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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO)
      CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE                      PRIMEIRA VERSÃO                         65
          PRIMEIRA VERSÃO                                       ISSN 1517-5421          lathé biosa

    ANO II, Nº65 - SETEMBRO - PORTO VELHO, 2002
                         VOLUME V
                       ISSN 1517-5421


                         EDITOR

                   NILSON SANTOS

                 CONSELHO EDITORIAL
            ALBERTO LINS CALDAS - História
             ARNEIDE CEMIN - Antropologia
                ARTUR MORETTI - Física
               CELSO FERRAREZI - Letras
            FABÍOLA LINS CALDAS - História
         JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia
        MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação
               MARIO COZZUOL - Biologia
                MIGUEL NENEVÉ - Letras
            VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia


Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times         O HUMANO COMO INSÍGNIA
New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows”
           deverão ser encaminhados para e-mail:

                     nilson@unir.br
                                                                                 EDILANIA ARRUDA ROSENDO
                     CAIXA POSTAL 775
                     CEP: 78.900-970
                      PORTO VELHO-RO

                TIRAGEM 200 EXEMPLARES

      EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
Edilania Arruda Rosendo                                                                                                   O HUMANO COMO INSÍGNIA
        Aluna do Mestrado em Ciências Humanas - UFRO
        e-arruda@ig.com.br


        Numa perspectiva foucaultiana, o discurso homem, tecido secular construído no limite imaginário das mais distintas épocas, materialidade que se faz
paradoxalmente palpável e intocável, que se crê existente e, em essência, é por toda a sua extensão, personagem na arte da representação.
        O descendente genético nasce, perpetuando a espécie, despido da cadeia cultural que, mais tarde, lhe transformará homem/mulher, negro/branco, pobre/rico,
magro/gordo dentre outras polaridades e que não cessará de transformar-se, lapidar-se.
        Indivíduo histórico que, ao longo de sua invenção social, sofrerá sujeição física, neural e cultural das científicas sínteses, textualmente articuladas, para
ordenar sua projetada existência. Modelagem que não aceita resistências para resultar em uma efetiva aceitação coletiva.
        No processo de maturidade deste ser vivo perpassa a educação pelos sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar), que serão friccionados, estimulados a
funcionar e a se constituírem em instrumentos de comunicação e compreensões sobre tudo que será gerado, reproduzido, circulado, comercializado, etc.
        Gene, que se formatará gente, materialidade de um devir, invólucro de um coexistir. Será um estatuto jurídico, terá um nome, um número e o que lhe virá?
que papel ocupará na sociedade civilizada? será um professor? um advogado? um poeta? um internauta? um gari? um marginal? um sonhador? um construtor? um
vencedor ou um vencido?
        Ser sexuado que será enquadrado, rotulado, carimbado, tachado, fichado, discriminado e em quais redes se embalará? Homo? etero? Bi? Pan? Ou trans? o
desafio está posto: sobrepor-se na dor e na delícia de ousar viver o que se deseja chegar a ser. O que se sabe é que desse animal se espera uma conduta contínua e
cartesianamente racional: deve crescer, produzir, reproduzir, consumir e partir.
        Assim, a vida se fecha em seu círculo. Círculo que se reinicia na fissura dos outros devires, por ser a própria vida natureza e naturalizada na confluência de sua
força, no rompante de seus acontecimentos, nas marcas de sua temporalidade, nas margens de sua exclusão. Vida recriada na dinâmica de reelaboração do vivido,
mas também no afã de tudo que inspira a vontade de renovação, enxertando com sangue novo o que não passaria de repetição. Mas nesse refazer-se, a ditadura do
humano ensinará o nascido a andar, a sofrer, a ler, a comer, a estudar, a sonhar, a reprimir-se, a trabalhar, a obedecer e o conduzirá ao fim último de sua tradição:
amar. E amando o futebol, o romance e os ídolos, viverá o delírio de sua fome, que para uns será de comida, de dignidade, de cultura; para outros, além disso, será
de carros, de propriedades, de banalidades; para terceiros, de poder, de dinheiro e de mandato.




                                                                                                                                                                        2
Envolvido nas alucinantes imagens do sacerdote virtual (TV), será guiado num jogo visual, ao culto único do deus capital que, reconfortantemente, fará tudo
lhe parecer redondo e, penetrando nos recônditos de sua consciência, ofertar-lhe-á ares de modernidade, alisando o ego do já tão amansado ser que, sem se
reconhecer dominado, não quer, não pode nem lutará por liberdade.
        Assim, os ferretes do escravismo neoliberal saíram da tez e desfilam nas vestes que autorizam a circulação, aceitação e identidade social. E vão-se a Nike, a
Zoomp, a Microsoft, a Mastercard e tantos outros, ocupando o imaginário e o cartão postal vocabular do corpo e do que se pensa humano. Gostaria de tocar nesta
região que se desvela como corpo textualizado, ritualizado de um dentro e de um fora. Um fora que se faz vitrine da nudez suplicante de movimento, posse, consumo.
Um corpo que dialoga com um corpus social, que produz e consome, que passivamente se nomina no jogo cultural dos invólucros masculino/feminino.
        Um corpo que se genitaliza, nos pacotes moldados do ser homem, que se brutaliza e ser mulher, que se fragiliza; imagens mutuamente naturalizadas na
incondicional educação para a diferença, fronteiras do instituído fálico poder (para eles) e subserviência (para elas). E se dialetizam, Id e ego, por entre o liberado e o
reprimido, superfície e profundidade; polaridades do humano que se dualizam entre rg's e cpf's despersonalizados entre imposições, proibições e repressões, as quais
libertinamente lutam contra o lugar-comum de suas epetições/condenações/punições.
        Espectadores de imagens e de sentidos, um rosto, um toque, um poema, uma pluma, outra formatação. Tecido interiorizado, psicologizado. Devir que se cala,
inconsiência que se corporifica, coisifica-se. E, no entanto, essa tênue linha de visibilidade o envolve numa rede complexa de incertezas edipianas, jocastianas, cristãs,
elementares e culturalmente humanas. Complexos, estresses e divãs, e tudo ou se explica ou se pira - sem nexos a coisa se complica. Hipertexto de consumos:
provetas e clones, sumos materialistas. Contradição: contraceptivos e engenharia genética. Tensão: terreno no qual superpopulação se encontra com um vantajoso
superfaturamento, variações do mesmo tema.
        Compulsões sociais: templo dos ship´s, fogo eletrônico, internet, glabalização, Taylorização, alucinação, games da vida. Homem: elemento cômico, que se
verbaliza, em falas autorizadas, verdades consentidas, pré-estabelecidas; identidades divididas: proprietário, intérprete ou apenas artífice no grande palco da
representação? vaidades diluídas! Espetáculo que ele, homem, cria e observa, adentra e desvela, esconderijo preciso do ponto cego de sua existência. consciências
que se guiam e se vigiam. Vontades reprimidas, loucuras controladas, impulsões governadas e autogovernadas. Jogo de esconde-esconde em que se representa o que
não se é muito menos por não saber o que se é do que por saber ser.
        Neste fluxo, o elemento homem distancia-se de seu espelho (criador) e na soberba de sua própria criação (cultura), faz-se obra (existir) na textura de suas
crenças (enfrentamento), re-tecendo suas experiências (permissão) na ousadia de sua reinvenção (superação). Obra que não vem de parte alguma, senão de um
espaço que lhe seria interior, cavidade sombria, sem violações, mas com interdições. Sem nenhum olhar capaz de torná-lo atual, descrito, lido, dito. Resultado de um
nada que toca sua profundidade, toca a reduplicação das binômias identidades criatura/criador, esses reversos que não se fixam e instalam-se como mutantes, sem
cessar em forma e conteúdo, em formato e formatação.



                                                                                                                                                                         3
Homem que no espaço de sua tradição é reverso revestido ou estética serial e faz-se texto primeiro e nada diz do que já foi dito e, por sua vez, é atravessado
por todos os dizeres antecessores. Discurso que não faz crer nada além do regime panoptiniano de vigília e punição no qual se encontra imerso. Texto que se
ficcionaliza na grade invisível das interioridades, do inapreensível homem que se contenta em enquadrar-se na moldura do que o faz crer-se humano.
                                                                         BIBLIOGRAFIA
CALDAS, Alberto Lins. ORALIDADE, TEXTO E HISTÓRIA: PARA LER A HISTÓRIA ORAL. Edições Loyola.São Paulo 1998.
FOUCAULT, Michel. VIGIAR E PUNIR. 23ª Edição. Vozes Petrópolis. 2000.
________________. MICROFÍSICA DO PODER. 15ª Edição. Graal. Rio de janeiro. 2000.
________________. A ORDEM DO DISCURSO. 15ª Edição. Edições Loyola. São Paulo. 1999.
________________. A PALAVRA E AS COISAS. 15ª Edição. Edições Loyola. São Paulo. 1999.
WHITAKER, Dulce. MULHER E HOMEM: O MITO DA DESIGUALDADE. 8ª Edição. Editora moderna. São Paulo. 1988.




                                                                                                                                                                   4
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO)
      CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE                      PRIMEIRA VERSÃO                       66
          PRIMEIRA VERSÃO                                      ISSN 1517-5421         lathé biosa

    ANO II, Nº66 - SETEMBRO - PORTO VELHO, 2002
                         VOLUME V
                       ISSN 1517-5421


                         EDITOR
                   NILSON SANTOS

                 CONSELHO EDITORIAL
            ALBERTO LINS CALDAS - História
             ARNEIDE CEMIN - Antropologia
                ARTUR MORETTI - Física
               CELSO FERRAREZI - Letras
            FABÍOLA LINS CALDAS - História
         JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia
        MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação
               MARIO COZZUOL - Biologia
                MIGUEL NENEVÉ - Letras
            VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia
Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times
New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows”
                                                                   FORMAÇÃO DA ALMA BRASILEIRA
           deverão ser encaminhados para e-mail:

                     nilson@unir.br
                                                                                ELISABETE CHRISTOFOLETTI
                     CAIXA POSTAL 775
                     CEP: 78.900-970
                      PORTO VELHO-RO



                TIRAGEM 200 EXEMPLARES

      EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
Elisabete Christofoletti                                                                                            FORMAÇÃO DA ALMA BRASILEIRA
Psicóloga e Mestra em Educação
christofoletti@enter-net.com.br

                                                                                 “O homem leva sempre consigo sua história toda e a história da humanidade.” Jung


       A primeira é imagem Severina. O desejo de abandonar o sentimento, a sensação Severina, de busca, sofrimento, e identidade. De tantos Severinos, Severinas
que somos, filhos de tantas Marias de finados Zacarias. Como isso ainda é pouco, somos tantos e iguais em tudo na vida: a mesma cabeça grande, o ventre crescido,
as pernas finas, o sangue com pouca tinta e morremos da mesma morte Severina: “Que é morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos
vinte, de fome um pouco por dia”. Nosso Severino tem mesmo uma sina: caminhar ao encontro da morte, e esta por certo sempre encontrou e quando encontrou vida
Severina compreendeu que é mais defendida que vivida.
       Que peso carregam nossos Severinos? Que destino!? Que destino Severino acreditamos ter?
       Longe de Severino penso em Ari Barroso, na execução da Orquestra de Música Brasileira, que nos oferece uma leitura de espaços lentamente preenchidos com
o toque dos instrumentos, como uma espiral inflacionária, somos inflados, e ao saborear docemente vamos recobrando o espírito de antes do nascimento.
       Retornemos, portanto, a nossa certidão de nascimento. Hoje, foram 22 dias de abril ...
       “Neste mesmo dia, a hora de véspera, houvemos vista de terra! A saber primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais
baixas ao sul dele; e de terra chã, com grande arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!”

                                                                    O ENCONTRO: A TROCA
       “Pardos, nus, sem coisa alguma que lhe cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas.Vinham todos rijamente em direção ao batel. E
Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na
costa. Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe arremessou um sombreiro
de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas
que querem parecer de aljôfar, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza. E com isso se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais
fala, por causa do mar.”

                                                                            A IMAGEM
       “A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rosto e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso
de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido
nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de
dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita a moda de roque de xadrez. E trazem-no ali encaixado de sorte que não os magoa, nem lhe
põem estorvo no falar, nem no comer e beber.
       Os cabelos deles são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta antes do que sobre-pente, de boa grandeza, rapados todavia por cima das orelhas. E
um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte, na parte detrás, uma espécie de cabeleira, de penas de ave amarela, que seria de comprimento de um coto, mui
basta, e mui cerrada , que lhe cobria o toutiço e as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena por pena, com uma confeição branda como, de maneira tal que a
cabeleira era mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para a levantar.
       O Capitão, quando eles vieram, estavam sentados em uma cadeira, aos pés uma alcatifa por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro, mui grande, ao
pescoço. E Sancho de Tovar, e Simão de Miranda, e Nicolau Coelho, e Aires Corrêa, e nós outros que aqui na nau com eles íamos, sentados no chão, nessa alcatifa.
Acenderam-se tochas. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a alguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e
começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. Também olhou para um castiçal de
prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata!
       Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali.
       Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele.
       Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados.
       Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa,
logo a lançavam fora.
       Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais.
Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora.
       Viu um deles umas contas de rosário, branca; fez sinal que lhe dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as no pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em
volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo.
Isto tomávamos nós nesse sentido, por assim desejarmos! Mas se ele queria dizer que levaria as conta e mais o colar, isto não queríamos nós entender, por que lho
não havíamos de dar!...”

                                                                     A MISSA E O PARAÍSO
       “Enquanto assistimos à missa e ao sermão, estaria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos, como a de ontem, com seus arcos e setas, e andavam
folgando. E olhando-nos, sentaram. E depois de acabada a missa, quando nós sentados atendíamos a pregação, levantaram-se muitos deles e tangeram corno ou


                                                                                                                                                                 7
buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço. E alguns deles se metiam em almadias - duas ou três que lá tinham - as quais não são feitas como as que eu vi;
apenas são três traves, atadas juntas. E ali se metiam quatro ou cinco, ou esses que queriam, não se afastando quase nada da terra, só até onde podiam tomar pé.”
       “Andamos por aí vendo o ribeiro, o qual é de muita água e muito boa. Ao longo dele há muitas palmeiras, não muito altas; e muito bons palmitos. Colhemos e
comemos muitos deles.”

                                                                            A MISTURA
       “Ao sairmos do batel, disse o Capitão que seria bom irmos em direção à cruz que estava encostada a uma árvore, junto ao rio, a fim de ser colocada amanhã,
sexta-feira, e que puséssemos todos de joelhos e a beijássemos para eles verem o acatamento que lhe tínhamos. E assim fizemos. E a esses dez ou dose que lá
estavam, acenaram-lhes que fizessem o mesmo; e logo foram todos beijá-la.
       Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma,
segundo as aparências. E portanto se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa tenção
de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela
simplicidade. E imprimir-se-à facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens
bons. E o Ele nos para aqui trazer creio que não foi sem causa. E portanto Vossa Alteza, pois tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da salvação
deles. E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim!”

                                                                      A CRUZ E O BATISMO
       “... Plantada a cruz, com as armas e divisa de Vossa Alteza, que primeiro lhe haviam pregado, armaram altar ao pé dela. Ali disse missa o padre frei Henrique,
a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco, a ela, perto de cinqüenta ou sessenta deles, assentados todos de joelho assim como nós. E
enquanto se veio o Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco, e alçaram as mãos, estando assim até se
chegar ao fim; e então tornaram-se a assentar, como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim como nós estávamos,
com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados que certifico a Vossa Alteza que nos fez muita devoção.”
O desfalque e o ataque à natureza são nossos sinais de Batismo. No princípio fomos invadidos, logo em seguida tivemos retirado nossas árvores, nossa terra
violentada, e nascemos, portanto, desfalcados.
       Da terra retiram/derrubam o pau-brasil, e a cruz é feita. A retirada torna-se um símbolo forte do início, o desfalque e o ataque à natureza são nossos sinais de
batismo, como o é também a posse da mulher índia pelo branco invasor (fomos e agimos como seres possuídos) até hoje.
       Encantamo-nos com os brilhos (as luzes do shoping center), fomos seduzidos e nos deixamos possuir, curiosos e ingênuos.



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Compomos civilização aparentemente frágil, que compõe sua história em construções de palha, paxiúba, porém justamente em nossa fragilidade está nossa sutileza e
por todos estes motivos justamente precisam ser tão cuidadas, pois pode não permanecer. Nossa fragilidade é nosso trunfo, porém acreditamos muito mais em
fragilidades, inseguranças. Importante tanto quanto ser, é o que acreditamos ser.
       O processo psíquico constituído por meio da história, carrega cada mito indígena ou seringueiro a auto-representação da psique brasileira, contando sua
maneira de ser por meio da linguagem que lhe é própria – a das imagens. Somos fruto do processo que criou a consciência, o modo de ser, pensar e agir, do qual
somos portadores e representantes, e do passado riquíssimo que foi deliberadamente apagado.

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       “Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve
lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui está pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir e
fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé!”
“Beijos as mãos de Vossa Alteza.”
Na origem tínhamos o paraíso, uma floresta cifrada, tocada para seu uso, a sombra escondendo as árvores - útero.
       Neste útero/espaço se encontram o índio e o desbravador. O índio, filho da terra, guiado por Eros, livre, espontâneo, cabe garantir a continuidade, a coesão
interna do Cosmo, por isso é força importante vinculada à vida.
O desbravador chega guiado por sua sombra. A busca pelo desconhecido, terras que poderiam lhe oferecer glórias, riquezas. Encontra terra assustadora de habitantes

que destoavam dos europeus, mas onde seria visto o paraíso de suas projeções mais íntimas. Nosso branco vem em busca de seus sonhos, do que está por ser feito.

       Por isso é importante retornarmos, reconhecer uma alma ancestral no Brasil, como propõe Gambini. Nossa consciência e identidade foram construídas no
plano da racionalidade, após uma investida intensa para anular a irracionalidade que compunha a população que habitam essas mesmas terras “descobertas”. O
equilíbrio entre a racionalidade do branco e a irracionalidade do nativo poderiam compor o equilíbrio perdido, já quando fomos invadidos.
       De fato, não fomos descobertos, mas invadidos. Costumeiramente não enfrentamos nosso nascimento, cremos numa história fantástica (que aprendemos na
escola e que alimentamos o tempo todo) e fazemos isso porque precisamos desse tipo de história, quando surgimos como conseqüência de um feito fascinante, fomos
“descobertos” por acaso, (quem surge não tem gestação, não é esperado, não se prepara, que tipo de pai ou de mãe poderá ter portanto?) como conseqüência de
feitos extraordinários (lembremos da história oficial do descobrimento do Brasil). Dessa maneira sentimo-nos enobrecidos, como se nesta situação encontrássemos
nossa grandeza.




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Nossa terra incógnita e “descoberta” (fantasia do paraíso – na carta de Pero Vaz de Caminha) que não era de ninguém e recebe a projeção do paraíso sobre
si, constituiu-se na matriz de consciência para a qual é possível e desejável apropriar-se da abundância e sugar para sempre como eternos filhos que nunca crescem,
buscando sempre no seio farto o alimento, atribuindo por conseguinte todas as responsabilidades aos pais.

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        Darcy Ribeiro, em seus textos fala da protocélula do povo brasileiro: A criação de um híbrido que nunca saberá quem é, porque nem pai, nem mãe lhe servirão
de espelhos ou modelos de identidade.
        Nossa relação com a Terra (mãe) é bastante frágil e debilitada, enxergamos muitas vezes a o trabalho com a terra como relação secundária, literalmente de
segunda categoria. Sofremos uma estupidez, uma crueldade, órfãos de mãe e abandonados pelo pai.

