Este documento descreve uma viagem de Diyarbakır até o Parque Nacional da Montanha de Nemrut na Turquia em janeiro de 2011. O autor e sua esposa Rita foram convidados por um homem chamado Süleyman a passar a noite em sua casa na vila de Pınaryayla, onde conheceram sua família. Na manhã seguinte, continuaram viagem até o parque, passando pela Ponte Romana de Severan e chegando ao seu destino.
Viagem de Diyarbakır ao Parque Nacional de Nemrut na Turquia
1. Álbum de Viagem de Diyarbakır ao Parque Nacional da Montanha de Nemrut (Nemrut Dağı Millî Parkı) Turquia – Janeiro de 2011 por Miguel Bichara Música: Anam por Âşik Veysel Şatıroğlu
2. Durante o mês de janeiro de 2011, eu e Rita fizemos uma viagem de 5000 quilômetros pela Turquia. Nosso percurso está mostrado no mapa acima. Esta apresentação de slides retrata apenas o trecho de viagem desde nossa saída da cidade de Diyarbakır até a nossa chegada ao Nemrut Dağı Millî Parkı . Esses locais correspondem aos pontos “T“ e “U” no mapa acima.
3. No finalzinho da tarde do dia 24 de janeiro de 2011, partimos de Diyarbakır com a intenção de dormir o mais próximo possível de nosso destino no dia seguinte, o Parque Nacional de Nemrut Dağı, talvez na cidade de Kâhta , a maiorzinha nas redondezas, mas de fato não tínhamos noção nenhuma sobre nossas possibilidades de hospedagem. Ahmed tinha nos dado a dica de seguir a estrada D-360 até Siverek , onde existe um serviço de ferryboat que nos permitiria atravessar o lago da Barragem de Atatürk . Chegamos ao ponto de embarque cerca de 01 hora antes do último horário de partida. Enquanto esperávamos, resolvemos explorar um pouco a região, e depois nos metemos entre o pessoal que aguardava fora de seus carros, confiantes que iríamos despertar a curiosidade. Não deu outra: logo logo um deles nos perguntou algo em turco, e eu logo respondi que não falava turco. Ele aí me perguntou, em inglês, de onde a gente era. Quase todo turco que se preze sabe perguntar “Where are you from?”. Quando a gente responde “Brazil”, é sempre uma festa. Eles logo saem desfilando nomes de jogadores de futebol brasileiros, incluindo todos os que jogam no futebol turco. Não foi diferente em Siverek, onde acabamos nos apresentando, dizendo nossos nomes. Um dos homens do grupo, Süleyman, mostrou-se particularmente interessado em conversar conosco. Mas tínhamos uma dificuldade: como ele só falava turco, nossa conversação limitava-se ao meu escasso vocabulário na língua, e ao que eu podia encontrar no meu dicionário de bolso Langenscheidt. A gramática da língua turca é muito complicada; as palavras são formadas com muitos sufixos diferentes. Como não conseguia construir frases, eu apenas escolhia algumas palavras chaves e observava se o Süleyman conseguia juntá-las apropriadamente, de acordo com a minha ideia. Foi dessa forma que consegui perguntar se ele conhecia algum lugar próximo ao parque, onde eu e Rita pudéssemos passar a noite. Depois de pensar um pouco olhando o meu mapa, ele pegou sua caneta e escreveu uma frase que eu só entendi com a ajuda do meu dicionário: “Essa noite vocês são meus convidados”. Surpreso, perguntei se ele tinha cama sobrando em casa. Ele respondeu “Muitas...”. Consultei a Rita, que adora uma aventura, e decidimos aceitar o convite. Combinamos então de seguí-lo depois de desembarcar do outro lado do lago. Na D-360 ele pisou fundo, andando a uma média de 140 km/h. Mas logo ele pegou uma estradinha vicinal onde andamos a uma média de 50 km/h durante um tempão. Lá pelas tantas, ele parou o carro, desligou o motor e as luzes, e sinalizou que esperássemos, desaparecendo em seguida na escuridão. Ficamos apreensivos, mas decidimos não deixar a paranóia carioca comandar. Dois minutos depois ele reapareceu, ligou o carro e seguimos viagem. Andamos nessas estradinhas vicinais uns 40 minutos. Às vezes aparecia uma pequena vila, e eu imaginava que tínhamos chegado, mas isso só foi verdade na terceira ou quarta vez. Estacionamos e num instante estávamos na porta de sua casa tirando os sapatos. Lá dentro, família e parentes já nos aguardavam curiosos, dentro do único cômodo. A casa tinha na verdade outras dependências, mas não me pareceu que elas se conectavam internamente. O banheiro, onde não vi chuveiro, era uma tosca casinha com uma bacia turca. A única pia ficava fora e afastada, perto de uma outra construção que eu supus ser a cozinha. As fotos que você vai ver a seguir retratam desde alguns momentos na Siverek Feribot İskelesi até os primeiros momentos já no Parque Nacional de Nemrut ( Nemrut Dağı Millî Parkı ), no final da manhã do dia 25 de janeiro de 2011.
