiplicava a força do homem e, do estreito de Gibraltar.
no decorrer do século, os europeus aprenderam a apli- Contrariando o que se esperava os muçulma-
car o cabrestante ao leme, a partir de então dotado nos driblaram os cristãos, desviando a rota de Ceuta
No mapa você
observa a de uma roda de fácil manobra. As dimensões do leme para outras regiões do Mediterrâneo. Isso deixou a
primeira etapa tornaram-se ilimitadas, conseqüentemente as dimen- cidade esvaziada de sua riqueza, ofuscando o sucesso
da expansão sões do navio e o volume aumentaram tanto quanto o militar. O prejuízo comercial serviu de lição e ajudou
portuguesa com
permitia a madeira em construção”. na partcipação mais consistente da Escola de Sagres,
o ataque à
Ceuta, no norte Os europeus eram os únicos que sabiam deter- comandada pelo infante D. Henrique.
da África. Fonte: minar com suficiente exatidão o ponto de partida, a
Leonel Itaussu direção em seguida, o ponto em que se encontravam
e Luís Costa.op
em dado momento em pleno mar, o ponto de chegada,
cit.
e que atribuíam a tais conhecimentos um valor uni-
versal, transmitindo-os mediante processos acessíveis
à razão de qualquer homem. Os chineses não se servi-
am da bússola e se orientavam pelas estrelas. Do mes-
mo modo procediam os polinésios, que dispunham,
além disso, desse estranho e inexplicável instinto pri-
mitivo, que lhes permitia em seus mares, sem qualquer
“QUANDO AS JORNADAS ÉPICAS DOS SÉ-
CULOS XV E XVI COMEÇARAM A TRANSFORMAR
A VISÃO DE MUNDO DO HOMEM OCIDENTAL,
SURGIU A PROCURA DE CARTAS E MAPAS MAIS
EXATOS. A GEOGRAFIA FANTASIOSA DA AN-
TIGUIDADE - QUE REPRESENTAVA A TERRA
COMO UMA MASSA TERRESTRE ÚNICA INTER-
LIGADA E CERCADA DE MARES DESCONHECI-
DOS - CEDEU LENTAMENTE O PASSO A LEVAN-
TAMENTOS BASEADOS NA OBSERVAÇÃO DIRE-
TA, COM A AJUDA DE NOVOS INSTRUMENTOS
DE NAVEGAÇÃO. ASSIM, COM CRESCENTE PRE-
CISÃO, AS COSTAS FORAM DETERMINADAS, AS
ROTAS MARÍTIMAS CARTOGRAFADAS, OS MA-
RES SONDADOS E A DIREÇÃO DOS VENTOS
AUSPICIOSOS CUIDADOSAMENTE ANOTADA. ”
5
5. “Vários mapas da época nem sequer se preocu-
A escola que era um centro de estudos náuticos pavam em tentar reproduzir a distribuição espacial
extrapolou sua finalidade original e transformou-se no de continentes, países e mares so-
centro financeiro das expedições. Todos os passos bre a Terra. Os mapas mais pa-
eram decididos na escola de Sagres. Na verdade, como recidos com os que conhece-
afirma, Eduardo Bueno, a escola só existiu no sentido mos atualmente demonstram
filosófico da palavra, pois não houve o espaço físico que os europeus tinham uma
podendo-se se considerar como Escola de Sagres todo idéia muito vaga ou não ti-
um conjunto de decisões que nortearam a expansão. nham idéia alguma sobre os
continentes e oceanos: ge-
Expansão Marítima
ralmente a América não
“EM VISTA DAS aparecia, a África e a Ásia
eram disformes, assim como
TREVAS E DA ESCURIDÃO os oceanos; vários dese-
DO NEVOEIRO, QUASE nhos, dispostos por todo o
mapa e em suas bordas,
ÍAMOS BATER NAS PEDRAS misturavam elementos reais,
E NAS ILHAS ANTES DE VÊ- relativos à vegetação, fauna, relevo, etc. , com