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        Talvez as imagens mais fortes que tenhamos sejam a cruz e a serpente. O cristianismo dissipou suas teorias e encontrou na postura de nosso povo, no
despojamento, na disponibilidade, terreno ideal para projetar sua necessidade de dependência, o conceito de pecado, para caracterizar a libertação do mal simbolizada
na serpente.
        Passamos pelo encontro, dois mundos, duas leituras que interagiram por sobreposição, jamais o branco pode ouvir o índio. Os Jesuítas aqui chegando,
atribuíram a imagem cristã do inferno sobre os nativos, foram incapazes de aceitar a alteridade e sua forma de vida, criando olhar pré-julgando de repressão e
supressão. Importa compreender porque o comportamento instintivo em geral deveria ser considerado tão vil.
        O olhar missionário foi incapaz de apreciar e compreender a gratuidade de viver do índio ao cantar, dançar e beber. Não seria necessário participar dos rituais,
bastaria aceitar pelo que são, mas isso não foi possível. Nas várias descrições da imagem do índio e da terra “descoberta” encontramos referências a eles como
diabos; a nudez, a pintura pela pele, os coloridos das pinturas e plumagens, suas músicas, danças, rituais de vida ou morte, era identificado como o próprio inferno. O
contato com a mata talvez não possibilitou outra leitura, e com certa facilidade os europeus transformavam os espíritos da mata como entidades demoníacas,
elegendo os índios seus interlocutores.
        Como o punhal pacificador, ao penetrar no território conquistado a cruz trespassa a alma ancestral do Brasil. Em contraste com as mulheres devotas,
submissas, contidas, sofridas que conheciam, os conquistadores encontraram por aqui algo novo e diferente: mulheres disponíveis com olhos formatadas pela
sedução, carregados de amoralidades. Uma completa invasão do ego pelas forças arquetípicas do princípio feminino renegado, pois foi sobre as mulheres que os
Jesuítas projetaram seu lado mais intolerante, essa dimensão vazia, não trabalhada de sua psique. As índias outra vez como espelho (Gambini) refletiam a frágil
condição amorfa, caótica e arcaica da anima jesuítica. É a anima que permite a um homem abrir-se para o inconsciente, para o novo, para o mundo, relacionar-se (ao



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mesmo tempo em que nega) com a natureza e nela encontrar beleza e sentido, e acima de tudo relacionar-se positivamente com o sexo oposto. A anima é para o
homem o arquétipo da potencialidade da vida e da satisfação de viver.
       Quando uma porta é fechada para impedir que a anima participe criativamente da vida psíquica, não deixa de existir, mas atua destrutivamente por trás, nos
bastidores, pelo fato de ser negada, encontra uma brecha e atua por trás (assim nascem as bruxas, quando uma das fadas tem seu convite extraviado para participar
de uma recepção. Sentindo-se traída, rejeitada, abandona a vida inverte o tom). As índias eram escravizadas e utilizadas como concubinas, pagando pelo mal que não
sabiam realizar, concretizando a idéia de pecado e punição.
       A imagem de Macunaíma é bastante forte neste momento, pois é aquilo que ainda não pode ser. O que brinca o tempo todo, que tem preguiça, o que ao
mesmo tempo nos diferencia porque permitimos o ócio, ouvimos nosso corpo, mas também é nossa prisão, pois pode fazer com que não saiamos da superficialidade
das coisas, sempre estamos buscando o caminho mais rápido, mais fácil, antes de cansarmos. Não configuramos um amadurecer, continuamos filhos irreverentes.
Forjamos um “Povo Zé-ninguém” (de Darcy Ribeiro ou Reich). Criamos o hábito de olhar para nós mesmos e sentir que não fomos nós que fizemos, não somos nós
quem controla, não cabe a nós decidir nada seriamente, o povo brasileiro faz sempre figuração e espetáculo.
       Zé Carioca, o malandro, é outra imagem bastante brasileira, tem duas fases, a primeira quando nasce sempre produzido no Rio de Janeiro e a segunda
quando passa a ser produzido em São Paulo, justamente quando ganha esse caráter da malandragem, a imagem que faz o paulista do carioca. Será o espelho
negado, reprimido, a sombra?
       Continuando filhos ... a relação mãe e filho, fundamental para o crescimento, foi anulada logo de princípio. Nem sempre soubemos de onde viemos, não
pudemos ser amado, nutrido e protegido por essa mãe, nem nos espelhar nela, como também não pudemos nos relacionar com um pai, que nem apareceu na
história. O herói vai fazer seu percurso, mas não terá as condições iniciais para cumprir o destino, muitas vezes nem mesmo o reconhece, não chega ao fim de uma
trajetória heróica, no entanto estamos diante do arquétipo do herói necessário, que não pode ser herói por completo. Vive a morte da mãe, a ausência do pai, e a
ignorância de quem é.
       Tornamo-nos sobreviventes e cada vez menos autores de nosso próprio destino.



                                                                            BIBLIOGRAFIA
CAMINHA, Pero Vaz. A Carta. Bookweb. Editora e Livraria Virtual, s/d.
DIAS, Lucy & GAMBINI, Roberto. Outros 500. Uma Conversa Sobre a Alma Brasileira. São Paulo, Editora SENAC, 1999.
GAMBINI, Roberto. Espelho Índio. São Paulo, Axis Mundi/ Terceiro Nome, 2000.
JUNG, C.G. Tipos Psicologicos. Buenos Aires, Editorial Sudamericana, 1943.
RIBEIRO,     Darci.     O   Povo     Brasileiro:    a    Formação       e    o   sentido    do     Brasil.    São   Paulo,   Companhia     das    Letras,   1995.

                                                                                                                                                              11
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO)
      CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE                      PRIMEIRA VERSÃO                 67
          PRIMEIRA VERSÃO                                      ISSN 1517-5421   lathé biosa

    ANO II, Nº67 - SETEMBRO - PORTO VELHO, 2002
                         VOLUME V
                       ISSN 1517-5421


                         EDITOR
                   NILSON SANTOS

                 CONSELHO EDITORIAL
            ALBERTO LINS CALDAS - História
             ARNEIDE CEMIN - Antropologia
                ARTUR MORETTI - Física
               CELSO FERRAREZI - Letras
            FABÍOLA LINS CALDAS - História
         JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia
        MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação
               MARIO COZZUOL - Biologia
                MIGUEL NENEVÉ - Letras
            VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia
                                                                JÁ ESTAMOS NA CAMUFLADA GUERRA
Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times
New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows”            CIVIL DO DESEMPREGO
           deverão ser encaminhados para e-mail:

                     nilson@unir.br
                                                                                  CLODOMIR MORAIS
                     CAIXA POSTAL 775
                     CEP: 78.900-970
                      PORTO VELHO-RO



                TIRAGEM 200 EXEMPLARES

      EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
Clodomir Santos de Morais
jacintaclodomir@hotmail.com
Professor de Sociologia Rural - UFRO
                                                                                                 JÁ ESTAMOS NA CAMUFLADA GUERRA CIVIL DO DESEMPREGO


           O desemprego e o sub-emprego que confIgura a marginalidade, no Brasil, têm conformado uma força social tão poderosa que chega mesmo a impor um
diário “toque de recolher”, a partir das 21 horas, nas 100 maiores cidades do país, obrigando perto de 50 milhões de brasileiros a não sair de casa sem o risco do
assalto a mão armada.
           É tão patente esta dura realidade que um ministro da Justiça foi à televisão aconselhar aos que infringirem o “toque de recolher” no sentido que tenham
sempre algum dinheiro no bolso, porque a falta deste poderá irritar o assaltante e levá-lo a produzir maior violência.
           Calcula-se em meio milhão de adolescentes conhecidos por “trombadinhas” que vivendo fora de controle do país, se dedicam a furtos e assaltos.
           Nas maiores cidades brasileiras, as ruas e praças centrais, à boca da noite, são evacuadas rapidamente pela população compradora. Logo, em seguida, o
comércio protege suas portas com fortes grades de ferro enquanto a população se desloca aos bairros para proteger-se no lar , lar de janelas e portas também
reforçados por grades de ferro.
           Há menos de maio século as pessoas podiam livremente desfrutar do passeio noturno para ver vitrines, parques, teatros, templos, cinemas, estádios de
futebol.
           Naquela época somente os agentes da violência estavam metidos atrás das grades. Hoje, a coisa está completamente invertida, diametralmente oposta; à
noite a cidadania é recolhida às grades de ferro que protegem porta e janelas do seu lar, enquanto que a violência livremente campeia nas ruas pondo em risco a
tranqüilidade de todos.
           Invertem-se inclusive os critérios da arquitetura, pois a grade que antes era o símbolo dos estabelecimentos penais, passou a impor-se como componente
arquitetônico de habitação familiar. É por isso que a serralheria constitui um setor industrial em expansão.
           Não seria exagerado dizer que a maioria dos brasileiros, hoje em dia, dorme atrás das grades por temer a violência que impera nas ruas. E, por conta disso,
em expansão entra a indústria de novela de televisão, a fim de ninguém morra de tédio, encerrado em sua casa.
           Cumpre-se assim a profecia de Josué, não o rei que conduziu os judeus à Terra Prometida e sim o médico e sociólogo Josué de Castro que dizia que a
população das grades urbes, um dia, estaria composta “dos que não comem e dos que não dormem: não dormem com medo dos que não comem”.




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De fato, esta é a triste realidade em que vivemos. Pior ainda porque o medo aos desempregados, ou seja, o medo aos que não comem rouba ao indivíduo a
liberdade de sair à noite. Muitos têm medo de sair mesmo em automóveis e gritam por mais policiamento nas cidades, como se já não fossem excessivamente
pesados aos cofres públicos e privados os serviços destinados à segurança pessoal e do patrimônio.
       AS CAUSAS DO PROBLEMA


       Toda nossa história mostra que o brasileiro é de espírito e índole pacífica e, por isso, avesso à guerra e à violência. Se este hoje constitui o mais grave
problema social dos brasileiros, é porque não se tem tratado de ultrapassar adequadamente as causas da violência -- que não são outras se não o desemprego e o
sub-emprego.
       Na medida em que crescem o desemprego e o sub-emprego, cresce também a violência.
       Nos países do Terceiro Mundo de economia deformadas e incipientes o progresso técnico da agricultura, na medida em que melhora as condições de vida
rural, desloca a população para os centro urbanos. Este constitui o custo da incorporação tecnológica com o propósito de aumenta a produção e incrementar a
produtividade agrícola em todo e qualquer sistema econômico montado sobre a produção de mercadorias, não importa o marco político-filosófico que o presidia. As
megalópoles marcam as geografias dos países ocidentais e orientais; do hemisfério norte e do sul. Quer dizer que, em qualquer parte do planeta onde existir a
produção mercantil, seja em forma de bens ou de serviços a tecnologia é sempre buscada para reduzir os custos da produção e dos preços das mercadorias,
reduzindo, em conseqüência disso, braços nos centro de trabalhos, empurrando esses braços livres à procura de trabalhos em outros lados.
       É tão inexorável o “metabolismo” da economia da produção mercantil que chega a desrespeitar a vontade dos homens que a desconhecem ou não a levam em
conta. Exemplo mais típico dessa, dir-se-ia, fatalidade é o caso dos riograndenses do sul que sempre tiveram uma agricultura e uma indústria doméstica modelares,
baseadas na produção familiar.
       Com efeito, nossos gaúchos sempre endeusaram os seus “pagos” e a sua “querência”; quase não saíam de suas fronteiras nas proporções dos emigrantes
nordestinos.
       Nossos dias, avalanches de emigrantes riograndenses do sul se espalham por todo o centro e grande norte brasileiro. Eles não puderam permanecer tranqüilos
e felizes nas suas “querências”, apesar de serem os brasileiros que mais tempo tiveram nas mãos as rédeas da República. Com efeito, nos 100 anos de vida
republicana, o Brasil tem sido governado, quase metade de um século, por gaúchos e muitos deles com plenos poderes, em regimes ditatoriais.
       Hoje o Rio Grande do Sul consome até verduras e legumes produzidos nos grandes centros de moderna produção, por não ter podido absorver na agricultura
ou na indústria as massas desempregadas do campo.
        A absorção de braços excedentes da agricultura foi um fenômeno normal na história econômica dos países mais desenvolvidos do século passado. É que a
revolução industrial, nos seus primórdios, estava montada sobre uma tecnologia ainda pobre, limitada por uma mecânica consumidora de grandes massas de


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trabalhadores. Além disso, os braços excedentes da agricultura foram em grande parte absorvido também nas construções de canais e de numerosas estradas de ferro
e nos esforços de expansão colonial.
        Com o Brasil e com outro países do Terceiro Mundo de tardio desenvolvimento capitalista, a máquina penetrou na agricultura (expulsando do campo
populações rurais) na mesma época em que a fotocélula invadiu a indústria reduzindo suas necessidades de braços e impedindo dita indústria de cumprir seu clássico
papel de observadora de consideráveis porções de excedente de mão de obra rural.
        Daí porque, dado a esse anômalo “metabolismo” do capitalismo tardio, no nosso país o migrante rural, ao chegar à cidade, é logo inserido não na indústria
(impossibilitada de absorvê-lo) e sim no Setor Terceário, ou seja, nos Serviços. Ele se incorpora ao comércio ambulante, ou como biscateiro de milhares de barracas
que proliferam marcando de cashbad, ou medinas orientais, os grandes centro urbanos. Outros migrantes de menor sorte, que não conseguiram incorporar-se nem à
industria nem aos Serviços, são no entanto, incorporados às fileiras da violência a que a fome e o desemprego geralmente induzem.

COADJUVANTES DA SOLUÇÃO

        Os braços que a Agricultura e a Industria não puderam absorver têm que ser incorporados à produção de bens ou de serviços se não se quiser vê-los
engrossando, cada vez mais, as hostes da violência. Em duas palavras: ou são incorporadas ao trabalho, ou serão incorporados à violência.
        Para isso dever-se-á preencher vastos espaços econômicos e sociais que requerem profissionais organizados em estruturas de produção e de serviços. As
coisas dos homens são feitas pelos homens. O dinheiro e a tecnologia nada fazem sem os homens; e os homens só fazem bem as coisas quando estão
adequadamente organizados para isso.
        Todo mundo trem dor de cabeça quando necessita de um eletricista, ou de encanador, ou de um pintor, ou de um tipógrafo, ou de um cozinheiro, de um
carpinteiro, ou de um mecânico, ou de um pedreiro, ou de um alfaiate, de um protético, de artesãos de todo tipo; ou de um datilógrafo, ou de uma babá de velhos ou
inválidos; ou de uma simples empregada doméstica, ou de um jardineiro, de massagista, de professores, de tradutores e de tantos outros profissionais que não tem
trabalho ou operam ocasionalmente.
        A dor de cabeça sobrevém pelo receio de contratar serviços de indivíduos que não estão apoiados em uma razão social, uma empresa, uma cooperativa, um
coletivo de trabalho ou de uma associação comunitária idônea.
        Hoje, já se tem bem claro que os produtores remunerados só trabalham em cooperação quando estão ao redor de insumos indivisíveis, ou seja, ao redor
de meios de produção e de serviços postos à sua disposição ou em propriedades comum de todos os associados.
        A pequena infraestrutura (o teto), o veículo, o telefone, a maquinaria simples, utensílios instrumentos e ferramentas de trabalho de propriedade e de uso
comunitárias sempre se consegue com a Comunidade Solidária, com a Secretária de Assuntos Comunitários da Presidência da República ou com outras instituições
similares a níveis estaduais e municipais.

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Sobram profissionais desempregados. Só as Forças Armadas, por exemplo, cada ano joga no mercado de trabalho entre 40 e 50 mil profissionais jovens,
formados durante o serviço militar, além de milhares e milhares de profissionais formados anualmente pelo SENAI, SENAC e por centenas de outras instituições
congêneres e universidades.
       Como se vê, sobram profissionais. O que falta mesmo são instituições especializadas em “construir” estruturas organizativas capazes de incorporar os milhões
de profissionais sem trabalho. Faltam quadros organizadores de cooperativas de trabalho e de outras formas de cooperação que absorvem o desemprego. Para tanto,
há que criar-se uma instituição que seja o novo “bandeirante” da expansão do emprego dotada de centros de capacitação em organização dos produtores, com vistas
à expansão real do emprego (COPEERE), concebido pelo Instituto de apoio técnico aos países do Terceiro Mundo, ‘IATTERMUND’ de Brasília. Este mesmo instituto já
criou em vários Estados mais de dez sistemas de Participação Social na identificação de Projetos Geradores de Empregos e Renda, SIPGER mediante o método de
capacitação mas, livres dos Laboratórios Organizacionais utilizados por agencias da ONU e OEA em vários países da Europa Latinoamérica e África.




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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO)
      CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE                      PRIMEIRA VERSÃO                   68
          PRIMEIRA VERSÃO                                      ISSN 1517-5421     lathé biosa

    ANO II, Nº68 - SETEMBRO - PORTO VELHO, 2002
                         VOLUME V
                       ISSN 1517-5421


                         EDITOR
                   NILSON SANTOS

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            VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia                            LITERATURA EM FRAGMENTOS
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Alberto Lins Caldas                                                                                                    LITERATURA EM FRAGMENTOS
Professor de Teoria da História - Centro de Hermenêutica do Presente – UFRO
caldas@unir.br - www.unir.br/~caldas/Alberto




“... uma força espiritual que começa sua trajetória no sensível e dispensa a realidade.” Antonin Artaud


1 - incipit: A literatura só se entrega à literatura.
2 - A literatura é o fogo noturno [fogo-selvagem] que afasta as feras, o inominado, a morte, a escuridão, o inesperado, o esquecimento; atraindo os homens tanto à
    solidão quanto a solidariedade, relacionando os gestos, as palavras, as emoções, os sonhos, o desejo e o corpo; reforçando e superando os ritos, as crenças, as
    vozes, os corpos, os anseios, o riso, a lágrima, o sono; repetindo o conhecido, o esperado, o desejado, o sabido, o vivido cria um espaço vivo onde nada ainda foi;
    reunindo corpo, palavra e vida numa mesma ascese circular, onde todos comungam o sagrado esquecimento de tudo aquilo que ameaça, está além, está antes,
    está dentro e que num átimo poderia estar ali, entre nós, se o fogo cessasse, se o fogo não se mantivesse.
3 - A literatura é a caça-futura desenhada, pintada, soprada, talhada, inscrita, dançada, cantada, gemida, gritada, murmurada, soluçada, sonhada no fundo
    de uma caverna: é sempre aquilo-que-virá, aquilo-que-reúne, que conjuga magicamente o ainda não completamente presente, o desejo de uma fome
    presente somente para quem está na caverna (também reunião de uma fome coletiva) mas que será de todos no-futuro: a literatura antecipa e cria o
    momento futuro, a caça futura: a leitura (puro ritual) é a carne dessa magia sendo devorada, fazendo existir tanto a magia quanto a carne da magia:
    devorar antes de devorar devorando: o em-si trans-formado em para-nós. Por isso mesmo uma literatura antes de tudo é para o corpo, para os sentidos,
    para os humores: uma literatura corporal: e toda a sua inteligência, todo o seu logos-falus, poda a sua possibilidade de análise advirá, sempre pos
    festum, daí [sempre depois do festim da leitura: nunca um tiro “de verdade”: sempre de festim: a literatura só existe realmente no festim da leitura,
    jamais em nenhum dos empachamentos críticos].
4 - A “obra de arte literária” é um espaço que, ao nos reposicionar, instaura campos de visão, de sensação, de reflexo e reflexão, de opinião, diferente daqueles que
    normal e trivialmente utilizamos. Torna-se um instrumento insólito: ao nos curvarmos sobre ou com ele somos tragados para outro-lugar, outro-olho, outro-eu,
    outra-língua, outro-nós; e desse não-lugar, desse ponto outro, reposicionamos e reformatamos a nós mesmos e ao mundo. Esse instrumento insólito, vindo dos
    fluxos vivos da linguagem, nos arrasta para as próprias fundações do existir.

