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Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision
                                                (The American Academy of Pediatrics, 2009)




         Resumo
         As perturbações da aprendizagem, que incluem as dificuldades de leitura e escrita, são
diagnosticadas com frequência na infância. As suas causas são multifatoriais, refletindo
influências genéticas e disfunções cerebrais. As perturbações da aprendizagem são complexas
e requerem soluções de igual complexidade. A maioria dos especialistas acredita que a dislexia
é uma perturbação da linguagem. Os problemas de visão podem interferir no processo de
aprendizagem, contudo não são a primeira causa da dislexia ou das perturbações da
aprendizagem. A evidência científica não dá suporte à eficácia dos exercícios oculares e da
terapia do comportamento da visão.


         Ler é um processo que consiste em extrair significado a partir de carateres simbólicos
escritos.
         A dificuldade de ler e compreender o que é lido é o obstáculo mais significativo na
aprendizagem, o que pode ter consequências educacionais, sociais e económicas a longo
prazo. As dificuldades de aprendizagem também impedem as crianças de desenvolver todo o
seu potencial noutras áreas. Elas podem causar dificuldades em ouvir, falar, ler, soletrar,
escrever, concentrar, resolver problemas matemáticos e organizar a informação. Estas crianças
podem ter também dificuldades nas competências sociais e na coordenação motora. As
dificuldades de aprendizagem são frequentemente associadas e aumentadas por
perturbações da hiperatividade e défice de atenção. As dificuldades de aprendizagem podem
causar frustração, baixa autoestima e risco aumentado de problemas psicológicos e
emocionais.
         A dislexia é uma perturbação primária da leitura e resulta de um processamento
anormal da palavra lida em termos cerebrais. É caracterizada por dificuldades no
reconhecimento fluente das palavras escritas e por capacidades reduzidas ao nível da
soletração e da descodificação. Estas dificuldades são inesperadas relativamente às restantes
capacidades cognitivas da criança. A dislexia tem sido descrita como tendo uma base genética
forte.
         A dislexia pode ser moderada ou severa, surge em todo o mundo, parece afetar mais
rapazes do que raparigas, afeta crianças com vários níveis de inteligência e persiste ao longo



AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICAS et al – Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and
Vision. Pediatrics. Vol.124 (2009), p837-844.

                                    Traduzido e adaptado pela terapeuta da fala Ana Catarina Santos
Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision
                                               (The American Academy of Pediatrics, 2009)

da vida. É identificada precocemente em algumas pessoas, mas noutras já é identificada muito
tarde quando são necessárias competências de leitura e de escrita mais complexas.
        A dislexia deve ser separada de outras formas secundárias de dificuldades de leitura
causadas por perturbações visuais ou auditivas, défice cognitivo e défices na experiência
educativa (dificuldades de “ensinagem”). Não nos devemos esquecer que as dificuldades
precoces na leitura podem ser causadas por défices na experiência ou na instrução.
        O desenvolvimento da linguagem oral tem sido visto como tendo um papel muito
importante na aprendizagem da leitura. Ao contrário da fala, a leitura e a escrita não se
desenvolvem de forma natural e requerem uma aprendizagem ativa. Ler é mais difícil do que
falar, porque a criança deve estar consciente da estrutura sonora da linguagem oral e em
seguida utilizar o código alfabético para adquirir a correspondência grafema-fonema.
        A complexidade fonética da língua alfabética vai influenciar a prevalência da dislexia,
apontando-se para a origem linguística desta perturbação.
        A leitura envolve a integração de múltiplos fatores relacionados com a experiência
pessoal e o funcionamento neurológico. A maioria das pessoas com dislexia apresenta um
défice neurobiológico no processamento da estrutura sonora da linguagem, a que se chama
défice fonológico e que pode existir quando as restantes capacidades linguísticas estão
intactas. As crianças com formas mais graves de dislexia podem ter um défice secundário na
nomeação de letras, números e imagens, criando um défice duplo, podendo também
apresentar problemas ao nível da atenção e na memória de trabalho. Outras crianças podem
ter dificuldades de orientação, reconhecimento e memorização das combinações de letras.
Estas dificuldades podem constituir uma perturbação neuromaturacional que aumenta com o
desenvolvimento. Importa referir que a definição de dislexia não inclui a inversão de letras/
palavras ou a leitura/escrita em espelho, as quais costumam criar equívocos comuns nesta
área.
        A maioria das crianças e adultos com perturbações da leitura revelam problemas
diversificados em termos de linguagem que se devem a alterações nas funções cerebrais.
Existe uma evidência científica sólida que suporta a base neurológica da teoria do défice
fonológico nas perturbações da leitura.
        A leitura ocorre sobretudo no hemisfério esquerdo, incluindo o lobo frontal inferior,
temporal superior, tempo-parietal, gyrus temporal medial e occipital medial nos leitores sem
perturbações. As crianças com dislexia, por outro lado, usam áreas diferentes do cérebro