LAS. MAS DEUS CUIDOU DE fantasias...Os europeus do século XV misturavam co-
nhecimento geográficos com lendas, realidade, com
NÓS, ROMPENDO O imaginação. Acreditavam, por exemplo, na existência
NEVOEIRO PARA QUE de um país imaginário, Offir, de onde teriam se origi-
nado todos os tesouros do rei Salomão.” 6
PUDESSEMOS VER.“ Em 1419, os portugueses ocuparam o arquipéla-
go de Açores. Em 1434, contornaram o cabo Bojador, A bússola era
Diário de Bordo - 1457. que segundo a crença, era o ponto final do Oceano usada na
Atlântico. No litoral africano fundaram inúmeras feitorias navegação do
século XIII e
– praças fortificadas de embarque de mercadorias. Nas
sofreu
feitorias se apropriaram das riquezas locais, sobretudo transformações
Por trás da Escola de Sagres estava a Ordem de a pimenta e o marfim que eram obtidos através do para ser adaptada
Cristo, originada da antiga Ordem dos Templários, que escambo. Em pouco tempo obtiveram os escravos em no balanço do
navio no período
extinta na França, por ameaçar a Igreja Católica. A Or- troca de objetos de metal e outras mercadorias de
dos
dem que era muito rica foi acolhida em Portugal, de- baixíssimo valor, quinquilharias e bijuterias. descobrimentos
pois da expulsão do território francês. Além do inte- Os escravos se tornaram a mercadoria mais
resse econômico a Ordem via nas ex- valorizada. Em Portugal foram utilizados no serviço
pedições a chance de expandir o ca- doméstico, mas o emprego dessa mão-de-obra se deu
tolicismo. Em conseqüência os na- principalmente, na agricultura canavieira de Açores,
vios adornavam as velas com a cruz Madeira e Cabo Verde, e mais tarde no Brasil.
de malta que era o símbolo da Ordem
de Cristo.
MAR PORTUGUÊS
Ó MAR SALGADO, QUANTO DO TEU SAL
SÃO LÁGRIMAS DE PORTUGAL
POR TE CRUZARMOS, QUANTAS VEZES MÃES
CHORARAM.
QUANTOS FILHOS EM VÃO REZARAM!
QUANTAS NOIVAS FICARAM POR CASAR
PARA QUE FOSSES NOSSO, Ó MAR!
VALEU A PENA? TUDO VALE A PENA
SE A ALMA NÃO É PEQUENA.
QUEM QUER PASSAR ALÉM DO BOJADOR
TEM QUE PASSAR ALÉM DA DOR.
DEUS AO MAR O PERIGO E O ABISMO DEU.
MAS NELE É QUE ESPELHOU O CÉU.
FERNANDO PESSOA . OBRA POÉTICA .
6. “A Coroa portuguesa acreditava, sobretudo
Expansão Marítima
durante o reinado de D.João II (1481-91), ser o se-
“Todo homem de bom juízo gredo a alma do negócio - e manteve sempre em gran-
de sigilo os objetivos e os resultados de suas navega-
depois de ter realizado a sua ções. Há indícios de que nos anos 1470 os portugue-
viagem, reconhecerá que é um ses já tivessem começado a considerar seriamente a
milagre manifesto ter podido possibilidade de contornar a África ou até mesmo de
atravessar o Atlântico para alcançarem por mar os
escapar de todos os perigos que se ricos mercados da Índia.” 7
apresentaram em sua Em 1488, Bartolomeu Dias contornou o Cabo
das Tormentas, que mudou o nome para Cabo da Boa
peregrinação” Esperança. Com o périplo africano os portugueses
Diário de Bordo navegaram no oceano Índico, etapa final para o
caminho das Índias. A partir desse momento o encontro
da almejada rota era só uma questão de tempo. E
óbviamente os conquistadores lusitanos acreditavam
que esse era o melhor caminho.