5 - A literatura deve ser um questionamento radical, um revolver os alicerces da existência; espaço onde todos os possíveis valores, olhares, percepções,
    naturalizações podem ser de-batidos, ex-postos, examinados, sendo possível ver o não visto, abrindo e trazendo as contradições para uma forma de visibilidade e
combate, uma materialização possível daquilo que deve ser visto, combatido, compreendido, superado; ao reunir na virtualidade vivenciada os pontos, os traços
   daquela possível e futura virtualidade (a literatura como a “magia da caça futura”) a literatura tem no prazer estético, na compreensão radical e na crítica ao real e
   na projeção do futuro suas razões maiores.
6 - Só há literatura quando há epifania, encantamento alimentando-se da própria essência, exercício vivo de magia, espaço encantatório e prazer enfeitiçado;
   inquietação e ritual de passagem. Alterando o real numa suprema liberdade de gozo epifânico, criando o avesso da terra e do céu que ao mesmo tempo diz e
   somente ela pode dizer o céu e a terra. Urdidura do ser na perseguição essencial.
7 - A literatura não reproduz “fatos singulares”, “acontecimentos”, “cotidianidades de jornal”, mas busca apreender tendências, tensões, dobras, movimentos da
   virtualidade que criam hologramas que “antecedem o futuro”. A obra de arte literária concentra os nódulos tensos que estão dispersos na virtualidade, e que se
   tornarão visíveis somente numa própria virtualidade futura.
8 - A “obra de arte literária” não pode ser unilateral, mas aberta às multiplicidades, seja das contradições, das vozes, das personas. Seu caminho não coincide com a
   história (um dos transes da literatura brasileira: só se encontra o real ao se superar o real [esse conceito estritamente pequeno-burguês e ridículo que invadiu o
   mundo nas mesmas “ondias” do mercado]), com a mídia, com a mercadoria, com as lógicas triviais, com as linguagens desgastadas, cheias de uma politicidade
   restrita, uma inteligência localizada, uma sensibilidade paroquial.
9 - Não se desviar do centro, do eixo, das articulações, do essencial, do equilíbrio (estabelecendo a ação no desequilíbrio): se desviar do centro, do eixo, das
   articulações, do essencial, do equilíbrio.
10 - A “obra de arte literária” é uma negação-radical, por isso ousa sobreviver: sua consciência servirá para um além do seu-momento, como obra-de-saber, dizendo
   aquilo que somente ela poderia dizer, sendo o que somente ela poderia ser.
11 - Uma literatura cria o homem, antecipa o real, condensa o futuro no presente (na “literatura brasileira” o homem é criado a partir de discursos extraliterários,
   imagens do poder, vícios da historiografia, deformações das letras, sem que haja, sem que tenha havido a absolutamente necessária “... ruptura entre as coisas e
   as palavras”, in-vertendo Artaud).
12 - À literatura cabe sondar as tensões vivas, as contradições, o novo dentro do velho, as resistências do velho, as dissoluções, as dissonâncias. Sondar o mundo
   através da linguagem, porque o mundo é linguagem alienada: conscientalizar não a linguagem, não a literatura, não os escritores: o centro da literatura não é ela
   mesma: o centro é o homem concreto, real, vivo, mergulhado numa comunidade qualquer.
13 - Sendo o mundo cristalização viva das linguagens, linguagem alienada, cabe a literatura a missão de dizer o mundo de uma maneira que nenhuma outra
   “linguagem” poderia dizer: sua matéria é a mesma que cria, faz circular e mantém o mundo: lembrar-nos nossa essência.
14 - Os dizeres normatizados, as falas institucionalizadas, as posições estabelecidas, os viveres cotidianizados não são a grande matéria do literário (a não ser como
   paródia, ironia: jamais como crença, como um “dizer a realidade”), mas as falas alternativas, os dizeres não ditos, os falares calados, silenciados; o viver que não

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somente diz, mas contra-diz: o dizer que se diz todo dia está naquelas “literaturas do real”, como as revistas, os jornais, as telenovelas, os filmes: a literatura é o
   dizer mal-dito: bem além do dizer trivial que invade tudo: e exatamente por ser assim desvenda o trivial do mundo e o trivial da própria linguagem.
15 - entresseio: Sem Deus, sem Natureza, sem Sociedade, sem Homem, sem História, sem Nação, sem Povo, sem Língua, sem Autor: somente assim a literatura pode
   não somente dizer tudo isso criticamente como somente assim ela poder dizer: não sendo.
16 - A literatura não pode esconder os conflitos, as contradições, a vida que a gerou: sua grande missão é descristalizar o que esconde os conflitos: ex-pôr em devires.
   É o afloramento das múltiplas línguas, falas, vozes, sussurros, gritos, silêncios, ao mesmo tempo, num tecido.
17 - Embate de forças vivas, contrárias, trágicas, tragicômicas, explícitas; luta de valores, visões, corpos, almas, diversas, dispersas, misteriosas; grandes sentimentos,
   vozes singulares ou mergulhadas na gosma existencial e suas guerras particulares como demônios para mais afundarem ou submergirem. Nenhuma vidinha plana,
   de classe média (o estranho campo de força da literatura e da crítica “pequeno burguesa”), servindo somente para um simples “contar história” (a literatura não é
   jamais um contar história, um divertir narrativo). Sem grandezas, sem embate vivo das grandezas, não se consegue uma visão de mundo que possa se
   transformar em literatura, que possa conquistar uma literatura. Sem esses choques de grandezas não podemos ter nem verdadeiros demônios, mergulhados no
   lodo com desespero, nem anjos submergindo da lama do mundo, do pecado, do desejo, da culpa, do crime, da rotina; ou homens vivendo a vida como homens
   (bem além dos estereótipos), além de anjo ou demônio, mas sem apagar tudo aquilo que cria realmente um anjo, um demônio, um homem.

18 - Mefisto, não o curupira; Hamlet, não Bentinho; Lady Macbeth, não Lucíola; Graograman, não Baleia; Édipo, não Vasco da Gama; Marcel, não (...).
19 - Espaço dialógico onde se cristalizam os inchaços, os tumores; onde se instalam os vômitos, as diarréias; onde transitam vozes contrapostas: espaço onde se
   projetam os imaginários, os poderes, as crenças, as posições sociais e singulares.
20 - A literatura é o que atravessa as línguas, o que está sempre antes e depois, fluindo, em travessia, o que se faz apesar da língua, rotacionando como um
   holograma interno que se constitui no passo da leitura, da audição, do tato e do sonho (holograma teatral, dialógico e polifônico, em movimento dispersivo; vácuo
   que atrai toda matéria que o requer, reordenando-a, esclarecendo-a, questionando-a). Como é fratura, interstício, fenda (“buraco de coelho” denso, vivo, intenso,
   aceso, arrebatado, desmedido: daí porque grande parte daquilo que chamam “literatura brasileira” não existir como literatura: não é a língua seu entrave: é
   porque ainda não é literatura: parcamente alegórica, frugalmente grotesca, ligeiramente obsessiva: classe média demais, colonial demais, portuguesa demais),
   move-se por um específico tribadismo que chamamos literatura [a literatura é o aquilo que é voltado para si mesmo, a volva latina (que vindo de volvere termina
   em vulva: “nós” não voltamos nem entramos: continuamos a detesta-las: as tornamos sempre e somente grávidas, mães, jamais iguais: daí não sai o coelho nem
   seu buraco e Alice é somente mais uma trabalhadora). O estojo vazio (o único vazio que satisfaz; único vazio que é; o único que ao não ser gera mundos, também
   vazios: literatura: o sofrimento que diz o sofrimento do mundo)]. Gozo que não se localiza, não se estabelece: existe somente no flu-ir, no rot-acionar: rasgando a
   carne, os ossos, a vida. A literatura é uma sensação densa em processo inqualificável, não é linguagem ou “sistema de signos”. Não se objetifica no livro, na
   língua, no alfabeto, na cultura, na região, no povo: é uma resultante flu-indo, uma sensação holográfica.
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21 - A literatura, antes de ser um “compromisso com o real”, é uma “escrita branca”, “escrita inocente”, “indicativa”, “amodal”, “equação pura”, “linguagem
   indefinida”, “estado neutro e inerte da forma” barthesianos. Mas é essa equação fria que pode desvendar e desventrar o real, as contradições do real, reunir os
   traços do futuro no presente, o horror entranhado, apontar e despontar. As linguagens instituídas que se tornam um “contar histórias” literário não conseguem se
   descolar dos seus limites, origens, objetos, ordenamentos, transes, imaginários. Localizar é matar a literatura.
22 - Aquilo que leio e gosto, e me diverte, e me distrai, e me ausenta, não é literatura; aquilo que ensina, instrui, educa, aperfeiçoa, não é literatura; aquilo que
   comunga, reproduz, respeita, espelha, não é literatura; aquilo que alegra, contenta, embeleza, não é literatura; aquilo que é letra, palavra, frase, parágrafo,
   gramática, linguagem, discurso, não é literatura.
23 - A literatura cria um vazio denso que atrai qualquer existente a um diálogo, a um confrontar-se, a um negar-se, a um desdizer-se.
24 - Para a “literatura brasileira” há que se levar em conta o “trabalho” colonial e sua construção hegemônica da língua portuguesa, em primeiro lugar. Mas não deixar
   de refletir sobre essa mesma ação no fabular, na temporalidade narrativa, na relação entre literaturas, na relação entre real e literário, entre práxis e poíésis, na
   feitura do texto e da textura do leitor. Que escritor?, que literatura?, que leitor?, que crítica? O “nosso texto literário” é muito menos tecido, textura, tessitura e
   muito mais fazenda (Colônia, Império, República: o mundo paroquial, provinciano, pequeno-burguês: o “nosso” universo e verso): enquanto fazenda exige
   determinada realidade, práticas e imagens que equilibrem a fazenda do real com a fazenda do texto (coisa de homem e não de mulher: essa masculinização
   estúpida da literatura, a fazenda e não o tecido, o real e não o virtual). O sacerdote do texto (o escritor), o sacerdote do tecido literário, se transforma em Ministro
   da Fazenda (Senhor de Engenho, Fazendeiro, Latifundiário e não a rendeira, a bordadeira, a costureira: escritores do tecido: emparedamos como incompetentes
   pedreiros).

25 - Não há transparência na literatura: somente ela pode ousar a transparência. Luz que é treva; o que mostra escondendo e o que esconde mostrando. Esse lugar
   sem lugar consegue luz e sombra de qualquer lugar.
26 - Como a literatura é um holograma, resultante de uma máquina insólita, mecanismo que deixa de existir ao gerar o holograma (e somente enquanto deixa de
   existir), não é nessa materialidade enganosa que devemos buscar a literatura. Ela não está no-texto, na-língua, no-alfabeto, no-discurso, na-gramática: está
   sempre depois. Esse depois, o holograma, deve ser o nosso campo de degustação, nosso lugar de brincadeira (o que alguns ainda chamam “objeto de estudo”).
27 - Esse holograma não reproduz, não espelha, não repete qualquer exterior; não explica, não conceitua nenhuma realidade; não parte de nenhuma história: nele
   todo o possível pode se ver: seu vazio de ser atrai qualquer existente que nele se ad-mire (a não ser quando a literatura é raptada pela Nação, pelo Povo, pela
   Cultura, pela Língua, pelo Poder, pela Mercadoria, pela Estupidez).

28 - O crítico ao se abismar nessa máquina insólita encontra somente a si mesmo e a água narsísica onde afundou e não sabe: o transe do significante é tão terrível
   quanto o do significado: se não há natureza tudo é possível: a literatura não está onde sempre se procurou: e sempre se procurou como se ela fosse uma coisa,


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algo simplesmente extenso, temporal, corporal, lingüístico: sua instância é a do sagrado, a do alegórico, a do exemplar, a do arquetípico, ao do ser que só existe
   ao não-ser, ao flu-ir como se não fluísse: essa ilusão tornou-se categoria, instância, saber: somente um se afastar. Ao conferir um sentido mais complexo, mais
   profundo e mais rico a literatura re-vela o sentido tragicômico da existência, em vez de se abismar tanto no particular quanto no singular enquanto limite.
29 - Holograma em constante movimento. Produzi-lo faz desaparecer a máquina insólita, transformando-a em outra-coisa, a literatura. Que pode prescindir das
   palavras, quando elas desaparecem e em seu lugar vigora, aparece, transcorre perceptivelmente não conceitos, idéias, esquemas, mas um derramamento físico,
   corporal, indefinido, profundo, hipnótico (o holograma em construção no flu-ir da leitura). A preocupação com as palavras é sempre uma preocupação de “filólogo”
   (de filisteu cultural como diria Nietszche) que nada tem a ver com aquilo que é a literatura: um nada que é tudo, um nada que desvenda um tudo.
30 - re-capitulação: A literatura é um rio sem margens, sem água, sem nascente e sem foz.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO)
      CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE                      PRIMEIRA VERSÃO                 69
          PRIMEIRA VERSÃO                                      ISSN 1517-5421   lathé biosa

     ANO II, Nº69 - OUTUBRO - PORTO VELHO, 2002
                         VOLUME V
                       ISSN 1517-5421


                         EDITOR
                   NILSON SANTOS

                 CONSELHO EDITORIAL
            ALBERTO LINS CALDAS - História
             ARNEIDE CEMIN - Antropologia
                ARTUR MORETTI - Física
               CELSO FERRAREZI - Letras
            FABÍOLA LINS CALDAS - História
         JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia
        MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação
               MARIO COZZUOL - Biologia
                MIGUEL NENEVÉ - Letras
            VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia
                                                                   PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E A
Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times
New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows”     EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS
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      EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

                                                                                                   24
Clodomir Santos De Morais
jacintaclodomir@hotmail.com
Professor de Sociologia Rural - UFRO
                                                                                    PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E A EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS


                                                          DEPREDAÇÃO DOS RECURSOS SELVÁTICOS
       A vasta região que abarca o Alto-Paraguai e o Alto-Guaporé na qual se pretende compor o sistema integrado de desenvolvimento regional ( SIDER) do
extremo do Estado do Mato Grosso, se estende da área pantanosa dos Xaraes até as terras mais altas do divortium-acquario da chapada dos Parecis que delimita as
nascentes dos tributários do Tapajós, do Paraguai e do Rio Guaporé.
       Correspondente aproximadamente a 50 mil Km2 habitados por um pouco menos de meio milhão de pessoas distribuída em 14 município: Indiavai,
Comodoro, Salto do Céu, Vila Bela da Santíssima Trindade, Figueirópolis, Pontes de Lacerda, Mirassol do Oeste, Rio Branco, Reserva do Cabacal,
Araputanga, São João do Quatro Marcos, Jauru, Porto Espiridião, e Cáceres. Este último e o município maia importante e para o qual confluem as vias de
comunicação dessa sub-região matogrossense.
       Trata-se de pequenos núcleos populacionais que em forma ganglionar se multiplicaram nessa faixa de terra ao ritmo de uma colonização espontânea
desordenada e com a irracionalidade que caracteriza esta forma de expansão da fronteira agrícola.
       O camponês indígena local e o adventício pequeno produtor, sempre disposto a reeditar a pequena economia familiar, constituem os protagonistas desse
processo que conduz à depredação dos recursos naturais do trópico úmido.
       Com efeito, o secular sistema da “derrubação-roça-queima” não é mais do que o PEÃO QUATRO REI de uma partida de xadrez entre o homem e a natureza;
entre a Escologia Humana e a Ecologia Natural, na qual esta sempre sai perdendo.
       É que uma vez aberto o céu com a derrubada dos gigantescos espécimes vegetais, os raiso solares passam a ser acessíveis até a vegetação de mais baixos
tetos. Aí então parece o pasto natural e atrás deste, como um corolário imediato, vem o gado.
       Em área de difíceis comunicação e transporte para o mercado regional, o gado se apresenta, evidentemente, com a mercadoria ideal, pelo fato de conservar-
se por si mesma: de reproduzir-se por si mesma e por transportar-se a si mesma.
       Na medida em que se estende a atividade pecuária, o gado vai empurrando o homem rumo ao coração das áreas selváticas e, assim, o gado e colonos
espontâneos, em poucas décadas mais, destruirão o resto da floresta do Além-Pantanal se não houver uma política adequada de conservação de recursos, aplicável a
curto e médio prazo. Fora disso é inevitável a depredação dos restos de matas dessa vasta e rica região.
A MOBILIDADE ESPECIAL DA MÃO-DE-OBRA
       Tem se observado que os deslocamentos contínuos ou intermitentes de população de área economicamente deprimida do Mato Grosso rumo as regiões
selváticas do Alto-Paraguai e Alto-Guaporé e em direção aos centros urbanos se apresentam na forma de um processo de drenagem demográfica como que submissa
à força de gravidade, e mais ainda como um mercado caráter seletivo da força de trabalho.
       Nas áreas de economia deprimida, de uma produção familiar em desintegração lenta, porém contínua, permanecem apenas os anciãos, as crianças e as
mulheres. Rumo aos centro urbanos (alguns deles, formados em décadas recentes) marcham os homens que não tem oportunidades nas áreas de minifúndios de
terras esgotadas. Em direção às regiões de bosques lati-foleados-úmidos, em direção as matas virentes das cabeceiras do tributário do Alto-Paraguai marcham
também os pequenos produtores jovens na esperança de reeditar o ciclo da empresa familiar.
       Desse modo, a colonização espontânea desordenada e predatória da selva, igual a marcha rumo aos centros urbanos, tem origem nas áreas de economia
deprimida. Logo, tanto os problemas sócio-econômicos das áreas de economia deprimida como os da depredação da selva e mais ainda os da periferia dos centros
urbanos, todos eles guardam uma íntima relação e uma inter-dependência que só se explica com a própria estrutura da economia regional prevalecente.


                                                   MEDIDAS INTEGRAIS: FORMAÇÃO DE QUADROS MÉDIOS
       A análise dessa realidade indica que uma das medidas integrais para conjurar de certo modo os problemas derivados desses deslocamentos populacionais
radica fundamentalmente em programa de maximização do emprego rural nas identificadas áreas de economia deprimida e em medida de racionalização das
atividades produtivas da selva e dos centros urbanos.
       Por esse motivo é que se propõe a adoção de programas com vistas a processos integrais de desenvolvimento, tendo como primeiro passo a formação de
recursos humanos acessíveis a modestas Prefeituras e Unidade de proteção dessa sub-região.
       Supõe-se imprescindível para cada uma da municipalidade que comporão o SIDER a criação de um escritório encarregado de:
a) Planificação do emprego rural, mediante elaboração de projetos viáveis do ponto de vista financeiro;
b) Capacitação administrativo-gerencial das empresas agropecuárias de propriedade e produção mais susceptíveis de absorver mão-de-obra ociosa das áreas rurais,
sejam em atividades agrícolas, extrativas, pecuárias , de transformação e de serviços;
c) Estabelecimento de um sistema de participação social na identificação de profetos ecológicos geradores de emprego e renda familiar;
d) Montagem de eventos de capacitação massiva com vistas à estruturação de empresas associativas ou cooperativas de um Sistema Social Florestal assentadas na
racionalidade econômica e na conscientização ecológica.


