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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO)
      CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE                      PRIMEIRA VERSÃO
                                                               ISSN 1517-5421      lathé biosa   10
          PRIMEIRA VERSÃO
        ANO I, Nº10 julho - PORTO VELHO, 2001
                         VOLUME I

                       ISSN 1517-5421


                         EDITOR
                   NILSON SANTOS


                 CONSELHO EDITORIAL
            ALBERTO LINS CALDAS - História
             ARNEIDE CEMIN - Antropologia
            FABÍOLA LINS CALDAS - História
         JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL - Geografia
                MIGUEL NENEVÉ - Letras
            VALDEMIR MIOTELLO - Filosofia

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                                                                          O SONHO NO EXÍLIO
                     nilson@unir.br

                     CAIXA POSTAL 775
                     CEP: 78.900-970
                      PORTO VELHO-RO
                                                                                       CARLOS MOREIRA


                TIRAGEM 150 EXEMPLARES

      EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA                                   αΩ
Carlos Moreira                                                                                                           O SONHO NO EXÍLIO
       Poeta
       caixadesilencio@yahoo.com.br




       Não estamos mais no fundo do poço: estamos mordendo o fundo para ver onde vai dar. E não nos espantamos com o sangue e os dentes que vamos
deixando para trás, como se nossos dentes e sangues fossem eternos, como se nossa paciência fosse eterna, como se fôssemos eternos. Está quase tudo morto
dentro e fora desta universidade, e não adianta culpar a instituição – que é virtual – nem a realidade social – que é irreal – nem o país – que é surreal. A maioria
está morta por dentro, está morta burramente e já há algum tempo. Não sei se a universidade é reflexo desta cidade (mesmo sendo apenas conceitual) ou se a
cidade é o reflexo da universidade. Mas pouco importa. São o mesmo território morno, a mesma cidadela de cegos e leprosos. E parece não haver água que nos
livre desse mal. Há em todas as consciências o cartaz amarelo que diz que é proibido sonhar. E há na maioria dos professores desta Casa de Mortos a recriminação
tácita por alguém existir, e há nos olhares dos alunos a memória vaga de um mundo que poderia ter sido mais inteligente. Há um tédio mortal de deserto fedorento
entre as salas mal iluminadas de consciências e entre os vultos mal arrumados de funcionários apenas públicos que dominaram o espaço. Mas é a mesma cena
estúpida que se vê pelas ruas e salas e rodas de conversa desta cidade. Se uma guerra se avizinhasse, se o meteoro já despontasse no céu, vá lá. Mas não. Pura
mediocridade aceita como calma, burrice institucionalizada que se aceita como empáfia. Enquanto escrevo isto há meia-dúzia de pseudo-literatos discutindo nos
pombais universitários o sexo dos pronomes e a geometria rubra e cansada da nova poesia velha. Falo de literatura porque é dela que posso falar e dela falando
falo de tudo ao mesmo tempo. Porque não nos cansamos dessa falta de vergonha e não jogamos mais abertamente? Porque não soltamos nossa verborragia na
estrada e na ponte e no rio e dizemos a que viemos a este mundo curioso? Não. A falta de existência, de leitura, reflexão e diálogo da maioria impede qualquer
salto, e eles continuarão lá em seus círculos insípidos fingindo ser grande merda institucionalizada e que só por isso os alunos devem ouvi-los e segui-los. Mas é
possível negar a ordem de seu discurso. Há muito por se conversar e ser, há muito por ser dito. Há tudo por ser dito, e se já o foi é nossa vez de dizê-lo, mal dito.
O que está sendo feito que escape da mediocridade explícita? É preciso dar nomes aos bois? Vamos lá. Que movimento há no momento que gere qualquer tentativa
de reflexão na universidade ou fora dela? Escrevi com mais dois ou três sujeitos de coragem um manifesto há dois anos e por dois anos tentamos dialogar pelos
jornais da cidade, tentando criar o Leitor, o novo leitor, capaz de novas aventuras e descobertas, mais corajoso e livre que essa horrível média consumidora de
livros de enredos de apartamentos de classe média e poesia fácil fóssil flácida flatulenta e falsária. O que conseguimos? Afastar mais ainda esses candidatos a
leitores. Que crítico percebeu existir nascendo aqui uma concepção forte de literatura que dialogava com os melhores momentos dos últimos mil anos de palavra?
Mas se quiserem, podemos falar de outras áreas da criação. Vamos falar da pintura que, salvo Joesér Alvarez e Carlos Ruiz, não passa de pastiche do rupestre e
artesanato das matas peladas destas terras. Nossos pintores morrerão de fome, logo em breve. Até aí tudo bem. Não fosse Theo, Van Gogh também teria. O



