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AS GUERRAS AO LONGO DA HISTÓRIA E COMO EVITÁ-LAS NO FUTURO
Fernando Alcoforadoi
RESUMO
Este artigo tem por objetivo fazer uma reflexão sobre a guerra dos primórdios da
história da humanidade até a era contemporânea, identificar suas causas e delinear como
eliminá-las no futuro. Desta reflexão constatou-se que é chegada a hora de a
humanidade se dotar o mais urgentemente possível de instrumentos necessários a ter o
controle de seu destino e colocar em prática um governo democrático do mundo. A
constituição de um governo mundial democrático seria o único meio de sobrevivência
da espécie humana.
ABSTRACT
This article aims to reflect on the war from the beginnings of human history until the
contemporary era, to identify its causes and to outline how to eliminate them in the
future. This reflection was found that it is time for humanity to provide the most
urgently needed instruments as possible to take control of their destiny and put in place
a democratic government in the world. This would be the only means of survival of the
human species.
Palavras chaves: Os principais conflitos (guerras e revoluções) na história da
humanidade até o início do Século XX. As principais guerras na história da humanidade
durante o Século XX. As principais guerras na história da humanidade no Século XXI.
As causas das guerras. O imperativo do fim das guerras. Em direção à Quarta Guerra
Mundial. Como eliminar as guerras em nosso planeta.
Keywords: The main conflicts (wars and revolutions) in human history until the early
twentieth century. Major wars in human history during the twentieth century. Major
wars in the history of mankind in the XXI Century. The causes of wars. The imperative
of ending the wars. Towards the Fourth World War. How to eliminate wars on our
planet.
1. Os principais conflitos (guerras e revoluções) na história da humanidade até o
início do Século XX
Os historiadores supõem que sempre existiram guerras porque no registro documentado
da história humana, que remonta 6.000 anos, houve apenas 292 anos de relativa paz
entre os povos. Esse período de tempo de 55 séculos, porém, é apenas uma partícula do
tempo total da presença humana na Terra (Ver o artigo de Roberto C. P. Júnior sob o
título Conflitos bélicos no website <http://www.library.com.br/Filosofia/conflito.htm>).
A passagem a seguir, extraída do livro Uma História da Guerra de John Keegan
(Companhia de Bolso, 2006), ilustra a percepção reinante a respeito: "A história escrita
do mundo é, em larga medida, uma história de guerras, porque os Estados em que
vivemos nasceram de conquistas, guerras civis ou lutas pela independência. Ademais,
os grandes estadistas da história escrita foram, em geral, homens de violência, pois
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ainda que não fossem guerreiros - e muitos o foram -, compreendiam o uso da violência
e não hesitavam em colocá-la em prática para seus fins".
Os registros históricos mais antigos que se conhecem já falam de guerras e lutas. Não é,
pois, de causar espanto que agora, na época da colheita de todas as más ações geradas
pela humanidade, o número de guerras e revoluções cresça em escala jamais vista, tanto
em quantidade como em intensidade. Várias denominações surgiram para classificar os
diversos tipos de guerras inventadas pelos seres humanos: ampla, localizada, civil,
santa, de guerrilha, revolucionária, subversiva, relâmpago, química, bacteriológica,
convencional, nuclear, étnica, de extermínio, de conquista, religiosa, mundial, etc.
Entre os conflitos da Antiguidade, as guerras entre gregos e persas, conhecidas pela
designação de Guerras Médicas, apresentam grande importância para a história do
mundo ocidental. Elas ocorreram em razão da disputa das terras da Ásia Menor (atual
Turquia), rica em cereais e especiarias. Dário, rei dos persas, decretou que todas as
colônias gregas naquela região deveriam pagar tributos à Pérsia. Essa atitude provocou
uma revolta das colônias que auxiliadas por Atenas foram contra o poder desse rei (Ver
o artigo As principais guerras da história e suas consequências de Felipe Alexandre de
Lima Farah et alli postado no website <http://gguerras.wordpress.com/.>).
Neste artigo, são apresentadas as guerras de Roma contra Cartago que foram chamadas
de Guerras Púnicas. No século III a.C., Cartago era a principal potência do Ocidente,
controlando boa parte do comércio e do território do Mediterrâneo, enquanto Roma era
uma província de base agropastoril, mas que nos últimos tempos vinha obtendo
sucessivas vitórias militares e já chegava a controlar toda a península Itálica. Estava
claro que em algum momento as ambições expansionistas das duas iriam se cruzar.
Usando como pretexto o ataque cartaginense a Númidia, Roma atacou Cartago e dessa
vez sua investida foi devastadora: a cidade foi saqueada, incendiada e sua população
escravizada. A vitória romana nas Guerras Púnicas, que duraram mais de um século, foi
decisiva para o estabelecimento do Império Romano.
As guerras de Roma contra os povos bárbaros ocorreram nos Séculos IV e V da nossa
era. Os povos bárbaros eram de origem germânica e habitavam as regiões norte e
nordeste da Europa e noroeste da Ásia, na época do Império Romano vivendo em
relativa harmonia com os romanos até os séculos IV e V. Muitos germânicos eram
contratados para integrarem o poderoso exército romano. Os romanos usavam a palavra
"bárbaros" para todos aqueles que habitavam fora das fronteiras do império e que não
falavam a língua oficial dos romanos: o latim. A convivência pacífica entre esses povos
e os romanos durou até o século IV, quando uma horda de hunos pressionou os outros
povos bárbaros nas fronteiras do Império Romano. Neste século e no seguinte, o que se
viu foi uma invasão, muitas vezes violenta que acabou por derrubar o Império Romano
do Ocidente. Além da chegada dos hunos, pode-se citar como outros motivos que
ocasionaram a invasão dos bárbaros a busca de riquezas, de solos férteis e de climas
agradáveis.
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No artigo As principais guerras da história e suas consequências são analisadas as
Cruzadas, no total de oito, que foram realizadas de 1096 a 1244. No século XI, os
árabes (mulçumanos) dominavam Jerusalém, conhecida como Terra Santa pelos cristãos
(devido a Jesus ter vivido neste local), que deixavam que os cristãos realizassem suas
peregrinações a Jerusalém. No final deste século, os turcos seldjúcidas, povo que veio
do Ásia central, conquistaram esta e outras terras do Oriente Médio. Como eles eram
convertidos também ao islamismo, porém muito mais intolerantes que os árabes nas
questões religiosas, proibiram os cristãos de realizar suas peregrinações na Terra Santa.
Em 1095, a resposta da Igreja veio com o papa Urbano II, convocando os fiéis para
expedições militares com o objetivo de conquistar a Terra Santa e de combater os
inimigos do cristianismo dando início ao movimento das Cruzadas. Por trás desse
interesse, houve outros indiretos, como recuperar a influência da Igreja no território
bizantino, conquistar mais terras para os nobres, expandir a área de influência do
catolicismo e ampliar as rotas mercantis no Oriente para as cidades comerciais da
península itálica, como Veneza e Genova.
A Guerra Franco-Holandesa (1672– 1678), também conhecida como "Guerra da
Holanda" foi um conflito militar entre o Reino da França, o Bispado de Münster, o
Eleitorado de Colônia e o Reino da Inglaterra contra a República Holandesa (Províncias
Unidas). Entre as origens do ataque movido pelo reino da França contra as Províncias
Unidas (vulgo Holanda), está o apoio dado por esta República à Espanha, durante a
Guerra de Devolução (1667-1668). Para cumprir seu objetivo, uma das primeiras
preocupações de Luis XIV consistiu em buscar o apoio da Inglaterra, em um raro
momento de entendimento entre as duas grandes potências. A Inglaterra aderiu porque
se sentia ameaçada pelo crescente poder naval da Holanda e aceitou apoiar a França em
troca de um apoio financeiro anual de três milhões de libras (Ver o artigo As principais
guerras da história e suas consequências de Felipe Alexandre de Lima Farah et alli
postado no website <http://gguerras.wordpress.com/.>).
Outro episódio da história apresentado no artigo As principais guerras da história e
suas consequências foi A Guerra dos Trinta Anos (1618- 1648) que é a denominação
genérica de uma série de guerras que diversas nações européias travaram entre si a partir
de 1618, especialmente na Alemanha, por motivos variados: rivalidades religiosas,
dinásticas, territoriais e comerciais. As rivalidades entre católicos e protestantes e
assuntos constitucionais germânicos foram gradualmente transformados numa luta
europeia. Apesar de os conflitos religiosos serem a causa direta da guerra, ela envolveu
um grande esforço político da Suécia e da França para procurar diminuir a força da
dinastia dos Habsburgos, que governavam a Austria. A guerra converteu-se em um
conflito pela hegemonia entre os Habsburgo e a França. Desse jeito, o conflito foi
ampliado para quase todo o continente. As hostilidades causaram sérios problemas
econômicos e demográficos na Europa Central e tiveram fim com a assinatura, em
1648, de alguns tratados que, em bloco, são chamados de Paz de Vestfália.
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O fim da Guerra de Trinta Anos representou o início da hegemonia francesa na Europa
e o declínio do poder dos Habsburgos. A Alemanha foi a única que saiu derrotada,
arruinada e devastada desses trinta anos de guerra. Os principais campos de batalhas dos
intermitentes conflitos foram as cidades e principados da Alemanha, que sofreram danos
muito graves. Muitos dos combatentes eram mercenários que tinham na pilhagem sua
principal forma de pagamento. Assim, tomavam à força, onde paravam ou por onde
passavam, os suprimentos necessários a sua manutenção e lucro, numa estratégia
predatória que levou à destruição completa de inúmeras comunidades. Hoje estima-se
que a população da Alemanha caiu 20% durante a guerra. Em algumas regiões esse
declínio chegou a 50% pois vilas inteiras sumiram.
A Revolução Inglesa do século XVII representou a primeira manifestação de crise do
sistema na era moderna, identificado com o absolutismo. O poder monárquico,
severamente limitado, cedeu a maior parte de suas prerrogativas ao Parlamento e
instaurou-se o regime parlamentarista que permanece até hoje. O processo começou
com a Revolução Puritana de 1640 e terminou com a Revolução Gloriosa de 1688. As
duas fazem parte de um mesmo processo revolucionário, daí a denominação de
Revolução Inglesa do século XVII e não Revoluções Inglesas. Esse movimento
revolucionário criou as condições indispensáveis para a Revolução Industrial do Século
XVIII, abrindo caminho para o avanço do capitalismo. Deve ser considerada a primeira
revolução burguesa da história da Europa antecipando em 150 anos a Revolução
Francesa (Ver o artigo As principais guerras da história e suas consequências de Felipe
Alexandre de Lima Farah et alli postado no website <http://gguerras.wordpress.com/.>).
A Guerra dos Sete Anos foram conflitos internacionais que ocorreram entre 1756 e
1763, entre a França, a Áustria e seus aliados (Saxônia, Rússia, Suécia e Espanha), de
um lado, e a Inglaterra, Portugal, a Prússia e Hannover, de outro. Vários fatores
desencadearam a guerra: a preocupação das potências européias com o crescente
prestígio e poderio de Frederico II, o Grande, Rei da Prússia; as disputas entre a Áustria
e a Prússia pela posse da Silésia, província oriental alemã, que passara ao domínio
prussiano em 1742 durante a guerra de sucessão austríaca; e a disputa entre a Grã-
Bretanha e a França pelo controle comercial e marítimo das colônias das Índias e da
América do Norte. Também foi motivada pela disputa por territórios situados na África,
Ásia e América do Norte (Ver o texto Guerra dos Sete Anos no website
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_dos_Sete_Anos>).
A Guerra dos Sete Anos,terminada pela vitória da Inglaterra sobre a França (Tratado de
Paris, 1763), deixou a nação vencedora na posse de ricos territórios no continente
americano (Estados Unidos e Canadá), já colonizados, sendo reconhecido o seu direito
de expandir o seu domínio em direção ao interior do continente. Esta possibilidade
agradou aos colonos, que prontamente se prepararam para explorar e aproveitar novas
terras, mas, para sua grande surpresa, o governo de Londres, por recear desencadear
guerras com as nações índias, determinou que nenhuma nova exploração ou colonização
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de territórios pudesse ser feita sem a assinatura de tratados com os índios. Foi esta a
primeira fonte de conflito entre os colonos e a Coroa inglesa.
A Guerra da Independência dos Estados Unidos da América (1775–1783), também
conhecida como Guerra Revolucionária Americana, começou após a assinatura do
Tratado de Paris que, em 1763, pôs fim à Guerra dos Sete Anos. Ao final deste conflito,
o território do Canadá foi incorporado pela Inglaterra. Neste contexto, as treze colônias
representadas por Massachusetts, Rhode Island, Connecticut, Nova Hampshire, Nova
Jérsei, Nova Iorque, Pensilvânia, Delaware, Virgínia, Maryland, Carolina do Norte,
Carolina do Sul e Geórgia começaram a ter seguidos e crescentes conflitos com a Coroa
britânica, que devido aos enormes gastos com a guerra, iniciou uma maior exploração
sobre essas áreas. A Revolução Americana de 1776 foi um movimento de ampla base
popular, tendo como principal motor a burguesia colonial, que levou à independência
das Treze Colônias. Os Estados Unidos da América foi o primeiro país a dotar-se de
uma constituição política escrita (Ver o texto Guerra da Independência dos Estados
Unidos disponível no website
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_da_Independ%C3%AAncia_dos_Estados_Unidos
>).
A Revolução Francesa diz respeito aos acontecimentos que ocorreram de 1789 a 1799
que alteraram o quadro político e social da França. A Revolução Francesa foi
desencadeada pelo agravamento da crise econômica e social. As causas econômicas
eram estruturais. A crise agrícola, que ocorreu graças ao aumento populacional, foi
também determinante da revolução. Entre 1715 e 1789, a população francesa cresceu
consideravelmente, entre 8 e 9 milhões de habitantes. Como a quantidade de alimentos
produzida era insuficiente e as geadas abatiam a produção alimentícia, a fome pairou
sobre os franceses contribuindo para desencadear a revolução que começa com a
convocação dos Estados Gerais e a Queda da Bastilha e se encerra com o golpe de
estado do 18 Brumário de Napoleão Bonaparte. Em causa estavam os privilégios do
clero e da nobreza. Foi influenciada pelos ideais do Iluminismo e da Independência
Americana (1776) (Ver o texto Revolução Francesa postado no website
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa>).
Durante a Revolução Francesa, milhares de pessoas foram detidas, julgadas
sumariamente e guilhotinadas. Os direitos individuais foram suspensos e, diariamente,
realizavam-se, sob aplausos populares, execuções públicas e em massa. O líder jacobino
Robespierre, sancionando as execuções sumárias, anunciara que a França não
necessitava de juízes, mas de mais guilhotinas. O resultado foi a condenação à morte de
35 mil a 40 mil pessoas. Apesar do terror jacobino, a Revolução Francesa é considerada
como o acontecimento que deu início à Idade Contemporânea. Aboliu a servidão e os
direitos feudais e proclamou os princípios universais de "Liberdade, Igualdade e
Fraternidade” (Liberté, Egalité, Fraternité), frase de autoria de Jean-Jacques Rousseau.
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O sociólogo Raymond Aron escreveu em The Opium Of The Intellectuals (Transaction
Publishers, 2009) o seguinte, a propósito da Revolução Francesa, comparando-a com a
Revolução Inglesa:
A passagem do Ancien Régime para a sociedade moderna é consumada na França com uma
ruptura e uma brutalidade únicas. Do outro lado do Canal da Mancha, na Inglaterra, o regime
constitucional foi instaurado progressivamente, as instituições representativas advêm do
parlamento, cujas origens remontam aos costumes medievais. No Século XVIII e XIX, a
legitimidade democrática se substitui à legitimidade monárquica sem a eliminar totalmente, a
igualdade dos cidadãos apagou pouco a pouco a distinção dos "Estados" (Nobreza, clero e
povo). As idéias que a revolução francesa lança em tempestade através da Europa: soberania
do povo, exercício da autoridade conforme a regras, assembléias eleitas e soberanas, supressão
de diferenças de estatutos pessoais, foram realizadas em Inglaterra, por vezes mais cedo do que
em França, sem que o povo, em sobressalto de Prometeu, sacudisse as suas correntes. A
"democratização" foi ali (em Inglaterra) a obra de partidos rivais.
(...) O Ancien Régime desmoronou-se (na França) a um só golpe, quase sem defesa. E a França
precisou de um século para encontrar outro regime que fosse aceito pela grande maioria da
nação.
As Guerras Napoleônicas se inclui entre as grandes guerras ocorridas na história. As
Guerras Napoleônicas estão, entre as mais importantes, pois influenciaram o destino de
muitos países, inclusive o Brasil com a fuga da Família Real portuguesa ao Brasil em
1808 e e a transferência da Administração para o Rio de Janeiro. Em 1815, o Brasil foi
elevado à condição de "Reino Unido a Portugal e Algarves". A conturbada relação entre
os revolucionários franceses e as monarquias europeias fez com que os reinos da
Áustria e da Prússia, em 1792, criassem uma aliança para reaver o trono da França,
conhecida como primeira coalizão ou coligação. A resposta do Diretório, órgão máximo
da república francesa veio, com a organização de suas tropas para o combate, dentre
elas uma enviada para a Itália comandada pelo jovem Napoleão Bonaparte. A primeira
coalizão foi derrotada. Sobrava apenas a Inglaterra, que insistia sozinha em lutar contra
a França (Ver o artigo As principais guerras da história e suas consequências de Felipe
Alexandre de Lima Farah et alli postado no website <http://gguerras.wordpress.com/.>).
Com a intenção de arruinar o poder inglês no Oriente Médio, Napoleão planejou a
conquista do Egito. O retorno das forças francesas foi o trunfo que levou a mais uma
vitória sobre a aliança das monarquias europeias. Esta deu a Napoleão Bonaparte,
recém-nomeado cônsul pelo golpe 18 Brumário, uma grande fama entre as massas,
levando em 1804 o Senado, em conjunto com um plebiscito, declará-lo imperador da
França. Os ideais da Revolução Francesa se expandiam por todo o continente europeu, o
que causava um desequilíbrio nas demais nações europeias. A paz perdurou na Europa
por mais alguns anos, até que se formaram novas coalizões. A França derrotou russos e
austríacos em Austerlitz e a Prússia em Iena. No entanto, Napoleão foi derrotado pelo
“general inverno” após a ocupação de Moscou, na Rússia, em Leipzig na “Batalha das
Nações” e na Bélgica em Waterloo. Após esta batalha, preso sob custódia inglesa, o
general Napoleão Bonaparte foi enviado à ilha de Santa Helena onde morreu, em 1821,
dando fim à Era Napoleônica.
7
A derrota francesa abriu caminho para a Inglaterra se tornar a potência hegemônica no
planeta com seu poder naval, econômico e militar. As guerras napoleônicas
conseguiram difundir os ideais iluministas da Revolução Francesa, com o
enfraquecimento das monarquias europeias que, após a Primeira Guerra Mundial,
seriam depostas dando lugar às repúblicas democráticas fundadas nesses ideais, que até
então não tinham uma forte expressão no mundo, contribuindo também, com muitas
revoltas coloniais.
A Primeira Guerra do Ópio ou Primeira Guerra Anglo-Chinesa foi travada entre a
Companhia Britânica das Índias Orientais e a Dinastia Qing da China entre 1839 e 1842
com o objectivo de forçar a China a permitir o livre comércio, principalmente do ópio.
A Grã-Bretanha pedia a abertura do comércio de ópio, enquanto o governo imperial da
China tentou proibir. Comerciantes ingleses foram expulsos da China e ao chegarem em
Londres apresentam uma queixa ao governo britânico, que decidiu atacar a China com a
sua poderosa armada para forçar os chineses a comprar ópio cultivado na Índia
britânica. Tropas chinesas foram incapazes de lidar com os britânicos e se rendem a
eles. Pelo Tratado de Nanquim, o primeiro dos Tratados Desiguais, concedeu uma
indenização à Grã-Bretanha, a abertura de cinco Portos, e a cessão aos britânicos da ilha
de Hong Kong por um período de 100 anos, terminando o monopólio do comércio no
âmbito do Sistema de Cantão. As guerras são frequentemente citadas como o fim do
isolamento da China e o início da história da China moderna (Ver o texto Primeira
Guerra do Ópio postado no website
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_Guerra_do_%C3%93pio)>.
