O documento descreve as principais características do vírus da influenza, incluindo sua estrutura, composição genética, tipos, e as proteínas de superfície hemaglutinina e neuraminidase que desempenham papéis cruciais no ciclo de vida do vírus e na variação antigênica que causa pandemias.
1. Hemaglutinina e Neuraminidase –
glicoproteínas da membrana do vírus da Influenza
Vírus da influenza, o que é?
É mais conhecido como vírus da gripe
John Huxham relacionou os sintomas do vírus com a “influência”
astrológica das estrelas, designando-o como influenza
Este vírus é classificado como um mixovírus:
Vírus com cápsula lipídica derivada da membrana
plasmática da célula hospedeira;
Fixam-se a receptores de glicoproteínas da superfície
celular;
Estes podem ser considerados como: ortomixovírus ou
paramixovírus.
Considerado um ortomixovírus
2. Esférico ( 90-100 nm de diâmetro)
RNA unifilamentar (com 8 ou 7 segmentos)
A maioria dos segmentos codifica uma proteína. Dois dos segmentos vão
codificar uma proteína que é a hemaglutinina (HA) e uma outra que é a
neuraminidase (NA)
Inseridas na cápsula
Em forma de espículas (de 10 nm)
Constituem os antigénios que determinam a variação antigénica do vírus
e a imunidade do hospedeiro
3. O vírus da influenza pode ser classificado segundo o seu tipo e subtipo:
Tipos de Vírus
A B C
Mamíferos
O mais perigoso
Humanos
Intermédio
Humanos
Porcos
Cães
Doença respiratória
esporádica e leve
Pode causar
grandes epidemias
=> pandemias
Pode provocar
epidemias
Não causa
epidemia
A cada 10-40 anos
surge um novo
subtipo de vírus –
ocorre uma
pandemia
Período inter-
epidémico é maior
que 3-6 anos
Ondas epidémicas
duram 2-3 anos
Subtipo de vírus
… para HA
Existem 16 subtipos de HA (H1-H16)
Em humanos foram apenas isolados 4 subtipos (H1, H2,H3 E H5)
… para NA
Existem 9 subtipos de NA (N1-N9)
Em humanos apenas foram isolados 2 subtipos (N1 E N2)
Em relação ao vírus da Gripe das Aves temos o H5N1
4. Estrutura e composição do vírus Influenza / Ortomixovírus:
Composição: 1% de RNA, 73% de proteínas, 20% de lípidos e 6% de
glúcidos.
Genomas de RNA de fita simples de Influenza ocorrem na forma de 8
segmentos, excepto no Influenza C, que tem apenas 7 (- 1 gene de
neuraminidase);
Maioria dos segmentos codifica uma única proteína;
Cada segmento de RNA encontra-se associado a uma nucleoproteína (NP),
formando uma ribonucleoproteína (RNP). Por sua vez, cada RNP está associada
a uma RNA polimerase/ transcriptase constituída por três polipéptidos, o PB1, o
PB2 e o PA.
Partícula viral envolvida por uma membrana lipídica, na qual estão
inseridas 2 glicoproteínas transmembranares codificadas pelo vírus: a HA -
trímero e a NA – tetrâmero (espículas expostas sobre a superfície do vírus –
10nm) – responsáveis pela replicação do vírus (infecção).
Em menor número encontramos também a proteína de membrana integral
M2 , que funciona como canal de iões.
5. Os antigénios internos são a nucleoproteína – NP e a proteína estrutural M1,
sendo específicos de cada tipo de Influenza A ou B. A outra classe de antigénios
é constituída pela hemaglutinina e pela neuraminidase.
Hemaglutinina
Estrutura da hemaglutinina (HA):
Deve o seu nome à capacidade de aglutinar eritrócitos/hemácias em
determinadas condições;
A sua estrutura tridimensional foi revelada por cristalografia de raios X;
Sequência primária com 566 aminoácidos;
Sequência de sinal curta na extremidade aminoterminal insere o
polipéptido no retículo endoplasmático, onde HA é clivada em 2 sub-
unidades (HA1 e HA2), que ficam associadas por uma ponte dissulfídrica/
ligação perssulfureto (clivagem necessária para que a partícula seja
infecciosa);
6. Espícula de HA sobre a partícula viral é constituida por 3 dímeros HA1 e
HA2 entrelaçados;
Extensão hidrófoba junto à extremidade carboxiterminal da HA2 fixa a
molécula de HA à membrana, com uma pequena cauda hidrófila que se
estende no citoplasma;
Vírus da Influenza normalmente estão confinados às vias respiratórias, já
que é lá que são abundantes as enzimas proteases que clivam a HA.
