3. Hemorragia uterina anormal (H.U.A) - Definição
Hemorragia genital com origem uterina que sai do
padrão normal do ciclo menstrual.
NORMAL:
cataménio= 2 - 6 dias (20-60ml)
interlúneo= 21 - 35 dias
4. H.U.A. – Terminologia
Hipermenorreia/Menorragia
Cataménio com perda sanguínea excessiva em quantidade
e/ou número de dias.
Metrorragia
Hemorragia genital com origem uterina, fora do período
menstrual.
Menometrorragia
Hemorragia genital com origem
uterina, irregular e
prolongada, que não é possível classificar como uma das
anteriores.
5. Hemorragia uterina disfuncional (H.U.D.)
• H.U.A. para a qual não foi determinada uma causa diagnóstico de exclusão.
• Na maior parte das vezes está subjacente a anovulação
• Representa 75-95% dos casos de H.U.A. na puberdade e
35% na perimenopausa.
6. AVALIAÇÃO DA H.U.A.
História Clínica
•
Idade, actividade sexual, medicação
antecedentes ginecológicos e obstétricos
habitual,
• Caracterização da hemorragia e sintomas associados
• Pesquisa de factores de risco de carcinoma endometrial
(história de infertilidade, S.O.P.C., história familiar de ca. do endométrio ou do cólon,
tratamento com tamoxifeno)
• Doenças renais, hepáticas, endócrinas e hematológicas
• Avaliação psico-social (stress, anorexia nervosa,...)
Exame físico
7. Exames Auxiliares de Diagnóstico:
Hemograma
Estudo da coagulação
Estudo da função hepática e função renal
Culturas cervicais para N. Gonorreia e Clamydia...
Citologia cervical
Doseamentos séricos hormonais
(FSH, LH, Estradiol, PRL,
Testosterona, Androstenediona, SDHEA, Estrona,17-OHP , TSH, T3 e T4
progesterona)
Ecografia pélvica (preferencialmente transvaginal)
Histeroscopia Diagnóstica
Biópsia do endométrio/Dilatação e curetagem
livre,
8. Biópsia do endométrio:
Deve ser considerada em todas as mulheres com H.U.A.
e:
• > 40 anos
• Factores de risco para carcinoma do endométrio
• Sem melhoria após 3 meses de tratamento
9. TRATAMENTO H.U.A.
- Desejo de preservar a fertilidade
- Doenças associadas
TRATAMENTO MÉDICO
Anti-inflamatórios não esteróides
(ácido mefenâmico)
Progestativos
Estroprogestativos
Estrogéneos
DIU com progestativo
Análogos GnRH
Agentes antifibrinolíticos (ácidos tranexâmico e aminocapróico)
11. HEMORRAGIA GENITAL DE CAUSA OBSTÉTRICA
1º trimestre da gravidez
•
•
•
Abortamento espontâneo
Gravidez ectópica
Doença neoplásica do trofoblasto
2º e 3º trimestres da gravidez
• Placenta prévia
• Descolamento prematuro de placenta normalmente inserida
Hemorragia pós-parto
12. Abortamento espontâneo
• Abortamento que ocorre sem meios médicos ou mecânicos
( fetos com menos de 22 semanas de gestação ou com menos
de 500g de peso)
Abortamento precoce (80%): ≤ 12 semanas
Abortamento tardio (20%):>12 semanas
13. Willem M Ankum et al, Clinical review, “Management of spontaneous miscarriage in the first trimester: an
example of putting informed shared decision making into practice”.
14. QUADROS CLÍNICOS
• História clínica
• Exame físico
• Ecografia transvaginal
Dor
Retenção de ovo devitalizado
inviável
Ameaça de abortamento
Trabalho de abortamento
Abortamento incompleto
Abortamento completo
Hemorragia
Colo uterino
0
Escassa
Fechado
Ligeira
+
+/0
Escassa
Abundante
Persistente
Ausente
Fechado
Dilatado
Dilatado
Fechado
Ecografia
saco gestacional
saco gestacional viável
fragmentos ovulares
cavidade vazia
15. RETENÇÃO DE OVO BRANCO OU ANEMBRIONADO
•
Saco gestacional irregular com o maior diâmetro ≥ a 20mm
e sem embrião visível.
