Circuito da bicicleta: 300 km de natureza e cultura no sul do Brasil
1. Circuito
R$0,00 Vale Europeu
Edição nº 0 - nov 2009 - Ano I
300 km de natureza e cultura europeia no sul do Brasil
Virada
NoturNa Mulheres arturo
de bike que alcorta
história Os principais pontos pedalaM legislação “Bicicleta integrada e de
da bicicleta turísticos da Cidade de Porque elas não Direitos e deveres qualidade, hoje é mais
Origem francesa ou alemã? São Paulo na madrugada estão nas ruas? do ciclista importante que ciclovia...”
2.
3.
4. É incrível como a bicicleta tem ganhado espaço na mídia nos últimos anos.
Editorial
Mais importante que isso, é o espaço conquistado pelos ciclistas, seja nas
ruas, nos parques ou em ciclovias. O número de eventos de divulgação au-
menta em todo o país. O cidadão, cansado do trânsito nas grandes cidades
e preocupado com a poluição do ar, vê nas bikes um meio de transporte
sustentável e uma prática saudável.
Neste cenário, a revista Ciclovia pretende ser o canal de comunicação do
ciclista comum, não necessariamente ligado ao ciclismo competitivo, que
busca informações sobre os mais variados assuntos ligados a esta atividade.
E por que não atender também aos interesses de quem quer acompanhar
o esporte? Simples, porque precisamos primeiro formar ciclistas para de-
pois formarmos esportistas; da quantidade extrair a qualidade. Já existem no
mercado outras publicações que têm no esporte seu grande filão.
Este projeto de conclusão de curso nasceu, primeiro, da paixão pelas bi-
cicletas, que me acompanha desde os sete anos de idade e que por um
tempo ficou adormecida; e, segundo, da necessidade de encontrar algumas
informações relacionadas à área − sempre tive dificuldade em encontrá-las
Ciclovia: Ano I – novembro
2009 – nº 0 fora da internet e recorria a sites de fora do país.
Textos: William Santana Pessoalmente, foi um desafio muito grande pensar e escrever a
Colaboradoras: Mirna
Moramai, Claudia Garcia revista sozinho, contando apenas com a soli-
Revisão de texto: Renata dariedade de familiares e amigos ao enfren-
Assumpção
tar as dificuldades da produção jornalística:
Projeto gráfico e
diagramação: Rubens entrevistas desmarcadas, tempo ruim para
Dutra fotos, prazo apertado... Enfim, um grande e
Publicidade: Etiennie
Pimenta prazeroso aprendizado que você pode acom-
Orientação: Prof. Dirceu panhar e avaliar nas próximas 30 páginas.
Roque Sousa
CAPA: William Santana
– Vale Europeu-SC, Foto: Bora pedalar?
Claudia Garcia
Imagem 05 Mulheres de bike 18
Índice
06 Ciclocultura 20 Cicloturismo: Vale Europeu
Acessórios 07 Cicloativismo 28
08 Passado sobre rodas 30 Internacional
Legislação 11 Passeio ciclistico 32
12 Perfil: Arturo Alcorta 34 Próxima edição
4
5. imagem
Serra do Papagaio
Aiuruoca, MG
foto: William Santana
Você pode ver sua foto nesta página.
Envie para : imagem@revistaciclovia.com.br
5
6. Ciclocultura
Livro: Livro:
Pedalando na Modernidade: a bicicleta e o Sete roteiros
ciclismo na transição dos séculos XIX e XX de aventuras –
viajando pelo
A editora carioca Apicuri, em parceria com a o Laboratório mundo numa bike
de História do Esporte e do Lazer do Programa de Pós-
Graduação em História do Instituto de Filosofia e Ciências Apaixonado por bici-
Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, lança a cletas desde criança
coleção Sport: História. e afastado delas até
Em um dos volumes, Pedalando na Modernidade: a bici- 2004, então com 42 anos, quando voltou a pedalar, o jor-
cleta e o ciclismo na transição dos séculos XIX e XX desta nalista e escritor José Antonio Ramalho relata suas ex-
coleção, o autor André Schetino faz um comparativo his- periências e convida o leitor a refazer com ele o roteiro
tórico de como este novo meio de locomoção toma parte de sete viagens feitas com sua bicicleta por vários con-
do dia a dia de Paris e do Rio de Janeiro no período de tinentes: 1100 km entre a capital do Tibete, Lhasa, até
introdução da bicicleta nestas cidades − como o ciclismo Katmandu, no Nepal, sendo o primeiro brasileiro pedalar
se torna um símbolo da identidade nacional francesa, e a até o acampamento-base do Everest, a 5200 metros de
bicicleta, um artigo de luxo na altitude. Marrocos, deserto de Atacama no Chile, Patagô-
sociedade carioca. nia, Rota Romântica da Alemanha, as savanas da África
do Sul e Buenos Aires. O livro é todo ilustrado com belas
Pedalando na Modernidade: fotografias, do próprio Ramalho, que também é fotógrafo.
a bicicleta e o ciclismo na
transição dos séculos XIX e XX Sete roteiros de aventuras – viajando pelo
- André Maia Schetino mundo numa bike - José Antonio Ramalho
Editora Apicuri • 104 páginas Editora Gaia • 90 páginas
Guia:
Coleção guia de trilhas EnCICLOpédia
Com seu primeiro volume lançado em junho de 2006, esta coleção de 8 livros tem publicação quadrimestral com 13 trilhas
inéditas cada, o que totaliza aproximadamente 500 km. A proposta é oferecer ao público, com regularidade e qualidade, conte-
údo teórico e possibilidades de prática do mountain bike. Com ênfase nas cidades da região sudeste, a coleção conta também
com trilhas em cidades do Paraná e de Santa Catarina. Cada volume possui também um roteiro de cicloturismo para ser feito
em 4 dias e conteúdo teórico de manutenção, compra, viagens, condicionamento físico e muito mais.
Coleção guia de trilhas EnCICLOpédia -
Guilherme Cavallari • Editora Kalapalo
• 8 Volumes, 52 páginas cada
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7. Acessórios
Acessórios que fazem a diferença
Luva Exustar
Luvas não são apenas para ciclistas
profissionais. Todos os praticantes devem
sempre utilizá-las, pois, além de proteger as
mãos em caso de quedas, elas proporcionam
conforto na direção da bike, especialmente as
que possuem gel nas áreas de maior impacto.
Caramanhola Elite
A caramanhola, ou tão somente “garrafinha”, é
um acessório indispensável na hora de pedalar,
pois ao contrário do que se pensa, a ingestão
de água é necessária não apenas quando
sentimos sede. Nosso organismo precisa
ser constantemente hidratado para que a
temperatura do corpo se mantenha normal.
Blocagem antifurto Zefal
Estacionar uma bicicleta com segurança e tranquilidade tem
se tornado uma grande preocupação. O medo de deixar a bike
e ao retornar não encontrar selim ou rodas não pode ser um
limitador de suas pedaladas. As travas Zefal proporcionam
segurança, pois uma vez que ela estiver estacionada em
posição horizontal, as travas não podem ser abertas, impedindo
o furto das rodas e canote de selim.
Sapatilha Aerotech Raptor MTB
Recomendada para quem utiliza a bike com frequência e faz
questão de rendimento, a sapatilha é capaz de aumentá-lo,
potencializando o esforço aplicado ao pedal − já que, quando
se pedala com o pé encaixado no pedal, a força aplicada é
multiplicada pelo “puxa-empurra”, e não somente pelo “empurra”
como nos pedais tradicionais.
7
8. Passado sobre rodas
História da bicicleta
Há uma grande discussão sobre quem propulsão por corrente e selim.
seriam os inventores da 1ª bicicleta: franceses Sem os desenhos do gênio, a humanidade teria que
esperar aproximadamente três séculos para experimentar
ou alemães. A verdade é que o primeiro aquela que seria a revolução no deslocamento humano
visionário era italiano: Leonardo da Vinci para a época. E é aí que começam as discussões.
Para os franceses, um certo conde Mede de Sivrac,
Foi ele quem primeiro projetou algo que se parecesse por volta de 1790, teria criado um brinquedo que cha-
com o que conhecemos hoje, por volta de 1490. Mas por mou de “celerífero” − das palavras latinas celer e fero,
ironia do destino seus projetos foram descobertos somen- que juntas queriam dizer “transporte rápido”. Feito em
te em 1966, quando as atuais bicicletas já eram realidade. madeira, possuía duas rodas fixas e um “quadro”, onde
Os desenhos de Da Vinci já possuíam os princípios bási- seu condutor se sentava e impulsionava o veículo com os
cos de funcionamento: duas rodas, sistemas de direção, pés para poder se deslocar. O fato é que muitos historia-
Desenho de Leonardo da Vinci, 1490 Projeto de correntes de Da Vinci, 1490
“Celerífero” – Suposta invenção do Conde Sivrac Maquete da bicicleta de Da Vinci
Baseado em textos encontrados em:
8 www.escoladabicicleta.com.br/historiadabicicleta.html
9. dores desconfiam da existência de tal conde e atribuem a o andar de seu condutor, em 1838 o ferreiro escocês Ki-
criação desta versão ao historiador francês Louis Baudry rkpatric Macmillan redesenhou parte do que seria o qua-
de Saunier, que a teria feito no século XIX em represália à dro e adaptou um esquema de propulsão por pedais em
guerra franco-prussiana (1870-1871). balanço, ligados a um virabrequim no eixo da roda traseira.