                                                                                                                                             ISSN 1517 - 5421       2
problema maior é que ninguém por aqui, exceto os mesmos criadores, parecem sem capazes de enxergar os girassóis desses malucos de deus. Como podem não
ser capazes de mesmo a distância não reconhecer a estatura de um quadro alvariano, sua angústia e sua cor? A música então, melhor o silêncio. Nortista,
amazônida, aquática e todo o resto que os analfabetos auditivos quiserem denominar. Nada, quase nada. Pirarucus anêmicos que deveriam tomar nas memoráveis
últimas sílabas de seus nomes. Nada contra peixes. Principalmente à mesa. Mas sua barbatana e dimensão não combinam com a pirâmide e veneno da música que
eu sonho. E já houve por aqui quem fosse capaz de fazê-la. Gláucio, parceiro de sempre, rendeu-se a imagem da própria cabeça na mesa dos outros. Foi boicotado
por todos os lados e agora vai embora com o violão entre as pernas como se não fosse o criador musical do Caixa de Silêncio, na opinião unânime dos que de fato
importam, a coisa mais original e revolucionária que já se fez por aqui em termos de performance musical. Apresentado só uma vez e assistido por pouco mais de
duzentas pessoas, não passa agora de mito e memória. Gláucio é o sujeito com menos técnica e mais liberdade que conheço. É o Jorge Ben daqui e quase ninguém
ouviu. Problema nosso. Alberto ainda será considerado o maior ficcionista do seu tempo, mas você não sabe. Rubens Vaz Cavalcante (Binho), que enquanto músico
não escapou do mapa, enquanto poeta é dos melhores do país na atualidade, está aí, sendo ignorado tacitamente. Quase todos têm vínculo com a universidade e
são todos ruidosamente esquecidos. Por que não estão nos colóquios discutindo literatura e arte? Qual o medo? Durante a fase da guerrilha nos jornais um grupo
de jovens poetas partiu para a briga na outra frente. Pois bem. Há dois meses que se aproximaram tentando um diálogo, abrindo e forçando aberturas na
discussão, o que só prova o amadurecimento de suas idéias. Mas do lado acadêmico, nada. Nem um ovo. Nem uma pedra falsa, apenas risos e arrotos discretos. Se
a universidade se furtar ao seu papel de arena e campo de criação não restará muito. É preciso exercer este papel, o do brigão, a tarefa de irritar, provocar, chamar
à briga. Não esse fascismo de donas de casa, não essa leiturazinha idiota, não esses artiguinhos de jornais escritos por descerebrados, não esse cheiro de
clorofórmio que sinto ao entrar pelos portões de vosso templo. Estou cansado da calmaria, e se puder vou para o Japão, para Verona, para São Paulo, para o
Inferno. Mas não fico por aqui. Não quero mais saber da burrice. Não me importa muito o destino sempre igual de todos, funcionários da covardia nacional. Já fui
aluno e pouco devo além da certeza do que não ser. Como artista acredito que só não nos matam e prendem e curram a todos por falta de oportunidade. Pura falta
momentânea de poder. Fosse como no caso de Lorca na guerra civil espanhola e os únicos criadores, as únicas antenas dessa tribo seriam derrubadas, cada um
enterrado em sua vala comum com uma bala vagabunda na cabeça. Não morro mais. Agora só faço poesia, mesmo aqui, nesta verborragia santa. Mas se escrevo é
porque ainda acredito que algo ou alguém ainda poderá mudar, que se escrevo e publico alguém de daqui a duzentos anos pode achar a coisa toda ainda muito
válida e sorrir e dizer que é isso mesmo, que se aquelas antas de um lugar qualquer do início de seu terceiro milênio não aproveitaram a vida, eles não devem
cometer a mesma gafe, porque o tempo não pára e apesar de tudo estamos vivos. É para o outro que escrevo. Lavo minha pena de vossa tinta e peço outro café.
Sou um jovem muito velho para os meus vinte e sete anos e não quero morrer amargo. Mas que há muita burrice por ser combatida, isso há. E se ainda há espaço
como este aberto para a cicuta que carregamos então ele deve ser utilizado até o fim, até que os piores se juntem e calem a boca do artista e comecem a ditar as
mesmas regras de sempre. Ainda há sonho, mas não sei se há saída. Sei apenas que a raiva deve existir para romper e libertar e que somos aquilo que nos