A Segunda Guerra do Ópio, Segunda Guerra Anglo-Chinesa, Segunda Guerra da China,
Guerra do Arrow, ou a expedição anglo-francesa na China, foi uma guerra do Império
Britânico e do Segundo Império Francês contra a dinastia Qing da China entre 1856 e
1860. Esta guerra pode ser vista como uma extensão da Primeira Guerra do Ópio, daí o
nome que lhe foi atribuído. Em 1856, a China infringiu o Tratado de Nanquim. No
tratado, a nação permitia a abertura de cinco portos para a Inglaterra, sendo esses de
domínio inglês. No ano referido, alguns oficiais chineses abordaram e revistaram o
navio de bandeira britânica Arrow, desencadeando mais um conflito entre a China e a
Inglaterra. Porém desta vez, os ingleses contavam com um novo aliado: a França. Os
ataques dos dois países começaram em 1857. Se a Inglaterra, que já era uma potência da
época e tinha ampla capacidade de vencer a guerra sozinha, com o auxílio da segunda
maior potência, França, ficou óbvia a vitória dos europeus (Ver o texto Segunda Guerra
do Ópio disponível no website
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_do_%C3%93pio>).
Desta vez a China foi obrigada a assinar outro acordo: o Tratado de Tianjin, no qual
garantia a abertura de onze novos portos ao Ocidente, além de permitir a liberdade de
movimento aos mercadores europeus e missionários cristãos. Para tentar administrar
esse grande fluxo estrangeiro, a China então criou o Ministério dos Negócios
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Estrangeiros, onde permitia que se instalassem legações ocidentais na capital e
renunciou o termo "bárbaro", usado inclusive em documentos quando se fazia referência
aos ocidentais.
A guerra Russo-japonesa foi provocada pela intenção de conquista da Coreia e da
Manchúria por parte dos russos e dos japoneses. Após o Tratado de Shimonoseki, os
russos obrigaram os japoneses a restituir Porto Arthur, as tropas russas ocuparam o
território e se expandiram pela Manchúria. Vários acordos diplomáticos foram tentados,
até que os japoneses tomassem posse do porto quando confrontaram e derrotaram seus
adversários. Essa foi a primeira vez que um país europeu foi superado por uma nação
asiática. Essa guerra contribuiu para agravar a crise Russa em seu regime Czarista, e
posteriormente desencadeou a Revolução Russa, em 1917 (Ver o texto Guerra russo-
japonesa no website <http://guerras.brasilescola.com/seculo-xx/guerra-
russojaponesa.htm>).
Na batalha naval a frota Russa era inferior à japonesa. Na batalha terrestre o Japão teve
uma larga vantagem no contingente de soldados. Enquanto a tropa Russa contava com
80.000 mil soldados mal preparados, os japoneses possuíam 270.000 mil soldados
treinados e equipados. No dia 27 de maio de 1905, os russos enviaram 38 belonaves ao
território japonês, 27 foram afundadas. No outro dia o saldo da batalha foi: Russos
4.380 mortos, 1.862 feridos, 5.917 prisioneiros, enquanto o Japão teve perdas
insignificantes em relação às baixas russas, 117 mortos e 583 feridos.
2. As principais guerras na história da humanidade durante o Século XX
A despeito das reiteradas intenções de todos os países do globo em manter a paz
mundial, três grandes guerras (1ª e 2ª Guerra Mundial e a Guerra Fria) ocorreram no
Século XX. Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), morreram cerca de 9 milhões de
pessoas. Em 1919 foi fundada a Liga das Nações, cujos princípios básicos eram "a
proibição da guerra, a manutenção da justiça e o respeito ao direito internacional." Os
líderes europeus estavam convictos de que uma nova e duradoura ordem internacional
estava começando. Para o primeiro-ministro britânico, David Lloyd George, ela
"elevaria a humanidade a um plano superior de existência..." Apenas vinte anos depois,
foi desencadeada a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que matou entre 40 e 52
milhões de pessoas.
Além disso, a violência dos conflitos em nossa época não tem paralelo na história. As
guerras do século XX foram “guerras totais” contra combatentes e civis sem
discriminação. O historiador Eric Hobsbawm (A Era Dos Extremos, Companhia das
Letras, 2008) complementa: "Sem dúvida ele foi o século mais assassino de que temos
registro, tanto na escala, frequência e extensão da guerra, mal cessando por um
momento na década de 1920, como também pelas catástrofes humanas que produziu,
desde as maiores fomes da história até o genocídio sistemático." A tragédia das guerras
no século XX também é resumida nessas palavras de John Keegan (Uma História da
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Guerra, Companhia de Bolso, 2006): "Neste século, a frequência e a intensidade das
guerras também deformaram a perspectiva de homens e mulheres comuns. Na Europa
Ocidental, nos Estados Unidos, na Rússia e na China, as exigências da guerra atingiram
a maioria das famílias ao longo de duas, três ou quatro gerações. O apelo às armas levou
milhões de filhos, maridos, pais e irmãos para o campo de batalha, e milhões não
voltaram."
Terminada a Segunda Guerra, a história se repetiu: foi fundada a Organização das
Nações Unidas e as esperanças de paz se renovaram. Esperanças que deram lugar a uma
série infindável de guerras localizadas, tão numerosas que acabaram fazendo parte do
nosso dia-a-dia. Há quem considere essas inúmeras guerras como já sendo a Terceira
Guerra Mundial. Eric Hobsbawm resume assim a situação após a Segunda Guerra: "A
catástrofe humana desencadeada pela Segunda Guerra Mundial é quase certamente a
maior na história humana. O aspecto não menos importante dessa catástrofe é que a
humanidade aprendeu a viver num mundo em que a matança, a tortura e o exílio em
massa se tornaram experiências do dia-a-dia" (A Era Dos Extremos, Companhia das
Letras, 2008).
O relatório Prioridades Mundiais, publicado anualmente por um grupo sediado em
Washington, define uma grande guerra como sendo um conflito envolvendo um
governo, ou mais de um, que resulta na morte de pelo menos mil pessoas por ano. Por
esse critério "técnico", desde o final da Segunda Guerra Mundial até o ano de 1992
haviam ocorrido 149 guerras, onde morreram mais de 23 milhões de pessoas. No Século
XX, o número de enfrentamentos militares cresceu substancialmente. Se nos fixarmos
apenas nesses conflitos propriamente, sem considerar rebeliões curtas, golpes militares e
mesmo genocídios, verificaremos que em todo o Século XX ocorreram 107 guerras. Já
no século XX, até 1995, sem considerar a Primeira e Segunda Guerra Mundial, houve,
pelo mesmo critério, um total de 241 guerras, das quais 166 eclodiram a partir de 1950.
Nada menos que 70 países envolveram-se em guerras de 1994 a 1997.
Num discurso proferido em 1992, o secretário-geral da ONU admitiu que desde a
criação das Nações Unidas, em 1945, ocorreram mais de mil grandes conflitos ao redor
do mundo, que deixaram cerca de 20 milhões de mortos. De acordo com a revista World
Watch, o nosso século foi o menos pacífico da História, e cita o seguinte comentário de
um pesquisador: "Mais pessoas foram mortas por guerras neste século do que em toda a
história humana anterior em conjunto." De acordo com uma matéria publicada pelo
jornal The Washington Post, desde o fim da Segunda Guerra Mundial o mundo
conheceu 160 guerras, onde morreram cerca de 7 milhões de soldados e 30 milhões de
civis. Esses números não incluem, naturalmente, os milhões de vítimas de crimes
violentos em toda a Terra nos últimos 50 anos. O ex-secretário de Estado norte-
americano, Zbigniew Brzezinski, fez uma estimativa abrangendo todas as "megamortes"
ocorridas desde 1914 e chegou a um total de 187 milhões de mortos (Ver o artigo de
Roberto C. P. Junior sob o título Conflitos bélicos no website
<http://www.library.com.br/Filosofia/conflito.htm>).
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Será que com o fim da Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética, acabou
também o perigo de uma hecatombe nuclear? Uma rápida análise sobre o poderio
nuclear mundial e as notícias que vazaram ultimamente sobre o desenvolvimento de
armas atômicas mostra que essa esperança também não tem razão de ser. Além disso, o
ser humano nunca inventou uma arma que não tivesse utilizado. Os especialistas
William Arkin e Robert Norris, responsáveis pela publicação Nuclear Notebook,
afirmam que as armas nucleares desmanteladas até agora por Estados Unidos e Rússia,
por força dos tratados de redução de armas, eram equipamentos obsoletos, e que os dois
países continuam com seus programas de desenvolvimento e renovação dos respectivos
arsenais nucleares.
Em 1970, quando entrou em vigor o Tratado de Não Proliferação Nuclear, Estados
Unidos e União Soviética tinham juntos 7.455 ogivas nucleares. Em 1995, depois de
mais dois tratados de limitação de armas nucleares, de outros dois de redução dessas
armas, e da desativação de cerca de 7.000 ogivas, Estados Unidos e Rússia tinham
juntos 16.900 ogivas nucleares, capazes, segundo estimativas, de acabar com a vida na
Terra por 14 vezes. Em 1997, de acordo com o The Bulletin of the Atomic Scientists, os
dois países tinham estocado em seus territórios 21.550 ogivas. Nessa corrida atômica, só
os Estados Unidos já despenderam cerca de 4 trilhões de dólares, e continuam gastando
outros 33 bilhões de dólares por ano para manter suas armas nucleares estratégicas
prontas para serem usadas a qualquer momento. O especialista Brian Hall informou que
o Pentágono vai reservar entre 3 mil a 4 mil ogivas nucleares acima do teto especificado
pelo primeiro tratado de redução de armas, como uma "margem de segurança" para se
contrapor a possíveis relações hostis futuras com a Rússia.
O resultado do investimento mundial neste setor é que o poder destrutivo do arsenal
nuclear do planeta equivale hoje a 4,2 toneladas de dinamite para cada habitante do
planeta. Isto, naturalmente, se essa estimativa corresponder à realidade. A França
declara possuir 500 ogivas nucleares, a China 300 ogivas e a Grã-Bretanha 250 ogivas.
Estima-se que Israel tenha cerca de 200 ogivas, a Índia 20 ogivas e o Paquistão 10
ogivas. Com o fim da União Soviética, a Ucrânia, a Bielorússia e o Kasaquistão já
nasceram como potências militares nucleares, com muitas ogivas em seus territórios.
A África do Sul já teve armas nucleares, mas anunciou que "desistiu" delas. Suspeita-se
ainda que a Coréia do Norte e o Irã estejam desenvolvendo armas nucleares. Taiwan e
Coréia do Sul também já tentaram implantar seus programas de armas atômicas. Até a
Suíça desenvolveu um programa de construção de armas nucleares, ativo até 1988 de
acordo com um historiador militar suíço. Há estimativas de que as nações nucleares
disponham atualmente de mais de 30 mil ogivas, outras falam em até 45 mil ogivas. É
impossível saber com exatidão o número certo.
Em 29 de maio de 1995 a China testou seu primeiro míssil balístico intercontinental
lançado de base móvel (mais difícil de ser detectado). Esse tipo de míssil pode levar
ogivas nucleares a alvos distantes até 8 mil quilômetros. No dia 15 de maio de 1995, a
11
China havia feito um teste nuclear subterrâneo, horas após assinar o Tratado de Não
Proliferação Nuclear, que visa justamente evitar a disseminação de armas atômicas e a
prática de testes pelo mundo. A China argumentou que havia feito até então apenas 45
testes nucleares, enquanto que os Estados Unidos já tinham feito 1.030. Uma diferença
insuficiente para intimidar alguns funcionários do governo chinês, que ameaçaram fazer
chover bombas atômicas sobre Los Angeles, caso os Estados Unidos defendessem
Taiwan numa futura invasão por parte da China. Taiwan, aliás, já está se preparando
para qualquer eventualidade: em abril de 1998, o país testou "com sucesso" seu próprio
míssil supersônico.
Também outros países contribuem significativamente para a montagem do pesadelo
nuclear. Em agosto de 1997, a revista inglesa Jane's Intelligence afirmou que Israel
poderia ser tentado a lançar um ataque nuclear preventivo contra o Irã, já que seu
arsenal estava vulnerável a um ataque. Na mesma época, o primeiro-ministro indiano
declarou que não aceitaria pressões para revisar sua política nuclear, que inclui a opção
de fabricar armas. Em setembro, o vice-presidente dos Estados Unidos confirmou a
existência de um relatório russo-americano dando conta que o Irã estava tentando
adquirir armas nucleares e fabricar mísseis de longo alcance. Também em setembro,
satélites americanos detectaram o disparo de um míssil "Rodong-1", da Coréia do Norte,
que tem alcance para atingir o Japão. Em março de 1998, o novo primeiro ministro
indiano, Atal Bihari, ameaçou: "Vamos exercer todas as opções, incluindo a nuclear,
para proteger a segurança e a soberania nacional." Em abril de 1998, o Paquistão,
vizinho beligerante da Índia, testou com êxito um míssil com alcance de 1,5 mil
quilômetros.
Em relação à Rússia a maior preocupação hoje é quanto à segurança de suas instalações
nucleares. Segundo especialistas americanos, nenhuma das quase noventa localidades
em que estão estocadas as 700 toneladas de materiais nucleares em grau de produção de
armas, conta com segurança adequada. De acordo com uma matéria publicada pela
revista Seleções em junho de 1997, cerca de 33 toneladas de plutônio estão estocadas no
complexo de Chelyabinsk-65, sudoeste da Rússia, num armazém velho, com janelas e
um cadeado na porta; no porto de Murmansk, próximo à Finlândia, uma área de
armazenamento de lixo nuclear é vigiada por dois homens e um cão. Um informe
americano remetido à OTAN admitia que não se podia mais descartar a hipótese de
lançamentos não autorizados de armas nucleares russas (Ver o artigo de Roberto C. P.
Junior sob o título Conflitos bélicos no website
<http://www.library.com.br/Filosofia/conflito.htm>).
Em maio de 1997, o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Boris
Berezovski, anunciou que a nova doutrina de segurança nacional incluía "o direito ao
primeiro ataque com armas nucleares em caso de ameaça". Em junho, o país testou
"com êxito" o lançamento do míssil intercontinental SS-19, de 27m de comprimento,
raio de alcance de 10 mil km e capacidade para seis ogivas nucleares. Uma reportagem
sobre o lançamento informava que além de verificar a eficiência do míssil, o teste
12
objetivava demonstrar que a Rússia conservava sua capacidade de reagir a um ataque de
surpresa. Em outubro, o jornal The Washington Times informou que a Rússia estava
reduzindo os gastos em armamento convencional e ampliando os investimentos no seu
escudo nuclear. Em dezembro, a CIA avisou que alguns funcionários do governo russo
queriam incluir na doutrina de segurança a opção do "uso limitado" de armamento
nuclear, para impedir que um conflito regional se ampliasse.
Os prenúncios de guerra vão mais além. Em 1996, satélites de espionagem americanos
descobriram que os russos estavam construindo um enorme complexo militar secreto
nos montes Urais, a despeito da monumental crise econômica que assolava o país há
anos. O especialista militar russo, Pavel Felgengauer, confirmou que a base, conhecida
como "mão morta", foi concebida para desencadear o chamado "segundo ataque", isto é,
uma represália nuclear maciça a um ataque surpresa. O sistema funcionaria
automaticamente após um ataque inimigo. Nos Estados Unidos, alguns meses depois
dessa notícia, a Força Aérea assinava um contrato de mais de um bilhão de dólares para
que um consórcio de empresas desenvolvesse um sistema de laser aerotransportado,
capaz de destruir mísseis balísticos em pleno voo. O objetivo declarado era o de
proteger tropas e bases contra mísseis armados com ogivas convencionais, químicas,
biológicas e nucleares.
Atualmente, estão em desenvolvimento armas portáteis a laser, acústicas, de torvelinho
que provocam ondas de choque e de micro-ondas. Até o advento da Quarta Guerra
Mundial, a capacidade inventiva humana continuará a ser aplicada predominantemente
nessas coisas, sempre com grande êxito. Se a Quarta Guerra Mundial de fato ocorrer,
não haverá vencedores nem vencidos entre os povos, que se exterminarão mutuamente.
Tudo o que acaba de ser relatado demonstra a vergonhosa derrota da humanidade contra
as forças que alimentam as guerras. Fica demonstrada cada vez mais a estupidez, a
prepotência e a arrogância das elites dirigentes de determinados países e seus
governantes, que não aprendem nunca com as lições do passado e continuam a usar a
violência e a força para espoliar os povos do mundo inteiro e se apoderarem das
riquezas de nações menores, indefesas e que sofrem a humilhação do domínio
estrangeiro, diante do olhar complacente e submisso da ONU (Organização das Nações
Unidas).
Albert Einsten, no alto de sua sabedoria, tem uma frase lapidar que diz que não pode
conceber que a humanidade continue a se guerrear, a levantar cercas e muros, quando
deveria voltar seu olhar para o alto, para a grandiosidade do universo, sair desse mundo
ignorante em que vive e ver que somos apenas um simples grão de areia no cosmos.
Nós poderíamos evoluir mais se compreendêssemos nossa verdadeira existência. A
guerra não tem sentido nem como caminho para a paz, pois, em uma análise mais
profunda, é um assassinato de toda a sociedade contra homens, mulheres e crianças. A
guerra não tem vencedores, é uma derrota tanto para o vencido como para o vencedor.
13
Um tratado não se escreve nem com sangue nem com lágrimas. A guerra é o sonho dos
loucos, a realidade dos imbecis e a condenação dos inocentes.
No artigo A tendência dos Conflitos Armados elaborado por Martín Chahab (Ver o site
<http://www.achegas.net/numero/29/martin_chahab_29.htm)>, há a afirmativa de que,
no transcorrer das duas guerras mundiais do século XX, a humanidade perdeu mais de
70 milhões de vidas: a partir de 1945 até a queda da União Soviética, os 40 anos de
Guerra Fria, morreram no planeta cerca de 17 milhões de pessoas em conflitos armados
e de 1990 até 2003 as guerras levaram mais de 3 milhões de vidas. No total os conflitos
armados do século XX provocaram cerca de 90 milhões de vítimas fatais.
Todavia a tendência de baixas em conflitos armados vem diminuindo, embora a
quantidade destes conflitos tenha tomado uma direção inversa. Desde o fim da Segunda
Guerra Mundial vêm sendo deflagrados muito mais conflitos armados em todo o planeta
do que em séculos anteriores e essa tendência parece se acentuar cada vez mais. Em
síntese, o século XXI está delineando-se como um mundo em constante conflito.
Uma forma de se entender essa relação antagônica entre, a quantidade de mortos em
conflitos e o número desses conflitos através dos tempos, é levantar uma hipótese
vinculando a estrutura do sistema internacional com os conflitos armados: quanto mais
Estados concentrarem o poder nas relações internacionais mais conflitos armados
haverá no mundo e mais mortes serão produzidas por eles. Isto nos leva até uma
hipótese complementar muito sugestiva: em um mundo bipolar serão produzidos menos
conflitos armados entre os Estados e consequentemente menos vítimas fatais. Se
observarmos as estatísticas históricas veremos que o sistema internacional, finalizado ao
término na Segunda Guerra Mundial, provocou mais de 70 milhões de mortos só no
século XX, que o sistema bipolar durante a Guerra Fria gerou 16,5 milhões de baixas
em conflitos armados e que o atual sistema unipolar regido pelos Estados Unidos
reduziu as mortes à cifra de 3 milhões em pouco mais que uma década, quando o
número deveria ter sido, segundo a mesma tendência da Guerra Fria, quase 5 milhões de
mortos.
Qual a conclusão que se extrai desta situação? Pode-se interpretar esses dados no
sentido de que a humanidade cuida melhor de si mesma quando existe uma
concentração de poder em um só Estado ou quando da existência de um poder
hegemônico que controla os demais Estados há menos guerra entre eles e, em
consequência, menos mortes. O sistema unipolar mostra que existem menos conflitos
armados entre os estados membros do sistema internacional. Esta constatação indica que
a guerra poderá ser abolida se existir um governo mundial legitimado por todos os
países do mundo.