Para os alemães, e para grande parte do mundo, a O conjunto, em paralelo à roda dianteira, era acionado com
origem da bicicleta remonta ao ano de 1817, quando o os pedais, que se movimentavam para frente e para trás.
barão alemão Karl von Drais desenvolveu uma máquina O surgimento dos pedais como conhecemos hoje foi
feita completamente de madeira, com duas rodas e um criação do carroceiro francês Pierre Michaux, que a partir
sistema de direção que permitia ao condutor fazer curvas de uma “draisiana” que recebeu para conserto, redese-
e, com isto, manter o equilíbrio. Seu invento recebeu o nhou todo o projeto, criando um quadro de ferro e um
nome de “draisiana” e conseguiu percorrer uma distância sistema de propulsão por alavancas e pedais na roda
de aproximadamente 15 km em uma hora − algo revolu- dianteira tornando o deslocar da máquina mais fácil. Era o
cionário para a época. surgimento do que viria a ser chamado de “velocípede” ou
Apesar de patenteada, a “draisiana” teve seu projeto “boneshaker”. Ao presentear o filho de Napoleão III com
original alterado. Em pouco tempo o ferro passou a ser seu invento, Michaux abriu as portas para a criação da
utilizado em sua construção. Devido à necessidade de de- primeira fábrica de bicicletas do mundo, em 1865: a “Bi-
senvolvimento de um sistema de propulsão que não fosse ciclos Michaux”. Era o início da produção em massa.
A draisiana na versão de Macmillan
“Draisiana” do alemão Karl von Drais, 1817 Biciclo de Pierre Michaux
Desenho da draisiana do escocês Kirkpatric Macmillan, 1838
www.museudabicicleta.com.br/museu_hist.html
Livro O que é ciclismo? de Armando Freitas e Silvia Vieira, editora Casa da Palvra, 2007. 9
10. Legislação
Direitos e deveres do ciclista
O CBT, Código Brasileiro de Trânsito, II - planejar, projetar, regulamentar e ículo, ou fazendo gesto convencional
aprovado pela lei 9.503 de 23 de se- operar o trânsito de veículos, de pe- de braço.
tembro de 1997, trouxe uma grande destres e de animais, e promover o
mudança na legislação no que se re- desenvolvimento da circulação e da Parágrafo único. Entende-se por
fere às bicicletas: ele a elevou de sim- segurança de ciclistas; deslocamento lateral a transposição
ples brinquedo das horas de lazer a de faixas, movimentos de conversão
veículo de propulsão humana, e nesta à direita, à esquerda e retornos.
categoria passou a possuir deveres e CAPÍTULO III − DAS NORMAS
direitos. Antes sair pedalando, lista- GERAIS DE CIRCULAÇÃO E *O ciclista deve sinalizar com o braço
mos uma série de artigos que você CONDUTA a troca de faixas e as entradas à di-
deve saber para não causar ou sofrer reita ou à esquerda. Importante tam-
acidentes. Afinal, parte dos ciclistas Art. 29 O trânsito de veículos nas vias bém sinalizar a freada, que pode ser
também é motorista. Em alguns arti- terrestres abertas à circulação obe- muito perigosa quando se anda em
gos, colocamos uma espécie de tra- decerá às seguintes normas: grupo de ciclistas.
dução da legislação ou comentário: (...)
Art. 38 Antes de entrar à direita ou à
§ 2º Respeitadas as normas de circu- esquerda, em outra via ou em lotes
CAPÍTULO II − DO SISTEMA lação e conduta estabelecidas neste lindeiros, o condutor deverá:
NACIONAL DE TRÂNSITO artigo, em ordem decrescente, os ve- (...)
ículos de maior porte serão sempre
Art. 21 Compete aos órgãos e entida- responsáveis pela segurança dos me- Parágrafo único. Durante a mano-
des executivos rodoviários da União, nores, os motorizados pelos não mo- bra de mudança de direção, o condu-
dos Estados, do Distrito Federal e torizados e, juntos, pela incolumidade tor deverá ceder passagem aos pe-
dos Municípios, no âmbito de sua cir- dos pedestres. destres e ciclistas, aos veículos que
cunscrição: transitem em sentido contrário pela
*O carro tem a preferência sobre o pista da via da qual vai sair, respei-
II - planejar, projetar, regulamentar e caminhão, a moto sobre o carro, a tadas as normas de preferência de
operar o trânsito de veículos, de pe- bicicleta sobre a moto e o pedestre passagem.
destres e de animais, e promover o sobre todos eles.
desenvolvimento da circulação e da Art. 49 O condutor e os passageiros
segurança de ciclistas; Art. 35 Antes de iniciar qualquer ma- não deverão abrir a porta do veículo,
nobra que implique um deslocamen- deixá-la aberta ou descer do veículo
Art. 24 Compete aos órgãos e en- to lateral, o condutor deverá indicar sem antes se certificarem de que isso
tidades executivos de trânsito dos seu propósito de forma clara e com não constitui perigo para eles e para
Municípios, no âmbito de sua cir- a devida antecedência, por meio da outros usuários da via
cunscrição: luz indicadora de direção de seu ve-
10
11. *Atentar para os veículos estaciona- parada por pintura ou elemento físico *Segundo a assessoria de Imprensa
dos com pessoas dentro no caso de separador, interferências, destinada à do DENATRAN (Departamento Nacio-
abrirem a porta. Buzinar é uma práti- circulação exclusiva de pedestres e, nal de Trânsito), não há registro, até o
ca aconselhável. excepcionalmente, de ciclistas. momento, de que algum município no
Brasil exija licenciamento e registro
Art. 58 Nas vias urbanas e nas ru- para bicicletas, embora a legislação
rais de pista dupla, a circulação de CAPÍTULO IV − DOS PEDESTRES permita tal situação.
bicicletas deverá ocorrer, quando não E CONDUTORES DE VEÍCULOS
houver ciclovia, ciclofaixa ou acosta- NÃO MOTORIZADOS
mento, ou quando não for possível a CAPÍTULO XX − DISPOSIÇÕES
utilização destes, nos bordos das pis- Art. 68 É assegurada ao pedestre a FINAIS E TRANSITÓRIAS
tas de rolamento, no mesmo sentido utilização dos passeios Art. 338 As montadoras, encarroça-
da circulação regulamentado para a (...) doras, os importadores e fabricantes,
via, com preferência sobre os veícu- ao comerciarem veículos automoto-
los automotores. § 1º O ciclista desmontado empur- res de qualquer categoria e ciclos,
rando a bicicleta equipara-se ao pe- são obrigados a fornecer, no ato da
Parágrafo único. A autoridade de destre em direitos e deveres. comercialização do respectivo veícu-
trânsito com circunscrição sobre a via lo, manual contendo normas de circu-
poderá autorizar a circulação de bi- Seção II - Da Segurança dos Ve- lação, infrações, penalidades, direção
cicletas no sentido contrário ao fluxo ículos defensiva, primeiros socorros e Ane-
dos veículos automotores, desde que xos do Código de Trânsito Brasileiro.
dotado o trecho com ciclofaixa. Art. 105 São equipamentos obriga-
tórios dos veículos, entre outros a *Para os veículos automotores existe
*Ao ciclista será permitido andar nas serem estabelecidos pelo CONTRAN: o manual do proprietário, que possui
vias urbanas e rurais de pista dupla todas essas informações. No entanto,
apenas em ciclofaixa, ciclovia ou VI - para as bicicletas, a campainha, ele não é fornecido por nenhum fabri-
acostamento, e na falta destes, na sinalização noturna dianteira, trasei- cante ou importador de bicicletas no
beira da estrada, desde que demar- ra, lateral e nos pedais, e espelho re- Brasil.
cada área para tal, e sempre na di- trovisor do lado esquerdo.
reção em que andam os carros. Na
contramão, só será permitido andar
caso exista ciclofaixa. CAPÍTULO XII − DO
LICENCIAMENTO
Art. 59 Desde que autorizado e de-
vidamente sinalizado pelo órgão ou Art. 129 O registro e o licenciamento
entidade com circunscrição sobre a dos veículos de propulsão humana,
via, será permitida a circulação de dos ciclomotores e dos veículos de
bicicletas nos passeios. tração animal obedecerão à regula-
mentação estabelecida em legislação
*passeio − parte da calçada ou da municipal do domicílio ou residência
rua ou avenida, neste último caso, se- de seus proprietários.
11
12. Perfil
Arturo
Alcorta
Seguindo na contramão de uma sociedade cada vez mais motorizada, Ar-
turo Alcorta, 54 anos, artista plástico de formação e cicloativista por opção,
utiliza a bicicleta como meio de transporte há mais de 30 anos. Das pedaladas
pela cidade em sua adolescência até os dias de hoje, ele cria projetos que vão Campeão de prova ciclística
desde ensinar pessoas que nunca aprenderam a andar de bicicleta a um site
dedicado à formação de um setor social voltado para essa questão. Arturo
recebeu nossa reportagem para uma conversa regada a café e muita história.
Falou da época em que foi guia dos Nightbikers, bike repórter da Rádio Eldo-
rado FM, de seus atuais projetos, como anda a situação do mercado brasileiro
de bicicletas e muito mais...
Ciclovia – Quando a bicicleta surgiu para você? Quando você desco-
briu que era disso que você queria viver?
Arturo – Eu tinha uma bicicleta, que foi roubada quando eu deveria ter uns
17 anos de idade. Eu fazia barbaridades com ela: ia pro Morumbi, levava tom-
bos, machucava as pessoas − meu primo, no caso... Mas ela entrou mesmo
na minha vida em 1977, quando eu tinha 22 anos de idade. Meu irmão mais
velho comprou uma bicicleta para ele, e é óbvio que ela acabou sendo muito
mais usada por mim. Um ano depois eu comprei a minha, e com duas em casa fotos arquivo pessoal
eu saia com os amigos. Não sei se em 1977 eu já estava indo de bicicleta
para a faculdade, mas em 1978, com certeza. E tem um fator que me mostra
claramente o quão é importante ela é para mim: quando eu ganhei meu carro, bike repórter , Eldorado FM em 2000
um Buggy, eu deixava meus amigos dirigirem...
Ciclovia – Mas e a bicicleta, você emprestava?
