Apresentação de Maria Luiza de Carvalho durante o VI Simpósio Paternidades, Singularidades e Políticas Públicas:
Paternidade e Cuidado, realizado em agosto de 2014 no Rio de Janeiro
1. !
PATERNIDADE E CORPO
Maria Luiza de Carvalho
Psicóloga / Professora
Terapia Ocupacional
FM UFRJ
VI Simpósio Paternidades,
Singularidades
e Políticas Públicas:
Paternidade e Cuidado
2. Corpo de pai acolhedor nutrindo
emocionalmente os filhos
Foto: Ana Paula Cazeiro
Formação do apego
Segurança emocional
3. Encouraçamento psicocorporal
da masculinidade
Força física, trabalho remunerado e dominação
sobre as mulheres. Negação das fragilidades e grande
vulnerabilidade a doenças, violência e morte.
Ausentes no cuidado em geral.
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Relações trabalhistas alienadoras (Marx)
Homens e mulheres esquecemos e nos distanciamos
de nós e dos outros, num encouraçamento emocional
que se propaga nas relações (Reich)
4. Paternidade cuidadora
na construção social dos corpos
Registro do afeto e da presença do pai
no corpo da criança
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Masculinidade cuidadora gravada na
memória corporal de meninos e
meninas
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Construção social de corpos
masculinos cuidadores
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Identificação dos meninos com
homens e pais cuidadores
Foto: José Inácio Parente
5. O corpo dos homens
na gestação de seus filhos
Os homens vivem a intensidade emocional das novas
responsabilidades
Síndrome de couvade? Comportamento patológico?
Desvalorização da experiência masculina?
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Variações hormonais no período
em torno do parto
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Pesquisa com pais no parto em 2001:
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“É uma coisa que nasceu de mim.
Pode ter nascido dela, mas é uma coisa minha.
É produto meu”.
Foto: José Inácio Parente
6. Foto Paulo Batistuta O corpo do pai no parto
Mãe: Eu me senti muito feliz, muito segura porque ele ‘tava ao meu lado. E aí
foi muito mais fácil porque ele nasceu logo, porque ele ‘tava ao meu lado.
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Pais: ... Para dar uma força, mais tranquilidade a ela.
... Eu sou um antes e outro depois de ver meu filho nascer.
Carvalho, 2001,2003
Sensibilidade Sexualidade Amor
7. Pesquisa com pais no parto em 2001:
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Já teve época em que o pai participava do pré-natal,
fazia massagem, ajudava. Os pais que colaboram de
verdade, são os que participam,
que atuam. Ele sabe o que é para fazer.
Já vi cada coisa linda: homem ajoelhado com a mulher
no parto.
8. Com a participação paterna, recuperação de recém-nascidos é mais rápida.
#métodocanguru:http://elosdasaude.wordpress.com/2013/11/26/biblioteca-metodo-
canguru-para-recem-nascidos-de-baixo-peso/
9. Pais que cuidam sozinhos
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Pais sem experiência podem cuidar dos
filhos com quem já tinham vínculos, sem a presença das mães,
motivados por amor e responsabilidade, em situações de
crise provocadas por ausência ou falha materna no cuidado.
O trabalho de cuidar faz o cuidador.
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Desempenho de todas as funções de cuidado
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Acolhimento amoroso
Educação de limites
Higiene, vestir, alimentação,
Instrução, saúde e educação
de valores.
Diferentes estilos de cuidar
Vínculo intenso/simbiose?
Filho como prioridade
Valorização do trabalho doméstico
10. Corpos de pais
sobrecarregados
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Sobrecarga da dupla-jornada
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Falta de cuidado de si mesmo
Necessidade de apoio
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Dilemas entre trabalho e
cuidado dos filhos
Empobrecimento
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Dificuldade para vida social e relações
amorosas
11. ENFRENTAMENTO DE PRECONCEITOS
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Outros pais e mães
Meio social
Conselho tutelar e na justiça
Psicologia jurídica
Trabalho
Banheiro de shopping
Rua
Instituições de saúde
Reunião de mães e professoras
12. Desafios enfrentados
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Foram duas psicólogas da guarda da minha filha. Tem uma que eu
achei que ela não foi nem profissional na parte dela, né? Porque ela
pendeu pelo lado da mãe. Eu como homem, né cara, eu sou visto,
visto como que uma pessoa que não é adequada
pra criar, ainda mais uma filha menina.