Por outro lado, pode-se interpretar esta tendência dos conflitos armados no mundo atual
injetando novas variáveis e a questão já não se apresentará tão simples e unidirecional
como parece. No artigo acima citado A tendência dos Conflitos Armados elaborado por
14
Martín Chahab fica evidenciado que na realidade existem mais conflitos armados no
mundo de hoje que nas etapas anteriores, mas os tipos de conflitos estão mudando.
Desde o fim da Guerra Fria observa-se o crescimento dos conflitos dentro dos Estados,
ou intra-estatais, enquanto os conflitos entre Estados ou inter-estatais têm mantido a
mesma frequência de antes de 1990 (Figura 1). Se entre 1946 e 1989 (Figura 2)
existiram 718 conflitos intra-estatais e de 1990 a 2004 existiram 429. Se a frequência
atual fosse a mesma que durante a Guerra Fria teríamos 207 conflitos armados intra-
estatais, porém a cifra é maior do que o dobro. Isto quer dizer que a lógica que guia
estes conflitos modificou-se. Há mais conflitos dentro dos Estados após a Guerra Fria.
Enquanto há mais paz entre os Estados do sistema internacional, registra-se a ocorrência
de mais guerra dentro dos Estados nacionais.
Figura 1- Conflitos de todas as intensidades entre 1946 e 2002
Fonte: Chahab, Martín. A tendência dos Conflitos Armados (Ver
<http://www.achegas.net/numero/29/martin_chahab_29.htm)>)
Figura 2- Conflitos armados de 1946 a 2003
Gráfico 1: Conflictos de todas las intensidades entre 1946 y 2002
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
1945
1947
1949
1951
1953
1955
1957
1959
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
Fuente: Center for Systemic Peace
Interestatal
Intraestatal
Gráfico 2: Conflictos Armados desde 1946
hasta 2003
718
429
211
64
929
493
0
200
400
600
800
1000
1946-1989 1990-2003
Fuente: Center for Sy stemic Peace
Intraestatal
Interestatal
Total
15
Fonte: Chahab, Martín. A tendência dos Conflitos Armados (Ver
<http://www.achegas.net/numero/29/martin_chahab_29.htm)>)
Existem várias razões para que isso acontecesse. Heidelberg Institute on Internacional
Conflict Research, em sua publicação anual do Barômetro dos Conflitos, vem
mostrando que muitos destes conflitos interestatais no mundo estão sendo resolvidos em
nível de latência através de negociações e que um número cada vez menor deles chega a
uma guerra civil. As insurreições recentes no mundo árabe negam esta tendência. Esta
pode ser uma razão importante para se entender a diminuição dos conflitos armados
entre os Estados. À primeira vista pareceria que a cooperação entre os Estados vem
impedindo que possíveis guerras venham a eclodir, mas na verdade o que tem evitado
que muitos conflitos passem da categoria de não violentos a violentos tem sido o
trabalho de várias organizações internacionais tais como: Nações Unidas, Organização
dos Estados Americanos, União Europeia, Comunidade Econômica e Monetária
Central, Comunidade Econômica dos Estados do Ocidente, e Organização pela
Segurança e Cooperação na Europa, entre outras.
3. As principais guerras na história da humanidade no Século XXI
A tendência atual dos conflitos armados interestatais no mundo já não se vincula, como
antigamente a interesses dos Estados, tais como território, soberania ou política do
poder, mas sim ao desenvolvimento tecnológico e supremacia comercial, e essa disputa
pelo domínio da tecnologia tampouco se relaciona com a indústria da guerra e sim com
a capacidade de controlar o comércio internacional. Temos então uma nova premissa:
quanto maior o comércio mundial baseado na cooperação entre os Estados, menor é a
quantidade de conflitos armados interestatais e em consequência menor quantidade de
mortos. O que vem a ser o mesmo que dizer maior desenvolvimento tecnológico com o
aumento do comércio mundial, haverá menos guerras interestatais e menor quantidade
de mortos.
O que observamos até aqui é a ocorrência de uma troca significativa na tendência dos
conflitos entre os Estados trazendo consigo uma mudança também significativa nos
sistemas de segurança individuais e coletivos. Portanto, neste cenário se faz importante
repensar para que existem os sistemas de defesa dos Estados e de grupos de Estados. No
atual contexto a explicação derivaria da existência de novas ameaças como o terrorismo
internacional, a produção de armas de destruição em massa, etc. Porém essa é uma
analise incompleta da questão e não caracteriza tendências em longo prazo, além de
simples explicação contextual.
Vejamos uma dessas tendências. Suponhamos um novo paradigma das relações
internacionais pós Guerra Fria: o choque das civilizações. Segundo essa teoria as novas
guerras estariam vinculadas ao enfrentamento entre as diferentes civilizações do
mundo. Samuel Huntington (O Choque de Civilizações, Objetiva, 1997) expõe em seu
trabalho que a civilização ocidental teria, no futuro, que se enfrentar não só com a
16
civilização muçulmana, mas também uma aliança entre muçulmanos e confucionistas
(China), que buscaria destruir a supremacia ocidental e cristã. As guerras do futuro
seriam culturais centradas no aspecto religioso. Porém, com base no artigo de Andrej
Tusicisny (2004), observamos que, utilizando as categorias de análise de Huntington
dos conflitos entre as diferentes civilizações, não se produziu o que o autor havia
suposto em seu famoso e sugestivo artigo e tampouco existem indicadores de que isso
vá acontecer (Figura 3). Ao contrario, os conflitos têm aumentado dentro de uma
mesma sociedade enquanto o numero deles, produzidos entre sociedades distintas, tem
se mantido constante.
Figura 3- Comparação dos conflitos entre Civilizações e todos os conflitos entre
1946 e 2000
Fonte: Tusicisny, Andrej, Civilizational Conflict: More Frequent, Longer, and Bloodier?. Journal of
Peace Research, vol. 41, no. 4, 2004.
Tomando-se as definições de civilizações utilizadas por Samuel Huntington, conclui-se
que os Estados Unidos têm enfrentado em conflitos armados, nos últimos 20 anos, a
dois tipos de culturas: a muçulmana e a latino-americana. Os Estados Unidos enfrentou
a Líbia em 1986, o Panamá em 1989, o Afeganistão em 2001 e 2002 e o Iraque na
guerra do Golfo em 1998 e em 2003.
Pode-se concluir que quanto maior o desenvolvimento tecnológico com o aumento do
comércio mundial, menos guerra entre Estados e menor quantidade de mortos.
Consequentemente passou-se a acreditar que o comércio mundial é que tem freado os
conflitos entre Estados, porém deve-se observar que este aumento do comércio mundial
está embasado no desenvolvimento tecnológico. Entretanto, o crescimento do PIB de
diferentes Estados está baseado em uma maior ou menor exploração de recursos
naturais em todo o mundo, e este desenvolvimento tecnológico, por sua vez, tem sido
possível graças a exploração dos recursos naturais não renováveis, como o petróleo e o
gás. Enquanto tecnologia e comércio mundial avançam esgotam-se os recursos naturais
que sustentam este crescimento. Neste sentido, se a humanidade não modificar sua
Gráfico 5: Comparación de los Conflictos entre Civilizaciones
y todos los Conflictos entre 1946 y 2000
Conflictos Totales
Conflictos entre
Civilizaciones0
10
20
30
40
50
60
1946
1948
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
Fuente: Andrej Tusicisny, Universityof Matej Bel
17
estrutura dependente destes mesmos recursos esgotáveis que fazem funcionar suas
indústrias e meios de locomoção, podemos acreditar que haverão choques entre Estados
diferentes na busca destes recursos.
O cenário realista das relações internacionais tem sido invadido por novos atores: as
empresas transnacionais e organismos internacionais. Os Estados Unidos não são os
representantes exclusivos destas empresas globais. Estes novos atores, que em parte
dominam o mundo global necessitam, também, de recursos naturais dos Estados onde se
localizam para atender e sustentar seus interesses. Estados como Estados Unidos,
Inglaterra, Espanha, França, Alemanha, Austrália, Canadá, dentre outros, representam
os interesses destas empresas. As companhias globais podem fomentar conflitos
armados contra Estados que detenham recursos naturais em abundância como foi o caso
da invasão dos Estados Unidos no Iraque para se apossar das reservas de petróleo.
Os países capitalistas centrais apresentam declínio em seu crescimento econômico
tendendo à depressão após a crise de 2008. Dois países, China e Índia, vêm crescendo
de forma sustentada acima de 7% ao ano, e ambos têm uma dependência imensa de
petróleo e gás como todos os países desenvolvidos. Se refletirmos de forma realista
sobre esta situação, pode-se supor que rapidamente acontecerá um enfrentamento entre
China e Índia e os países desenvolvidos em busca destes recursos naturais, porém isso
não seria provável em vista do atual cenário de interdependência e globalização. Tanto a
China como a Índia têm mantido uma relação externa direta com os países mais
desenvolvidos do mundo, como os Estados Unidos, Japão, Alemanha e França e o
comércio bilateral de ambos com estas potências tem crescido em níveis nunca vistos.
As empresas multinacionais destes países vêm se instalando nos gigantes da Ásia e a
China é o segundo possuidor de bônus dos Estados Unidos. Nesse sentido a cooperação
econômica tem desempenhado um papel fundamental para que esses laços econômicos
entre países do Ocidente e Oriente evitem questões que gerariam algum tipo de conflito.
Porém a cooperação só é possível em um mundo de abundância. Na escassez não há
amigos, só existem rivais. Sabe-se que as reservas de petróleo e gás do mundo têm seus
dias contados. A menos que se ponham a disposição tecnologias que funcionem com
outros tipos de energia e que haja uma transferência tecnológica mundial poderão
reaparecer conflitos típicos por recursos naturais escassos que já sacudiram a
humanidade em toda sua historia. Esse tipo de conflito armado, já antigo e ao mesmo
tempo novo, poderia reaparecer no planeta, já não só entre Estados rivais, mas também
com novos atores como os exércitos privados das grandes companhias multinacionais
que buscariam defender seus interesses.
A cooperação e o comércio mundial têm seus limites fixados na base de seu próprio
desenvolvimento. Ainda que se possa pensar que, graças ao avanço tecnológico, a
humanidade escapará da dependência dos recursos naturais escassos por outro tipo de
energia, é importante lembrar que existem demasiados interesses atrapalhando esse
caminho.
18
4. As causas das guerras
Por que o mundo se torna mais violento a cada ano? Não apenas se verifica um aumento
do número de conflitos armados no globo, como as próprias pessoas estão mais
violentas. Uma simples desavença de trânsito pode terminar em morte. Pessoas calmas,
sociáveis e aparentemente normais transformam-se, de uma hora para a outra, em
criminosos frios e implacáveis. Qual a explicação para isso?
Não é incomum a afirmativa de que “desde que o mundo é mundo, sempre existiram
guerras." Será difícil encontrar alguém hoje que não acredite nesta afirmativa. E, no
entanto, ela é falsa. Nos primórdios da humanidade não havia guerras. Nenhum ser
humano, nenhum povo daquele tempo longínquo teria tido a ideia de agredir um seu
semelhante. Nem sequer, eles seriam capazes de, por exemplo, de anexar terras do seu
vizinho contra a sua vontade, por meio da força bruta.
É difícil tentar estabelecer um paralelo entre o modo de vida dos seres humanos daquela
época com a humanidade de hoje. Naquela época, o viver em paz e harmonia com os
seus semelhantes era para os seres humanos algo tão natural como respirar, comer e
dormir. Seres humanos já viveram na Terra, sem se ofenderem ou se maltratarem uns
aos outros, muito menos guerrearem entre si. Isso, contudo, foi há muito, muito tempo.
Nenhum registro dessa época chegou até o presente e, por isso, é suposto que esta
situação não tenha existido.
Segundo Raymond Aron (1962), à medida que a vida do homem se organiza em
famílias e em bandos, menos prováveis nos poderiam parecer as condutas propriamente
belicosas. A maior parte dos animais luta, mas são raras as espécies que praticam a
guerra, entendida como ação coletiva e organizada. Aron afirma que a guerra é o choque
de condutas organizadas, uma prova de força entre “equipes”, cada uma das quais
pretendendo levar a melhor sobre a outra mediante a multiplicação do vigor de cada
combatente pela disciplina do conjunto. Neste sentido, a guerra não pode ser anterior à
formação de equipes, fenômeno social que implica na existência da sociedade. Vamos
encontrar na Suméria a primeira prova da existência de tropas com treinamento militar.
O homo sapiens surgiu há cerca de 600.000 anos. A revolução neolítica, a agricultura
regular e a criação de animais datam de uns 10.000 anos. As civilizações ou sociedades
complexas surgiram há cerca de 6.000 anos. Isto significa dizer que o período
denominado histórico representa um centésimo da duração total da existência da
humanidade no planeta Terra. Segundo Aron (1962), nenhum antropólogo encontrou
jamais qualquer prova de que os homens tivessem elaborado uma organização ou uma
tática de combate antes da idade Idade do Bronze (3300 a.C. a 1300-700 a.C.). Não
surpreende, pois, que os primeiros indícios incontestáveis dos exércitos e da guerra
datem da Idade do Bronze que é um período da civilização no qual ocorreu o
desenvolvimento desta liga metálica resultante da mistura de cobre com estanho.
19
Assim como para os primeiros seres humanos seria inconcebível a ideia de causar
qualquer dano ao seu semelhante, hoje, soa como ilusão, fantasia, a ideia de um mundo
sem conflitos, por considerarmos a violência como uma característica própria do ser
humano. Pode-se especular se não teria havido uma fase intermediária entre os muitos
milênios durante os quais o homem viveu sob a ameaça das feras e o período, bem mais
curto, em que a ameaça a sua segurança passou a se originar em outros homens. Seria
uma época em que os homens possuíam meios técnicos suficientes para a defesa contra
as feras e sem engajamento na busca das riquezas e nas lutas de classes, nas conquistas
e nos domínios. Está demonstrado que sociedades pequenas, sem instrumentos
metálicos, isoladas, ainda não mostram traços característicos das sociedades belicosas.
Bergson afirma no seu livro Les Deux Sources de la Morale et de la Religion (1976),
que a origem da guerra é a existência da propriedade, individual ou coletiva, e como a
humanidade está predestinada à propriedade, pela sua estrutura, a guerra seria natural.
Os povos que temem a falta de alimentos e das matérias-primas de que necessitam se
julgam ameaçados pela fome ou o desemprego, são capazes de tudo. Para sobreviver,
estão prontos a atacar. Assim nascem as guerras autênticas, ajustadas à sua essência. J.J.
Rousseau pensava que as guerras surgem, ou pelo menos se ampliam, com a expansão
das coletividades e que a desigualdade de classe e a propriedade individual estão ligadas
às guerras de conquista e ao domínio pelos guerreiros. Não poderia ser diferente, uma
vez que as unidades políticas foram forjadas para o combate e o preço da vitória foi
sempre a terra, escravos e metais preciosos. Marx e Engels afirmam que os conflitos
sociais resultam da divisão da sociedade em classes com o surgimento da propriedade
privada em substituição à propriedade coletiva dos meios de produção imperante nas
sociedades primitivas.
Raymond Aron (1962) afirma que os biólogos chamam de agressividade a propensão de
um animal a atacar outro da mesma espécie ou espécie diferente. Na maior parte das
espécies (mas não em todas) os indivíduos lutam entre sí. Alguns não são agressivos
(isto é, não tomam a iniciativa do ataque), mas se defendem quando são atacados. Entre
os primatas, o homem se situa na parte inferior da escala de agressividade. Enquanto
animal, é relativamente combativo. Em outras palavras, basta um estímulo pouco
intenso para levá-lo a desencadear a agressão.
Segundo Aron, entre os vertebrados superiores, os grupos frequentemente manifestam
agressividade com respeito a indivíduos que não pertencem à sua coletividade. Na
espécie humana, porém, as manifestações de agressividade são inseparáveis da vida
coletiva. Mesmo quando se trata da reação de um indivíduo contra outro, a
agressividade é influenciada, de muitos modos, pelo contexto social. O surgimento de
uma existência propriamente social não foi a única causa das novas dimensões que
assumiu o fenômeno da agressividade: a frustação e a inadaptação resultantes da reação
agressiva constituem o fato mais importante nas relações humanas.
20
Aron é defensor da tese de que a frustação é uma experiência psíquica, revelada pela
consciência. Todos os indivíduos sentem frustações desde a infância. A frustação é
antes de mais nada a experiência de uma privação, isto é, um bem desejado e não
alcançado, uma opressão sentida penosamente. A cadeia de causalidade que leva às
emoções ou aos atos de agressividade se origina sempre em um fenômeno externo. Não
há prova fisiológica que haja uma incitação espontânea à luta, originada no próprio
organismo do indivíduo. A agressão física e a vontade de destruir não constituem a
única reação possível à frustração. A dificuldade em manter a paz está mais relacionada
à humanidade do homem do que à sua animalidade. O homem é o único ser capaz de
preferir a revolta à humilhação, e a verdade à vida.
Hannah Arendt (1970) discute, especialmente com Niezstche e Bergson, acerca do que
ela chama da justificação biológica da violência. Estes pensadores atribuem ao poder
uma dimensão expansionista natural e uma necessidade interna de crescer. A ação
violenta, neste contexto, é explicada como uma estratégia para conceder ao poder novo
vigor e estabilidade. Arendt contesta esta posição, afirmando que “nada poderia ser
teoricamente mais perigoso do que a tradição do pensamento organicista em assuntos
políticos, por meio da qual poder e violência são interpretados em termos biológicos”.
Arendt sustenta que “nem a violência nem o poder são fenômenos naturais, isto é, uma
manifestação do processo vital, eles pertencem ao âmbito político dos negócios
humanos, cuja qualidade essencialmente humana é garantida pela faculdade do homem
para agir, a habilidade para começar algo novo”. Arendt descarta as metáforas
orgânicas da violência como doença da sociedade. A desnaturalização do fenômeno da
violência em Hannah Arendt é sua recusa em associar o processo histórico com a luta
pela sobrevivência e a morte violenta no reino animal e de abrir mão do significado da
política enquanto determinação do humano.
Arendt reluta em associar violência com o poder ou com o Estado: O poder é de fato a
essência de todo o governo, mas não a violência. Desta maneira, recusa toda tradição
anterior em equacionar o poder político com a organização dos meios de violência e o
consenso em aceitar que a violência é a mais flagrante manifestação de poder. Sua
argumentação se processa no sentido de refutar afirmações como a de Wright Mills
(Toda política é uma luta pelo poder, a forma básica de poder é a violência), de Max
Weber (O domínio do homem pelo homem baseados nos meios de violência legítima)
ou de Bertrand de Jouvenel (Para aquele que contempla o desenrolar das eras, a guerra
apresenta-se como uma atividade que pertence à essência dos Estados).
5. O imperativo do fim das guerras
Tudo leva a crer que as guerras do Século XXI terão como fulcro a batalha por recursos
naturais que tendem a se esgotar. Nosso modelo de desenvolvimento está atingindo seus
limites. Se for considerado o exemplo da China, em 2003, ela consumiu 30% do
petróleo e apenas uma fração muito pequena da população vivia com base nos padrões
dos países desenvolvidos. O que vai acontecer nos próximos anos se a China mantiver a
sua taxa de crescimento para proporcionar aos seus 1,3 bilhão de pessoas viverem de
21
acordo com os padrões dos países desenvolvidos? Haverá um impacto gigantesco sobre
a demanda de recursos naturais. Mesmo antes do esgotamento dos recursos naturais,
haverá uma "guerra econômica" real, que poderà acontecer dentro de alguns anos.
Amanhã, dado o esgotamento de certos recursos naturais, a posição de alguns países
pode mudar. A China, por exemplo, tem seguido, durante as últimas décadas, políticas
econômicas prudentes: o livre comércio, para vender produtos para o mercado mundial,
comprando títulos do Tesouro dos Estados Unidos para compensar o déficit na balança
comercial deste país. Mas num futuro próximo, haverá um conflito econômico
generalizado se não forem tomadas medidas ao nível internacional para evitar essa
"guerra econômica". Assim, tendo em conta a escassez de recursos que deverá ocorrer,
é, certamente, para a batalha pelos recursos que o mundo estará indo e não para uma
guerra de civilizações como sugere Samuel Huntington em seu livro O Choque de
Civilizações que estamos a assistir. Se o diálogo internacional a estabelecer tem uma
meta comum com base nos valores da todas as civilizações será, certamente, para a
batalha pelos recursos que o mundo estará indo.