RETENÇÃO DE OVO DESVITALIZADO
•
Ausência de vitalidade embrionária /fetal
TRATAMENTO
Atitude expectante – 60% sucesso às 4 semanas
Esvaziamento uterino instrumental
Resolução médica com misoprostol c/ ou s/ mifepristona
16. AMEAÇA DE ABORTAMENTO
Hemorragia vaginal com ou sem dor abdominal
• Colo uterino inteiro e fechado
•
TRATAMENTO
Repouso no leito
Abstinência sexual
Reavaliação ecográfica posterior
17. TRABALHO DE ABORTAMENTO
Hemorragia vaginal
• Dor abdominal intensa, tipo cólica e geralmente rítmica
• Colo dilatado
•
TRATAMENTO
Atitude expectante em regime de internamento
Vigilância de perda hemática genital
Analgesia
18. ABORTAMENTO INCOMPLETO
Hemorragia vaginal com ou sem dor abdominal
• Colo fechado ou dilatado
• Conteúdo uterino heterogéneo na ecografia
•
TRATAMENTO
Se hemorragia e dor ligeiras → atitude expectante em
ambulatório
Se hemorragia moderada a abundante ou dor relevante→
esvaziamento uterino
19. ABORTAMENTO COMPLETO
Hemorragia vaginal escassa com ou sem dor abdominal
• Colo fechado
• Ausência de conteúdo intra-uterino significativo na
ecografia
•
TRATAMENTO
Alta
21. DEFINIÇÃO
Implantação do blastocisto noutro local que não o
endométrio, na cavidade uterina.
INCIDÊNCIA
1-2% das gravidezes.
⇒
Causa mais frequente de mortalidade materna no
primeiro trimestre.
22. TIPOS DE GRAVIDEZ ECTÓPICA
TERMINOLOGIA
DEFINIÇÃO
Gravidez tubária (95%)
Implantação na trompa de Fallopio, a maior parte
na ampola.
Gravidez tubária intersticial (3%)
Implantação na porção intersticial da trompa de
Fallopio.
(Apresentação mais tardia do que na
ampolar, ístmica ou na fímbria, muitas
vezes associadas a roturas uterinas)
Gravidez abdominal
(Elevadas mortalidade e morbilidade
materna e fetal)
Primária: implantação inicial no peritoneu.
Secundária:implantação inicial na trompa
seguida de abortamento e reimplantação no
peritoneu.
Gravidez cervical
Implantação no canal cervical
Gravidez ligamentar
Gravidez tubar inicial com erosão da trompa para
a mesossalpinge e reimplantação entre os folhetos
do ligamento largo.
Gravidez ovárica (2º mais frequente)
Implantação no córtex ovárico
Gravidez heterotópica
Coexistência de uma gravidez intra-uterina e uma
(mais frequente na indução da ovulação) gravidez ectópica. (incidência:1:30.000)
23. FACTORES DE RISCO
• Doença inflamatória pélvica (Chlamydia)
• Gravidez tubária prévia
• Cirurgia tubária prévia
• Cirurgia abdominal prévia
• Salpingite ístmica nodosa (verdadeiros divertículos)
• Endometriose ou leiomiomas
• Mulheres expostas ao DES in utero
• História de infertilidade (RMA)
• D.I.U. (Cobre, Progestativo)
• Minipílula
• Hábitos tabágicos
24. DIAGNÓSTICO
História clínica com pesquisa de factores de risco
Exame físico
Ecografia
Níveis séricos de ßhCG
Curetagem uterina
Laparoscopia e Histologia
25. APRESENTAÇÃO CLÍNICA
• muito variável.
• tríade sintomática clássica
Atraso menstrual
Hemorragia vaginal
Dor abdominal
26. HEMORRAGIA VAGINAL
Geralmente escassa (spotting), acastanhada, contínua ou
intermitente (descamação endometrial devida ao declínio
da produção hormonal do corpo amarelo e do trofoblasto)
DOR
Geralmente nos quadrantes abdominais inferiores
Se rotura a dor pode ser abdominal difusa
SINAIS DE IRRITAÇÃO PERITONEAL
Por hemoperitoneu consequente á rotura
27. EXAME FÍSICO
Dor à exploração das áreas anexiais
Dor e defesa nos quadrantes abdominais inferiores
Útero de tamanho normal ou ligeiramente aumentado
A acuidade diagnóstica da história e exame físico é cerca de
50% sendo necessário testes adicionais.
