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As infinitas linguagens da infância
Beatriz Vichessi (bvichessi@abril.com.br)

A criança é "feita" de múltiplos pensamentos e maneiras de brincar, falar e
escutar, mas a escola e a cultura "lhe separam a cabeça do corpo" e roubam
quase toda essa variedade. Esse é o tom de As Cem Linguagens da Criança
(320 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 57 reais), um livro sobre a prática
na Educação Infantil realizada em Reggio Emilia - província do norte da Itália -
e escrito a 100 mãos. Diretores, educadores, crianças e pais são
representados formalmente pelos editores e educadores Lella Gandini, Carolyn
Edwards e George Forman.

A primeira e a segunda parte da obra contextualizam a experiência,
destacando uma entrevista com Loris Malaguzzi (leia o trecho abaixo),
idealizador da pedagogia que valoriza o pensamento dos pequenos e as
linguagens utilizadas por eles.

A terceira parte transpõe a teoria para a prática, mostrando como a
preocupação com os espaços e as reflexões sobre o papel e as ações do
professor cooperam para a elaboração da capacidade simbólica das crianças.
A construção de um dinossauro em tamanho real é um exemplo de projeto que
revela um empreendimento pedagógico que exige muita perícia de professores
e pais, todos sempre a serviço das ideias da garotada.

A última parte traz projetos feitos com turmas com idade a partir dos 2 anos,
relatados por professores de uma escola nos Estados Unidos que adota os
mesmos princípios, comprovando a eficácia do modelo de Reggio Emilia.

À primeira vista, a obra revela produções que por si só já são de encher os
olhos d'água. Mas é a leitura atenta que revela aos educadores mais de 100
modos para cuidar do corpo, da inteligência e da sensibilidade dos pequenos.

Por que ler Conduz o leitor à filosofia reggiana.
Sobre os autores Lella foi a primeira a levar informações sobre Reggio Emilia
para os Estados Unidos. Depois, Carolyn e George seguiram o mesmo
caminho, estudando a abordagem por nove anos.




Page 1
I Seminário Educação, Imaginação e as Linguagens Artístico-Culturais, 5 a 7
de setembro de 2005
O Imaginário nas escolas de Reggio Emilia, Itália
Heide S. Miranda
primeira vez que li o nome de Reggio Emilia foi em 1983, quando ainda
estava na graduação em Pedagogia da UNICAMP, e vi referência a essa
cidade no livro de Gianni Rodari: A gramática da Fantasia. A dedicatória
do autor às escolas de Reggio Emilia me fez imaginar e desejar conhecê-las,
mas o
sonho ficou adormecido até 1999, quando me deparei, em uma banca de livros
em São
Paulo, com um livro intitulado A experiência das escolas de Reggio Emilia.
Imediatamente comprei o livro e fui me deliciando com sua leitura, que me
reportou
muito àquelas de Celestin Freinet, autor tão estudado por mim na graduação e
pós-
graduação, por minha identificação com sua Pedagogia.
As leituras continuaram e, com elas, veio o desejo de conhecer de perto o
trabalho desenvolvido em Reggio. Esse sonho se concretizou em 2002 e,
depois, em
2004; nesse intervalo, organizamos um pequeno grupo de estudos, o “Open
Group”,
em São Paulo, para troca de experiências.
Um breve histórico
As escolas de Reggio Emilia, em meu entender, representam um marco na
organização
da sociedade civil italiana por terem sido criadas pelos pais dos alunos, que
entenderam que, após a Segunda Guerra Mundial ter destruído boa parte da
cidade,
era necessário que homens e mulheres se lançassem à reconstrução e, para
isso, era
fundamental um espaço adequado aos seus filhos.
As escolas foram organizadas inicialmente em locais improvisados (e não
construídos para o desenvolvimento de atividades com crianças pequenas),
onde os
genitores entendiam que eles deveriam também participar da educação formal
(e,
portanto, escolar) de seus filhos. Essas escolas comunitárias, criadas logo
após a 2ª
Guerra Mundial, só foram municipalizadas em 1963.
O sistema educacional do município de Reggio para crianças pequenas (de
três
meses a seis anos) sempre se caracterizou por ser uma comunidade de
pesquisa e de
intenso trabalho de formação de professores. Sua estrutura tem uma forte
organização
A