4. Enquanto esperávamos pelo ferryboat, o Sr. Mehmet e o filho nos convidaram a entrar na sua casa-mercearia para escapar do frio que fazia fora (cerca de 3ºC).
5. O sistema de aquecimento logo chamou a minha atenção... Mesmo porque lá dentro estava bem quentinho...
6. O Sr. Mehmet, como todo bom turco, logo nos ofereceu chá. Enquanto esperávamos, a Rita finalmente achou uma forma de esquentar as mãos.
7. Mas antes de beber meu chá, eu tinha que tirar uma foto que mostrasse bem o equipamento. Abrindo ou fechando um pouco a torneirinha de querosene, o Sr. Mehmet podia facilmente ajustar a temperatura ambiente.
8. O Sr. Mehmet também é dono de uma hospedaria próxima, e pelejou para nos convencer a pernoitar. Mas, depois de pensar em como seria o aquecimento do quarto, eu polidamente recusei a oferta.
9. Esse menino de doze anos faz todo o trabalho no quiosque que vende sanduiche quente, desde a conquista do cliente até o preparo completo do lanche vendido.
10. Depois de chegar à casa do Süleyman, não me desgrudei mais da câmera. Aqui vemos Süleyman e seu cunhado Hassari.
11. Rita com Emrah and Hazal, respectivamente sogra e cunhada de Süleyman.
12. Rita prefere conversar por sinais. Emrah e Hazal prestam muita atenção tentando entender. Era quase como brincar de mímica...
27. Deniz só sabia algumas palavras em inglês. Mas ele adorou entender, e se fazer entender, com o dicionário
28. Hülya, a mulher do Süleyman, chega com o jantar, somente para os que chegaram de viagem: Tomate e pepinos frescos, azeitonas, coalhada seca, omelete de lingüiça, um purê de batatas com molho de tomate, e lascas de pão.
38. O rack da TV, que também guarda alguns livros, é a única mobília na sala.
39. Ao se abrir a única porta da sala, a vista que se tinha era essa. Somente quando o dia clareou é que fui entender direito onde é que estávamos.
40. Eu saí no frio da manhã para ir ao banheiro e levei minha câmera a tiracolo para fazer algumas fotos.
41. Folhas de tabaco penduradas para secar no tempo frio e seco da região.
42. Uma das casas na vila de Pınaryayla (Pınaryayla Köyu). A maior parte delas conta com antenas parabólicas.
43. Na hora do recreio, Deniz veio me chamar para eu conhecer a escola dele. O caminho quase passou por cima da cobertura de uma casa.
44. Vista da escola fundamental de Pınaryayla, onde Deniz estuda, com a face de Kemal Atatürk pintada na parede.
45. Em algumas escolas, são os próprios alunos que cuidam da limpeza. O carro pertence a um professor. Os algarismos “02” se referem à Província de Adıyaman.
46. Depois de tomar chá com pão no café da manhã, eu atualizo os meus contatos no telefone celular.
51. Süleyman fez questão de me mostrar a máquina em que ele pica o fumo (tütün em turco) que sua família plantou, colheu e secou. Depois ele ensaca o fumo, carrega a Kangoo e sai para vendê-lo em Adıyaman e Diyarbakır.
65. Não está seco não... Tem uma nesga de água. Será que isso é o rio Eufrates? Não, é apenas um pequeno afluente que deságua no lago da represa de Atatürk... Descobrimos depois tratar-se do Cendere Çayı (Arroio Cendere).
66. Mas o que é isso? Uma ponte romana? Sim, é a Ponte Severan (or Cendere Köprüsü, in Turkish), que tem 1.700 anos, e é possivelmente a segunda maior ponte em arco construída pelos romanos ainda de pé .