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Vision. Pediatrics. Vol.124 (2009), p837-844.

                                   Traduzido e adaptado pela terapeuta da fala Ana Catarina Santos
Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision
                                                (The American Academy of Pediatrics, 2009)

durante a leitura. As pessoas com dislexia demonstram uma disfunção no hemisfério
posterior esquerdo (sistema de leitura) e manifestam um uso compensatório do gyrus frontal
inferior de ambos os hemisférios e a área occipi-temporal direita. As pessoas com dislexia
têm uma disfunção na análise das palavras, o que interfere com as suas capacidades para
converter as palavras escritas em oralidade.
        A leitura exige capacidades visuais e neurológicas adequadas para identificar o que é
visto. Embora a visão seja fundamental para a leitura, é o cérebro que interpreta as imagens
observadas. Ao longo dos tempos, muitas teorias apontaram os defeitos no sistema visual
como sendo a causa da dislexia. Hoje em dia, sabe-se que estas teorias estão incorretas. Há
inúmeros estudos que comprovam que os défices no processamento visual (tais como na
visualização, sequência visual, memória visual, perceção visual e capacidades percetivo-
motoras) não constituem a causa de base das dificuldades de leitura. As inversões nas
palavras e os “saltos” na leitura, que podem ser encontrados nos leitores com dislexia, são o
resultado da perturbação linguística e não das perturbações visuais ou percetivas.
        Há registo de dificuldades de leitura específicas num pequeno subgrupo de pessoas
com dislexia que é atribuído por alguns investigadores a défices no sistema magnocelular
visual. O sistema visual engloba dois sistemas paralelos: o magnocelular e o parvocelular. O
primeiro responde a frequências altas no lobo temporal e ao movimento dos objetos, ao passo
que o segundo é sensível às frequências baixas e aos detalhes espaciais. Tem sido proposto
que um défice no sistema magnocelular produz um traço anormal da distância visual que cria
um efeito de mascaramento e provoca alterações na acuidade visual durante a leitura em
algumas crianças com dislexia. Muitas investigações concluíram que os défices no sistema
magnocelular não constituem a causa das perturbações específicas de leitura. Atualmente,
não há evidências científicas suficientes para o tratamento deste possível défice.
        A dislexia não está assim correlacionada com o olho ou com alterações nos
movimentos dos olhos. Inúmeros estudos mostram que as crianças com dislexia ou outras
perturbações da aprendizagem apresentam o mesmo funcionamento visual e a mesma saúde
ocular que as crianças sem estes problemas. A investigação tem, deste modo, mostrado que a
maioria das perturbações de leitura não é causada por um funcionamento visual alterado.
        Quando na história familiar há perturbações da aprendizagem, os pais, professores e
médicos devem estar atentos a esta possibilidade. Um historial de problemas no
desenvolvimento da fala e da linguagem, na aprendizagem de ritmos ou no reconhecimento


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Vision. Pediatrics. Vol.124 (2009), p837-844.