                                                                                                                                             ISSN 1517 - 5421       3
fazemos, que podemos ser o que quisermos, e que nossa liberdade tem por único limite não destruir o outro. A vida ainda está cheia de vida, é compacta e visível.
Mas antes que esteja triunfalmente morto preciso saber sonhar, mesmo que seja numa paisagem desgraçadamente feia como a que se insiste em pintar. E daí?
Ainda há Beethoven e Jorge e Gláucio, Gogh, Ruiz e Alvarez, Borges, Dante e Alberto, Arnaldo, Rilke e Rubens, eu e todos os que quiserem existir. Eu quero. E
quem sabe talvez no fundo do sonho a gente descubra que o fosso na verdade era a mina e que o oura nos espera com seu sorriso amarelo e sua voz de soprano?




                                                       WHEN I HEARD THE LEARNED ASTRONOMER


                                                              Quando ouvi o douto astrônomo
                                             Quando me apresentaram em colunas as provas e os algarismos
                                  Quando me assinalaram os mapas e os diagramas para medir, para dividir e somar
                             Quando desde a minha cadeira ouvi o astrônomo que dissertava muito aplaudido na cátedra
                                                     Quão subitamente me senti aturdido e enfastiado
                                                  Até que esgueirando-me para fora me afastei sozinho
                                                    No úmido ar místico da noite e de tempo em tempo
                                                           Olhei em perfeito silêncio as estrelas.


                                                                       Whalt Whitman




                                                                                                                                         ISSN 1517 - 5421       4
VITRINE
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                                                                              www.alberguesp.com.br

                                 Michel Haar                                  Deleuze
                                    Difel                                     www.imaginet.fr

                                                                              Centro Brasileiro de Filosofia Para Crianças
RESUMO: De Platão a Heidegger, a filosofia interessou-se menos pelas          http://www.cbfc.com.br
obras em si do que pela questão de saber se a arte pode dizer a verdade.
Duas razões retardaram assim uma verdadeira ontologia das obras: de um        Salvador Dali
lado, a condenação platônica da arte – que deu primazia ao conteúdo           www.highwayone.com/dali/daliweb.html
inteligível sobre a forma sensível – , do outro, o nascimento da estética –
                                                                              Diccionario de Latim
que deu ênfase ao estado afetivo do espectador ou do artista. Foi com
Heidegger e Merleau-Ponty que uma filosofia da arte se tornou realmente       www.jurinfor.pt/latin/latim.html
possível. Mas se esta nos permite hoje receber melhor a obra, poderá
igualmente dar-se conta de seu fascinante enigma?                             Museu do Egito
                                                                              www.egito.com/museu/index.html

                                                                              Telescópio Hubble
SUMÁRIO: Arte ou Verdade; A Superioridade da Natureza sobre a Arte; A         www.heritage.stsci.edu
Época da Metafísica da Arte; Fisiologia da Arte; Elaboração da Verdade; Pro
uma Fenomenologia da Arte.                                                    SBPC
                                                                              www.sbpcnet.org.br

                                                                              Museu Pessoa
Áreas de interesse: Filosofia, Estética, Arte.                                www.2.uol.com.br/mpessoa