                                                                       Page 2
I Seminário Educação, Imaginação e as Linguagens Artístico-Culturais, 5 a 7
de setembro de 2005
de colegiado, com grande relacionamento com a comunidade e intensa
participação
dos pais.
Diante do ponto de referência educacional em desenvolvimento, um jornalista
italiano, Loris Malaguzzi, resolveu ir até Reggio para registrar essa
experiência.
Apaixonou-se pelo que viu e ficou para sempre na cidade, tornando-se um
guerreiro
desse movimento.
As escolas de Reggio Emilia se tornaram visíveis aos olhos de todo o mundo
quando, em 1991, a Newsweek escreveu um longo artigo destacando a sua
escola
voltada a crianças pequenas como sendo a melhor do mundo.
Muitos pedagogos se entusiasmaram com a experiência de Reggio, dos quais
se
destacam, por exemplo, C. Freinet e Paulo Freire. Atualmente, as escolas de
Reggio
contam com o apoio e a colaboração de J. Bruner, um grande parceiro das
discussões
de trabalho.
A proposta central de Reggio consiste em desenvolver “as cem linguagens da
criança” e conta com uma mostra internacional, com o mesmo nome, que vem
percorrendo cidades do mundo inteiro há mais de 20 anos. Uma parte dessa
mostra
esteve na escola Eugênio Montalli, em São Paulo, em julho de 2002.
Reggio Emilia recebe visitas organizadas em diferentes idiomas, e a primeira
em língua portuguesa aconteceu em novembro de 2004. Essa experiência de
receber
visitas e pesquisadores de outros países iniciou-se em 1979.
Esses encontros são proporcionados não com a pretensão de mostrar um
modelo que funciona, mas para troca de experiência, pois Reggio tem
necessidade de
buscar novos significados e valores que ajudem a encontrar sentido para que
eles
continuem existindo. São encontros de história e de vida, compartilhando
valores e
objetivos. Os educadores de Reggio não querem mostrar seu trabalho como
algo
perfeito e seguro, mas como um ambiente com muito fermento,
profissionalismo,
felicidade e divertimento, e que também pode ter contradição, insegurança, e é
tudo
isso que os faz crescer.
Os valores e crenças na experiência de Reggio
A proposta pedagógica das escolas da infância de Reggio consiste em criar
constantemente uma rede de comunicação e paz. Os diálogos desenvolvidos
entre
criança-criança, criança-professor e entre professores são essenciais e diferem

                                                                       Page 3
I Seminário Educação, Imaginação e as Linguagens Artístico-Culturais, 5 a 7
de setembro de 2005
enormemente dos espaços onde todos falam e ninguém ouve. Em Reggio, os
professores entendem que as crianças falam para dizer algo, para se
comunicar, como
necessidade básica de qualquer ser humano, e desenvolvem o que chamam
de
Pedagogia da Escuta, ou seja, as falas são registradas e se tornam parte da
documentação dos projetos, relatórios e diários.
Como a preocupação fundamental é a unidade entre educação e cultura, as
crianças e a escola têm contato estreito com toda forma de representação da
cultura:
teatro, cinema, shows, concertos, exposições, etc. As atividades culturais da
cidade e do
país são veiculadas em forma de cartazes que, harmoniosamente, são afixados
nos
murais da escola. A escola, por sua vez, está representada na sociedade pelos
desenhos
das crianças, que ilustram: folders de hotéis, lojas, a lista telefônica, bem como
a
possibilidade de decorar lojas da cidade com “obras infantis”, num intenso
movimento
de diálogo e participação escola-sociedade.
Diferente de muitos trabalhos dos quais temos conhecimento, as crianças nas
escolas de Reggio se comportam como protagonistas nos projetos
desenvolvidos; elas
não são “atores” nos trabalhos desenvolvidos, mas sim autores. A criança, em
Reggio, é
vista como competente, forte e rica – uma criança produtora e não apenas
usuária de
cultura. Essa postura ratifica a idéia de educação da infância e não educação
pela
infância, porque não é o adulto que faz para a criança. Ele é o mediador dos
desejos e
das necessidades das crianças.
A ambientação e o espaço físico são planejados para facilitar o diálogo e a
comunicação entre os vários ambientes. As plantas das escolas não têm um
projeto
único, mas obedecem a idéias de ventilação, e a valorização de um espaço
central (a
piazza), onde todos se encontram e consideram a cozinha como um local que
também
simboliza a cultura italiana. Evitam a planta horizontal e eliminam os corredores
porque dão a impressão de hierarquização. Valorizam a planta que permita,
com um
único olhar, visualizar toda a escola.
Como a imaginação se destaca nesse universo educativo
No trabalho dos professores de Reggio, destaca-se, dentre outras coisas, a
observação,
pois essa postura valoriza a atenção, a curiosidade, desafia na criança o
desejo de
conhecer o mundo que a rodeia, educa esteticamente, além de interferir em
muitos
outros aspectos.