Segundo Bernard Nadoulek (Eyrolles, 2005), apesar do ressurgimento de aspectos
extremistas não acontecerá o choque de civilizações. Apesar de ser real os protestos
fundamentalistas de todos os lados e os atos terroristas reivindicados em nome da
religião, o choque de civilizações irá falhar. E isto por três razões. A primeira razão,
porque as diferenças culturais não têm sido as causas das guerras. Nadoulek reconhece,
no entanto, que a natureza mais civilizada da nossa própria cultura tem sido
frequentemente utilizada como um discurso para justificar um ato de agressão vis-à-vis
um país em outra cultura. A segunda razão resulta do fato de as guerras apresentarem
uma identidade étnica, religiosa ou ocorrerem mais freqüentemente entre os membros
de uma civilização, ou entre pessoas que vivem em situações de proximidade.
Finalmente, a terceira razão, mais importante, concerne especificamente à 'identidade'.
Não é o estrangeiro, que vive longe, que se deseja ocasionalmente matá-lo e sim o
vizinho próximo, o seu vizinho. Segundo Bernard Nadoulek, o confronto atual entre os
Estados Unidos e o mundo muçulmano também é considerado como "guerra entre os
mesmos."
O que começa a haver é a crise da civilização e não o choque de civilizações. Na
verdade, o verdadeiro problema diz respeito a nosso modelo de desenvolvimento
industrial que causa poluição e mudanças climáticas, além de contribuir para que os
recursos naturais, que ainda são relativamente elevados, sejam rapidamente esgotados.
O petróleo, a água e a terra estão no centro de conflitos em todo o mundo. Guerras pelo
petróleo, guerras pela água, guerras por terras, guerras atmosféricas. Onde há petróleo
há conflitos. Não importa em que medida a aparência de uma guerra de culturas apareça
vinculada às invasões do Afeganistão, Iraque e Líbia (e a ameaça de uma ação
semelhante no Irã), porque a realidade era, e é, que se trata de guerras pelo petróleo.
6. Em direção à Quarta Guerra Mundial?
22
Pascal Boniface, diretor do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS),
autor de quarenta livros sobre questões geopolíticas, professor do Instituto de Estudos
Europeus da Universidade de Paris VIII e membro do Comitê Consultivo sobre o
Desarmamento com o Secretário-Geral das Nações Unidas, afirma em seu livro Vers La
4e. Guerre Mondiale (Armand Colin, 2009) que, após o fim da União Soviética, alguns
dirigentes ocidentais queriam encontrar um substituto para a ameaça comunista e
partiram rapidamente para substituí-la como um fator de unificação em curso no Sul
Ocidental sob a liderança dos Estados Unidos. O discurso sobre o choque de
civilizações veio dar sustentação à política externa dos Estados Unidos de guerra ao
terror, especialmente após o ataque de 11 de setembro de 2001 que levou à queda do
World Trade Center.
Huntington explica em seu livro sobre o choque de civilizações, que o islamismo tem
fronteiras sangrentas e que as guerras que o islamismo desencadeou foram em maior
número e mais sangrentas do que as de outras civilizações. No entanto, não é necessário
ter um conhecimento enciclopédico para destacar o fato de que nenhuma das duas
Guerras Mundiais foi acionada pelo islamismo, nem os gulags soviéticos ou chineses, o
genocídio em Ruanda, para não mencionar os males da colonização.
Segundo Pascal Boniface, há um paradoxo dizer que o conflito israelo-palestiniano é a
matriz de um possível confronto de civilizações. Primeiro, porque Huntington não fala
deste conflito em seu livro dedicando poucas linhas para dizer que os judeus não são
uma civilização e sim de que foram assimilados pela civilização ocidental. Segundo
Boniface, este conflito é relativamente pequeno, inclusive em termos de destruição
física e de mortes, quando comparado a outros conflitos contemporâneos, como aqueles
que ocorrem na África ou na Chechênia.
A grande diferença é que, no caso do conflito israelo-palestiniano, o que se critica o
mundo ocidental em geral e os Estados Unidos em particular, não é a indiferença, mas a
cumplicidade ativa com Israel. Sem a plena solidariedade dos americanos para com
Israel, não seria possível para esse país manter a ocupação militar dos territórios
palestinos, apesar de um número impressionante de resoluções da ONU exigindo sua
retirada. Isto é visto como prova de duplo padrão. Este conflito tornou-se um símbolo
que vai muito além de sua localização geográfica e da atitude dos protagonistas. A
continuação do conflito israelo-palestiniano é contrária, não só à estabilidade estratégica
na região e no mundo, mas também ao interesse nacional dos Estados Unidos porque
prejudica suas relações com os países árabes.
Para Boniface, existe um impasse triplo na forma como é conduzida a luta contra o
terrorismo. São tratados os efeitos, mas não são atacadas as causas na raiz do problema.
Isto não significa dizer que não haja necessidade de ter uma componente militar e
judicial na luta contra o terrorismo. Mesmo com a eliminação de Bin Laden não
terminou com o terrorismo. O que é preciso é tratar as condições políticas que podem
ajudar um terrorista ter respaldo em uma fração da população. É necessário
compreender suas razões e motivações. No caso de Israel, parece claro que o terrorismo
23
palestino era combatido de forma mais eficaz quando havia reais perspectivas de paz na
região e a cooperação entre Yitzhak Rabin e Yasser Arafat.
Ao contrário da Guerra Fria, quando a União Soviética entrou em colapso porque não
conseguiu acompanhar economicamente e tecnologicamente o Ocidente, não havia nada
parecido com a guerra contra o terrorismo. Proteção completa é impossível, porque
locais oficiais podem ser protegidos, mas há sempre, escolas, hospitais, teatros, que são
possíveis alvos. Não é possível controlar todas as aeronaves, todos os trens, os metrôs.
Os ataques de 11 de Setembro custaram 100 mil dólares para os seus organizadores que
resultaram em um aumento de 150 bilhões de dólares em gastos militares dos Est5ados
Unidos.
Pascal Boniface afirma que, a ideia de uma Quarta Guerra Mundial está a ser
desenvolvida pelos americanos neoconservadores que acreditam que a Guerra Fria foi a
III Guerra Mundial e que a guerra contra o Islã ou contra o terrorismo, eles usam ambas
as palavras muitas vezes tão indiferentes, seria a quarta. Sua política é baseada no
confronto. Eles acreditam que os problemas políticos podem ser resolvidos unicamente
através do uso da força. A força militar é uma resposta universal. O problema é que a
política atual dos Estados Unidos, alegando estar a refutar a tese do choque de
civilizações simplesmente cria as condições de sua existência.
A guerra contra o terrorismo é frequentemente apresentado como a Quarta Guerra
Mundial. Com efeito, em face deste desafio, o mundo ocidental é chamado, como
aconteceu durante a Terceira Guerra Mundial, a Guerra Fria, para formar um bloco, sob
a liderança dos Estados Unidos. Neste sentido, o conflito israelo-palestiniano, uma vez
marginal, tornou-se uma questão importante que vai além do âmbito regional. O futuro
da segurança internacional está em jogo nessa área que se tornou o epicentro de um
potencial conflito de civilizações. No entanto, não é inevitável. Ainda há tempo, se
houver a adoção de uma política de boa vontade para interromper o círculo vicioso que
ameaça levar o mundo à ruína. É um imperativo evitar que este cenário descrito
aconteça.
7. Como eliminar as guerras em nosso planeta
A situação atual do planeta é dramática. A humanidade se sente esmagada pelas grandes
potências mundiais a serviço dos grupos monopolistas que comandam suas economias e
que tudo fazem em defesa de seus interesses, desrespeitando leis, culturas, tradições e
religiões. Invasões em países periféricos, de forma aberta ou sub-reptícia, com
argumentos pouco convincente s fazem parte do cotidiano das grandes
potênc ia s na sua busca incessa nte pelo poder mundial mesmo que para
isso tenham que desrespeitar leis internas e tratados internacionais.
Como construir um novo cenário de paz e cooperação entre as nações e os povos do mundo inteiro?
Este é um desafio antigo e pensado por muitos filósofos como é o caso de ImmanuelKant ao abordar
este tema em sua obra A paz perpétua. Em 1795, Kant lançou este opúsculo que teve
grande sucesso junto ao público culto da sua época. Era um projeto que visava
24
estabelecer uma paz perpétua entre os povos europeus, e depois espalhá-la pelo mundo
inteiro. Tratou-se de um manifesto iluminista a favor do entendimento permanente entre
os homens. O objetivo principal de Kant era o de eliminar a guerra que sempre foi vista
por ele como algo que impedia os esforços da humanidade em direção a um futuro
digno para os seres humanos. Como alcançar este objetivo?
Kant propõe em A Paz Perpétua os fundamentos e os princípios necessários para uma
livre federação de Estados juridicamente estabelecidos os quais não adotariam a forma
de um Estado mundial, pois isso resultaria em um absolutismo ilimitado. Também não
pode possuir um poder soberano que lhe permita interferir nos assuntos internos dos
Estados livres. Deve ser uma federação de Estados livres em que todos possuem
constituições republicanas. O fim último desta federação seria o da promoção do bem
supremo, que é a verdadeira paz entre os Estados, acabando com o funesto guerrear,
para o qual todos os Estados sempre voltaram seus esforços, como fim principal.
Kant buscava acabar com o “estado da natureza internacional” que caracterizava as
relações internacionais até então. Cabe observar que o conceito “estado da natureza” foi
definido pelo filósofo Thomas Hobbes em sua obra Leviatã. Segundo Hobbes, no
“estado de natureza”, reina a ausência do Direito, logo não há espaço para a justiça.
Neste contexto, todos procuram defender seus direitos por meio da força. No “estado de
natureza”, portanto, como concebera Hobbes, reina a guerra de todos contra todos. O
estado de natureza é, portanto, o estado da liberdade sem lei externa, isto é, ninguém
pode estar obrigado a respeitar os direitos alheios tampouco pode estar seguro de que os
outros respeitarão os seus e muito menos pode estar protegido contra os atos de
violência dos demais.
Na prática, mesmo após a Paz de Westfália assinado em 1648 que pôs um fim à
desastrosa Guerra dos Trinta Anos na Europa, as relações internacionais da época de
Kant não diferiam no fundamental das atuais. Hoje, como naquela época, estamos
vivenciando o “estado da natureza internacional” com o recrudescimento da violência
política internacional. Hannah Arendt afirma em sua obra Sobre a Violência, que a
prática da violência como toda ação transforma o mundo, mas a transformação mais
provável é a de um mundo mais violento.
A Paz Perpétua de Kant não foi colocada em prática porque o pressuposto para sua
implementação seria a superação das verdadeiras causas da violência política geradora
das guerras e revoluções que têm caracterizado a história da humanidade. Isto significa
dizer que haveria a necessidade de superar as principais causas da violência, no interior
de cada nação, com a eliminação das disparidades de riqueza entre “os de cima” e “os
de baixo” na escala social e, no plano internacional, de um lado, com a eliminação das
disparidades em termos de desenvolvimento econômico e social entre as nações ricas e
as pobres e, de outro, da disputa entre as grandes potências pelo poder mundial.
A conquista da paz perpétua só poderia acontecer se essas contradições fossem
eliminadas. A humanidade tem que adquirir a consciência de que só será possível
eliminar a violência política que conduz à guerra de todos contra todos nos níveis
25
nacional e internacional desde que desapareçam as contradições acima descritas que
ainda prevalecem no mundo em que vivemos. No plano internacional, diferentemente
do que ocorria no passado em que as grandes potências se confrontavam com outros
países, cujas diferenças, quando não eram solucionadas com a diplomacia, eram
resolvidas no campo de batalha através de sucessivas guerras, na atualidade se
defrontam também com organizações terroristas independentes, como a Al Qaeda.
O surgimento de organizações terroristas como a Al Qaeda faz com que seja colocado
em xeque o atual sistema interestatal resultante do pós-guerra em 1945. Esta situação
faz com que se torne um imperativo a criação de uma nova superestrutura jurídica e
política internacional para tratar dessas novas questões. O fato de não haver uma nova
superestrutura jurídica e política internacional para tratar o terrorismo contemporâneo
não justifica que o governo de um país como os Estados Unidos aja também fora da lei,
isto é, do direito internacional em vigor para fazer justiça com suas próprias mãos como
fazem os terroristas da Al Qaeda.
Ressalte-se que o governo norte-americano teria todo o direito e a obrigação de caçar e
capturar Bin Laden, mas sem invadir outro país soberano como o Paquistão sem sua
permissão e de assassiná-lo a sangue frio sem oferecer-lhe o direito de defesa. Este tipo
de procedimento é similar ao de alguém, que não acreditando na justiça de seu país,
resolve fazer justiça com as próprias mãos. É admissível imaginar que, com o uso da
inteligência e não da violência, seria possível alcançar Bin Laden. Uma das razões pelas
quais os Estados Unidos estão perdendo seu poder de influência no mundo reside no
fato de querer resolver os problemas internacionais com o uso da força.
Pode-se perguntar como seria o uso da inteligência no caso Bin Laden? Neste caso, o
governo dos Estados Unidos deveria buscar ganhar o apoio dos dirigentes dos governos
da região e de sua população, agindo proativamente na promoção do desenvolvimento
desses países, além de provê-los de recursos tecnológicos para monitora e rastrear Bin
Laden e a Al Qaeda. A forma inteligente de atuação na região significaria ganhar o
apoio dos governos locais e de sua população para isolar Bin Laden e a Al Qaeda. Não
há dúvidas que o governo dos Estados Unidos teria prendido Bin Laden há mais tempo
se tivesse agido desta forma, isto é, com inteligência.
De acordo com os mais elevados princípios da civilização, o governo dos Estados
Unidos deveria encaminhar Bin Laden para ser julgado pelo Tribunal Internacional de
Haia, como aconteceu com o ex-presidente da Iugoslávia, Milosevic, acusado de crime
de genocídio. Sem a adoção deste tipo de procedimento, estaremos colocando em xeque
os mais elevados princípios que devem nortear a vida civilizada fazendo prevalecer o
“estado da natureza internacional”, isto é, o da “guerra de todos contra todos”.
Por que há guerras? Será a guerra consequencia de pressões sociais e econômicas que
influenciam a vida dos seres humanos organizados em sociedade como diz Karl Marx
ou será consequência, apenas, de uma agressividade natural ao homem, instalada no
âmago de algo que se convencionou chamar de “natureza humana”?.
26
Para alguns, a crueldade dos sistemas econômicos, as guerras, a dominação do homem
pelo homem não seriam mais do que o espelho das características mais fundamentais do
homem como espécie: os instintos selvagens, a agresividade como motor do
desenvolvimento, a preguiça e o comodismo como fatores de manutenção da dominação
dos mais fracos pelos mais fortes. Mas se chegarmos à conclusão de que o homem não é
o lobo do homem, de que o ser humano não mata e não subjuga os outros por simples
prazer ou por compulsão instintiva, o caminho estará aberto para a procura de outras
formas de sociedade que permitam aos seres humanos viverem de uma maneira
diferente daquilo que se verifica hoje em dia.
A paz já foi definida como ausência da guerra. A fórmula de Clausewitz (a guerra como
continuação da política por outros meios) é substituída na atualidade pela fórmula
inversa: a política passa a ser a continuação da guerra por outros meios. Historicamente,
a busca da paz entre as nações apresentou três características: o equilibrio, a hegemonia
e o império. Isto significa dizer que as forças das nações poderão estar em equilibrio, ou
serem dominadas por uma dentre elas, ou então são superadas a tal ponto pelas forças de
uma unidade que todas as demais perdem sua autonomia e tendem a desaparecer como
centros de decisão política. Chega-se assim ao Estado imperial, que detem o monopólio
da violência.
Entre a paz da situação de equilibrio e a paz e da situação de império está a paz da
hegemonia. A ausência da guerra não está relacionada com a igualdade aproximada de
forças que reina nas unidades políticas, impedindo qualquer uma delas, e qualquer
coalizão destas unidades de impor sua vontade. Pelo contrário, está vinculada à
superioridade incontestável de uma das unidades. O Estado hegemônico não procura
absorver as unidades reduzidas à impotência, não abusa da sua hegemonia, e respeita as
formas externas de independência dos Estados. O Estado hegemônico não aspira a
situação de império. A hegemonia é uma forma precária de equilibrio.
É chegada a hora da humanidade se dotar o mais urgentemente possível de instrumentos
necessários a ter o controle de seu destino e colocar em prática um governo democrático
do mundo. Este é o único meio de sobrevivência da espécie humana. Porque não existe
nenhum outro meio capaz de construir um mundo no qual cada mulher, cada homem de
hoje e de amanhã tenham os mesmos direitos e os mesmos deveres, e nos quais os
interesses do planeta, de todas as formas de vida e das gerações futuras, seriam enfim
levados em conta, no qual todas as fontes de crescimento seriam utilizadas de maneira
ecologicamente e socialmente durável.
Um governo mundial não substituiria os governos de cada nação. O governo mundial
teria por objetivo a defesa dos interesses gerais do planeta que podem entrar em
contradição com os interesses de cada nação. Ele trabalharia no sentido de cada Estado
respeitar os direitos de cada cidadão do mundo buscando impedir a propagação dos
riscos sistêmicos mundiais. Ele evitaria o império de um só e a anarquia de todos. O
governo mundial poderia surgir de uma guerra ou ser concebido para evitar seu retorno.
27
Ações para constituir uma governança mundial foi objeto do Concerto das Nações em
1815, da Liga das Nações em 1920 e da Organização das Nações Unidas em 1945 que
foram em vão porque o governo mundial não disporia de nenhum meio de tomar
decisões nem de colocar em prática sanções contra aqueles que não o respeitem.
Um governo mundial poderá resultar no futuro de desastres sistêmicos maiores tais
como, crise ecológica extrema, crise econômica de grande amplitude, expansão de uma
economia do crime organizado, a queda de um meteorito no planeta e o avanço do
movimento terrorista que fariam os governos democráticos do mundo a juntar suas
forças. A preservação da paz é a primeira missão de toda nova forma de governo
mundial.
Amanhã, quem vai governar o mundo? Ninguém, provavelmente. E este é o pior
cenário. Nenhum país por mais poderosos que seja não pode controlar a riqueza e os
problemas do planeta. Nenhum país quer um governo mundial. No entanto, as crises
econômica, financeira, ecológica, social, política e o desenvolvimento de atividades
ilegais e criminosas de hoje mostram a urgência de um governo mundial. É preciso
entender que o mercado mundial não pode funcionar adequadamente sem o Estado de
Direito Internacional. O Estado de Direito Internacional não pode ser aplicado e
respeitado sem a presença de um governo mundial que seja aceito por todos os países.
Um governo mundial só terá legitimidade e será sustentável se for verdadeiramente
democrático.
A humanidade tem de entender que tem tudo a ganhar se unindo em torno de um
governo democrático no mundo além dos interesses das nações, incluindo o mais
poderoso, controlando o mundo em sua totalidade, no tempo e no espaço. A nova ordem
mundial a ser edificada deve organizar não apenas as relações entre os homens na face
da Terra, mas também suas relações com a natureza. É preciso, portanto, que seja
elaborado um contrato social planetário que possibilite o desenvolvimento econômico e
social e o uso racional dos recursos da natureza em benefício de toda a humanidade. A
edificação de uma nova ordem mundial baseada nesses princípios é urgente. Um
governo mundial existirá no futuro mesmo que aconteça após um desastre. É urgente
pensar nisso, antes que seja tarde demais.
BIBLIOGRAFIA
ARENDT, Hannah. On Violence. Harvest Book, 1970.
ARON, Raymond. Paz e Guerra entre as nações. Editora Universidade de Brasília,
1962.
_______________. The Opium Of The Intellectuals. Transaction Publishers, 2009.
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European Pubns, 1976.
28
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consequências. Disponível no website <http://gguerras.wordpress.com/.>.
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<http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_Guerra_do_%C3%93pio>.
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<http://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_do_%C3%93pio>.