                                                                              IDG
Palavras-chave: Arte, Estética, obras de arte, Ontologia da Arte.             www.idgnow.com.br




                                                                                                                             ISSN 1517 - 5421   5
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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE PRIMEIRA VERSÃO ISSN 1517-5421 lathé biosa 10 PRIMEIRA VERSÃO ANO I, Nº10 julho - PORTO VELHO, 2001 VOLUME I ISSN 1517-5421 EDITOR NILSON SANTOS CONSELHO EDITORIAL ALBERTO LINS CALDAS - História ARNEIDE CEMIN - Antropologia FABÍOLA LINS CALDAS - História JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL - Geografia MIGUEL NENEVÉ - Letras VALDEMIR MIOTELLO - Filosofia Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows” deverão ser encaminhados para e-mail: O SONHO NO EXÍLIO nilson@unir.br CAIXA POSTAL 775 CEP: 78.900-970 PORTO VELHO-RO CARLOS MOREIRA TIRAGEM 150 EXEMPLARES EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA αΩ
  • 2. Carlos Moreira O SONHO NO EXÍLIO Poeta caixadesilencio@yahoo.com.br Não estamos mais no fundo do poço: estamos mordendo o fundo para ver onde vai dar. E não nos espantamos com o sangue e os dentes que vamos deixando para trás, como se nossos dentes e sangues fossem eternos, como se nossa paciência fosse eterna, como se fôssemos eternos. Está quase tudo morto dentro e fora desta universidade, e não adianta culpar a instituição – que é virtual – nem a realidade social – que é irreal – nem o país – que é surreal. A maioria está morta por dentro, está morta burramente e já há algum tempo. Não sei se a universidade é reflexo desta cidade (mesmo sendo apenas conceitual) ou se a cidade é o reflexo da universidade. Mas pouco importa. São o mesmo território morno, a mesma cidadela de cegos e leprosos. E parece não haver água que nos livre desse mal. Há em todas as consciências o cartaz amarelo que diz que é proibido sonhar. E há na maioria dos professores desta Casa de Mortos a recriminação tácita por alguém existir, e há nos olhares dos alunos a memória vaga de um mundo que poderia ter sido mais inteligente. Há um tédio mortal de deserto fedorento entre as salas mal iluminadas de consciências e entre os vultos mal arrumados de funcionários apenas públicos que dominaram o espaço. Mas é a mesma cena estúpida que se vê pelas ruas e salas e rodas de conversa desta cidade. Se uma guerra se avizinhasse, se o meteoro já despontasse no céu, vá lá. Mas não. Pura mediocridade aceita como calma, burrice institucionalizada que se aceita como empáfia. Enquanto escrevo isto há meia-dúzia de pseudo-literatos discutindo nos pombais universitários o sexo dos pronomes e a geometria rubra e cansada da nova poesia velha. Falo de literatura porque é dela que posso falar e dela falando falo de tudo ao mesmo tempo. Porque não nos cansamos dessa falta de vergonha e não jogamos mais abertamente? Porque não soltamos nossa verborragia na estrada e na ponte e no rio e dizemos a que viemos a este mundo curioso? Não. A falta de existência, de leitura, reflexão e diálogo da maioria impede qualquer salto, e eles continuarão lá em seus círculos insípidos fingindo ser grande merda institucionalizada e que só por isso os alunos devem ouvi-los e segui-los. Mas é possível negar a ordem de seu discurso. Há muito por se conversar e ser, há muito por ser dito. Há tudo por ser dito, e se já o foi é nossa vez de dizê-lo, mal dito. O que está sendo feito que escape da mediocridade explícita? É preciso dar nomes aos bois? Vamos lá. Que movimento há no momento que gere qualquer tentativa de reflexão na universidade ou fora dela? Escrevi com mais dois ou três sujeitos de coragem um manifesto há dois anos e por dois