1. ESTADO DE MINAS ● D OM I N G O, 1 4 D E A B R I L D E 2 0 1 3 ● E D I TO R : J o ã o Pa u l o C u n h a ● E D I TO R A - A S S I ST E N T E : Â n g e l a Fa r i a ● E - M A I L : c u l t u ra . e m @ u a i . co m . b r ● T E L E F O N E : ( 3 1 ) 3 2 6 3 - 5 1 2 6
EM
degusta
★ Açafrão-da-terra é
o nome popular da
cúrcuma, tempero
asiático que valoriza
qualquer preparo.
LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS
ILUSTRAÇÃO: MARCELO LELIS
Relação feita a partir da escolha de especialistas identifica entre os
maiores escritores Machado de Assis e Dalton Trevisan e consagra
Grande sertão: veredas como o grande livro de nossa literatura
COM TODAS AS
ESPECIAL
LETRAS
CARLOS HERCULANO LOPES
Ao longo de três semanas, com o objetivo de fazer um levantamento sobre o que de melhor a
literatura brasileira produziu e tem produzido ao longo da história, nos campos da poesia e da
ficção, o Estado de Minas entrou em contato com 50 intelectuais de vários estados e instituições
ligadas à literatura, como universidades, revistas especializadas, cadernos de cultura de grandes
jornais, centros de pesquisa e projetos literários e de incentivo à leitura. A eles foi pedido que
indicassem, de acordo com suas preferências: a) os cinco melhores escritores vivos da literatura
brasileira; b) os cinco melhores escritores da literatura brasileira de todos os tempos; c) os cinco
melhores livros da literatura brasileira, ficção e poesia, de todos os tempos.
C
omo critério, optou-se por evitar o convite a escritores, xão amorosa para colocar entre os melhores da literatu-
candidatos naturais, para participar da pesquisa. Em al- ra brasileira de todos os tempos nomes com o Mário e
guns casos, como no campo das letras muitas vezes os Oswald de Andrade, ao lado de José de Alencar. Talvez ti-
ofícios se sobrepõem, alguns ensaístas, professores e jor- vesse sido melhor substituir um segundo Graciliano, de
nalistas que participaram da escolha são também auto- Vidas secas, pelo comovente poema dramático Morte e
res de obras de ficção e poesia, mas sempre com nítida vida severina, de João Cabral de Melo Neto”, diz.
primazia da atividade crítica ou de pesquisa sobre a da Ainda de acordo com Santiago, talvez, se lembrado
literatura de invenção. “o fervor à sustança clássica no pós-modernismo”, Au-
O resultado, como todas as listas da mesma natureza, tran Dourado tivesse sido eleito, e é provável que tam-
por um lado consagra o cânone, por outro revela interes- bém tenha faltado “a grita da arraia-miúda nacional” pa-
santes surpresas, que mostram a dinâmica que perpas- ra conduzir Lima Barreto ou Cruz e Sousa ao pódio. “Tal-
sa o setor cultural. Mesmo as mais consagradas escolhas vez tenha pesado preconceito de gênero, para não se le-
carregam a marca do seu tempo. Além disso, o resulta- var em conta um João do Rio ou Hilda Hilst, entre ou-
do, como se vai conferir nesta edição, acaba por consti- tros. A unaminidade pensa a literatura de modo incons-
tuir um repertório variado, que vale por um projeto de ciente, simpático e feliz”, avalia.
leitura para quem busca conhecer a literatura brasileira.
Melhores livros Melhores escritores brasileiros Ao analisar os resultados da enquete, Letícia Malard, BRUXO E VAMPIRO Os escolhidos pela maioria de votos
professora emérita de literatura da UFMG, aponta para nas três categorias – melhor escritor brasileiro, melhor li-
da literatura brasileira de todos os tempos três tendências. A primeira seria a de dar prioridade à vro de todos os tempos e melhor escritor brasileiro vivo
prosa, uma vez que, dentre os cinco melhores escritores – consagram respectivamente Machado de Assis; Gran-
● Grande sertão: veredas ● Machado de Assis (1839-1908)
vivos, consta um poeta apenas, o maranhense Ferreira de sertão: veredas, de Guimarães Rosa; e Dalton Trevisan.
Guimarães Rosa, 1956 ● Guimarães Rosa (1908-1967) Gullar. A segunda tendência apontada pela especialista É um conjunto aparentemente heterogêneo, que vai de
● Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
foi a de os jurados prestigiarem, nos primeiros cinco lu- um escritor elegantemente clássico a um autor que se ca-
● Memórias póstumas de Brás Cubas
Machado de Assis, 1880 gares, autores vivos muito idosos: o mais novo, o ama- racteriza pela secura extrema, passando pela obra mítica
● Graciliano Ramos (1892-1953) zonense Milton Hatoum, tem 60 anos, os outros estão e barroca do escritor mineiro. De um século ao outro, não
● Dom Casmurro ● Clarice Lispector (1920-1977) com mais de 80. E a terceira observação apontada por ela é exagero dizer que a centralidade da linguagem em Ma-
Machado de Assis, 1899 diz respeito ao fato de parte dos jurados não incluírem chado prenuncia o modernismo de Rosa.