Constantinopla
tinha um
fantástico
sistema de
defesa,
constituído de Foi nesse período, que os turcos otomanos do-
oito grandes minaram Constantinopla, em 1453. Com o domínio turco
muralhas. as mercadorias que utilizavam essa rota de comércio
Entretanto,
depois de
tornaram-se mais caras
décadas de diminuindo a importância do
ataques dos Mediterrâneo. O “bloqueio”
turcos-otomanos, de Constantinopla incentivou
as defesas foram
suplantadas e a
a procura de uma nova rota
cidade rendeu-se que os levasse às Índias e
em 1453 nessa perspectiva os
portugueses estavam na
metade desse caminho.
Na gravura ao lado, marinheiro utiliza um
instrumento de navegação
7. COLOMBO DESEMBARCA NA
A ESPANHA E CRISTÓVÃO AMÉRICA
COLOMBO
Depois de muita festa os navios saíram do porto
Enquanto isso, os reinos ibéricos estavam na de Palos, em agosto de 1492. Pelos cálculos de Colombo
iminência de expulsar os mouros do reino de Granada. era uma viagem de sete semanas até a chegada nas
Demorou mas os espanhóis superaram seus conflitos Índias. Os suprimentos não íam durar muito mais que
internos. Em 1492, finalmente derrotaram os isso e a água, mesmo no início, tinha uma coloração
muçulmanos consolidando a centralização política e a escura e um gosto azedo, piorando a condição dos
formação do reino da Espanha. Anteriormente, os es- tripulantes. Depois de dois meses em alto mar a
Expansão Marítima
panhóis já tinham avançado nessa direção com o ca- tripulação estava em desespero,
samento dos reis católicos Fernando de Aragão e começando um motim .Para
Isabel de Castela. sorte de
A partir desse momento
alcançavam o status político de
Portugal. A expansão maríti-
ma tinha como pré-requisito
a formação do Estado, pela
necessidade de congregar
investimentos que a
iniciativa particular
jamais poderia obter.
Como era de se esperar
a Igreja deu apoio
incondicional aos
Os reis
monarcas espanhóis , da católicos
mesma forma que fizera Fernando e
em Portugal. Dadas as Isabel
condições para o início da empreitada marítima surgiu Colombo, quando ía começar a revolta, sentiram a pre- investiram nas
viagens de
a grande questão. sença de mosquitos e algas marinhas que era o sinal de Colombo
Que caminho eles deveriam seguir? Não pode- terra à vista!
ria ser litoral africano, já dominado pelos portugueses! “Colombo, imediatamente, imaginou que ha-
Quando estavam sem rumo, entrou em cena o famoso via chegado ao Japão, citado como Cipango por Mar-
navegador - Cristóvão Colombo. Antes de ir para a co Polo. Em seguida, analisou a latitude e concluiu
Espanha, o navegador quase morreu, em 1451, quan- ter chegado à China. Em suas viagens de reconheci-
do seu navio foi atacado e o comandante salvou-se mento pela costa, perdeu a nau Santa Maria. Mas soube
agarrado numa tábua. Por um tempo foi casado com aproveitar a madeira para erguer uma espécie de forte
uma portuguesa, que o incentivou a apresentar seu que daria proteção para 40 de seus homens. (...) Na
ambicioso projeto ao rei D. João II que rejeitou a idéia. volta, sem perceber, traçou sua rota mais para leste e
Mas que planos tão misteriosos eram esses? encontrou ventos mais favoráveis que sopravam mais
Acreditava Colombo que navegando em dire- para oeste. Enfrentou fortes tempestades em seu
ção ao Ocidente chegaria com muito mais facilidade às regresso antes e depois de chegar às ilhas dos Açores,
terras do Oriente. Partia da desembarcando finalmente no porto de Lisboa em 4
premissa de que a Terra era de março de 1493”.