29. ECOGRAFIA
Valor discriminatório de ßhCG sérica :
Valor a partir do qual é observado um saco gestacional intrauterino, ßhCG > 2.000mUI/ml .
30. DOSEAMENTO SÉRICO DA ßhCG
Doseamento seriado da ßhCG sérica se:
• ßhCG < que 2000 mUI/ml
• A avaliação ecográfia é inconclusiva
O padrão mais predictivo de gravidez ectópica é aquele
que atingiu um plateau.
Duplicação da ßhCG sérica em 48h (aumento de 50%):
Nas primeiras 6 semanas de uma gravidez viável intrauterina, o nível sérico de ßhCG aumenta exponencialmente.
No abortamento a semi-vida da ßhCG sérica é menos de
1.4 dias
31. DILATAÇÃO E CURETAGEM
Diagnóstico diferencial de gravidez intra-uterina não viável e GE
em presença de:
ßhCG < 2.000 mUI/ml
Ecografia transvaginal inconclusiva
Aumento menor que 50% no nível de ßhCG em 48h
LAPAROSCOPIA
32. História natural da GE tubária
• Abortamento tubário
⇒ Acumulação de sangue no fundo de saco de Douglas ou
⇒ Formação de hemato-salpinge, se trompa impermeável
• Rotura tubária
⇒ espontânea ou traumática
⇒ alterações hemodinâmicas e hemoperitoneu
37. Laparoscopia versus Laparotomia
VANTAGENS
•
•
•
•
•
•
•
•
Diminuição do tempo operatório
Menor perda sanguínea
Diminuição do tempo de internamento
Redução da necessidade de analgésicos
Menor custo
Menos aderências pós-cirúrgicas
Menos morbilidade
Melhor resultado estético
DESVANTAGENS
• Maior taxa de persistência trofoblástica
• Necessidade de laparoscopistas experientes
38. Salpingostomia versus salpingectomia
Actividade trofoblástica persistente
•
•
•
8% após laparoscopia, 4% após laparotomia
Necessidade de vigilância semanal de βHCG até < 20 UI/l
Tratamento com metotrexato
40. Tratamento médico com metotrexato
•
•
∀
•
•
•
•
Vontade de preservar a fertilidade
Ausência de actividade cardíaca fetal
β HCG < 5.000 mUI/ml
Funções hepática e renal normais
Leucócitos > 2000 mUI/ml
Plaquetas > 105/ml
Acesso fácil ao hospital
41. Dia 1
METOTREXATO 50 mg/m2 IM
Dia 4
β HCG, função renal e hepatica, hemograma
Day 7
β HCG, função renal e hepatica, hemograma
Se decréscimo <15% → 2a dose METOTREXATO
Day 10
β HCG, função renal e hepática, hemograma
Se decréscimo <15% → CIRURGIA
(15%)
46. Placenta prévia
•placenta implantada no segmento inferior do útero
•incidência a termo ± 0,5%
CLASSIFICAÇÃO:
• central total (recobre totalmente o OCI)
• central parcial (recobre parcialmente o OCI)
• marginal
(bordo da placenta junto ao OCI)
• de inserção baixa (perto mas sem atingir o OCI)
47. Placenta prévia nos 1º e 2º trimestres
• Muito frequente (± 25%)
• recobre OCI
40% mantêm-se até termo
• não recobre OCI extremamente raro manter-se até
termo
⇓
fenómeno de “migração placentária”
51. Placenta prévia
(central total, central parcial, marginal ou a < 2cm do OCI)
•
•
•
abstinência sexual
repouso no leito no 3º trimestre
se hemorragia moderada repouso no leito com hospitalização no 3º
trimestre
• se hemorragia abundante cesariana emergente
•cesariana electiva a termo
Cesariana de risco
• cirurgião experiente
• sangue disponível no bloco
54. RISCOS ESPECÍFICOS
•
•
•
•
•
morte fetal e neonatal, sequelas neurológicas RN
hemorragia feto-materna
anemia e choque hipovolémico maternos
coagulação intravascular disseminada
coagulopatia de consumo
55. SINTOMAS MAIS FREQUENTES
• hemorragia genital nos 2º ou 3º trimestres
- intensidade não indicadora da gravidade
- 25% sem hemorragia
(Hematoma retro-placentário,
descolamento de placenta com membranas aderentes, polo
cefálico apoiado)
• dor hipogástrica
• diminuição dos movimentos fetais
SINAIS
• hemorragia uterina
• contractura uterina (formas graves)
57. TRATAMENTO
• hemorragia abundante transfusões e cesariana emergente
• hemorragia moderada:
• > 34 sem indução imediata do parto
• 25- 33 sem
• se feto morto indução imediata do parto
• se estado fetal não tranquilizador cesariana
• se estado fetal normal atitude expectante
• tocólise (controversa em casos selecionados)
58. Hemorragia pós-parto
• Principal causa de morte associada à gravidez
• Principais complicações:
•
•
•
•
•
•
(1 em cada 100 000 partos)