____________. Guerra russo-japonesa. Disponível no website
<http://guerras.brasilescola.com/seculo-xx/guerra-russojaponesa.htm>.
29
i
Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000),
Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre
outros.S

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As guerras ao longo da história e como evitá las no futuro

  • 1. 1 AS GUERRAS AO LONGO DA HISTÓRIA E COMO EVITÁ-LAS NO FUTURO Fernando Alcoforadoi RESUMO Este artigo tem por objetivo fazer uma reflexão sobre a guerra dos primórdios da história da humanidade até a era contemporânea, identificar suas causas e delinear como eliminá-las no futuro. Desta reflexão constatou-se que é chegada a hora de a humanidade se dotar o mais urgentemente possível de instrumentos necessários a ter o controle de seu destino e colocar em prática um governo democrático do mundo. A constituição de um governo mundial democrático seria o único meio de sobrevivência da espécie humana. ABSTRACT This article aims to reflect on the war from the beginnings of human history until the contemporary era, to identify its causes and to outline how to eliminate them in the future. This reflection was found that it is time for humanity to provide the most urgently needed instruments as possible to take control of their destiny and put in place a democratic government in the world. This would be the only means of survival of the human species. Palavras chaves: Os principais conflitos (guerras e revoluções) na história da humanidade até o início do Século XX. As principais guerras na história da humanidade durante o Século XX. As principais guerras na história da humanidade no Século XXI. As causas das guerras. O imperativo do fim das guerras. Em direção à Quarta Guerra Mundial. Como eliminar as guerras em nosso planeta. Keywords: The main conflicts (wars and revolutions) in human history until the early twentieth century. Major wars in human history during the twentieth century. Major wars in the history of mankind in the XXI Century. The causes of wars. The imperative of ending the wars. Towards the Fourth World War. How to eliminate wars on our planet. 1. Os principais conflitos (guerras e revoluções) na história da humanidade até o início do Século XX Os historiadores supõem que sempre existiram guerras porque no registro documentado da história humana, que remonta 6.000 anos, houve apenas 292 anos de relativa paz entre os povos. Esse período de tempo de 55 séculos, porém, é apenas uma partícula do tempo total da presença humana na Terra (Ver o artigo de Roberto C. P. Júnior sob o título Conflitos bélicos no website <http://www.library.com.br/Filosofia/conflito.htm>). A passagem a seguir, extraída do livro Uma História da Guerra de John Keegan (Companhia de Bolso, 2006), ilustra a percepção reinante a respeito: "A história escrita do mundo é, em larga medida, uma história de guerras, porque os Estados em que vivemos nasceram de conquistas, guerras civis ou lutas pela independência. Ademais, os grandes estadistas da história escrita foram, em geral, homens de violência, pois
  • 2. 2 ainda que não fossem guerreiros - e muitos o foram -, compreendiam o uso da violência e não hesitavam em colocá-la em prática para seus fins". Os registros históricos mais antigos que se conhecem já falam de guerras e lutas. Não é, pois, de causar espanto que agora, na época da colheita de todas as más ações geradas pela humanidade, o número de guerras e revoluções cresça em escala jamais vista, tanto em quantidade como em intensidade. Várias denominações surgiram para classificar os diversos tipos de guerras inventadas pelos seres humanos: ampla, localizada, civil, santa, de guerrilha, revolucionária, subversiva, relâmpago, química, bacteriológica, convencional, nuclear, étnica, de extermínio, de conquista, religiosa, mundial, etc. Entre os conflitos da Antiguidade, as guerras entre gregos e persas, conhecidas pela designação de Guerras Médicas, apresentam grande importância para a história do mundo ocidental. Elas ocorreram em razão da disputa das terras da Ásia Menor (atual Turquia), rica em cereais e especiarias. Dário, rei dos persas, decretou que todas as colônias gregas naquela região deveriam pagar tributos à Pérsia. Essa atitude provocou uma revolta das colônias que auxiliadas por Atenas foram contra o poder desse rei (Ver o artigo As principais guerras da história e suas consequências de Felipe Alexandre de Lima Farah et alli postado no website <http://gguerras.wordpress.com/.>). Neste artigo, são apresentadas as guerras de Roma contra Cartago que foram chamadas de Guerras Púnicas. No século III a.C., Cartago era a principal potência do Ocidente, controlando boa parte do comércio e do território do Mediterrâneo, enquanto Roma era uma província de base agropastoril, mas que nos últimos tempos vinha obtendo sucessivas vitórias militares e já chegava a controlar toda a península Itálica. Estava claro que em algum momento as ambições expansionistas das duas iriam se cruzar. Usando como pretexto o ataque cartaginense a Númidia, Roma atacou Cartago e dessa vez sua investida foi devastadora: a cidade foi saqueada, incendiada e sua população escravizada. A vitória romana nas Guerras Púnicas, que duraram mais de um século, foi decisiva para o estabelecimento do Império Romano. As guerras de Roma contra os povos bárbaros ocorreram nos Séculos IV e V da nossa era. Os povos bárbaros eram de origem germânica e habitavam as regiões norte e nordeste da Europa e noroeste da Ásia, na época do Império Romano vivendo em relativa harmonia com os romanos até os séculos IV e V. Muitos germânicos eram contratados para integrarem o poderoso exército romano. Os romanos usavam a palavra "bárbaros" para todos aqueles que habitavam fora das fronteiras do império e que não falavam a língua oficial dos romanos: o latim. A convivência pacífica entre esses povos e os romanos durou até o século IV, quando uma horda de hunos pressionou os outros povos bárbaros nas fronteiras do Império Romano. Neste século e no seguinte, o que se viu foi uma invasão, muitas vezes violenta que acabou por derrubar o Império Romano do Ocidente. Além da chegada dos hunos, pode-se citar como outros motivos que ocasionaram a invasão dos bárbaros a busca de riquezas, de solos férteis e de climas agradáveis.
  • 3. 3 No artigo As principais guerras da história e suas consequências são analisadas as Cruzadas, no total de oito, que foram realizadas de 1096 a 1244. No século XI, os árabes (mulçumanos) dominavam Jerusalém, conhecida como Terra Santa pelos cristãos (devido a Jesus ter vivido neste local), que deixavam que os cristãos realizassem suas peregrinações a Jerusalém. No final deste século, os turcos seldjúcidas, povo que veio do Ásia central, conquistaram esta e outras terras do Oriente Médio. Como eles eram convertidos também ao islamismo, porém muito mais intolerantes que os árabes nas questões religiosas, proibiram os cristãos de realizar suas peregrinações na Terra Santa. Em 1095, a resposta da Igreja veio com o papa Urbano II, convocando os fiéis para expedições militares com o objetivo de conquistar a Terra Santa e de combater os inimigos do cristianismo dando início ao movimento das Cruzadas. Por trás desse interesse, houve outros indiretos, como recuperar a influência da Igreja no território bizantino, conquistar mais terras para os nobres, expandir a área de influência do catolicismo e ampliar as rotas mercantis no Oriente para as cidades comerciais da península itálica, como Veneza e Genova. A Guerra Franco-Holandesa (1672– 1678), também conhecida como "Guerra da Holanda" foi um conflito militar entre o Reino da França, o Bispado de Münster, o Eleitorado de Colônia e o Reino da Inglaterra contra a República Holandesa (Províncias Unidas). Entre as origens do ataque movido pelo reino da França contra as Províncias Unidas (vulgo Holanda), está o apoio dado por esta República à Espanha, durante a Guerra de Devolução (1667-1668). Para cumprir seu objetivo, uma das primeiras preocupações de Luis XIV consistiu em buscar o apoio da Inglaterra, em um raro momento de entendimento entre as duas grandes potências. A Inglaterra aderiu porque se sentia ameaçada pelo crescente poder naval da Holanda e aceitou apoiar a França em troca de um apoio financeiro anual de três milhões de libras (Ver o artigo As principais guerras da história e suas consequências de Felipe Alexandre de Lima Farah et alli postado no website <http://gguerras.wordpress.com/.>). Outro episódio da história apresentado no artigo As principais guerras da história e suas consequências foi A Guerra dos Trinta Anos (1618- 1648) que é a denominação genérica de uma série de guerras que diversas nações européias travaram entre si a partir de 1618, especialmente na Alemanha, por motivos variados: rivalidades religiosas, dinásticas, territoriais e comerciais. As rivalidades entre católicos e protestantes e assuntos constitucionais germânicos foram gradualmente transformados numa luta europeia. Apesar de os conflitos religiosos serem a causa direta da guerra, ela envolveu um grande esforço político da Suécia e da França para procurar diminuir a força da dinastia dos Habsburgos, que governavam a Austria. A guerra converteu-se em um conflito pela hegemonia entre os Habsburgo e a França. Desse jeito, o conflito foi ampliado para quase todo o continente. As hostilidades causaram sérios problemas econômicos e demográficos na Europa Central e tiveram fim com a assinatura, em 1648, de alguns tratados que, em bloco, são chamados de Paz de Vestfália.
  • 4. 4 O fim da Guerra de Trinta Anos representou o início da hegemonia francesa na Europa e o declínio do poder dos Habsburgos. A Alemanha foi a única que saiu derrotada, arruinada e devastada desses trinta anos de guerra. Os principais campos de batalhas dos intermitentes conflitos foram as cidades e principados da Alemanha, que sofreram danos muito graves. Muitos dos combatentes eram mercenários que tinham na pilhagem sua principal forma de pagamento. Assim, tomavam à força, onde paravam ou por onde passavam, os suprimentos necessários a sua manutenção e lucro, numa estratégia predatória que levou à destruição completa de inúmeras comunidades. Hoje estima-se que a população da Alemanha caiu 20% durante a guerra. Em algumas regiões esse declínio chegou a 50% pois vilas inteiras sumiram. A Revolução Inglesa do século XVII representou a primeira manifestação de crise do sistema na era moderna, identificado com o absolutismo. O poder monárquico, severamente limitado, cedeu a maior parte de suas prerrogativas ao Parlamento e instaurou-se o regime parlamentarista que permanece até hoje. O processo começou com a Revolução Puritana de 1640 e terminou com a Revolução Gloriosa de 1688. As duas fazem parte de um mesmo processo revolucionário, daí a denominação de Revolução Inglesa do século XVII e não Revoluções Inglesas. Esse movimento revolucionário criou as condições indispensáveis para a Revolução Industrial do Século XVIII, abrindo caminho para o avanço do capitalismo. Deve ser considerada a primeira revolução burguesa da história da Europa antecipando em 150 anos a Revolução Francesa (Ver o artigo As principais guerras da história e suas consequências de Felipe Alexandre de Lima Farah et alli postado no website <http://gguerras.wordpress.com/.>). A Guerra dos Sete Anos foram conflitos internacionais que ocorreram entre 1756 e 1763, entre a França, a Áustria e seus aliados (Saxônia, Rússia, Suécia e Espanha), de um lado, e a Inglaterra, Portugal, a Prússia e Hannover, de outro. Vários fatores desencadearam a guerra: a preocupação das potências européias com o crescente prestígio e poderio de Frederico II, o Grande, Rei da Prússia; as disputas entre a Áustria e a Prússia pela posse da Silésia, província oriental alemã, que passara ao domínio prussiano em 1742 durante a guerra de sucessão austríaca; e a disputa entre a Grã- Bretanha e a França pelo controle comercial e marítimo das colônias das Índias e da América do Norte. Também foi motivada pela disputa por territórios situados na África, Ásia e América do Norte (Ver o texto Guerra dos Sete Anos no website <http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_dos_Sete_Anos>). A Guerra dos Sete Anos,terminada pela vitória da Inglaterra sobre a França (Tratado de Paris, 1763), deixou a nação vencedora na posse de ricos territórios no continente americano (Estados Unidos e Canadá), já colonizados, sendo reconhecido o seu direito de expandir o seu domínio em direção ao interior do continente. Esta possibilidade agradou aos colonos, que prontamente se prepararam para explorar e aproveitar novas terras, mas, para sua grande surpresa, o governo de Londres, por recear desencadear guerras com as nações índias, determinou que nenhuma nova exploração ou colonização
  • 5. 5 de territórios pudesse ser feita sem a assinatura de tratados com os índios. Foi esta a primeira fonte de conflito entre os colonos e a Coroa inglesa. A Guerra da Independência dos Estados Unidos da América (1775–1783), também conhecida como Guerra Revolucionária Americana, começou após a assinatura do Tratado de Paris que, em 1763, pôs fim à Guerra dos Sete Anos. Ao final deste conflito, o território do Canadá foi incorporado pela Inglaterra. Neste contexto, as treze colônias representadas por Massachusetts, Rhode Island, Connecticut, Nova Hampshire, Nova Jérsei, Nova Iorque, Pensilvânia, Delaware, Virgínia, Maryland, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia começaram a ter seguidos e crescentes conflitos com a Coroa britânica, que devido aos enormes gastos com a guerra, iniciou uma maior exploração sobre essas áreas. A Revolução Americana de 1776 foi um movimento de ampla base popular, tendo como principal motor a burguesia colonial, que levou à independência das Treze Colônias. Os Estados Unidos da América foi o primeiro país a dotar-se de uma constituição política escrita (Ver o texto Guerra da Independência dos Estados Unidos disponível no website <http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_da_Independ%C3%AAncia_dos_Estados_Unidos >). A Revolução Francesa diz respeito aos acontecimentos que ocorreram de 1789 a 1799 que alteraram o quadro político e social da França. A Revolução Francesa foi desencadeada pelo agravamento da crise econômica e social. As causas econômicas eram estruturais. A crise agrícola, que ocorreu graças ao aumento populacional, foi também determinante da revolução. Entre 1715 e 1789, a população francesa cresceu consideravelmente, entre 8 e 9 milhões de habitantes. Como a quantidade de alimentos produzida era insuficiente e as geadas abatiam a produção alimentícia, a fome pairou sobre os franceses contribuindo para desencadear a revolução que começa com a convocação dos Estados Gerais e a Queda da Bastilha e se encerra com o golpe de estado do 18 Brumário de Napoleão Bonaparte. Em causa estavam os privilégios do clero e da nobreza. Foi influenciada pelos ideais do Iluminismo e da Independência Americana (1776) (Ver o texto Revolução Francesa postado no website <http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa>). Durante a Revolução Francesa, milhares de pessoas foram detidas, julgadas sumariamente e guilhotinadas. Os direitos individuais foram suspensos e, diariamente, realizavam-se, sob aplausos populares, execuções públicas e em massa. O líder jacobino Robespierre, sancionando as execuções sumárias, anunciara que a França não necessitava de juízes, mas de mais guilhotinas. O resultado foi a condenação à morte de 35 mil a 40 mil pessoas. Apesar do terror jacobino, a Revolução Francesa é considerada como o acontecimento que deu início à Idade Contemporânea. Aboliu a servidão e os direitos feudais e proclamou os princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade” (Liberté, Egalité, Fraternité), frase de autoria de Jean-Jacques Rousseau.
  • 6. 6 O sociólogo Raymond Aron escreveu em The Opium Of The Intellectuals (Transaction Publishers, 2009) o seguinte, a propósito da Revolução Francesa, comparando-a com a Revolução Inglesa: A passagem do Ancien Régime para a sociedade moderna é consumada na França com uma ruptura e uma brutalidade únicas. Do outro lado do Canal da Mancha, na Inglaterra, o regime constitucional foi instaurado progressivamente, as instituições representativas advêm do parlamento, cujas origens remontam aos costumes medievais. No Século XVIII e XIX, a legitimidade democrática se substitui à legitimidade monárquica sem a eliminar totalmente, a igualdade dos cidadãos apagou pouco a pouco a distinção dos "Estados" (Nobreza, clero e povo). As idéias que a revolução francesa lança em tempestade através da Europa: soberania do povo, exercício da autoridade conforme a regras, assembléias eleitas e soberanas, supressão de diferenças de estatutos pessoais, foram realizadas em Inglaterra, por vezes mais cedo do que em França, sem que o povo, em sobressalto de Prometeu, sacudisse as suas correntes. A "democratização" foi ali (em Inglaterra) a obra de partidos rivais. (...) O Ancien Régime desmoronou-se (na França) a um só golpe, quase sem defesa. E a França precisou de um século para encontrar outro regime que fosse aceito pela grande maioria da nação. As Guerras Napoleônicas se inclui entre as grandes guerras ocorridas na história. As Guerras Napoleônicas estão, entre as mais importantes, pois influenciaram o destino de muitos países, inclusive o Brasil com a fuga da Família Real portuguesa ao Brasil em 1808 e e a transferência da Administração para o Rio de Janeiro. Em 1815, o Brasil foi elevado à condição de "Reino Unido a Portugal e Algarves". A conturbada relação entre os revolucionários franceses e as monarquias europeias fez com que os reinos da Áustria e da Prússia, em 1792, criassem uma aliança para reaver o trono da França, conhecida como primeira coalizão ou coligação. A resposta do Diretório, órgão máximo da república francesa veio, com a organização de suas tropas para o combate, dentre elas uma enviada para a Itália comandada pelo jovem Napoleão Bonaparte. A primeira coalizão foi derrotada. Sobrava apenas a Inglaterra, que insistia sozinha em lutar contra a França (Ver o artigo As principais guerras da história e suas consequências de Felipe Alexandre de Lima Farah et alli postado no website <http://gguerras.wordpress.com/.>). Com a intenção de arruinar o poder inglês no Oriente Médio, Napoleão planejou a conquista do Egito. O retorno das forças francesas foi o trunfo que levou a mais uma vitória sobre a aliança das monarquias europeias. Esta deu a Napoleão Bonaparte, recém-nomeado cônsul pelo golpe 18 Brumário, uma grande fama entre as massas, levando em 1804 o Senado, em conjunto com um plebiscito, declará-lo imperador da França. Os ideais da Revolução Francesa se expandiam por todo o continente europeu, o que causava um desequilíbrio nas demais nações europeias. A paz perdurou na Europa por mais alguns anos, até que se formaram novas coalizões. A França derrotou russos e austríacos em Austerlitz e a Prússia em Iena. No entanto, Napoleão foi derrotado pelo “general inverno” após a ocupação de Moscou, na Rússia, em Leipzig na “Batalha das Nações” e na Bélgica em Waterloo. Após esta batalha, preso sob custódia inglesa, o general Napoleão Bonaparte foi enviado à ilha de Santa Helena onde morreu, em 1821, dando fim à Era Napoleônica.