                                                  PRÉVIO ESTABELECIMENTO DE “SANTUÁRIO ECOLÓGICO”

                                                                                                                                                           26
Antes que o processo de depredação      alcance e destrua as áreas de bosques dos divisores de água da Chapada dos Parecís ricos em germoplasma, urge o
estabelecimento de Áreas de Reserva da Biosfera, espécie de “Santuários Ecológicos” com propósito de perpetuação de seus recursos biótipos em toda a sua
variedade.
       Evidentemente, para evitar que se tome a ecologia com um fim e não como um meio destinado a ajudar o desenvolvimento, deve-se estimular o estudo
científico e tecnológico que conduzam à adequada utilização das áreas de Reservas da Biosfera para desfrute dos que vivem na região.
       Para tanto, é importante a adoção dos critérios primários (representatividade, diversidade, naturalidade e eficácia como unidade de conservação) e dos
critérios secundários (informação sobre a zona, espécies em riscos de extinção, importância histórica, etc.) que tecnicamente se aplicam para a escolha das áreas
destinadas ao estabelecimento de reservas da biosfera.
       a) A representatividade se expressa no conteúdo da área selecionada para Reserva Biosfera definido pelo conjunto típico de ecossistemas que entra em
relações com biomas de claras afinidades com a vegetação autóctone ou original.       Dado que nas cabeceiras dos tributários do Alto-Paraguai e do Alto-Guaporé é
reduzido o número de habitantes, torna-se possível adotar um sistema legal e correspondente infra-estrutura econômica antes que a colonização espontânea crie
novas situações consumadas. É o caso de se estruturar os seus esparsos em cooperativas que componham o Sistema Social Florestal, integrado por eles, e pelo
Estado, com o propósito de obter lucros mediante o aproveitamento racional de recursos bióticos, turismo, etc. - atividade esta muito rentável do que tradicional
sistema de agricultura trans-humante e da pecuária extensiva.
       b) A diversidade se expressa na maior variedade de representação de ecossistema, comunidade e organismos e característicos da selva-diversidade dentro
de um mesmo tipo de biomas correspondente aos gradientes ecológicos, que variam segundo as atitudes e as condições edáficas e climatológicas da área.
       c) A naturalidade advém da condição de uma área não modificada pelo homem. Nesse caso os regulamentos vedarão a introdução de espécies exóticas,
vegetais e animais, que rompam com a naturalidade de área de reserva.
       E, finalmente, a eficácia como unidade de conservação se obtém nas grandes dimensões, ou seja, em superfícies suficientes para o desenvolvimento de
grandes vertebrados que se deslocam em amplos territórios. Superfícies dessas dimensões garante a atividade do germoplasma florestal e a proteção dos animais em
vias de extinção quase sempre sujeitos a forte pressão depredatória.


                                          PROGRAMA DE REPOVOAMENTO DE RIOS E REFLORESTAMENTO CILIAR
       Independentemente das ações de identificação de área de preservação dos recursos naturais se deve implementar projetos já em fase de negociação tais
como: o projeto do Pacú e Tambaquí e o projeto de Reflorestamento Ciliar concebidos e elaborados pela EMATER de Mato Grosso.




                                                                                                                                                              27
O primeiro tem claros propósitos econômicos já que o que se persegue é montar uma enorme fonte de produção de proteínas brancas para exportar para o
resto do país e exterior, com efeito, a carne dos peixes pacú e tambaquí, espécies autóctonas das bacias do Paraguai e do Guaporé, são de grande aceitação no
mercado nacional e internacional.
       O segundo projeto visa sobretudo a proteção dos cursos d’água a restituição do revestimento florístico de suas margens e também como forma de prevenir a
erosão provocada pelos desmoronamentos e degradação dos terrenos alcançados pelas cheias periódicas.


                         ORGANIZAÇÃO PARA A PRODUÇÃO NAS REGIÕES SELVÁTICAS: ORGANIZAR PARA PRODUZIR RENDA
       Os milhares de pequenos produtores indígenas ou não-indígenas (“ladinos”), localizados nas fronteiras agrícolas do Alto-Paraguai e do Alto-Guaporé,
enfrentam uma crítica situação tanto pela carência de estruturas organizadas adequadas aos padrões culturais e às possibilidades produtivas das áreas. Daí porque é
necessário dar inicio imediatamente aos trabalhos de organização com vistas a certas atividades econômicas que permitam gerar ingressos monetários a curto prazo.
       Isso servirá de estímulo aos participantes enquanto se estruturam os grandes projetos definitivos e de grande envergadura para o desenvolvimento da área
coberta pelo Sistema Integrado de Desenvolvimento Regional do Além Pantanal.
       Nesse particular, é importante levar em conta que a organização, desde seus começos, vai inteiramente vinculada a programas de capacitação e
adestramento, pelo fato de organização mesma estar ligada a atividade que requerem transferência de tecnologia na atualidade não usadas pelos grupos de pequenos
produtores internados nas selvas.
        É que inicialmente a produção estará em ralação com o aproveitamento de matéria-prima de maior abundância na região, tais como os diferentes tipos de
bio-massa que possam prestar-se como formas alternativas de produção energética.
       Por outro lado, enquanto se desenvolvem os programas de organização para a produção baseada no aproveitamento de matérias-primas abundantes, a nível
local se deverá impulsionar a experimentação de cultivos de máximo rendimento por hectare e de fraca receptividade comercial tais como gengibre, ipecacuanha
(poaia), alhos, cebola e pimenta do reino a serem incorporados aos futuros planos de produção agrícola em escala social. Além da atividade extrativa de resinas de
látex e de fibras naturais, se deverá montar também programas de epífitas (orquídeas) tão abundantes nas matas daquelas bacias hidrográficas.


                                                                 SISTEMA SOCIAL FLORESTAL
       A organização das populações que vivem que vivem dentro de áreas selváticas deverá estar vinculada ao IBAMA e aos proprietários das áreas. Trata-se de um
modelo especial de associativismo com tríplice propósito: a sustentação material do produtor; a proteção de recursos naturais de áreas selváticas; e o rendimento
econômico das reservas de biosfera.



                                                                                                                                                               28
Para cada um determinado conjunto de cooperativas florestais deverá funcionar uma unidade agro-industrial de transformação das matérias primas recolhidas
nos bosques, tais como: medicinas naturais, breu vegetal e breu mineral, látex, resinas, lenha, castanhas, cocos, cogumelos, etc. E por se tratar de atividade de
proteção e exploração dos bosques realizadas de forma social, a distribuição do produto deverá também ter um caráter social, ou seja, os lucros deverão ficar em
mãos dos associados da cooperativa florestal.


                         CAPACITAÇÃO PARA EMPRESA DE TIPO GRANDE: “LABORATÓRIOS ORGANIZACIONAIS” DE CENTRO
       Dado o caráter social das atividades produtivas de Cooperativas Florestais, a capacitação dos produtores terá evidentemente que ser massiva para a formação
de quadros organizadores de empresas do tipo grande, ou seja, de processo produtivo socialmente dividido. trata-se de capacitação mediante “Laboratório
Organizacionais” com vistas à organização para a produção, independentemente do tipo de atividade produtivas que lhe permitam realizar: agrícola, silvicultura,
pecuária menor e agroindústria. Esta capacitação lhes permitirá inclusive a mobilização racional das potencialidades e capacidade de iniciativa dos grupos sociais no
sentido de coadjuvar as medidas que o Estado decida adotar para a proteção dos recursos naturais.
       O Laboratório Organizacional lhes ensinará (a nível individual ou de grupo) como atuar com eficácia em ações de escala social (divisão social do processo
produtivo, próprio das empresas de tipo grande) quer dizer, superior a uma escassa divisão social do trabalho.
       Seja qual for a estrutura administrativa que se subordine ao marco institucional da cooperativa ou qualquer outro tipo de empresa de propriedade e produção
social, a capacitação que se oferecerá a esses produtores estará intimamente relacionada com a praxis organizativa que se gera dentro do próprio “Laboratório
Organizacional”.
       Os primeiros “Laboratórios Organizacionais” para a formação de quadros organizadores de empresas do Sistema Social Florestal para Proteção e Exploração
dos Recursos Naturais Selváticos não poderão ser realizados em qualquer instalação física. É imprescindível que a localização do centro de capacitação esteja contígua
ou ao interior de uma Reserva de Biosfera a fim de possibilitar as aulas práticas. E que, além de algumas áreas de cultivos hortigranjeiros para a sustentação do
Centro de Capacitação, existam instalações suficientes para albergar uma centena de alunos que, procedentes de outras áreas florestais, virão ali participar dos
recursos de capacitação massiva dessa modalidade de “Laboratório Organizacional de Centro”.


                         CURSOS PARA FORMAR TECNICOS EM ECO-DESENVOLVIMENTO – TEDS: QUADROS INTERMEDIÁRIOS
       É necessário que cada Prefeitura de Município dotados de Projetos Ecológicos para a Proteção de Recursos Naturais disponha de um Serviço de Planificação
(SERPLAN) composto de um Projetista, um Planificador Regional e um Técnico em Organização e Administração de Empresas. Todos esses Técnicos aprendem a
metodologia da Capacitação Massiva com vistas a criar e desenvolver estruturas organizadas de participação social. Para tanto, enquanto dure o curso, os alunos, no



                                                                                                                                                                  29
mínimo 40, viverão a experiência do Laboratório Organizacional de Curso, organizados em sua própria estrutura de participação social, a fim de que a vida organizada
lhes crie a consciência organizativa imprescindível ao entendimento e solução dos problemas das empresas autogestionadas do Sistema Social Florestal.
       Trata-se de quadros intermediários e não de profissionais universitários. Esses quadros são formados com professores primários, contadores, finalistas do
segundo grau, práticos agrícolas ou de formação similar.
       A capacitação destes priva de um especial conteúdo com os parâmetros ecológicos que devem ter os projetos, programas e políticos de desenvolvimento de
Regiões de trópicos úmidos dotados de reservas florestais.


                                                                              O CURSO
       O curso se desenvolverá durante noventa dias com atividades didáticas de oito horas cada dia e além disso a adoção de um programa de leitura obrigatória de
sessenta textos técnicos. Estima-se que pelo menos dez catedráticos e instrutores deverão colaborar nesse curso a serviço de instruções nacionais e internacionais que
operam com desenvolvimento dentro do marco ecológico.
       Nos primeiros 15 dias, o curso se efetuará em um centro de capacitação para a formação de quadros organizadores de empresas do Sistema social Florestal,
nos moldes antes descritos. Os últimos 15 dias serão dedicados à elaboração de plenos e projetos a nível de terreno e bem assim na transferência de conhecimento e
de método para formar os auxiliares de Projetos Ecológicos (APE).
       O período intermediário de 60 dias será dedicado a classes, primeiro de conhecimentos gerais e logo o ensino de análise e adaptação reais de áreas tropicais,
os hábitos culturais da população e o imperativo de gerar emprego dentrro do setor extrativista.


                                                                      PROGRAMA DO CURSO
       O curso para formação de técnicos em Ecodesenvolvimento contará com três ciclos:
CICLO A: Formação básica
CICLO B: Especialidades: Ecologia, Planificação e Avaliação de Projetos e Administração de Empresas, Organização da Participação Social.
CICLO C: Transferência de conhecimentos e métodos para a formação de Auxiliares de Projetos Ecológicos (APECO).
       O Ciclo A de formação Básica, ao que deverá assistir o conjunto de todos os participantes, inclui temas relacionados com elementos de Ecologia, de Econômia
e de Sociologia da Organização referidos ao Trópico Úmido com os problemas e implicações da realidade rural.
       O objetivo principal deste ciclo é dotar os participante de elementos que ampliem sua capacidade de compreensão da realidade dentro da qual trabalharão e,
ao mesmo tempo, familiarizá-los com sistemas categorias e conceptuais daquelas ciências e no uso de métodos de análise que facilitem a posteriori complementação
de sua formação básica.

                                                                                                                                                                  30
Inclui-se também uma Unidade de caráter instrumental através da qual se introduz a temática da planificação e se desenvolverão técnicas que
interessam à formação do conjunto de participantes (Técnicas de Pesquisas Sócio-econômicas e Elementos Básicos de Estatísticas).
       O Programa específico do Ciclo A que terá uma duração de 4 semanas constará de:
UNIDADE 1: TEORIA DA ORGANIZAÇÃO SÓCIO- PRODUTIVA
              -Fatores históricos do surgimento da mercadoria;
              -A consciência organizativa como reflexo da atividade material;
              -O papel dos “insumos indivisíveis” plasmados no Capital Constante;
              -Mecanismos de combate aos vícios das formas artesanais de trabalho.
UNIDADE 2: INTRODUÇÃO À ECOLOGIA
              -Os ecossistemas e suas interdependência;
              -Reservas de Biosfera;
              -Noções de Dialética da Natureza e Dialética do Desenvolvimento da Natureza Inorgânica.
UNIDADE 3: NOÇÕES ELEMENTARES DE ECONOMIA
              -Conceito Básico da Economia;
              -O funcionamento do Sistema Econômico;
              -Introdução aos Problemas do Desenvolvimento.
UNIDADE 4: TEORIA E PRÁTICA DOS ASSENTAMENTOS RURAIS
              -A função social da propriedade do solo;
              -Diferença de Desenvolvimento Agrícola, Desenvolvimento Agrário e Desenvolvimento Ecológico;
              -Política de Reforma Agrária; experiências históricas.
UNIDADE 5: INTODUÇÃO À PLANIFICAÇÃO
              -Conceitos Básicos;
              -Aspectos metodológicos;
              -Formulação de Diagnósticos sócio-econômicos;
              -Técnicas de pesquisas;
              -Estatísticas.
       O Ciclo B, que contempla a formação específica, de caráter eminentemente instrumental se administrará através de 4 especialidades:

                                                                                                                                               31
Especialidade B. 1: Planificação Agro-ecológica;
Especialidade B. 2: Noções de Sociologia da Organização;
Especialidade B. 3: Elaboração e Avaliação de Projetos.
        O propósito buscado com esta divisão é o de permitir um tratamento mais profundo dos temas que conformam a base das disciplinas antes assinaladas. No
contexto anterior, esta parte do curso persegue a formação de equipes multidisciplinares de trabalhos para o desenvolvimento das tarefas concretas envolvidas no
processo de desenvolvimento, principalmente os aspectos de planificação.
        Para cumprir com este propósito cada especialidade contará com o seguinte programa:
                                                          Especialidede B. 1: Planificação Agro-Ecológica
UNIDADE 6: PLANIFICAÇÃO
                -Estratégia do Desenvolvimento;
                -Problemas de Planificação;
                -A formulação de planos e programas;
                -As medidas complementares;
                -O marco institucional da Planificação.
UNIDADE 7: PLANIFICAÇÃO DE ÁREAS ECOLÓGICAS
                -Planificação regional: problemas e métodos;
                -A Planificação do uso dos recursos naturais;
                - A natureza como premissa da Planificação ecológica.
UNIDADE 8: PLANIFICAÇÃO DE EMPRESAS DO SISTEMA SOCIAL FLORESTAL
                -Padrõe de assentamento em áreas florestais;
                -Critérios e métodos para a Planificação do Sistema Social Florestal;
                -Planificação de produção e dos investimentos;
                -Técnicas de Avaliações.


                                                    Especialidades B. 2: Noções de Sociologia da Organização
UNIDADE 6: CAPACITAÇÃO PARA A ORGANIZAÇÃO
                - O rol de “Insumos Indivisíveis” na Organização Social;

                                                                                                                                                            32
- Condições Objetivas e Fatores Subjetivos        que influem no processo de Organização Social;
            -Didática do Ensino e Didática da Capacitação.
UNIDADE 7: MARCOS TEÓRICOS DA MODERNA ENGENHARIA SOCIAL
            -O fator pedagógico da prática;
            -A categoria da “Atividade Objetiva”;
            -A capacitação guiada por “Fatores Objetais”;
            -O papel das estruturas organizativas na ecologia social.
UNIDADE 8: CAPACITAÇÃO MASSIVA
            -Formação de Formadores;
            -Projetos Globalizadores de Capacitação Massiva;
            - “Laboratórios Organizacionais” e a Auto-Capacitação.


                                                    Especialidade B. 3: Elaboração e Avaliação de Projetos
UNIDADE 6: O MARCO GLOBAL PARAM A ELABORAÇÃO DE PROJETOS
            -Projetos de investimentos: conceitos e tipos;
            -Etapas na formação de projetos;
            -A análise das possibilidades de investimentos;
            -Coordenação de planos e projetos: critério para o estabelecimento de prioridades.
UNIDADE 7: ELABORAÇÃO DE PROJETOS
            - Informação Básica: técnicas e métodos de compilação e análise;
            -Estrutura do Projeto;
            I) análise do mercado;
            II) tamanho de localização;
            III) engenharia do projeto;
            IV) custos e financiamento;
            -Apresentação do Projeto.



                                                                                                               33
UNIDADE 8: SELEÇÃO E AVALIAÇÃO DE PROJETOS
             -Efeitos do Projeto;
             -Tipos de Avaliação;
             -Critério de Avaliação;
             -O método para a seleção de Projetos.
UNIDADE 9: ADMINISTRAÇÃO E EXECUÇÃO DE PROJETOS
             -Organização para a administração do Projeto;
             -Planificação de execução: noções de PERT.



Especialidade B. 3: Administração e planificação de Empresas
UNIDADE 6: CRITÉRIOS PARA A PLANIFICAÇÃO DE ASSENTAMENTOS AGRO-ECOLÓGICOS
             -Padrões de assentamentos rural;
             -Critérios físicos e socio-econômicos para a planificação de assentamentos agro-ecológicos;
             -O desenvolvimento integrado de áreas rurais e a planificação de empresas do Sistema Social Florestal.
UNIDADE 7: MÉTODOS E TÉCNICAS DE PLANIFICAÇÃO DE EMPRESAS ASSOCIATIVAS AGRO-FLORESTAIS
             -Etapa na Planificaçaõ e desenvolvimento de empresas associativas agro-florestais;
             -A informação básica;
             I) metodologia de diagnóstico;
             II) técnicas e compilação e análises de informação; método de orçamento;
             III) método de inventário do potencial nergético;
             IV) relação de recursos naturais e beneficiários.
UNIDADE 8: FORMULAÇÃO DO PLANO DE EMPRESA AGRO-FLORESTAL
             -O plano de exploração racional, objetivos, estruturas e funções;
             -Formulação do Plano de Produção de Bens e de serviços;
             -Planificação dos Recursos Naturais;
             -Planificação dos Investimentos;


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-Planificação financeira.
UNIDADE 9: ADMINISTRAÇÃO E CONTROLOE DE EMPRESAS AGRO-FLORESTAIS
                  -Noções de Organização e Administração de Empresas;
                  -As empresas associativas e do Sistema Florestal; estrutura e formas de organização;
                  -Cooperativas de autogestão; estrutura e forma de organização;
                  -Contabilidade agro-florestal.
        Esta especialidade terá a duração de 4 semanas.


Ciclo C - TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTOS E DE MÉTODOS PARA A FORMAÇÃO MASSIVA DE AUXILIARES DE PROJETOS ECOLÓGICOS (APE)
        Com o propósito de complementar a formação teórica dos Técnicos em Ecologia e Desenvolvimento e bem assim com o propósito de que eles
cooperem na formação dos Auxiliares de Projetos Ecológicos, o curso prevê a realização de trabalhos a nível de terreno durante 4 semanas.
        Metade desse período será utilizado na elaboração de projetos realizados por equipes integradas de participante de cada especialidade.
        Esta etapa do curso será de 3 semanas em estreita coordenação com os programas de trabalho das Prefeituras, cujos Municípios conformam o Sistema
Integrado de Desenvolvimento Regional (SIDER). Na mesma oportunidade as equipes de Técnicos em Eco-desenvolvimento (TDE) farão as entegras teóricas
necessárias à formação dos Auxiliares de Projetos Ecológicos na identificação de projetos agro-ecológicos geradores de emprego e renda de elaboração simples dos
seus respectivos perfis.
        As atividades do Ciclo C serão concebidas de tal maneira que tanto os projetos elaborados e formação intensiva dos Auxiliares de Projetos Ecológicos (APE),
não só sirvam de exercício de capacitação dos participantes, senão atendam também às necessidades concretas das instituições beneficiárias, as Municipalidades
principalmente.




