1. Carta do I Curso de Formação Feminista
FEAB, ABEEF e Coletivo Feminista Retalhos de Fulô
Nós, mulheres estudantes organizadas em executivas de curso e coletivos de
mulheres, nos reunimos no I Curso de Formação Feminista, realizado pela Federação
das(os) Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB, Associação Brasileira de Estudantes
de Engenharia Florestal e Coletivo Feminista Retalhos de Fulô – núcleo da Marcha
Mundial das Mulheres, durante os dias 10 a 15 de junho de 2013 na cidade de
Diamantina-MG, para instrumentalizarmo-nos na luta pela construção de uma
sociedade mais justa e igualitária, em combate ao sistema capitalista, patriarcal,
racista, homofóbico e destruidor da natureza. Esse curso reafirma a importância da
auto-organização das mulheres como um princípio fundamental para transformação
da vida das mulheres e da sociedade.
Juntas, somando cerca de cinquenta estudantes representando todas as
regiões do país, pautamos uma formação profissional justa para garantir a autonomia
econômica das mulheres e levantamos nossas bandeiras pelo fim das opressões
étnicas, por soberania alimentar e contra o agronegócio, contra a mercantilização do
corpo e sexualidade, pelo direito de decidir sob a maternidade e dizemos basta de
violência na vida das mulheres. Refirmamos também o resgate aos saberes populares e
aos valores místicos do conhecimento das mulheres, que são roubados e negados
diariamente pela lógica do capital.
Entendemos que apesar de já termos avançado no acesso às Universidades e às
carreiras profissionais, ainda estamos sujeitas a uma educação sexista que não nos
garante igualdade na formação e no reconhecimento de nosso trabalho, além de nos
submeter a duplas jornadas. Lutamos em nossas executivas de curso e organizações
feministas por uma formação profissional igualitária e que atenda à classe
trabalhadora.
Uma das formas de violentar os direitos das mulheres é a crescente
mercantilização de nossos corpos, a banalização da nossa sexualidade e a imposição
como norma do modelo heterossexual. Colocamo-nos contra o processo que está em
trâmite no senado brasileiro do Estatuto do Nascituro, que é um retrocesso sob os
direitos reprodutivos das mulheres e sob o combate da violência sexual.
Denunciamos que o discurso da Economia Verde e dos grandes projetos
favorece a lógica da mercantilização da vida e da natureza em função dos lucros do
Capital. Dentro disso, o agronegócio, a mineração e a exploração das águas e da
energia através das barragens ameaçam a soberania alimentar do país e a vida da
população brasileira, afetando diretamente a realidade das mulheres. Também
denunciamos que o atual modelo de agricultura que faz uso intensivo de agrotóxicos e
avança cada dia mais sobre os territórios. Acreditamos na Agroecologia como um
contraponto a este modelo de produção e como uma forma de transformação da vida
da mulher e dos povos. Assim, somamos forças na construção da Campanha
Permanente Contra o Uso de Agrotóxicos e Pela Vida. Somando-nos também à luta das
2. camponesas e exigimos justiça para o Massacre de Felisburgo em Minas Gerais, onde o
assassino confesso Chafik matou cinco camponeses.
Denunciamos que o principal instrumento de manutenção da dominação das
mulheres dentro desse sistema é a violência machista que, ainda que naturalizada,
está presente na vida de todas nós mulheres, do campo e da cidade. Apesar de já
termos avançado em muitas conquistas, o Estado ainda se omite e viola os nossos
direitos, negando nosso acesso às políticas públicas e às leis que nos assegurem.
Entendemos que é fundamental criar e fortalecer os grupos auto-organizados,
construir a solidariedade entre nós mulheres e constranger e punir os agressores.
Denunciamos a Violência Sexual e exigimos o julgamento dos estupradores da Banda
New Hit na Bahia, que praticaram estupro coletivo a duas jovens menores de idade.
Além disso, nos inserimos na Campanha “Basta de Violência Contra as Mulheres!” da
Via Campesina junto às mulheres do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras
Rurais Sem Terra – MST, do Movimento de Mulheres Camponesas do Brasil – MMC, do
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, do Movimento dos Pequenos
Agricultores – MPA e da Marcha Mundial das Mulheres – MMM.
Construiremos as lutas do 8 de março – dia internacional de Luta das Mulheres
Trabalhadoras, do 25 de novembro – dia Internacional pelo Fim da Violência contra a
Mulher e do 28 de setembro – dia latino-americano e caribenho pelo direito ao
aborto. Fortaleceremos as mobilizações e o 9º Encontro Internacional da Marcha
Mundial das Mulheres de 25 a 31 de agosto em São Paulo.
Comprometemo-nos com a construção de um projeto feminista popular na
luta pela libertação de nós mulheres e de toda a classe trabalhadora.
Mudar a vida das mulheres para mudar o mundo.
Mudar o mundo para mudar a vida das mulheres!