escritores vivos nem livros deles entre os melhores de Há um fio que foi puxado pelo próprio Dalton ao re-
todos os tempos, apesar da grande vitalidade e de nomes ceber, no ano passado, o Prêmio Machado de Assis da
● Vidas secas Melhores escritores de primeira categoria na literatura brasileira atual. Academia Brasileira de Letras. O Vampiro de Curitiba es-
Graciliano Ramos, 1938
brasileiros vivos Para o professor de literatura, romancista e crítico lite- creveu em carta à direção da casa, referindo-se a Macha-
● São Bernardo rário Silviano Santiago, que não participou da pesquisa do de Assis: “Ele nos incitou, o grande bruxo, no prazer
● Dalton Trevisan (1925) mas teve seu nome citado entre os melhores da literatu- secreto da leitura”. Rosa, de certa forma, foi um testemu-
Graciliano Ramos, 1934
● Ferreira Gullar (1930) ra brasileira contemporânea, não há como questionar nho silencioso nessa conversa entre o vampiro e o bruxo.
esse tipo de lista, como não se questiona, no regime de- Conhecedor das manhas do diabo, ele sabia que o senti-
● Lygia Fagundes Telles (1923) mocrático, a vitória de político por sufrágio universal. do não estava no passado nem se esgotaria no futuro. Na
● Milton Hatoum (1952) “Poderia dizer, no entanto, que talvez tenha faltado pai- literatura, como na vida, o que há é travessia.
● Rubem Fonseca (1925)
LEIA MAIS SOBRE A ESCOLHA DOS LIVROS E AUTORES MAIS IMPORTANTES DA LITERATURA BRASILEIRA
PÁGINAS 4, 5 E 6
2. E STA D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 1 4 D E A B R I L D E 2 0 1 3
4 CULTURA
Num recanto, o mundo
38 NOMES FORAM
CITADOS ENTRE OS
MELHORES AUTORES
BRASILEIROS DE TODOS
OS TEMPOS. DESTES 33
SÃO HOMENS E 5 SÃO
MULHERES
DOS 38 INDICADOS, 13
SÃO POETAS E 25
PROSADORES, SENDO
QUE, ENTRE ESTES,
ALGUNS TAMBÉM
PUBLICARAM LIVROS DE
POEMAS. APENAS UM SE QUEM VOTOU
TORNOU CONHECIDO Armando Antenore, redator-chefe da revista Bravo, SP; Aude-
PRINCIPALMENTE PELA maro Taranto, professor de literatura da PUC/MG; Afonso Bor-
ges, projeto Sempre um papo, MG; Aleilton Fonseca, professor
OBRA TEATRAL, NELSON de literatura da Universidade Estadual de Feira de Santana, BA;
Angelo Oswaldo, jornalista, membro da Academia Mineira de
RODRIGUES (QUE FOI Letras, MG; Benjamin Abdala Jr., professor titular de literatura
brasileira da USP, SP; Carlos Marcelo, editor-chefe do jornal
TAMBÉM CRONISTA, Estado de Minas, MG; Cláudio Willer, jornalista e ensaísta, SP;
Carlos Ribeiro, professor de jornalismo da Universidade Federal
MEMORIALISTA E do Recôncavo Baiano, BA; Claudiney Ferreira, jornalista e ge-
rente de audiovisual do Itaú Cultural, SP; Ésio Macedo Ribeiro,
CONTISTA) ensaísta e crítico literário, DF; Eneida Maria de Souza, profes-
sora emérita de literatura brasileira da UFMG; Edgard Murano,
jornalista, editor da revista Metáfora, SP; Francisco Bosco, en-
saísta e colunista de O Globo, RJ; Flávio Loureiro Chaves, pro-
fessor de literatura brasileira da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, RS; Fernanda Coutinho, professora de literatura
DISTRIBUIÇÃO POR ESTADO DOS MAIS da Universidade Federal da Paraíba, PB; Ivety Walty, professora
de literatura brasileira da PUC/MG; José Eduardo Gonçalves,
IMPORTANTES ESCRITORES BRASILEIROS Ofício da Palavra, MG; Jorge Pieiro, ensaísta e crítico literário,
CE; João Paulo, editor de Cultura do Estado de Minas, MG;
DE TODOS OS TEMPOS Jaime Prado Gouvêa, editor do Suplemento Literário de Minas
Gerais, MG; Josélia Aguiar, jornalista e crítica literária, SP; Ligia
Cademartori, doutora em teoria da literatura e ex-professora
da Universidade de Brasília, DF; Lucília de Almeida Neves, pro-
fessora dos cursos de pós-graduação em história e direitos
humanos da Universidade de Brasília, DF; Luciana Vilas-Boas,
jornalista e agente literária, RJ; Letícia Malard, professora
emérita de literatura da UFMG; Leyla Perrone-Moisés, profes-
sora de literatura da Universidade de São Paulo, SP; Luci Collin,
professora de literatura da Universidade Federal do Paraná,
PR; Luis Augusto Fischer, professor de literatura da Universida-
de Federal do Rio Grande do Sul, RS; Lúcia Riff, agente literária,
RJ; Márcia Marques de Morais, professora de literatura na
PUC/MG; Maria Adélia Menegazzo, professora de teoria da li-
teratura da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, MS;
Nahima Maciel, do Correio Braziliense, DF; Ninfa Parreiras,
professora de literatura da Estação das Letras/FNLIJ, RJ; Noemi
Jaffe, crítica literária e professora de literatura da PUC/SP;
Paulo Paniago, jornalista e professor de literatura da Universi-
dade de Brasília, DF; Piero Eyben, professor de literatura da