                                                                                                                                                               35
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO)
      CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE                      PRIMEIRA VERSÃO                  70
          PRIMEIRA VERSÃO                                      ISSN 1517-5421    lathé biosa

     ANO II, Nº70 - OUTUBRO - PORTO VELHO, 2002
                         VOLUME V
                       ISSN 1517-5421


                         EDITOR
                   NILSON SANTOS

                 CONSELHO EDITORIAL
            ALBERTO LINS CALDAS - História
             ARNEIDE CEMIN - Antropologia
                ARTUR MORETTI - Física
               CELSO FERRAREZI - Letras
            FABÍOLA LINS CALDAS - História
         JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia
        MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação
               MARIO COZZUOL - Biologia
                MIGUEL NENEVÉ - Letras
            VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia
Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times    COMO: LITERATURA: COMO: LITERATURA
New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows”
           deverão ser encaminhados para e-mail:

                     nilson@unir.br
                                                                                ALBERTO LINS CALDAS
                     CAIXA POSTAL 775
                     CEP: 78.900-970
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Volume viii 2003
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Volume V

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE PRIMEIRA VERSÃO 65 PRIMEIRA VERSÃO ISSN 1517-5421 lathé biosa ANO II, Nº65 - SETEMBRO - PORTO VELHO, 2002 VOLUME V ISSN 1517-5421 EDITOR NILSON SANTOS CONSELHO EDITORIAL ALBERTO LINS CALDAS - História ARNEIDE CEMIN - Antropologia ARTUR MORETTI - Física CELSO FERRAREZI - Letras FABÍOLA LINS CALDAS - História JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação MARIO COZZUOL - Biologia MIGUEL NENEVÉ - Letras VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times O HUMANO COMO INSÍGNIA New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows” deverão ser encaminhados para e-mail: nilson@unir.br EDILANIA ARRUDA ROSENDO CAIXA POSTAL 775 CEP: 78.900-970 PORTO VELHO-RO TIRAGEM 200 EXEMPLARES EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
  • 2. Edilania Arruda Rosendo O HUMANO COMO INSÍGNIA Aluna do Mestrado em Ciências Humanas - UFRO e-arruda@ig.com.br Numa perspectiva foucaultiana, o discurso homem, tecido secular construído no limite imaginário das mais distintas épocas, materialidade que se faz paradoxalmente palpável e intocável, que se crê existente e, em essência, é por toda a sua extensão, personagem na arte da representação. O descendente genético nasce, perpetuando a espécie, despido da cadeia cultural que, mais tarde, lhe transformará homem/mulher, negro/branco, pobre/rico, magro/gordo dentre outras polaridades e que não cessará de transformar-se, lapidar-se. Indivíduo histórico que, ao longo de sua invenção social, sofrerá sujeição física, neural e cultural das científicas sínteses, textualmente articuladas, para ordenar sua projetada existência. Modelagem que não aceita resistências para resultar em uma efetiva aceitação coletiva. No processo de maturidade deste ser vivo perpassa a educação pelos sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar), que serão friccionados, estimulados a funcionar e a se constituírem em instrumentos de comunicação e compreensões sobre tudo que será gerado, reproduzido, circulado, comercializado, etc. Gene, que se formatará gente, materialidade de um devir, invólucro de um coexistir. Será um estatuto jurídico, terá um nome, um número e o que lhe virá? que papel ocupará na sociedade civilizada? será um professor? um advogado? um poeta? um internauta? um gari? um marginal? um sonhador? um construtor? um vencedor ou um vencido? Ser sexuado que será enquadrado, rotulado, carimbado, tachado, fichado, discriminado e em quais redes se embalará? Homo? etero? Bi? Pan? Ou trans? o desafio está posto: sobrepor-se na dor e na delícia de ousar viver o que se deseja chegar a ser. O que se sabe é que desse animal se espera uma conduta contínua e cartesianamente racional: deve crescer, produzir, reproduzir, consumir e partir. Assim, a vida se fecha em seu círculo. Círculo que se reinicia na fissura dos outros devires, por ser a própria vida natureza e naturalizada na confluência de sua força, no rompante de seus acontecimentos, nas marcas de sua temporalidade, nas margens de sua exclusão. Vida recriada na dinâmica de reelaboração do vivido, mas também no afã de tudo que inspira a vontade de renovação, enxertando com sangue novo o que não passaria de repetição. Mas nesse refazer-se, a ditadura do humano ensinará o nascido a andar, a sofrer, a ler, a comer, a estudar, a sonhar, a reprimir-se, a trabalhar, a obedecer e o conduzirá ao fim último de sua tradição: amar. E amando o futebol, o romance e os ídolos, viverá o delírio de sua fome, que para uns será de comida, de dignidade, de cultura; para outros, além disso, será de carros, de propriedades, de banalidades; para terceiros, de poder, de dinheiro e de mandato. 2
  • 3. Envolvido nas alucinantes imagens do sacerdote virtual (TV), será guiado num jogo visual, ao culto único do deus capital que, reconfortantemente, fará tudo lhe parecer redondo e, penetrando nos recônditos de sua consciência, ofertar-lhe-á ares de modernidade, alisando o ego do já tão amansado ser que, sem se reconhecer dominado, não quer, não pode nem lutará por liberdade. Assim, os ferretes do escravismo neoliberal saíram da tez e desfilam nas vestes que autorizam a circulação, aceitação e identidade social. E vão-se a Nike, a Zoomp, a Microsoft, a Mastercard e tantos outros, ocupando o imaginário e o cartão postal vocabular do corpo e do que se pensa humano. Gostaria de tocar nesta região que se desvela como corpo textualizado, ritualizado de um dentro e de um fora. Um fora que se faz vitrine da nudez suplicante de movimento, posse, consumo. Um corpo que dialoga com um corpus social, que produz e consome, que passivamente se nomina no jogo cultural dos invólucros masculino/feminino. Um corpo que se genitaliza, nos pacotes moldados do ser homem, que se brutaliza e ser mulher, que se fragiliza; imagens mutuamente naturalizadas na incondicional educação para a diferença, fronteiras do instituído fálico poder (para eles) e subserviência (para elas). E se dialetizam, Id e ego, por entre o liberado e o reprimido, superfície e profundidade; polaridades do humano que se dualizam entre rg's e cpf's despersonalizados entre imposições, proibições e repressões, as quais libertinamente lutam contra o lugar-comum de suas epetições/condenações/punições. Espectadores de imagens e de sentidos, um rosto, um toque, um poema, uma pluma, outra formatação. Tecido interiorizado, psicologizado. Devir que se cala, inconsiência que se corporifica, coisifica-se. E, no entanto, essa tênue linha de visibilidade o envolve numa rede complexa de incertezas edipianas, jocastianas, cristãs, elementares e culturalmente humanas. Complexos, estresses e divãs, e tudo ou se explica ou se pira - sem nexos a coisa se complica. Hipertexto de consumos: provetas e clones, sumos materialistas. Contradição: contraceptivos e engenharia genética. Tensão: terreno no qual superpopulação se encontra com um vantajoso superfaturamento, variações do mesmo tema. Compulsões sociais: templo dos ship´s, fogo eletrônico, internet, glabalização, Taylorização, alucinação, games da vida. Homem: elemento cômico, que se verbaliza, em falas autorizadas, verdades consentidas, pré-estabelecidas; identidades divididas: proprietário, intérprete ou apenas artífice no grande palco da representação? vaidades diluídas! Espetáculo que ele, homem, cria e observa, adentra e desvela, esconderijo preciso do ponto cego de sua existência. consciências que se guiam e se vigiam. Vontades reprimidas, loucuras controladas, impulsões governadas e autogovernadas. Jogo de esconde-esconde em que se representa o que não se é muito menos por não saber o que se é do que por saber ser. Neste fluxo, o elemento homem distancia-se de seu espelho (criador) e na soberba de sua própria criação (cultura), faz-se obra (existir) na textura de suas crenças (enfrentamento), re-tecendo suas experiências (permissão) na ousadia de sua reinvenção (superação). Obra que não vem de parte alguma, senão de um espaço que lhe seria interior, cavidade sombria, sem violações, mas com interdições. Sem nenhum olhar capaz de torná-lo atual, descrito, lido, dito. Resultado de um nada que toca sua profundidade, toca a reduplicação das binômias identidades criatura/criador, esses reversos que não se fixam e instalam-se como mutantes, sem cessar em forma e conteúdo, em formato e formatação. 3
  • 4. Homem que no espaço de sua tradição é reverso revestido ou estética serial e faz-se texto primeiro e nada diz do que já foi dito e, por sua vez, é atravessado por todos os dizeres antecessores. Discurso que não faz crer nada além do regime panoptiniano de vigília e punição no qual se encontra imerso. Texto que se ficcionaliza na grade invisível das interioridades, do inapreensível homem que se contenta em enquadrar-se na moldura do que o faz crer-se humano. BIBLIOGRAFIA CALDAS, Alberto Lins. ORALIDADE, TEXTO E HISTÓRIA: PARA LER A HISTÓRIA ORAL. Edições Loyola.São Paulo 1998. FOUCAULT, Michel. VIGIAR E PUNIR. 23ª Edição. Vozes Petrópolis. 2000. ________________. MICROFÍSICA DO PODER. 15ª Edição. Graal. Rio de janeiro. 2000. ________________. A ORDEM DO DISCURSO. 15ª Edição. Edições Loyola. São Paulo. 1999. ________________. A PALAVRA E AS COISAS. 15ª Edição. Edições Loyola. São Paulo. 1999. WHITAKER, Dulce. MULHER E HOMEM: O MITO DA DESIGUALDADE. 8ª Edição. Editora moderna. São Paulo. 1988. 4
  • 5. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE PRIMEIRA VERSÃO 66 PRIMEIRA VERSÃO ISSN 1517-5421 lathé biosa ANO II, Nº66 - SETEMBRO - PORTO VELHO, 2002 VOLUME V ISSN 1517-5421 EDITOR NILSON SANTOS CONSELHO EDITORIAL ALBERTO LINS CALDAS - História ARNEIDE CEMIN - Antropologia ARTUR MORETTI - Física CELSO FERRAREZI - Letras FABÍOLA LINS CALDAS - História JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação MARIO COZZUOL - Biologia MIGUEL NENEVÉ - Letras VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows” FORMAÇÃO DA ALMA BRASILEIRA deverão ser encaminhados para e-mail: nilson@unir.br ELISABETE CHRISTOFOLETTI CAIXA POSTAL 775 CEP: 78.900-970 PORTO VELHO-RO TIRAGEM 200 EXEMPLARES EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
  • 6. Elisabete Christofoletti FORMAÇÃO DA ALMA BRASILEIRA Psicóloga e Mestra em Educação christofoletti@enter-net.com.br “O homem leva sempre consigo sua história toda e a história da humanidade.” Jung A primeira é imagem Severina. O desejo de abandonar o sentimento, a sensação Severina, de busca, sofrimento, e identidade. De tantos Severinos, Severinas que somos, filhos de tantas Marias de finados Zacarias. Como isso ainda é pouco, somos tantos e iguais em tudo na vida: a mesma cabeça grande, o ventre crescido, as pernas finas, o sangue com pouca tinta e morremos da mesma morte Severina: “Que é morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia”. Nosso Severino tem mesmo uma sina: caminhar ao encontro da morte, e esta por certo sempre encontrou e quando encontrou vida Severina compreendeu que é mais defendida que vivida. Que peso carregam nossos Severinos? Que destino!? Que destino Severino acreditamos ter? Longe de Severino penso em Ari Barroso, na execução da Orquestra de Música Brasileira, que nos oferece uma leitura de espaços lentamente preenchidos com o toque dos instrumentos, como uma espiral inflacionária, somos inflados, e ao saborear docemente vamos recobrando o espírito de antes do nascimento. Retornemos, portanto, a nossa certidão de nascimento. Hoje, foram 22 dias de abril ... “Neste mesmo dia, a hora de véspera, houvemos vista de terra! A saber primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grande arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!” O ENCONTRO: A TROCA “Pardos, nus, sem coisa alguma que lhe cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas.Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe arremessou um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas que querem parecer de aljôfar, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza. E com isso se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar.” A IMAGEM “A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rosto e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido
  • 7. nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita a moda de roque de xadrez. E trazem-no ali encaixado de sorte que não os magoa, nem lhe põem estorvo no falar, nem no comer e beber. Os cabelos deles são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta antes do que sobre-pente, de boa grandeza, rapados todavia por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte, na parte detrás, uma espécie de cabeleira, de penas de ave amarela, que seria de comprimento de um coto, mui basta, e mui cerrada , que lhe cobria o toutiço e as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena por pena, com uma confeição branda como, de maneira tal que a cabeleira era mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para a levantar. O Capitão, quando eles vieram, estavam sentados em uma cadeira, aos pés uma alcatifa por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro, mui grande, ao pescoço. E Sancho de Tovar, e Simão de Miranda, e Nicolau Coelho, e Aires Corrêa, e nós outros que aqui na nau com eles íamos, sentados no chão, nessa alcatifa. Acenderam-se tochas. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a alguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. Também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata! Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali. Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele. Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados. Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora. Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora. Viu um deles umas contas de rosário, branca; fez sinal que lhe dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as no pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós nesse sentido, por assim desejarmos! Mas se ele queria dizer que levaria as conta e mais o colar, isto não queríamos nós entender, por que lho não havíamos de dar!...” A MISSA E O PARAÍSO “Enquanto assistimos à missa e ao sermão, estaria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos, como a de ontem, com seus arcos e setas, e andavam folgando. E olhando-nos, sentaram. E depois de acabada a missa, quando nós sentados atendíamos a pregação, levantaram-se muitos deles e tangeram corno ou 7
  • 8. buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço. E alguns deles se metiam em almadias - duas ou três que lá tinham - as quais não são feitas como as que eu vi; apenas são três traves, atadas juntas. E ali se metiam quatro ou cinco, ou esses que queriam, não se afastando quase nada da terra, só até onde podiam tomar pé.” “Andamos por aí vendo o ribeiro, o qual é de muita água e muito boa. Ao longo dele há muitas palmeiras, não muito altas; e muito bons palmitos. Colhemos e comemos muitos deles.” A MISTURA “Ao sairmos do batel, disse o Capitão que seria bom irmos em direção à cruz que estava encostada a uma árvore, junto ao rio, a fim de ser colocada amanhã, sexta-feira, e que puséssemos todos de joelhos e a beijássemos para eles verem o acatamento que lhe tínhamos. E assim fizemos. E a esses dez ou dose que lá estavam, acenaram-lhes que fizessem o mesmo; e logo foram todos beijá-la. Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. E portanto se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-à facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E o Ele nos para aqui trazer creio que não foi sem causa. E portanto Vossa Alteza, pois tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim!” A CRUZ E O BATISMO “... Plantada a cruz, com as armas e divisa de Vossa Alteza, que primeiro lhe haviam pregado, armaram altar ao pé dela. Ali disse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco, a ela, perto de cinqüenta ou sessenta deles, assentados todos de joelho assim como nós. E enquanto se veio o Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco, e alçaram as mãos, estando assim até se chegar ao fim; e então tornaram-se a assentar, como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim como nós estávamos, com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados que certifico a Vossa Alteza que nos fez muita devoção.” O desfalque e o ataque à natureza são nossos sinais de Batismo. No princípio fomos invadidos, logo em seguida tivemos retirado nossas árvores, nossa terra violentada, e nascemos, portanto, desfalcados. Da terra retiram/derrubam o pau-brasil, e a cruz é feita. A retirada torna-se um símbolo forte do início, o desfalque e o ataque à natureza são nossos sinais de batismo, como o é também a posse da mulher índia pelo branco invasor (fomos e agimos como seres possuídos) até hoje. Encantamo-nos com os brilhos (as luzes do shoping center), fomos seduzidos e nos deixamos possuir, curiosos e ingênuos. 8
  • 9. Compomos civilização aparentemente frágil, que compõe sua história em construções de palha, paxiúba, porém justamente em nossa fragilidade está nossa sutileza e por todos estes motivos justamente precisam ser tão cuidadas, pois pode não permanecer. Nossa fragilidade é nosso trunfo, porém acreditamos muito mais em fragilidades, inseguranças. Importante tanto quanto ser, é o que acreditamos ser. O processo psíquico constituído por meio da história, carrega cada mito indígena ou seringueiro a auto-representação da psique brasileira, contando sua maneira de ser por meio da linguagem que lhe é própria – a das imagens. Somos fruto do processo que criou a consciência, o modo de ser, pensar e agir, do qual somos portadores e representantes, e do passado riquíssimo que foi deliberadamente apagado. A ORIGEM “Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui está pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé!” “Beijos as mãos de Vossa Alteza.” Na origem tínhamos o paraíso, uma floresta cifrada, tocada para seu uso, a sombra escondendo as árvores - útero. Neste útero/espaço se encontram o índio e o desbravador. O índio, filho da terra, guiado por Eros, livre, espontâneo, cabe garantir a continuidade, a coesão interna do Cosmo, por isso é força importante vinculada à vida. O desbravador chega guiado por sua sombra. A busca pelo desconhecido, terras que poderiam lhe oferecer glórias, riquezas. Encontra terra assustadora de habitantes que destoavam dos europeus, mas onde seria visto o paraíso de suas projeções mais íntimas. Nosso branco vem em busca de seus sonhos, do que está por ser feito. Por isso é importante retornarmos, reconhecer uma alma ancestral no Brasil, como propõe Gambini. Nossa consciência e identidade foram construídas no plano da racionalidade, após uma investida intensa para anular a irracionalidade que compunha a população que habitam essas mesmas terras “descobertas”. O equilíbrio entre a racionalidade do branco e a irracionalidade do nativo poderiam compor o equilíbrio perdido, já quando fomos invadidos. De fato, não fomos descobertos, mas invadidos. Costumeiramente não enfrentamos nosso nascimento, cremos numa história fantástica (que aprendemos na escola e que alimentamos o tempo todo) e fazemos isso porque precisamos desse tipo de história, quando surgimos como conseqüência de um feito fascinante, fomos “descobertos” por acaso, (quem surge não tem gestação, não é esperado, não se prepara, que tipo de pai ou de mãe poderá ter portanto?) como conseqüência de feitos extraordinários (lembremos da história oficial do descobrimento do Brasil). Dessa maneira sentimo-nos enobrecidos, como se nesta situação encontrássemos nossa grandeza. 9