                                                                            Page 4
I Seminário Educação, Imaginação e as Linguagens Artístico-Culturais, 5 a 7
de setembro de 2005
Entendo que a mais importante capacidade humana é a de imaginar, e isso, na
proposta desenvolvida em Reggio, existe em abundância – lá, o elemento
criativo é
imenso, a começar pelas salas de aula, que foram substituídas por grandes
ateliês, ricos
em objetos diversificados, que aguçam o processo criativo e aumentam as
experiências
das crianças, que manipulam sucatas, como: botões, tecidos, velas, retalhos de
papéis,
diferentes tipos de grãos, sementes, pedaços de madeira, lã, etc., além de
objetos
comuns em ateliês: mesas de diferentes tipos, com luz no tampo, pincéis,
diferentes
tintas, cavaletes, tesouras, réguas, etc. Esses recursos são livremente
utilizados pelas
crianças, como: vidros, arames encapados, tesouras com pontas, entre várias
coisas
apontadas por nós como perigosas.
O papel do adulto, tanto o professor como o atelierista, no processo de
construção e levantamento de hipóteses do pensar sobre algo é criar
possibilidades de
concretizar as fantasias infantis. Em um dos projetos, o “Parque de Pássaros”,
as
crianças imaginaram como seria fantástico se os pássaros também tivessem
um parque
de diversões, uma fonte para refrescar e outros brinquedos para alegrá-los. A
função
do adulto foi alimentar essa idéia e construir uma rede de parcerias com a
comunidade: imprensa, os profissionais da área da construção, como o
encanador, por
exemplo, e professores que utilizavam os desenhos e as idéias dos alunos e
discutiam o
processo de descoberta e desenvolvimento das crianças.
Esses professores encorajam seus alunos a realizar experiências que, a
princípio,
parecem inviáveis para a escola. Em Reggio, os professores se utilizam
dessas fantasias,
encorajando-os a discutir as possibilidades de realização de novos
experimentos. Com
isso, o professor aproveita as explicações e falas dos alunos como objeto de
estudo do
potencial infantil, para cultivar e promover o processo criativo, apontar a
importância
do respeito às idéias do outro e entender que as crianças criam verdadeiras
teorias a
partir de suas observações e a liberdade de manifestação de suas idéias
levam-nas a
falar de maneira extremamente poética. Destacaremos, agora, uma experiência
que
concretiza nossa fala até este momento.

                                                                             Page 5
I Seminário Educação, Imaginação e as Linguagens Artístico-Culturais, 5 a 7
de setembro de 2005
Uma experiência vivida a partir da documentação de um projeto que
estava
completando 10 anos: a possibilidade de re-construir uma experiência e
enriquecer a
possibilidade criadora das crianças de cinco a seis anos
O Projeto “Monumento das Cores” recuperou uma torre que fora construída
havia dez
anos na escola Neruda, e era parte da mostra “As Cem Linguagens.” Essa
mostra
estava sendo levada para Portugal e, diante da necessidade de restaurar a
torre de 1,70
m, a mesma escola que havia construído o objeto anos atrás pediu para
repensar o
projeto.
A atelierista que participou, dez anos antes, do projeto propôs este desafio às
crianças, ou seja, trabalhar com “algo que já existia”. Depois de estudarem a
documentação do projeto, as crianças manifestaram admiração e curiosidade
perguntando:
– As crianças eram grandes?
– Eles se empenharam para fazer isso?
E logo após aceitar o desafio, começaram a criticar o trabalho:
– Ah! Poderiam ter feito melhor.
– Ah! Não colaram muito bem.
E o trabalho inicia com uma observação curiosa das professoras: as crianças
não
queriam só cobrir a parte feia; elas queriam continuar o trabalho.
Inicialmente, o restauro foi feito com papel machê. Era preciso pintar a torre de
branco e a atelierista relata que “pintar de branco, mais do que pintar, foi
preparar para
uma nova vida”.
Nesse momento, após pintar a torre toda de branco, as crianças conversavam
sobre o seguinte:
– Eu tenho uma idéia! Podemos começar com tantas cores, podemos
fazer arco-íris! Podemos fazer arco-íris com tantas cores! Assim,
depois as cores descem, descem e a torre vai ser formada!
No que a professora responde:
– Essa era a idéia que faltava.
Levaram uma manhã inteira para preparar tonalidades. Eles procuravam nos
ateliês (nas revistas, nos livros) coisas que pudessem servir de base para
discutir outras
cores. Foi um momento rico de experiências e anotações diversas (escrevendo
as