Aí, quer dizer, eu sentia aquilo ali.
Eu pressenti isso, porque eu fui chamado de alcoólatra,
foi falado no processo todo que ... que eu não queria pagar a pensão,
que eu tinha ciúmes. Foram várias coisas a meu respeito. Foi falado
bastante coisa, né cara.
Um processo árduo, né cara, prá mim..
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Clóvis, 40, separado, Bombeiro, filhos de 16 e 14, filha de 5 anos
13. !
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Prazer,
desencouraçamento de gênero
e autorregulação
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Grandes alegrias por cuidarem.
Seus olhos brilhavam ao falarem
emocionados, felizes e satisfeitos
com as tarefas cuidadoras e com o contato
amoroso diário com seus filhos.
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Nas entrevistas, suas emoções fluíam com facilidade,
profundas e conscientes. Suas falas eram calorosas
sobre a intensidade afetiva que experimentavam
com seus filhos.
14. !
Prazer com tarefas e sensibilidades
ditas “femininas”
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Aí de lá para cá, meu mundo mudou mesmo. Mudou, eu
tive que aprender tudo, eu tive que descobrir tudo. E aí eu
entrei no mundo feminino, por causa das minhas duas
filhas. Esse mundo feminino, esse mundo me fez ver a
mulher, o outro lado da mulher. Me fez ver a paciência, o
amor que triplicou, me fez ver como a mulher se sente do
outro lado e eu sinto como uma mulher se sente, eu
homem, eu tive que aprender isto. (...)
Você conhece seu filho só no olhar e esse olhar eu tive
que descobrir, porque eu era só pai dela, não era pai e mãe,
pai e mãe é diferente...É esse amor que eu te falei, é esse
mundo feminino, o mundo da mulher; e o homem não, o
homem se exclui desse mundo...Aí então eu tive que
descobrir esse mundo feminino, a sensibilidade, né?
Isaías, 50, desempregado, filhas de 18 e 20 a.
15. !
LIBERTAÇÃO DAS EXPECTATIVAS DA
MASCULINIDADE
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É uma coisa ímpar, é uma coisa que não tem
como descrever assim... Foram vários momentos.
Eu acho uma coisa, como posso dizer? Muito
emocionante, é uma coisa muito legal. Eu nunca
imaginei, quando eu era adolescente, ou início da
minha fase adulta, de eu passar por uma situação
dessas, né? Aí, de repente, a coisa acontece e eu
vi que não tem nenhum bicho de sete cabeças. É
bom, é legal, eu estou gostando.
Alfredo, 39, oficial PM, divorciado, filha de 14 anos
16. Desencouraçamento da masculinidade
!!
Eu tinha que ganhar dinheiro pra
botar essas coisas e eu trabalhava
e ganhava comissão. Então eu não
podia parar, porque era uma dificuldade
muito grande. (...) Eu tenho aprendido com
ela muitas coisas o que eu não aprendia,
porque não tinha tempo pra ficar com ela e
hoje eu aprendo muitas coisas com ela.
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Jonathan, 37, desempregado, filha de 5 anos
17. !
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Então eu virei pai e mãe, e para você ver que eu tenho tanta
facilidade de exercer esse papel de mãe que é uma coisa
incrível. Eu falei: ‘meu, como Deus é perfeito’! Porque arrumo,
eu faço trancinha no cabelo dela igual mulher faz, essas coisas
toda, eu nunca imaginava. [...] Então isso é papel de mãe e
Deus me concedeu esses dons, que nem eu sabia que eu tinha
esse dote de cuidar. Quando a minha filha sai e vai para escola
muita gente: “Oh! quem te arrumou, porque muita gente sabe
que eu sou viúvo pensa que outra pessoa que arrumou, mais eu
que arrumei, Eu sei colocar as roupas certinho, eu sei combinar
as roupas, então ela fica uma boneca, entendeu?
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Jonathan, 37, desempregado, filha de 5 anos
18. Amadurecimento psicológico
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Cerveja, mais cerveja, e álcool assim [antes da viuvez]. Mas
isso me trouxe muita desilusão, muita falsidade de amizade,
só quando eu tinha dinheiro.