Arturo – ... Com restrições (risos)... Esse foi o primeiro momento, quando eu
descobri a bicicleta. Paguei um mico de um tamanho de um trem. Todo mundo
dizia que eu estava completamente louco porque parte da minha família teve
12 Bike reporter em 2001
13. uma ligação mais forte que o normal como organizar o primeiro passeio de depois do episódio das torres gêmeas
com o automóvel. Eu tive um tio que fato, oficializar com assinatura e tudo. todo mundo ficou sem dinheiro. De-
foi piloto de competição, e meu pai Eu fui o primeiro guia e levei o pessoal pois teve a volta, já na nova Eldorado,
fez o primeiro ou o segundo Buggy do para o centro da cidade. Eram umas sem o João Lara, 6 meses durante o
Brasil. De repente a bicicleta come- 30 pessoas. Nunca tinham visto o ano passado. Tomei bronca até não
çou a ser opção efetiva para ir para o centro da cidade e ficaram babando, poder mais porque a forma de pensar
centro da cidade. Comecei, então, a enlouquecidos. Uma experiência mui- da rádio é completamente diferente
descobrir a cidade em si, bairros que to boa. Já nessa época eu tinha pre- do que era na época do João. Tomei
eu não conhecia. ocupação com os “pregos” lá atrás, o muita bronca, muita bronca, e um
Em 1982, o segundo momento, pessoal ruim, então saí da frente e fui dia eu disse: “eu ouço a rádio des-
o que é hoje efetivamente. Eu fiz um lá com eles. Na realidade, acho que de criança, conheço todos vocês, não
projeto, a pedido de dona Lucy Mon- a mudança mesmo foi num dia que vou encher o saco de mais ninguém.
toro, a respeito da bicicleta, ordenan- o pessoal me pediu um passeio não Até logo!!”. Eles telefonaram para mi-
do a coisa dentro da cidade, na vida para ver paisagem, mas para peda- nha casa e disseram: “Peraí, não é
do ciclista e na sua educação, e na lar mesmo em São Paulo, e quando isso, vamos ajeitar essa coisa!!”. Eu
indústria. O golpe final foi em 1988, a gente chegou num ponto alto da disse: “chega, chega, chega, acabou
quando O Estado de S. Paulo me deu Sumaré, perto daquela igreja que a brincadeira!” (risos).
uma coluna. tem na Dr. Arnaldo, um dos ciclistas
queria me pegar. A partir disso é que Ciclovia – E a Escola de Bicicleta
Ciclovia – Você anda de carro? comecei a ir atrás e proteger o pes- surgiu...
Arturo – Quando preciso, sim. soal da rabeira, o que eu acho muito Arturo – Antes. A Escola de Bi-
Mas eu ando tão pouco que quando melhor, e hoje em dia meu trabalho é cicleta surgiu há uns 7 anos já... Eu
eu pego, preciso sentar nele e di- muito voltado para eles. Trabalho de quis montar um site que fosse de
zer: “Bom, a alavanca de câmbio é segurança no trânsito, qualidade de formação para as pessoas, que mos-
aqui...”. Senão, não vai. Outro dia me bicicleta, de políticas públicas. trasse a importância de se formar um
perdi no trânsito e não sabia o que setor social − no caso, a questão dos
fazer com o carro! (gargalhada). Deu Ciclovia – E o bike repórter come- ciclistas, da bicicleta aqui no Brasil é
pane, eu me distraí, não sabia em çou quando? muito ruim, precária. Eu pus o site no
que marcha eu estava, onde estava Arturo – Veio muito mais tarde. ar sem fazer grandes alardes e sem
a alavanca de câmbio, esqueci tudo!!! Eu fiquei com essa ideia rodando na nenhuma publicidade, sem ninguém
(mais gargalhada). cabeça durante 6 meses, um ano. envolvido, sem ninguém bancando. E
Um dia eu disse: “quer saber, vou tá funcionando! Hoje eu tenho entre
Ciclovia – E como foi o período de eu quieto lá apresentar a ideia”. Por 20 e 25 mil...
criação do Nightbikers? Foi junto ironia do destino, a Patrícia Palumbo,
com a Renata (Falzoni)? que fazia o programa de 6h às 8h, e Ciclovia – ... pageviews?
Arturo – Na realidade, quem criou que é um grande nome até hoje na Arturo – Pageviews! E com um de-
o Nightbikers foi a Renata. Ela sempre Eldorado, tinha a mesma ideia, e já talhe muito interessante: tem alguma
foi notívaga, dormia muito mal e saía estava mais ou menos vendida para coisa entre 2 e 3 mil caras que, efe-
para pedalar. Algumas vezes fizemos o João Lara, responsável pela rádio. tivamente, pelo tempo que eles ficam
isso juntos, e ela gostou.Um dia ela E acabou rolando. Eu fiz de 1999 até na internet, em cada uma das pági-
decidiu não só fundar o Nightbikers, 2001, exatos 2 anos. Parou porque nas, você sabe que estão lendo.
13
14. Perfil Arturo Alcorta
O número de elogios que eu recebo ensinar pessoas mais velhas a ter uma quantidade boa que está
é muito grande, e isso é gratificante andar de bicicleta, como é isso? acima de 60 e uma quantidade pe-
demais para mim!! E está crescendo! Arturo – Esse é o mais legal de quena abaixo de 40. O que acontece
Agora eu estou quase ficando louco todos! Eu ensino pessoas que não com elas? Uma coisa contra a qual
porque tem um projeto que é um pou- conseguiram aprender, seja por al- eu luto desde que comecei a mexer
co maior. A ideia é fazer do Escola de gum trauma ou não. e as faço peda- com bicicleta. O IBGE tem uma esta-
Bicicleta ao invés de só um site, um lar! Isso há cinco anos. E eu paro com tura média do brasileiro. Na geração
portal de temas. Tenho muito pedido os alunos, descubro o histórico e uso delas, o homem tinha 1,68m, 1,69m,
de assessoria grátis, porque é gente uma técnica em que eu não encosto e a mulher, 1,62m. As mulheres que
muito pobre, de como montar uma bi- a mão no ciclista. Só encosto se ele tentaram geralmente o fizeram em bi-
cicletaria como negócio. Então, lá tem tiver reações muito estranhas. cicletas tamanho 19, que é o padrão
toda essa explicação do que é preciso feminino no Brasil. Ora, 19 é para
ver, como exportar, como administrar, Ciclovia – As respostas costu- mercado europeu e não para merca-
links de onde fazer curso profissiona- mam ser rápidas? do brasileiro! É para aquelas que têm
lizante. E também a questão do curso Arturo – Não, variam muito. É bem 1,75m, e se você põe uma pessoa
de mecânica, porque existem vários curioso. Conforme a profissão da abaixo de 1,60m numa bicicleta 19,
na internet, e o que eu pus foi, na re- pessoa e o caráter, você tem mais ou ela fica pendurada!
alidade, uma série de informações a menos dificuldade. Todos pedalam,
respeito de procedimento. As pesso- todos! Gente que é muito detalhista Ciclovia − Este seria um dos fato-
as acham que fazer mecânica é sim- e objetiva demais tem uma dificulda- res que tornam o número de mu-
plesmente pegar uma chave de fen- de maior de pedalar e se equilibrar lheres que pedalam muito menor
da, uma chave fixa e enfiar lá e torcer porque não destrava o corpo, só fica do que o dos homens hoje?
para lá e para cá. Mas a maioria não trabalhando o racional. Esses são Arturo - Olha, entre uma série de
sabe a importância numa bicicletaria, mais os difíceis. O que é prazeroso, fatores, esse pode ser um deles. A
por exemplo, da diferença econômica apesar de não ser rentável, é já na questão da discriminação também é
em lidar com uma bicicleta de quali- primeira aula conseguir fazer o aluno importante, e isso é coisa de cidade
dade e outra ruim, o que você vai ga- pedalar nem que sejam 10, 20 me- grande. Era muito comum na déca-
nhar com uma, o que você vai perder tros. O emocional dele vai ao céus!! É da de 1980. As mulheres que peda-
com outra. As pessoas não sabem o incrível, simplesmente incrível a sen- lavam nessa época eram assedia-
posicionamento em que você tem que sação! Mas normalmente no máximo das sexualmente de maneira muito
por as chaves, que existe um eixo de na terceira aula eles já pedalam. agressiva, não era só uma paquera!
desenho, não sabem coisas que são Tenho algumas histórias de mulheres
extremamente básicas. Eu fiz um tex- Ciclovia – São mais homens ou que caíram por causa disso ou que
to que é complementar ao que existe mulheres que te procuram? foram até molestadas fisicamente!!
no mercado e acho que isso é o mais Arturo − Mulheres! Quando comecei a pedalar exis-
importante. O Escola de Bicicleta foi tia uma falta de compreensão muito
criado para preencher os buracos que Ciclovia – Elas têm uma dificul- grande. Eu fui muito agredido, mes-
existem nesse setor social. dade maior? mo dentro da minha família. Diziam
Arturo – O processo é absoluta- que era coisa de pobre. Eu ouvi deles
Ciclovia − Durante um tempo mente lógico. Perfil na faixa dos 40 coisas como “porque é que você não
você esteve com um projeto de aos 50 anos. E daí você começa a vai dar o c...? Ia ganhar mais do que
14
15. ficar mexendo com bicicleta!”, “você ao invés de pedalarem como ciclis- por dia, o que deve quase se igualar
como travesti vai melhor!”, entende? tas, pedalam como motoristas. E re- a Amsterdã, na Holanda, que tem um
Essas coisas brutais, as coisas de almente a coisa fica complicada. Tem dos mais altos índices do mundo.