                                                                         Page 6
I Seminário Educação, Imaginação e as Linguagens Artístico-Culturais, 5 a 7
de setembro de 2005
dosagens, colocando o nome nas cores...). E a fala poética aparece no diálogo
entre
duas crianças, quando uma delas diz:
– Meu coração bate tão forte!
As crianças continuam a ter idéias de enriquecimento da torre, quando um
menino teve a idéia de procurar modelos de conchas e desenhá-las. Tenta
desenhar em
papéis avulsos e depois vai à torre. Esse mesmo menino, olhando sua
impressão
deixada na torre, fala:
– Ah! Embaixo da torre vai bem uma baleia!
Diante da necessidade, vai ao ateliê procurar baleias, mas não encontra nada.
Como era sexta-feira, ele disse que iria, no sábado, à biblioteca municipal
procurar
livros de baleias para trazê-los na segunda-feira para a escola. Quando esse
dia chegou,
as crianças se reuniram para ver e discutir. Viram que a baleia não caberia na
torre
porque ela tem um rabo grande que balança. Então, outra criança disse:
– Vamos desenhar então um tubarão!
Dessa idéia nasce outra: desenhar uma baleia-tubarão. Dias depois,
descobriram
que a baleia-tubarão existia. No dia seguinte, uma criança agitada chegou à
escola
falando:
– Leonardo da Vinci descobriu o que nós descobrimos ontem!
Durante o processo de trabalho, outra linguagem foi acrescentada: o som, o
som
do mar, cantado por eles. Decoraram a torre não apenas com tubarão, cavalo
marinho,
mas faziam questão de registrar na torre as cores que tinham descoberto ou
criado,
como: rosa profundo, verde molhado.
Quando, após um mês, a torre ficou pronta, eles começaram a pensar como
fizeram aquela coisa tão grande. E, ao contemplar a torre, o grupo conversa
sobre o que
tinham realizado:
– Foi importante a informação. Nós temos que olhar nos livros se
quisermos fazer bem as coisas!
– Os livros sozinhos não são bastante. Precisa idéia, imaginação,
porque nós não temos livro de imaginação.
E houve ainda outro comentário:
– Nós fomos sortudos, porque vocês, professores, nos propuseram a
fazer isso!
Page 7
I Seminário Educação, Imaginação e as Linguagens Artístico-Culturais, 5 a 7
de setembro de 2005
Todo o grupo fez um brinde final. Só que as crianças queriam curtir até o
empacotamento da torre que seria transportada para Portugal. Por isso,
reivindicaram
a mudança do horário do almoço para que o trabalho não fosse interrompido.
Por último, as crianças pediram, para as professoras que iam a Portugal, que
se
comportassem como verdadeiras jornalistas. Meses depois, todos assistiram
ao filme
da mostra realizada em Portugal, viram as notícias do jornal e as fotos.
Então, pergunto, quando é que se pode dizer que termina um projeto?
Concluindo
A imaginação vem da riqueza e diversidade de projetos, experiências que
criam
necessidades e desejos, exigindo um pensar cuidadoso consigo mesmo e com
o outro.
Diante disso, cabe ao adulto permitir a quebra de um ambiente de estabilidade
e
mesmice que existe na grande maioria das salas de aula, abrindo espaço para
situações
imprevistas, com grande possibilidade de manipulação de materiais e
linguagem, com
animação dentro e fora da sala, além de desenvolver uma escuta sensível às
explosões,
às descobertas infantis e às emoções que elas provocam




O que são a Pedagogia da Escuta e a Teoria das Cem Linguagens?
BRUNA Trata-se, sobretudo, de dispor-se a escutar os outros e a si próprio.
Mesmo as crianças muito pequenas já estão construindo conhecimento e todas
merecem ser ouvidas sobre isso. É preciso ter capacidade de interpretar e
deter os instrumentos de observação. Pode ser um registro em vídeo ou
simples anotações, contanto que se possa compartilhar com os demais
professores. A Teoria das Cem Linguagens nasce da Pedagogia da Escuta,
que lançou uma luz sobre as linguagens dos pequenos. Eles aprendem por
meio dos cinco sentidos e de todos os instrumentos possíveis - o corpo, a
palavra, o pensamento. Tudo isso opera de forma entrelaçada no processo de
construir a identidade e o conhecimento e de interpretar o que está em volta.
Por isso não trabalhamos com as habilidades das crianças isoladamente.