  • 10. Nossa terra incógnita e “descoberta” (fantasia do paraíso – na carta de Pero Vaz de Caminha) que não era de ninguém e recebe a projeção do paraíso sobre si, constituiu-se na matriz de consciência para a qual é possível e desejável apropriar-se da abundância e sugar para sempre como eternos filhos que nunca crescem, buscando sempre no seio farto o alimento, atribuindo por conseguinte todas as responsabilidades aos pais. O PAI E A MÃE Darcy Ribeiro, em seus textos fala da protocélula do povo brasileiro: A criação de um híbrido que nunca saberá quem é, porque nem pai, nem mãe lhe servirão de espelhos ou modelos de identidade. Nossa relação com a Terra (mãe) é bastante frágil e debilitada, enxergamos muitas vezes a o trabalho com a terra como relação secundária, literalmente de segunda categoria. Sofremos uma estupidez, uma crueldade, órfãos de mãe e abandonados pelo pai. A SOMBRA Talvez as imagens mais fortes que tenhamos sejam a cruz e a serpente. O cristianismo dissipou suas teorias e encontrou na postura de nosso povo, no despojamento, na disponibilidade, terreno ideal para projetar sua necessidade de dependência, o conceito de pecado, para caracterizar a libertação do mal simbolizada na serpente. Passamos pelo encontro, dois mundos, duas leituras que interagiram por sobreposição, jamais o branco pode ouvir o índio. Os Jesuítas aqui chegando, atribuíram a imagem cristã do inferno sobre os nativos, foram incapazes de aceitar a alteridade e sua forma de vida, criando olhar pré-julgando de repressão e supressão. Importa compreender porque o comportamento instintivo em geral deveria ser considerado tão vil. O olhar missionário foi incapaz de apreciar e compreender a gratuidade de viver do índio ao cantar, dançar e beber. Não seria necessário participar dos rituais, bastaria aceitar pelo que são, mas isso não foi possível. Nas várias descrições da imagem do índio e da terra “descoberta” encontramos referências a eles como diabos; a nudez, a pintura pela pele, os coloridos das pinturas e plumagens, suas músicas, danças, rituais de vida ou morte, era identificado como o próprio inferno. O contato com a mata talvez não possibilitou outra leitura, e com certa facilidade os europeus transformavam os espíritos da mata como entidades demoníacas, elegendo os índios seus interlocutores. Como o punhal pacificador, ao penetrar no território conquistado a cruz trespassa a alma ancestral do Brasil. Em contraste com as mulheres devotas, submissas, contidas, sofridas que conheciam, os conquistadores encontraram por aqui algo novo e diferente: mulheres disponíveis com olhos formatadas pela sedução, carregados de amoralidades. Uma completa invasão do ego pelas forças arquetípicas do princípio feminino renegado, pois foi sobre as mulheres que os Jesuítas projetaram seu lado mais intolerante, essa dimensão vazia, não trabalhada de sua psique. As índias outra vez como espelho (Gambini) refletiam a frágil condição amorfa, caótica e arcaica da anima jesuítica. É a anima que permite a um homem abrir-se para o inconsciente, para o novo, para o mundo, relacionar-se (ao 10
  • 11. mesmo tempo em que nega) com a natureza e nela encontrar beleza e sentido, e acima de tudo relacionar-se positivamente com o sexo oposto. A anima é para o homem o arquétipo da potencialidade da vida e da satisfação de viver. Quando uma porta é fechada para impedir que a anima participe criativamente da vida psíquica, não deixa de existir, mas atua destrutivamente por trás, nos bastidores, pelo fato de ser negada, encontra uma brecha e atua por trás (assim nascem as bruxas, quando uma das fadas tem seu convite extraviado para participar de uma recepção. Sentindo-se traída, rejeitada, abandona a vida inverte o tom). As índias eram escravizadas e utilizadas como concubinas, pagando pelo mal que não sabiam realizar, concretizando a idéia de pecado e punição. A imagem de Macunaíma é bastante forte neste momento, pois é aquilo que ainda não pode ser. O que brinca o tempo todo, que tem preguiça, o que ao mesmo tempo nos diferencia porque permitimos o ócio, ouvimos nosso corpo, mas também é nossa prisão, pois pode fazer com que não saiamos da superficialidade das coisas, sempre estamos buscando o caminho mais rápido, mais fácil, antes de cansarmos. Não configuramos um amadurecer, continuamos filhos irreverentes. Forjamos um “Povo Zé-ninguém” (de Darcy Ribeiro ou Reich). Criamos o hábito de olhar para nós mesmos e sentir que não fomos nós que fizemos, não somos nós quem controla, não cabe a nós decidir nada seriamente, o povo brasileiro faz sempre figuração e espetáculo. Zé Carioca, o malandro, é outra imagem bastante brasileira, tem duas fases, a primeira quando nasce sempre produzido no Rio de Janeiro e a segunda quando passa a ser produzido em São Paulo, justamente quando ganha esse caráter da malandragem, a imagem que faz o paulista do carioca. Será o espelho negado, reprimido, a sombra? Continuando filhos ... a relação mãe e filho, fundamental para o crescimento, foi anulada logo de princípio. Nem sempre soubemos de onde viemos, não pudemos ser amado, nutrido e protegido por essa mãe, nem nos espelhar nela, como também não pudemos nos relacionar com um pai, que nem apareceu na história. O herói vai fazer seu percurso, mas não terá as condições iniciais para cumprir o destino, muitas vezes nem mesmo o reconhece, não chega ao fim de uma trajetória heróica, no entanto estamos diante do arquétipo do herói necessário, que não pode ser herói por completo. Vive a morte da mãe, a ausência do pai, e a ignorância de quem é. Tornamo-nos sobreviventes e cada vez menos autores de nosso próprio destino. BIBLIOGRAFIA CAMINHA, Pero Vaz. A Carta. Bookweb. Editora e Livraria Virtual, s/d. DIAS, Lucy & GAMBINI, Roberto. Outros 500. Uma Conversa Sobre a Alma Brasileira. São Paulo, Editora SENAC, 1999. GAMBINI, Roberto. Espelho Índio. São Paulo, Axis Mundi/ Terceiro Nome, 2000. JUNG, C.G. Tipos Psicologicos. Buenos Aires, Editorial Sudamericana, 1943. RIBEIRO, Darci. O Povo Brasileiro: a Formação e o sentido do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1995. 11
  • 12. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE PRIMEIRA VERSÃO 67 PRIMEIRA VERSÃO ISSN 1517-5421 lathé biosa ANO II, Nº67 - SETEMBRO - PORTO VELHO, 2002 VOLUME V ISSN 1517-5421 EDITOR NILSON SANTOS CONSELHO EDITORIAL ALBERTO LINS CALDAS - História ARNEIDE CEMIN - Antropologia ARTUR MORETTI - Física CELSO FERRAREZI - Letras FABÍOLA LINS CALDAS - História JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação MARIO COZZUOL - Biologia MIGUEL NENEVÉ - Letras VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia JÁ ESTAMOS NA CAMUFLADA GUERRA Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows” CIVIL DO DESEMPREGO deverão ser encaminhados para e-mail: nilson@unir.br CLODOMIR MORAIS CAIXA POSTAL 775 CEP: 78.900-970 PORTO VELHO-RO TIRAGEM 200 EXEMPLARES EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
  • 13. Clodomir Santos de Morais jacintaclodomir@hotmail.com Professor de Sociologia Rural - UFRO JÁ ESTAMOS NA CAMUFLADA GUERRA CIVIL DO DESEMPREGO O desemprego e o sub-emprego que confIgura a marginalidade, no Brasil, têm conformado uma força social tão poderosa que chega mesmo a impor um diário “toque de recolher”, a partir das 21 horas, nas 100 maiores cidades do país, obrigando perto de 50 milhões de brasileiros a não sair de casa sem o risco do assalto a mão armada. É tão patente esta dura realidade que um ministro da Justiça foi à televisão aconselhar aos que infringirem o “toque de recolher” no sentido que tenham sempre algum dinheiro no bolso, porque a falta deste poderá irritar o assaltante e levá-lo a produzir maior violência. Calcula-se em meio milhão de adolescentes conhecidos por “trombadinhas” que vivendo fora de controle do país, se dedicam a furtos e assaltos. Nas maiores cidades brasileiras, as ruas e praças centrais, à boca da noite, são evacuadas rapidamente pela população compradora. Logo, em seguida, o comércio protege suas portas com fortes grades de ferro enquanto a população se desloca aos bairros para proteger-se no lar , lar de janelas e portas também reforçados por grades de ferro. Há menos de maio século as pessoas podiam livremente desfrutar do passeio noturno para ver vitrines, parques, teatros, templos, cinemas, estádios de futebol. Naquela época somente os agentes da violência estavam metidos atrás das grades. Hoje, a coisa está completamente invertida, diametralmente oposta; à noite a cidadania é recolhida às grades de ferro que protegem porta e janelas do seu lar, enquanto que a violência livremente campeia nas ruas pondo em risco a tranqüilidade de todos. Invertem-se inclusive os critérios da arquitetura, pois a grade que antes era o símbolo dos estabelecimentos penais, passou a impor-se como componente arquitetônico de habitação familiar. É por isso que a serralheria constitui um setor industrial em expansão. Não seria exagerado dizer que a maioria dos brasileiros, hoje em dia, dorme atrás das grades por temer a violência que impera nas ruas. E, por conta disso, em expansão entra a indústria de novela de televisão, a fim de ninguém morra de tédio, encerrado em sua casa. Cumpre-se assim a profecia de Josué, não o rei que conduziu os judeus à Terra Prometida e sim o médico e sociólogo Josué de Castro que dizia que a população das grades urbes, um dia, estaria composta “dos que não comem e dos que não dormem: não dormem com medo dos que não comem”. 13
  • 14. De fato, esta é a triste realidade em que vivemos. Pior ainda porque o medo aos desempregados, ou seja, o medo aos que não comem rouba ao indivíduo a liberdade de sair à noite. Muitos têm medo de sair mesmo em automóveis e gritam por mais policiamento nas cidades, como se já não fossem excessivamente pesados aos cofres públicos e privados os serviços destinados à segurança pessoal e do patrimônio. AS CAUSAS DO PROBLEMA Toda nossa história mostra que o brasileiro é de espírito e índole pacífica e, por isso, avesso à guerra e à violência. Se este hoje constitui o mais grave problema social dos brasileiros, é porque não se tem tratado de ultrapassar adequadamente as causas da violência -- que não são outras se não o desemprego e o sub-emprego. Na medida em que crescem o desemprego e o sub-emprego, cresce também a violência. Nos países do Terceiro Mundo de economia deformadas e incipientes o progresso técnico da agricultura, na medida em que melhora as condições de vida rural, desloca a população para os centro urbanos. Este constitui o custo da incorporação tecnológica com o propósito de aumenta a produção e incrementar a produtividade agrícola em todo e qualquer sistema econômico montado sobre a produção de mercadorias, não importa o marco político-filosófico que o presidia. As megalópoles marcam as geografias dos países ocidentais e orientais; do hemisfério norte e do sul. Quer dizer que, em qualquer parte do planeta onde existir a produção mercantil, seja em forma de bens ou de serviços a tecnologia é sempre buscada para reduzir os custos da produção e dos preços das mercadorias, reduzindo, em conseqüência disso, braços nos centro de trabalhos, empurrando esses braços livres à procura de trabalhos em outros lados. É tão inexorável o “metabolismo” da economia da produção mercantil que chega a desrespeitar a vontade dos homens que a desconhecem ou não a levam em conta. Exemplo mais típico dessa, dir-se-ia, fatalidade é o caso dos riograndenses do sul que sempre tiveram uma agricultura e uma indústria doméstica modelares, baseadas na produção familiar. Com efeito, nossos gaúchos sempre endeusaram os seus “pagos” e a sua “querência”; quase não saíam de suas fronteiras nas proporções dos emigrantes nordestinos. Nossos dias, avalanches de emigrantes riograndenses do sul se espalham por todo o centro e grande norte brasileiro. Eles não puderam permanecer tranqüilos e felizes nas suas “querências”, apesar de serem os brasileiros que mais tempo tiveram nas mãos as rédeas da República. Com efeito, nos 100 anos de vida republicana, o Brasil tem sido governado, quase metade de um século, por gaúchos e muitos deles com plenos poderes, em regimes ditatoriais. Hoje o Rio Grande do Sul consome até verduras e legumes produzidos nos grandes centros de moderna produção, por não ter podido absorver na agricultura ou na indústria as massas desempregadas do campo. A absorção de braços excedentes da agricultura foi um fenômeno normal na história econômica dos países mais desenvolvidos do século passado. É que a revolução industrial, nos seus primórdios, estava montada sobre uma tecnologia ainda pobre, limitada por uma mecânica consumidora de grandes massas de 14
  • 15. trabalhadores. Além disso, os braços excedentes da agricultura foram em grande parte absorvido também nas construções de canais e de numerosas estradas de ferro e nos esforços de expansão colonial. Com o Brasil e com outro países do Terceiro Mundo de tardio desenvolvimento capitalista, a máquina penetrou na agricultura (expulsando do campo populações rurais) na mesma época em que a fotocélula invadiu a indústria reduzindo suas necessidades de braços e impedindo dita indústria de cumprir seu clássico papel de observadora de consideráveis porções de excedente de mão de obra rural. Daí porque, dado a esse anômalo “metabolismo” do capitalismo tardio, no nosso país o migrante rural, ao chegar à cidade, é logo inserido não na indústria (impossibilitada de absorvê-lo) e sim no Setor Terceário, ou seja, nos Serviços. Ele se incorpora ao comércio ambulante, ou como biscateiro de milhares de barracas que proliferam marcando de cashbad, ou medinas orientais, os grandes centro urbanos. Outros migrantes de menor sorte, que não conseguiram incorporar-se nem à industria nem aos Serviços, são no entanto, incorporados às fileiras da violência a que a fome e o desemprego geralmente induzem. COADJUVANTES DA SOLUÇÃO Os braços que a Agricultura e a Industria não puderam absorver têm que ser incorporados à produção de bens ou de serviços se não se quiser vê-los engrossando, cada vez mais, as hostes da violência. Em duas palavras: ou são incorporadas ao trabalho, ou serão incorporados à violência. Para isso dever-se-á preencher vastos espaços econômicos e sociais que requerem profissionais organizados em estruturas de produção e de serviços. As coisas dos homens são feitas pelos homens. O dinheiro e a tecnologia nada fazem sem os homens; e os homens só fazem bem as coisas quando estão adequadamente organizados para isso. Todo mundo trem dor de cabeça quando necessita de um eletricista, ou de encanador, ou de um pintor, ou de um tipógrafo, ou de um cozinheiro, de um carpinteiro, ou de um mecânico, ou de um pedreiro, ou de um alfaiate, de um protético, de artesãos de todo tipo; ou de um datilógrafo, ou de uma babá de velhos ou inválidos; ou de uma simples empregada doméstica, ou de um jardineiro, de massagista, de professores, de tradutores e de tantos outros profissionais que não tem trabalho ou operam ocasionalmente. A dor de cabeça sobrevém pelo receio de contratar serviços de indivíduos que não estão apoiados em uma razão social, uma empresa, uma cooperativa, um coletivo de trabalho ou de uma associação comunitária idônea. Hoje, já se tem bem claro que os produtores remunerados só trabalham em cooperação quando estão ao redor de insumos indivisíveis, ou seja, ao redor de meios de produção e de serviços postos à sua disposição ou em propriedades comum de todos os associados. A pequena infraestrutura (o teto), o veículo, o telefone, a maquinaria simples, utensílios instrumentos e ferramentas de trabalho de propriedade e de uso comunitárias sempre se consegue com a Comunidade Solidária, com a Secretária de Assuntos Comunitários da Presidência da República ou com outras instituições similares a níveis estaduais e municipais. 15
  • 16. Sobram profissionais desempregados. Só as Forças Armadas, por exemplo, cada ano joga no mercado de trabalho entre 40 e 50 mil profissionais jovens, formados durante o serviço militar, além de milhares e milhares de profissionais formados anualmente pelo SENAI, SENAC e por centenas de outras instituições congêneres e universidades. Como se vê, sobram profissionais. O que falta mesmo são instituições especializadas em “construir” estruturas organizativas capazes de incorporar os milhões de profissionais sem trabalho. Faltam quadros organizadores de cooperativas de trabalho e de outras formas de cooperação que absorvem o desemprego. Para tanto, há que criar-se uma instituição que seja o novo “bandeirante” da expansão do emprego dotada de centros de capacitação em organização dos produtores, com vistas à expansão real do emprego (COPEERE), concebido pelo Instituto de apoio técnico aos países do Terceiro Mundo, ‘IATTERMUND’ de Brasília. Este mesmo instituto já criou em vários Estados mais de dez sistemas de Participação Social na identificação de Projetos Geradores de Empregos e Renda, SIPGER mediante o método de capacitação mas, livres dos Laboratórios Organizacionais utilizados por agencias da ONU e OEA em vários países da Europa Latinoamérica e África. 16
  • 17. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE PRIMEIRA VERSÃO 68 PRIMEIRA VERSÃO ISSN 1517-5421 lathé biosa ANO II, Nº68 - SETEMBRO - PORTO VELHO, 2002 VOLUME V ISSN 1517-5421 EDITOR NILSON SANTOS CONSELHO EDITORIAL ALBERTO LINS CALDAS - História ARNEIDE CEMIN - Antropologia ARTUR MORETTI - Física CELSO FERRAREZI - Letras FABÍOLA LINS CALDAS - História JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação MARIO COZZUOL - Biologia MIGUEL NENEVÉ - Letras VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia LITERATURA EM FRAGMENTOS Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows” deverão ser encaminhados para e-mail: ALBERTO LINS CALDAS nilson@unir.br CAIXA POSTAL 775 CEP: 78.900-970 PORTO VELHO-RO TIRAGEM 200 EXEMPLARES EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA 17
  • 18. Alberto Lins Caldas LITERATURA EM FRAGMENTOS Professor de Teoria da História - Centro de Hermenêutica do Presente – UFRO caldas@unir.br - www.unir.br/~caldas/Alberto “... uma força espiritual que começa sua trajetória no sensível e dispensa a realidade.” Antonin Artaud 1 - incipit: A literatura só se entrega à literatura. 2 - A literatura é o fogo noturno [fogo-selvagem] que afasta as feras, o inominado, a morte, a escuridão, o inesperado, o esquecimento; atraindo os homens tanto à solidão quanto a solidariedade, relacionando os gestos, as palavras, as emoções, os sonhos, o desejo e o corpo; reforçando e superando os ritos, as crenças, as vozes, os corpos, os anseios, o riso, a lágrima, o sono; repetindo o conhecido, o esperado, o desejado, o sabido, o vivido cria um espaço vivo onde nada ainda foi; reunindo corpo, palavra e vida numa mesma ascese circular, onde todos comungam o sagrado esquecimento de tudo aquilo que ameaça, está além, está antes, está dentro e que num átimo poderia estar ali, entre nós, se o fogo cessasse, se o fogo não se mantivesse. 3 - A literatura é a caça-futura desenhada, pintada, soprada, talhada, inscrita, dançada, cantada, gemida, gritada, murmurada, soluçada, sonhada no fundo de uma caverna: é sempre aquilo-que-virá, aquilo-que-reúne, que conjuga magicamente o ainda não completamente presente, o desejo de uma fome presente somente para quem está na caverna (também reunião de uma fome coletiva) mas que será de todos no-futuro: a literatura antecipa e cria o momento futuro, a caça futura: a leitura (puro ritual) é a carne dessa magia sendo devorada, fazendo existir tanto a magia quanto a carne da magia: devorar antes de devorar devorando: o em-si trans-formado em para-nós. Por isso mesmo uma literatura antes de tudo é para o corpo, para os sentidos, para os humores: uma literatura corporal: e toda a sua inteligência, todo o seu logos-falus, poda a sua possibilidade de análise advirá, sempre pos festum, daí [sempre depois do festim da leitura: nunca um tiro “de verdade”: sempre de festim: a literatura só existe realmente no festim da leitura, jamais em nenhum dos empachamentos críticos]. 4 - A “obra de arte literária” é um espaço que, ao nos reposicionar, instaura campos de visão, de sensação, de reflexo e reflexão, de opinião, diferente daqueles que normal e trivialmente utilizamos. Torna-se um instrumento insólito: ao nos curvarmos sobre ou com ele somos tragados para outro-lugar, outro-olho, outro-eu, outra-língua, outro-nós; e desse não-lugar, desse ponto outro, reposicionamos e reformatamos a nós mesmos e ao mundo. Esse instrumento insólito, vindo dos fluxos vivos da linguagem, nos arrasta para as próprias fundações do existir. 5 - A literatura deve ser um questionamento radical, um revolver os alicerces da existência; espaço onde todos os possíveis valores, olhares, percepções, naturalizações podem ser de-batidos, ex-postos, examinados, sendo possível ver o não visto, abrindo e trazendo as contradições para uma forma de visibilidade e