Universidade Federal de Brasília, DF; Paulo Goethe, do Diário
de Pernambuco, PE; Raquel Naveira, professora de literatura
na Universidade Anhembi-Murumbi, SP; Ronaldo Cagiano,
jornalista e crítico literário, SP; Rinaldo de Fernandes, profes-
sor de literatura da Universidade Federal da Paraíba, PB; Ruth
QUINHO
Silviano Brandão, professora emérita da UFMG; Regina Zilber-
man, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
RS; Selma Caetano, curadora do Prêmio Portugal Telecom de
Literatura, SP; Sonia Torres, professora de literatura e língua
portuguesa da Universidade Federal Fluminense, RJ; Suzana
Vargas, produtora cultural da Estação das Letras, RJ; Suênio
Campos de Lucena, ensaísta e crítico literário, BA; Sérgio de
MAIORES ESCRITORES BRASILEIROS Sá, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade
de Brasília, DF; Severino Francisco, do Correio Braziliense, DF;
DE TODOS OS TEMPOS Wander Melo Miranda, professor de literatura da UFMG.
(POR ORDEM DE VOTAÇÃO)
1) MACHADO DE ASSIS, Rio de Janeiro (1839-1908)
2) GUIMARÃES ROSA, Minas Gerais (1908-1967)
3) CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, Minas Gerais (1902-1987)
4) GRACILIANO RAMOS, Alagoas (1892-1953)
5) CLARICE LISPECTOR, nascida na Ucrânia, viveu JOÃO PAULO sas mazelas. No que seria mais uma ambiguidade tões universais) que Machado de Assis garante o
N
em Pernambuco e no Rio de Janeiro (1920-1977) do escritor, o que pareceu a muitos certo distan- lugar de interesse que hoje desperta no mundo,
6) JOÃO CABRAL DE MELO NETO, Pernambuco (1920-1999) o soneto que escreveu para a mulher, ciamento e alienação das questões sociais e políti- como comprovam a admiração de nomes como
7) CASTRO ALVES, Bahia (1847-1891) Carolina, Machado de Assis (1839- cas foi, na verdade, a invenção de um modo de ex- Susan Sontag e Harold Bloom, entre outros.
8) GREGÓRIO DE MATOS, Bahia (1636-1696) 1908) definiu em um verso o traba- pressão próprio, marcado pela ironia, originalida- Se o leitor do século 19 conheceu o estilista,
9) EUCLIDES DA CUNHA, Rio de Janeiro (1866-1909) lho de sua vida: “E num recanto pôs de e acurada leitura política, capaz de perceber o o século 20 o filósofo e o psicólogo, ficou para o
10) CECÍLIA MEIRELES, Rio de Janeiro (1901-1964) um mundo inteiro”. Nascido no Rio descompasso entre a realidade e as ideias que a nosso tempo a grande tarefa de um olhar amplo
11) CAIO FERNANDO ABREU, Rio Grande do Sul (1948-1996)
de Janeiro, cidade da qual não se afastou mais de sustentavam. Vivíamos com a carne escravista e sobre a obra do escritor. Seguindo a inspiração
12) ERICO VERISSIMO, Rio Grande do Sul (1905-1975)
13) GONÇALVES DIAS, Maranhão (1823-1864) 200 quilômetros, o escritor não apenas realizou a patriarcal uma sociedade em que a liberdade só de Antonio Candido, as grandes provocações que
14) LIMA BARRETO, Rio de Janeiro (1881-1922) mais importante obra de nossas letras como al- habitava a mente das elites. emanam da obra machadiana talvez sejam a
15) NELSON RODRIGUES, Pernambuco (1912-1980) cançou um grau de universalidade único. Clássico O estilo do escritor é mais um exemplo da ri- questão da identidade (e da loucura), acerca da
16) OSWALD DE ANDRADE, São Paulo (1890-1954) na expressão, tudo em Machado parece ser atra- queza ambígua de sua presença em nossa cultu- relação entre o fato real e imaginado, sobre o
17) CRUZ E SOUSA, Santa Catarina (1861-1898) vessado pela ambiguidade. Talvez por isso, mais ra. Mesmo tendo se tornado um modelo de ex- sentido da ação no mundo, e em relação aos li-
18) JOSÉ DE ALENCAR, Ceará (1829-1877) de um século depois de sua morte, ele não apenas pressão, pela elegância e humor, o estilo macha- mites postos à realidade para a construção de
19) MANUEL BANDEIRA, Pernambuco (1886-1968) pareça moderno como desafie a compreensão da diano parece negar o tempo todo sua própria ori- uma sociedade mais justa e de homens mais li-
20) DALTON TREVISAN, Paraná (1925) crítica e alimente a admiração de leitores em todo gem. Mesmo se exprimindo prioritariamente pe- vres. Machado de Assis tocou em todos esses te-
21) AUTRAN DOURADO, Minas Gerais (1926-2012) o mundo. Um grande autor reflete seu tempo. Os la ficção, tanto no romance como no conto, Ma- mas, que parecem tão presentes no mundo de
22) HILDA HILST, São Paulo (1930-2004)
gênios criam sua posteridade. chado nunca o fez por mero entretenimento. Sua hoje, por meio de personagens como Brás Cubas,
23) LÚCIO CARDOSO, Minas Gerais (1913-1968)
24) JOÃO UBALDO RIBEIRO, Bahia (1941) Todos os leitores brasileiros passam pela expe- prosa reflexiva deixava sempre no ar “certas per- Capitu, Pestana e Bacamarte.