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As infinitas linguagens da infância

  • 1. As infinitas linguagens da infância Beatriz Vichessi (bvichessi@abril.com.br) A criança é "feita" de múltiplos pensamentos e maneiras de brincar, falar e escutar, mas a escola e a cultura "lhe separam a cabeça do corpo" e roubam quase toda essa variedade. Esse é o tom de As Cem Linguagens da Criança (320 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 57 reais), um livro sobre a prática na Educação Infantil realizada em Reggio Emilia - província do norte da Itália - e escrito a 100 mãos. Diretores, educadores, crianças e pais são representados formalmente pelos editores e educadores Lella Gandini, Carolyn Edwards e George Forman. A primeira e a segunda parte da obra contextualizam a experiência, destacando uma entrevista com Loris Malaguzzi (leia o trecho abaixo), idealizador da pedagogia que valoriza o pensamento dos pequenos e as linguagens utilizadas por eles. A terceira parte transpõe a teoria para a prática, mostrando como a preocupação com os espaços e as reflexões sobre o papel e as ações do professor cooperam para a elaboração da capacidade simbólica das crianças. A construção de um dinossauro em tamanho real é um exemplo de projeto que revela um empreendimento pedagógico que exige muita perícia de professores e pais, todos sempre a serviço das ideias da garotada. A última parte traz projetos feitos com turmas com idade a partir dos 2 anos, relatados por professores de uma escola nos Estados Unidos que adota os mesmos princípios, comprovando a eficácia do modelo de Reggio Emilia. À primeira vista, a obra revela produções que por si só já são de encher os olhos d'água. Mas é a leitura atenta que revela aos educadores mais de 100 modos para cuidar do corpo, da inteligência e da sensibilidade dos pequenos. Por que ler Conduz o leitor à filosofia reggiana. Sobre os autores Lella foi a primeira a levar informações sobre Reggio Emilia para os Estados Unidos. Depois, Carolyn e George seguiram o mesmo caminho, estudando a abordagem por nove anos. Page 1 I Seminário Educação, Imaginação e as Linguagens Artístico-Culturais, 5 a 7 de setembro de 2005 O Imaginário nas escolas de Reggio Emilia, Itália Heide S. Miranda primeira vez que li o nome de Reggio Emilia foi em 1983, quando ainda estava na graduação em Pedagogia da UNICAMP, e vi referência a essa
  • 2. cidade no livro de Gianni Rodari: A gramática da Fantasia. A dedicatória do autor às escolas de Reggio Emilia me fez imaginar e desejar conhecê-las, mas o sonho ficou adormecido até 1999, quando me deparei, em uma banca de livros em São Paulo, com um livro intitulado A experiência das escolas de Reggio Emilia. Imediatamente comprei o livro e fui me deliciando com sua leitura, que me reportou muito àquelas de Celestin Freinet, autor tão estudado por mim na graduação e pós- graduação, por minha identificação com sua Pedagogia. As leituras continuaram e, com elas, veio o desejo de conhecer de perto o trabalho desenvolvido em Reggio. Esse sonho se concretizou em 2002 e, depois, em 2004; nesse intervalo, organizamos um pequeno grupo de estudos, o “Open Group”, em São Paulo, para troca de experiências. Um breve histórico As escolas de Reggio Emilia, em meu entender, representam um marco na organização da sociedade civil italiana por terem sido criadas pelos pais dos alunos, que entenderam que, após a Segunda Guerra Mundial ter destruído boa parte da cidade, era necessário que homens e mulheres se lançassem à reconstrução e, para isso, era fundamental um espaço adequado aos seus filhos. As escolas foram organizadas inicialmente em locais improvisados (e não construídos para o desenvolvimento de atividades com crianças pequenas), onde os genitores entendiam que eles deveriam também participar da educação formal (e, portanto, escolar) de seus filhos. Essas escolas comunitárias, criadas logo após a 2ª Guerra Mundial, só foram municipalizadas em 1963. O sistema educacional do município de Reggio para crianças pequenas (de três meses a seis anos) sempre se caracterizou por ser uma comunidade de pesquisa e de intenso trabalho de formação de professores. Sua estrutura tem uma forte organização A Page 2 I Seminário Educação, Imaginação e as Linguagens Artístico-Culturais, 5 a 7 de setembro de 2005 de colegiado, com grande relacionamento com a comunidade e intensa participação dos pais. Diante do ponto de referência educacional em desenvolvimento, um jornalista