                                    Traduzido e adaptado pela terapeuta da fala Ana Catarina Santos
Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision
                                               (The American Academy of Pediatrics, 2009)

de letras e da correspondência entre os sons e as letras podem ser sinais precoces de
dislexia. Os pais e/ou os professores devem identificar os sinais precoces de dificuldades de
aprendizagem nas crianças em idade pré-escolar. Contudo, na maioria dos casos, estas
dificuldades não são descobertas até que as crianças revelem dificuldades académicas no
decorrer do 1º ciclo.
        Uma vez que a recuperação é mais eficaz durante os anos mais precoces, o diagnóstico
precoce é muito importante. O efeito da dislexia é diferente em função da pessoa e depende
da sua gravidade, da eficácia da reabilitação e das oportunidades de educação/intervenção.
        Atendendo ao facto de a dislexia ser uma perturbação linguística, o seu tratamento
deve incidir diretamente nesta etiologia. Os estudos longitudinais indicam que os resultados
da instrução que incide na fonologia são mais favoráveis para os leitores com perturbações
do que uma abordagem global ao nível da linguagem.
        Os programas de reabilitação devem incluir um ensino específico ao nível da
descodificação, fluência, vocabulário e compreensão. A abordagem da aprendizagem das
capacidades de descodificação começa com o ensino explícito do reconhecimento dos sons
orais (consciência fonológica), a consciência do ritmo, a aprendizagem do código alfabético, a
memorização das palavras escritas, o estudo dos sons e a soletração.
        Uma criança deve primeiro ser capaz de descodificar a palavra antes de ser capaz de a
ler de forma fluente. A criança deve ler para os pais em casa diariamente para praticar a
descodificação, a memorização de novas palavras escritas e desenvolver uma maior fluência
através da leitura de palavras previamente descodificadas e memorizadas. A fluência constitui
a ponte entre a descodificação e a compreensão. A compreensão é desenvolvida através do
treino da fluência, do aumento do vocabulário e da compreensão ativa da leitura. As técnicas
que aumentam a compreensão ativa da leitura incluem a predição, o resumo, a visualização,
a clarificação, o pensamento crítico, a realização de inferências e a extração de conclusões.
        Uma vez que as pessoas com dislexia têm problemas persistentes e continuam a
apresentar uma leitura lenta ao longo da vida, pode ser necessário efetuar acomodações e
modificações para além da reabilitação propriamente dita. Alguns exemplos de acomodações
são: tempo extra nas tarefas, realização de trabalhos mais curtos, realização de testes em salas
isoladas e com um ambiente calmo, testes de escolha múltipla, uso de computadores,
corretores ortográficos, utilização dos apontamentos das aulas, gravadores, livros gravados,
etc.


AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICAS et al – Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and
Vision. Pediatrics. Vol.124 (2009), p837-844.

                                   Traduzido e adaptado pela terapeuta da fala Ana Catarina Santos
Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision
                                               (The American Academy of Pediatrics, 2009)