25) JORGE DE LIMA, Alagoas (1895-1953) riência de ler Machado de Assis no colégio. Muitas plexidades não resolvidas”, na expressão do crí- Machado é moderno por antecipação: pôs a
26) JOSÉ LINS DO REGO, Paraíba (1901-1957) vezes, ao retornarem à leitura na maturidade, fi- tico Antonio Candido. linguagem acima do enredo, equilibrou imagina-
27) LYGIA FAGUNDES TELLES, São Paulo (1923) cam impressionados. Esse senso de estranhamen- Todos esses aspectos parecem se unir para dar ção e entendimento, criou uma narrativa em
28) RUBEM BRAGA, Espírito Santo (1913-1990) to e descoberta, no sentido metafórico, acompa- conta do projeto do escritor. Machado, no seu ar- fractais, fez do diálogo irônico e do contato com
29) SOUSÂNDRADE, Maranhão (1832-1902) nhou a sociedade brasileira em sua capacidade de caísmo aparente, sempre foi moderno; em seu o leitor um modo de expressão que antecipou
30) CARLOS PENA FILHO, Pernambuco (1929-1960) compreensão de nosso maior escritor. Sua época, classicismo perfeito, abriu espaço para o experi- seus pares europeus em matéria de técnica. O
31) MÁRIO DE ANDRADE, São Paulo (1893-1945) como um adolescente, reconheceu no autor de mentalismo com a linguagem. Mas nada disso é que é revolução na forma é ainda mais surpreen-
32) MOACYR SCLIAR, Rio Grande do Sul (1937-2011) Dom Casmurro os méritos da linguagem, da nar- mais importante que seu empenho em colocar dente na essência, sobretudo em seu caráter crí-
33) OSMAN LINS, Pernambuco (1924-1978)
ração e do sentido psicológico. No entanto, à medi- em letra os grandes temas brasileiros e universais tico das nossas usanças em política e organização
34) RACHEL DE QUEIRÓS, Ceará (1910-2003)
35) RUBEM FONSECA, Minas Gerais (1925) da que o tempo corria, a leitura de Machado foi en- que compõem sua obra. E é exatamente o fato de social. O monarquista Machado de Assis foi nos-
36) VINICIUS DE MORAES, Rio de Janeiro (1913-1980) contrando outros valores e sutilezas. não se prender às modas (inventando outra ex- so mais revolucionário adversário da alienação. E
37) DALCÍDIO JURANDIR, Pará (1909- 1979) O retratista do Segundo Reinado foi também pressão a partir do molde clássico) e às demandas fez tudo isso sem sair do Rio de Janeiro. Num re-
38) HUGO DE CARVALHO RAMOS, Goiás (1895-1921) seu maior crítico e mais acurado intérprete de nos- chinfrins de sua época (colocando em foco ques- canto, o mundo inteiro.
3. E STA D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 1 4 D E A B R I L D E 2 0 1 3
CULTURA 5
O sertão espiritual
ARLINDO DAIBERT/REPRODUÇÃO
CARLOS HERCULANO LOPES DOS 70 LIVROS CITADOS ENTRE OS
MELHORES DE TODOS OS TEMPOS:
Momento único na literatura brasilei-
ra, no qual exercício estético e filosófico se ■ O século 20 domina, com 59 títulos
mistura a uma genial recriação da lingua-
gem e erudição, Grande sertão: veredas, de ■ Um foi publicado no século 17: Crônica do viver
João Guimarães Rosa, mineiro de Cordis- baiano seiscentista, de Gregório de Matos
burgo, foi publicado em 1956, ano dos
mais profícuos para a literatura brasileira ■ Seis foram publicados no século 19: Primeiros
do século 20. cantos, de Gonçalves Dias; O guesa errante, de
No romance, que colocou seu autor en- Sousândrade; O ateneu, de Raul Pompéia;
tre os grandes da literatura universal – e foi Espumas flutuantes, de Castro Alves; Dom
Casmurro e Memórias póstumas de Brás Cubas, de
escolhido como o melhor romance brasi-
Machado de Assis
leiro de todos os tempos –, um jagunço
aposentado, Riobaldo Tatarana, narra a um ■ Quatro foram publicados no século 21: O albatroz
ouvinte oculto, que o visita em sua fazen- azul, de João Ubaldo Ribeiro; Catrâmbrias, de
da, suas peripécias como ex-chefe de um Evandro Affonso Ferreira; Eles eram muitos cavalos,
bando de guerreiros que fez e aconteceu de Luiz Ruffato; e Pelo fundo da agulha, de Antonio
nos sertões de Minas Gerais, numa época Torres (trilogia encerrada em 2006)
não especificada, mas provavelmente nas
primeiras décadas do século passado. Tam-
bém se mostra, no correr da narrativa – e
este é um dos seus maiores dramas –, ob-
cecado pela existência ou não do diabo,
por ele nomeado de várias maneiras.