mais baixo nível possível. A Renata uma segunda coisa que é muito legal
conseguiu botar a bicicleta para fren- aqui: o problema do trânsito no Brasil Ciclovia – O Brasil tem uma das
te, fazer estourar aqui em São Paulo, inteiro é que o desenho de nossas ci- maiores frotas de bicicletas do
porque ela a fez ser chique. Hoje em dades é o europeu, e o nosso tráfego mundo, não é?
dia nós discutimos, porque ela diz “eu é o americano. Não funciona e nem Arturo - O veículo mais usado no
devia ter ouvido você, e a gente devia vai, por mais que se force a barra. Brasil é a bicicleta, apesar de, sabe-
ter lutado pela bicicleta como modo Mas para a bicicleta sim. Existe um se lá por que, o IBGE não perguntar
de transporte de massa”, e eu digo traçado urbano que é muito irregular. a respeito dela desde 1981. E es-
para ela, “não, você estava certa”. Em Quem pensou a cidade colocou as tranhamente existe um problema na
suma, era um tabu, então é complica- principais vias em alguns pontos es- qualidade dela aqui no Brasil que é
do. Por isso esse pessoal não apren- pecíficos, criando ilhas de tranquilida- seriíssimo. O pessoal do setor fica en-
deu. de. Onde é bom pedalar? Na realida- furecido comigo, mas eles sabem que
de, você tem que entender um pouco eu não estou falando besteira nenhu-
Ciclovia − Qual o melhor lugar da a topografia. Isso é a primeira coisa. ma. E isso é o melhor amigo da venda
cidade de São Paulo hoje para se A segunda, muito importante, é pen- de motocicletas no Brasil. A bicicleta
pedalar, segundo todos os seus sar como motorista de carro pequeno básica é péssima. Os produtores não
conceitos? para saber onde são os pontos mais têm condições de concorrer, a distor-
Arturo − As pessoas têm uma perigosos e tumultuados do trânsito: ção é muito grande. São fabricadas
visão sobre São Paulo que é errada, ruas com moto (um problema seriís- de 4 a 5 milhões de unidades por ano
e eu explico: a cidade inteira está simo para o ciclista), ônibus e cami- no Brasil. Metade delas é fabricada
montada em cima da questão do au- nhão. Então você pega a bicicleta e por empresas como Caloi, Sundown,
tomóvel, a influência psicológica que começa a descobrir onde são essas Houston, Prince e algumas outras.
ele tem na vida das pessoas. e até na ilhas. A zona leste é um exemplo. Eu Técnicos especializados dizem que
construção civil é enorme. Os aparta- gosto demais de pedalar lá. A várzea algo em torno de 35% das mortes
mentos são ínfimos, muitos deles têm do Tietê tem lugares maravilhosos de ciclistas são responsabilidade da
cara de interior de carro. E não é uma também. Eu fiquei maravilhado com bicicleta (falha mecânica), sendo que
questão de custo, mas de aceitação Vila Guilhermina-Esperança. É um alguma coisa em torno de 10%, des-
do público. Expus isso para um doutor bairro de interior, uma coisa que de se número são com bicicletas novas,
em Arquitetura, um dos professores dentro do carro, se você passar pela ou que quebraram com pouco uso.
da USP, no caso o meu irmão, que é Radial Leste, não se vê. Quando se Houve uma época em que a quanti-
o titular de História da Arquitetura, e vai de bicicleta, é literalmente como dade de garfos e guidons quebrados
ele concorda plenamente comigo a se você tivesse saído de São Paulo e e, consequentemente, a de pessoas
respeito disso. estivesse no interior. O lugar que mais machucadas, era absurda, a ponto de
As pessoas pensam o traçado tem bicicleta hoje em São Paulo é o a Associação Beneficente São Camilo
humano e o espaço urbano como se Jardim Helena, extremo leste, atrás ir a um programa de televisão dizer
fossem motoristas. A maioria dos ci- de São Miguel Paulista. Naquela pe- que estava muito assustada com o
clistas que andam na cidade de São quena área que fica entre a linha fér- índice de ciclistas acidentados! Então
Paulo se envolve em acidente porque rea e o Tietê, passam 7700 ciclistas fiquei sabendo que uma das gran-
15
16. Perfil Arturo Alcorta
des redes varejistas do país havia Efetivamente muito impressionado!!! a maioria das motos está caindo aos
comprado 120 mil bicicletas de Não é coisa de político, eles estão pedaços, o problema é mais grave...
uma determinada marca oficial, e vindo atrás, e o que acontece é que
devolveram 40 mil por defeito. Das está se abrindo uma caixa de Pando- Ciclovia – Como você tem visto
outras 80 mil, é muito difícil você ra. Walter Feldman, atual secretário essa movimentação que a cidade
encontrar uma rodando por aí. O municipal de Esportes, Lazer e Re- e o estado de São Paulo têm fei-
mercado mundial de bicicleta bási- creação de São Paulo, diz que 300 to na construção de ciclovias? E
ca está trabalhando em décimo de mil ciclistas circulam por dia na cida- como é a qualidade delas?
milímetro no que se refere ao índice de de São Paulo. De acordo com a (Silêncio...)
de precisão. Quando observadas as Secretaria Municipal do Verde e Meio
bicicletas iniciantes ou um pouco Ambiente, esse número sobe para Ciclovia – Você chegou a ver o
mais sofisticadas, eles estão tra- 700 mil no final de semana (chegan- trecho que está sendo construído
balhando em centésimo ou décimo do a mais de 1 milhão num domingo no Parque Ecológico?
de milímetro baixo. Aqui no Brasil ensolarado). Isso é uma pesquisa já Arturo – Sim, eu vi um microtre-
se trabalha em milímetro, e alguns desatualizada da própria Caloi. Isso cho dela...
produtos têm variação do que eu porque todo mundo diz que é impos-
chamaria de milímetro alto, um ou sível pedalar aqui! A bicicleta está Ciclovia – Eu passei por lá ontem
dois milímetros de diferencial. Isso tomando conta e não por causa dos (20/08), e a ciclovia já estava ala-
é uma brutalidade!! Você pegar políticos, mas porque ela é mais efi- gada, debaixo d’água!
uma bicicleta saída de fábrica, ofi- ciente no trânsito. Existem cada vez Arturo – Que ótimo... (risos irôni-
cial, das grandes, e ela não andar mais pessoas querendo qualidade de cos). Há 6 anos está se fazendo um
em linha reta, isso para mim é um vida, já cansadas de ficarem dentro esforço muito grande de entidades
escândalo!!! do ônibus ou do metrô. Todo o sis- internacionais, e até do próprio Banco
tema está entrando em colapso, e o Mundial para dar “expertise” para o
Ciclovia – De uns três ou qua- que as pessoas fazem? Procuram al- Brasil. A idéia da ciclofaixa que im-
tros anos para cá, a bicicleta ternativas. O único risco com relação plantaram aqui foi muito boa, mas
tem estado mais presente na a isso é que quando você pensa num existem pequenas sutilezas que eu
mídia. As pessoas a têm visto setor como o da bicicleta, tem que questionei, e os caras ficaram muito
como um transporte susten- pensar no todo. Se a qualidade dela bravos. Eles têm muito medo − por
tável ou é apenas propaganda for muito ruim, há quem prefira pagar lei, se fizerem uma besteira qualquer,
política? R$ 80,00 por mês e comprar uma eles são os responsáveis, vão res-
Arturo − Política não é!! Eles moto. E aí surgem dois problemas: ponder na justiça. Não é o município
estão correndo atrás do lucro! E de primeiro, um acidente que o ciclista que responde, é o técnico. Eles des-
uma maneira que eu sinto profun- venha a sofrer custa menos do que conhecem completamente como fun-
damente, porque são pouquíssimos um acidente de moto para o estado, ciona a questão da bicicleta porque
no Brasil que estão assumindo de para a previdência social; e segundo, 99% deles não são ciclistas, não são
fato a questão da bicicleta. Soro- uma moto 125cc polui 6 vezes mais usuários de bicicleta. E um percentual
caba assumiu na porrada! Eu olhei que um carro 1.0. As motos não têm muito grande deles sequer subiu em
de longe, não tinha gostado. A hora catalisador e agora estão começan- uma. Já ouvi muito frases do tipo: “Eu
que eu vi o resultado e que eu pe- do a vir com injeção eletrônica. Esses não ando de bicicleta nem em fim de
dalei, fiquei muito impressionado! dados são de veículos novos, e como semana”. Então como é que você vai
16
17. assinar um projeto desse? “Ah não, problema desses? É simples. Se você ralmente apavorados! O respeito era
mas isso eu sei fazer!”. Esse tipo de tem que licitar pelo menor preço, ao total porque eles não sabiam o que
coisa acontece com muita frequên- invés de você ter um calceteiro, ou fazer com você. E existia também
cia... um cara especializado em constru- uma outra vantagem na época que
O sistema inteiro é falho! E tem o ção de ciclovias, você põe um peão era o seguinte: você era um ET em
outro lado da coisa, aí sim de questão de obra para fazer uma coisa que sai tudo quanto era canto, podia entrar
política. Ciclovia é bonitinho, então aos trancos e barrancos. em todos os lugares. Você cortava fa-
vamos tocar para frente. Qual é a velas, e os traficantes armados olha-
consequência disso? Se você puder Ciclovia – Para a gente finalizar, vam e diziam: “esse aí é louco!”
instalar um sistema cicloviário, o faz como seria o mundo ideal para
em uma avenida, porque todo mundo a bicicleta aqui no Brasil, no seu Ciclovia – “Deixa ele passar....”
tem que ver! Não em um bairro pouco ponto de vista? Arturo – (risos) “Deixa ele passar,
movimentado. E mesmo que ninguém Arturo – Eu digo que é o ponto de é perigoso demais”. Isso era muito di-
vá utilizar! Os próprios técnicos não vista da Escola de Bicicleta, e é o se- vertido, não havia problema de roubo.