  • 7. 7 A derrota francesa abriu caminho para a Inglaterra se tornar a potência hegemônica no planeta com seu poder naval, econômico e militar. As guerras napoleônicas conseguiram difundir os ideais iluministas da Revolução Francesa, com o enfraquecimento das monarquias europeias que, após a Primeira Guerra Mundial, seriam depostas dando lugar às repúblicas democráticas fundadas nesses ideais, que até então não tinham uma forte expressão no mundo, contribuindo também, com muitas revoltas coloniais. A Primeira Guerra do Ópio ou Primeira Guerra Anglo-Chinesa foi travada entre a Companhia Britânica das Índias Orientais e a Dinastia Qing da China entre 1839 e 1842 com o objectivo de forçar a China a permitir o livre comércio, principalmente do ópio. A Grã-Bretanha pedia a abertura do comércio de ópio, enquanto o governo imperial da China tentou proibir. Comerciantes ingleses foram expulsos da China e ao chegarem em Londres apresentam uma queixa ao governo britânico, que decidiu atacar a China com a sua poderosa armada para forçar os chineses a comprar ópio cultivado na Índia britânica. Tropas chinesas foram incapazes de lidar com os britânicos e se rendem a eles. Pelo Tratado de Nanquim, o primeiro dos Tratados Desiguais, concedeu uma indenização à Grã-Bretanha, a abertura de cinco Portos, e a cessão aos britânicos da ilha de Hong Kong por um período de 100 anos, terminando o monopólio do comércio no âmbito do Sistema de Cantão. As guerras são frequentemente citadas como o fim do isolamento da China e o início da história da China moderna (Ver o texto Primeira Guerra do Ópio postado no website <http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_Guerra_do_%C3%93pio)>. A Segunda Guerra do Ópio, Segunda Guerra Anglo-Chinesa, Segunda Guerra da China, Guerra do Arrow, ou a expedição anglo-francesa na China, foi uma guerra do Império Britânico e do Segundo Império Francês contra a dinastia Qing da China entre 1856 e 1860. Esta guerra pode ser vista como uma extensão da Primeira Guerra do Ópio, daí o nome que lhe foi atribuído. Em 1856, a China infringiu o Tratado de Nanquim. No tratado, a nação permitia a abertura de cinco portos para a Inglaterra, sendo esses de domínio inglês. No ano referido, alguns oficiais chineses abordaram e revistaram o navio de bandeira britânica Arrow, desencadeando mais um conflito entre a China e a Inglaterra. Porém desta vez, os ingleses contavam com um novo aliado: a França. Os ataques dos dois países começaram em 1857. Se a Inglaterra, que já era uma potência da época e tinha ampla capacidade de vencer a guerra sozinha, com o auxílio da segunda maior potência, França, ficou óbvia a vitória dos europeus (Ver o texto Segunda Guerra do Ópio disponível no website <http://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_do_%C3%93pio>). Desta vez a China foi obrigada a assinar outro acordo: o Tratado de Tianjin, no qual garantia a abertura de onze novos portos ao Ocidente, além de permitir a liberdade de movimento aos mercadores europeus e missionários cristãos. Para tentar administrar esse grande fluxo estrangeiro, a China então criou o Ministério dos Negócios
  • 8. 8 Estrangeiros, onde permitia que se instalassem legações ocidentais na capital e renunciou o termo "bárbaro", usado inclusive em documentos quando se fazia referência aos ocidentais. A guerra Russo-japonesa foi provocada pela intenção de conquista da Coreia e da Manchúria por parte dos russos e dos japoneses. Após o Tratado de Shimonoseki, os russos obrigaram os japoneses a restituir Porto Arthur, as tropas russas ocuparam o território e se expandiram pela Manchúria. Vários acordos diplomáticos foram tentados, até que os japoneses tomassem posse do porto quando confrontaram e derrotaram seus adversários. Essa foi a primeira vez que um país europeu foi superado por uma nação asiática. Essa guerra contribuiu para agravar a crise Russa em seu regime Czarista, e posteriormente desencadeou a Revolução Russa, em 1917 (Ver o texto Guerra russo- japonesa no website <http://guerras.brasilescola.com/seculo-xx/guerra- russojaponesa.htm>). Na batalha naval a frota Russa era inferior à japonesa. Na batalha terrestre o Japão teve uma larga vantagem no contingente de soldados. Enquanto a tropa Russa contava com 80.000 mil soldados mal preparados, os japoneses possuíam 270.000 mil soldados treinados e equipados. No dia 27 de maio de 1905, os russos enviaram 38 belonaves ao território japonês, 27 foram afundadas. No outro dia o saldo da batalha foi: Russos 4.380 mortos, 1.862 feridos, 5.917 prisioneiros, enquanto o Japão teve perdas insignificantes em relação às baixas russas, 117 mortos e 583 feridos. 2. As principais guerras na história da humanidade durante o Século XX A despeito das reiteradas intenções de todos os países do globo em manter a paz mundial, três grandes guerras (1ª e 2ª Guerra Mundial e a Guerra Fria) ocorreram no Século XX. Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), morreram cerca de 9 milhões de pessoas. Em 1919 foi fundada a Liga das Nações, cujos princípios básicos eram "a proibição da guerra, a manutenção da justiça e o respeito ao direito internacional." Os líderes europeus estavam convictos de que uma nova e duradoura ordem internacional estava começando. Para o primeiro-ministro britânico, David Lloyd George, ela "elevaria a humanidade a um plano superior de existência..." Apenas vinte anos depois, foi desencadeada a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que matou entre 40 e 52 milhões de pessoas. Além disso, a violência dos conflitos em nossa época não tem paralelo na história. As guerras do século XX foram “guerras totais” contra combatentes e civis sem discriminação. O historiador Eric Hobsbawm (A Era Dos Extremos, Companhia das Letras, 2008) complementa: "Sem dúvida ele foi o século mais assassino de que temos registro, tanto na escala, frequência e extensão da guerra, mal cessando por um momento na década de 1920, como também pelas catástrofes humanas que produziu, desde as maiores fomes da história até o genocídio sistemático." A tragédia das guerras no século XX também é resumida nessas palavras de John Keegan (Uma História da
  • 9. 9 Guerra, Companhia de Bolso, 2006): "Neste século, a frequência e a intensidade das guerras também deformaram a perspectiva de homens e mulheres comuns. Na Europa Ocidental, nos Estados Unidos, na Rússia e na China, as exigências da guerra atingiram a maioria das famílias ao longo de duas, três ou quatro gerações. O apelo às armas levou milhões de filhos, maridos, pais e irmãos para o campo de batalha, e milhões não voltaram." Terminada a Segunda Guerra, a história se repetiu: foi fundada a Organização das Nações Unidas e as esperanças de paz se renovaram. Esperanças que deram lugar a uma série infindável de guerras localizadas, tão numerosas que acabaram fazendo parte do nosso dia-a-dia. Há quem considere essas inúmeras guerras como já sendo a Terceira Guerra Mundial. Eric Hobsbawm resume assim a situação após a Segunda Guerra: "A catástrofe humana desencadeada pela Segunda Guerra Mundial é quase certamente a maior na história humana. O aspecto não menos importante dessa catástrofe é que a humanidade aprendeu a viver num mundo em que a matança, a tortura e o exílio em massa se tornaram experiências do dia-a-dia" (A Era Dos Extremos, Companhia das Letras, 2008). O relatório Prioridades Mundiais, publicado anualmente por um grupo sediado em Washington, define uma grande guerra como sendo um conflito envolvendo um governo, ou mais de um, que resulta na morte de pelo menos mil pessoas por ano. Por esse critério "técnico", desde o final da Segunda Guerra Mundial até o ano de 1992 haviam ocorrido 149 guerras, onde morreram mais de 23 milhões de pessoas. No Século XX, o número de enfrentamentos militares cresceu substancialmente. Se nos fixarmos apenas nesses conflitos propriamente, sem considerar rebeliões curtas, golpes militares e mesmo genocídios, verificaremos que em todo o Século XX ocorreram 107 guerras. Já no século XX, até 1995, sem considerar a Primeira e Segunda Guerra Mundial, houve, pelo mesmo critério, um total de 241 guerras, das quais 166 eclodiram a partir de 1950. Nada menos que 70 países envolveram-se em guerras de 1994 a 1997. Num discurso proferido em 1992, o secretário-geral da ONU admitiu que desde a criação das Nações Unidas, em 1945, ocorreram mais de mil grandes conflitos ao redor do mundo, que deixaram cerca de 20 milhões de mortos. De acordo com a revista World Watch, o nosso século foi o menos pacífico da História, e cita o seguinte comentário de um pesquisador: "Mais pessoas foram mortas por guerras neste século do que em toda a história humana anterior em conjunto." De acordo com uma matéria publicada pelo jornal The Washington Post, desde o fim da Segunda Guerra Mundial o mundo conheceu 160 guerras, onde morreram cerca de 7 milhões de soldados e 30 milhões de civis. Esses números não incluem, naturalmente, os milhões de vítimas de crimes violentos em toda a Terra nos últimos 50 anos. O ex-secretário de Estado norte- americano, Zbigniew Brzezinski, fez uma estimativa abrangendo todas as "megamortes" ocorridas desde 1914 e chegou a um total de 187 milhões de mortos (Ver o artigo de Roberto C. P. Junior sob o título Conflitos bélicos no website <http://www.library.com.br/Filosofia/conflito.htm>).
  • 10. 10 Será que com o fim da Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética, acabou também o perigo de uma hecatombe nuclear? Uma rápida análise sobre o poderio nuclear mundial e as notícias que vazaram ultimamente sobre o desenvolvimento de armas atômicas mostra que essa esperança também não tem razão de ser. Além disso, o ser humano nunca inventou uma arma que não tivesse utilizado. Os especialistas William Arkin e Robert Norris, responsáveis pela publicação Nuclear Notebook, afirmam que as armas nucleares desmanteladas até agora por Estados Unidos e Rússia, por força dos tratados de redução de armas, eram equipamentos obsoletos, e que os dois países continuam com seus programas de desenvolvimento e renovação dos respectivos arsenais nucleares. Em 1970, quando entrou em vigor o Tratado de Não Proliferação Nuclear, Estados Unidos e União Soviética tinham juntos 7.455 ogivas nucleares. Em 1995, depois de mais dois tratados de limitação de armas nucleares, de outros dois de redução dessas armas, e da desativação de cerca de 7.000 ogivas, Estados Unidos e Rússia tinham juntos 16.900 ogivas nucleares, capazes, segundo estimativas, de acabar com a vida na Terra por 14 vezes. Em 1997, de acordo com o The Bulletin of the Atomic Scientists, os dois países tinham estocado em seus territórios 21.550 ogivas. Nessa corrida atômica, só os Estados Unidos já despenderam cerca de 4 trilhões de dólares, e continuam gastando outros 33 bilhões de dólares por ano para manter suas armas nucleares estratégicas prontas para serem usadas a qualquer momento. O especialista Brian Hall informou que o Pentágono vai reservar entre 3 mil a 4 mil ogivas nucleares acima do teto especificado pelo primeiro tratado de redução de armas, como uma "margem de segurança" para se contrapor a possíveis relações hostis futuras com a Rússia. O resultado do investimento mundial neste setor é que o poder destrutivo do arsenal nuclear do planeta equivale hoje a 4,2 toneladas de dinamite para cada habitante do planeta. Isto, naturalmente, se essa estimativa corresponder à realidade. A França declara possuir 500 ogivas nucleares, a China 300 ogivas e a Grã-Bretanha 250 ogivas. Estima-se que Israel tenha cerca de 200 ogivas, a Índia 20 ogivas e o Paquistão 10 ogivas. Com o fim da União Soviética, a Ucrânia, a Bielorússia e o Kasaquistão já nasceram como potências militares nucleares, com muitas ogivas em seus territórios. A África do Sul já teve armas nucleares, mas anunciou que "desistiu" delas. Suspeita-se ainda que a Coréia do Norte e o Irã estejam desenvolvendo armas nucleares. Taiwan e Coréia do Sul também já tentaram implantar seus programas de armas atômicas. Até a Suíça desenvolveu um programa de construção de armas nucleares, ativo até 1988 de acordo com um historiador militar suíço. Há estimativas de que as nações nucleares disponham atualmente de mais de 30 mil ogivas, outras falam em até 45 mil ogivas. É impossível saber com exatidão o número certo. Em 29 de maio de 1995 a China testou seu primeiro míssil balístico intercontinental lançado de base móvel (mais difícil de ser detectado). Esse tipo de míssil pode levar ogivas nucleares a alvos distantes até 8 mil quilômetros. No dia 15 de maio de 1995, a
  • 11. 11 China havia feito um teste nuclear subterrâneo, horas após assinar o Tratado de Não Proliferação Nuclear, que visa justamente evitar a disseminação de armas atômicas e a prática de testes pelo mundo. A China argumentou que havia feito até então apenas 45 testes nucleares, enquanto que os Estados Unidos já tinham feito 1.030. Uma diferença insuficiente para intimidar alguns funcionários do governo chinês, que ameaçaram fazer chover bombas atômicas sobre Los Angeles, caso os Estados Unidos defendessem Taiwan numa futura invasão por parte da China. Taiwan, aliás, já está se preparando para qualquer eventualidade: em abril de 1998, o país testou "com sucesso" seu próprio míssil supersônico. Também outros países contribuem significativamente para a montagem do pesadelo nuclear. Em agosto de 1997, a revista inglesa Jane's Intelligence afirmou que Israel poderia ser tentado a lançar um ataque nuclear preventivo contra o Irã, já que seu arsenal estava vulnerável a um ataque. Na mesma época, o primeiro-ministro indiano declarou que não aceitaria pressões para revisar sua política nuclear, que inclui a opção de fabricar armas. Em setembro, o vice-presidente dos Estados Unidos confirmou a existência de um relatório russo-americano dando conta que o Irã estava tentando adquirir armas nucleares e fabricar mísseis de longo alcance. Também em setembro, satélites americanos detectaram o disparo de um míssil "Rodong-1", da Coréia do Norte, que tem alcance para atingir o Japão. Em março de 1998, o novo primeiro ministro indiano, Atal Bihari, ameaçou: "Vamos exercer todas as opções, incluindo a nuclear, para proteger a segurança e a soberania nacional." Em abril de 1998, o Paquistão, vizinho beligerante da Índia, testou com êxito um míssil com alcance de 1,5 mil quilômetros. Em relação à Rússia a maior preocupação hoje é quanto à segurança de suas instalações nucleares. Segundo especialistas americanos, nenhuma das quase noventa localidades em que estão estocadas as 700 toneladas de materiais nucleares em grau de produção de armas, conta com segurança adequada. De acordo com uma matéria publicada pela revista Seleções em junho de 1997, cerca de 33 toneladas de plutônio estão estocadas no complexo de Chelyabinsk-65, sudoeste da Rússia, num armazém velho, com janelas e um cadeado na porta; no porto de Murmansk, próximo à Finlândia, uma área de armazenamento de lixo nuclear é vigiada por dois homens e um cão. Um informe americano remetido à OTAN admitia que não se podia mais descartar a hipótese de lançamentos não autorizados de armas nucleares russas (Ver o artigo de Roberto C. P. Junior sob o título Conflitos bélicos no website <http://www.library.com.br/Filosofia/conflito.htm>). Em maio de 1997, o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Boris Berezovski, anunciou que a nova doutrina de segurança nacional incluía "o direito ao primeiro ataque com armas nucleares em caso de ameaça". Em junho, o país testou "com êxito" o lançamento do míssil intercontinental SS-19, de 27m de comprimento, raio de alcance de 10 mil km e capacidade para seis ogivas nucleares. Uma reportagem sobre o lançamento informava que além de verificar a eficiência do míssil, o teste
  • 12. 12 objetivava demonstrar que a Rússia conservava sua capacidade de reagir a um ataque de surpresa. Em outubro, o jornal The Washington Times informou que a Rússia estava reduzindo os gastos em armamento convencional e ampliando os investimentos no seu escudo nuclear. Em dezembro, a CIA avisou que alguns funcionários do governo russo queriam incluir na doutrina de segurança a opção do "uso limitado" de armamento nuclear, para impedir que um conflito regional se ampliasse. Os prenúncios de guerra vão mais além. Em 1996, satélites de espionagem americanos descobriram que os russos estavam construindo um enorme complexo militar secreto nos montes Urais, a despeito da monumental crise econômica que assolava o país há anos. O especialista militar russo, Pavel Felgengauer, confirmou que a base, conhecida como "mão morta", foi concebida para desencadear o chamado "segundo ataque", isto é, uma represália nuclear maciça a um ataque surpresa. O sistema funcionaria automaticamente após um ataque inimigo. Nos Estados Unidos, alguns meses depois dessa notícia, a Força Aérea assinava um contrato de mais de um bilhão de dólares para que um consórcio de empresas desenvolvesse um sistema de laser aerotransportado, capaz de destruir mísseis balísticos em pleno voo. O objetivo declarado era o de proteger tropas e bases contra mísseis armados com ogivas convencionais, químicas, biológicas e nucleares. Atualmente, estão em desenvolvimento armas portáteis a laser, acústicas, de torvelinho que provocam ondas de choque e de micro-ondas. Até o advento da Quarta Guerra Mundial, a capacidade inventiva humana continuará a ser aplicada predominantemente nessas coisas, sempre com grande êxito. Se a Quarta Guerra Mundial de fato ocorrer, não haverá vencedores nem vencidos entre os povos, que se exterminarão mutuamente. Tudo o que acaba de ser relatado demonstra a vergonhosa derrota da humanidade contra as forças que alimentam as guerras. Fica demonstrada cada vez mais a estupidez, a prepotência e a arrogância das elites dirigentes de determinados países e seus governantes, que não aprendem nunca com as lições do passado e continuam a usar a violência e a força para espoliar os povos do mundo inteiro e se apoderarem das riquezas de nações menores, indefesas e que sofrem a humilhação do domínio estrangeiro, diante do olhar complacente e submisso da ONU (Organização das Nações Unidas). Albert Einsten, no alto de sua sabedoria, tem uma frase lapidar que diz que não pode conceber que a humanidade continue a se guerrear, a levantar cercas e muros, quando deveria voltar seu olhar para o alto, para a grandiosidade do universo, sair desse mundo ignorante em que vive e ver que somos apenas um simples grão de areia no cosmos. Nós poderíamos evoluir mais se compreendêssemos nossa verdadeira existência. A guerra não tem sentido nem como caminho para a paz, pois, em uma análise mais profunda, é um assassinato de toda a sociedade contra homens, mulheres e crianças. A guerra não tem vencedores, é uma derrota tanto para o vencido como para o vencedor.