         O diagnóstico e o tratamento das perturbações de aprendizagem dependem da
colaboração de uma vasta equipa, a qual pode incluir: educadores/professores do ensino
regular, professores de educação especial, audiologistas, fisioterapeutas, terapeutas
ocupacionais, especialistas em questões do funcionamento visual, psicólogos, terapeutas da
fala e médicos.
         As crianças com perturbações da aprendizagem devem ser avaliadas no que respeita
à saúde em geral, desenvolvimento, audição e visão e, quando necessário, devem ser
submetidas a intervenções médicas ou no âmbito da psicologia para o tratamento das
condições associadas que podem ser alvo de recuperação.
         Uma avaliação formal das dificuldades de aprendizagem deve incluir as seguintes
áreas:   cognição, funções     da memória, atenção,         processamento da informação,
processamento psicolinguístico, linguagem recetiva e expressiva, competências académicas,
desenvolvimento sócio-emocional e comportamento adaptativo. Estes resultados são depois
usados no Programa Educativo Individual (PEI) da criança.
         Os audiologistas devem identificar dificuldades de audição. Os terapeutas da fala
devem avaliar e tratar as dificuldades da linguagem oral subjacentes e frequentemente
associadas à dislexia e ajudar as crianças no treino da consciência fonológica. Os
fisioterapeutas e os terapeutas ocupacionais não tratam a dislexia diretamente mas podem
intervir nas dificuldades de motricidade fina e grossa ou em problemas sensoriais que podem
estar associados à perturbação da aprendizagem.
         O papel dos pais na educação destas crianças é fundamental. As famílias com historial
de dislexia devem estar atentas às crianças desde a existência dos problemas de linguagem
mais precoces. Depois de haver um diagnóstico de perturbação da aprendizagem, deve ser
elaborado o plano individual de intervenção para a criança. Os pais devem trabalhar em
conjunto com os professores no sentido de assegurar que a escola fornece as respostas
apropriadas à criança. As crianças com dislexia devem ler junto dos seus pais de forma
frequente. Os pais devem ajudá-las com a prática e o reforço em casa, num ambiente de apoio
e de suporte, contribuindo para a criação de oportunidades de participação nas atividades em
que a criança se destaca pela positiva. À medida que a criança cresce, os pais devem ajudá-la a
utilizar estratégias de aprendizagem alternativas (ex: computadores).
         Devido à natureza complexa das dificuldades de aprendizagem (incluindo a dislexia),
não há remédios simples. Ensinar estas crianças pode ser um desafio constante para pais e


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Vision. Pediatrics. Vol.124 (2009), p837-844.

                                   Traduzido e adaptado pela terapeuta da fala Ana Catarina Santos
Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision
                                              (The American Academy of Pediatrics, 2009)

professores. Com a reabilitação apropriada, acomodações e apoio, as crianças com dislexia e
outras perturbações da aprendizagem podem obter sucesso.
        Os médicos (pediatras, médicos de família, otorrinolaringologistas, neurologistas,
oftalmologistas e profissionais de saúde mental) devem participar no percurso das crianças
com perturbações da aprendizagem. Quando a criança apresenta indícios deste tipo de
perturbação, o pediatra ou o médico de família deve primeiro avaliar os problemas médicos
da criança que possam afetar a sua capacidade para aprender e referenciar/encaminhar a
criança para outras avaliações que sejam necessárias. Estes médicos devem fornecer
informações e apoio junto dos pais relativamente a esta problemática e ao seu tratamento e
devem também ajudar a esclarecer os mitos associados a esta área. Os pais devem ser
informados, logo à partida, de que a dislexia é uma perturbação complexa, para a qual não
existe cura.
        Tendo em conta que são difíceis de compreender por parte do público em geral e
difíceis de tratar por parte dos professores e outros profissionais, as perturbações da
aprendizagem deram origem a uma grande quantidade de controvérsias e a tratamentos
alternativos sem suporte científico, incluindo a terapia visual. A evidência científica da
eficácia dos tratamentos propostos deve ser a base para as recomendações por parte dos
profissionais. Os tratamentos que têm um suporte científico inadequado ou insuficiente
devem ser desencorajados. Os métodos controversos, tais como a terapia visual, podem dar
aos pais e aos professores uma falsa sensação de segurança em relação aos progressos da
criança, podem esgotar os recursos da família e da escola e podem impossibilitar a existência
de uma reabilitação apropriada. Atualmente, não há evidência científica adequada que
suporte que os problemas visuais causam dificuldades de aprendizagem. Estatisticamente, as
crianças com dislexia têm a mesma função visual e saúde ocular que as crianças sem estas
condições. Tendo em consideração que os problemas visuais não abarcam a dislexia, as
abordagens construídas no sentido de aumentar a função visual através do treino são
enganadoras/erradas. Não há atualmente evidência de que as crianças que participam na
terapia visual obtenham mais sucesso educativo do que as crianças que não participam.
        A dislexia e as perturbações da aprendizagem são problemas complexos que não têm
soluções simples. A perspetiva atualmente mais aceite é a de que a dislexia é uma
perturbação que tem por base alterações na linguagem.




AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICAS et al – Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and
Vision. Pediatrics. Vol.124 (2009), p837-844.

                                  Traduzido e adaptado pela terapeuta da fala Ana Catarina Santos

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Joint Statement on Learning Disabilities, Dyslexia and Vision

  • 1. Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision (The American Academy of Pediatrics, 2009) Resumo As perturbações da aprendizagem, que incluem as dificuldades de leitura e escrita, são diagnosticadas com frequência na infância. As suas causas são multifatoriais, refletindo influências genéticas e disfunções cerebrais. As perturbações da aprendizagem são complexas e requerem soluções de igual complexidade. A maioria dos especialistas acredita que a dislexia é uma perturbação da linguagem. Os problemas de visão podem interferir no processo de aprendizagem, contudo não são a primeira causa da dislexia ou das perturbações da aprendizagem. A evidência científica não dá suporte à eficácia dos exercícios oculares e da terapia do comportamento da visão. Ler é um processo que consiste em extrair significado a partir de carateres simbólicos escritos. A dificuldade de ler e compreender o que é lido é o obstáculo mais significativo na aprendizagem, o que pode ter consequências educacionais, sociais e económicas a longo prazo. As dificuldades de aprendizagem também impedem as crianças de desenvolver todo o seu potencial noutras áreas. Elas podem causar dificuldades em ouvir, falar, ler, soletrar, escrever, concentrar, resolver problemas matemáticos e organizar a informação. Estas crianças podem ter também dificuldades nas competências sociais e na coordenação motora. As dificuldades de aprendizagem são frequentemente associadas e aumentadas por perturbações da hiperatividade e défice de atenção. As dificuldades de aprendizagem podem causar frustração, baixa autoestima e risco aumentado de problemas psicológicos e emocionais. A dislexia é uma perturbação primária da leitura e resulta de um processamento anormal da palavra lida em termos cerebrais. É caracterizada por dificuldades no reconhecimento fluente das palavras escritas e por capacidades reduzidas ao nível da soletração e da descodificação. Estas dificuldades são inesperadas relativamente às restantes capacidades cognitivas da criança. A dislexia tem sido descrita como tendo uma base genética forte. A dislexia pode ser moderada ou severa, surge em todo o mundo, parece afetar mais rapazes do que raparigas, afeta crianças com vários níveis de inteligência e persiste ao longo AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICAS et al – Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision. Pediatrics. Vol.124 (2009), p837-844. Traduzido e adaptado pela terapeuta da fala Ana Catarina Santos
  • 2. Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision (The American Academy of Pediatrics, 2009) da vida. É identificada precocemente em algumas pessoas, mas noutras já é identificada muito tarde quando são necessárias competências de leitura e de escrita mais complexas. A dislexia deve ser separada de outras formas secundárias de dificuldades de leitura causadas por perturbações visuais ou auditivas, défice cognitivo e défices na experiência educativa (dificuldades de “ensinagem”). Não nos devemos esquecer que as dificuldades precoces na leitura podem ser causadas por défices na experiência ou na instrução. O desenvolvimento da linguagem oral tem sido visto como tendo um papel muito importante na aprendizagem da leitura. Ao contrário da fala, a leitura e a escrita não se desenvolvem de forma natural e requerem uma aprendizagem ativa. Ler é mais difícil do que falar, porque a criança deve estar consciente da estrutura sonora da linguagem oral e em seguida utilizar o código alfabético para adquirir a correspondência grafema-fonema. A complexidade fonética da língua alfabética vai influenciar a prevalência da dislexia, apontando-se para a origem linguística desta perturbação. A leitura envolve a integração de múltiplos fatores relacionados com a experiência pessoal e o funcionamento neurológico. A maioria das pessoas com dislexia apresenta um défice neurobiológico no processamento da estrutura sonora da linguagem, a que se chama défice fonológico e que pode existir quando as restantes capacidades linguísticas