Como pano de fundo, mola mestra
que sustenta a história, o amor proibido,
DOS 70 LIVROS CITADOS
e nunca realizado, do narrador por outro ENTRE OS MELHORES
jagunço, Reinaldo, por ele chamado de
Diadorim. Personagem-chave dessa his- DE TODOS OS TEMPOS,
tória trágica e épica, cujo desfecho, que
encerra um grande segredo, só será co-
60 FORAM ESCRITOS
nhecido nas últimas páginas, os dois fica- POR HOMENS E
ram se conhecendo por acaso, quando
ainda eram crianças, e atravessaram o 10 POR MULHERES
São Francisco numa pequena canoa, pilo-
tada por outro menino.
“Carece de ter coragem, carece de ter
muita coragem”, diz Diadorim a Riobaldo,
amedrontado pela imensidão das águas
que se ampliam aos seus olhos, quando
FORAM ESCOLHIDOS
iniciam a travessia. Desde então, até a der- 46 LIVROS EM PROSA
radeira batalha travada contra um grupo
rival, num local denominado Paredão de
E 24 DE POESIA
Minas, que marcou também o final das
aventuras de Riobaldo como jagunço, os
dois tiveram os seus destinos ligados.
Na visão de Benedito Nunes, crítico li-
terário paraense, Grande sertão: veredas
ultrapassa o âmbito regional. “No drama
do sertanejo ou do jagunço, irrompem os
grandes problemas humanos – seja a luta NA INTERNET
do homem contra a natureza que o esti-
mula e o abate ao mesmo tempo, seja o
ENQUETE
ímpeto do jagunço que se põe em armas E para você, quem é o melhor
para defender uma causa indefinível, ado- escritor brasileiro vivo? E o mais
ta a lei da guerra menos pela rudeza de seu importante autor da literatura
espírito do que pela necessidade de viver e brasileira de todos os tempos?
de realizar seu destino”, escreveu. Qual o seu romance ou livro de
Em Grande sertão: veredas se mesclam contos ou de poemas preferido?
várias dimensões da arte e do conheci- Acesse em.com.br dê o seu voto.
mento. É romance de aventuras e história
feita de pura linguagem; expressão do mi-
to em sua forma mais primitiva e reflexão
filosófica profunda e erudita; narrativa de
amor e painel histórico e sociológico que
revela o Brasil profundo.
Para Walnice Nogueira Galvão, uma
das mais importantes estudiosas da obra
do escritor, Guimarães Rosa, com seu ro- ESCRITORES QUE TIVERAM MAIS DE UM LIVRO JOÃO CABRAL DE MELO NETO DISTRIBUIÇÃO POR ESTADO DOS LIVROS
ENTRE OS MELHORES DA LITERATURA BRASILEIRA ■ 3 (Educação pela pedra, O cão sem plumas
mance, conjuga as vertentes mais mar- e Morte e vida severina) MAIS VOTADOS PELOS ESPECIALISTAS
cantes da literatura do período, o regio-
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
nalismo e o espiritualismo, para criar ERICO VERISSIMO
■ 5 (Rosa do povo, Claro enigma, Lição das coisas, Sentimento
uma síntese ainda insuperada em nossa do mundo e Alguma poesia) ■ 2 (O tempo e o vento e Incidente em Antares)
história literária: “Um regionalismo com
introspecção, um espiritualismo em rou- CLARICE LISPECTOR HILDA HILST
pagem sertaneja”. ■ 2 (Rútilo nada e Tu não te moves de ti)
■ 5 (A paixão segundo GH, A hora da estrela, Perto do coração
Traduzido para diversas línguas, moti- selvagem, A maçã no escuro e Laços de família)
JOÃO UBALDO RIBEIRO
vo de centenas de estudos acadêmicos,
■ 2 (Viva o povo brasileiro e O albatroz azul)
transformado em peças de teatro, filmes e MACHADO DE ASSIS
minissérie de TV, Grande sertão: veredas, ■ 4 (Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro,
Esaú e Jacó e Memorial de Aires) JORGE AMADO