[...] Por todas as coisas que eu passei né, e a Ingrid [filha],
Deus me colocou me confiou, porque Deus me confiou,
[...]Então é um amor incondicional né, e isso está mudando a
minha vida [...] Eu comecei a mudar e eu virei um homem
muito assim ... Então isso fez com que a minha personalidade,
o respeito voltasse das outras pessoas que me rodeiam, da
minha própria família e até por eu ter mudado tanto para
melhor, causou até algum espanto nas pessoas. Às vezes, da
minha própria família por não acreditarem o quanto eu mudei
para melhor, o quanto a minha filha me ama, o quanto ela [a
filha] é apegada a mim [...]
Jonathan, 37, desempregado, filha de 5 anos
19. !
Aumento da auto-estima
Gratificados e orgulhosos com eles
mesmos
!
E por isso que eu acho que a minha luta
foi gratificante. [...] A Patrícia fazia desenho
todo dia: “Pai eu te amo”, um coração assim
pai eu te amo, todo dia, todo dia. Agora ela
parou um pouco, mas todo dia um desenho: pai eu te
amo, pai eu te adoro, pai não sei o que. No Dia dos Pais
eles encheram a geladeira de tanto desenho disso e
coisa e tal. Então eu me sinto bem com isso, me sinto
que a minha missão não está sendo em vão.
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Jerônimo, 50, divorciado,peixeiro, filhas de 12 e 11, filho de 8 anos
20. Eu [aprendi] sozinho (...) Até então, nem
macarrão eu sabia fazer, só fritar ovo e fazia
miojo. (...) Apanhei muito pra fazer macarrão.
Que coisa mais fácil, depois que eu vi que coisa
mais fácil, né?
Como é que a gente é homem, né?
É porque, trabalhava, mamãe fazia tudo, já
chegava com comida pronta já no prato né. [...]
Quando eu juntei com ela [a esposa], (...) deixei
tudo por conta dela, fiquei dependente, fiquei
dependente.
Hoje eu já me sinto mais capaz você não viu?
[...] Hoje eu faço um feijão, um macarrão, faço
uma carne.
Jerônimo, 50, divorciado, comerciante,
filhas de 12 e 11, filho de 8 anos
21. FORTALECIMENTO DA PERCEPÇÃO DE SI MESMO
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AUTONOMIA COM RELAÇÃO ÀS MULHERES
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Eu não quero mais ninguém mandando, finalmente! Eu digo: Olha, até os
dezoito anos, eu fiz o que o meu pai e a mãe quiseram. De dezoito até...
depois eu fiz o que tinha que fazer, porque tinha que me posicionar
profissionalmente. Depois eu me formei, eu [fui] lá pra São Paulo. Eu disse:
“Agora chegou a minha vez, agora eu mando ni mim, agora eu conduzo a
minha vida”. Porque o homem quando casa, a mulher mais uma vez, acho
que vou virar viado, a mulher vem e surrupia da gente. A mulher passa a
ser a dona da casa. A gente sai da casa da mamãe e vai pra casa da mulher.
Então, finalmente eu estou tendo a minha casa, eu decido. Envernizo aqui,
o bar ali, deixo ali assim...
(cont)
22. (cont)
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Eu mando na minha casa! Eu estou curtindo
isso assim ao extremo. Eu não quero
ninguém. Eu tive uma namorada, ela veio e
eu: “Olha, vou colocar uma coisinha pra
você bem clara, número um: meus filhos,
número dois: meus filhos, número três:
meus filhos. Em quarto lugar venho eu, em
quinto vem você. Gostou ou não, essa é a
minha regra. Não vou mentir mais pra
ninguém.
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Filipe, 43, divorciado, advogado, filhos de 7 e 5 anos
23. !
As pessoas não acreditam que eu tomo conta dos
meus filhos. Eu fico p... da minha vida. “Como você
toma conta?” Eu digo : “Filho, quem toma conta não é o
piru, nem a xoxota ... (risos)... Quem toma conta sou
eu, pô! Piru não toma conta de filho, nem xoxota toma
conta de filho!” (risos)... Mas é verdade, as pessoas
acham que é a xoxota que toma conta, p...! Caramba!
Sou eu que tomo conta, sou eu o pai, né? Aí eu digo,
mas isso é assim uma... . Vai se resumir sempre nisso:
qual é a diferença minha pra você [dirigindo-se à
pesquisadora]? Qual é a diferença? Só são os órgãos
sexuais, o resto é tudo igual.