redonda. Só que na época Durante a viagem, Colombo escreveu uma car-
havia dúvidas quanto à ta aos reis católicos Fernando e Isabel. Narrou a via-
esfericidade da Terra. gem e descreveu as ilhas que havia encontrado como
Adeptos dessa teoria eram se elas fossem parte daquelas que existem nas costas
publicamente ridicularizados da China, já que supunha ter chegado lá. Desejoso de
por opositores, que defendi- realizar uma segunda viagem, Colombo ressaltou a
am as concepções medievais presença de ouro e procurou sempre fazer analogias
da Terra plana. entre as populações que havia encontrado e as “tri-
Por sorte houve quem bos selvagens” que existiam no Oriente.” 8
apostasse que podia dar
certo um plano que parecia
suicida. Como os reis espanhóis não tinham nada a
perder, entregaram ao navegador genovês o comando
das três caravelas - Santa Maria, Pinta e Niña.
8. Expansão Marítima
Tratado de Tordesilhas - 1494
A descoberta de novas terras causou um pro-
Colombo ainda retornou três vezes ao
blema internacional, pois o rei de D. João de Portugal,
continente descoberto. Mas as viagens foram em vão,
exigiu a divisão imediata das áreas do Atlântico. Com a
pois o navegador não encontrou a sonhada passagem
mediação do Papa, reuniram-se os diplomatas dos
para o Oriente. Teimoso e obstinado, percorreu todo o
países ibéricos. Em 1493, surgiu a proposta que parecia
litoral da América Central e diversas ilhas do mar do
conciliadora, na bula “Inter Coetera”, determinando uma
Caribe. Em 1498, viu a foz do rio Orenoco e não
linha a 100 léguas a oeste de Cabo Verde como marco
percebeu que se tratava de um continente. Mesmo
da divisão. A idéia recusada pelos portugueses. Dessa
assim Colombo não cedia. No auge da loucura chegou
forma o impasse foi resolvido, em 1494, com a linha a
a acreditar que estava na porta do paraíso.
370 léguas a oeste do mesmo local. O Tratado de
Em 1501, já não tinha mais prestígio com os reis
Tordesilhas, foi considerado um marco no entendimento
da Espanha. A Colombo restou uma “aposentadoria”
entre duas nações. Para leste, todas as terras
num castelo do interior da Espanha, onde morreu, em
descobertas pertenceriam a Portugal e a oeste,
1506, pobre e esquecido por seus antigos admirado-
pertenceriam à Espanha.
res. Para seus fãs foi um herói, para seus detratores
não passou de um louco e algoz conquistador.
Embarque das
naus portuguesas
em 1497
9. tarde denominado baía de Cabrália. Dois jovens indí-
OS PORTUGUESES NO genas, apanhados numa almádia foram apresentados
ORIENTE a Cabral. Os intérpretes das línguas asiáticas e afri-
canas estavam a bordo, porém não compreenderam o
Em 1497, partiu de Lisboa a esquadra coman- idioma falado pela tribo dos tupiniquins, que então
dada por Vasco da Gama. Contornaram o cabo da Boa dominavam o sul baiano.” 11
Esperança e chegaram em Moçambique. Partindo desse Para transmitir a notícia ao rei D. Manuel, Cabral
local com o auxílio de um navegante árabe seguiram enviou o navio de Gaspar de Lemos, com a famosa carta
em direção às Índias. Após um mês de viagem, em de Pero Vaz de Caminha. Depois de sete dias a esquadra
1498, ancorava os navios em Calicute, na Índia, onde embarcou em direção a Calicute, deixando aqui uns po-
Expansão Marítima
teve fria recepção do sultão. Apesar do clima hostil a bres coitados como garantia da presença portuguesa.
viagem de Vasco da Gama foi lucrativa. Depois de Na Índia os portugueses foram mal recebidos e
meses de viagem retornaram a Portugal, em 1499 escorraçados pelas tropas do sultão. Para sorte de Cabral
Navegar é preciso. Tornava-se imprescindível foi possível a aliança com inimigos de Calicute. Com os
estabelecer relações mais concretas com os mercado- novos aliados Cabral bombardeou a cidade. Capturou
res da Índia e a conquista efetiva das regiões do dez embarcações árabes e intimidou os indianos,
Oriente. Com esses objetivos partiu a nova esquadra obtendo várias mercadorias que abarrotaram os navios
com treze navios, sob o comando de Pedro Álvares restantes.