conseguem enxergar os bairros como guinte: esse mundo ideal não existe. Numa cidade ideal as pessoas preci-
um sistema viário e interessante. Aqui É o ponto zero da gente. Eu não quero sam olhar pra si. Espero do fundo do
no Brasil é praticamente impossível resolver a questão da bicicleta, mas coração que não seja uma questão
se pensar em mudança de fluxo, em sim uma situação que a gente tem de de bicicleta, mas que as pessoas te-
diminuir ou segurar a velocidade dele, qualidade de vida na cidade! Bicicle- nham condições de olhar no espelho
não se pensa nisso. E o que tem a ta, pedestre, automóvel, você precisa e entender o que elas são e qual é
ver? Ciclovia tem cruzamentos. E há equilibrar todo o sistema. Sempre que a qualidade de vida que elas estão
complicações nisso.porque não se me disseram em reunião: “eu quero tendo...
põe semaforização para o ciclista. Se ver todo mundo pedalando, um mon-
para pedestre (34% da população de te de ciclista na rua”, eu disse: “eu
São Paulo anda única e exclusiva- não quero, eu não quero”. Precisa
mente a pé) já não existe para não crescer, educar ordenadamente, ser
atrapalhar a fluidez, para ciclista me- gradativo. Não existe transformação
nos ainda! E por último tem a questão perfeita. A cidade ideal, em qualquer
da construção e da manutenção da lugar do Brasil, deve ser onde a bici-
ciclovia, o que complica mais ainda cleta esteja integrada, onde ela seja
o processo. A da Radial leste, por boa. Hoje em dia eu acho isso até
exemplo, teve um problema muito mais importante do que fazer ciclovia.
grande com o piso. Eles o fizeram de São Paulo foi onde eu mais gostei
William Santana
cimento, com o grau de ranhura que de pedalar em toda a minha vida. Ex-
o autódromo de Interlagos tem, Só plico, e é muito simples. Lógico que
que lá é para Fórmula 1! Estou exa- eu não tinha pedalado fora, mas aqui no bairro de Pinheiros onde mora
gerando um pouco, mas é quase aí... tinha uma coisa fantástica na déca-
Foi uma confusão muito grande com da de 1970 e começo da de 1980: Ciclovia – Na verdade, vai além:
a Secretaria do Verde e Meio Ambien- o número de ciclista era muito, muito é um problema de educação, ci-
te. Eles não aceitaram o piso como pequeno, e quando você aparecia na dadania...
havia sido feito. Por que se tem um frente de um carro eles ficavam lite- Arturo – Cidadania...
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18. Mulheres de bike
Porque as mulheres
não utilizam a bicicleta
como transporte?
O Brasil é o terceiro maior fabricante de bicicletas do mundo, com
cerca de 5,5 milhões de unidades produzidas em 2007, e o quin- Para Falzoni, a bicicleta é uma ferramen-
to maior mercado consumidor de bikes no mundo, segundo dados ta de trabalho usada diariamente. Ela é bike
da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, repórter e também possui um programa de
Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares). Segundo ela, 50% TV na ESPN Brasil. Em São Paulo, nada de
das “magrelas” produzidas no Brasil são utilizadas como transporte; carro. A magrela também serve como lazer
32% são infantis; 17% para lazer e recreação e apenas 1% utilizada e esporte. E confessa: “Há preconceito. Hoje
no esporte. Apesar destes belos números, não há registros entre os nem tanto, mas em 1977 não fui contratada
fabricantes do número de bicicletas produzidas e vendidas especifica- por uma empresa porque eu visitava os clien-
mente para mulheres. tes de bicicleta”.
Quantas são as ciclistas brasileiras? E melhor, onde elas estão? Incentivada quando criança por sua mãe,
Pelo interior do Brasil é comum ver mulheres utilizando a bike como Claudia Tarrega − então com 16 anos − já pe-
transporte, mas nas grandes cidades elas só são vistas com frequ- dalava, como ela mesma diz, “pra cima e pra
ência, e em quantidade, em parques ou praias. Quando se fala na baixo”. Hoje com 24 anos, pedala 40 km por
utilização da bicicleta como transporte em grandes cidades, o número dia para ir e voltar de sua casa no Butantã até
de mulheres nas ruas é bem menor que o de homens. seu trabalho, próximo ao Jardim Zoológico, em
Pedalando há mais de 50 anos (desde os 5 anos de idade) e uti- São Paulo. “Quando tirei carta de motorista ti-
lizando-a como transporte desde 1976, Renata Falzoni, jornalista e nha medo de dirigir, Depois comecei a ver o
cicloativista, acredita que os problemas encontrados por mulheres e problema que era o trânsito. Daí, então, decidi
homens são os mesmos. “A meu ver, talvez exista um pouquinho mais fazer tudo que precisava de bicicleta. Agora vou
de respeito pelos motoristas de ônibus (em relação às mulheres), mas pra tudo que é lugar sem medo!”, comemora.
não é a regra”. E continua: “Elas são mais cuidadosas e não gostam de Claudia também enxerga o preconceito,
estar em situação de risco”. Renata cita outro fator que contribui para mas acredita que não seja com o ciclista, e
o baixo número de ciclistas mulheres: “Se você tem filho pequeno, é sim com o baixo poder aquisitivo. “Quando as
escrava de um carro. As mães são motoristas dos filhos”, sentencia. pessoas percebem que você está de bicicle-
18
19. ta, já te tratam meio que como água res que faziam passeios de bicicleta. ca. E andamos numa velocidade bem
de louça sanitária!”. Gerente de uma Hoje, o “Saia”, como é carinhosamen- baixa”, completa.
fábrica de produtos odontológicos, te chamado, possui saídas semanais Teresa acredita que o número de
precisa ir à Vigilância Sanitária sema- sempre com a presença de pelo me- mulheres que pedalam nas ruas das
nalmente. “Sempre vou de bicicleta. nos 30 garotas. Segundo D’aprile, o grandes cidades tem aumentado. Mas
Quando chego, todos me olham des- grupo é reservado às mulheres por- faz uma alerta: “Mulher é muito com-
confiados. Eu entro, vou ao banheiro, que elas têm necessidades e dificul- plicada. Elas põem sempre uma des-
me troco e volto de saia, camisa e dades específicas. “Muitas vezes as culpa: se briga com o namorado, não
sapato. De repente, todos me tratam meninas não têm coordenação moto- pedala; se está com TPM, não pedala;
super bem. Nem associam que seja a ra. Nós ensinamos a pedalar, damos se cai uma gota, não pedala... Eu falo
mesma pessoa”. dicas técnicas e ensinamos mecâni- pra elas: isso não é desculpa!”
Para Tarrega, o medo é que faz as
mulheres sumirem das ruas. “A qual-
quer buzinada elas param. Têm medo
de cair, de se machucar, e de uma
Willam Santana
série de coisas. Eu converso com as
meninas que encontro na rua e elas
falam que os motoristas são muito
agressivos, que tentam passar por
cima delas. Pra mim, um pouco de
medo, adrenalina, é até gostoso”.
Já Teresa D’aprile começou a pe-
Claudia: faça chuva ou faça sol a
dalar aos 37 anos, logo após o término bike é seu transporte
de seu casamento. Aos 42 anos iniciou
outro relacionamento com um ciclista
que conheceu e que a treinou. Tomou
gosto pelo pedal e começou a compe-
tir. Em 1990 começou a trabalhar em
loja de bicicletas e sentiu na pele a
discriminação. “As pessoas achavam
estranho uma mulher da minha idade
frequentando o mundo ciclístico, ven-
arquivo pesso
Teresa: aos 61
dendo bicicletas”, desabafa. “Minhas anos energia de
garotinha
programa de TV
arquivo pessoal
amigas me perguntavam como eu não a de suas viagens para seu
al
Falzoni: em um
tinha vergonha de sair de bicicleta com
aquela idade”, continua. Dica
Pensando nas dificuldades e nos
medos que as mulheres enfrentam, Saia na Noite: saídas todas as terças, às 21h.
Teresa, hoje com 61 anos, criou em Ponto de encontro: Doceira Ofner da Avenida Nove de Julho, 5623,
1992 a equipe “Saia na Noite”. O gru- Jardim Paulista, São Paulo.
po inicial era formado por seis mulhe- Informações: www.saiananoite.com.br
19
20. Cicloturismo
Vale
Europeu
Fotos: William Santana e Cláudia Garcia
Pedalar por 300 km em meio à natureza
pelo sul do Brasil e, ao mesmo tempo,
apreciar a diversidade cultural trazida por
imigrantes europeus, que no início do
século passado colonizaram a região.
Esta é a proposta do Circuito Vale Europeu de Cicloturismo, primeiro
roteiro brasileiro planejado especialmente para ciclistas e implantado
em novembro de 2006 na região conhecida como Vale Europeu, em
Santa Catarina, e que compreende os municípios de Timbó, Pomerode,
Indaial, Ascurra, Rodeio, Doutor Pedrinho, Rio dos Cedros, Benedito
Novo e Apiúna. A iniciativa é da Associação Vale das Águas (consórcio
turístico regional) e contou com a supervisão do Clube do Cicloturismo
na elaboração do trajeto.
Inspirado no Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha,
o trajeto é todo sinalizado por setas amarelas pintadas em postes,
placas e paredes, e circunda, na maior parte do tempo, a zona rural
das cidades da região. Além disso, o ciclista pode retirar na sede da
associação, em Timbó, um passaporte que deve ser carimbado em
determinados postos ao longo do trajeto e também folhetos com as
planilhas de navegação do circuito. Ao final da viagem, com o pas-
saporte preenchido pelos carimbos, o ciclista recebe, assim como
em Santiago de Compostela, um certificado por ter concluído todo o
roteiro.