ainda que alguns insistam em afirmar o ■ 2 (Velhos marinheiros e Gabriela, cravo e canela)
contrário, é também, sem dúvida, o gran-
GRACILIANO RAMOS
de livro já escrito na América Latina. Só por ■ 4 (Vidas secas, São Bernardo, Memórias do Cárcere e Angústia)
JORGE DE LIMA
essas inexplicáveis razões, tão comuns no ■ 2 (A invenção de Orfeu e Poemas negros)
mundo das artes, Guimarães Rosa não foi GUIMARÃES ROSA
ganhador do Prêmio Nobel de Literatura. ■ 3 (Grande sertão: veredas, Sagarana e Corpo de baile)
MANUEL BANDEIRA
■ 2 (Estrela da vida inteira e Estrela da manhã)
OS LIVROS ELEITOS
1) GRANDE SERTÃO: VEREDAS, de Guimarães Rosa, Minas Gerais 2) MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, de Machado de Assis, Rio de Janeiro 3) DOM CASMURRO, de Machado de Assis, Rio de Janeiro 4) VIDAS SECAS, de Graciliano Ramos,
Alagoas 5) SÃO BERNARDO, de Graciliano Ramos, Alagoas 6) A PAIXÃO SEGUNDO GH, de Clarice Lispector, nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira, viveu em Pernambuco e no Rio de Janeiro 7) A ROSA DO POVO, de Carlos Drummond de An-
drade, Minas Gerais 8) MACUNAÍMA, de Mário de Andrade, São Paulo 9) EDUCAÇÃO PELA PEDRA, de João Cabral de Melo Neto, Pernambuco 10) CLARO ENIGMA, de Carlos Drummond de Andrade, Minas Gerais 11) OS SERTÕES, de Euclides da
Cunha, Rio de Janeiro 12) A HORA DA ESTRELA, de Clarice Lispector 13) ALGUMA POESIA, de Carlos Drummond de Andrade, Minas Gerais 14) O TEMPO E O VENTO, de Erico Verissimo, Rio Grande do Sul 15) A INVENÇÃO DE ORFEU, de Jorge de Lima,
Alagoas 16) ANGÚSTIA, de Graciliano Ramos, Alagoas 17) LAÇOS DE FAMÍLIA, de Clarice Lispector 18) MORTE E VIDA SEVERINA, de João Cabral de Melo Neto, Pernambuco 19) MENINA MORTA, de Cornélio Pena, Rio de Janeiro 20) ROMANCEIRO
DA INCONFIDÊNCIA, de Cecília Meireles, Rio de Janeiro 21) CRÔNICA DA CASA ASSASSINADA, de Lúcio Cardoso, Minas Gerais 22) AVALOVARA, de Osman Lins, Pernambuco 23) CRÔNICA DO VIVER BAIANO SEISCENTISTA, de Gregório de Matos,
Bahia 24) MEMORIAL DE AIRES, de Machado de Assis, Rio de Janeiro 25) RÚTILO NADA, de Hilda Hilst, São Paulo 26) A INVENÇÃO DO MAR, de Gerardo Mello Mourão, Rio de Janeiro 27) AS MENINAS, de Lygia Fagundes Telles, São Paulo 28) ESAÚ
E JACÓ, de Machado de Assis, Rio de Janeiro 29) ESPUMAS FLUTUANTES, de Castro Alves, Bahia 30) MEMÓRIAS DO CÁRCERE, de Graciliano Ramos, Alagoas 31) O ATENEU, de Raul Pompéia, Rio de Janeiro
32) OS VELHOS MARINHEIROS E A MORTE E A MORTE DE QUINCAS BERRO D’AGUA, de Jorge Amado, Bahia 33) POEMA SUJO, de Ferreira Gullar, Maranhão 34) CONTOS DO IMIGRANTE, de Samuel Rawet (nascido na Polônia, viveu no Rio de Ja-
neiro e Brasília) 35) CORPO DE BAILE, de Guimarães Rosa, Minas Gerais 36) ESTRELA DA VIDA INTEIRA, de Manuel Bandeira, Pernambuco 37) INCIDENTE EM ANTARES, de Erico Verissimo, Rio Grande do Sul 38) LIÇÃO DAS COISAS, de Carlos Drum-
mond de Andrade, Minas Gerais 39) MENINO DE ENGENHO, de José Lins do Rego, Paraíba 40) OBRA REUNIDA, de Campos de Carvalho, Minas Gerais 41) O GUESA ERRANTE, de Sousândrade, Maranhão 42) O MEZ DA GRIPPE, de Valêncio Xavier,
São Paulo 43) O QUINZE, de Rachel de Queirós, Ceará 44) PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM, de Clarice Lispector 45) POEMAS NEGROS, de Jorge de Lima, Alagoas 46) PRIMEIROS CANTOS, de Gonçalves Dias, Maranhão 47) SENTIMENTO DO MUN-