estão intactas. As crianças com formas mais graves de dislexia podem ter um défice secundário na nomeação de letras, números e imagens, criando um défice duplo, podendo também apresentar problemas ao nível da atenção e na memória de trabalho. Outras crianças podem ter dificuldades de orientação, reconhecimento e memorização das combinações de letras. Estas dificuldades podem constituir uma perturbação neuromaturacional que aumenta com o desenvolvimento. Importa referir que a definição de dislexia não inclui a inversão de letras/ palavras ou a leitura/escrita em espelho, as quais costumam criar equívocos comuns nesta área. A maioria das crianças e adultos com perturbações da leitura revelam problemas diversificados em termos de linguagem que se devem a alterações nas funções cerebrais. Existe uma evidência científica sólida que suporta a base neurológica da teoria do défice fonológico nas perturbações da leitura. A leitura ocorre sobretudo no hemisfério esquerdo, incluindo o lobo frontal inferior, temporal superior, tempo-parietal, gyrus temporal medial e occipital medial nos leitores sem perturbações. As crianças com dislexia, por outro lado, usam áreas diferentes do cérebro AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICAS et al – Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision. Pediatrics. Vol.124 (2009), p837-844. Traduzido e adaptado pela terapeuta da fala Ana Catarina Santos
  • 3. Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision (The American Academy of Pediatrics, 2009) durante a leitura. As pessoas com dislexia demonstram uma disfunção no hemisfério posterior esquerdo (sistema de leitura) e manifestam um uso compensatório do gyrus frontal inferior de ambos os hemisférios e a área occipi-temporal direita. As pessoas com dislexia têm uma disfunção na análise das palavras, o que interfere com as suas capacidades para converter as palavras escritas em oralidade. A leitura exige capacidades visuais e neurológicas adequadas para identificar o que é visto. Embora a visão seja fundamental para a leitura, é o cérebro que interpreta as imagens observadas. Ao longo dos tempos, muitas teorias apontaram os defeitos no sistema visual como sendo a causa da dislexia. Hoje em dia, sabe-se que estas teorias estão incorretas. Há inúmeros estudos que comprovam que os défices no processamento visual (tais como na visualização, sequência visual, memória visual, perceção visual e capacidades percetivo- motoras) não constituem a causa de base das dificuldades de leitura. As inversões nas palavras e os “saltos” na leitura, que podem ser encontrados nos leitores com dislexia, são o resultado da perturbação linguística e não das perturbações visuais ou percetivas. Há registo de dificuldades de leitura específicas num pequeno subgrupo de pessoas com dislexia que é atribuído por alguns investigadores a défices no sistema magnocelular visual. O sistema visual engloba dois sistemas paralelos: o magnocelular e o parvocelular. O primeiro responde a frequências altas no lobo temporal e ao movimento dos objetos, ao passo que o segundo é sensível às frequências baixas e aos detalhes espaciais. Tem sido proposto que um défice no sistema magnocelular produz um traço anormal da distância visual que cria um efeito de mascaramento e provoca alterações na acuidade visual durante a leitura em algumas crianças com dislexia. Muitas investigações concluíram que os défices no sistema magnocelular não constituem a causa das perturbações específicas de leitura. Atualmente, não há evidências científicas suficientes para o tratamento deste possível défice. A dislexia não está assim correlacionada com o olho ou com alterações nos movimentos dos olhos. Inúmeros estudos mostram que as crianças com dislexia ou outras perturbações da aprendizagem apresentam o mesmo funcionamento visual e a mesma saúde ocular que as crianças sem estes problemas. A investigação tem, deste modo, mostrado que a maioria das perturbações de leitura não é causada por um funcionamento visual alterado. Quando na história familiar há perturbações da aprendizagem, os pais, professores e médicos devem estar atentos a esta possibilidade. Um historial de problemas no desenvolvimento da fala e da linguagem, na aprendizagem de ritmos ou no reconhecimento AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICAS et al – Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision. Pediatrics. Vol.124 (2009), p837-844. Traduzido e adaptado pela terapeuta da fala Ana Catarina Santos