20
21. Em Doutor Pedrinho, estradas margeadas por pinheiros
dão o tom da paisagem
21
22. Cicloturismo Vale Europeu
Construções típicas europeias são muito encontradas em
toda a região, principalmente nas zonas rurais
decidi convidar minha esposa, que não é ci-
clista, mas adora passear de bicicleta. Além
de me fazer companhia, uma de suas tarefas
seria comprovar que um ciclista comum
tem condições de fazer o circuito. Eu já
tinha algumas cicloviagens nas pernas, ela
estava apenas em sua segunda experiência,
sendo que a viagem anterior havia durado
apenas 4 dias. Escolhemos o mês de julho
por ser um mês seco, sem chuvas, mas eis
que um dia antes de sairmos de São Paulo
a previsão do tempo nos trouxe a primeira
O circuito foi planejado para ser percorrido em uma semana, propor- surpresa: deveríamos encarar alguns dias de
cionando ao cicloturista segurança, atrativos culturais e ecológicos. chuva durante a viagem. Arrumamos nossos
O roteiro pode ser divido em duas partes: baixa e alta. Na primeira, alforjes, colocamos as bicicletas no carro e
o percurso acompanha o vale dos rios, onde o revelo não exige muito seguimos para Timbó, já sob chuva. Chega-
condicionamento físico do viajante. Vai de Timbó, ponto de partida, à mos à cidade num domingo à noite, encon-
cidade de Rodeio, e pode ser feito em 3 dias. Já a segunda parte, que tramos um hotel e combinamos que o carro
sai de Rodeio, sobe a serra e retorna para Timbó, pode ser percorrida ficaria no estacionamento por uma semana.
em 4 dias. Neste trecho, o relevo é bem mais acentuado, e o caminho Tomamos nosso banho e saímos para jantar
segue em direção a duas represas situadas a aproximadamente 700 e pegar algumas informações sobre o início
metros do nível do mar − o que exige certo preparo físico por parte do do passeio, que seria na manhã seguinte. No
ciclista, que encontrará alguns trechos de subida íngreme. restaurante Tapyoka, pudemos provar um bom
Segundo Ademir Winkelhaus, gestor de turismo da Associação Vale chope fabricado no local, bem como porções
das Águas, é muito comum o ciclista aparecer num feriado, fazer a de salsichões alemães regados a mostarda
parte baixa e voltar num próximo para concluir o circuito e retirar o preta, uma delícia! Mas ao contrário do que
certificado. “Não é todo mundo que dispõe de sete dias seguidos para imaginávamos, esta seria a última vez que
fazer o percurso”, diz Winkelhaus. Pelos registros da associação, des- comeríamos algo típico da região. Ficamos
de o início da operação mais de 2600 ciclistas percorreram a rota sabendo que deveríamos pegar informações
oficialmente, “sem falar no número de catarinenses que, por conhece- no dia seguinte na sede da Associação Vale
rem a região, não se registram”, completa. das Águas, que fica atrás do restaurante. Fo-
O repórter William Santana percorreu todo o caminho em compa- mos dormir cedo, pois quem vai encarar um
nhia de sua esposa, Claudia, e nos conta sua experiência: longo período de exercício deve fazê-lo bem
“No momento em que me foi dada a tarefa de fazer esta matéria, descansado e disposto.”
22
23. 1º dia
Timbó a Pomerode 49 km
Ao lado da sede da Associação “Vale das Águas”, em Timbó,
placa marca o início do circuito
ta, após uma subida sempre há uma descida, e,
nesse caso, uma que terminaria já no município
de Pomerode, no início da Rota Enxaimel (veja
quadro pág. 30), onde há um grande número de
casas construídas neste estilo. O final da rota é
“Segunda-feira. Acordamos cedo, e o dia estava chuvoso como previsto. também o fim do primeiro dia do circuito, mas
Pedalar na chuva logo após acordar não é nada agradável, mas precisáva- não do nosso pedal. Para encontrar hospeda-
mos iniciar logo a jornada, afinal, teríamos 45 km até Pomerode, onde dor- gem, tivemos que andar mais 4 km até o centro
miríamos, e com solo molhado o pedalar se torna mais demorado e exige de Pomerode. Além das características físicas da
mais atenção do ciclista. Vestimos nossas capas de chuva e seguimos para população, da língua (não é incomum encontrar
a sede da associação para pegarmos mais informações. Lá, fomos infor- vizinhos conversando em alemão), da limpeza
mados de que deveríamos ligar para todos os lugares onde pretendíamos das ruas e da arquitetura dos imóveis, outro fato
nos hospedar ao longo do trajeto e fazer reservas − o que não fizemos... que nos fazia sentir que estávamos pedalando
Pegamos mapas, planilhas, lista com todos os possíveis lugares de hospe- por alguma região da Alemanha eram os nomes
dagem e com todos os pontos de carimbos e a credencial que deveria ser das ruas, em sua maioria de origem alemã.
carimbada. Iniciamos o passeio por volta das 11h da manhã. As marcações Pedimos várias informações e simpaticamente
de setas amarelas nos apontavam a zona rural e em 40 minutos de pedal fomos muitas vezes ajudados, mas um fato que
estávamos fora do município de Timbó. A chuva havia dado lugar a uma mais nos deixou tristes era que não conseguiría-
leve garoa. Atravessamos o centro da cidade de Rio dos Cedros e seguimos mos comer nenhum prato típico, já que se tratava
em direção a Pomerode. Neste trecho, cerca de 30 km são percorridos de uma segunda-feira à noite e todos os restau-
praticamente em terreno plano até o distrito de Rio Ada, onde se inicia a pri- rantes se encontravam fechados. O jeito foi comer
meira subida de todo o percurso − nada absurda, mas que exige ao menos um lanche próximo ao hotel e cair na cama, pois
paciência do ciclista. Logo a Mata Atlântica toma conta da paisagem e não a pernas estavam cansadas e teríamos outro dia
é difícil se deparar com animais silvestres. Para a felicidade de todo ciclis- de pedal pela frente.”
1 - Rota Enxaimel: Além de belas casas, gramados bem cuidados são uma das características das propriedades 2 - Parte baixa do circuito: Riachos cristalinos
cruzam as estradas 3 - Casa típica em estilo Enxaimel
2
1 3
23
24. Cicloturismo Vale Europeu
2
3 4
1 5
1 - Comércio em estilo Enxaimel – Município de Indaial
2 - Pausa para apreciar paisagem
2º dia 3 - Estacionamento de indústria em Indaial: mais bicicletas
que carros
Pomerode a Indaial, e depois Rodeio 71 km 4 - Ponte coberta: um dos charmes da região
5 - Ponte pênsil sobre o Rio Itajaí-Açu
“Neste dia, por volta das 7h30, já estávamos pedalando. O dia ama-
nheceu promissor, pois havia poucas nuvens no céu. Seguimos pelo
bairro de Wanderwald, em meio a casas típicas europeias e o que de Indaial, que em tese seria o nosso ponto
deveriam ser belos jardins &minus digo isso, pois, no inverno, em- de parada. Mas como estávamos muito em-
bora eles estivessem bem cuidados, as flores estavam queimadas polgados com a viagem, e o próximo trecho
pelo frio. era apenas de 27 km e totalmente plano, re-
Iniciamos duas longas subidas, não tão íngremes, mas longas. Até solvemos almoçar e seguir viagem em dire-
a cidade de Indaial seriam 40 km. Uma das situações que havía- ção a Rodeio, o que encurtaria nossa viagem
mos presenciado no dia anterior, e que neste dia se intensificaram, total em 1 dia. O trecho de Indaial a Rodeio
foram os inúmeros deslizamentos de terra causados pelas fortes seguiu o tempo todo margeando o rio Itajaí
chuvas do final de 2008 que assolaram o estado de Santa Cata- Açu, e é caracterizado por algumas pontes, a
rina, e principalmente esta região. Para todo lado que olhávamos, começar pela dos Arcos, na entrada da cida-
avistávamos morros descobertos de sua vegetação, levada pelos de de Indaial. Seguindo pela estrada, cruza-
deslizamentos. Este trecho exige um pouco mais de atenção, pois mos uma ponte coberta por telhado, prática
há a necessidade de andar um pequeno trecho de estrada de as- comum trazida pelos imigrantes europeus.
falto e ainda cruzar a BR-470, que possui grande tráfego de carros E logo mais a frente pudemos avistar uma
e caminhões. ponte pênsil, que embora não fizesse par-
A pedalada rendeu bastante e às 2h da tarde já estávamos no centro te do percurso, nos fez desviar um pequeno
24
25. trecho para poder observá-la de perto. Era Dica
possível atravessá-la de bicicleta, mas não
conseguimos fazê-lo, pois estava em manu- Leve protetor solar, capa de chuva, ferramentas, remendos
e câmara de ar sobressalente. Não leve mochila nas costas,
tenção. Mais uma vez cruzamos a BR-470
a menos que seja de hidratação. Faça sempre uma revisão
e o município de Ascurra, seguindo para
na bicicleta antes de encarar uma viagem. E, por fim, faça
Rodeio. Estas são cidades colonizadas por reservas em hotéis ou pousadas para evitar contratempos.
italianos da região de Trento, e é muito co- Informações: Associação Vale das Águas.
mum encontrar pessoas conversando nesse www.circuitovaleeuropeu.com.br
idioma pelas ruas.
Em Rodeio, nos deparamos com o que pode-
ria ter sido um grande problema, mas que, 3º dia
com a ajuda dos proprietários da vinícola Rodeio a Doutor Pedrinho 57 km
San Michelle, terminou de forma espetacu-
lar. Como fomos informados no primeiro dia, “A cidade de Rodeio é o ponto de partida para a parte alta do circuito.
deveríamos ter feito a reserva de hospeda- Após o sr. Ralph nos deixar na vinícola para pegarmos as bicicletas,
gem. Confesso que até cheguei a ligar, mas iniciamos aquela que seria a maior subida de todo o circuito, 8 km
como ninguém atendeu ao telefone, pensei ininterruptos. Para nosso espanto, conseguimos pedalar durante 7 km
em resolver isso no local. Grande erro! &minus o último seguimos empurrando, porque ninguém é de ferro!