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Filipe, 43, divorciado, advogado, filhos de 7 e 5 anos
24. AUMENTO DA AUTO-ESTIMA
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E por isso que eu acho que a minha luta foi
gratificante. [...] A Patrícia fazia desenho todo dia: “Pai
eu te amo”, um coração assim pai eu te amo, todo dia,
todo dia. Agora ela parou um pouco, mas todo dia um
desenho: pai eu te amo, pai eu te adoro, pai não sei o
que. No Dia dos Pais eles encheram a geladeira de
tanto desenho disso e coisa e tal. Então eu me sinto
bem com isso, me sinto que a minha missão não está
sendo em vão.
Jerônimo, 50, divorciado,peixeiro, filhas de 12 e 11, filho de 8 anos
25. !
Gratificados com a experiência
!
Pra mim é ótimo, que dá mais grandeza, me projeta
mais. Me dá mais responsabilidade. Me segura mais.
É, buscar outras coisas pra eles, vamos dizer, melhorar
(...) Você sente que o amor que você tem pelos seus
filhos ajuda a você se projetar. É em tudo, tudo, tudo.
Nas dificuldades deles. Por exemplo, assim, é, passar
uma necessidade, meu filho quer isso, isso, isso, isso e
eu não posso dar. É porque eu quero dar pra eles o
que eu não tive.
Clóvis, 40, separado, Bombeiro, filhos de 16 e 14, filha de 5 anos
26. Orgulhosos com eles mesmos
O cara passou com maior notão e eu fui chamado no colégio
(...). Conversou a Madre, a diretora, a professora, a
orientadora educacional: ‘A gente está aqui para te dar os
parabéns. Você mudou a situação, a gente não acreditava,
achava que teu filho ia repetir. Você chegou aqui falou tudo
que tinha acontecido, mostrou documento, a gente meio que
ficou assim de receber o teu filho, você pediu para que isso
acontecesse...’ (...) eu estava num desespero total [no
momento da matrícula]. Mas [depois] elas me chamaram
para me dar os parabéns, porque elas viram que tinha o meu
dedo ali.
Roberto, 37, solteiro, gerente financeiro, filho de 12 anos
27. Campanha do Cuidado Paterno
www.aleitamento.com
!
Obrigada,
Maria Luiza
luiza.carvalho@globo.com
28.
29. Onde está o corpo do pai no pré-natal?
Acompanhou (o parceiro acompanhou)
a parceira ao pré-natal?
CP
(H)
CP
(M)
Eu não sei se ela fez/faz pré-natal 0.6 1.2
Eu vou/fui em algumas visitas 33.9 38.1
Eu vou/fui em todas as visitas 42.4 16.5
Eu não vou/fui em nenhuma visita 23.2 41.0
PESQUISA INTERNACIONAL DE HO MENS E EQÜIDADE DE GÊNERO Dados preliminares da Pesquis a IMAGES 2010 PROMUNDO
Pais no parto em 2001:
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Eles [no pré-natal] falavam mais com ela. E às vezes eu até me recolhia um
pouco, afastado.
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A médica geralmente não está acostumada. Muitas até estranham. E
esperam até pra você se retirar. Ela pediu pra mim: ‘O senhor poderia
aguardar lá fora?
!
Homem não entra [em hospital de emergência]. Eu fico bobo é de ver chegar
com um filho no colo e você não poder entrar. Você ter que dar o filho nos
braços de outro.
30. Onde está o corpo do pai no parto?
Onde você estava (o pai do seu
CP
filho estava) durante o nascimento
(H)
do último filho?
PESQUISA INTERNACIONAL DE HO MENS E EQÜIDADE DE GÊNERO Dados preliminares da Pesquisa IMAGES 2010 PROMUNDO
CP
(M)
Na sala de parto 5.3 5.4
Na sala de espera 35.0 37.3
Em casa 20.5 11.4
Trabalhando 32.6 27.1
Pesquisa com pais no parto em 2001:
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“Tem pai que desmaia, não está preparado”.
“Tem pai bêbado, agressivo, que não respeita.
Nós trabalhamos com uma classe social com valores muito diferentes”.
31. Onde está o corpo do pai
no cuidado com os filhos?
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Quem fica em casa com a criança
quando ela está doente?
CP
(H)
CP
Sempre você 5.8 5(9M.)4
Geralmente você 5.0 6.5
Igualmente ou fazemos juntos 29.0 8.1
Geralmente a (o) parceira (o) 29.3 0.3
PESQUISA INTERNACIONAL DE HO MENS E EQÜIDADE DE GÊNERO Dados preliminares da Pesquisa IMAGES 2010 PROMUNDO