  • 4. Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision (The American Academy of Pediatrics, 2009) de letras e da correspondência entre os sons e as letras podem ser sinais precoces de dislexia. Os pais e/ou os professores devem identificar os sinais precoces de dificuldades de aprendizagem nas crianças em idade pré-escolar. Contudo, na maioria dos casos, estas dificuldades não são descobertas até que as crianças revelem dificuldades académicas no decorrer do 1º ciclo. Uma vez que a recuperação é mais eficaz durante os anos mais precoces, o diagnóstico precoce é muito importante. O efeito da dislexia é diferente em função da pessoa e depende da sua gravidade, da eficácia da reabilitação e das oportunidades de educação/intervenção. Atendendo ao facto de a dislexia ser uma perturbação linguística, o seu tratamento deve incidir diretamente nesta etiologia. Os estudos longitudinais indicam que os resultados da instrução que incide na fonologia são mais favoráveis para os leitores com perturbações do que uma abordagem global ao nível da linguagem. Os programas de reabilitação devem incluir um ensino específico ao nível da descodificação, fluência, vocabulário e compreensão. A abordagem da aprendizagem das capacidades de descodificação começa com o ensino explícito do reconhecimento dos sons orais (consciência fonológica), a consciência do ritmo, a aprendizagem do código alfabético, a memorização das palavras escritas, o estudo dos sons e a soletração. Uma criança deve primeiro ser capaz de descodificar a palavra antes de ser capaz de a ler de forma fluente. A criança deve ler para os pais em casa diariamente para praticar a descodificação, a memorização de novas palavras escritas e desenvolver uma maior fluência através da leitura de palavras previamente descodificadas e memorizadas. A fluência constitui a ponte entre a descodificação e a compreensão. A compreensão é desenvolvida através do treino da fluência, do aumento do vocabulário e da compreensão ativa da leitura. As técnicas que aumentam a compreensão ativa da leitura incluem a predição, o resumo, a visualização, a clarificação, o pensamento crítico, a realização de inferências e a extração de conclusões. Uma vez que as pessoas com dislexia têm problemas persistentes e continuam a apresentar uma leitura lenta ao longo da vida, pode ser necessário efetuar acomodações e modificações para além da reabilitação propriamente dita. Alguns exemplos de acomodações são: tempo extra nas tarefas, realização de trabalhos mais curtos, realização de testes em salas isoladas e com um ambiente calmo, testes de escolha múltipla, uso de computadores, corretores ortográficos, utilização dos apontamentos das aulas, gravadores, livros gravados, etc. AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICAS et al – Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision. Pediatrics. Vol.124 (2009), p837-844. Traduzido e adaptado pela terapeuta da fala Ana Catarina Santos
  • 5. Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision (The American Academy of Pediatrics, 2009) O diagnóstico e o tratamento das perturbações de aprendizagem dependem da colaboração de uma vasta equipa, a qual pode incluir: educadores/professores do ensino regular, professores de educação especial, audiologistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, especialistas em questões do funcionamento visual, psicólogos, terapeutas da fala e médicos. As crianças com perturbações da aprendizagem devem ser avaliadas no que respeita à saúde em geral, desenvolvimento, audição e visão e, quando necessário, devem ser submetidas a intervenções médicas ou no âmbito da psicologia para o tratamento das condições associadas que podem ser alvo de recuperação. Uma avaliação formal das dificuldades de aprendizagem deve incluir as seguintes áreas: cognição, funções da memória, atenção, processamento da informação, processamento psicolinguístico, linguagem recetiva e expressiva, competências académicas, desenvolvimento sócio-emocional e comportamento adaptativo. Estes resultados são depois usados no Programa Educativo Individual (PEI) da criança. Os audiologistas devem identificar dificuldades de audição. Os terapeutas da fala devem avaliar e tratar as dificuldades da linguagem oral subjacentes e frequentemente associadas à dislexia e ajudar as crianças no treino