67. Uma vista do Cendere Çayı (Arroio Cendere). Por quê será que o leito dele é tão largo?
68. Esta é a ponte nova, construída logo a jusante da Ponte Severan. Até alguns anos atrás, era a ponte romana, com seus 1.700 anos de idade, que suportava todo o tráfego da estrada.
69. Não dá para avaliar o frio que estava fazendo aí. O termometro do carro mostrava 2ºC.
70. Uma vista do Arroio de Cendere mais de perto. Suas águas são super límpidas.
73. A paisagem é seca, pedregosa, vasta e vazia. Você se sente no fim do mundo, apesar de estar na verdade no berço de todas as civilizações ocidentais, numa terra cheia de história.
75. Outra vista da Cendere Bridge . Pensei que uma das colunas no lado leste tivesse caído em alguma ocasião no passado, mas o que aconteceu não foi bem isso. A Wikipedia pode te contar mais sobre essa história.
76. Os campos aqui, pelo jeito, podem verdejar facilmente com irrigação.
80. Mas peraí... Tem um antigo castelo no alto daquela rocha ou é impressão minha?
81. Dou um zoom no cume da rocha para me certificar. Sim, me parece claro que é um velho castelo.
82. Vamos nos aproximando... Aparece uma vilazinha colorida logo ali adiante... Sinto-me desconfortável com o meu completo desconhecimento sobre o que tenho diante dos olhos. É chato estar num lugar antes de saber sobre ele.
83. Yeni Kale? Isso significa “Castelo Novo”. Na verdade, os mamelucos reformaram esse castelo há 700 anos. Na Turquia isso é história recente. A vilazinha se chama Kocahişar, também conhecida como Eski Kâhta (Kâhta Velha).
84. O Yeni Kale, um pedaço de terra arado recentemente, e montanhas nevadas por trás.
85. Mais uma foto do Yeni Kale e as montanhas por trás, feita pela Rita.
86. Mas o que é isso? Uma montanha toda furada? Imagino que sejam tumbas, mas ainda não sei...
87. Este homem levava essa carga até a uma vila 3 km adiante e uns 400 m mais alta. Gostaria de saber para quê.
89. Chegamos na nossa primeira tumba, cavada na montanha, com inscrições em grego e esta vista maravilhosa. Nossa aventura em Nemrut Daği está prestes a começar... Mas isso vai ser objeto de um outro slideshow.
90. Dedico esse slideshow à família de Süleyman Boyraz, meu amigo em Pınaryayla Köyu, na Turquia. Nossas diferenças, e mesmo a barreira idiomática que tivemos que superar, acabaram fomentando uma relação intercultural amigável e respeitosa, apoiada na curiosidade mútua. Três meses depois de deixar Pınaryayla, mais precisamente no dia 24 de abril, um domingo, fui acordado logo cedo pelo telefone à minha cabeceira. Sonolento, ouvi uma mulher falando em inglês do outro lado da linha, perguntando se eu era Miguel Bichara. Confirmei e ela prosseguiu dizendo que ligava a pedido de um certo senhor chamado Süleyman, que quando soube que ela falava inglês, suplicou-lhe que ligasse para mim para agradecer as fotos que eu havia enviado. Eu fiquei estupefato. Pedi a ela, então, que lhe dissesse que ele havia proporcionado, a mim e à Rita, na sua casa, com a sua família, uma das experiências mais inesquecíveis de nossas vidas, e que nós lhe seríamos eternamente gratos. Depois de ouví-la transmitir o recado em turco, quando eu já achava que era tempo de desligar, a mulher volta a falar: - “Wait a moment! Mr. Süleyman would like to hear your voice... May I pass the phone to -” him?” Süleyman queria apenas ouvir a minha voz, antes de desligarmos. Fiquei emocionado. - “Of course”, respondi, para no momento seguinte ouvir a voz dele: - “Miguel?” - “Süleyman?! İyi akşamlar! Teşekkür ederim! Ben seni severim!”, eu disse, esgotando - “ todo o estoque de expressões em turco que eu pude lembrar. Ele riu, e assim terminou nosso diálogo: - “Hiç iyi akşamlar, ama Günaydın! Gün-ay-dın! Gün-ay-dın!” - “Günaydın, Süleyman! Günaydın! Ok! Ok! Bye-Bye!” - “Bye-bye, Miguel!”