  • 3. italiano, Loris Malaguzzi, resolveu ir até Reggio para registrar essa experiência. Apaixonou-se pelo que viu e ficou para sempre na cidade, tornando-se um guerreiro desse movimento. As escolas de Reggio Emilia se tornaram visíveis aos olhos de todo o mundo quando, em 1991, a Newsweek escreveu um longo artigo destacando a sua escola voltada a crianças pequenas como sendo a melhor do mundo. Muitos pedagogos se entusiasmaram com a experiência de Reggio, dos quais se destacam, por exemplo, C. Freinet e Paulo Freire. Atualmente, as escolas de Reggio contam com o apoio e a colaboração de J. Bruner, um grande parceiro das discussões de trabalho. A proposta central de Reggio consiste em desenvolver “as cem linguagens da criança” e conta com uma mostra internacional, com o mesmo nome, que vem percorrendo cidades do mundo inteiro há mais de 20 anos. Uma parte dessa mostra esteve na escola Eugênio Montalli, em São Paulo, em julho de 2002. Reggio Emilia recebe visitas organizadas em diferentes idiomas, e a primeira em língua portuguesa aconteceu em novembro de 2004. Essa experiência de receber visitas e pesquisadores de outros países iniciou-se em 1979. Esses encontros são proporcionados não com a pretensão de mostrar um modelo que funciona, mas para troca de experiência, pois Reggio tem necessidade de buscar novos significados e valores que ajudem a encontrar sentido para que eles continuem existindo. São encontros de história e de vida, compartilhando valores e objetivos. Os educadores de Reggio não querem mostrar seu trabalho como algo perfeito e seguro, mas como um ambiente com muito fermento, profissionalismo, felicidade e divertimento, e que também pode ter contradição, insegurança, e é tudo isso que os faz crescer. Os valores e crenças na experiência de Reggio A proposta pedagógica das escolas da infância de Reggio consiste em criar constantemente uma rede de comunicação e paz. Os diálogos desenvolvidos entre criança-criança, criança-professor e entre professores são essenciais e diferem Page 3 I Seminário Educação, Imaginação e as Linguagens Artístico-Culturais, 5 a 7 de setembro de 2005 enormemente dos espaços onde todos falam e ninguém ouve. Em Reggio, os
  • 4. professores entendem que as crianças falam para dizer algo, para se comunicar, como necessidade básica de qualquer ser humano, e desenvolvem o que chamam de Pedagogia da Escuta, ou seja, as falas são registradas e se tornam parte da documentação dos projetos, relatórios e diários. Como a preocupação fundamental é a unidade entre educação e cultura, as crianças e a escola têm contato estreito com toda forma de representação da cultura: teatro, cinema, shows, concertos, exposições, etc. As atividades culturais da cidade e do país são veiculadas em forma de cartazes que, harmoniosamente, são afixados nos murais da escola. A escola, por sua vez, está representada na sociedade pelos desenhos das crianças, que ilustram: folders de hotéis, lojas, a lista telefônica, bem como a possibilidade de decorar lojas da cidade com “obras infantis”, num intenso movimento de diálogo e participação escola-sociedade. Diferente de muitos trabalhos dos quais temos conhecimento, as crianças nas escolas de Reggio se comportam como protagonistas nos projetos desenvolvidos; elas não são “atores” nos trabalhos desenvolvidos, mas sim autores. A criança, em Reggio, é vista como competente, forte e rica – uma criança produtora e não apenas usuária de cultura. Essa postura ratifica a idéia de educação da infância e não educação pela infância, porque não é o adulto que faz para a criança. Ele é o mediador dos desejos e das necessidades das crianças. A ambientação e o espaço físico são planejados para facilitar o diálogo e a comunicação entre os vários ambientes. As plantas das escolas não têm um projeto único, mas obedecem a idéias de ventilação, e a valorização de um espaço central (a piazza), onde todos se encontram e consideram a cozinha como um local que também simboliza a cultura italiana. Evitam a planta horizontal e eliminam os corredores porque dão a impressão de hierarquização. Valorizam a planta que permita, com um único olhar, visualizar toda a escola. Como a imaginação se destaca nesse universo educativo No trabalho dos professores de Reggio, destaca-se, dentre outras coisas, a observação, pois essa postura valoriza a atenção, a curiosidade, desafia na criança o desejo de conhecer o mundo que a rodeia, educa esteticamente, além de interferir em muitos