  • 13. 13 Um tratado não se escreve nem com sangue nem com lágrimas. A guerra é o sonho dos loucos, a realidade dos imbecis e a condenação dos inocentes. No artigo A tendência dos Conflitos Armados elaborado por Martín Chahab (Ver o site <http://www.achegas.net/numero/29/martin_chahab_29.htm)>, há a afirmativa de que, no transcorrer das duas guerras mundiais do século XX, a humanidade perdeu mais de 70 milhões de vidas: a partir de 1945 até a queda da União Soviética, os 40 anos de Guerra Fria, morreram no planeta cerca de 17 milhões de pessoas em conflitos armados e de 1990 até 2003 as guerras levaram mais de 3 milhões de vidas. No total os conflitos armados do século XX provocaram cerca de 90 milhões de vítimas fatais. Todavia a tendência de baixas em conflitos armados vem diminuindo, embora a quantidade destes conflitos tenha tomado uma direção inversa. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial vêm sendo deflagrados muito mais conflitos armados em todo o planeta do que em séculos anteriores e essa tendência parece se acentuar cada vez mais. Em síntese, o século XXI está delineando-se como um mundo em constante conflito. Uma forma de se entender essa relação antagônica entre, a quantidade de mortos em conflitos e o número desses conflitos através dos tempos, é levantar uma hipótese vinculando a estrutura do sistema internacional com os conflitos armados: quanto mais Estados concentrarem o poder nas relações internacionais mais conflitos armados haverá no mundo e mais mortes serão produzidas por eles. Isto nos leva até uma hipótese complementar muito sugestiva: em um mundo bipolar serão produzidos menos conflitos armados entre os Estados e consequentemente menos vítimas fatais. Se observarmos as estatísticas históricas veremos que o sistema internacional, finalizado ao término na Segunda Guerra Mundial, provocou mais de 70 milhões de mortos só no século XX, que o sistema bipolar durante a Guerra Fria gerou 16,5 milhões de baixas em conflitos armados e que o atual sistema unipolar regido pelos Estados Unidos reduziu as mortes à cifra de 3 milhões em pouco mais que uma década, quando o número deveria ter sido, segundo a mesma tendência da Guerra Fria, quase 5 milhões de mortos. Qual a conclusão que se extrai desta situação? Pode-se interpretar esses dados no sentido de que a humanidade cuida melhor de si mesma quando existe uma concentração de poder em um só Estado ou quando da existência de um poder hegemônico que controla os demais Estados há menos guerra entre eles e, em consequência, menos mortes. O sistema unipolar mostra que existem menos conflitos armados entre os estados membros do sistema internacional. Esta constatação indica que a guerra poderá ser abolida se existir um governo mundial legitimado por todos os países do mundo. Por outro lado, pode-se interpretar esta tendência dos conflitos armados no mundo atual injetando novas variáveis e a questão já não se apresentará tão simples e unidirecional como parece. No artigo acima citado A tendência dos Conflitos Armados elaborado por
  • 14. 14 Martín Chahab fica evidenciado que na realidade existem mais conflitos armados no mundo de hoje que nas etapas anteriores, mas os tipos de conflitos estão mudando. Desde o fim da Guerra Fria observa-se o crescimento dos conflitos dentro dos Estados, ou intra-estatais, enquanto os conflitos entre Estados ou inter-estatais têm mantido a mesma frequência de antes de 1990 (Figura 1). Se entre 1946 e 1989 (Figura 2) existiram 718 conflitos intra-estatais e de 1990 a 2004 existiram 429. Se a frequência atual fosse a mesma que durante a Guerra Fria teríamos 207 conflitos armados intra- estatais, porém a cifra é maior do que o dobro. Isto quer dizer que a lógica que guia estes conflitos modificou-se. Há mais conflitos dentro dos Estados após a Guerra Fria. Enquanto há mais paz entre os Estados do sistema internacional, registra-se a ocorrência de mais guerra dentro dos Estados nacionais. Figura 1- Conflitos de todas as intensidades entre 1946 e 2002 Fonte: Chahab, Martín. A tendência dos Conflitos Armados (Ver <http://www.achegas.net/numero/29/martin_chahab_29.htm)>) Figura 2- Conflitos armados de 1946 a 2003 Gráfico 1: Conflictos de todas las intensidades entre 1946 y 2002 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 1945 1947 1949 1951 1953 1955 1957 1959 1961 1963 1965 1967 1969 1971 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 Fuente: Center for Systemic Peace Interestatal Intraestatal Gráfico 2: Conflictos Armados desde 1946 hasta 2003 718 429 211 64 929 493 0 200 400 600 800 1000 1946-1989 1990-2003 Fuente: Center for Sy stemic Peace Intraestatal Interestatal Total
  • 15. 15 Fonte: Chahab, Martín. A tendência dos Conflitos Armados (Ver <http://www.achegas.net/numero/29/martin_chahab_29.htm)>) Existem várias razões para que isso acontecesse. Heidelberg Institute on Internacional Conflict Research, em sua publicação anual do Barômetro dos Conflitos, vem mostrando que muitos destes conflitos interestatais no mundo estão sendo resolvidos em nível de latência através de negociações e que um número cada vez menor deles chega a uma guerra civil. As insurreições recentes no mundo árabe negam esta tendência. Esta pode ser uma razão importante para se entender a diminuição dos conflitos armados entre os Estados. À primeira vista pareceria que a cooperação entre os Estados vem impedindo que possíveis guerras venham a eclodir, mas na verdade o que tem evitado que muitos conflitos passem da categoria de não violentos a violentos tem sido o trabalho de várias organizações internacionais tais como: Nações Unidas, Organização dos Estados Americanos, União Europeia, Comunidade Econômica e Monetária Central, Comunidade Econômica dos Estados do Ocidente, e Organização pela Segurança e Cooperação na Europa, entre outras. 3. As principais guerras na história da humanidade no Século XXI A tendência atual dos conflitos armados interestatais no mundo já não se vincula, como antigamente a interesses dos Estados, tais como território, soberania ou política do poder, mas sim ao desenvolvimento tecnológico e supremacia comercial, e essa disputa pelo domínio da tecnologia tampouco se relaciona com a indústria da guerra e sim com a capacidade de controlar o comércio internacional. Temos então uma nova premissa: quanto maior o comércio mundial baseado na cooperação entre os Estados, menor é a quantidade de conflitos armados interestatais e em consequência menor quantidade de mortos. O que vem a ser o mesmo que dizer maior desenvolvimento tecnológico com o aumento do comércio mundial, haverá menos guerras interestatais e menor quantidade de mortos. O que observamos até aqui é a ocorrência de uma troca significativa na tendência dos conflitos entre os Estados trazendo consigo uma mudança também significativa nos sistemas de segurança individuais e coletivos. Portanto, neste cenário se faz importante repensar para que existem os sistemas de defesa dos Estados e de grupos de Estados. No atual contexto a explicação derivaria da existência de novas ameaças como o terrorismo internacional, a produção de armas de destruição em massa, etc. Porém essa é uma analise incompleta da questão e não caracteriza tendências em longo prazo, além de simples explicação contextual. Vejamos uma dessas tendências. Suponhamos um novo paradigma das relações internacionais pós Guerra Fria: o choque das civilizações. Segundo essa teoria as novas guerras estariam vinculadas ao enfrentamento entre as diferentes civilizações do mundo. Samuel Huntington (O Choque de Civilizações, Objetiva, 1997) expõe em seu trabalho que a civilização ocidental teria, no futuro, que se enfrentar não só com a
  • 16. 16 civilização muçulmana, mas também uma aliança entre muçulmanos e confucionistas (China), que buscaria destruir a supremacia ocidental e cristã. As guerras do futuro seriam culturais centradas no aspecto religioso. Porém, com base no artigo de Andrej Tusicisny (2004), observamos que, utilizando as categorias de análise de Huntington dos conflitos entre as diferentes civilizações, não se produziu o que o autor havia suposto em seu famoso e sugestivo artigo e tampouco existem indicadores de que isso vá acontecer (Figura 3). Ao contrario, os conflitos têm aumentado dentro de uma mesma sociedade enquanto o numero deles, produzidos entre sociedades distintas, tem se mantido constante. Figura 3- Comparação dos conflitos entre Civilizações e todos os conflitos entre 1946 e 2000 Fonte: Tusicisny, Andrej, Civilizational Conflict: More Frequent, Longer, and Bloodier?. Journal of Peace Research, vol. 41, no. 4, 2004. Tomando-se as definições de civilizações utilizadas por Samuel Huntington, conclui-se que os Estados Unidos têm enfrentado em conflitos armados, nos últimos 20 anos, a dois tipos de culturas: a muçulmana e a latino-americana. Os Estados Unidos enfrentou a Líbia em 1986, o Panamá em 1989, o Afeganistão em 2001 e 2002 e o Iraque na guerra do Golfo em 1998 e em 2003. Pode-se concluir que quanto maior o desenvolvimento tecnológico com o aumento do comércio mundial, menos guerra entre Estados e menor quantidade de mortos. Consequentemente passou-se a acreditar que o comércio mundial é que tem freado os conflitos entre Estados, porém deve-se observar que este aumento do comércio mundial está embasado no desenvolvimento tecnológico. Entretanto, o crescimento do PIB de diferentes Estados está baseado em uma maior ou menor exploração de recursos naturais em todo o mundo, e este desenvolvimento tecnológico, por sua vez, tem sido possível graças a exploração dos recursos naturais não renováveis, como o petróleo e o gás. Enquanto tecnologia e comércio mundial avançam esgotam-se os recursos naturais que sustentam este crescimento. Neste sentido, se a humanidade não modificar sua Gráfico 5: Comparación de los Conflictos entre Civilizaciones y todos los Conflictos entre 1946 y 2000 Conflictos Totales Conflictos entre Civilizaciones0 10 20 30 40 50 60 1946 1948 1950 1952 1954 1956 1958 1960 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 Fuente: Andrej Tusicisny, Universityof Matej Bel
  • 17. 17 estrutura dependente destes mesmos recursos esgotáveis que fazem funcionar suas indústrias e meios de locomoção, podemos acreditar que haverão choques entre Estados diferentes na busca destes recursos. O cenário realista das relações internacionais tem sido invadido por novos atores: as empresas transnacionais e organismos internacionais. Os Estados Unidos não são os representantes exclusivos destas empresas globais. Estes novos atores, que em parte dominam o mundo global necessitam, também, de recursos naturais dos Estados onde se localizam para atender e sustentar seus interesses. Estados como Estados Unidos, Inglaterra, Espanha, França, Alemanha, Austrália, Canadá, dentre outros, representam os interesses destas empresas. As companhias globais podem fomentar conflitos armados contra Estados que detenham recursos naturais em abundância como foi o caso da invasão dos Estados Unidos no Iraque para se apossar das reservas de petróleo. Os países capitalistas centrais apresentam declínio em seu crescimento econômico tendendo à depressão após a crise de 2008. Dois países, China e Índia, vêm crescendo de forma sustentada acima de 7% ao ano, e ambos têm uma dependência imensa de petróleo e gás como todos os países desenvolvidos. Se refletirmos de forma realista sobre esta situação, pode-se supor que rapidamente acontecerá um enfrentamento entre China e Índia e os países desenvolvidos em busca destes recursos naturais, porém isso não seria provável em vista do atual cenário de interdependência e globalização. Tanto a China como a Índia têm mantido uma relação externa direta com os países mais desenvolvidos do mundo, como os Estados Unidos, Japão, Alemanha e França e o comércio bilateral de ambos com estas potências tem crescido em níveis nunca vistos. As empresas multinacionais destes países vêm se instalando nos gigantes da Ásia e a China é o segundo possuidor de bônus dos Estados Unidos. Nesse sentido a cooperação econômica tem desempenhado um papel fundamental para que esses laços econômicos entre países do Ocidente e Oriente evitem questões que gerariam algum tipo de conflito. Porém a cooperação só é possível em um mundo de abundância. Na escassez não há amigos, só existem rivais. Sabe-se que as reservas de petróleo e gás do mundo têm seus dias contados. A menos que se ponham a disposição tecnologias que funcionem com outros tipos de energia e que haja uma transferência tecnológica mundial poderão reaparecer conflitos típicos por recursos naturais escassos que já sacudiram a humanidade em toda sua historia. Esse tipo de conflito armado, já antigo e ao mesmo tempo novo, poderia reaparecer no planeta, já não só entre Estados rivais, mas também com novos atores como os exércitos privados das grandes companhias multinacionais que buscariam defender seus interesses. A cooperação e o comércio mundial têm seus limites fixados na base de seu próprio desenvolvimento. Ainda que se possa pensar que, graças ao avanço tecnológico, a humanidade escapará da dependência dos recursos naturais escassos por outro tipo de energia, é importante lembrar que existem demasiados interesses atrapalhando esse caminho.
  • 18. 18 4. As causas das guerras Por que o mundo se torna mais violento a cada ano? Não apenas se verifica um aumento do número de conflitos armados no globo, como as próprias pessoas estão mais violentas. Uma simples desavença de trânsito pode terminar em morte. Pessoas calmas, sociáveis e aparentemente normais transformam-se, de uma hora para a outra, em criminosos frios e implacáveis. Qual a explicação para isso? Não é incomum a afirmativa de que “desde que o mundo é mundo, sempre existiram guerras." Será difícil encontrar alguém hoje que não acredite nesta afirmativa. E, no entanto, ela é falsa. Nos primórdios da humanidade não havia guerras. Nenhum ser humano, nenhum povo daquele tempo longínquo teria tido a ideia de agredir um seu semelhante. Nem sequer, eles seriam capazes de, por exemplo, de anexar terras do seu vizinho contra a sua vontade, por meio da força bruta. É difícil tentar estabelecer um paralelo entre o modo de vida dos seres humanos daquela época com a humanidade de hoje. Naquela época, o viver em paz e harmonia com os seus semelhantes era para os seres humanos algo tão natural como respirar, comer e dormir. Seres humanos já viveram na Terra, sem se ofenderem ou se maltratarem uns aos outros, muito menos guerrearem entre si. Isso, contudo, foi há muito, muito tempo. Nenhum registro dessa época chegou até o presente e, por isso, é suposto que esta situação não tenha existido. Segundo Raymond Aron (1962), à medida que a vida do homem se organiza em famílias e em bandos, menos prováveis nos poderiam parecer as condutas propriamente belicosas. A maior parte dos animais luta, mas são raras as espécies que praticam a guerra, entendida como ação coletiva e organizada. Aron afirma que a guerra é o choque de condutas organizadas, uma prova de força entre “equipes”, cada uma das quais pretendendo levar a melhor sobre a outra mediante a multiplicação do vigor de cada combatente pela disciplina do conjunto. Neste sentido, a guerra não pode ser anterior à formação de equipes, fenômeno social que implica na existência da sociedade. Vamos encontrar na Suméria a primeira prova da existência de tropas com treinamento militar. O homo sapiens surgiu há cerca de 600.000 anos. A revolução neolítica, a agricultura regular e a criação de animais datam de uns 10.000 anos. As civilizações ou sociedades complexas surgiram há cerca de 6.000 anos. Isto significa dizer que o período denominado histórico representa um centésimo da duração total da existência da humanidade no planeta Terra. Segundo Aron (1962), nenhum antropólogo encontrou jamais qualquer prova de que os homens tivessem elaborado uma organização ou uma tática de combate antes da idade Idade do Bronze (3300 a.C. a 1300-700 a.C.). Não surpreende, pois, que os primeiros indícios incontestáveis dos exércitos e da guerra datem da Idade do Bronze que é um período da civilização no qual ocorreu o desenvolvimento desta liga metálica resultante da mistura de cobre com estanho.
  • 19. 19 Assim como para os primeiros seres humanos seria inconcebível a ideia de causar qualquer dano ao seu semelhante, hoje, soa como ilusão, fantasia, a ideia de um mundo sem conflitos, por considerarmos a violência como uma característica própria do ser humano. Pode-se especular se não teria havido uma fase intermediária entre os muitos milênios durante os quais o homem viveu sob a ameaça das feras e o período, bem mais curto, em que a ameaça a sua segurança passou a se originar em outros homens. Seria uma época em que os homens possuíam meios técnicos suficientes para a defesa contra as feras e sem engajamento na busca das riquezas e nas lutas de classes, nas conquistas e nos domínios. Está demonstrado que sociedades pequenas, sem instrumentos metálicos, isoladas, ainda não mostram traços característicos das sociedades belicosas. Bergson afirma no seu livro Les Deux Sources de la Morale et de la Religion (1976), que a origem da guerra é a existência da propriedade, individual ou coletiva, e como a humanidade está predestinada à propriedade, pela sua estrutura, a guerra seria natural. Os povos que temem a falta de alimentos e das matérias-primas de que necessitam se julgam ameaçados pela fome ou o desemprego, são capazes de tudo. Para sobreviver, estão prontos a atacar. Assim nascem as guerras autênticas, ajustadas à sua essência. J.J. Rousseau pensava que as guerras surgem, ou pelo menos se ampliam, com a expansão das coletividades e que a desigualdade de classe e a propriedade individual estão ligadas às guerras de conquista e ao domínio pelos guerreiros. Não poderia ser diferente, uma vez que as unidades políticas foram forjadas para o combate e o preço da vitória foi sempre a terra, escravos e metais preciosos. Marx e Engels afirmam que os conflitos sociais resultam da divisão da sociedade em classes com o surgimento da propriedade privada em substituição à propriedade coletiva dos meios de produção imperante nas sociedades primitivas. Raymond Aron (1962) afirma que os biólogos chamam de agressividade a propensão de um animal a atacar outro da mesma espécie ou espécie diferente. Na maior parte das espécies (mas não em todas) os indivíduos lutam entre sí. Alguns não são agressivos (isto é, não tomam a iniciativa do ataque), mas se defendem quando são atacados. Entre os primatas, o homem se situa na parte inferior da escala de agressividade. Enquanto animal, é relativamente combativo. Em outras palavras, basta um estímulo pouco intenso para levá-lo a desencadear a agressão. Segundo Aron, entre os vertebrados superiores, os grupos frequentemente manifestam agressividade com respeito a indivíduos que não pertencem à sua coletividade. Na espécie humana, porém, as manifestações de agressividade são inseparáveis da vida coletiva. Mesmo quando se trata da reação de um indivíduo contra outro, a agressividade é influenciada, de muitos modos, pelo contexto social. O surgimento de uma existência propriamente social não foi a única causa das novas dimensões que assumiu o fenômeno da agressividade: a frustação e a inadaptação resultantes da reação agressiva constituem o fato mais importante nas relações humanas.
  • 20. 20 Aron é defensor da tese de que a frustação é uma experiência psíquica, revelada pela consciência. Todos os indivíduos sentem frustações desde a infância. A frustação é antes de mais nada a experiência de uma privação, isto é, um bem desejado e não alcançado, uma opressão sentida penosamente. A cadeia de causalidade que leva às emoções ou aos atos de agressividade se origina sempre em um fenômeno externo. Não há prova fisiológica que haja uma incitação espontânea à luta, originada no próprio organismo do indivíduo. A agressão física e a vontade de destruir não constituem a única reação possível à frustração. A dificuldade em manter a paz está mais relacionada à humanidade do homem do que à sua animalidade. O homem é o único ser capaz de preferir a revolta à humilhação, e a verdade à vida. Hannah Arendt (1970) discute, especialmente com Niezstche e Bergson, acerca do que ela chama da justificação biológica da violência. Estes pensadores atribuem ao poder uma dimensão expansionista natural e uma necessidade interna de crescer. A ação violenta, neste contexto, é explicada como uma estratégia para conceder ao poder novo vigor e estabilidade. Arendt contesta esta posição, afirmando que “nada poderia ser teoricamente mais perigoso do que a tradição do pensamento organicista em assuntos políticos, por meio da qual poder e violência são interpretados em termos biológicos”. Arendt sustenta que “nem a violência nem o poder são fenômenos naturais, isto é, uma manifestação do processo vital, eles pertencem ao âmbito político dos negócios humanos, cuja qualidade essencialmente humana é garantida pela faculdade do homem para agir, a habilidade para começar algo novo”. Arendt descarta as metáforas orgânicas da violência como doença da sociedade. A desnaturalização do fenômeno da violência em Hannah Arendt é sua recusa em associar o processo histórico com a luta pela sobrevivência e a morte violenta no reino animal e de abrir mão do significado da política enquanto determinação do humano. Arendt reluta em associar violência com o poder ou com o Estado: O poder é de fato a essência de todo o governo, mas não a violência. Desta maneira, recusa toda tradição anterior em equacionar o poder político com a organização dos meios de violência e o consenso em aceitar que a violência é a mais flagrante manifestação de poder. Sua argumentação se processa no sentido de refutar afirmações como a de Wright Mills (Toda política é uma luta pelo poder, a forma básica de poder é a violência), de Max Weber (O domínio do homem pelo homem baseados nos meios de violência legítima) ou de Bertrand de Jouvenel (Para aquele que contempla o desenrolar das eras, a guerra apresenta-se como uma atividade que pertence à essência dos Estados). 5. O imperativo do fim das guerras Tudo leva a crer que as guerras do Século XXI terão como fulcro a batalha por recursos naturais que tendem a se esgotar. Nosso modelo de desenvolvimento está atingindo seus limites. Se for considerado o exemplo da China, em 2003, ela consumiu 30% do petróleo e apenas uma fração muito pequena da população vivia com base nos padrões dos países desenvolvidos. O que vai acontecer nos próximos anos se a China mantiver a sua taxa de crescimento para proporcionar aos seus 1,3 bilhão de pessoas viverem de
  • 21. 21 acordo com os padrões dos países desenvolvidos? Haverá um impacto gigantesco sobre a demanda de recursos naturais. Mesmo antes do esgotamento dos recursos naturais, haverá uma "guerra econômica" real, que poderà acontecer dentro de alguns anos. Amanhã, dado o esgotamento de certos recursos naturais, a posição de alguns países pode mudar. A China, por exemplo, tem seguido, durante as últimas décadas, políticas econômicas prudentes: o livre comércio, para vender produtos para o mercado mundial, comprando títulos do Tesouro dos Estados Unidos para compensar o déficit na balança comercial deste país. Mas num futuro próximo, haverá um conflito econômico generalizado se não forem tomadas medidas ao nível internacional para evitar essa "guerra econômica". Assim, tendo em conta a escassez de recursos que deverá ocorrer, é, certamente, para a batalha pelos recursos que o mundo estará indo e não para uma guerra de civilizações como sugere Samuel Huntington em seu livro O Choque de Civilizações que estamos a assistir. Se o diálogo internacional a estabelecer tem uma meta comum com base nos valores da todas as civilizações será, certamente, para a batalha pelos recursos que o mundo estará indo. Segundo Bernard Nadoulek (Eyrolles, 2005), apesar do ressurgimento de aspectos extremistas não acontecerá o choque de civilizações. Apesar de ser real os protestos fundamentalistas de todos os lados e os atos terroristas reivindicados em nome da religião, o choque de civilizações irá falhar. E isto por três razões. A primeira razão, porque as diferenças culturais não têm sido as causas das guerras. Nadoulek reconhece, no entanto, que a natureza mais civilizada da nossa própria cultura tem sido frequentemente utilizada como um discurso para justificar um ato de agressão vis-à-vis um país em outra cultura. A segunda razão resulta do fato de as guerras apresentarem uma identidade étnica, religiosa ou ocorrerem mais freqüentemente entre os membros de uma civilização, ou entre pessoas que vivem em situações de proximidade. Finalmente, a terceira razão, mais importante, concerne especificamente à 'identidade'. Não é o estrangeiro, que vive longe, que se deseja ocasionalmente matá-lo e sim o vizinho próximo, o seu vizinho. Segundo Bernard Nadoulek, o confronto atual entre os Estados Unidos e o mundo muçulmano também é considerado como "guerra entre os mesmos." O que começa a haver é a crise da civilização e não o choque de civilizações. Na verdade, o verdadeiro problema diz respeito a nosso modelo de desenvolvimento industrial que causa poluição e mudanças climáticas, além de contribuir para que os recursos naturais, que ainda são relativamente elevados, sejam rapidamente esgotados. O petróleo, a água e a terra estão no centro de conflitos em todo o mundo. Guerras pelo petróleo, guerras pela água, guerras por terras, guerras atmosféricas. Onde há petróleo há conflitos. Não importa em que medida a aparência de uma guerra de culturas apareça vinculada às invasões do Afeganistão, Iraque e Líbia (e a ameaça de uma ação semelhante no Irã), porque a realidade era, e é, que se trata de guerras pelo petróleo. 6. Em direção à Quarta Guerra Mundial?