Cabral. Em 22 de abril, chegaram no litoral da Bahia, Por um bom tempo os portugueses se esquece-
batizando as terras encontradas com o nome de Vera ram do Brasil, e se concentraram no lucrativo comércio
Cruz. com as Índias. O esquecimento das terras brasileiras
durou até o momento que as especiarias tornaram-se
A existência de um marco que garantia a posse um pesadelo para os lusitanos mas aí vái ser outra
de novas terras, a pouca surpresa na Carta de Pero Vaz história.
de Caminha, a presença de navegadores no litoral norte
CESSEM DO SÁBIO GREGO E TROIANO
AS NAVEGAÇÕES GRANDES QUE FIZREAM;
CALE-SE DE ALEXANDRE E DE TRAJANO
A FAMA DE VITÓRIAS QUE TIVERAM
QUE EU CANTO O PEITO ILUSTRE LUSITANO.
A QUEM NEPTUNO E MARTE OBEDECERAM.
CESSE TUDO QUE A MUSA ANTIGA CANTA.
QUE OUTRO VALOR MAIS ALTO SE ALEVANTA.
Luís de Camões
Quadro mostra a chegada de Vasco da Gama nas Índias
do Brasil, antes da chegada de Cabral, são evidências
da intencionalidade portuguesa da descoberta. Mas a
questão ainda está em aberto, por falta de outras
provas mais contundentes. De qualquer forma, muito
antes da descoberta, o Brasil já pertencia a Portugal,
como definia o Tratado de Tordesilhas.
“No dia 23, quinta-feira, navegaram para ter-
ra e foram ancorar em frente da boca de um rio, onde
os cristãos travaram as primeiras relações com os
indígenas.
No dia subseqüente, a 24 sexta-feira, rumaram
para o norte. Os vasos maiores fundearam fora, en-
quanto os navios de menor tonelagem entraram num
abrigo que Cabral chamou de Porto Seguro mais
10. Cartografia das Grandes
Navegações
Expansão Marítima
Fonte:
Explorando a América Latina
Ana Maria Machado
Editora Ática
11. Olympio. Pág. 21.
2
In. Maranhão, Ricardo e outros. Brasil História. Texto e Consulta. Edito-
ra Brasiliense. Pág. 46.
3
In. Koshiba, Luis e Denise Manzi Freire. Historia do Brasil. Atual
Editora. Pág. 29.
4
In Mousnier, Roland. A Europa e o Mundo. Difel Editora. Pág 47.
5
In. Hale, John R. Op. Cit. Pág. 61.
6
In.Amado, Janaína e Garcia, Leonidas Franco. Navegar é preciso.
Expansão Marítima
Atual Editora. Pág 25.
7
In. Maestri, Mário. Terra do Brasil. Coleção Polêmica. Editora Moderna.
Pág 22.
8
In. Theodoro, Janice. Pensadores, exploradores e mercadores. Cole-
ção Ponto de Apoio. Editora Scipione. Pág. 67.
9 In. Hale John, R. Op. Cit. Pág. 28.
10 Camões, Luís de. Os Lusíadas. Editora Porto. pág.37.
11 In. Dias, Manuel Nunes. A Expansão Européia e a Descoberta do
Brasil - Brasil em Perspectiva. Difel. In Maranhão, Ricardo e outros. op
cit. Pág 57.
12 In. Galeano Eduardo. Veias Abertas da América Latina. Editora Paz
e Terra. Pág 31.