choque hipovolémico
coagulopatia de consumo
insuficiência renal
falência hepática
síndroma de distress respiratório
síndroma de Sheehan
59. Perda hemática média durante o parto...
Parto vaginal
500 ml
Cesariana
1000 ml
Cesariana iterativa + Histerectomia
1 500 ml
Histerectomia emergente
3 500 ml
60. Profilaxia da hemorragia pós-parto
3º período do parto (dequitadura)
• ocitocina e.v. por rotina
• menor perda sanguínea e necessidade de outras terapêuticas
• 600 µ g misoprostol per os
• atitude intervencionista no 3º período do parto (active management
of the 3rd stage)
• ocitocina e.v. em doses elevadas
• massagem fúndica
• tracção controlada do cordão
Vigilância frequente do globo de segurança (primeiras 2h)
62. Hemorragia pós-parto grave
•
•
(1-5% dos partos)
Perda hemática genital superior ou igual a 1000 ml
Qualquer perda associada a compromisso hemodinâmico
Precoce
Tardia
primeiras 24h pós-parto
após primeiras 24h até à 6ª semana (+ rara)
63. Hemorragia pós-parto precoce
Etiologia
•
•
•
Atonia uterina
Retenção parcial ou total da placenta
Lesões do tracto genital inferior
•
•
•
•
Rotura uterina
Inversão uterina
Acretismo placentário
Coagulopatia materna
+ frequentes
raras
64. Atonia uterina
5% dos partos
Factores de risco
•
•
•
•
•
Hiperdistensão uterina (hidrâmnio, gestação múltipla, macrossomia)
Trabalho de parto prolongado
Corioamnionite
Anestesia geral
Tocólise prévia
65. Acretismo placentário
Factores de risco
•
•
•
Cesariana anterior
Outras cicatrizes uterinas
Placenta prévia
0,04% partos (5% percreta)
67. Medidas imediatas perante hemorragia pós-parto grave:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Chamar o obstétra mais graduado da equipa e o anestesista de apoio
Cateterização de duas veias periféricas com catéter 14G ou 16G
Infusão de soluções cristalóides (lactato de Ringer, soro fisiológico, soro
polielectrolítico) 1000 ml em cada veia cateterizada. Evitar utilização de
soro glicosado, colóides e de albumina.
Retirar sangue para tipagem, hemograma, ionograma e estudo da
coagulação
Elevação dos membros inferiores
Administração de O2 por máscara a 8 l/min
Algaliação e registo de diurese com debitómetro
Monitorização contínua do pulso radial, tensão arterial e saturação O2
68. Identificação e tratamento da causas específicas:
1. Avaliação do estado de contracção uterina
2. Exploração da cavidade uterina, se necessário sob anestesia geral.
Correcção das situações de inversão uterina e retenção placentária. Nos
casos de rotura uterina ou acretismo total avançar de imediato para
laparotomia.
3. Pesquisa e correcção das lacerações do tracto genital, se necessário sob
anestesia geral
70. Tratamentos mecânicos
• Massagem uterina externa
• Compressão uterina bimanual
• Introdução de sondas de Foley, Rusch ou Blakemore
• Embolização arterial selectiva (gelfoam)
• Tamponamento uterino com compressas
• Tamponamento pélvico
71. Tratamentos cirúrgicos
• Pontos de B-Lynch
• Pontos intramiometriais hemostáticos
• Laqueação arterias uterinas
• Laqueação das ilíacas internas (hipogástricas)
• Histerectomia total ou sub-total