  • 5. outros aspectos. Page 4 I Seminário Educação, Imaginação e as Linguagens Artístico-Culturais, 5 a 7 de setembro de 2005 Entendo que a mais importante capacidade humana é a de imaginar, e isso, na proposta desenvolvida em Reggio, existe em abundância – lá, o elemento criativo é imenso, a começar pelas salas de aula, que foram substituídas por grandes ateliês, ricos em objetos diversificados, que aguçam o processo criativo e aumentam as experiências das crianças, que manipulam sucatas, como: botões, tecidos, velas, retalhos de papéis, diferentes tipos de grãos, sementes, pedaços de madeira, lã, etc., além de objetos comuns em ateliês: mesas de diferentes tipos, com luz no tampo, pincéis, diferentes tintas, cavaletes, tesouras, réguas, etc. Esses recursos são livremente utilizados pelas crianças, como: vidros, arames encapados, tesouras com pontas, entre várias coisas apontadas por nós como perigosas. O papel do adulto, tanto o professor como o atelierista, no processo de construção e levantamento de hipóteses do pensar sobre algo é criar possibilidades de concretizar as fantasias infantis. Em um dos projetos, o “Parque de Pássaros”, as crianças imaginaram como seria fantástico se os pássaros também tivessem um parque de diversões, uma fonte para refrescar e outros brinquedos para alegrá-los. A função do adulto foi alimentar essa idéia e construir uma rede de parcerias com a comunidade: imprensa, os profissionais da área da construção, como o encanador, por exemplo, e professores que utilizavam os desenhos e as idéias dos alunos e discutiam o processo de descoberta e desenvolvimento das crianças. Esses professores encorajam seus alunos a realizar experiências que, a princípio, parecem inviáveis para a escola. Em Reggio, os professores se utilizam dessas fantasias, encorajando-os a discutir as possibilidades de realização de novos experimentos. Com isso, o professor aproveita as explicações e falas dos alunos como objeto de estudo do potencial infantil, para cultivar e promover o processo criativo, apontar a importância do respeito às idéias do outro e entender que as crianças criam verdadeiras teorias a
  • 6. partir de suas observações e a liberdade de manifestação de suas idéias levam-nas a falar de maneira extremamente poética. Destacaremos, agora, uma experiência que concretiza nossa fala até este momento. Page 5 I Seminário Educação, Imaginação e as Linguagens Artístico-Culturais, 5 a 7 de setembro de 2005 Uma experiência vivida a partir da documentação de um projeto que estava completando 10 anos: a possibilidade de re-construir uma experiência e enriquecer a possibilidade criadora das crianças de cinco a seis anos O Projeto “Monumento das Cores” recuperou uma torre que fora construída havia dez anos na escola Neruda, e era parte da mostra “As Cem Linguagens.” Essa mostra estava sendo levada para Portugal e, diante da necessidade de restaurar a torre de 1,70 m, a mesma escola que havia construído o objeto anos atrás pediu para repensar o projeto. A atelierista que participou, dez anos antes, do projeto propôs este desafio às crianças, ou seja, trabalhar com “algo que já existia”. Depois de estudarem a documentação do projeto, as crianças manifestaram admiração e curiosidade perguntando: – As crianças eram grandes? – Eles se empenharam para fazer isso? E logo após aceitar o desafio, começaram a criticar o trabalho: – Ah! Poderiam ter feito melhor. – Ah! Não colaram muito bem. E o trabalho inicia com uma observação curiosa das professoras: as crianças não queriam só cobrir a parte feia; elas queriam continuar o trabalho. Inicialmente, o restauro foi feito com papel machê. Era preciso pintar a torre de branco e a atelierista relata que “pintar de branco, mais do que pintar, foi preparar para uma nova vida”. Nesse momento, após pintar a torre toda de branco, as crianças conversavam sobre o seguinte: – Eu tenho uma idéia! Podemos começar com tantas cores, podemos fazer arco-íris! Podemos fazer arco-íris com tantas cores! Assim, depois as cores descem, descem e a torre vai ser formada! No que a professora responde: – Essa era a idéia que faltava. Levaram uma manhã inteira para preparar tonalidades. Eles procuravam nos ateliês (nas revistas, nos livros) coisas que pudessem servir de base para discutir outras