DO, de Carlos Drummond de Andrade, Minas Gerais 48) SINOS DA AGONIA, de Autran Dourado, Minas Gerais 49) VIVA O POVO BRASILEIRO, de João Ubaldo Ribeiro, Bahia 50) CATRÂMBIAS, de Evandro Afonso Ferreira, Minas Gerais 51) CRÔNICAS
REUNIDAS, de Rubem Braga, Espírito Santo 52) ELES ERAM MUITOS CAVALOS, de Luiz Ruffato, Minas Gerais 53) EU, de Augusto dos Anjos, Paraíba 54) GABRIELA, CRAVO E CANELA, de Jorge Amado, Bahia 55) GALÁXIAS, de Haroldo de Campos,
São Paulo 56) MAÇÃO NO ESCURO, de Clarice Lispector 57) O PIROTÉCNICO ZACARIAS, de Murilo Rubião, Minas Gerais 58) PELO FUNDO DA AGULHA, de Antônio Torres, Bahia 59) RELATO DE UM CERTO ORIENTE, de Milton Hatoum, Amazonas 60)
ROMANCE DA PEDRA DO REINO, de Ariano Suassuna, Paraíba 61) SAGARANA, de Guimarães Rosa, Minas Gerais 62) ESTRELA DA MANHÃ, de Manuel Bandeira, Pernambuco 63) LAVOURA ARCAICA, de Raduan Nassar, São Paulo 64) MEMÓRIAS
SENTIMENTAIS DE JOÃO MIRAMAR, de Oswald de Andrade, São Paulo 65) O ALBATROZ AZUL, de João Ubaldo Ribeiro, Bahia 66) O CÃO SEM PLUMAS, de João Cabral de Melo Neto, Pernambuco 67) O ENCONTRO MARCADO, de Fernando Sabino,
Minas Gerais 68) SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO, de Monteiro Lobato, São Paulo 69) TODA POESIA, de Paulo Leminski, Paraná 70) TU, NÃO TE MOVES DE TI, de Hilda Hilst, São Paulo
4. E STA D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 1 4 D E A B R I L D E 2 0 1 3
6 CULTURA
A lâmina do vampiro
O CRUZEIRO/ARQUIVO EM
CARLOS MARCELO
– Não fale, amor. Cada palavra, um
beijo a menos. FORAM CITADOS 51
Dalton Trevisan não é homem de
floreios ou digressões. Maneja frases,
NOMES, SENDO 39
remove adjetivos, arranca verbos, in- HOMENS E 12 MULHERES
sere vírgulas com destreza de cirur-
gião. Revolve a nervura da escrita até
chegar à carne e ao osso. Aí ele não he-
sita; perfura. Médico, não. Monstro.
A escolha de Trevisan como o
mais importante escritor brasileiro da O MAIS VELHO É
atualidade pode surpreender os que
acompanham a (tentativa de) sobre-
MANOEL DE BARROS,
vivência da literatura no mundo das NASCIDO EM 1916, EM
celebridades. Afinal, o curitibano não
está nas redes sociais, nunca foi à Flip, MATO GROSSO
não promove noites de autógrafos
nem dá entrevistas. Ao contrário do
comportamento ambíguo de Rubem
Fonseca, convenientemente arredio
apenas no Brasil, Dalton não se expõe
em lugar algum. Preserva a própria A MAIS NOVA É ANA
imagem, desvia as luzes para os livros.
A postura foi destacada pelos jurados
MARTINS MARQUES,
do Prêmio Camões, que assim justifi- NASCIDA EM 1977, EM
caram a escolha de Trevisan para re-
ceber em 2012 a mais importante pre-
MINAS GERAIS
miação da língua portuguesa: “Ele fez
uma opção radical pela literatura en-
quanto arte da palavra”.
Radicalidade e arte caminham
juntas há décadas na obra do Vampi-
ro de Curitiba, alcunha que nunca fez DISTRIBUIÇÃO POR ESTADO DOS
questão de renegar – ao contrário, até MAIS IMPORTANTES ESCRITORES
a cultua, com ajuda das ilustrações de BRASILEIROS VIVOS
Poty, onipresentes nas edições de sua
casa literária, a Record. Personagem
mítico da “cidade verde” (até há pou-
co tempo saudada como modelo de
desenvolvimento urbano e qualidade
de vida), avança contra o seu habitat,
revestido pela autoridade só conferi-
da pela íntima convivência: “Cin-
quenta metros quadrados de verde
por pessoa/ de que te servem/ se
uma em duas vale por três chatos? (…)
não Curitiba não é uma festa/ os dias
da ira nas ruas vêm aí” (“Em busca de
Curitiba Perdida”).