  • 19. combate, uma materialização possível daquilo que deve ser visto, combatido, compreendido, superado; ao reunir na virtualidade vivenciada os pontos, os traços daquela possível e futura virtualidade (a literatura como a “magia da caça futura”) a literatura tem no prazer estético, na compreensão radical e na crítica ao real e na projeção do futuro suas razões maiores. 6 - Só há literatura quando há epifania, encantamento alimentando-se da própria essência, exercício vivo de magia, espaço encantatório e prazer enfeitiçado; inquietação e ritual de passagem. Alterando o real numa suprema liberdade de gozo epifânico, criando o avesso da terra e do céu que ao mesmo tempo diz e somente ela pode dizer o céu e a terra. Urdidura do ser na perseguição essencial. 7 - A literatura não reproduz “fatos singulares”, “acontecimentos”, “cotidianidades de jornal”, mas busca apreender tendências, tensões, dobras, movimentos da virtualidade que criam hologramas que “antecedem o futuro”. A obra de arte literária concentra os nódulos tensos que estão dispersos na virtualidade, e que se tornarão visíveis somente numa própria virtualidade futura. 8 - A “obra de arte literária” não pode ser unilateral, mas aberta às multiplicidades, seja das contradições, das vozes, das personas. Seu caminho não coincide com a história (um dos transes da literatura brasileira: só se encontra o real ao se superar o real [esse conceito estritamente pequeno-burguês e ridículo que invadiu o mundo nas mesmas “ondias” do mercado]), com a mídia, com a mercadoria, com as lógicas triviais, com as linguagens desgastadas, cheias de uma politicidade restrita, uma inteligência localizada, uma sensibilidade paroquial. 9 - Não se desviar do centro, do eixo, das articulações, do essencial, do equilíbrio (estabelecendo a ação no desequilíbrio): se desviar do centro, do eixo, das articulações, do essencial, do equilíbrio. 10 - A “obra de arte literária” é uma negação-radical, por isso ousa sobreviver: sua consciência servirá para um além do seu-momento, como obra-de-saber, dizendo aquilo que somente ela poderia dizer, sendo o que somente ela poderia ser. 11 - Uma literatura cria o homem, antecipa o real, condensa o futuro no presente (na “literatura brasileira” o homem é criado a partir de discursos extraliterários, imagens do poder, vícios da historiografia, deformações das letras, sem que haja, sem que tenha havido a absolutamente necessária “... ruptura entre as coisas e as palavras”, in-vertendo Artaud). 12 - À literatura cabe sondar as tensões vivas, as contradições, o novo dentro do velho, as resistências do velho, as dissoluções, as dissonâncias. Sondar o mundo através da linguagem, porque o mundo é linguagem alienada: conscientalizar não a linguagem, não a literatura, não os escritores: o centro da literatura não é ela mesma: o centro é o homem concreto, real, vivo, mergulhado numa comunidade qualquer. 13 - Sendo o mundo cristalização viva das linguagens, linguagem alienada, cabe a literatura a missão de dizer o mundo de uma maneira que nenhuma outra “linguagem” poderia dizer: sua matéria é a mesma que cria, faz circular e mantém o mundo: lembrar-nos nossa essência. 14 - Os dizeres normatizados, as falas institucionalizadas, as posições estabelecidas, os viveres cotidianizados não são a grande matéria do literário (a não ser como paródia, ironia: jamais como crença, como um “dizer a realidade”), mas as falas alternativas, os dizeres não ditos, os falares calados, silenciados; o viver que não 19
  • 20. somente diz, mas contra-diz: o dizer que se diz todo dia está naquelas “literaturas do real”, como as revistas, os jornais, as telenovelas, os filmes: a literatura é o dizer mal-dito: bem além do dizer trivial que invade tudo: e exatamente por ser assim desvenda o trivial do mundo e o trivial da própria linguagem. 15 - entresseio: Sem Deus, sem Natureza, sem Sociedade, sem Homem, sem História, sem Nação, sem Povo, sem Língua, sem Autor: somente assim a literatura pode não somente dizer tudo isso criticamente como somente assim ela poder dizer: não sendo. 16 - A literatura não pode esconder os conflitos, as contradições, a vida que a gerou: sua grande missão é descristalizar o que esconde os conflitos: ex-pôr em devires. É o afloramento das múltiplas línguas, falas, vozes, sussurros, gritos, silêncios, ao mesmo tempo, num tecido. 17 - Embate de forças vivas, contrárias, trágicas, tragicômicas, explícitas; luta de valores, visões, corpos, almas, diversas, dispersas, misteriosas; grandes sentimentos, vozes singulares ou mergulhadas na gosma existencial e suas guerras particulares como demônios para mais afundarem ou submergirem. Nenhuma vidinha plana, de classe média (o estranho campo de força da literatura e da crítica “pequeno burguesa”), servindo somente para um simples “contar história” (a literatura não é jamais um contar história, um divertir narrativo). Sem grandezas, sem embate vivo das grandezas, não se consegue uma visão de mundo que possa se transformar em literatura, que possa conquistar uma literatura. Sem esses choques de grandezas não podemos ter nem verdadeiros demônios, mergulhados no lodo com desespero, nem anjos submergindo da lama do mundo, do pecado, do desejo, da culpa, do crime, da rotina; ou homens vivendo a vida como homens (bem além dos estereótipos), além de anjo ou demônio, mas sem apagar tudo aquilo que cria realmente um anjo, um demônio, um homem. 18 - Mefisto, não o curupira; Hamlet, não Bentinho; Lady Macbeth, não Lucíola; Graograman, não Baleia; Édipo, não Vasco da Gama; Marcel, não (...). 19 - Espaço dialógico onde se cristalizam os inchaços, os tumores; onde se instalam os vômitos, as diarréias; onde transitam vozes contrapostas: espaço onde se projetam os imaginários, os poderes, as crenças, as posições sociais e singulares. 20 - A literatura é o que atravessa as línguas, o que está sempre antes e depois, fluindo, em travessia, o que se faz apesar da língua, rotacionando como um holograma interno que se constitui no passo da leitura, da audição, do tato e do sonho (holograma teatral, dialógico e polifônico, em movimento dispersivo; vácuo que atrai toda matéria que o requer, reordenando-a, esclarecendo-a, questionando-a). Como é fratura, interstício, fenda (“buraco de coelho” denso, vivo, intenso, aceso, arrebatado, desmedido: daí porque grande parte daquilo que chamam “literatura brasileira” não existir como literatura: não é a língua seu entrave: é porque ainda não é literatura: parcamente alegórica, frugalmente grotesca, ligeiramente obsessiva: classe média demais, colonial demais, portuguesa demais), move-se por um específico tribadismo que chamamos literatura [a literatura é o aquilo que é voltado para si mesmo, a volva latina (que vindo de volvere termina em vulva: “nós” não voltamos nem entramos: continuamos a detesta-las: as tornamos sempre e somente grávidas, mães, jamais iguais: daí não sai o coelho nem seu buraco e Alice é somente mais uma trabalhadora). O estojo vazio (o único vazio que satisfaz; único vazio que é; o único que ao não ser gera mundos, também vazios: literatura: o sofrimento que diz o sofrimento do mundo)]. Gozo que não se localiza, não se estabelece: existe somente no flu-ir, no rot-acionar: rasgando a carne, os ossos, a vida. A literatura é uma sensação densa em processo inqualificável, não é linguagem ou “sistema de signos”. Não se objetifica no livro, na língua, no alfabeto, na cultura, na região, no povo: é uma resultante flu-indo, uma sensação holográfica. 20
  • 21. 21 - A literatura, antes de ser um “compromisso com o real”, é uma “escrita branca”, “escrita inocente”, “indicativa”, “amodal”, “equação pura”, “linguagem indefinida”, “estado neutro e inerte da forma” barthesianos. Mas é essa equação fria que pode desvendar e desventrar o real, as contradições do real, reunir os traços do futuro no presente, o horror entranhado, apontar e despontar. As linguagens instituídas que se tornam um “contar histórias” literário não conseguem se descolar dos seus limites, origens, objetos, ordenamentos, transes, imaginários. Localizar é matar a literatura. 22 - Aquilo que leio e gosto, e me diverte, e me distrai, e me ausenta, não é literatura; aquilo que ensina, instrui, educa, aperfeiçoa, não é literatura; aquilo que comunga, reproduz, respeita, espelha, não é literatura; aquilo que alegra, contenta, embeleza, não é literatura; aquilo que é letra, palavra, frase, parágrafo, gramática, linguagem, discurso, não é literatura. 23 - A literatura cria um vazio denso que atrai qualquer existente a um diálogo, a um confrontar-se, a um negar-se, a um desdizer-se. 24 - Para a “literatura brasileira” há que se levar em conta o “trabalho” colonial e sua construção hegemônica da língua portuguesa, em primeiro lugar. Mas não deixar de refletir sobre essa mesma ação no fabular, na temporalidade narrativa, na relação entre literaturas, na relação entre real e literário, entre práxis e poíésis, na feitura do texto e da textura do leitor. Que escritor?, que literatura?, que leitor?, que crítica? O “nosso texto literário” é muito menos tecido, textura, tessitura e muito mais fazenda (Colônia, Império, República: o mundo paroquial, provinciano, pequeno-burguês: o “nosso” universo e verso): enquanto fazenda exige determinada realidade, práticas e imagens que equilibrem a fazenda do real com a fazenda do texto (coisa de homem e não de mulher: essa masculinização estúpida da literatura, a fazenda e não o tecido, o real e não o virtual). O sacerdote do texto (o escritor), o sacerdote do tecido literário, se transforma em Ministro da Fazenda (Senhor de Engenho, Fazendeiro, Latifundiário e não a rendeira, a bordadeira, a costureira: escritores do tecido: emparedamos como incompetentes pedreiros). 25 - Não há transparência na literatura: somente ela pode ousar a transparência. Luz que é treva; o que mostra escondendo e o que esconde mostrando. Esse lugar sem lugar consegue luz e sombra de qualquer lugar. 26 - Como a literatura é um holograma, resultante de uma máquina insólita, mecanismo que deixa de existir ao gerar o holograma (e somente enquanto deixa de existir), não é nessa materialidade enganosa que devemos buscar a literatura. Ela não está no-texto, na-língua, no-alfabeto, no-discurso, na-gramática: está sempre depois. Esse depois, o holograma, deve ser o nosso campo de degustação, nosso lugar de brincadeira (o que alguns ainda chamam “objeto de estudo”). 27 - Esse holograma não reproduz, não espelha, não repete qualquer exterior; não explica, não conceitua nenhuma realidade; não parte de nenhuma história: nele todo o possível pode se ver: seu vazio de ser atrai qualquer existente que nele se ad-mire (a não ser quando a literatura é raptada pela Nação, pelo Povo, pela Cultura, pela Língua, pelo Poder, pela Mercadoria, pela Estupidez). 28 - O crítico ao se abismar nessa máquina insólita encontra somente a si mesmo e a água narsísica onde afundou e não sabe: o transe do significante é tão terrível quanto o do significado: se não há natureza tudo é possível: a literatura não está onde sempre se procurou: e sempre se procurou como se ela fosse uma coisa, 21
  • 22. algo simplesmente extenso, temporal, corporal, lingüístico: sua instância é a do sagrado, a do alegórico, a do exemplar, a do arquetípico, ao do ser que só existe ao não-ser, ao flu-ir como se não fluísse: essa ilusão tornou-se categoria, instância, saber: somente um se afastar. Ao conferir um sentido mais complexo, mais profundo e mais rico a literatura re-vela o sentido tragicômico da existência, em vez de se abismar tanto no particular quanto no singular enquanto limite. 29 - Holograma em constante movimento. Produzi-lo faz desaparecer a máquina insólita, transformando-a em outra-coisa, a literatura. Que pode prescindir das palavras, quando elas desaparecem e em seu lugar vigora, aparece, transcorre perceptivelmente não conceitos, idéias, esquemas, mas um derramamento físico, corporal, indefinido, profundo, hipnótico (o holograma em construção no flu-ir da leitura). A preocupação com as palavras é sempre uma preocupação de “filólogo” (de filisteu cultural como diria Nietszche) que nada tem a ver com aquilo que é a literatura: um nada que é tudo, um nada que desvenda um tudo. 30 - re-capitulação: A literatura é um rio sem margens, sem água, sem nascente e sem foz. BIBLIOGRAFIA BACHELARD, Gaston. LAUTRÉAMONT. Litoral Edições, Lisboa, 1989. BARTHES, Roland. O RUMOR DA LÍNGUA. Edições 70, Lisboa, 1987. __________. O GRÃO DA VOZ. Francisco Alves, Rio de janeiro, 1995. BATAILLE, Georges. A LITERATURA E O MAL. L&PM, Porto Alegre, 1989. BENJAMIN, Walter. MAGIA E TÉCNICA, ARTE E POLÍTICA. Obras Escolhidas, vol. 1, Brasiliense, São Paulo, 1987. BLANCHOT, Maurice. O LIVRO POR VIR. Relógio D’água, Lisboa, 1984. __________. O ESPAÇO LITERÁRIO. Rocco, Rio de Janeiro, 1987. __________. LAUTRÉAMONT Y SADE. Fondo de Cultura Económica, México, 1990. __________. A PARTE DO FOGO. Rocco, Rio de Janeiro, 1997. CALDAS, Alberto Lins. DO TEXTO AO HIPERTEXTO: DA LEITURA À HIPERLEITURA. Primeira Versão/22-UFRO, Porto Velho, 2001. __________. NOTAS SOBRE LITERATURA E ARTE. Primeira Versão/50-UFRO, Porto Velho, 2001. CALVINO, Ítalo. SEIS PROPOSTAS PARA O PRÓXIMO MILÊNIO. Companhia das Letras, São Paulo, 1990. __________. POR QUE LER OS CLÁSSICOS. Companhia das Letras, São Paulo, 1993. DELEUZE, Gilles. PROUST E OS SIGNOS. Forense-Universitária, Rio de Janeiro, 1987. ECO, Umberto. PÓS-ESCRITO A O NOME DA ROSA. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1985. __________. SEIS PASSEIOS PELOS BOSQUES DA FICÇÃO. Companhia das Letras, São Paulo, 1994. HEIDEGGER, Martim. A ORIGEM DA OBRA DE ARTE. Edições 70, Lisboa, 1990. KUNDERA, Milan. A ARTE DO ROMANCE. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1988. 22
  • 23. __________. OS TESTAMENTOS TRAÍDOS. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1994. MANGUEL, Alberto. UMA HISTÓRIA DA LEITURA. Companhia das Letras, São Paulo, 1997. __________. NO BOSQUE DO ESPELHO. Companhia das Letras, São Paulo, 2000. PERRONE-MOISÉS, Leyla. TEXTO, CRÍTICA, ESCRITURA. Ática, São Paulo, 1993. __________. ALTAS LITERATURAS. Companhia das Letras, São Paulo, 1998. WILLEMART, Philippe. UNIVERSO DA CRIAÇÃO LITERÁRIA. Edusp, São Paulo, 1993. __________. BASTIDORES DA CRIAÇÃO LITERÁRIA. Iluminuras/FAPESP, São Paulo, 1999. 23
  • 24. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE PRIMEIRA VERSÃO 69 PRIMEIRA VERSÃO ISSN 1517-5421 lathé biosa ANO II, Nº69 - OUTUBRO - PORTO VELHO, 2002 VOLUME V ISSN 1517-5421 EDITOR NILSON SANTOS CONSELHO EDITORIAL ALBERTO LINS CALDAS - História ARNEIDE CEMIN - Antropologia ARTUR MORETTI - Física CELSO FERRAREZI - Letras FABÍOLA LINS CALDAS - História JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação MARIO COZZUOL - Biologia MIGUEL NENEVÉ - Letras VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E A Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows” EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS deverão ser encaminhados para e-mail: nilson@unir.br CLODOMIR MORAIS CAIXA POSTAL 775 CEP: 78.900-970 PORTO VELHO-RO TIRAGEM 200 EXEMPLARES EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA 24
  • 25. Clodomir Santos De Morais jacintaclodomir@hotmail.com Professor de Sociologia Rural - UFRO PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E A EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS DEPREDAÇÃO DOS RECURSOS SELVÁTICOS A vasta região que abarca o Alto-Paraguai e o Alto-Guaporé na qual se pretende compor o sistema integrado de desenvolvimento regional ( SIDER) do extremo do Estado do Mato Grosso, se estende da área pantanosa dos Xaraes até as terras mais altas do divortium-acquario da chapada dos Parecis que delimita as nascentes dos tributários do Tapajós, do Paraguai e do Rio Guaporé. Correspondente aproximadamente a 50 mil Km2 habitados por um pouco menos de meio milhão de pessoas distribuída em 14 município: Indiavai, Comodoro, Salto do Céu, Vila Bela da Santíssima Trindade, Figueirópolis, Pontes de Lacerda, Mirassol do Oeste, Rio Branco, Reserva do Cabacal, Araputanga, São João do Quatro Marcos, Jauru, Porto Espiridião, e Cáceres. Este último e o município maia importante e para o qual confluem as vias de comunicação dessa sub-região matogrossense. Trata-se de pequenos núcleos populacionais que em forma ganglionar se multiplicaram nessa faixa de terra ao ritmo de uma colonização espontânea desordenada e com a irracionalidade que caracteriza esta forma de expansão da fronteira agrícola. O camponês indígena local e o adventício pequeno produtor, sempre disposto a reeditar a pequena economia familiar, constituem os protagonistas desse processo que conduz à depredação dos recursos naturais do trópico úmido. Com efeito, o secular sistema da “derrubação-roça-queima” não é mais do que o PEÃO QUATRO REI de uma partida de xadrez entre o homem e a natureza; entre a Escologia Humana e a Ecologia Natural, na qual esta sempre sai perdendo. É que uma vez aberto o céu com a derrubada dos gigantescos espécimes vegetais, os raiso solares passam a ser acessíveis até a vegetação de mais baixos tetos. Aí então parece o pasto natural e atrás deste, como um corolário imediato, vem o gado. Em área de difíceis comunicação e transporte para o mercado regional, o gado se apresenta, evidentemente, com a mercadoria ideal, pelo fato de conservar- se por si mesma: de reproduzir-se por si mesma e por transportar-se a si mesma. Na medida em que se estende a atividade pecuária, o gado vai empurrando o homem rumo ao coração das áreas selváticas e, assim, o gado e colonos espontâneos, em poucas décadas mais, destruirão o resto da floresta do Além-Pantanal se não houver uma política adequada de conservação de recursos, aplicável a curto e médio prazo. Fora disso é inevitável a depredação dos restos de matas dessa vasta e rica região.
  • 26. A MOBILIDADE ESPECIAL DA MÃO-DE-OBRA Tem se observado que os deslocamentos contínuos ou intermitentes de população de área economicamente deprimida do Mato Grosso rumo as regiões selváticas do Alto-Paraguai e Alto-Guaporé e em direção aos centros urbanos se apresentam na forma de um processo de drenagem demográfica como que submissa à força de gravidade, e mais ainda como um mercado caráter seletivo da força de trabalho. Nas áreas de economia deprimida, de uma produção familiar em desintegração lenta, porém contínua, permanecem apenas os anciãos, as crianças e as mulheres. Rumo aos centro urbanos (alguns deles, formados em décadas recentes) marcham os homens que não tem oportunidades nas áreas de minifúndios de terras esgotadas. Em direção às regiões de bosques lati-foleados-úmidos, em direção as matas virentes das cabeceiras do tributário do Alto-Paraguai marcham também os pequenos produtores jovens na esperança de reeditar o ciclo da empresa familiar. Desse modo, a colonização espontânea desordenada e predatória da selva, igual a marcha rumo aos centros urbanos, tem origem nas áreas de economia deprimida. Logo, tanto os problemas sócio-econômicos das áreas de economia deprimida como os da depredação da selva e mais ainda os da periferia dos centros urbanos, todos eles guardam uma íntima relação e uma inter-dependência que só se explica com a própria estrutura da economia regional prevalecente. MEDIDAS INTEGRAIS: FORMAÇÃO DE QUADROS MÉDIOS A análise dessa realidade indica que uma das medidas integrais para conjurar de certo modo os problemas derivados desses deslocamentos populacionais radica fundamentalmente em programa de maximização do emprego rural nas identificadas áreas de economia deprimida e em medida de racionalização das atividades produtivas da selva e dos centros urbanos. Por esse motivo é que se propõe a adoção de programas com vistas a processos integrais de desenvolvimento, tendo como primeiro passo a formação de recursos humanos acessíveis a modestas Prefeituras e Unidade de proteção dessa sub-região. Supõe-se imprescindível para cada uma da municipalidade que comporão o SIDER a criação de um escritório encarregado de: a) Planificação do emprego rural, mediante elaboração de projetos viáveis do ponto de vista financeiro; b) Capacitação administrativo-gerencial das empresas agropecuárias de propriedade e produção mais susceptíveis de absorver mão-de-obra ociosa das áreas rurais, sejam em atividades agrícolas, extrativas, pecuárias , de transformação e de serviços; c) Estabelecimento de um sistema de participação social na identificação de profetos ecológicos geradores de emprego e renda familiar; d) Montagem de eventos de capacitação massiva com vistas à estruturação de empresas associativas ou cooperativas de um Sistema Social Florestal assentadas na racionalidade econômica e na conscientização ecológica. PRÉVIO ESTABELECIMENTO DE “SANTUÁRIO ECOLÓGICO” 26