  • 7. cores. Foi um momento rico de experiências e anotações diversas (escrevendo as Page 6 I Seminário Educação, Imaginação e as Linguagens Artístico-Culturais, 5 a 7 de setembro de 2005 dosagens, colocando o nome nas cores...). E a fala poética aparece no diálogo entre duas crianças, quando uma delas diz: – Meu coração bate tão forte! As crianças continuam a ter idéias de enriquecimento da torre, quando um menino teve a idéia de procurar modelos de conchas e desenhá-las. Tenta desenhar em papéis avulsos e depois vai à torre. Esse mesmo menino, olhando sua impressão deixada na torre, fala: – Ah! Embaixo da torre vai bem uma baleia! Diante da necessidade, vai ao ateliê procurar baleias, mas não encontra nada. Como era sexta-feira, ele disse que iria, no sábado, à biblioteca municipal procurar livros de baleias para trazê-los na segunda-feira para a escola. Quando esse dia chegou, as crianças se reuniram para ver e discutir. Viram que a baleia não caberia na torre porque ela tem um rabo grande que balança. Então, outra criança disse: – Vamos desenhar então um tubarão! Dessa idéia nasce outra: desenhar uma baleia-tubarão. Dias depois, descobriram que a baleia-tubarão existia. No dia seguinte, uma criança agitada chegou à escola falando: – Leonardo da Vinci descobriu o que nós descobrimos ontem! Durante o processo de trabalho, outra linguagem foi acrescentada: o som, o som do mar, cantado por eles. Decoraram a torre não apenas com tubarão, cavalo marinho, mas faziam questão de registrar na torre as cores que tinham descoberto ou criado, como: rosa profundo, verde molhado. Quando, após um mês, a torre ficou pronta, eles começaram a pensar como fizeram aquela coisa tão grande. E, ao contemplar a torre, o grupo conversa sobre o que tinham realizado: – Foi importante a informação. Nós temos que olhar nos livros se quisermos fazer bem as coisas! – Os livros sozinhos não são bastante. Precisa idéia, imaginação, porque nós não temos livro de imaginação. E houve ainda outro comentário: – Nós fomos sortudos, porque vocês, professores, nos propuseram a fazer isso!
  • 8. Page 7 I Seminário Educação, Imaginação e as Linguagens Artístico-Culturais, 5 a 7 de setembro de 2005 Todo o grupo fez um brinde final. Só que as crianças queriam curtir até o empacotamento da torre que seria transportada para Portugal. Por isso, reivindicaram a mudança do horário do almoço para que o trabalho não fosse interrompido. Por último, as crianças pediram, para as professoras que iam a Portugal, que se comportassem como verdadeiras jornalistas. Meses depois, todos assistiram ao filme da mostra realizada em Portugal, viram as notícias do jornal e as fotos. Então, pergunto, quando é que se pode dizer que termina um projeto? Concluindo A imaginação vem da riqueza e diversidade de projetos, experiências que criam necessidades e desejos, exigindo um pensar cuidadoso consigo mesmo e com o outro. Diante disso, cabe ao adulto permitir a quebra de um ambiente de estabilidade e mesmice que existe na grande maioria das salas de aula, abrindo espaço para situações imprevistas, com grande possibilidade de manipulação de materiais e linguagem, com animação dentro e fora da sala, além de desenvolver uma escuta sensível às explosões, às descobertas infantis e às emoções que elas provocam O que são a Pedagogia da Escuta e a Teoria das Cem Linguagens? BRUNA Trata-se, sobretudo, de dispor-se a escutar os outros e a si próprio. Mesmo as crianças muito pequenas já estão construindo conhecimento e todas merecem ser ouvidas sobre isso. É preciso ter capacidade de interpretar e deter os instrumentos de observação. Pode ser um registro em vídeo ou simples anotações, contanto que se possa compartilhar com os demais professores. A Teoria das Cem Linguagens nasce da Pedagogia da Escuta, que lançou uma luz sobre as linguagens dos pequenos. Eles aprendem por meio dos cinco sentidos e de todos os instrumentos possíveis - o corpo, a
  • 9. palavra, o pensamento. Tudo isso opera de forma entrelaçada no processo de construir a identidade e o conhecimento e de interpretar o que está em volta. Por isso não trabalhamos com as habilidades das crianças isoladamente.