anos tentamos dialogar pelos jornais da cidade, tentando criar o Leitor, o novo leitor, capaz de novas aventuras e descobertas, mais corajoso e livre que essa horrível média consumidora de livros de enredos de apartamentos de classe média e poesia fácil fóssil flácida flatulenta e falsária. O que conseguimos? Afastar mais ainda esses candidatos a leitores. Que crítico percebeu existir nascendo aqui uma concepção forte de literatura que dialogava com os melhores momentos dos últimos mil anos de palavra? Mas se quiserem, podemos falar de outras áreas da criação. Vamos falar da pintura que, salvo Joesér Alvarez e Carlos Ruiz, não passa de pastiche do rupestre e artesanato das matas peladas destas terras. Nossos pintores morrerão de fome, logo em breve. Até aí tudo bem. Não fosse Theo, Van Gogh também teria. O ISSN 1517 - 5421 2
  • 3. problema maior é que ninguém por aqui, exceto os mesmos criadores, parecem sem capazes de enxergar os girassóis desses malucos de deus. Como podem não ser capazes de mesmo a distância não reconhecer a estatura de um quadro alvariano, sua angústia e sua cor? A música então, melhor o silêncio. Nortista, amazônida, aquática e todo o resto que os analfabetos auditivos quiserem denominar. Nada, quase nada. Pirarucus anêmicos que deveriam tomar nas memoráveis últimas sílabas de seus nomes. Nada contra peixes. Principalmente à mesa. Mas sua barbatana e dimensão não combinam com a pirâmide e veneno da música que eu sonho. E já houve por aqui quem fosse capaz de fazê-la. Gláucio, parceiro de sempre, rendeu-se a imagem da própria cabeça na mesa dos outros. Foi boicotado por todos os lados e agora vai embora com o violão entre as pernas como se não fosse o criador musical do Caixa de Silêncio, na opinião unânime dos que de fato importam, a coisa mais original e revolucionária que já se fez por aqui em termos de performance musical. Apresentado só uma vez e assistido por pouco mais de duzentas pessoas, não passa agora de mito e memória. Gláucio é o sujeito com menos técnica e mais liberdade que conheço. É o Jorge Ben daqui e quase ninguém ouviu. Problema nosso. Alberto ainda será considerado o maior ficcionista do seu tempo, mas você não sabe. Rubens Vaz Cavalcante (Binho), que enquanto músico não escapou do mapa, enquanto poeta é dos melhores do país na atualidade, está aí, sendo ignorado tacitamente. Quase todos têm vínculo com a universidade e são todos ruidosamente esquecidos. Por que não estão nos colóquios discutindo literatura e arte? Qual o medo? Durante a fase da guerrilha nos jornais um grupo de jovens poetas partiu para a briga na outra frente. Pois bem. Há dois meses que se aproximaram tentando um diálogo, abrindo e forçando aberturas na discussão, o que só prova o amadurecimento de suas idéias. Mas do lado acadêmico, nada. Nem um ovo. Nem uma pedra falsa, apenas risos e arrotos discretos. Se a universidade se furtar ao seu papel de arena e campo de criação não restará muito. É preciso exercer este papel, o do brigão, a tarefa de irritar, provocar, chamar à briga. Não esse fascismo de donas de casa, não essa leiturazinha idiota, não esses artiguinhos de jornais escritos por descerebrados, não esse cheiro de clorofórmio que sinto ao entrar pelos portões de vosso templo. Estou cansado da calmaria, e se puder vou para o Japão, para Verona, para São Paulo, para o Inferno. Mas não fico por aqui. Não quero mais saber da burrice. Não me importa muito o destino sempre igual de todos, funcionários da covardia nacional. Já fui aluno e pouco devo além da certeza do que não ser. Como artista acredito que só não nos matam e prendem e curram a todos por falta de oportunidade. Pura falta momentânea de poder. Fosse como no caso de Lorca na guerra civil espanhola e os únicos criadores, as únicas antenas dessa tribo seriam