1. Regressão da memória Texto:As dores do mundo Autor: Luiz Gonzaga Pinheiro Música: Träumerei
2. A dor de qualquer homem afeta o mundo inteiro. É como uma gota de tinta em um lago transparente. Muda toda a paisagem.
3. Mas a dor não é carrasca dos homens, apenas sua prisioneira.
4. A dor dos homens vem da luz mortiça das cavernas, das pirâmides, dos palácios e hoje mora em modernos edificios e favelas.
5. Às vezes queda-se sobre os berços, os túmulos, observa lágrimas, passa longo tempo meditando sobre o sermão do monte, mas não larga o tacape.
6. É uma dor que vem de muitos corpos, velhos mundos, novos Espíritos. É uma dor sofrida, que quer se libertar, mas os homens a aprisionam com seus desejos e suas geurras.
7. É uma dor muito antiga, nascida nos ancestrais dos primeiros homens, cujos modernos são eles próprios.
8. É uma dor reprise, recorrente, cansada de doer sem que sua lição seja apreendida. A dor do mundo é uma mestra que espera o dia de se transformar em amor, mas os homens não permitem tal metamorfose.
9. Carcereiros da dor, os homens aprenderam a viajar para a lua,mas não notaram ainda que a ferida de hoje foi causada pelo punhal de ontem; que a mortalha que cobre seu filho agora foi cosida pelas mãos de seus avós.
10. O homem é um viajante do passado e sua bagagem é a dor, que se disfarça de orgulho, egoismo, vaidade, inveja....
11. Seu maior medo é ter esperança, doar-se, acolher o amor, chaves do cárcere que o libertariam.
12. Quando encontra o amor, entontece, sente vertigens, quer se entregar, mas julga que isso o fragilizaria e recua para seus tormentos.
13. Somente quando vence todos os seus demônios interiores é que descobre o quanto foi tolo em podar as asas do anjo que teimavam em nascer em seu Espírito.
14. É então que vê ao seu lado os imensos recursos que Deus colocou ao seu dispor, até então ignorados por ele.
15. E começa a juntar as fagulhas de bons sentimentos deixados nas trilhas percorridas; aqui um bom conselho; ali um beijo, alhures um afago.
16. Compreende enfim sua origem e destinação; que a peneira do tempo tudo deixa para trás, apenas o amor permanece como caminho único.
17. É então que a dor, companheira de séculos o deixa, e vai procurar outros corações imaturos para ministrar a mesma lição.
18. E o amor, outra face da dor, inicia seus seguros passos em direção ao infinito.
19. É então que o homem não é mais o mesmo. passa de carcereiro a semeador; abre o ouvido ao amor, o coração à esperança e seu peito passa a ser uma imensa hospedaria. Em outras palavras, assume seu lugar entre os obreiros do Senhor.