  • 27. Antes que o processo de depredação alcance e destrua as áreas de bosques dos divisores de água da Chapada dos Parecís ricos em germoplasma, urge o estabelecimento de Áreas de Reserva da Biosfera, espécie de “Santuários Ecológicos” com propósito de perpetuação de seus recursos biótipos em toda a sua variedade. Evidentemente, para evitar que se tome a ecologia com um fim e não como um meio destinado a ajudar o desenvolvimento, deve-se estimular o estudo científico e tecnológico que conduzam à adequada utilização das áreas de Reservas da Biosfera para desfrute dos que vivem na região. Para tanto, é importante a adoção dos critérios primários (representatividade, diversidade, naturalidade e eficácia como unidade de conservação) e dos critérios secundários (informação sobre a zona, espécies em riscos de extinção, importância histórica, etc.) que tecnicamente se aplicam para a escolha das áreas destinadas ao estabelecimento de reservas da biosfera. a) A representatividade se expressa no conteúdo da área selecionada para Reserva Biosfera definido pelo conjunto típico de ecossistemas que entra em relações com biomas de claras afinidades com a vegetação autóctone ou original. Dado que nas cabeceiras dos tributários do Alto-Paraguai e do Alto-Guaporé é reduzido o número de habitantes, torna-se possível adotar um sistema legal e correspondente infra-estrutura econômica antes que a colonização espontânea crie novas situações consumadas. É o caso de se estruturar os seus esparsos em cooperativas que componham o Sistema Social Florestal, integrado por eles, e pelo Estado, com o propósito de obter lucros mediante o aproveitamento racional de recursos bióticos, turismo, etc. - atividade esta muito rentável do que tradicional sistema de agricultura trans-humante e da pecuária extensiva. b) A diversidade se expressa na maior variedade de representação de ecossistema, comunidade e organismos e característicos da selva-diversidade dentro de um mesmo tipo de biomas correspondente aos gradientes ecológicos, que variam segundo as atitudes e as condições edáficas e climatológicas da área. c) A naturalidade advém da condição de uma área não modificada pelo homem. Nesse caso os regulamentos vedarão a introdução de espécies exóticas, vegetais e animais, que rompam com a naturalidade de área de reserva. E, finalmente, a eficácia como unidade de conservação se obtém nas grandes dimensões, ou seja, em superfícies suficientes para o desenvolvimento de grandes vertebrados que se deslocam em amplos territórios. Superfícies dessas dimensões garante a atividade do germoplasma florestal e a proteção dos animais em vias de extinção quase sempre sujeitos a forte pressão depredatória. PROGRAMA DE REPOVOAMENTO DE RIOS E REFLORESTAMENTO CILIAR Independentemente das ações de identificação de área de preservação dos recursos naturais se deve implementar projetos já em fase de negociação tais como: o projeto do Pacú e Tambaquí e o projeto de Reflorestamento Ciliar concebidos e elaborados pela EMATER de Mato Grosso. 27
  • 28. O primeiro tem claros propósitos econômicos já que o que se persegue é montar uma enorme fonte de produção de proteínas brancas para exportar para o resto do país e exterior, com efeito, a carne dos peixes pacú e tambaquí, espécies autóctonas das bacias do Paraguai e do Guaporé, são de grande aceitação no mercado nacional e internacional. O segundo projeto visa sobretudo a proteção dos cursos d’água a restituição do revestimento florístico de suas margens e também como forma de prevenir a erosão provocada pelos desmoronamentos e degradação dos terrenos alcançados pelas cheias periódicas. ORGANIZAÇÃO PARA A PRODUÇÃO NAS REGIÕES SELVÁTICAS: ORGANIZAR PARA PRODUZIR RENDA Os milhares de pequenos produtores indígenas ou não-indígenas (“ladinos”), localizados nas fronteiras agrícolas do Alto-Paraguai e do Alto-Guaporé, enfrentam uma crítica situação tanto pela carência de estruturas organizadas adequadas aos padrões culturais e às possibilidades produtivas das áreas. Daí porque é necessário dar inicio imediatamente aos trabalhos de organização com vistas a certas atividades econômicas que permitam gerar ingressos monetários a curto prazo. Isso servirá de estímulo aos participantes enquanto se estruturam os grandes projetos definitivos e de grande envergadura para o desenvolvimento da área coberta pelo Sistema Integrado de Desenvolvimento Regional do Além Pantanal. Nesse particular, é importante levar em conta que a organização, desde seus começos, vai inteiramente vinculada a programas de capacitação e adestramento, pelo fato de organização mesma estar ligada a atividade que requerem transferência de tecnologia na atualidade não usadas pelos grupos de pequenos produtores internados nas selvas. É que inicialmente a produção estará em ralação com o aproveitamento de matéria-prima de maior abundância na região, tais como os diferentes tipos de bio-massa que possam prestar-se como formas alternativas de produção energética. Por outro lado, enquanto se desenvolvem os programas de organização para a produção baseada no aproveitamento de matérias-primas abundantes, a nível local se deverá impulsionar a experimentação de cultivos de máximo rendimento por hectare e de fraca receptividade comercial tais como gengibre, ipecacuanha (poaia), alhos, cebola e pimenta do reino a serem incorporados aos futuros planos de produção agrícola em escala social. Além da atividade extrativa de resinas de látex e de fibras naturais, se deverá montar também programas de epífitas (orquídeas) tão abundantes nas matas daquelas bacias hidrográficas. SISTEMA SOCIAL FLORESTAL A organização das populações que vivem que vivem dentro de áreas selváticas deverá estar vinculada ao IBAMA e aos proprietários das áreas. Trata-se de um modelo especial de associativismo com tríplice propósito: a sustentação material do produtor; a proteção de recursos naturais de áreas selváticas; e o rendimento econômico das reservas de biosfera. 28
  • 29. Para cada um determinado conjunto de cooperativas florestais deverá funcionar uma unidade agro-industrial de transformação das matérias primas recolhidas nos bosques, tais como: medicinas naturais, breu vegetal e breu mineral, látex, resinas, lenha, castanhas, cocos, cogumelos, etc. E por se tratar de atividade de proteção e exploração dos bosques realizadas de forma social, a distribuição do produto deverá também ter um caráter social, ou seja, os lucros deverão ficar em mãos dos associados da cooperativa florestal. CAPACITAÇÃO PARA EMPRESA DE TIPO GRANDE: “LABORATÓRIOS ORGANIZACIONAIS” DE CENTRO Dado o caráter social das atividades produtivas de Cooperativas Florestais, a capacitação dos produtores terá evidentemente que ser massiva para a formação de quadros organizadores de empresas do tipo grande, ou seja, de processo produtivo socialmente dividido. trata-se de capacitação mediante “Laboratório Organizacionais” com vistas à organização para a produção, independentemente do tipo de atividade produtivas que lhe permitam realizar: agrícola, silvicultura, pecuária menor e agroindústria. Esta capacitação lhes permitirá inclusive a mobilização racional das potencialidades e capacidade de iniciativa dos grupos sociais no sentido de coadjuvar as medidas que o Estado decida adotar para a proteção dos recursos naturais. O Laboratório Organizacional lhes ensinará (a nível individual ou de grupo) como atuar com eficácia em ações de escala social (divisão social do processo produtivo, próprio das empresas de tipo grande) quer dizer, superior a uma escassa divisão social do trabalho. Seja qual for a estrutura administrativa que se subordine ao marco institucional da cooperativa ou qualquer outro tipo de empresa de propriedade e produção social, a capacitação que se oferecerá a esses produtores estará intimamente relacionada com a praxis organizativa que se gera dentro do próprio “Laboratório Organizacional”. Os primeiros “Laboratórios Organizacionais” para a formação de quadros organizadores de empresas do Sistema Social Florestal para Proteção e Exploração dos Recursos Naturais Selváticos não poderão ser realizados em qualquer instalação física. É imprescindível que a localização do centro de capacitação esteja contígua ou ao interior de uma Reserva de Biosfera a fim de possibilitar as aulas práticas. E que, além de algumas áreas de cultivos hortigranjeiros para a sustentação do Centro de Capacitação, existam instalações suficientes para albergar uma centena de alunos que, procedentes de outras áreas florestais, virão ali participar dos recursos de capacitação massiva dessa modalidade de “Laboratório Organizacional de Centro”. CURSOS PARA FORMAR TECNICOS EM ECO-DESENVOLVIMENTO – TEDS: QUADROS INTERMEDIÁRIOS É necessário que cada Prefeitura de Município dotados de Projetos Ecológicos para a Proteção de Recursos Naturais disponha de um Serviço de Planificação (SERPLAN) composto de um Projetista, um Planificador Regional e um Técnico em Organização e Administração de Empresas. Todos esses Técnicos aprendem a metodologia da Capacitação Massiva com vistas a criar e desenvolver estruturas organizadas de participação social. Para tanto, enquanto dure o curso, os alunos, no 29
  • 30. mínimo 40, viverão a experiência do Laboratório Organizacional de Curso, organizados em sua própria estrutura de participação social, a fim de que a vida organizada lhes crie a consciência organizativa imprescindível ao entendimento e solução dos problemas das empresas autogestionadas do Sistema Social Florestal. Trata-se de quadros intermediários e não de profissionais universitários. Esses quadros são formados com professores primários, contadores, finalistas do segundo grau, práticos agrícolas ou de formação similar. A capacitação destes priva de um especial conteúdo com os parâmetros ecológicos que devem ter os projetos, programas e políticos de desenvolvimento de Regiões de trópicos úmidos dotados de reservas florestais. O CURSO O curso se desenvolverá durante noventa dias com atividades didáticas de oito horas cada dia e além disso a adoção de um programa de leitura obrigatória de sessenta textos técnicos. Estima-se que pelo menos dez catedráticos e instrutores deverão colaborar nesse curso a serviço de instruções nacionais e internacionais que operam com desenvolvimento dentro do marco ecológico. Nos primeiros 15 dias, o curso se efetuará em um centro de capacitação para a formação de quadros organizadores de empresas do Sistema social Florestal, nos moldes antes descritos. Os últimos 15 dias serão dedicados à elaboração de plenos e projetos a nível de terreno e bem assim na transferência de conhecimento e de método para formar os auxiliares de Projetos Ecológicos (APE). O período intermediário de 60 dias será dedicado a classes, primeiro de conhecimentos gerais e logo o ensino de análise e adaptação reais de áreas tropicais, os hábitos culturais da população e o imperativo de gerar emprego dentrro do setor extrativista. PROGRAMA DO CURSO O curso para formação de técnicos em Ecodesenvolvimento contará com três ciclos: CICLO A: Formação básica CICLO B: Especialidades: Ecologia, Planificação e Avaliação de Projetos e Administração de Empresas, Organização da Participação Social. CICLO C: Transferência de conhecimentos e métodos para a formação de Auxiliares de Projetos Ecológicos (APECO). O Ciclo A de formação Básica, ao que deverá assistir o conjunto de todos os participantes, inclui temas relacionados com elementos de Ecologia, de Econômia e de Sociologia da Organização referidos ao Trópico Úmido com os problemas e implicações da realidade rural. O objetivo principal deste ciclo é dotar os participante de elementos que ampliem sua capacidade de compreensão da realidade dentro da qual trabalharão e, ao mesmo tempo, familiarizá-los com sistemas categorias e conceptuais daquelas ciências e no uso de métodos de análise que facilitem a posteriori complementação de sua formação básica. 30
  • 31. Inclui-se também uma Unidade de caráter instrumental através da qual se introduz a temática da planificação e se desenvolverão técnicas que interessam à formação do conjunto de participantes (Técnicas de Pesquisas Sócio-econômicas e Elementos Básicos de Estatísticas). O Programa específico do Ciclo A que terá uma duração de 4 semanas constará de: UNIDADE 1: TEORIA DA ORGANIZAÇÃO SÓCIO- PRODUTIVA -Fatores históricos do surgimento da mercadoria; -A consciência organizativa como reflexo da atividade material; -O papel dos “insumos indivisíveis” plasmados no Capital Constante; -Mecanismos de combate aos vícios das formas artesanais de trabalho. UNIDADE 2: INTRODUÇÃO À ECOLOGIA -Os ecossistemas e suas interdependência; -Reservas de Biosfera; -Noções de Dialética da Natureza e Dialética do Desenvolvimento da Natureza Inorgânica. UNIDADE 3: NOÇÕES ELEMENTARES DE ECONOMIA -Conceito Básico da Economia; -O funcionamento do Sistema Econômico; -Introdução aos Problemas do Desenvolvimento. UNIDADE 4: TEORIA E PRÁTICA DOS ASSENTAMENTOS RURAIS -A função social da propriedade do solo; -Diferença de Desenvolvimento Agrícola, Desenvolvimento Agrário e Desenvolvimento Ecológico; -Política de Reforma Agrária; experiências históricas. UNIDADE 5: INTODUÇÃO À PLANIFICAÇÃO -Conceitos Básicos; -Aspectos metodológicos; -Formulação de Diagnósticos sócio-econômicos; -Técnicas de pesquisas; -Estatísticas. O Ciclo B, que contempla a formação específica, de caráter eminentemente instrumental se administrará através de 4 especialidades: 31
  • 32. Especialidade B. 1: Planificação Agro-ecológica; Especialidade B. 2: Noções de Sociologia da Organização; Especialidade B. 3: Elaboração e Avaliação de Projetos. O propósito buscado com esta divisão é o de permitir um tratamento mais profundo dos temas que conformam a base das disciplinas antes assinaladas. No contexto anterior, esta parte do curso persegue a formação de equipes multidisciplinares de trabalhos para o desenvolvimento das tarefas concretas envolvidas no processo de desenvolvimento, principalmente os aspectos de planificação. Para cumprir com este propósito cada especialidade contará com o seguinte programa: Especialidede B. 1: Planificação Agro-Ecológica UNIDADE 6: PLANIFICAÇÃO -Estratégia do Desenvolvimento; -Problemas de Planificação; -A formulação de planos e programas; -As medidas complementares; -O marco institucional da Planificação. UNIDADE 7: PLANIFICAÇÃO DE ÁREAS ECOLÓGICAS -Planificação regional: problemas e métodos; -A Planificação do uso dos recursos naturais; - A natureza como premissa da Planificação ecológica. UNIDADE 8: PLANIFICAÇÃO DE EMPRESAS DO SISTEMA SOCIAL FLORESTAL -Padrõe de assentamento em áreas florestais; -Critérios e métodos para a Planificação do Sistema Social Florestal; -Planificação de produção e dos investimentos; -Técnicas de Avaliações. Especialidades B. 2: Noções de Sociologia da Organização UNIDADE 6: CAPACITAÇÃO PARA A ORGANIZAÇÃO - O rol de “Insumos Indivisíveis” na Organização Social; 32
  • 33. - Condições Objetivas e Fatores Subjetivos que influem no processo de Organização Social; -Didática do Ensino e Didática da Capacitação. UNIDADE 7: MARCOS TEÓRICOS DA MODERNA ENGENHARIA SOCIAL -O fator pedagógico da prática; -A categoria da “Atividade Objetiva”; -A capacitação guiada por “Fatores Objetais”; -O papel das estruturas organizativas na ecologia social. UNIDADE 8: CAPACITAÇÃO MASSIVA -Formação de Formadores; -Projetos Globalizadores de Capacitação Massiva; - “Laboratórios Organizacionais” e a Auto-Capacitação. Especialidade B. 3: Elaboração e Avaliação de Projetos UNIDADE 6: O MARCO GLOBAL PARAM A ELABORAÇÃO DE PROJETOS -Projetos de investimentos: conceitos e tipos; -Etapas na formação de projetos; -A análise das possibilidades de investimentos; -Coordenação de planos e projetos: critério para o estabelecimento de prioridades. UNIDADE 7: ELABORAÇÃO DE PROJETOS - Informação Básica: técnicas e métodos de compilação e análise; -Estrutura do Projeto; I) análise do mercado; II) tamanho de localização; III) engenharia do projeto; IV) custos e financiamento; -Apresentação do Projeto. 33
  • 34. UNIDADE 8: SELEÇÃO E AVALIAÇÃO DE PROJETOS -Efeitos do Projeto; -Tipos de Avaliação; -Critério de Avaliação; -O método para a seleção de Projetos. UNIDADE 9: ADMINISTRAÇÃO E EXECUÇÃO DE PROJETOS -Organização para a administração do Projeto; -Planificação de execução: noções de PERT. Especialidade B. 3: Administração e planificação de Empresas UNIDADE 6: CRITÉRIOS PARA A PLANIFICAÇÃO DE ASSENTAMENTOS AGRO-ECOLÓGICOS -Padrões de assentamentos rural; -Critérios físicos e socio-econômicos para a planificação de assentamentos agro-ecológicos; -O desenvolvimento integrado de áreas rurais e a planificação de empresas do Sistema Social Florestal. UNIDADE 7: MÉTODOS E TÉCNICAS DE PLANIFICAÇÃO DE EMPRESAS ASSOCIATIVAS AGRO-FLORESTAIS -Etapa na Planificaçaõ e desenvolvimento de empresas associativas agro-florestais; -A informação básica; I) metodologia de diagnóstico; II) técnicas e compilação e análises de informação; método de orçamento; III) método de inventário do potencial nergético; IV) relação de recursos naturais e beneficiários. UNIDADE 8: FORMULAÇÃO DO PLANO DE EMPRESA AGRO-FLORESTAL -O plano de exploração racional, objetivos, estruturas e funções; -Formulação do Plano de Produção de Bens e de serviços; -Planificação dos Recursos Naturais; -Planificação dos Investimentos; 34
  • 35. -Planificação financeira. UNIDADE 9: ADMINISTRAÇÃO E CONTROLOE DE EMPRESAS AGRO-FLORESTAIS -Noções de Organização e Administração de Empresas; -As empresas associativas e do Sistema Florestal; estrutura e formas de organização; -Cooperativas de autogestão; estrutura e forma de organização; -Contabilidade agro-florestal. Esta especialidade terá a duração de 4 semanas. Ciclo C - TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTOS E DE MÉTODOS PARA A FORMAÇÃO MASSIVA DE AUXILIARES DE PROJETOS ECOLÓGICOS (APE) Com o propósito de complementar a formação teórica dos Técnicos em Ecologia e Desenvolvimento e bem assim com o propósito de que eles cooperem na formação dos Auxiliares de Projetos Ecológicos, o curso prevê a realização de trabalhos a nível de terreno durante 4 semanas. Metade desse período será utilizado na elaboração de projetos realizados por equipes integradas de participante de cada especialidade. Esta etapa do curso será de 3 semanas em estreita coordenação com os programas de trabalho das Prefeituras, cujos Municípios conformam o Sistema Integrado de Desenvolvimento Regional (SIDER). Na mesma oportunidade as equipes de Técnicos em Eco-desenvolvimento (TDE) farão as entegras teóricas necessárias à formação dos Auxiliares de Projetos Ecológicos na identificação de projetos agro-ecológicos geradores de emprego e renda de elaboração simples dos seus respectivos perfis. As atividades do Ciclo C serão concebidas de tal maneira que tanto os projetos elaborados e formação intensiva dos Auxiliares de Projetos Ecológicos (APE), não só sirvam de exercício de capacitação dos participantes, senão atendam também às necessidades concretas das instituições beneficiárias, as Municipalidades principalmente. 35
  • 36. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE PRIMEIRA VERSÃO 70 PRIMEIRA VERSÃO ISSN 1517-5421 lathé biosa ANO II, Nº70 - OUTUBRO - PORTO VELHO, 2002 VOLUME V ISSN 1517-5421 EDITOR NILSON SANTOS CONSELHO EDITORIAL ALBERTO LINS CALDAS - História ARNEIDE CEMIN - Antropologia ARTUR MORETTI - Física CELSO FERRAREZI - Letras FABÍOLA LINS CALDAS - História JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação MARIO COZZUOL - Biologia MIGUEL NENEVÉ - Letras VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times COMO: LITERATURA: COMO: LITERATURA New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows” deverão ser encaminhados para e-mail: nilson@unir.br ALBERTO LINS CALDAS CAIXA POSTAL 775 CEP: 78.900-970 PORTO VELHO-RO TIRAGEM 200 EXEMPLARES EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA 36