derrubadas, cada um enterrado em sua vala comum com uma bala vagabunda na cabeça. Não morro mais. Agora só faço poesia, mesmo aqui, nesta verborragia santa. Mas se escrevo é porque ainda acredito que algo ou alguém ainda poderá mudar, que se escrevo e publico alguém de daqui a duzentos anos pode achar a coisa toda ainda muito válida e sorrir e dizer que é isso mesmo, que se aquelas antas de um lugar qualquer do início de seu terceiro milênio não aproveitaram a vida, eles não devem cometer a mesma gafe, porque o tempo não pára e apesar de tudo estamos vivos. É para o outro que escrevo. Lavo minha pena de vossa tinta e peço outro café. Sou um jovem muito velho para os meus vinte e sete anos e não quero morrer amargo. Mas que há muita burrice por ser combatida, isso há. E se ainda há espaço como este aberto para a cicuta que carregamos então ele deve ser utilizado até o fim, até que os piores se juntem e calem a boca do artista e comecem a ditar as mesmas regras de sempre. Ainda há sonho, mas não sei se há saída. Sei apenas que a raiva deve existir para romper e libertar e que somos aquilo que nos ISSN 1517 - 5421 3
  • 4. fazemos, que podemos ser o que quisermos, e que nossa liberdade tem por único limite não destruir o outro. A vida ainda está cheia de vida, é compacta e visível. Mas antes que esteja triunfalmente morto preciso saber sonhar, mesmo que seja numa paisagem desgraçadamente feia como a que se insiste em pintar. E daí? Ainda há Beethoven e Jorge e Gláucio, Gogh, Ruiz e Alvarez, Borges, Dante e Alberto, Arnaldo, Rilke e Rubens, eu e todos os que quiserem existir. Eu quero. E quem sabe talvez no fundo do sonho a gente descubra que o fosso na verdade era a mina e que o oura nos espera com seu sorriso amarelo e sua voz de soprano? WHEN I HEARD THE LEARNED ASTRONOMER Quando ouvi o douto astrônomo Quando me apresentaram em colunas as provas e os algarismos Quando me assinalaram os mapas e os diagramas para medir, para dividir e somar Quando desde a minha cadeira ouvi o astrônomo que dissertava muito aplaudido na cátedra Quão subitamente me senti aturdido e enfastiado Até que esgueirando-me para fora me afastei sozinho No úmido ar místico da noite e de tempo em tempo Olhei em perfeito silêncio as estrelas. Whalt Whitman ISSN 1517 - 5421 4
  • 5. VITRINE SUGESTÃO DE LEITURA LINKS Caravaggio – MASP www.caravaggio.com/index.html A OBRA DE ARTE: Ensaio Sobre a Ontologia das Obras Albergue da Juventude www.alberguesp.com.br Michel Haar Deleuze Difel www.imaginet.fr Centro Brasileiro de Filosofia Para Crianças RESUMO: De Platão a Heidegger, a filosofia interessou-se menos pelas http://www.cbfc.com.br obras em si do que pela questão de saber se a arte pode dizer a verdade. Duas razões retardaram assim uma verdadeira ontologia das obras: de um Salvador Dali lado, a condenação platônica da arte – que deu primazia ao conteúdo www.highwayone.com/dali/daliweb.html inteligível sobre a forma sensível – , do outro, o nascimento da estética – Diccionario de Latim que deu ênfase ao estado afetivo do espectador ou do artista. Foi com Heidegger e Merleau-Ponty que uma filosofia da arte se tornou realmente www.jurinfor.pt/latin/latim.html possível. Mas se esta nos permite hoje receber melhor a obra, poderá igualmente dar-se conta de seu fascinante enigma? Museu do Egito www.egito.com/museu/index.html Telescópio Hubble SUMÁRIO: Arte ou Verdade; A Superioridade da Natureza sobre a Arte; A www.heritage.stsci.edu Época da Metafísica da Arte; Fisiologia da Arte; Elaboração da Verdade; Pro uma Fenomenologia da Arte. SBPC www.sbpcnet.org.br Museu Pessoa Áreas de interesse: Filosofia, Estética, Arte. www.2.uol.com.br/mpessoa IDG Palavras-chave: Arte, Estética, obras de arte, Ontologia da Arte. www.idgnow.com.br ISSN 1517 - 5421 5
  • 6. ISSN 1517 - 5421 6