  • 22. 22 Pascal Boniface, diretor do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), autor de quarenta livros sobre questões geopolíticas, professor do Instituto de Estudos Europeus da Universidade de Paris VIII e membro do Comitê Consultivo sobre o Desarmamento com o Secretário-Geral das Nações Unidas, afirma em seu livro Vers La 4e. Guerre Mondiale (Armand Colin, 2009) que, após o fim da União Soviética, alguns dirigentes ocidentais queriam encontrar um substituto para a ameaça comunista e partiram rapidamente para substituí-la como um fator de unificação em curso no Sul Ocidental sob a liderança dos Estados Unidos. O discurso sobre o choque de civilizações veio dar sustentação à política externa dos Estados Unidos de guerra ao terror, especialmente após o ataque de 11 de setembro de 2001 que levou à queda do World Trade Center. Huntington explica em seu livro sobre o choque de civilizações, que o islamismo tem fronteiras sangrentas e que as guerras que o islamismo desencadeou foram em maior número e mais sangrentas do que as de outras civilizações. No entanto, não é necessário ter um conhecimento enciclopédico para destacar o fato de que nenhuma das duas Guerras Mundiais foi acionada pelo islamismo, nem os gulags soviéticos ou chineses, o genocídio em Ruanda, para não mencionar os males da colonização. Segundo Pascal Boniface, há um paradoxo dizer que o conflito israelo-palestiniano é a matriz de um possível confronto de civilizações. Primeiro, porque Huntington não fala deste conflito em seu livro dedicando poucas linhas para dizer que os judeus não são uma civilização e sim de que foram assimilados pela civilização ocidental. Segundo Boniface, este conflito é relativamente pequeno, inclusive em termos de destruição física e de mortes, quando comparado a outros conflitos contemporâneos, como aqueles que ocorrem na África ou na Chechênia. A grande diferença é que, no caso do conflito israelo-palestiniano, o que se critica o mundo ocidental em geral e os Estados Unidos em particular, não é a indiferença, mas a cumplicidade ativa com Israel. Sem a plena solidariedade dos americanos para com Israel, não seria possível para esse país manter a ocupação militar dos territórios palestinos, apesar de um número impressionante de resoluções da ONU exigindo sua retirada. Isto é visto como prova de duplo padrão. Este conflito tornou-se um símbolo que vai muito além de sua localização geográfica e da atitude dos protagonistas. A continuação do conflito israelo-palestiniano é contrária, não só à estabilidade estratégica na região e no mundo, mas também ao interesse nacional dos Estados Unidos porque prejudica suas relações com os países árabes. Para Boniface, existe um impasse triplo na forma como é conduzida a luta contra o terrorismo. São tratados os efeitos, mas não são atacadas as causas na raiz do problema. Isto não significa dizer que não haja necessidade de ter uma componente militar e judicial na luta contra o terrorismo. Mesmo com a eliminação de Bin Laden não terminou com o terrorismo. O que é preciso é tratar as condições políticas que podem ajudar um terrorista ter respaldo em uma fração da população. É necessário compreender suas razões e motivações. No caso de Israel, parece claro que o terrorismo
  • 23. 23 palestino era combatido de forma mais eficaz quando havia reais perspectivas de paz na região e a cooperação entre Yitzhak Rabin e Yasser Arafat. Ao contrário da Guerra Fria, quando a União Soviética entrou em colapso porque não conseguiu acompanhar economicamente e tecnologicamente o Ocidente, não havia nada parecido com a guerra contra o terrorismo. Proteção completa é impossível, porque locais oficiais podem ser protegidos, mas há sempre, escolas, hospitais, teatros, que são possíveis alvos. Não é possível controlar todas as aeronaves, todos os trens, os metrôs. Os ataques de 11 de Setembro custaram 100 mil dólares para os seus organizadores que resultaram em um aumento de 150 bilhões de dólares em gastos militares dos Est5ados Unidos. Pascal Boniface afirma que, a ideia de uma Quarta Guerra Mundial está a ser desenvolvida pelos americanos neoconservadores que acreditam que a Guerra Fria foi a III Guerra Mundial e que a guerra contra o Islã ou contra o terrorismo, eles usam ambas as palavras muitas vezes tão indiferentes, seria a quarta. Sua política é baseada no confronto. Eles acreditam que os problemas políticos podem ser resolvidos unicamente através do uso da força. A força militar é uma resposta universal. O problema é que a política atual dos Estados Unidos, alegando estar a refutar a tese do choque de civilizações simplesmente cria as condições de sua existência. A guerra contra o terrorismo é frequentemente apresentado como a Quarta Guerra Mundial. Com efeito, em face deste desafio, o mundo ocidental é chamado, como aconteceu durante a Terceira Guerra Mundial, a Guerra Fria, para formar um bloco, sob a liderança dos Estados Unidos. Neste sentido, o conflito israelo-palestiniano, uma vez marginal, tornou-se uma questão importante que vai além do âmbito regional. O futuro da segurança internacional está em jogo nessa área que se tornou o epicentro de um potencial conflito de civilizações. No entanto, não é inevitável. Ainda há tempo, se houver a adoção de uma política de boa vontade para interromper o círculo vicioso que ameaça levar o mundo à ruína. É um imperativo evitar que este cenário descrito aconteça. 7. Como eliminar as guerras em nosso planeta A situação atual do planeta é dramática. A humanidade se sente esmagada pelas grandes potências mundiais a serviço dos grupos monopolistas que comandam suas economias e que tudo fazem em defesa de seus interesses, desrespeitando leis, culturas, tradições e religiões. Invasões em países periféricos, de forma aberta ou sub-reptícia, com argumentos pouco convincente s fazem parte do cotidiano das grandes potênc ia s na sua busca incessa nte pelo poder mundial mesmo que para isso tenham que desrespeitar leis internas e tratados internacionais. Como construir um novo cenário de paz e cooperação entre as nações e os povos do mundo inteiro? Este é um desafio antigo e pensado por muitos filósofos como é o caso de ImmanuelKant ao abordar este tema em sua obra A paz perpétua. Em 1795, Kant lançou este opúsculo que teve grande sucesso junto ao público culto da sua época. Era um projeto que visava
  • 24. 24 estabelecer uma paz perpétua entre os povos europeus, e depois espalhá-la pelo mundo inteiro. Tratou-se de um manifesto iluminista a favor do entendimento permanente entre os homens. O objetivo principal de Kant era o de eliminar a guerra que sempre foi vista por ele como algo que impedia os esforços da humanidade em direção a um futuro digno para os seres humanos. Como alcançar este objetivo? Kant propõe em A Paz Perpétua os fundamentos e os princípios necessários para uma livre federação de Estados juridicamente estabelecidos os quais não adotariam a forma de um Estado mundial, pois isso resultaria em um absolutismo ilimitado. Também não pode possuir um poder soberano que lhe permita interferir nos assuntos internos dos Estados livres. Deve ser uma federação de Estados livres em que todos possuem constituições republicanas. O fim último desta federação seria o da promoção do bem supremo, que é a verdadeira paz entre os Estados, acabando com o funesto guerrear, para o qual todos os Estados sempre voltaram seus esforços, como fim principal. Kant buscava acabar com o “estado da natureza internacional” que caracterizava as relações internacionais até então. Cabe observar que o conceito “estado da natureza” foi definido pelo filósofo Thomas Hobbes em sua obra Leviatã. Segundo Hobbes, no “estado de natureza”, reina a ausência do Direito, logo não há espaço para a justiça. Neste contexto, todos procuram defender seus direitos por meio da força. No “estado de natureza”, portanto, como concebera Hobbes, reina a guerra de todos contra todos. O estado de natureza é, portanto, o estado da liberdade sem lei externa, isto é, ninguém pode estar obrigado a respeitar os direitos alheios tampouco pode estar seguro de que os outros respeitarão os seus e muito menos pode estar protegido contra os atos de violência dos demais. Na prática, mesmo após a Paz de Westfália assinado em 1648 que pôs um fim à desastrosa Guerra dos Trinta Anos na Europa, as relações internacionais da época de Kant não diferiam no fundamental das atuais. Hoje, como naquela época, estamos vivenciando o “estado da natureza internacional” com o recrudescimento da violência política internacional. Hannah Arendt afirma em sua obra Sobre a Violência, que a prática da violência como toda ação transforma o mundo, mas a transformação mais provável é a de um mundo mais violento. A Paz Perpétua de Kant não foi colocada em prática porque o pressuposto para sua implementação seria a superação das verdadeiras causas da violência política geradora das guerras e revoluções que têm caracterizado a história da humanidade. Isto significa dizer que haveria a necessidade de superar as principais causas da violência, no interior de cada nação, com a eliminação das disparidades de riqueza entre “os de cima” e “os de baixo” na escala social e, no plano internacional, de um lado, com a eliminação das disparidades em termos de desenvolvimento econômico e social entre as nações ricas e as pobres e, de outro, da disputa entre as grandes potências pelo poder mundial. A conquista da paz perpétua só poderia acontecer se essas contradições fossem eliminadas. A humanidade tem que adquirir a consciência de que só será possível eliminar a violência política que conduz à guerra de todos contra todos nos níveis
  • 25. 25 nacional e internacional desde que desapareçam as contradições acima descritas que ainda prevalecem no mundo em que vivemos. No plano internacional, diferentemente do que ocorria no passado em que as grandes potências se confrontavam com outros países, cujas diferenças, quando não eram solucionadas com a diplomacia, eram resolvidas no campo de batalha através de sucessivas guerras, na atualidade se defrontam também com organizações terroristas independentes, como a Al Qaeda. O surgimento de organizações terroristas como a Al Qaeda faz com que seja colocado em xeque o atual sistema interestatal resultante do pós-guerra em 1945. Esta situação faz com que se torne um imperativo a criação de uma nova superestrutura jurídica e política internacional para tratar dessas novas questões. O fato de não haver uma nova superestrutura jurídica e política internacional para tratar o terrorismo contemporâneo não justifica que o governo de um país como os Estados Unidos aja também fora da lei, isto é, do direito internacional em vigor para fazer justiça com suas próprias mãos como fazem os terroristas da Al Qaeda. Ressalte-se que o governo norte-americano teria todo o direito e a obrigação de caçar e capturar Bin Laden, mas sem invadir outro país soberano como o Paquistão sem sua permissão e de assassiná-lo a sangue frio sem oferecer-lhe o direito de defesa. Este tipo de procedimento é similar ao de alguém, que não acreditando na justiça de seu país, resolve fazer justiça com as próprias mãos. É admissível imaginar que, com o uso da inteligência e não da violência, seria possível alcançar Bin Laden. Uma das razões pelas quais os Estados Unidos estão perdendo seu poder de influência no mundo reside no fato de querer resolver os problemas internacionais com o uso da força. Pode-se perguntar como seria o uso da inteligência no caso Bin Laden? Neste caso, o governo dos Estados Unidos deveria buscar ganhar o apoio dos dirigentes dos governos da região e de sua população, agindo proativamente na promoção do desenvolvimento desses países, além de provê-los de recursos tecnológicos para monitora e rastrear Bin Laden e a Al Qaeda. A forma inteligente de atuação na região significaria ganhar o apoio dos governos locais e de sua população para isolar Bin Laden e a Al Qaeda. Não há dúvidas que o governo dos Estados Unidos teria prendido Bin Laden há mais tempo se tivesse agido desta forma, isto é, com inteligência. De acordo com os mais elevados princípios da civilização, o governo dos Estados Unidos deveria encaminhar Bin Laden para ser julgado pelo Tribunal Internacional de Haia, como aconteceu com o ex-presidente da Iugoslávia, Milosevic, acusado de crime de genocídio. Sem a adoção deste tipo de procedimento, estaremos colocando em xeque os mais elevados princípios que devem nortear a vida civilizada fazendo prevalecer o “estado da natureza internacional”, isto é, o da “guerra de todos contra todos”. Por que há guerras? Será a guerra consequencia de pressões sociais e econômicas que influenciam a vida dos seres humanos organizados em sociedade como diz Karl Marx ou será consequência, apenas, de uma agressividade natural ao homem, instalada no âmago de algo que se convencionou chamar de “natureza humana”?.
  • 26. 26 Para alguns, a crueldade dos sistemas econômicos, as guerras, a dominação do homem pelo homem não seriam mais do que o espelho das características mais fundamentais do homem como espécie: os instintos selvagens, a agresividade como motor do desenvolvimento, a preguiça e o comodismo como fatores de manutenção da dominação dos mais fracos pelos mais fortes. Mas se chegarmos à conclusão de que o homem não é o lobo do homem, de que o ser humano não mata e não subjuga os outros por simples prazer ou por compulsão instintiva, o caminho estará aberto para a procura de outras formas de sociedade que permitam aos seres humanos viverem de uma maneira diferente daquilo que se verifica hoje em dia. A paz já foi definida como ausência da guerra. A fórmula de Clausewitz (a guerra como continuação da política por outros meios) é substituída na atualidade pela fórmula inversa: a política passa a ser a continuação da guerra por outros meios. Historicamente, a busca da paz entre as nações apresentou três características: o equilibrio, a hegemonia e o império. Isto significa dizer que as forças das nações poderão estar em equilibrio, ou serem dominadas por uma dentre elas, ou então são superadas a tal ponto pelas forças de uma unidade que todas as demais perdem sua autonomia e tendem a desaparecer como centros de decisão política. Chega-se assim ao Estado imperial, que detem o monopólio da violência. Entre a paz da situação de equilibrio e a paz e da situação de império está a paz da hegemonia. A ausência da guerra não está relacionada com a igualdade aproximada de forças que reina nas unidades políticas, impedindo qualquer uma delas, e qualquer coalizão destas unidades de impor sua vontade. Pelo contrário, está vinculada à superioridade incontestável de uma das unidades. O Estado hegemônico não procura absorver as unidades reduzidas à impotência, não abusa da sua hegemonia, e respeita as formas externas de independência dos Estados. O Estado hegemônico não aspira a situação de império. A hegemonia é uma forma precária de equilibrio. É chegada a hora da humanidade se dotar o mais urgentemente possível de instrumentos necessários a ter o controle de seu destino e colocar em prática um governo democrático do mundo. Este é o único meio de sobrevivência da espécie humana. Porque não existe nenhum outro meio capaz de construir um mundo no qual cada mulher, cada homem de hoje e de amanhã tenham os mesmos direitos e os mesmos deveres, e nos quais os interesses do planeta, de todas as formas de vida e das gerações futuras, seriam enfim levados em conta, no qual todas as fontes de crescimento seriam utilizadas de maneira ecologicamente e socialmente durável. Um governo mundial não substituiria os governos de cada nação. O governo mundial teria por objetivo a defesa dos interesses gerais do planeta que podem entrar em contradição com os interesses de cada nação. Ele trabalharia no sentido de cada Estado respeitar os direitos de cada cidadão do mundo buscando impedir a propagação dos riscos sistêmicos mundiais. Ele evitaria o império de um só e a anarquia de todos. O governo mundial poderia surgir de uma guerra ou ser concebido para evitar seu retorno.
  • 27. 27 Ações para constituir uma governança mundial foi objeto do Concerto das Nações em 1815, da Liga das Nações em 1920 e da Organização das Nações Unidas em 1945 que foram em vão porque o governo mundial não disporia de nenhum meio de tomar decisões nem de colocar em prática sanções contra aqueles que não o respeitem. Um governo mundial poderá resultar no futuro de desastres sistêmicos maiores tais como, crise ecológica extrema, crise econômica de grande amplitude, expansão de uma economia do crime organizado, a queda de um meteorito no planeta e o avanço do movimento terrorista que fariam os governos democráticos do mundo a juntar suas forças. A preservação da paz é a primeira missão de toda nova forma de governo mundial. Amanhã, quem vai governar o mundo? Ninguém, provavelmente. E este é o pior cenário. Nenhum país por mais poderosos que seja não pode controlar a riqueza e os problemas do planeta. Nenhum país quer um governo mundial. No entanto, as crises econômica, financeira, ecológica, social, política e o desenvolvimento de atividades ilegais e criminosas de hoje mostram a urgência de um governo mundial. É preciso entender que o mercado mundial não pode funcionar adequadamente sem o Estado de Direito Internacional. O Estado de Direito Internacional não pode ser aplicado e respeitado sem a presença de um governo mundial que seja aceito por todos os países. Um governo mundial só terá legitimidade e será sustentável se for verdadeiramente democrático. A humanidade tem de entender que tem tudo a ganhar se unindo em torno de um governo democrático no mundo além dos interesses das nações, incluindo o mais poderoso, controlando o mundo em sua totalidade, no tempo e no espaço. A nova ordem mundial a ser edificada deve organizar não apenas as relações entre os homens na face da Terra, mas também suas relações com a natureza. É preciso, portanto, que seja elaborado um contrato social planetário que possibilite o desenvolvimento econômico e social e o uso racional dos recursos da natureza em benefício de toda a humanidade. A edificação de uma nova ordem mundial baseada nesses princípios é urgente. Um governo mundial existirá no futuro mesmo que aconteça após um desastre. É urgente pensar nisso, antes que seja tarde demais. BIBLIOGRAFIA ARENDT, Hannah. On Violence. Harvest Book, 1970. ARON, Raymond. Paz e Guerra entre as nações. Editora Universidade de Brasília, 1962. _______________. The Opium Of The Intellectuals. Transaction Publishers, 2009. BERGSON, Henry. Les Deux Sources de la Morale et de la Religion. French & European Pubns, 1976.
  • 28. 28 BONIFACE, Pascal. Vers La 4e. Guerre Mondiale. Armand Colin, 2009. CLAUSEWITZ, Carl Von. Da Guerra- A Arte da Estratégia. Editora Tahyu. FARAH, Felipe Alexandre de Lima et alli. As principais guerras da história e suas consequências. Disponível no website <http://gguerras.wordpress.com/.>. HOBSBAWM, Eric. A Era Dos Extremos. Companhia das Letras, 2008. HUNTINGTON, Samuel. O Choque de Civilizações. Objetiva, 1997. JÚNIOR, Roberto C. P. Conflitos bélicos. Disponível no website <http://www.library.com.br/Filosofia/conflito.htm>. KANT,Immanuel.A Paz Perpétua. Pocket Plus, 1979. KEEGAN, John. Uma História da Guerra. Companhia de Bolso, 2006. MOKHIBER, Russel. Crimes Corporativos. Editora Scritta, 1988. NADOULEK, Bernard. L´Épopée des Civilisations. Eyrolles, 2005. TUSICISNY, Andrej. Civilizational Conflict: More Frequent, Longer, and Bloodier?. Journal of Peace Research, vol. 41, no. 4, 2004. WIKIPEDIA. Guerra dos Sete Anos. Disponível no website <http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_dos_Sete_Anos>. ___________. Guerra da Independência dos Estados Unidos. Disponível no website <http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_da_Independ%C3%AAncia_dos_Estados_Unidos >. ___________. Revolução Francesa. Disponível no website <http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa>). ____________. Primeira Guerra do Ópio. Disponível no website <http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_Guerra_do_%C3%93pio>. ____________. Segunda Guerra do Ópio. Disponível no website <http://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_do_%C3%93pio>. ____________. Guerra russo-japonesa. Disponível no website <http://guerras.brasilescola.com/seculo-xx/guerra-russojaponesa.htm>.
  • 29. 29 i Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.S