Curiosidade: já foram observados vírus mais virulentos que se adaptaram
para utilizar a enzima plasmina, presente noutros locais.
7. Neuraminidase
Estrutura da neuraminidase (NA):
A espícula sobre a partícula viral é um tetrâmero, composto por
quatro monómeros idênticos.
Tem um pedículo fino que termina por uma cabeça em forma de
caixa;
Possui 1 local catalítico no cimo de cada cabeça, contendo assim, cada
espícula, quatro locais activos.
Composição aminoacídica (curiosidade)
NA actua no final do ciclo de replicação do vírus (enzima sialidase).
8. A Hemaglutinina e a Neuraminidase são muito importantes no ciclo de
vida do vírus:
Assim, para melhor perceber estas funções temos de conhecer o ciclo de vida do
vírus.
1. Clivagem da Hemaglutinina em HA1 e HA2 por enzimas do tracto
respiratório do hospedeiro (são produzidas pelo próprio hospedeiro mas
podem derivar de bactérias, que ao estarem presentes tornam a infecção
viral mais susceptível);
2. O local de ligação ao receptor do fragmento HA1 pode ligar-se a um
resíduo terminal do ácido siálico de um receptor que se encontra à
superfície da célula hospedeira. Assim que ligado o vírus é endocitado
por um processo de endocitose mediada por receptores
NOTA: os receptores com ácido siálico existem numa variedade de células,
mais notoriamente em glóbulos vermelhos (mas como estes não têm núcleo
não são atacados pelo vírus, porque ele retém-se no aparelho respiratório,
não se pode replicar nos glóbulos vermelhos)
9. 3. O vírus é depois transportado numa vesícula endocítica. Quando o pH
baixa (por bombeamento de iões H+ para dentro da célula) ocorrem
transformações na estrutura do vírus:
a. há uma alteração conformacional na molécula de Ha1, o que permite
a sua ligação à parede do endossoma;
b. alguns dos iões H+ livres entram dentro do vírus por canais iónicos
até à proteína matricial (M2), o que faz com que ela se quebre e
liberte o material nuclear que segue para o núcleo da célula para se
replicar.
4. após replicação de RNA viral e síntese das suas proteínas, as proteínas
agrupam-se no núcleo da célula hospedeira para formar nucleocápsulas
que migram para a membrana celular;
5. A Neuraminidase entra então em funcionamento, sendo uma enzima
destrutora dos receptores à superfície da célula hospedeira, isto é, cliva
os resíduos terminais de ácido siálico do receptor o que possibilita a
libertação da descendência de vírus que irão infectar outras células do
mesmo ou de outro indivíduo.
A duas proteínas, HÁ e NA são os antigénios mais importantes para induzir
imunidade protectiva no hospedeiro e mostram a maior variação em
estrutura:
Pandemias (epidemia de grandes proporções, isto é, incidência em curto
período de tempo, de grande número de casos de uma doença e que se espalha
a vários países e a mais de um continente) surgem da introdução de um vírus
capaz de replicação e dispersão e para o qual a maioria da população não tem
resposta imunológica, pelo menos para a molécula de HÁ (porque inicia o
ciclo).
Há vários mecanismos para que surjam rapidamente diferentes grupos
antigénicos do vírus influenza em humanos (este aparecimento rápido é
denominado shift antigénico):
o Transferência directa de vírus completos de outras espécies
(1918, febre espanholaH1N1);
o Recombinação genética de vírus A aviários e humanos que infectam o
mm hospedeiro (1957, febre asiáticaH2N2 e 1968 febre de Hong
KongH3N2)
o Resurgimento de um vírus que possa ter causado uma epidemia anos
antes (1977 dps de 1950 febre russa H1N1)
10. Pode também haver casos mais graduais em variação na antigenicidade do
vírus, que resultam da alteração gradual na estrutura das proteínas por
mutações pontuais na molécula de HÁ principalmente, até que o vírus é
suficientemente diferente das estirpes mais antigas para que uma larga
população seja susceptível e surjam epidemias (denomina-se de antigenic drift)
Para mais informações sobre o assunto:
http://correio.fc.ul.pt/~mcg/ (site do Prof. Manuel Carmo Gomes)