Ao chegarmos à vinícola, fomos avisados de Durante o trajeto, percebemos que de tempos em tempos avistávamos uma
que a única pousada que havia na cidade estátua de anjo à beira da estrada. Logo mais à frente, conversando com
estava fechada e que o único lugar mais moradores, descobrimos que eram ao todo 58 esculturas postas ao longo
próximo para se hospedar era um centro da subida pelos moradores da região, sem nenhuma explicação aparente.
de eventos da igreja luterana, que ficava a Após 17 km percorridos, havia um desvio de 16 km para se chegar a
12 km de distância. Já era início de noite, e uma cachoeira fantástica, a do Zinco, com 76 m de queda. Seriam 8
minha esposa estava muito cansada, pois já km de ida, mais 8 de volta. Após conversarmos, eu e Claudia decidimos
havíamos pedalado 71 km. Até que um dos que já que estávamos ali, deveríamos ver tudo o que tínhamos direito.
sócios da vinícola, sensibilizado com nos- Desmontamos nossas malas e as escondemos atrás de um arbusto na
sa condição, decidiu ligar para o centro de margem da estrada, afinal, pedalar mais leve nos faria ir mais rápido.
eventos e saber da possibilidade de algum Diz o ditado que para se chegar ao paraíso é necessário passar pelo
funcionário vir nos buscar na vinícola. Veio, purgatório. Para chegar à parte alta da cachoeira era necessário subir
então, o sr. Ralph, o administrador de lá. Ele 2 km com o sol da 1h da tarde nas costas, o que tornou esta subida
já havia feito este tipo de resgate antes com
outros ciclistas. Nossas bicicletas ficaram na
vinícola, de onde partiríamos no dia seguin-
te. Terminava aqui a parte baixa do circuito.”
Cachoeira do Zinco. Situada em propriedade particular, a
queda é uma atração que vale os 16 km de desvio de rota.
Do mirante é possível bater belas fotos à sombra de pinheiros
25
26. Cicloturismo Vale Europeu
muito pior do que a do início do dia. Visitamos a cachoeira, que, diga-
se de passagem, nos fez lembrar uma queda d’água que há no filme
Jurassic Park. Batemos fotos, tomamos água e seguimos de volta os 8
km que desviamos do percurso original. De volta a ele, encontramos a
única igreja no Brasil construída no estilo Enxaimel.
Chegamos por volta das 7h da noite em Doutor Pedrinho mortos de fome.
No hotel em que ficamos hospedados, fomos recebidos com uma macar-
ronada alho e óleo preparada especialmente para nós que, posso afirmar,
não existe igual!”
Única igreja construída em estilo Enxaimel do Brasil
4º dia das muitas descidas. No meio da chuva eles
Dr. Pedrinho a Alto Cedros 44 km emendavam a corrente e tentavam consertar O estilo
a bike para chegar ao menos até a pousada. Enxaimel
“Nesse dia da jornada novamente a chuva vol- Após verificar que tudo estava bem com eles, É uma técnica de
tou a nos acompanhar, e desde cedo. Conhe- seguimos em frente prometendo informar ao construção em
cemos 2 ciclistas, Charles e Anderson, ambos pessoal da pousada que havia ciclistas com que as paredes
montanhistas de Curitiba, que, como nós, es- problemas pelo caminho. são montadas com
tavam fazendo todo o circuito. Como saímos O final deste dia terminou na represa de Pi- hastes de madeira
para pedalar antes deles, combinamos de nos nhal, onde o sr. Raulino Duwe nos esperava encaixadas entre
encontrar durante o percurso. Logo no início num para nos guiar até a pousada que ele si nas posições
da pedalada, antes de iniciarmos uma subida, possuía às margens da represa, mas que fi- horizontal, vertical
paramos para conhecer a cachoeira Véu de cava fora do trajeto aproximadamente 4 km. ou inclinada, e os
Noiva. A chuva e a lama não davam trégua Duas horas depois, chegaram os curitibanos espaços criados
e seguindo pela estrada de terra &minus ou acompanhados do sr. Raulino. Estavam chate- entre estas hastes
melhor, de lama&minus, começamos a per- ados, pois para eles seria impossível continuar são preenchidos por
ceber que outras bicicletas já haviam passado a viagem − o conserto da bicicleta possibilitou pedras ou tijolos.
por ali. Foi aí que imaginamos que os parana- chegar até a pousada, não mais que isso.” Outra característica
enses haviam passado por nós. Esse trecho deste estilo são os
Travessia de riacho: em alguns lugares é impossível
do circuito é um dos mais isolados, com pou- pedalar e molhar os pés torna-se a única opção
telhados bastante
cas casas e fazendas. Importantíssimo aqui é inclinados, ou seja,
levar água e comida suficientes para todo o agudos, construídos
dia, pois não há muitos pontos onde se possa desta forma para
comprá-los. Durante boa parte do dia a estra- dar escoamento
da é cercada de áreas de reflorestamento re- à neve − caso
pletas de eucaliptos, usados por madeireiras. contrário, a estrutura
Cruzamos riachos e fazendas, mas antes disso da construção não
nos deparamos com os ciclistas de Curitiba. A aguentaria o peso.
bicicleta de um deles havia quebrado em uma
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27. 5º dia 6º dia
Alto Cedros a Palmeiras 41 km Palmeiras a Timbó 53 km
“O dia prometia ser quente. Tomamos café, nos
despedimos dos curitibanos e para compensar
os 4 km que foram desviados do percurso
original para se chegar à pousada, o sr. Raulino
nos atravessou para o outro braço da represa
com seu barquinho. E lá fomos nós!
Em meio à forte neblina, a pior de todas as subidas
“Último dia de viagem e saímos com chuva sobre as costas. O caminho
novamente volta a passar por locais mais habitados. Neste dia, muitas
descidas íngremes e suaves, mas ao chegar à localidade de Rio Cunha,
nos deparamos com a que talvez tenha sido a mais forte subida de todo o
circuito: curta, mas muito forte. O jeito foi descer e empurrar! Após subir,
uma longa descida nos levou ao município de Benedito Novo, e foi nessa
descida que ocorreu o nosso único problema com a bicicleta: um pneu
furado. Algo corriqueiro e fácil de resolver, mas que feito debaixo de chuva
Eu e o Sr. Raulino Duwe acomodamos as bicicletas no forte passou a ser um martírio! Já dentro do município de Timbó, faltando
bote para a travessia da represa
apenas 1 km para terminar a jornada, após uma distração acabei levando
um tombo que me custou uns arranhões no joelho e no cotovelo, mas
Este trecho também é bastante isolado, mas nada grave. Encerramos nossa viagem 6 dias depois no mesmo ponto
provavelmente o mais belo de todo o circuito. onde começamos, ao lado do Restaurante Tapyoka, no centro de Timbó.
Novamente a reserva de água e comida deve ser A região é linda, culturalmente diversa, e o desafio de pedalar e concluir
bem planejada. Saímos da represa de Pinhal e o circuito é extremamente estimulante. As dificuldades encontradas nos
fomos até a represa do Rio Bonito. No meio do trechos de subida são perfeitamente superáveis por qualquer ciclista,
percurso predominam as paisagens de eucaliptos bastando respeitar os limites de cada um. Após seis dias de subidas e
e de araucárias. Pouco antes de chegar ao bairro descidas, riachos e matas, asfalto e terra, como ciclistas pudemos chegar
de Palmeiras, uma queda d’água na beira da a uma conclusão: que a vontade de pedalar amanheceu conosco no
estrada, como um oásis num deserto, fornece sétimo dia, pena que era hora de voltar!”
água fresca para ciclistas suados e sedentos.”
Cachoeira na beira da estrada parada, parada obrigatória
para matar a sede
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1- Pneu furado sob forte chuva 2 - Ponto Final: Na passarela que atravessa o Rio Benedito
Novo, em Timbó, se encerra o circuito
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28. Cicloativismo
Bonde de Curitiba
Fotos: William Santana
Não, este não é nenhum grupo de funk da capital paranaense. É o num final de semana fazer uma festa”, conti-
nome do evento criado por cicloativistas paulistanos que no último fim nua Pasqualini.
de semana de agosto mobilizou 75 ciclistas de São Paulo. Após rodarem Aos gritos de “menos carros, mais bici-
a Bicicletada da cidade, encaram mais de 400 km dentro de 2 ônibus cletas” e “menos gasolina, mais adrenalina”,
para, no dia seguinte, rodarem a de Curitiba. durante 2 horas eles rodaram pelas ruas do
Em São Paulo, a Bicicletada ocorre toda última sexta-feira do mês, centro da cidade e bairros próximos sob os
e em Curitiba, todo último sábado. “No primeiro ano foram 37. Neste olhares desconfiados de motoristas e sob os
dobrou. No próximo serão pelo menos três ônibus”, comemora André aplausos de pedestres. A manifestação termi-
Pasqualini, o organizador do evento deste ano. O encontro dos paulis- nou no bairro Centro Cívico, no estacionamento
tas com o pessoal do sul ocorreu no pátio da reitoria da Universidade do MON (Museu Oscar Niemeyer), com a foto
Federal do Paraná e contou também com a participação de ciclistas de confraternização. Para finalizar o evento, no
vindos do Rio de Janeiro, Florianópolis e Blumenau. “A ideia é que no domingo os ciclistas fizeram a descida da Serra
futuro o evento se torne nacional, que possamos integrar todo mundo e da Graciosa até a cidade de Morretes.