Os textos longos sobre a capital
paranaense, alguns em tom apocalíp-
tico, são exceção. Usualmente o escri-
tor não utiliza mais do que três pági-
nas para engendrar obras-primas co-
mo o conto “Uma vela para Dario”, de
Cemitério de elefantes (1964). Uma
década antes de Chico Buarque erguer
a sua Construção, Trevisan descreve a
indiferença coletiva diante da morte
de um transeunte (e a pilhagem do ca- OS MAIORES ESCRITORES VIVOS
dáver) na rua de uma grande cidade:
“Dario em sossego e torto no degrau 1) DALTON TREVISAN, Paraná (1925)
da peixaria, sem o relógio de pulso (…). 2) FERREIRA GULLAR, Maranhão (1930)
Apenas um homem morto e a multi- 3) LYGIA FAGUNDES TELLES, São Paulo (1923)
dão se espalha”. Não há tempo nem 4) MILTON HATOUM, Amazonas (1952)
para carpideiras nem para elegias: a 5) RUBEM FONSECA, Minas Gerais (1925)
vida segue e atropela quem fica pelo 6) JOÃO UBALDO RIBEIRO, Bahia (1941)
caminho, adverte o escritor. Como 7) MANOEL DE BARROS, Mato Grosso (1916)
percebeu o crítico e poeta José Paulo 8) ARIANO SUASSUNA, Paraíba (1927)
Paes (1926-1988), a literatura de Trevi- 9) RADUAN NASSAR, São Paulo (1935)
10) ADÉLIA PRADO, Minas Gerais (1935)
san é “arte impiedosa, mas não desu-
11) SÉRGIO SANT’ANNA, Rio de Janeiro (1941)
mana”, baseada na “presentificação 12) LUIZ RUFFATO, Minas Gerais (1961)
do assombro de viver”. 13) AUGUSTO DE CAMPOS, São Paulo (1931)
* 14) BERNARDO CARVALHO, Rio de Janeiro (1960)
Na hora de assinar, todo soberbo o 15) LUIS F. VERISSIMO, Rio Grande do Sul (1936)
velhote, no seu oclinho torto: 16) JOÃO GILBERTO NOLL, Rio Grande do Sul (1946)
– O meu nome, qual é? Quem mes- 17) NÉLIDA PIÑON, Rio de Janeiro (1937)
mo sou eu? 18) CRISTÓVÃO TEZZA, Santa Catarina (1952)
* 19) SILVIANO SANTIAGO, Minas Gerais (1936)
Desilusão e desconcerto são as en- 20) AFFONSO R. DE SANT’ANNA, Minas Gerais (1937)
grenagens que movem a prosa elíptica 21) PAULO HENRIQUES BRITTO, Rio de Janeiro (1951)
22) ALBERTO MUSSA, Rio de Janeiro (1961)
de Trevisan. Ele também costuma re-
23) ARMANDO FREITAS FILHO, Rio de Janeiro (1940)
correraodiminutivoemcenasdeextre- 24) CARLOS HEITOR CONY, Rio de Janeiro (1926)
ma violência (“Não com o facão, paizi- 25) EVANDRO AFONSO FERREIRA, Minas Gerais (1945)
nho”) para amplificar o grito oculto nas 26) GLAUCO MATTOSO, São Paulo ( 1951)
casas de família. Dispensa verbos (“Ago- 27) IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO, São Paulo (1936)
ra feliz numa casinha de madeira no 28) RUI MOURÃO, Minas Gerais (1929)
Cristo-Rei”, em “A guerra conjugal”, ou- 29) ANGELA LAGO, Minas Gerais (1945)
tra obra-prima, adaptada para o cinema 30) EDNEY SILVESTRE, Rio de Janeiro (1950)
em 1975 por Joaquim Pedro de Andra- 31) ANTONIO TORRES, Bahia ( 1940)
de) e exerce a síntese ao extremo nas 32) CHICO BUARQUE, Rio de Janeiro (1944)
narrativas mais recentes: duas, no má- 33) FRANCISCO ALVIM, Minas Gerais (1938)
ximo três frases. Haicais nada “poéti- 34) FRANCISCO AZEVEDO, Rio de Janeiro (1951)
35) LUIZ VILELA, Minas Gerais (1942)
cos”, que perturbam em vez de enlevar: 36) LYA LUFT, Rio Grande do Sul (1938)
* 37) ANA MIRANDA, Ceará (1951)
A velhinha meio cega, trêmula e 38) JOÃO ALMINO, Rio Grande do Norte (1950)
desdentada: 39) RAIMUNDO CARRERO, Pernambuco (1947)
– Assim que ele morra eu começo 40) ZULMIRA RIBEIRO TAVARES, São Paulo (1930)
a viver. 41) ANTONIO CÍCERO, Rio de Janeiro (1945)
* 42) ANA MARTINS MARQUES, Minas Gerais (1977)
Ao expor a brutalidade infiltrada 43) BEATRIZ BRACHER, São Paulo (1961)
entre quatro paredes, a temática de Tre- 44) CINTIA MOSCOVICH, Rio Grande do Sul (1958)
visan tangencia a obra de outro gigante 45) MARIA ESTHER MACIEL, Minas Gerais (1963)
do século 20, Nelson Rodrigues. Mas, se 46) MIGUEL SANCHES NETO, Paraná (1965)
47) PAULO COELHO, Rio de Janeiro (1947)
no dramaturgo o trágico e o patético se 48) REINALDO DE MORAES, São Paulo (1950)
misturam, no contista não há aceno pa- 49) RUTH ROCHA, São Paulo (1931)
ra a farsa. Aqui a escrita é de uma faca 50) RUY ESPINHEIRA FILHO, Bahia (1942)
só lâmina. Urge. Arde. Sangra. O reservado Dalton Trevisan, em foto rara, da década de 1970, feita para reportagem da revista O Cruzeiro 51) SEBASTIÃO NUNES, Minas Gerais (1938)