da consciência fonológica. Os fisioterapeutas e os terapeutas ocupacionais não tratam a dislexia diretamente mas podem intervir nas dificuldades de motricidade fina e grossa ou em problemas sensoriais que podem estar associados à perturbação da aprendizagem. O papel dos pais na educação destas crianças é fundamental. As famílias com historial de dislexia devem estar atentas às crianças desde a existência dos problemas de linguagem mais precoces. Depois de haver um diagnóstico de perturbação da aprendizagem, deve ser elaborado o plano individual de intervenção para a criança. Os pais devem trabalhar em conjunto com os professores no sentido de assegurar que a escola fornece as respostas apropriadas à criança. As crianças com dislexia devem ler junto dos seus pais de forma frequente. Os pais devem ajudá-las com a prática e o reforço em casa, num ambiente de apoio e de suporte, contribuindo para a criação de oportunidades de participação nas atividades em que a criança se destaca pela positiva. À medida que a criança cresce, os pais devem ajudá-la a utilizar estratégias de aprendizagem alternativas (ex: computadores). Devido à natureza complexa das dificuldades de aprendizagem (incluindo a dislexia), não há remédios simples. Ensinar estas crianças pode ser um desafio constante para pais e AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICAS et al – Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision. Pediatrics. Vol.124 (2009), p837-844. Traduzido e adaptado pela terapeuta da fala Ana Catarina Santos
  • 6. Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision (The American Academy of Pediatrics, 2009) professores. Com a reabilitação apropriada, acomodações e apoio, as crianças com dislexia e outras perturbações da aprendizagem podem obter sucesso. Os médicos (pediatras, médicos de família, otorrinolaringologistas, neurologistas, oftalmologistas e profissionais de saúde mental) devem participar no percurso das crianças com perturbações da aprendizagem. Quando a criança apresenta indícios deste tipo de perturbação, o pediatra ou o médico de família deve primeiro avaliar os problemas médicos da criança que possam afetar a sua capacidade para aprender e referenciar/encaminhar a criança para outras avaliações que sejam necessárias. Estes médicos devem fornecer informações e apoio junto dos pais relativamente a esta problemática e ao seu tratamento e devem também ajudar a esclarecer os mitos associados a esta área. Os pais devem ser informados, logo à partida, de que a dislexia é uma perturbação complexa, para a qual não existe cura. Tendo em conta que são difíceis de compreender por parte do público em geral e difíceis de tratar por parte dos professores e outros profissionais, as perturbações da aprendizagem deram origem a uma grande quantidade de controvérsias e a tratamentos alternativos sem suporte científico, incluindo a terapia visual. A evidência científica da eficácia dos tratamentos propostos deve ser a base para as recomendações por parte dos profissionais. Os tratamentos que têm um suporte científico inadequado ou insuficiente devem ser desencorajados. Os métodos controversos, tais como a terapia visual, podem dar aos pais e aos professores uma falsa sensação de segurança em relação aos progressos da criança, podem esgotar os recursos da família e da escola e podem impossibilitar a existência de uma reabilitação apropriada. Atualmente, não há evidência científica adequada que suporte que os problemas visuais causam dificuldades de aprendizagem. Estatisticamente, as crianças com dislexia têm a mesma função visual e saúde ocular que as crianças sem estas condições. Tendo em consideração que os problemas visuais não abarcam a dislexia, as abordagens construídas no sentido de aumentar a função visual através do treino são enganadoras/erradas. Não há atualmente evidência de que as crianças que participam na terapia visual obtenham mais sucesso educativo do que as crianças que não participam. A dislexia e as perturbações da aprendizagem são problemas complexos que não têm soluções simples. A perspetiva atualmente mais aceite é a de que a dislexia é uma perturbação que tem por base alterações na linguagem. AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICAS et al – Joint Statement – Learning Disabilities, Dyslexia and Vision. Pediatrics. Vol.124 (2009), p837-844. Traduzido e adaptado pela terapeuta da fala Ana Catarina Santos