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3
1 - Combustível sustentável 2 - Formando a próxima geração de ciclistas 3 - Bicicletas inusitadas chamam a atenção
O que é um É um movimento criado em São Francisco, EUA, em 1998,
e iniciado no Brasil, em São Paulo, em 2002. Foi inspirado
bicicletada? no movimento também americano da Massa Crítica, em que
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29. 4 5
6
4 - 75 bikes no bagageiros dos ônibus 5 - Encontro dos paulistas com os paranaenses no pátio da reitoria da UFPR 6 - Confraternização nos jardins no
Museu Oscar Niemyer (MON)
ciclistas sem liderança se juntam para pedir mais do movimento, cujo lema é “um carro a menos”.
espaços para as bicicletas nas ruas. Atualmente, Informações: www.bicicletada.org
diversas cidades pelo Brasil possuem uma versão
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30. Internacional
Aprendendo
com os criadores
Por Mirna Moramai e arquivo pessoal
Movimentar o corpo, contemplar a paisagem, observar as pessoas
pelo caminho, chegar ao ponto planejado. Aí está o prazer de pedalar.
Quem garante é o casal de alemães Walter e Edeltraude Glotz, ambos
de 63 anos, aposentados e moradores da pequena Baltmannsweiller,
cidade de 6 mil habitantes localizada ao sul da Alemanha, perto da
cidade de Stuttgart.
Em 2006, resolvi estudar a língua alemã e conhecer sua cultura.
Uma amiga que já morava na Alemanha e que era amiga do casal nos
apresentou. Logo no primeiro instante houve uma empatia. Em segui-
da, um interesse em comum nos aproximou mais: andar de bicicleta.
E foi com essa amizade que pude aprender a importância deste hábito.
Walter me ajudou na compra da primeira bicicleta. Eu estava há
poucos meses na Alemanha, e, de início, tive a primeira lição: não
precisava de uma super bike, mas de uma que servisse aos meus
propósitos, que fosse resistente, que suportasse passeios mais longos.
Temos a tendência de achar que para pedalar é preciso ter a melhor
bicicleta. Porém, basta vermos o preço para desistirmos.
Nessa procura foi muito interessante ver a variedade de modelos de
bicicletas, que vão desde as sem pedais, para crianças que começaram a
andar, passando pelas jovens, até chegar às adultas para lazer, senhoras,
senhores e esportistas. Uma infinidade de opções só esperando por uma
oportunidade de sair rodando por aí. Os preços podem variar de 20 até
mais de 10.000 euros (algo entre R$ 51 e R$ 25.500). Escolhido o mo-
delo certo e que cabia no meu orçamento, era a hora de escolher a roupa
ideal, afinal de contas, nesta terra devemos sempre nos vestir apropria-
damente. Sempre pensei que acessórios esportivos fossem inacessíveis,
mas, quando sai para fazer a pesquisa, mais uma agradável surpresa: há
opções para todos os bolsos, inclusive o meu. Agora era só colocar o pé na
estrada. Ou melhor, nos pedais.
Desbravar terras alemãs e descobrir as paisagens medievais com infraestrutura adequada permite aos ciclistas informação
e segurança
suas histórias e beleza é uma viagem muito agradável − mas não
30
31. mais do que encontrar uma infraestrutura
pensada para os ciclistas. Sinalização conten-
do direção e informações sobre a distância a
ser percorrida em placas estrategicamente
colocadas em florestas, margens de rios e no
meio de plantações de uvas. Isso nos dá mui-
ta liberdade e segurança para poder conhecer
novos caminhos e locais diferentes.
Em um de meus primeiros passeios com
placas indicam as
Walter e Edeltraude, devido ao meu baixo distâncias entre os
condicionamento físico, fomos para uma ci- diversos pontos
dadezinha chamada Schondorf. Na ida peda-
lamos por um caminho plano, só para bicicle-
tas, e resolvemos voltar por uma estrada que
cortava uma montanha. Foi neste momento
que tive outra lição: o respeito que os moto-
ristas alemães têm com os ciclistas. Eu subia
a uma velocidade de 3 km/h e havia nesta
estrada muitas curvas. De repente, percebo
vários carros no sentido contrário descendo,
mas não via nenhum subindo. Continuei pe-
dalando e só quando cheguei em um ponto
da estrada em que não havia mais curvas,
vários carros começaram a me ultrapassar.
Não me recordo a quantidade, mas ninguém
buzinou e nem xingou a minha mãe. Naquele visibilidade da outra pista. Disse a ele que estava impressionada com
momento me senti tão respeitada, que isso esse respeito e ele me respondeu: “Mirna, quase todos esses motoris-
acabou sendo meu combustível para chegar tas também andam de bicicleta”.
até o fim da subida sem desistir. Perguntei, A cada dia que passa aprendo mais com este povo: que a bicicleta
então, ao Walter o que tinha acontecido e ele não é somente um meio de transporte, mas uma das formas mais
me explicou que para o carro fazer uma ultra- divertidas de fazer turismo, praticar esporte e cuidar da saúde ao mes-
passagem com segurança é necessário um mo tempo, coisa que, aliás, parece ser uma fixação do povo alemão
metro e meio de distância do ciclista e ter a − estão sempre a se movimentar!!
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32. Passeio ciclístico
City tour na
MADRUGADA
800 ciclistas, dezenas de pontos turísticos, oito horas vem. Eu sempre passei de carro por estes lugares e nunca
de pedalada e muita disposição. Estes foram os compo- percebi uma série de coisas que de bike consigo ver”.
nentes da Virada Noturna de Bike, que revelou uma cidade O trajeto foi organizado para ter três paradas: Vale do
que poucos conhecem. O evento fez parte das atividades Anhangabaú, Praça Alexandre de Gusmão, ao lado do
da 3ª Virada Esportiva, promovida pela prefeitura munici- Parque Trianon, e Rua da Paz, no bairro do Morumbi. Em
pal de São Paulo nos dias 19 e 20 de setembro. todas elas os ciclistas recebiam água e frutas, e podiam
O ponto de partida foi o Parque das Bicicletas, na Ave- recuperar o fôlego para o trajeto seguinte. Alguns se atre-
nida Ibirapuera, em Moema, e a concentração de bikers viam a tirar cochilos deitados na grama ou nas calçadas.
começou às 17h. Em sua 2ª edição, o número de par- Ao longo de todo o percurso, agentes da CET e policiais
ticipantes quase dobrou em relação ao do ano passado. militares fechavam as ruas para que o comboio pudes-
Os ciclistas que fizeram sua inscrição em troca de 1 kg se passar em segurança; também havia um carro-oficina
de alimento não perecível receberam camisetas e outros para possíveis problemas mecânicos em bicicletas e uma
brindes do evento. ambulância.
Nem mesmo o atraso de uma hora foi capaz de aca- O ciclista Jameson Ogura, 34 anos, morador da Vila
bar com a motivação dos ciclistas que vieram de todas Sônia, que costuma andar aos sábados no campus da
as regiões da cidade para o evento, previsto para iniciar USP, reclama da morosidade: “deu para acompanhar, mas
às 21h. Daniel Oliveira, 24 anos, morador do bairro de se pudesse andar com um pouco mais de velocidade seria
Pinheiros, participou pela primeira vez e não conseguia melhor. O passeio seria mais rápido”. Em compensação,
conter a ansiedade. “Essa demora está me matando, eu ele elogia a organização do evento. “É minha primeira vez,
quero pedalar!!”, gritava. Às 22h um mar de bicicletas e eu não esperava este tipo de evento com segurança de
tomava conta da Avenida República do Líbano, seguindo polícia e tudo o mais”, ressalta.
em direção ao Monumento às Bandeiras. Contornando o Reinaldo Sobrinho, também de 34 anos, morador do
Parque do Ibirapuera, subiram a Sena Madureira, para lá Jabaquara, exalta a evolução da Virada: “cada ano está
na frente ter acesso à Ricardo Jafet. Museu do Ipiranga, ficando melhor, mais organizado, o percurso que feito este
Mercado Municipal, Praça da Sé, Vale do Anhangabaú, ano tinha menos ladeiras”.
Pátio do Colégio, Teatro Municipal, Largo de São Francis- Ao todo foram percorridos 60 km em oito horas de
co, sem falar nas ruas históricas do centro da cidade. Es- pedalada, que terminou às 6h da manhã novamente no
tádio do Pacaembu, Avenida Paulista e tantas outras que Parque das Bicicletas.
o paulistano está acostumado a ver apenas de dentro do Sérgio Zolino, organizador do passeio ciclístico, res-
carro ganham novos olhares. A estudante Débora Guima- salta o sucesso do evento. “Tivemos quase mil bikes pe-
rães, também moradora de Pinheiros, e que participa pelo dalando ao longo da noite e nenhum acidente. O pessoal
segundo ano seguido, se espanta: “é incrível como a gen- chegou todo alegre, passou a noite pedalando por toda a
te percebe detalhes diferentes da cidade a cada vez que cidade com segurança. Um sucesso!”.
32
33. ano
lica do Líb
Av. repúb
Concen
tração
– Parq
ue das
Bicicleta
s
Túnel Paulista
Vale do Anhangabaú
Elevado
Costa e
Silva
Nos anos de 2007 e 2008, a Virada Esportiva
reuniu um total de 3 milhões de pessoas.
Considerado o maior evento esportivo ininterrupto
do país, este ano trouxe um diferencial − a
concentração das atividades esportivas no centro
da cidade.
Estádio Os principais pontos de ação do evento foram o
do Pacaembu Vale do Anhangabaú, o Viaduto do Chá, a Praça
do Patriarca e a região da Nova Luz. Além desses
locais, a Virada levou mais de 2 mil atividades a
diversos locais espalhados pela cidade, tais como
clubes escola, clubes de comunidade, ruas de
lazer, parques, SESCs, SESIs, todas as unidades
dos CEUs e conjuntos habitacionais. Estima-se que
só na edição deste ano, a Virada Esportiva tenha
repetido o número de participantes das edições
anteriores.
Chegada no Parque das
Bicicletas
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